A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NA ESCOLA INCLUSIVA - … · Apresentação de monografia à ... por...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NA
ESCOLA INCLUSIVA
Por: Aline Souza Moraes Schroeder Cardozo
Orientadora: Prof. Caroline Kwee
Niterói- RJ
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NA
ESCOLA INCLUSIVA
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em
Psicopedagogia.
Por: Aline Souza Moraes Schroeder Cardozo
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AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família, repleta de educadores, especialmente a minha
amada mãe, por encorajar-me e incentivar-me a realizar um trabalho capaz de
fomentar a esperança numa educação mais justa e humana.
Ao meu irmão caçula, pois mesmo sem saber, foi com ele que iniciei
algumas práticas psicopedagógicas, quando buscava meios mais eficazes de
ensiná-lo as tarefas de casa e atividades de vida diária.
Com carinho, agradeço ao meu marido, pelo amor e apoio constante.
Agradeço aos alunos que tornam o trabalho psicopedagógico ainda mais
especial e desafiador.
Agradeço às escolas que abriram as portas para que eu pudesse entrar e
conhecer um pouco da sua filosofia e também dos desafios enfrentados no
trabalho com os estudantes com dificuldades.
Agradeço as psicopedagogas que ajudaram-me nessa empreitada.
Sou grata a Professora Carol Kwee por aceitar ser minha orientadora na
construção deste trabalho.
Enfim, agradeço ao nosso Pai Celeste por ter criado um mundo com tanta
diversidade!
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos educadores que lutam para desenvolver as
potencialidades de todos os alunos, aproximando-os de uma educação
igualitária, ajudando na formação de pessoas mais solidárias, reflexivas e
humanas.
Em especial, dedico aos educandos com alterações no processo de
aprendizagem que transformam cada obstáculo em desafio.
À Rosane, minha mãe e minha primeira professora na universidade da
vida.
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RESUMO
Este trabalho tem como objetivo principal discutir a Inclusão Escolar e o
papel do Psicopedagogo dentro das escolas inclusivas. Para tanto foi
necessário elucidar questões pertinentes, iniciando através de uma
investigação histórica sobre a educação especial, analisando fatos que
favorecem a exclusão, conceituando e contextualizando a inclusão social até
chegarmos à Educação Inclusiva à luz da Psicopedagogia e o papel do
profissional dessa área.
Numa sociedade onde a educação passa a ser um direito de todos, a
Psicopedagogia mostra-se como um trabalho de extrema importância na
escola da atualidade, cabendo ao psicopedagogo ajudar o desenvolvimento da
aprendizagem do sujeito-aprendiz, visto que seu objeto de estudo é o processo
de aprendizagem humana. Na escola o psicopedagogo pode auxiliar no
processo de ensino-aprendizagem sendo capaz de atuar não apenas com os
educandos, mas também com os educadores, levando-os a pensarem novas
estratégias e metodologias que favoreçam esse processo e se aproximem da
sonhada educação para Todos.
A questão central do presente estudo é analisar o contexto da inclusão
escolar atual acreditando-se que o psicopedagogo pode facilitar esse
processo. O psicopedagogo pode ajudar a escola a lidar melhor com a
diversidade, agregando novos valores, levando professores e alunos a
acreditarem que todos são capazes de aprender.
No entanto, passar do discurso ideológico inclusivista para a inclusão na
prática exige reflexão, conhecimento e aceitação do novo. Reconstruir as
práticas existentes e preconceitos cristalizados não é tarefa fácil e o
Psicopedagogo pode orientar o aluno, a escola e a família a romper essas
barreiras.
Palavras-chave: Inclusão; Psicopedagogia; Educação Inclusiva; Escola
6
METODOLOGIA
Para a elaboração deste trabalho a metodologia realizada foi a pesquisa
bibliográfica, assim como a webliografia, visando ampliar os conhecimentos
acerca do tema escolhido. Os livros de diversos autores, revistas, citações e
artigos usados nortearam o desenvolvimento desta Monografia.
Durante o período de elaboração desta pesquisa, a participação em
palestras, cursos e seminários que abordam temas relacionados foram
importantes subsídios para a construção deste trabalho.
7
SUMÁRIO
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I -
A Inclusão 11
CAPÍTULO II
Alterações no Processo de Aprendizagem 24
CAPÍTULO III
A Psicopedagogia na Escola Inclusiva 29
CONCLUSÃO 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43
WEBSITES 46
ÍNDICE 47
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
8
INTRODUÇÃO
A inclusão é um processo que visa trazer para dentro da sociedade
pessoas que foram marginalizadas historicamente. Como diz MANTOAN
(1997, p.20) "enquanto a pessoa está adequada às normas, no anonimato, ela
é socialmente aceita. Basta, no entanto, que ela cometa qualquer infração ou
adquira qualquer traço de anormalidade para que seja denunciada como
desviante". Partindo da análise histórico-social do indivíduo com deficiência,
este trabalho perpassa por uma visão clínico-patológica (quando se encarava o
sujeito com deficiência como uma pessoa doente- Sacks, 1998), acompanha
as mudanças da própria sociedade, onde a priori se adota uma pedagogia
ortopédica (Skliar-2005) que visa “normalizar” tais indivíduos e esta pesquisa
chega nos dias de hoje à reflexão do processo de inclusão educacional à luz
da psicopedagogia.
A inclusão escolar traz ao âmbito educacional novos desafios, tornando
fundamental um novo olhar, novas práticas e objetivos de ensino-
aprendizagem. Que desafios são esses? Como enfrentá-los e aprender com
eles? Quando Mantoan afirma que “o pensamento que norteia o atual sistema
(educacional) é muito mecanicista, e discrimina claramente os normais e os
deficientes, o ensino regular e o especial, como também cada uma das
disciplinas estudadas na escola” percebe-se que tal fato é um agravante para
a transformação dos espaços escolares em ambientes inclusivistas. Tal
afirmação se complementa quando Relvas (2009) diz que “novas posturas
educacionais precisam ser estruturadas para que os educandos despertem
para o aprender escolar” e saibam enfrentar os desafios da vida.
Hoje é sabido que a escola não pode ser um espaço neutro, é um espaço
democrático, político na vida de todos. Nesse sentido as ideias de Freire vão
nortear este trabalho, buscando desvincular a posição do deficiente como um
sujeito oprimido para um sujeito crítico, reflexivo. A partir da educação isso é
possível. No entanto não basta aceitar a matrícula dos alunos com deficiência,
é preciso trabalhar em prol do desenvolvimento de Todos os educandos.
9 Ao se referir às pessoas com deficiência, Vygotsky (1993) ressalta que,
“muito mais do que o defeito em si, o que decide o destino da personalidade da
criança é sua realização sócio-psicológica”. Assim, o trabalho psicopedagógico
demonstra extrema importância e o espaço social oferecido pela escola pode
ser extremamente benéfico. Afinal, as potencialidades não nascem prontas, é
o meio social que vai ajudar o indivíduo a encontrá-las, a fazê-las desabrochar.
Vale destacar que com o fomento da inclusão a psicopedagogia nasce
para unir a lacuna existente entre o atendimento clínico/psicológico do sujeito
deficiente e o trabalho educativo deste aluno com deficiência. Fez-se
necessário então um campo de estudo que fosse capaz de entender o sujeito-
aprendiz, o que ampliou a área de atuação do psicopedagogo que não limita-
se ao trabalho com pessoas com déficits, mas também na prevenção de
possíveis dificuldades e ainda na orientação, suporte e desenvolvimento de
estratégias para o trabalho com o desenvolvimento integral de sujeitos
aprendizes. Nesse sentido Weiss afirma que “a Psicopedagogia busca a
melhoria das relações do aprendiz com a aprendizagem”. Partindo da
compreensão desta premissa, e por ser um dos temas mais discutidos na
atualidade, acredito que o trabalho do Psicopedagogo nas instituições
escolares pode facilitar esse processo inclusivo, auxiliando todos os alunos no
desenvolvimento da aprendizagem e em outros aspectos relevantes. Torna-se
necessário “resgatar na escola desde a mais tenra idade aquelas atividades
educativas que enriquecem a interioridade dos alunos” ( Malheiro, 2010).
Tais práticas educativas podem nortear-se dos pressupostos
pedagógicos e dos ideais da psicopedagogia. Para tanto, os profissionais da
psicopedagogia precisam estar informados e cientes da importância do seu
trabalho na escola como um agente facilitador. Por isso, nesta pesquisa,
prioriza-se a relação do psicopedagogo com os profissionais da educação,
como se dá a orientação, suporte e como diminuir as dificuldades encontradas
no percurso do trabalho pedagógico. Levanta-se alguns questionamentos,
como: O que é Educação Inclusiva e como chegamos até ela? Qual é papel
do psicopedagogo nas escolas inclusivas? Como o psicopedagogo pode
10facilitar a inclusão das crianças com deficiência? Qual tipo de mediação
psicopedagógica se faz necessária para amenizar e/ou superar as alterações
no processo de aprendizagem e como desenvolver habilidades?
Para encontrar as respostas de tais questionamentos, haverá uma
pesquisa bibliográfica, baseando-se nas ideias de autores como: Fernandez,
Freire, Mantoan, Paín, Porto, Ramos, Relvas, Sacks, Sassaki, Vygotsky,
Weiss, entre outros.
Através da pesquisa de livros relevantes e também de artigos atuais este
trabalho busca analisar as possíveis práticas psicopedagógicas que permeiam
e facilitam processo de inclusão educacional no Brasil baseando-se nas ideias
de autores que já pensaram no assunto e podem nos ajudar a chegar a uma
conclusão, norteando nossa prática.
11
CAPÍTULO 1: A Inclusão
1.1 A história da Educação Especial
Desde o princípio da humanidade todo aquele que fosse considerado
diferente, que fugisse dos padrões de normalidade aceitos por determinada
época, era visto com olhar de desprezo, discriminação, superstição, medo,
superproteção e/ou segregação. Como Séneca (1986) afirmou:
“Matam-se cães quando estão com raiva;
exterminam-se touros bravios; cortam-se as
cabeças das ovelhas enfermas para que as
demais não sejam contaminadas; matamos
os fetos e os recém-nascidos monstruosos;
se nascerem defeituosos e monstruosos
afogamo-los, não devido ao ódio, mas à
razão, para distinguirmos as coisas inúteis
das saudáveis.”
A pessoa que tivesse uma deficiência, dependendo da sociedade e
cultura em que estava inserida, poderia ser considerada um fardo, um castigo
ou até mesmo uma maldição divina. Em outras épocas e costumes essas
pessoas poderiam ser consideradas seres especiais, até mesmo dotadas de
poderes divinos. Assim, a forma como a sociedade lidava com a pessoa com
deficiência era cercada de mitos e “pré-conceito”.
Segundo Ramos (2010):
“Vivendo em uma sociedade de resultados,
podemos dizer que a deficiência é
exatamente o que não se quer, porque não
combina com as leis biológicas, sociais,
políticas, econômicas e religiosas
12estabelecias pela humanidade, o que se
revela nos discursos que se fazem sobre a
vida e sua função”.
Na Pré-História apenas os mais fortes sobreviviam e os deficientes
provavelmente não se enquadravam dentro dos grupos primitivos, pois o
ambiente era desfavorável e nos grupos cada qual contribuía e lutava pela sua
própria sobrevivência através da caça e de trabalhos pesados.
Na Antiguidade pessoas com deficiências eram entregues à própria sorte,
muitas foram mortas e tantas outras maltratadas. Aristóteles dizia que era
necessário ''Tratar igualmente o igual e desigualmente o desigual'' .
Com o advento do Cristianismo indivíduos com deficiências começaram a
ser vistos de forma mais piedosa: não eram mais eliminados (mortos), não
sendo mais vistos como um castigo, mas passaram a ser olhados como
pessoas merecedoras de caridade, passando a receber cuidados para sua
sobrevivência em locais específicos, como asilos, hospitais, igrejas, no entanto,
sendo segregados. Ou seja, sobreviviam, mas retirados “das vistas” da
sociedade. Aqueles que permaneciam na casa da família poucas vezes saiam
de casa. Ainda assim, quando não fosse possível “esconder” comportamentos
imorais e/inadequados eram castigados.
A Inquisição também eliminou “desviantes” que apresentassem
comportamentos inadequados, “sobrenaturais” que não fossem “modificados”,
“normalizados” através das orações.De acordo com Bianchetti(2006), na Idade
Médias “as deficiências passaram a ser identificadas, mas não podiam ser
tratadas por razões físicas”, porque advinham de um “problema da alma”.
Após a Idade Média, com o início do Renascimento, a razão dá lugar à
perspectiva religiosa e a deficiência passa a ser analisada sob o ponto de vista
médico.
13
Como afirma Pessotti (1984):
“De todo modo, diversas vantagens se
oferecem para o deficiente ao passar das
mãos do inquisidor às mãos do médico”.
Assim, o deficiente passa a ser visto como alguém que precisa de cura
para a sua “doença”. Muitas experiências médicas foram realizadas com
deficientes “em prol da cura”, não obtendo muito sucesso. Essa “visão
ortopédica” enxergava apenas a deficiência da pessoa e não conseguia
perceber que ali havia uma pessoa com determinada deficiência, como sendo
um sujeito com possíveis habilidades a serem encontradas. Acreditava-se que
a pessoa com deficiência era incapaz e por isso não precisam receber
estímulos educacionais. A sociedade não percebia essa parcela da população,
embora pessoas com deficiências sempre existissem.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que foi liderada por
Hitler, muitas atrocidades foram cometidas. Acredita-se que o Holocausto
eliminou por volta de 275 mil adultos e crianças com deficiências e outras 400
mil pessoas suspeitas de portarem a hereditariedade de surdez, cegueira e
deficiência mental. Essas pessoas foram mortas em nome da crença de Hitler
na existência de uma raça humana mais pura, denominada Ariana, a qual
essas pessoas, segundo ele, não poderiam fazer parte, assim como os judeus
e ciganos também não.
Pessoas com deficiências passaram a ser um pouco mais enxergadas
pela sociedade no Pós-Guerra, quando muitos soldados e combatentes que
por voltarem vivos aos seus países foram considerados heróis, no entanto,
muitos desses “heróis” trouxeram as marcas da guerra no corpo e na mente,
pois era enorme o número de pessoas que se tornaram deficientes físicos e
doentes mentais por conseqüência da guerra.
14Ainda no século XX, a deficiência passa a ser vista de outras formas por
grandes pensadores, podendo se destacar: Piaget, Brunner e Vygotsky que
contribuíram muito com os seus estudos sobre as crianças com deficiência.
Vygotsky opunha-se veemente à avaliação das “crianças portadoras de
incapacidades” com base em seus defeitos ou deficiências, seu “menos”; ele
as avaliava, em vez disso, com base no que elas tinham de “mais”. Ele não as
via como deficientes, e sim pessoas com desenvolvimento diferentes. Segundo
VYGOTSKY:
“Uma criança com uma incapacidade
representa um tipo, qualitativamente
diferente, único, de desenvolvimento”.
Ou seja, todas as pessoas têm capacidade para aprender e se desenvolver,
mas cada um de acordo com o seu ritmo, suas singularidades e
potencialidades.
“Se uma criança cega ou surda atinge o
mesmo nível de desenvolvimento de uma
criança normal, então uma criança com
uma deficiência atinge-o de outro modo,
por outro caminho, outro meio; para o
pedagogo, é particularmente importante
conhecer a singularidade do caminho pelo
qual deve conduzir a criança. Essa
singularidade transforma o menos da
deficiência no mais da compensação”.
(SACKS, 1998)
Imediatamente após a guerra a sociedade civil organiza-se buscando
soluções para amenizar tal quadro, onde nasce a Organização das Nações
Unidas (ONU- 1945) visando encontrar soluções para os problemas sociais
decorrentes da Guerra. Após a criação da ONU a comunidade internacional se
15reúne na nova sede jurando nunca mais cometer tamanha atrocidade. Tal
“juramento” vira um documento onde se explicita todos os direitos de um ser
humano, em todo lugar e tempo. Esse documento confere suma importância e
passa a ser chamado de Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Com essa declaração garantindo os direitos humanos passa a ser
inaceitável abandonar, subjugar e maltratar qualquer pessoa, pois para o novo
documento no seu Artigo 1º: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em
dignidade e direitos”.
Assim retorna a visão ortopédica em relação à pessoa com deficiência,
pois nesse tempo, mais do que nunca, acredita-se que pessoa com deficiência
precisa de reabilitação e a tentativa de “voltar à normalidade” torna-se o
objetivo de muitos deficientes. Dessa forma muitos Centros de Reabilitação
são criados mundo a fora e novas instituições voltadas para a reintegração da
pessoa com deficiência surgem.
Nesse paradigma as escolas especiais começam a ganhar terreno. Afinal,
para a concepção daquela época, se eles são sujeitos passivos de reabilitação
também podem ser educáveis. Assim aquelas pessoas que não poderiam
frequentar uma escola regular porque possuíam uma deficiência passam a ser
vistas como pessoas que podem receber um ensino especial, onde a pessoa
com deficiência torna-se o “aluno excepcional”.
Como a UNESCO afirma (1977, p.5-6), é possível dividir a história da
humanidade, de acordo com a forma como as pessoas com deficiência foram
tratadas ao longo da história:
Fase filantrópica: em que as pessoas com deficiência são consideradas
doentes e portadoras de incapacidades permanentes inerentes à sua natureza.
Portanto, precisavam ficar isoladas para tratamento e cuidados de saúde;
Fase da “assistência pública”: em que o mesmo estatuto de "doentes" e
"inválidos" implica a institucionalização da ajuda e da assistência social;
16Fase dos direitos fundamentais: iguais para todas as pessoas quaisquer que
sejam as suas limitações ou incapacidades. É a época dos direitos e
liberdades individuais e universais de que ninguém pode ser privado, como é o
caso do direito à educação;
Fase da igualdade de oportunidades: época em que o desenvolvimento
econômico e cultural acarreta a massificação da escola e, ao mesmo tempo,
faz surgir o grande contingente de crianças e jovens que, não tendo um
rendimento escolar adequado aos objetivos da instituição escolar, passam a
engrossar o grupo das crianças e jovens deficientes mentais ou com
dificuldades de aprendizagem;
Fase do direito à integração: se na fase anterior se "promovia" o aumento
das "deficiências", uma vez que a ignorância das diferenças, o não respeito
pelas diferenças individuais mascarado como defesa dos direitos de
"igualdade" agravava essas diferenças, agora é o conceito de "norma" ou de
"normalidade" que passa a ser posto em questão.
Como relata a própria UNESCO, essas divisões históricas baseadas na
forma como a pessoa com deficiência foi encarada acontecem somente de
forma cronológica, pois até mesmo nos dias atuais há inúmeras concepções e
crenças que permeiam as atitudes frente as pessoas que possuem alguma
deficiência. O que reflete nas escolas e instituições que atendem alunos com
deficiências.
Séculos e mais séculos passaram e as pessoa com alguma deficiência
foram discriminadas, tendo a sua condição como ser humano enfatizada pela
sua deficiência e não por aquilo que elas poderiam ser capazes. É incalculável
o número de pessoas que nasceram e morreram vítimas de “pré-conceito”
(conceito julgado antes de ser conhecido, dominado) e tiveram as suas vozes
caladas e seus direitos, sentimentos, pensamentos e singularidades
legalmente ignorados. Tais marcas continuam em nossa sociedade.
1.2 Inclusão X Exclusão
17“Do Latim Includere ; Encerrar; Inserir;
Meter dentro; abranger; conter em si;
compreender.” (Dicionário Aurélio, 1993)
De acordo com o dicionário Aurélio (1993) inclusão vem do latim
includere - é o ato ou efeito de incluir, que significa: inserir; trazer para dentro;
abranger (perceber, entender, apreender, alcançar, atingir); conter em si;
compreender (entender alguém, aceitar); introduzir; pertencer juntamente com
outros. Em educação, Inclusão significa aceitar (no sentido amplo da palavra) a
diversidade humana, trazendo para dentro da escola regular pessoas com
deficiências na plena participação de todo o processo educacional. Inclusão é
a crença na diversidade como um valor, um bem comum. Independente da cor,
raça, religião, enfim, independente das diferenças que possuam as pessoas, é
princípio básico dos direitos humanos o acesso à educação. O que ficou
estabelecido por ocasião da Conferência Mundial sobre Igualdade de
Oportunidade, Acesso e Qualidade, realizada em 1994, na Espanha, em
cooperação com a UNESCO, que ficou conhecida como a Declaração de
Salamanca. De acordo essa declaração:
“O termo “necessidades educacionais
especiais” refere-se a todas aquelas
crianças ou jovens cujas necessidades
educacionais especiais se originam em
função de deficiências ou dificuldades de
aprendizagem. Muitas crianças
experimentam dificuldades de
aprendizagem e portanto possuem
necessidades especiais em algum ponto
durante a sua escolarização”.
Salamanca1 (introdução 3)
18Até os dias de hoje existe uma grande batalha para que tal preceito seja
vivenciado por todos, porque as marcas da exclusão ainda estão enraizadas
na sociedade.
No Brasil, a Lei Federal n° 7853, de 24 de outubro de 1989, assegura os
direitos básicos dos “portadores de deficiência”. Em seu artigo 8º constitui
como crime punível com reclusão (prisão) de 1 a 4 anos e multa, quem:
1. Recusar, suspender, cancelar ou fazer cessar, sem justa causa, a
inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau,
público ou privado, porque é portador de deficiência.
2. Impedir o acesso a qualquer cargo público porque é portador de
deficiência.
3. Negar trabalho ou emprego, porque é portador de deficiência.
4. Recusar, retardar ou dificultar a internação hospitalar ou deixar de
prestar assistência médico-hospitalar ou ambulatória, quando possível, a
pessoa portadora de deficiência.
1
1 A Declaração de Salamanca (Salamanca - 1994) trata dos Princípios, Política e Prática em Educação Especial. Trata-se de uma resolução das Nações Unidas adotada em Assembléia Geral, a qual apresenta os Procedimentos-Padrões das Nações Unidas para a Equalização de Oportunidades para Pessoas Portadoras de Deficiências. A Declaração de Salamanca é considerada mundialmente um dos mais importantes documentos que visam a inclusão social, juntamente com a Convenção sobre os Direitos da Criança (1988) e da Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990).
19
Quando pensamos na história da humanidade e falamos em inclusão
percebemos quanto tempo se passou e que há poucas décadas que os direitos
das pessoas com deficiência começaram a ser vistos e pensados. Como diz o
ditado “antes tarde do que nunca”, pois analisando positivamente em pouco
tempo muitos passos foram dados. Conforme ROBERT (1999):
“Grande foi o caminho já percorrido no
combate ao preconceito que sofrem os
portadores de necessidades especiais.
No entanto, muito ainda falta alcançar. Só
se atinge a faixa de chegada se os
primeiros passos forem dados.”
No entanto, percebe-se que só se fala de Inclusão porque a Exclusão
existe. Ou seja, consideramos uns sujeitos incluídos, porque outros estão
excluídos. Sobre isso declara Sawaia (1999):
“... ambas não constituem categorias em
si, cujo significado é dado por qualidades
específicas, invariantes, contidas em cada
um dos termos, mas são da mesma
substância e formam um par
indissociável, que se constitui na própria
relação. A dinâmica entre elas demonstra
a capacidade de uma sociedade existir
como um sistema.”
Muitas mudanças sociais só aconteceram após a criação de leis que
garantissem os direitos de igualdade para pessoas com deficiência, capazes
de punir legalmente quem não as cumprissem. Sendo que a própria lei muitas
vezes não é cumprida em sua plenitude, quando, falta a acessibilidade.
20São muitas as forma de exclusão que uma pessoa pode vivenciar. A
acessibilidade, ou melhor, a sua falta, é um dos maiores exemplos de
exclusão. Por exemplo: o “direito de ir e vir” está garantido em lei, mas como
um deficiente físico vai onde quiser se são poucos os locais que possuem
estrutura para recebê-los adequadamente?!
A desigualdade social é outro grande fator de exclusão, em especial
quando se trata de sujeitos com deficiências. Até os dias de hoje é comum
encontrarmos mendigos expondo suas deficiências para pedir esmolas pelas
ruas. O que nos mostra que ainda temos grandes falhas sociais que
necessitam de transformações radicais.
A maior barreira que pode haver para uma pessoa com deficiência é a
“barreira humana” que persiste através do preconceito, discriminação e
inabilidade de lidar com o desconhecido, com a diversidade. Segundo Amaral
(1995), o confronto com a diferença causa uma hegemonia do emocional
sobre o racional. Negar, não a diferença, mas o diferente, é de certa forma,
confortável, pois não nos obriga a qualquer transformação.
Não basta haver aceitação social e oportunidades IGUAIS se não existir
a oportunidade REAL, ou seja, oportunidades justas, que estejam de acordo
com o indivíduo, com as suas possibilidades e com os desafios que ele seja
capaz de enfrentar. Como afirmou Freire (1996) “... E é porque amo as
pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante
antes da caridade.” Incluir não é fazer caridade, e sim, justiça.
21
1.3 Inclusão Escolar
A trajetória das pessoas com deficiência até a chegada dos bancos
escolares é carregada de estigmas, mitos e crendices, assim como sua
trajetória na história da sociedade. No entanto não foram apenas as pessoas
com alguma deficiência que foram historicamente excluídas da escola.
Mulheres, pessoas negras e pobres também foram mantidos distantes dos
espaços escolares porque estudar era privilégio para poucos. No século XIX e
em boa parte do século XX havia escolas separadas para meninos e para
meninas.
À medida que a sociedade passou a “enxergar” os direitos dessas
pessoas aos poucos a escola foi abrindo as portas para elas. Hoje temos as
escolas públicas, única alternativa para as classes pobres, e as escolas
privadas frequentadas preferencialmente pelas classes média e alta.
No entanto, para chegar às escolas regulares as pessoas com
deficiências passaram pelas Escolas Especiais. González (2007) diz que “a
escolarização (das crianças deficientes) foi realizada, fundamentalmente, nas
escolas especiais, sendo muito pequena nas escolas regulares, pois se seguiu
a tendência de realizar o ensino específico das crianças normais e em
separado o daquelas não consideradas como tal.” E muitas ainda passam por
elas. Sendo que atualmente a escola especial recebe outro papel, passando
de único espaço educacional para pessoas com deficiências, tornando-se um
espaço que complementa, que apóia a escola regular ajudando no
desenvolvimento do aluno com deficiência através de atendimento educacional
especializado em contra turno.
A Inclusão Escolar não diz respeito apenas a inserção dos alunos com
deficiência, e sim algo mais amplo, uma verdadeira ruptura com o sistema
educacional da atualidade, como afirma Mantoan (2006) “ a Inclusão implica
22mudança desse atual paradigma educacional, para que se encaixe no mapa da
educação escolar que estamos traçando”.
Sabemos que a escola muda de acordo com as transformações que
ocorrem na própria sociedade. Assim, a escola não é um espaço sem contexto
e se anteriormente mostrava-se como um local para homogeneizar e era
privilegiadamente um espaço único para o ensino de poucos. Na sociedade
moderna, na era da informação e do conhecimento, é preciso reinventar esse
paradigma educacional. Malheiro (2010) afirma que “a escola do século XXI
deve proporcionar a formação para a complexidade do sistema do mundo
atual, o que implica mudanças de atitudes no sentido de maior abertura de
horizontes, de tolerância, de solidariedade, de cooperação, de valorização da
dignidade humana, atitudes que a escola, deve ser a grande guardiã e mãe
ensinadora.”
Gomes (1999) observa que “a escola é um espaço sociocultural em que
as diferentes presenças se encontram”. Para Fávero (2004) a escola “é o
espaço privilegiado da preparação para a cidadania para o pleno
desenvolvimento humano”.
Como vimos anteriormente, longa foi a jornada percorrida pelas pessoas
com deficiências até que elas pudessem sentar nos bancos escolares. A
visão da sociedade em relação à pessoa com deficiência mudou, dessa forma
o papel da educação escolar em relação a essas pessoas também precisou
de novos olhares e novas práticas. Tal olhar amplia-se de dentro da escola
para fora dela e vice-versa. Na verdade, possibilitar as diferentes presenças é
um desafio. A escola será um espaço sociocultural, em que as diferentes
presenças se encontram, assim como o espaço privilegiado de cidadania, se
criarmos condições para tanto. Para isso mudanças precisam acontecer, a
começar pelos profissionais da educação. Ainda nos dias de hoje muitos
professores do ensino regular consideram-se incompetentes para trabalhar
com alunos com deficiências (Mantoan-2006). Na verdade o que assusta a
muitos desses “educadores” é que a Inclusão implica na mudança estrutural do
23sistema educacional, exigindo não apenas mudanças atitudinais, como
também mudanças da política educacional, nas metodologias de ensino-
aprendizagem, na organização curricular e na flexibilidade do mesmo. Sendo
assim, a mudança necessária não é somente do professor, como de todo o
sistema.
“(...) a inclusão implica uma mudança de
perspectiva educacional, porque não
atinge apenas os alunos com deficiência
e os que apresentam dificuldades de
aprender, mas todos os demais, para que
obtenham sucesso na corrente educativa
geral. Os alunos com deficiência
constituem uma grande preocupação para
os educadores inclusivos. Todos
sabemos, porém, que a maioria dos que
fracassam na escola são alunos que não
vem do ensino especial, mas que
possivelmente acabarão nele.”
(Mantoan, 1999)
Para Bartalotti (2006) "falar em Inclusão Social implica falar em
democratização dos espaços sociais, em crença na diversidade como valor, na
sociedade para todos. Incluir não é apenas colocar junto, e, principalmente,
não é negar a diferença, mas respeitá-la como constitutiva do humano. O valor
– positivo ou negativo – que se atribui à diferença é algo construído nas
relações humanas. O vetor da exclusão/inclusão não está, portanto, na
diferença em si, mas no valor a ela atribuído”.
Para Relvas (2010) para se ter um bom rendimento e assim, uma boa
acolhida, a escola precisa de:
24Ø Condições físicas de sala de aula, como higiene, boa iluminação,
limite acessível de número de alunos por turma.
Ø Condições pedagógicas, disponibilidade de material didático
adequado à faixa etária e método pedagógico de acordo com a
realidade da criança.
Ø Condições de corpo docente, no qual se refere à motivação, à
dedicação, à qualificação e à remuneração adequada.
Como já bem explicitado por Marsha Forest (1987) cabe aqui a metáfora
do caleidoscópio descrita por ela:
“O caleidoscópio precisa de todos os
pedaços que o compõe. Quando se
retiram pedaços dele, o desenho se torna
menos complexo, menos rico. As crianças
se desenvolvem, aprendem e evoluem
melhor em um ambiente rico e variado.”
CAPÍTULO II – Alterações no Processo de Aprendizagem
2.1 Alunos com Deficiências
No Brasil, o Decreto n. 3.298 de 20 de dezembro de 1999 em seu
Art. 4o considera a pessoa “portadora” de deficiência a que se enquadra
nas seguintes categorias:
I- Deficiência física - alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos
do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física,
apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral,
25nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)
II - Deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um
decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500HZ,
1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)
III - Deficiência visual - cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor
que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que
significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor
correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual
em ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de
quaisquer das condições anteriores; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)
IV - Deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior
à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a
duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como:
a) comunicação;
b) cuidado pessoal;
c) habilidades sócias
d) utilização dos recursos da comunidade
e) saúde e segurança;
f) habilidades acadêmicas;
g) lazer; e
h) trabalho; ; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)
V - Deficiência Múltipla: associação de duas ou mais deficiências.
26No outro extremo da escala das capacidades tidas como habilidades
intelectuais estão as pessoas consideradas superdotadas ou com altas
habilidades.
Há ainda aquelas com condutas típicas ( síndromes, transtornos,
comportamentos diferenciados...).
Assim sendo, entende-se por alunos com deficiências aqueles estudantes
que apresentam impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual,
mental ou sensorial, necessitando de condições favoráveis e estímulos
adequados ao seu desenvolvimento.
“Se uma criança cega ou surda atinge o
mesmo nível de desenvolvimento de uma
criança normal, então uma criança com
uma deficiência atinge-o de outro modo,
por outro caminho, outro meio; para o
pedagogo, é particularmente importante
conhecer a singularidade do caminho pelo
qual deve conduzir a criança. Essa
singularidade transforma o menos da
deficiência no mais da compensação”.
(SACKS, 1998, p. 63)
2.2 Educandos com Dificuldades de Aprendizagem
Aprender é um processo complexo e dinâmico que resulta na
mudança de comportamento após determinada experiência, estando
relacionadas aos fatores comportamentais, afetivos, psicológicos, sociais e
orgânicos de cada individuo. São várias as possíveis causas que podem levar
um aluno a apresentar dificuldades ou falhas que prejudicam esse processo.
Fernández (1991) considera as dificuldades de aprendizagem como sintomas
ou “fraturas” no processo de aprendizagem, onde necessariamente estão em
jogo quatro níveis: o organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. Nesse
sentido o “querer aprender” vai ser fundamental para que aprendizagem
27ocorra. Dificuldades de aprendizagem não estão ligadas apenas aos sistemas
biológicos, mas podem ser causadas por problemas passageiros e devem ser
observadas, podendo ser prevenidas, minimizadas e até excluídas. Algumas
vezes a dificuldade de aprendizagem pode ser um alerta sobre um processo
de ensino-aprendizagem ineficaz. Conforme Scoz (1994):
“(...) os problemas de aprendizagem
não são restringíveis nem a causas
físicas ou psicológicas, nem a análises
das conjunturas sociais. É preciso
compreendê-los a partir de um enfoque
multidimensal, que amalgame fatores
orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais
e pedagógicos, percebidos dentro das
articulações sociais. Tanto quanto a
análise, as ações sobre os problemas
de aprendizagem devem inserir-se num
movimento mais amplo de luta pela
transformação da sociedade.”
2.3 Distúrbios e Transtornos na Aprendizagem
De acordo com o CID - 10, os Transtornos específicos do
desenvolvimento das habilidades escolares são compostos por grupos de
transtornos manifestados por comprometimentos específicos e significativos no
aprendizado de habilidades escolares. Não são necessariamente decorrentes
de deficiências, embora eles possam ocorrer simultaneamente com essas
condições. Assim, podemos entender como Transtorno o conjunto de sintomas
comportamentais que provocam uma série de perturbações na aprendizagem
do sujeito, interferindo no decorrer desse processo.
Os transtornos específicos do desenvolvimento das habilidades escolares
geralmente ocorrem junto com outras síndromes clínicas, como por exemplo, o
transtorno de déficit de atenção ou o transtorno de conduta, ou outros
28transtornos do desenvolvimento, tais como o transtorno específico do
desenvolvimento da função motora ou os transtornos específicos do
desenvolvimento da fala e linguagem. Para Paín (1992), “o tratamento
Psicopedagógico é o mais indicado no caso de tratar-se um transtorno de
aprendizagem”.
A definição estabelecida em 1981 pelo National Joint Comittee for
Learning Disabilities (Comitê Nacional de Dificuldades de Aprendizagem), nos
Estados Unidos da América,descreve que “Distúrbios de aprendizagem é um
termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações
manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala,
leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são
intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema
nervoso central.”
Distúrbios ligados à Linguagem:
Na LEITURA : Alexia (impossibilidade absoluta de ler); Dislexia (domínio
insuficiente de leitura).
Na ESCRITA: Agrafia (impossibilidade de comunicar algo por escrito,
independente do nível mental); Disgrafia (dificuldade acentuada de escrita);
Disortografia (dificuldade de escrita relacionada à ortografia); Discaligrafia
(reprodução inadequada da letra manuscrita).
Na ARITMÉTICA: Acalculia (perda total da capacidade de operar
matematicamente); Discalculia (dificuldade parcial de operar
matematicamente).
Segundo Olivier(2011) “dependendo do grau de dificuldade que o
individuo apresente, é necessário um tratamento multidisciplinar”, onde além
do psicopedagogo ele poderá ter acompanhamento com profissionais da
medicina, fonoaudiologia, pedagogia, psicologia, arteterapia, psicomotricidade
(...) dependendo das necessidades individuais.
29
CAPÍTULO III: A psicopedagogia na escola inclusiva
3.1 A Psicopedagogia
A própria nomenclatura Psicopedagogia nos remete a pensar na “fusão”
entre a Pedagogia e Psicologia. Em resumo a Pedagogia preocupa-se com as
questões voltadas às metodologias de ensino-aprendizagem do aluno e a
questão educacional em sua amplitude. Enquanto a Psicologia foca na análise
do sujeito, no comportamento humano e seus processos mentais.
Assim sendo, cabe à Psicopedagogia a lacuna existente entre o Ser
aluno e o Ser sujeito. A psicopedagogia nasceu da fronteira entre a Pedagogia
e a Psicologia.
“O termo Psicopedagogia distingue-se em
três conotações: como uma prática, como
um campo de investigação do ato de
aprender e como (pretende-se) um saber
científico. (BOSSA, 2000)
Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia “a Psicopedagogia é
um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o processo de
aprendizagem humana: seus padrões normais e patológicos considerando a
influência do meio - família, escola e sociedade - no seu desenvolvimento,
utilizando procedimentos próprios da Psicopedagogia.” Esta surgiu da fronteira
existente entre a Psicologia e a Pedagogia, apoiando-se no tripé:
• Psicologia Social
• Psicanálise
• Psicologia Genética
Porto (2011) destaca que os conhecimentos específicos de Psicologia e a
Pedagogia não foram suficientes para formar o corpo teórico da
30Psicopedagogia, por isso recorre a outras áreas como a Linguística, a
Psicanálise, a Filosofia, a Neurologia, que segundo ela “embasam e dão forma
teórica e prática psicopedagógica e temos então várias faces e múltiplos
olhares”. Tal olhar multidimensional é essencial para o psicopedagogo. É
fundamental que ele seja capaz de enxergar o que está por trás do sintoma. O
papel do psicopedagogo escolar não se difere quanto a essa questão.
Do ponto de vista de Jorge Visca a Psicopedagogia tem em seu perfil um
caráter independente e complementar, possuindo o processo de aprendizagem
como seu objeto de estudo, adotando recursos diagnósticos, corretores e
preventivos próprios, acreditando que nesse processo há participação dos
aspectos biológicos com disposições afetivas e intelectuais que interferem o
desenvolvimento do sujeito, a sua relação com o outro, com o meio e com o
desejo de aprender. O desenvolvimento da aprendizagem vai decorrer
influenciado pelas relações sociais e familiares, condições orgânicas, culturais,
estímulos e vivências de cada sujeito. Para Rubinstein (1996), “a
Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade dos múltiplos
fatores envolvidos nesse processo (de aprender)”.
Dessa forma, aquele que trabalha com a Psicopedagogia, o
Psicopedagogo, tem em sua formação o conhecimento e habilidade para
analisar como acontece o processo de aprendizagem de determinado sujeito e
se existe algo que pode estar afetando esse percurso.
Porto (2011) afirma que “o psicopedagogo sendo um profissional
multiespecialista em aprendizagem humana que congrega conhecimento de
diversas áreas a fim de intervir nesse processo, com sua intervenção
psicopedagógica, pode assumir uma feição preventiva ou terapêutica,
relacionando-se com equipes ligadas ao campo da saúde e educação,
terapêutica e institucional, respectivamente.”
Na escola o psicopedagogo vai adotar esse olhar, lembrando-se que o
foco da sua atenção não são as dificuldades de aprendizagem em si, mas o
processo de aprendizagem em sua totalidade, e consequentemente se houver
31algo atrapalhando ele saberá identificar para intervir, como diz Bossa (1994):
“ cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo
aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a
integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as
características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando
processos de orientação”.
3.2 Práticas Psicopedagógicas que facilitam a Inclusão Escolar
Segundo Malheiro (2010) a escola Ideal é aquela que sabe conjugar duas
forças complementares: as características temperamentais, psicológicas e
físicas da criança com o ideal de educação que a família pretende dar à
criança. É onde seja possível conjugar ensino-lúdico com exigência, buscando
cada vez mais a individualização no ensino-aprendizagem, isto é, buscar a
riqueza e a individualidade do aluno. Percebe-se que a escola inclusiva
aproxima-se desse parâmetro por proporcionar o encontro com a Diversidade,
levando tanto o professor quanto o aluno a “abrirem os olhos” para as
diferenças.
Com o advento da Inclusão faz-se necessária uma “visão” mais aguçada
mediante as necessidades educativas dos alunos, pois agora a escola não é
somente daqueles que se enquadram num determinado padrão, a escola
precisa ser de todos, crianças com e sem deficiências, com dificuldades ou
facilidades, com desempenho cognitivo baixo, na média ou superior. Assim, o
psicopedagogo institucional vai trabalhar na escola para dar assistência e
orientações aos professores, prevenir as dificuldades de aprendizagem,
desenvolver um trabalho de cunho psicopedagógico educacional (não clínico)
com os estudantes, dessa forma contribuindo com a melhoria das condições
do processo de ensino aprendizagem.
Nesse contexto, o psicopedagogo pode ajudar ao proporcionar uma visão
mais atenta e sensível às individualidades, tornando o professor mais apto a
perceber quando alguma criança apresenta determinada dificuldade, mesmo
que o educador não saiba identificar com exatidão do que se trata. Então,
32entra o papel do Psicopedagogo Escolar para trabalhar também com o
educando.
Caberá ao psicopedagogo escolar avaliar quais fatores “facilitaram” a
construção dessa dificuldade, dentre as opções enquadram-se:
Aqueles relacionados à escola: inadequação da metodologia de ensino-
aprendizagem; planejamento ineficaz; profissional desqualificado para a
função; muitos alunos na turma; atividades inadequadas para a faixa etária e
etc.
Aqueles relacionados ao desenvolvimento do sujeito: problemas
emocionais e familiares, problemas orgânicos, distúrbios de aprendizagem e
transtornos comportamentais.
No entanto, não se trata de descobrir se a “culpa” é do aluno ou da
escola. O importante é identificar o que favoreceu a aparição da dificuldade
para que possa se trabalhar de maneira objetiva.
Inicialmente o psicopedagogo deverá realizar uma avaliação simples,
onde deverá conhecer o aluno, observando como ele está em relação à
aprendizagem, identificando a dificuldade e buscando meios para amenizá-la e
ajudando-o na sua superação. Caso seja necessário deve-se encaminhar o
aprendiz através de um relatório para o atendimento adequado com o
psicopedagogo clínico, pedagogo, professor particular ou profissionais de
outras áreas (psicologia, psicomotricidade, médico especialista...) e fazer
parceria com tais profissionais que realizam um diagnóstico especializado mais
abrangente, visando potencializar essa pessoa em desenvolvimento.
Em se tratando de práxis escolar é bom lembrar que é importante dar
uma visão do nível pedagógico do aluno de forma global e da especificidade
nos diferentes campos, como leitura escrita e cálculo (Weiss-2008).
“A prática psicopedagógica vem
colocando questões ainda pouco
discutidas, de manejo difícil e geradoras
33de conflito, isto porque seu “paciente”(...)
apresenta, quase sempre, um quadro de
comprometimentos que extrapola o
campo de ação específico de diferentes
profissionais, envolvendo dificuldades
cognitivas, instrumentais e afetivas”.
(BARONE apud BOSSA, 2000)
A prática psicopedagógica fomenta questões que ainda são tabus, porque
ainda nos dias de hoje existe a idéia de que o aluno com dificuldades precisa
de acompanhamento clínico para “normalizar” o que está “errado” e a escola
não revê o que está fazendo pelo aluno. Então, mais uma vez, o
psicopedagogo, ao realizar a parceria com os profissionais envolvidos com o
aluno, inclusive os professores, deve esclarecer e pontuar o que precisa ser
modificado e onde é preciso intervir mais, sem “inter-ferir”.
Contudo, algumas vezes não há necessidade de fazer encaminhamentos,
apenas mudanças na própria maneira de ensinar; mudança de estratégias;
planejamento de atividades de acordo com objetivos específicos; metas
individuais; orientações aos professores do aluno e pais e etc.
Se “a psicopedagogia busca a melhoria das relações com a
aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria
aprendizagem de alunos e educadores” (Weiss-1991) ela não favorece apenas
aqueles sujeitos que já apresentam dificuldades, distúrbios e transtornos que
prejudicam a aprendizagem, mas também ajudam na prevenção, atuando
antes que as dificuldades possam surgir ou se agravarem na escola.
Trabalho psicopedagógico preventivo:
Ø Envolver os professores, preparando-os para lidar com a Diversidade e
as necessidades de aprendizagem e estímulos específicos.
Ø Detectar possíveis alterações no processo de aprendizagem.
Ø Promover orientações metodológicas e atitudinais.
34Ø Proporcionar estímulos adequados, complementares e suplementares
caso seja necessário.
Ø Auxiliar na construção do Projeto Político Pedagógico, no Planejamento
e nos Projetos.
Ø Estimular no professor o uso do lúdico e a construção do conhecimento
através do gosto pelo saber.
Atendimento psicopedagógico institucional (escolar):
Ø Realizar atendimento pedagógico individualizado.
Ø Realizar atendimento pedagógico em grupos pequenos.
Ø Conversar com o aluno quando precisar de orientação.
Ø Encontrar a melhor forma de estudo, organizando o modelo de
aprendizagem com o aluno.
Ø Olhar os cadernos, observando e auxiliando quanto a sua organização,
revendo erros para ajudar o aluno a compreendê-los.
Ø Escutar atentamente o aluno.
Ø Fazer a avaliação diagnóstica.
Ø Fazer encaminhamentos se necessário.
Recursos e Estratégias para o trabalho psicopedagógico
Na psicopedagogia os recursos utilizados tem o objetivo de proporcionar
momentos de construção, criação e apropriação de saberes, onde o sujeito-
aprendiz revela onde e como encontra-se no processo de aprendizagem.
Cabe ao psicopedagogo avaliar para além do que é concreto. Visto que a
criança muitas vezes não fala sobre seus problemas, ou não sabe reconhecê-
los, ela utiliza-se de outros meios para expressar-se.
Alguns recursos utilizados são:
35brincadeiras, diversos jogos, materiais diversificados para criação, ilustrações,
brinquedos, livros, histórias, computador, músicas, registros escritos (bilhetes,
cartas, histórias, poesias) e etc.
3.3 Orientações da psicopedagogia
Ø Orientações aos professores
Certa vez Freire disse “... aprender não é um ato findo. Aprender é um
exercício constante de renovação..." Então, ajudar um sujeito a (re)encontrar a
vontade de aprender e a superar o que limitava/bloqueava esse desejo é abrir
portas e janelas para uma nova vida.
Partindo desse pressuposto a tarefa principal do professor é promover o
gosto pela aprendizagem. Então o trabalho do psicopedagogo vai de acordo
com esta lógica, porque ele vai propiciar um reencontro com essa
aprendizagem, ajudando a derrubar as barreiras que foram construídas pelos
sintomas.
A formação do professor deve ocorrer na
ótica da educação inclusiva, como
formação de especialistas, mas também
como parte integrante da formação geral
dos profissionais da educação, a quem
cabe atuar a fim de reestruturar suas
práticas pedagógicas para o processo de
inclusão educacional.
(FREITAS, 2006)
Importante também é o professor conhecer as etapas do
desenvolvimento do ser humano; atualizar-se constantemente; pesquisar
novas formas de conhecimento e de construção, de didática e de avaliação,
sabendo também usar as novas tecnologias como grandes aliadas que podem
beneficiar a atuação docente. No entanto isto não é o suficiente. Para Malheiro
36(2010) “o verdadeiro professor é aquele que sabe querer realmente a todos os
seus alunos. Que tem a capacidade para conhecer muito bem a todos...”.
Finalizando, o bom professor é aquele que inclui todos os alunos no
processo educacional.
Ø Orientações aos pais:
Segundo Vygotsky a criança nasce inserida num meio social,
pertencendo a uma família, estabelecendo com ela as primeiras relações com
a linguagem. Nas interações cotidianas, a mediação com o adulto acontece
espontaneamente. Nessa interação com outros sujeitos que formas de pensar
são construídas por meio da apropriação do saber da comunidade em que está
inserido.
Partindo dessa visão os pais tem papel extremamente importante na
aprendizagem do sujeito e muitas vezes não se dão conta disso, acreditando
que “a vida ensina”. O psicopedagogo deve orientá-los quanto à importância da
função da família; as atitudes a serem tomadas com relação às dificuldades
apresentadas pelos filhos (muitas vezes pensam que é para irritar que a
criança demonstra determinada atitude); ensinar como se envolverem
positivamente com a vida escolar do filho e a importância do afeto.
Friedberg e McChure (2004) listam algumas atitudes importantes que os
pais precisam adotar para com os filhos:
• Reforçar o bom comportamento com elogios, abraços, uma brincadeira
ou folga de alguma tarefa doméstica.
• Dar atenção aos filhos com sorrisos, abraços, elogio verbal, comentando
uma fala do filho, olhando para ele enquanto conversa ou comenta algo
que faz, prestando atenção a uma tarefa que ele está realizando.
37• Estabelecer uma rotina para os comportamentos que devem ser
repetidos diariamente, como: tomar banho, arrumar a cama ou estudar.
• Reservar um tempo diário para brincar com a criança, de preferência,
uma brincadeira no chão dirigida pela própria criança, pelo menos por
dez minutos.
• Passar um tempo, juntos, em algo que o filho escolha. Por exemplo:
jogos de computador, jogos de tabuleiro, jogos de cartas, projetos de
arte, brincar na piscina, brincar de bonecas, cozinhar, praticar esportes,
entre outros.
• Orientá-los adequadamente ao invés de dar lições de moral.
• Dar comandos específicos. Dizer o que deve ser feito ou como deve ser
feito de maneira clara. Mostrar o caminho.
• Permitir escolhas, como forma de valorizar os comportamentos. Por
exemplo: já que você completou as tarefas da escola, pode escolher um
brinquedo para brincar ou uma história para eu lhe contar.
Ø Aos alunos:
Ao trabalhar com o Ser humano é necessário pensar a sua subjetividade.
Na escola não é diferente. O psicopedagogo deve trabalhar não com a
dificuldade do aluno, mas com o Ser em sua totalidade, reconhecendo o seu
contexto social, familiar, psicológico o seu momento histórico, suas
individualidades, seu grau de desenvolvimento e características pessoais.
Portanto para pensar o aluno como sujeito é preciso conhecê-lo, e isso se
faz quando o psicopedagogo utiliza-se de ferramentas fundamentais:
• Diálogo
• Escuta atenta
38• Observação
• Descoberta das habilidades
A relação aluno- psicopedagogo deve baseada no respeito, na
confiança e na capacidade mútua de acreditar no outro, tendo a afetividade
como mola propulsora. Quando esses “ingredientes” estão presentes nessa
relação a possibilidade de crescimento de ambos é enorme. Mesmo sabendo
que o sucesso do desenvolvimento do aluno e a superação e exclusão das
“muletas” não dependa somente desse fator, é sabido que essa relação
quando positiva vai facilitar o próprio desenvolvimento do educando e a
disposição para atenuar as dificuldades apresentadas.
39CONCLUSÃO
Vivemos numa sociedade capitalista, no século XXI, cuja base da sua
construção social e cultural está pautada nos ideais de minorias que detinham
o poder ao longo da história. Embora as crenças e valores dessa minoria
tenham permanecido enraizados na contemporaneidade, muitas mudanças
aconteceram nesse âmbito. Corrêa (2005) analisou historicamente as
mudanças referentes à pessoa com deficiência, levando-nos a perceber que
muitas transformações foram acontecendo ao longo da história, refletindo nas
escolas e no processo educacional.
Analisando a nossa história, nunca fomos capazes de aceitar as
diferenças (sociais, culturais, étnicas, religiosas...), fato que começa a ser
modificado nos dias de hoje. À medida que a sociedade foi se modificando, as
práticas educacionais também, assim como a visão do próprio homem.
O homem passou a adotar diferentes visões sobre si mesmo: ser
primitivo, ser pecador ou puro, ser iluminado, ser racional (...) e enfim começa
a se enxergar e ser enxergado como ser humano. Através da Psicologia ele
passa a ser visto como sujeito e pela Pedagogia como um aprendiz. No
entanto, a quem pertence o conhecimento referente ao sujeito-aprendiz?
Quem estuda o processo de aprendizagem desse sujeito? Buscando
preencher essa lacuna nasce a Psicopedagogia, cujo objeto central de estudo
está se estruturando em torno da aprendizagem humana: seus padrões
evolutivos normais e patológicos, conforme Bossa (2000).
O que o psicopedagogo deve buscar na escola é a realização de uma
práxis psicopedagógica capaz de fomentar no educando o seu potencial para
aprender, desenvolvendo no professor a compreensão da importância de
educar para o desejo de aprender. Segundo Ramos (2010) o primeiro passo
para a inclusão na escola é realmente desfazer a idéia de homogeneidade e
ter consciência das diferenças, reconhecendo que a aprendizagem é algo
40individual. A convivência com outras crianças é fundamental, porque isso
permite o confronto com o “outro”. Se ela convive apenas com crianças que
possuem as mesmas necessidades, não terá outros parâmetros. Respeitar as
diferenças é também respeitar o ritmo de aprendizagem de cada um,
considerando-se que aprender é para a vida toda, como nos lembra Freire“...
aprender não é um ato findo. Aprender é um exercício constante de
renovação..." Então, ajudar um sujeito a (re)encontrar a vontade de aprender e
a superar o que limitava/bloqueava esse desejo é abrir portas e janelas para
uma nova vida.
Na atualidade a educação é um direito de todos, e como a escola pode
ser entendida como o reflexo desta sociedade composta por diferentes
personagens, é nela que fica enfatizado esse direito de ser diferente em alguns
aspectos e iguais em outros, sem que isso seja considerado uma
anormalidade que cause perturbações. Conforme a Declaração de Salamanca
“As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das
suas condições físicas, sociais, lingüísticas ou outras”.
De acordo com essa Declaração, a Educação Inclusiva “não é só uma
questão de acesso, mais sim de qualidade. E no qual a demanda que os
Estados assegurem que a educação de pessoas com deficiências seja parte
integrante do sistema educacional.” Bartalotti (2006) detectou que a exclusão
não se resolve, portanto, pela simples inclusão do sujeito em determinado
espaço social. Não se incluem por decretos, eles supõem o direito civil, mas a
inclusão efetiva passa por caminhos mais complexos.
Por meio deste trabalho nota-se que com o advento da Inclusão a escola
torna-se um ambiente mais rico em diversidade, onde fica mais claro que o
desenvolvimento das pessoas não ocorre de igual para igual, afinal, cada um
tem a sua história, suas potencialidades, dificuldades, personalidade e
trajetória de vida (familiar, escolar...). Como vimos a inclusão exige que o
professor perceba essas singularidades e conheça seu alunado. Então, muitos
41professores mostram-se contrários à inclusão, porque ela demanda um novo
olhar, novas práticas e mudanças de atitude. Relvas (2009) diz que “novas
posturas educacionais precisam ser estruturadas para que os educandos
despertem para o aprender escolar” e saibam enfrentar os desafios da vida.
O psicopedagogo na escola poderá avaliar o aluno, não no sentido de
rotular, mas de encontrar o que dificulta o processo de aprender no caso dos
alunos com dificuldades de aprendizagem. No caso dos alunos com deficiência
o psicopedagogo poderá orientar os professores quanto às necessidades
específicas, adaptações curriculares, metodologias adequadas, habilidades e
dificuldades do sujeito e também ajudar esse aluno com deficiência em seu
processo de aprendizagem, criando estratégias que possibilitem e favoreçam o
desejo de aprender.
O que fazer quando as estratégias utilizadas para ensinar são eficazes
para alguns, mas não para outros? O que fazer com as famílias que não
sabem como lidar com a dificuldade de aprendizagem do filho? Para
Rubinstein (1996), “a Psicopedagogia tem como meta compreender a
complexidade dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo (de aprender)”.
Assim, questões como as citadas acima podem ser trabalhadas pelo
psicopedagogo, que deverá mediar as relações do aluno com a aprendizagem,
orientar os pais, ajudar a preparar o professor para a aceitação e a
diversidade, sendo uma peça muito importante na escola inclusiva.
Compreendemos através deste estudo que o psicopedagogo contribui
diretamente para a inclusão na escola e tem muito trabalho a fazer, onde pode-
se destacar na sua função o papel de:
• Conhecer a clientela escolar e a escola em si
• Descobrir o que o sintoma está camuflando
• Estimular a vontade de aprender
• Desafiar a construção de novas práticas docentes
42
Pode ser notado que a sua atuação em ambiente escolar não deve ser
solitária, pois o psicopedagogo poderá realizar um trabalho integrado,
auxiliando tanto no desenvolvimento do aluno, quanto à capacitação da escola,
orientando os pais e realizando parcerias com outros profissionais que
atendam esse educando, favorecendo um elo que irá beneficiar o processo
ensino-aprendizagem. “O trabalho psicopedagógico atua não no interior do
aluno ao sensibilizar para a construção do conhecimento, levando em
consideração os desejos do aluno, mas requer também uma transformação
interna do professor” (Fagali-1992).
Enfim, a escola da atualidade não pode mais favorecer a exclusão, é
necessário romper as barreiras do preconceito e buscar o desenvolvimento de
cada aluno. Pois a educação é fundamental para o desenvolvimento do sujeito
e a oportunidade para que a pessoa se desenvolva de forma plena, autônoma,
justa, humana e feliz deve começar na escola. A psicopedagogia dentro da
escola torna a inclusão mais eficaz e possível, partindo da perspectiva que
todo sujeito é capaz de aprender.
43
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deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo:
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47
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - A Inclusão 11
1.1 História da Educação Especial 11
1.2 Exclusão X Inclusão 17
1.3 Inclusão Escolar 21
CAPÍTULO II – Alterações no Processo de Aprendizagem 24
2.1 Alunos com deficiências 24
2.2 Dificuldades de aprendizagem 26
2.3 Distúrbios e Transtornos na aprendizagem escolar 27
CAPÍTULO III – A Psicopedagogia na Escola Inclusiva 29
3.1 A psicopedagogia 29
3.2 Práticas psicopedagógicas na escola inclusiva 31
3.3 Orientações da psicopedagogia 35
48CONCLUSÃO 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43
WEBSITES 46
ÍNDICE 47
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
49
FOLHA DE AVALIAÇÃO
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Título da Monografia:
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