A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais Melissa Costa de Magalhães Orientadora Profa. Ms. Fátima Alves Rio de Janeiro 2012

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Diante da importância de enfatizar a utilização da Arteterapia comoferramenta auxiliar no tratamento de pessoas com transtorno mental, trazendoa possibilidade de trabalhar o acesso ao inconsciente, com maior facilidade edomínio, buscando equilíbrio interno, o estudo traz a descrição da Arteterapia,abordando a Psicologia Junguiana para o entendimento da Psique, do trabalhocom símbolos e o processo de individuação e o estudo da Saúde Mental combase em Nise da Silveira, sua participação na reforma psiquiátrica, seutrabalho com arte e imagens, com pessoas acometidas por transtorno mentale o Museu de Imagens do inconsciente. O estudo discorre sobre a Arteterapiacomo instrumento para promoção de saúde em pessoas com transtornomental.

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em

pessoas com transtornos mentais

Melissa Costa de Magalhães

Orientadora

Profa. Ms. Fátima Alves

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

A Arteterapia como instrumento para promoção de saúde em

pessoas com transtornos mentais

Apresentação de monografia a AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Arteterapia em educação e

saúde

Por:. Melissa Costa de Magalhães

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que de alguma forma

contribuíram para que eu tivesse um

caminho de estudo e de profissão

cheio de luz.

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DEDICATÓRIA

A meus pais pelo incentivo, aos mestres

que passaram pelo meu caminho

fazendo-me desenvolver todo meu

potencial, a meu esposo e filha pelo apoio

e pelo tempo que não pude dividir para a

finalização deste trabalho.

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RESUMO

Diante da importância de enfatizar a utilização da Arteterapia como

ferramenta auxiliar no tratamento de pessoas com transtorno mental, trazendo

a possibilidade de trabalhar o acesso ao inconsciente, com maior facilidade e

domínio, buscando equilíbrio interno, o estudo traz a descrição da Arteterapia,

abordando a Psicologia Junguiana para o entendimento da Psique, do trabalho

com símbolos e o processo de individuação e o estudo da Saúde Mental com

base em Nise da Silveira, sua participação na reforma psiquiátrica, seu

trabalho com arte e imagens, com pessoas acometidas por transtorno mental

e o Museu de Imagens do inconsciente. O estudo discorre sobre a Arteterapia

como instrumento para promoção de saúde em pessoas com transtorno

mental.

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METODOLOGIA

ESTA PESQUISA SERÁ DE CUNHO BIBLIOGRÁFICO, a partir de

publicações anteriores sobre o assunto em documentos impressos como,

artigos, teses e livros. Bibliografia: Jung - O Homem Criativo (Grinberg, Luiz

Paulo - FTD, 2003); Jung - Eu e o Inconsciente vol.VII – 2; Jung – Os

Arquétipos e o Inconsciente coletivo vol.IX – 1; Jung – Um caminhar pela

psicologia analítica (Sandra Regina Santos (org.) – Wak, 2008); Imagens do

Inconsciente (Silveira, Nise - Alhambra, 1982); Doença Mental e Psiquiatria

(Foucault, Michael - Tempo Brasileiro, 1994); Arteterapia – Arquétipos e

Símbolos (Dulcinéia da Mata Ribeiro Monteiro (org.) – Wak, 2008);

Interpretando Imagens transformando Emoções (Urrutigaray, Maria Cristina -

Wak, 2007); Brincando com a criatividade (Chaves Rocha, Dina Lúcia - Wak,

2009); Linguagens e materiais expressivos em Arteterapia: uso, indicações e

propriedades (Philippini, Ângela - Wak,2009); Terapia Ocupacional –

Fundamentação e prática (Cavalcanti & Galvão – Guanabara Koogan, 2007).

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A Arteterapia, a criatividade e a Linguagem dos materiais10

CAPÍTULO II - Jung, Arquétipos e Símbolos e Processo de Individuação 18

CAPÍTULO III – Saúde Mental segundo Nise da Silveira 28

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 40

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INTRODUÇÃO

Sendo o fazer artístico por si só transformador, na medida em que

organiza as experiências subjetivas e põe a energia psíquica em movimento, e

a Arteterapia uma técnica que possibilita que conteúdos inconscientes possam

emergir e transmutar através de imagens reveladas por meio de estratégias

expressivas adequadas a cada pessoa e situação, favorecendo a expansão e

a reestruturação da personalidade através deste fazer artístico, torna-se um

recurso eficaz no desenvolvimento humano, inclusive na saúde. Razão pela

qual será estudado como a Arteterapia pode ser utilizada contribuindo para o

tratamento de pessoas com transtorno mental.

Utilizar a Arteterapia como ferramenta no tratamento de pessoas com

transtorno mental nos traz a possibilidade de acessar o inconsciente com

maior facilidade e domínio para buscar um equilíbrio interno através das

oficinas de arte estimulando a criatividade a partir da utilização dos materiais e

da linguagem intrínseca a estes. Assim, o objetivo do estudo da Arteterapia

como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtorno mental

é demonstrar como esta pode contribuir com o tratamento de pessoas com

transtornos mentais, apontando a importância das oficinas de arte, ressaltando

a importância de trabalhar a Criatividade e discorrendo sobre a necessidade e

importância de conhecer a linguagem dos materiais.

Para que se faça compreender, o estudo será divido em três capítulos

onde serão abordadas as seguintes temáticas: A Arteterapia, a Criatividade e a

Linguagem dos materiais; Jung, Arquétipos e Símbolos e o Processo de

Individuação e Saúde mental segundo Nise da Silveira.

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No capítulo I será apresentada a definição de Arteterapia, o trabalho

por meio de imagens e as técnicas expressivas utilizadas como meio de

realização da Arteterapia; o conceito e definição de Criatividade, suas

considerações históricas e a colocação de como o exercício do processo

criativo influência de forma positiva a autoestima e a saúde mental de quem

cria; a Linguagem dos Materiais, os materiais plásticos e expressivos

adequados aos determinados públicos-alvos, as principais indicações

terapêuticas de cada material e a melhor situação para utilizá-los.

No capítulo II será estudada a Psicologia Junguiana, sua origem e a

compreensão da psique, o que são os Arquétipos, conceito e o trabalho com

Símbolos e Processo de individuação, definição e como ocorre.

No capítulo III será estudado Nise da Silveira, sua biografia, a reforma

psiquiátrica, seu trabalho na Saúde Mental e o Museu de Imagens do

Inconsciente.

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CAPÍTULO I

A ARTETERAPIA, A CRIATIVIDADE E A LINGUAGEM

DOS MATERIAIS

“É preciso tornar visível o que é invisível.”

Paul Klee

Diante da necessidade de nos colocarmos no mundo e nos

sentirmos aceitos e enquadrados nos padrões pré-estabelecidos pela

sociedade, impostos pelos padrões culturais, muitas vezes nos distanciamos

de nossa essência e criamos para nós papéis em coerência com a exigência

que nos é imposta. Assim deixamos de exercer nossa individualidade e

passamos a viver o sentimento de não pertencer, de não inclusão a um grupo,

devido ao afastamento causado entre o que realmente somos e como nos

apresentamos ao mundo. Jung diz:

“(...) o autoconhecimento de cada indivíduo, à volta do

ser humano às suas origens, ao seu próprio ser e à sua

verdade individual e social, eis o começo da cura da

cegueira que domina o mundo de hoje.”

(JUNG, 1994-A; IX).

A partir desta colocação, complementa Urrutigaray:

“(...) a importância de criar abertura e espaços simbólicos

para a experiência da carência, a qual é vista nos dias

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atuais como inadequação ou manifestação de

sentimentos de pessoas problemáticas, emocionalmente

enferma ou, quem sabe até, como portadoras de sérios

problemas de saúde mental, como se um estado

momentâneo de consciência de si, efetivado na

percepção circunstancial de um fato adquirisse uma

classificação absoluta e eterna de anormalidade (...)”

(URRUTIGARAY, 2007; pg 50)

A Arteterapia é uma técnica que possibilita que conteúdos inconscientes

possam emergir e transmutar, trazidos à consciência, através de imagens

reveladas por meio de estratégias expressivas adequadas a cada pessoa e

situação, favorecendo a expansão e reestruturação da personalidade de

indivíduos emocionalmente enfermos. Para tal é indispensável refletir, ao final

de cada proposta, acerca das imagens e das associações sensoriais surgidas

na materialização de conteúdos invisíveis ou inatingíveis até então. É a troca de

sentimentos e impressões que viabilizam este processo de compreensão dos

significados emergentes na busca de si mesmo.

O fazer artístico, por si só, já é transformador na medida em que organiza as

experiências subjetivas e põe a energia psíquica em movimento. É um recurso

eficaz no desenvolvimento humano, recurso apropriado para trazer os

conteúdos ocultos do inconsciente e difíceis para o espaço terapêutico

contribuindo com o trabalho de psicólogos, psicopedagogos, entre outros. É

feito sem preocupação estética.

Na abordagem Junguiana, a manifestação concreta dos símbolos (“termo que

melhor traduz um fato complexo e ainda não foi claramente apreendido pela

consciência” – JUNG, vol.VIII/2 §148) pela Arteterapia é o recurso apropriado

para trazer os conteúdos do inconsciente no processo analítico, pois a

“possibilidade de ativar a criatividade e de poder transformar imaginações em

criação modifica sensivelmente os estados indiferenciados pelas influências

arquetípicas em outras aquisições particulares pessoais e únicas”

(URRUTIGARAY, 2007). Este processo de crescimento em direção à inteireza

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da personalidade denominado Processo de individuação, ou seja, o individuo

em ação, onde ocorre a materialização dos conteúdos internos inconscientes,

posicionamento frente ao conteúdo trazido alcançando o negligenciado,

percepção do sentido de finalidade do conteúdo projetado em sua vida e

transformação de si mesmo. Citando Ligia Diniz:

“Nem tudo que é criativo é artístico, mas tudo que é

artístico é criativo. Ao usar a Arte no processo de

individuação, ajudamos a abrir o canal da criatividade, o

canal de fazer cultura como forma de sobrevivência, não

só física como psíquica. Para o ser humano, não basta só

a nutrição orgânica; ele precisa de um sentido na vida,

busca a conexão com sua alma. A criatividade é um

potencial inerente ao homem, e a sua realização é uma

necessidade.” (LIGIA DINIZ, 2009; pg 38)

A arte é um meio para tornarmos concreto o que está guardado em nosso

interior pela criação de símbolos, ao criarmos ligamos o intrapsíquico e o extra

psíquico, tornarmos algo interno, concreto possibilitamos o reconhecimento de

algo que era invisível criando a possibilidade de transformação, uma

reestruturação da personalidade, para Ligia Diniz (2009) nesse processo de

inteireza de ser, a gente realiza no indivíduo a história do homem, a

coletividade, a totalidade. O Símbolo agrupa significados contrastados, daí a

possibilidade de transcender por meio da arte, atingindo aquilo que, a princípio,

figura como inatingível. (JUNG, vol.VIII/2)

A Arteterapia é um processo que se efetua através da utilização de técnicas

como pintura, desenho, colagens, mosaico, argila, modelagem, entre outras,

técnicas estas chamadas técnicas artísticas possuidoras de instrumentos

plásticos, cada qual com uma linguagem específica e técnicas expressivas

auxiliares também portadoras de uma linguagem própria como o teatro,

consciência corporal, o vídeo, entre outras.

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A Criatividade tem por definição fazer, criar, o criar em atividade.

O homem pré-histórico desenhava para se comunicar, pintava

nas paredes das cavernas, invenções como a roda, a descoberta do fogo, já

faziam dele um homem criativo. É possível notar em nossa história que as

necessidades e motivações do homem para a manifestação de sua criatividade

foram se transformando ao passar do tempo, e junto a isso foram surgindo

novas concepções sobre criatividade.

Freud, no séc. XX definia criatividade como resultado de tensão entre

realidade consciente e pulsões inconscientes; Ostrower diz: “a criatividade

envolve toda a sensibilidade do ser humano, o processo criativo articula com a

sensibilidade.”;

Kant em sua abordagem filosófica explicava a criatividade como processo

natural e saudável que obedecia a leis imprevisíveis e intuitivas.

“A vida é criativa porque se organiza e regula a si mesma

e porque está continuamente originando novidades.”

(SINNOTT in KNELLER, 1978)

A teoria psicanalítica vê a criatividade como meio de reduzir tensão e aliviar

certos impulsos. “O processo criativo se daria pela ativação do inconsciente

coletivo ou pessoal” (JUNG, in WOODMAN, 1981).

O trabalho da criatividade nos proporciona trabalhar a autoestima positiva.

Quanto mais trabalhamos nossa criatividade, mais autoconfiantes nos

tornamos, mais saudáveis. “A criatividade é comparada com saúde mental, a

autorrealização seria conseguida por meio de um indivíduo criativo” (DINA

LÚCIA, 2009).

Na Arteterapia tem-se como objetivo, transformar o trabalho com a criatividade

em canal de autoconhecimento, auto-expressão e autorrealização. A

Arteterapia utiliza o ‘fazer arte’ que tem como objetivo expressar, configurar e

tornar concreto, conflitos e sentimentos, para favorecer o desenvolvimento

global do indivíduo através deste trabalho da criatividade.

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“A criatividade, por si só, é curativa, o trabalho criativo faz

com que o indivíduo ao criar entre em contato com

sentimentos, sensações, conteúdos internos, muitas das

vezes desconhecidos. Quando criamos, colocamos um

pouco de nós, na nossa criação. Dessa forma temos a

oportunidade de entrar em contato com o nosso universo

interior. Assim poderemos entender mudar, transformar,

significar, ressignificar, transmutar, transcender, se e

quando necessário.” (DINA LÚCIA, 2009; pg 86,87)

Com base em Ângela Philippini, pode-se dizer que na Arteterapia

a produção da imagem resulta de processos primários elaborados pela psique

e a compreensão dos diversos significados contidos nos símbolos sucede os

trabalhos criativos, plásticos e expressivos. O símbolo pode ser pesquisado

através de várias atividades plásticas e expressivas cada qual com sua

linguagem e sua finalidade. De acordo com sua particularidade serão indicadas

para alcançar diferentes objetivos.

“A amplificação simbólica em Arteterapia tem como

conceito: conjunto de estratégias expressivas que

facilitam a compreensão do significado de um símbolo,

permitido aproximação aos processos secundários de

elaboração (consciência), contribuindo para expansão da

estruturação emocional.” (PHILIPPINI, 2009; pg18)

Urrutigaray (2007), diz que as “ferramentas plásticas”, servem-lhes como

gancho expressivo e que a partir da análise da mobilização proporcionada com

diferentes texturas, objetiva-se o foco na utilidade dos materiais, como

possíveis amplificadores. Como pontes de auxílio para compreensão dos

determinantes psíquicos nos processos criativos, cita considerações acerca da

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composição (o uso do espaço); considerações acerca do uso das cores;

considerações acerca dos materiais. Quanto às considerações acerca dos

materiais diz:

“Os meios plásticos atuam como se fossem feixes de luz

coerentes a determinados padrões ondulatórios da

energia psíquica e possibilitam a sua revelação por meio

de imagens simbólicas ou figurações alegóricas. Assim

sendo, eles permitem focar as frequências de uma ordem

interna, do Self, como fonte original dos desdobramentos

da vida psíquica.” (URRUTIGARAY, 2007; pág. 132)

Desta forma, são de extrema importância para a Arteterapia o estudo da

linguagem dos materiais e técnicas expressivos, assim como seu uso,

propriedades e indicações. Listo, algumas das técnicas utilizadas na

Arteterapia segundo citação de Ângela Philippini em seu livro Linguagem e

Materiais Expressivos: Uso, indicações e Propriedades (2009).:

Ø COLAGEM – Facilidade operacional; ordenadora; estruturadora;

sintética; integradora e facilitadora do início do processo terapêutico;

indicada para cronologias diversas.

Ø FOTOGRAFIA - Restauração do percurso biográfico; percepção da

autoimagem; renovação e ampliação de um olhar estético; ponte para

outras linguagens plásticas como pintura e colagem; documentário e

resgate de memórias afetivas.

Ø PINTURA – Ativar o fluxo criativo; facilitar a liberação de conteúdos

inconscientes; desbloquear; experimentações sensoriais e lúdicas com a

cor; experimentação com o inusitado; dissolver; facilitador de inícios de

processos em Arteterapia; expansão; percepção emocional das cores e

experimentações com texturas e cromatismo.

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Ø DESENHO – Percepção espacial; percepção das relações luz-sombra;

delimitar, designar; expansão do movimento gráfico; delinear, configurar;

objetividade; percepção de ponto-traço-linha; coordenação psicomotora

entre figura-fundo; coordenação viso-motora e expressão conceitual

através da forma.

Ø TECELAGEM – Reunir, tramar, estruturar, integrar, relacionar, ordenar,

urdir, organizar, desembaraçar.

Ø COSTURA MANUAL – Reunião de segmentos, gradualidade, paciência,

delicadeza, minúcia, lentidão, ritmo harmônico, ordenação.

Ø MODELAGEM COM ARGILA – Ativação de elementos arquetípicos;

relaxante e libertadora de tensão; percepção de tridimensionalidade;

desenvolvimento de coordenação motora; propicia a consciência de

volume, peso e temperatura; percepção tátil; ativa a agilidade e

flexibilidade manual e coordenação motora.

Ø MODELAGEM COM OUTRAS MASSAS – Contribuir em atividade de

reabilitação motora, facilitar a transição do abstrato ao concreto,

iniciação à percepção de volume, iniciação à percepção de

tridimensionalidade, ativação da percepção tátil.

Ø MOSAICO – Ordenar; reunir; resignificar; reencantar o olhar; percepção

espacial; reutilizar; integrar.

Ø CONSTRUÇÃO – Edificar, reunir, integrar, compor, coordenar,

equilibrar, edificar, construir, reconstruir, agregar.

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Ø CRIAÇÃO DE PERSONAGENS – Ativação do imaginário; percepção de

informações de níveis inconscientes; ativação da expressividade e da

comunicação simbólica; estruturação e elaboração de conteúdos

inconscientes; ordenação espacial; integração de segmentos; integração

de várias linguagens plásticas e expressivas.

Ø ESCRITA CRIATIVA – Ordenação de temas, interação entre o campo

simbólico de imagens e palavras, fluência de comunicação, diálogo

silencioso entre fragmentos de si mesmo, escrita como geradora de

imagens plásticas, documentário de afetos, escrever para compreender,

simplicidade operacional, acesso gradual a conteúdos inconscientes,

escrita como desenho de sons internos e externos, desbloqueio criativo.

Ø VÍDEO – Percepção autoimagem; percepção da própria identidade;

orientação espacial; ativação da percepção global do ambiente; senso

de composição; definição de enquadramento de uma situação; ativação

do olhar, observação; experiências com imagens em movimento;

agilidade narrativa.

Ø TRABALHANDO COM CONTOS – Solução criativa para variáveis

adversas, apresentar gradualmente conflito x solução, propiciar

reflexões e insights, interação lúdica, ampliação da percepção pelo

contato com questões arquetípicas e transculturais, contatar eventos

comuns à dimensão humana, ativar o imaginário, favorecer o

autoconhecimento, ativação e desenvolvimento da comunicação oral.

Ø CONSCIÊNCIA CORPORAL – Preparação para as atividades do

processo arteterapêutico; relaxamento; consciência proprioceptiva;

desaceleração dos ritmos vitais; consciência dos movimentos

respiratórios; expressão através do simbolismo corporal de imagens

plásticas; consciência dos pontos de articulação do corpo;

reconhecimento de potencialidades e limites corporais; centramento;

enraizamento; vitalização.

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CAPÍTULO II

JUNG – ARQUÉTIPOS E SÍMBOLOS E PROCESSO DE

INDIVIDUAÇÃO

Carl Gustav Jung, médico Psiquiatra, criticou a importância da

sexualidade entre os fenômenos psíquicos estudados por Freud. Ele pensava

que a sexualidade, mas também a fome e agressividade seriam diferentes

manifestações da libido, ou seja, da energia psíquica. Jung confrontou-se com

imagens, cenas, fantasias e emoções, levando-o a fazer ser adotado o

conhecimento de arquétipo e imagens arquetípicas, que são formas

estruturantes, psíquicas e herdadas. A partir da Psicologia de Jung, a história,

o sentido da existência, a busca pelo cultivo da alma deu singularidade ao

homem. Jung chama esse processo de Individuação. Ao lidar com pacientes,

que apresentam ruptura entre pensamento e razão, Jung pôde perceber que

os sintomas dessa ruptura, eram os mesmos que Bleuler chamou de

esquizofrenia (Pierre, 2002, pg 183 = Doença que compromete as relações

afetivas: esquizo = cisão; frenia = mente.)

“(...) as perturbações nervosas (ou tudo que se designa

por nervosismo, histeria etc.) são de origem psíquica e

exigem, obviamente, um tratamento da alma. Agua fria,

luz, ar, eletricidade etc. são de efeito passageiro e muitas

vezes não produzem nenhum efeito. O padecimento do

doente vem da alma, de suas funções mais complexas e

profundas, que mal ousamos incluir no campo da

medicina.” (O.C., vol. VII; 1§1)

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Segundo Jung, o trauma não tem como origem, necessariamente, um

conflito erótico. “O trauma indica um evento psíquico de alto valor afetivo e de

caráter originário”. (Pierre, 2002, pg 507)

Para Lisete Vaz, Jung era, igualmente, um pesquisador sintonizado

com as revolucionárias pesquisas contemporâneas a ele, como: a da origem

das espécies, a do inconsciente, a da relatividade, a da fissão do átomo, entre

outras. As teorias acerca da Energia em física tiveram significativa influência

sobre Jung, a energia psíquica é um conceito abstrato, comparável, mas não

idêntico à energia em física (2007, pg. 140). Na visão de Jung, o psiquismo é

um sistema energético relativamente fechado que possui e mantém uma

mesma quantidade de energia que se canaliza nas diversas manifestações do

Ser durante sua vida. (Silveira, 2001, pg39)

“A energia psíquica pode se manifestar de modos

diferentes: com muita intensidade, ela tende a valorizar o

objeto ao qual se dirige; com pouca intensidade, isso

indica o desvalor relativo do objeto. A energia se expressa

em tonalidades, sentimentos e emoções.” (Jung, Um

caminhar pela psicologia analítica, 2008, pg72, 73)

Jung utilizou-se de vários recursos para compreensão da psique como

a filosofia, alquimia, religião, mitologia, sonho, literatura, artes em geral. Lisete

Vaz diz, com base em Jung, que a interpretação da psique pode ser

comparada à estrutura da luz. A analogia do espectro da luz com a psique

proposta por Jung afirma que, se numa extremidade da psique se encontram

os conteúdos mais arcaicos do inconsciente, no outro extremo, encontra-se o

corpo humano, com seus instintos mais primitivos. Psique e corpo seriam

manifestações de uma mesma realidade, de uma mesma natureza. O

inconsciente, pessoal ou coletivo, manifesta-se em concretude. (2007, pg 140)

A Psique humana é simultaneamente inconsciente e consciente, é

onde ocorrem todos os processos psíquicos. “A psique não é apenas objeto,

mas também o sujeito de nossa ciência”, afirma Jung. (O.C., vol.XVIII§277)

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Jung entende psique como a expressão de um funcionamento psíquico

inconsciente.

“A Psique não é algo que começa e termina somente em

seres humanos e em isolamento do cosmo. Há uma

dimensão na qual a psique e o mundo interagem

intimamente e se refletem reciprocamente. Esta é a tese

de Jung. (STEIN, 2004, pg. 178)

Lisete Vaz (2007) defende que, Jung considerou uma estrutura ao

psiquismo, onde o consciente, pequena parte dessa estrutura, é palco das

relações psíquicas de toda ordem. O ego constitui seu centro. O ego relaciona

os conteúdos da consciência entre si através de mecanismos diversos; e

também relaciona os conteúdos do inconsciente com os da consciência. Não é

rigorosamente contínuo. Mais vasto, mais inacessível e mais desconhecido na

estrutura psíquica é o inconsciente, que, em sua camada mais superficial e

fronteiriça com o consciente – o inconsciente pessoal – compreende

impressões, memórias, fatos, amores, desafetos e pessoas, expressões

psíquicas cuja força correspondente não é suficiente para atingir a consciência.

A relação do inconsciente pessoal com o ego se estabelece quer se queira ou

não; e se manifestará por meio de fenômenos psíquicos e de fenômenos

orgânicos. A estrutura psíquica não é observável em qualquer ponto do

organismo humano. Inferem-se sua existência e sua ação no comportamento,

nas relações humanas, nas atividades humanas de todo tipo, na história de

cada homem, na história da humanidade.

Segundo Jung, o inconsciente apresenta duas camadas que são o

inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, estão intimamente ligados. O

inconsciente pessoal vai até onde se estendem as recordações infantis mais

remotas do indivíduo, enquanto o coletivo representa a sedimentação da

experiência multimilenar, portanto, uma figuração do mundo. Na teoria

Junguiana, o inconsciente possui, além de conteúdos reprimidos, outros

conteúdos que ultrapassam a esfera puramente pessoal, ou seja, conteúdos

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que não se manifestam, estão ocultos, que ainda não alcançaram o limiar da

consciência. No processo analítico, os conteúdos do inconsciente pessoal são

trazidos à consciência pelo indivíduo que progride no caminho da realização de

si mesmo, ampliando o âmbito da sua personalidade. Para Jung, além desses

elementos pessoais podem aparecer imagens primitivas, divinas autênticas,

totalmente coletivas. (Jung – Um caminhar pela psicologia, 2008)

“Existem certas constantes que não são adquiridas

individualmente, mas existem a priori” (op. Cit. §206)

Jung enfatiza que os dramas arquetípicos da humanidade são

inesgotáveis e que, certamente, há muitos mitos a serem estudados (Jung -

Um caminhar pela psicologia analítica, 2008).

“Mito é um sistema dinâmico de símbolos, arquétipos e

Sem, que tende a se compor em relato, ou seja, que se

apresenta sob forma de história. Por esse motivo já

apresenta um início de racionalização. (...)

O mito é um relato fundante da cultura: ele vai

estabelecer as relações entre as diversas partes do

universo, entre homens e universo, entre os homens

entre si. (...) É ainda função do mito, fornecer modelos de

comportamento, ou seja, permitir a construção individual

e coletiva da identidade. (PITTA, 2005, pg18)

Para Jung, Arquétipo é uma espécie de aptidão para reproduzir

constantemente as mesmas ideias míticas; logo, é possível supor que os

arquétipos sejam as impressões gravadas pela repetição de reações

subjetivas. Ainda ressalta que os arquétipos são determinados apenas quanto

à forma e não quanto ao conteúdo, é um elemento vazio e formal em si, isto é

uma possibilidade dada a priori da sua apresentação. (2002, pg352)

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O Arquétipo dá noção de atemporalidade, tem vida própria e

independente. Jung afirma, “Imagens são acessadas pelo inconsciente

individual por meio do consciente coletivo, são força geratriz e motora de

padrões de atitude e comportamento do indivíduo.” (1964, pg240) Para Dra.

Nise da Silveira (1981, pg87), não importa qual seja a origem do arquétipo, que

vai funcionar como “nódulo de concentração de energia psíquica em estado

potencial, que, quando toma forma e se atualiza, produz a imagem

arquetípica”.

Na psicologia Junguiana, o símbolo pode ser empregado como ideia

consciente que representa e encerra a significação de outra inconsciente. Para

Jung, “o símbolo não seria racional, nem irracional, mas as duas coisas ao

mesmo tempo”.

“A profusão de símbolos animais na religião e na arte de

todos os tempos não acentua apenas a importância do

símbolo: mostra também o quanto é vital para o homem

integrar em sua vida o conteúdo psíquico do símbolo, isto

é, o instinto. (...) Esses instintos por vezes nos parecem

misteriosos, mas guardam correlação com a vida

humana: o fundamento da natureza humana é o instinto.

(JUNG, 1964, pg.239)

Na psicologia analítica, “a parte do símbolo que não é acessível à

razão está fazendo vibrar cordas ocultas do inconsciente” (op.cit.) São

expressões de coisas significativas para as quais não há, no momento,

formulação. (JUNG – Um caminhar pela psicologia analítica, pg.48)

Lisete Vaz, afirma: Jung entende que a palavra, o verbo, o

pensamento, a razão são necessários, porém insuficientes para traduzirem os

conteúdos inconscientes mais arcaicos ou mais desestabilizadores.

Insuficientes já que esses conteúdos ou têm concomitantes somáticos ou se

inserem na extremidade psíquica do espectro.

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E continua dizendo: A teoria proposta por Jung fornece base para o

entendimento e o tratamento da pessoa em sofrimento mental de toda ordem e

de toda intensidade. A ação não haverá de ser dissociada do sujeito, nem de

sua vida pessoal, nem de seu tempo nem de seu lugar. Estará sintonizada com

o momento vivido, isto é, caminhará na mesma direção, porque a ação proverá

a expressão, e a expressão por sua vez favorecerá a compreensão para

transformações sucessivas, acompanhadas e reveladas nas ações mesmas.

Jung acreditava que todos nós, seres humanos, trazemos conosco

uma potência a ser desabrochada, no entanto, procuramos sempre não admitir

nossa natureza, aquilo que podemos vir a ser. Temos potencial, mas

afastamo-nos de nosso processo de individuação, a potência que trazemos é

energia que vem do instinto, natural do ser humano, quando amortizada é

projetada como sombra. Quando confrontamos a sombra, segundo Jung,

estamos realizando um ato heroico, movendo o potencial de ação, a caminho

do processo de individuação; “é a vontade de poder que se traduz como

potencial interior, um vir a ser” (Um caminhar pela psicologia Analítica – 2008;

pg.79) que segundo Araújo Filha e Furlanetto Pacheco:

“... é o motivo de inquietação e preocupação entre os

homens, pois está no inconsciente pessoal e coletivo. É

da ordem do inconsciente e consciente, que fazem com

que o indivíduo experimente tanto o positivo e negativo

que existe dentro de si, um princípio criador que

representa o desejo de expandir-se, crescer, desenvolver-

se, ou ainda, concentrar a vida, afirmar a vida, em que ela

própria é vontade de potência.” (Um caminhar pela

Psicologia Analítica – 2008; pg.79)

Jung, por sua vez, acreditava que com base em nossas experiências

de vida e em nossa vontade de nos auto conhecermos é possível fazer a

expansão de nossa consciência. Assim, ativa-se força energética vital e esta

Page 24: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

24

nos auxilia a desenvolver nossas potencialidades, que se manifestam durante

toda nossa existência.

Jung descreve dois tipos de atitude considerando que existe uma

função para a compensação entre os opostos, assim como só existe a

capacidade de produzir energia pela existência de tensão entre os contrários.

Assim temos os comportamentos introvertidos e os extrovertidos, não

significando que um seja melhor que o outro, apenas diferentes, cada qual com

sua importância uma vez que precisamos dos dois tipos de pessoas. Jung

considera como sendo ideal para o indivíduo a flexibilidade, ou seja, de acordo

com o momento vivido e circunstâncias presentes sermos isto e aquilo. Os

introvertidos se orientam para o mundo interno e os extrovertidos para o

mundo externo.

Para falar sobre nossas funções psíquicas Jung utiliza uma abordagem

que considera além dos dois tipos de atitudes, mais quatro funções de

adaptação que contribuem para o reconhecimento do mundo exterior e

orientação do indivíduo. São elas: pensamento, sentimento, sensação e

intuição. Uma se coloca como função principal, uma função em oposição a

esta se coloca como função inferior e as outras duas como funções auxiliares.

Todos nós, seres humanos, possuímos as quatro funções, porém por motivos

inatos, prevalece conscientemente uma delas sobre as demais funções. O

ideal é que todas elas estejam potencialmente equilibradas para atender o

princípio de auto regulação. Afirma Jung:

“Não há equilíbrio nem sistema de auto regulação sem

oposição. E a psique é um sistema de auto regulação”

(O.C., vol.VII; 1§92)

Duas funções são funções irracionais, possuem caráter perceptivo, são

sensação e intuição. As outras duas são racionais, de caráter organizador, são

pensamento e sentimento. O pensamento é o juízo da realidade, sentimento é

o juízo de valor, sensação passa pelos órgãos dos sentidos, percebe e conecta

o indivíduo com o meio e intuição o conecta com seu interior. As quatro

Page 25: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

25

funções conectadas aos dois tipos de atitude, para Jung, resultam em oito

tipos psicológicos. São eles:

Ø Pensamento introvertido,

Ø Sentimento introvertido,

Ø Sensação introvertida,

Ø Intuição introvertida,

Ø Pensamento extrovertido,

Ø Sentimento extrovertido,

Ø Sensação extrovertida,

Ø Intuição extrovertida.

(Um caminhar pela Psicologia Analítica,

2008)

As funções se desenvolvem ao longo da vida e a partir do equilíbrio é

que se dá a possibilidade de transformação do indivíduo. Na Psicologia

analítica, Jung representa por meio da escrita que a nossa personalidade se

desenvolve durante a vida. Para ele, a personalidade de todo indivíduo é

passível de receber modificações à desintegração, pois se constitui de grandes

fragmentos, que dependendo da intensidade de oposições, provocam a

inflação patológica. Esta inflação é uma visão exagerada do ego que sugere

naturalmente alguma fraqueza da personalidade diante da autonomia dos

conteúdos do inconsciente coletivo (O.C., vol.VII - 2§233).

“Somente pela ação é que se torna manifesto quem a

pessoa é de verdade.” (O.C., vol. XVII§290)

“Personalidade é a realização máxima da índole inata e

específica de um ser vivo em particular. Personalidade é

a obra a que chega pela máxima coragem de viver, pela

Page 26: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

26

afirmação absoluta do ser individual, e pela adaptação, a

mais perfeita possível, a tudo que existe de universal, e

tudo isto aliado à máxima liberdade de decisão própria.

Educar alguém, para que seja assim não me parece coisa

simples.” (O.C., vol.XVII§289)

O processo de crescimento em direção a inteireza da personalidade é

denominado por Jung, de Processo de individuação. Composto por quatro

fases nomeadas de Objetivação (materialização dos conteúdos internos

inconscientes); Confrontação (posicionamento frente ao conteúdo trazido

alcançando o negligenciado); Integração (percepção do sentido de finalidade

do conteúdo projetado em sua vida) e Transformação de si mesmo. Permite a

condução da personalidade do indivíduo em direção à sua totalidade. Para

Jung, a individuação é:

“um processo ou percurso de desenvolvimento produzido

pelo conflito de duas realidades anímicas fundamentais...

O modo pelo qual se obtém a harmonização de dados

inconscientes e conscientes não pode ser indicado sob a

forma de uma receita. Trata-se de um processo de vida

irracional, que se expressa em determinados símbolos...,

pois é nestes que se dá a união de conteúdos

conscientes e inconscientes. Da união emergem novas

situações ou estados da consciência.” (O.C., vol. IX -

1§523§524)

O processo de individuação pode ser observado nos ciclos da vida que

transformam a cultura e a natureza do ser. O indivíduo em ação significa ter

consciência de si, estando no coletivo social agindo de maneira própria.

Page 27: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

27

A Arteterapia propicia o desenvolvimento do processo de individuação,

através dela podemos ter acesso ao inconsciente por meio da livre expressão,

a fim de possibilitar as transformações da energia psíquica.

“Pode-se expressar um distúrbio emocional, não

intelectualmente, mas conferindo-lhe uma forma visível.

Os pacientes que tenham talento para a pintura ou o

desenho podem expressar seus afetos por meio de

imagens. Importa menos uma descrição tecnicamente ou

esteticamente satisfatória, do que deixar o campo livre à

fantasia, e que tudo se faça do melhor modo possível.”

(JUNG, vol. VIII – II §168)

Page 28: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

28

CAPÍTULO III

SAÚDE MENTAL SEGUNDO NISE DA SILVEIRA

"A loucura enuncia para a sociedade, verdades que são insuportáveis." (Antonin Artaud)

Com base na Organização Mundial de Saúde – OMS entende-se

como Transtornos mentais e comportamentais as condições caracterizadas por

alterações mórbidas do modo de pensar e ou emoções, e ou por alterações

mórbidas do comportamento associadas à angústia expressiva e ou

deterioração do funcionamento psíquico global. Caracterizam-se também por

sintomas e sinais específicos e, geralmente, seguem um curso natural mais ou

menos previsível, a menos que ocorram intervenções. Nem sempre

deterioração humana denota distúrbio mental.

Para falar sobre saúde mental faz-se necessário uma breve

abordagem sobre a história da loucura e psiquiatria. A partir destes será

abordado o ponto de vista de Nise da Silveira e seu trabalho no Museu de

Imagens do Inconsciente e a Reforma Psiquiátrica.

“Entre todas as outras formas de ilusão, a loucura traça

um dos caminhos da dúvida dos mais frequentados pelo

século XVI. Nunca se tem certeza de não estar sonhando,

nunca existe uma certeza de não ser louco.” (Foucault –

A história da loucura; pg.54)

Page 29: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

29

A humanidade convive com a loucura há séculos, sendo vista de

diversas formas. Foucault, em a História da Loucura, diz que “o internamento

dos alienados é a estrutura mais visível na experiência clássica da loucura”.

Defende que “A loucura é negatividade, mas negatividade que se dá numa

plenitude de fenômenos, segundo uma riqueza sabiamente disposta nos

jardins das espécies” (pg.278). Foucault divide a loucura em tipos: demência,

mania, melancolia, histeria e hipocondria. O sujeito apresenta vários sintomas

que segundo Bock, Furtado e Teixeira, podem ser divididos em grupos de

diferentes formas e identificados em quadros clínicos que recebem um nome.

Para Ana Paula Lettieri Fulco cada especialidade no campo da saúde mental

(neurologia, psicologia, psiquiatria) confere nomenclaturas diferentes para os

mesmos sintomas e alguns fazem diagnóstico se baseando ou não em

sintomas.

Desde a idade média os loucos são confinados em lugares

destinados a todo tipo de indesejáveis, como os hospitais e grandes asilos.

Nasce a psiquiatria, segundo Ana Paula Littieri Fulco (2012) ,

seguindo o modelo das ciências naturais cujo método classificatório descrevia

e nomeava o que era visível a fim de estabelecer semelhanças e diferenças,

juntamente com o exercício da Medicina que, para se tornar científica, utilizou

como prova de suas descobertas a anatomia patológica, a investigação

psiquiátrica se restringe aos processos do organismo.

A psiquiatria, que medicalizou a loucura, transformou o louco em

doente mental. No século XVIII, Phillipe Pinel, o pai da psiquiatria, propõe uma

nova forma de tratamento, transferindo-os aos manicômios, espaço de

segregação dos doentes mentais. Os antigos espaços de enclausura mento

modificam-se em espaços de tratamento onde as formas de punição passam a

ser: das suspensões das saídas ao pátio, trabalho ao ar livre, contenção ao

leito, isolamento em cela-forte. Pinel defendia o tratamento Moral, para ele, a

função disciplinadora do médico e do manicômio deveria ser exercida com

firmeza, porém com gentileza. Citando Beatriz Nascimento:

Page 30: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

30

“O Trabalho no asilo não era fator de expiação nem

somente educativo; era somente terapêutico (...). A

ideologia do tratamento moral fornecia a racionalização

daquelas práticas, justificando cientificamente tanto o

enclausura mento como a obrigação do trabalho. O

trabalho, na medida em que representava a

aprendizagem da ordem, da regularidade e da disciplina,

passou a constituir cada vez mais o eixo do tratamento

moral.” (1991; pg.66)

O Tratamento Moral foi o fundamento de alguns macro hospícios

criados em todo o país. Duas colônias fundadas em 1911 no Rio de Janeiro: a

masculina, posteriormente denominada Juliano Moreira em Jacarepaguá e o

Centro Psiquiátrico Nacional no Engenho de Dentro.

Com o passar do tempo, o Tratamento Moral se modificou e

perdeu-se das ideias originais do método. As ideias corretivas do

comportamento e dos hábitos dos doentes são usadas como recursos de

imposição da ordem e disciplina da instituição. Com o avanço das teorias

organicistas, o que era “doença moral” passa a ser também orgânica. Assim,

as intervenções se direcionaram para a convulsoterapia e o eletrochoque.

Na visão de Foucault, a medicina positivista do século XIX

admitiria como algo já estabelecido e provado o fato de que a alienação do

sujeito de direito pode e deve coincidir com a loucura do homem social, num

conjunto que forma um todo de uma realidade de modificações produzidas

pela doença, que ao mesmo tempo é analisável em termos jurídico e

perceptível às formas mais imediatas da sensibilidade social. Para Foucault, a

doença mental que a medicina atribuiu-se como objeto, se constituíra

lentamente com a unidade mítica do sujeito incapaz conforme aos princípios

do direito e do homem reconhecido como perturbador do grupo sob o resultado

Page 31: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

31

de um ato qualquer do pensamento político e moral do século XVII. Foucault

faz uma crítica à psiquiatria do século XIX dizendo:

“Entre os muros do internamento que Pinel e a psiquiatria

do século XIX encontrarão os loucos, é lá que eles os

deixarão, não sem antes se vangloriarem por terem-nos

“libertado””. (História da Loucura; pg.54)

A psicologia surge no século XIX enquanto ciência. Segundo Ana

Paula Littieri Fulco (2012), utiliza-se da fisiologia para provar sua cientificidade, recorre ao corpo assim como a psiquiatria, mas não trabalha com

medicamentos e sim com psicoterapias baseadas em teorias construídas. A

abordagem psicológica encara os sintomas como desorganização da

personalidade. As doenças mentais se caracterizam pelo grau de desvio do

que é considerado como comportamento padrão ou personalidade normal.

Tanto a psiquiatria clássica como a abordagem psicológica envolve o

conhecimento de que há um padrão de normalidade. O conceito de normal ou

patológico é relativo.

“(...) Do ponto de vista cultural, o que numa sociedade é

considerado normal, adequado, aceito ou mesmo

valorizado, em outra sociedade ou em outro momento

histórico pode ser considerado anormal, desviante ou

patológico.” (Bock, Furtado, Teixeira, 2002; pg. 353)

A submissão do louco permanece e adentra o século XX.

Nise da Silveira, nascida em Maceió, estado de Alagoas, em

1905. Formada em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1926,

prestou Concurso para Médica Psiquiatra da antiga Assistência a Psicopatas e

Profilaxia Mental em 1933; é designada em 17 de Abril de 1944 para ter

exercício no Centro Psiquiátrico Nacional (atual Instituto Municipal Nise da

Silveira). Grande estudiosa, tratando de pessoas internadas no Hospício Pedro

Page 32: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

32

II (atual Instituto Municipal Nise da Silveira), no Rio de Janeiro, entendeu que

as intensas manifestações físicas de auto e hetero agressividade, as crises de

agitação psicomotora, as falas incompreensíveis, os urros e tantas outras

maneiras de expressão das pessoas internadas nos hospícios daquele tempo

não pareciam ter traduções suficientes. Nise não aceitaria mesmo os outros

métodos de tratamento, que exercem coerção, existentes à sua época: o coma

insulínico, o choque de cardiazol, o eletrochoque e a lobotomia. Nise, nos

pequenos ateliês do hospício, deu início às audaciosas pesquisas.

Segundo Lisete Vaz, Nise trouxe os estudos de Jung para o

Brasil ainda na primeira metade do século XX. Além do Museu de Imagens do

Inconsciente e da Casa das Palmeiras, desde 1962 passa a funcionar em sua

casa do Flamengo o Grupo de Estudos C.G. Jung, aberto a toda sorte de

gente, com proposta de um tema de pesquisa semestral coordenado pela

própria doutora Nise. O Museu de Imagens do Inconsciente foi inaugurado em

1952, a fim de oferecer ao pesquisador condições para o estudo de imagens e

símbolos e para o acompanhamento da evolução de casos clínicos através da

produção plástica espontânea, quando a expressão livre dos esquizofrênicos

internados no Hospital do Engenho de Dentro já havia se mostrado por demais

evidentes no setor de Terapêutica Ocupacional. Os ateliês mais frequentados

pela clientela enorme de esquizofrênicos eram aqueles que ela denominava

livre expressão: pintura, desenho e modelagem.

“Ali a atenção, a memória, as técnicas e até mesmo o

pensamento poderiam estar temporariamente suspensos.

No livre fazer, o curso das emoções, dos afetos, das

lembranças e a lógica do pensamento não estariam

sendo exigidos e, ao contrário, poderiam estar sendo

exercidos na exata medida do côncavo das mãos de cada

frequentador.” (Lisete Vaz, 2007; pg143)

Page 33: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

33

As imagens do inconsciente, desenhadas, pintadas, dançadas,

bordadas, coladas em ateliês e em oficinas, ambientes permeados por muito

afeto, para escândalo do meio psiquiátrico da época, favoreciam não só a

pesquisa como o próprio tratamento.

“Numa experiência de 30 anos jamais encontrei em

qualquer esquizofrênico o famoso ‘embotamento afetivo’.”

(Nise da Silveira; pg79)

Nise da Silveira, ainda na década de 1950, ousou afirmar que o

embotamento afetivo era uma falácia, uma observação e uma descrição de

estudiosos que haviam se privado do contato com pessoas consideradas

esquizofrênicas. Em resumo, segundo Lisete Vaz (2007), a inclinação de Nise

da Silveira sobre a teoria junguiana foi delineando uma trajetória distinta da

clínica e da pesquisa do psiquiatra suíço: Nise radicalizou a perspectiva

junguiana da concomitância entre os eventos físicos e psíquicos,

diferentemente observados. Escolheu entre denominações como arteterapia,

praxiterapia, ergoterapia ou laborterapia. A inclinação de Nise sobre as

imagens do inconsciente, vigorosamente estudadas por Jung também não

implicava interpretações verbais.

Na clínica das psicoses, ao se lançar mão da teoria proposta por

Jung, entende-se a imagem como um esforço ordenador, instintivo, da psique.

A produção livre dançada, bordada ou pintada denota esforços de orientação

ou ordenação psíquica.

“A abordagem junguiana assim privilegiada repele,

portanto, o dualismo corpo-mente, razão-desrazão,

organismo-psiquismo, objetividade-subjetividade e tantos

outros dualismos marcantes e evidentes nas mais

diversas abordagens ou tratamentos de pessoas em

Page 34: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

34

estados psicóticos. A relevância da expressão sensível da

existência não determinará tal ou qual momento ideal

para o inicio do tratamento.” (Lisete Vaz, 2007; pg144)

A experiência clínica de Lisete Vaz dobrada sobre Jung e

dobrada sobre Nise da Silveira tem afirmado que essa terapêutica, muito

ocupacional, corporal, afetiva e psíquica, tem muito a fazer, a trocar: tem uma

proposta, uma maneira de estar junto.

“Qualquer ponto da existência é o ponto ótimo para

apreender a expressão sensível ainda que de corpos

crispados, de consciências turvas, de comportamentos

descritos como estereotipados.” (Lisete Vaz, 2007;

pg144)

Nise da Silveira acompanhou e também lutou pela reforma

psiquiátrica, que no Brasil inicia-se no fim da década de 70 com a mobilização

dos profissionais da saúde mental e familiares de pacientes com transtornos

mentais, inscrito no contexto de redemocratização do país e na mobilização

político-social que ocorre na época. A Politica de Saúde Mental origina-se da

Lei Federal 10.216, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas

portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em

saúde mental. Visa garantir o cuidado ao paciente com transtorno mental em

serviços substitutivos aos hospitais psiquiátricos, superando assim a lógica das

internações de longa permanência que tratam o paciente isolando-o do

convívio com a família e a sociedade como um todo, visa ações que permitam

a reabilitação psicossocial por meio de inserção pelo trabalho, da cultura e do

lazer.

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35

Por palavras de Edson Passeti (2002), em texto sobre Nise da

Silveira:

“Nise da Silveira entendeu os estados do ser vividos e

difundidos por Antonin Artaud. Disse não à loucura como

doença mental, afirmando a anti-psiquiatria. Não concebia

a arte separada da vida, diante das luzes da psiquiatria,

da maioridade atingida com o cartesianismo, nos sugere

a emoção de lidar, a liberdade de pensar livremente pela

razão do outro. Não há mais doente mental, não há mais

o outro, aquele ser que em nossa cultura, para não ser

dizimado, precisa aceitar ser subordinado, tornando-se o

mesmo de mim. Existência não como possibilidade de

integração ou aceitabilidade, mas como desestabilidade à

razão e às instituições do são, do normal e do boçal.

Não se está em busca de identidades, mas de diferenças

na igualdade.”

A anti- psiquiatria e a psiquiatria social se configuram como uma

negação radical da psiquiatria clássica.

“Ambas denunciaram a manipulação do saber científico, a

retirada da humanidade e da dignidade do louco, as

condições perversas de tratamento e reclusão dele e,

principalmente, a concepção da loucura como fabricada

pelo próprio sujeito em seu interior (...); buscaram nas

condições de trabalho, nas formas de lazer, no sistema

educacional competitivo ou mesmo na estrutura familiar

ou na insegurança da violência urbana, os fatores

desencadeadores ou determinantes do sofrimento imenso

do indivíduo e de sua doença” (Bock, Furtado, Teixeira,

2002; pg.355)

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36

Disse Nise da Silveira:

“A vida não é isso ou aquilo. A vida é isso e aquilo.

Contínua luta entre autoridade e liberdade.” (Uma vida

como obra de arte; pg.4)

João A. Frayze Pereira em seu artigo (Estud.av.vol.17n. 49 São

Paulo Sept – Dec.2003) sobre Nise da Silveira e o Museu de Imagens do

Inconsciente coloca que por considerar a história de vida de Nise à luz do

complexo simbólico nos traz uma análise segundo os principais eixos

(psicológico, artístico e político) que articulam o Museu de Imagens do

Inconsciente nos auxiliando no estudo do trabalho desenvolvido por Nise com

pessoas com transtornos mentais. Segundo João A. Frayze Pereira(2003) as

obras produzidas no Museu de Imagens do Inconsciente valem por sua

significação expressiva e terapêutica à medida que oferecem ao estudioso um

meio de acesso ao mundo interno dos esquizofrênicos, assim como, ao

paciente, um instrumento de transformação da realidade interna e externa.

Nise idealizou um lugar que pudesse ser além de um espaço para criação de

arte uma casa que também abrigasse os pacientes, mas completamente

diferente de outras colônias de ‘loucos’. O Museu de Imagens do inconsciente

foi projetado para ser um “museu vivo” (Silveira, 1980a, p. 29). Um lugar no

quais criadores e criaturas pudesse realizar, sem que o soubessem como, o

mistério da criação. João A. Frayze Pereira nos fala da importância e

necessidade de lembrar que do ponto de vista psicanalítico, o trabalho de

criação é análogo ao trabalho de parto, a relação criador-obra, à relação mãe-

criança e a Psicologia da criação artística a uma psicologia feminina, "pois a

obra criadora jorra das profundezas inconscientes, que são, na linguagem de

Jung, o domínio das mães" (Jung, 1985, p. 91).

Faz-se necessário lembrar que das referências teóricas

abordadas como base para fundação do Museu de Imagens do Inconsciente

vem da Psicologia analítica de Jung, com raízes em obras de outros autores,

filósofos e artistas, em especial Artaud (poética).

Page 37: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

37

CONCLUSÃO

Diante de todo o conteúdo apresentado neste estudo, tendo

como base renomados pesquisadores de áreas de extrema importância para a

compreensão de nosso ser, de como somos constituídos e de como nos

apresentamos diante do outro no mundo, conclui-se que a binômia ARTE X

TERAPIA quando unidos em prol de um objetivo único – o de ser uma técnica,

instrumento para trabalhar a regulação de nossa energia psíquica na tentativa

de reorganizar a nossa estrutura psíquica – trabalhando todos os seus

elementos dentro de uma proposta que visa não se prender a uma

preocupação estética capaz de rotular e fazer imposições, pode ser

considerada excelente ferramenta para alcançar os resultados à que se

propõe, pois toda sua particularidade, seu trabalho com imagens, elementos

cognitivos, perceptivos e psicossociais, pela aproximação com o respeito à

individualidade de nosso ser contribui a busca do processo de

autoconhecimento. E como mostrado é um instrumento para ser utilizado no

trabalho com pessoas acometidas por transtornos mentais (sejam transtornos

neuróticos ou psicóticos), já constatados no trabalho de Nise da Silveira,

inclusive no Museu de Imagens do Inconsciente. A área da Saúde Mental é

uma área vasta, principalmente após Reforma Psiquiátrica que vem

proporcionar a reinserção social daqueles que viviam enclausurados e que

hoje tem direito a tratamentos terapêuticos mais humanizados e as oficinas

terapêuticas mais frequentes. Assim sendo, a Arteterapia é uma técnica que

pode ser utilizada para promoção de Saúde para os usuários desta área. O

estudo vem a ser um estímulo para àqueles que de alguma forma se

identificam com a área da Saúde Mental e áreas afins.

Page 38: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Page 39: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

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Page 40: A Arteterapia como instrumento para promoção da saúde em pessoas com transtornos mentais

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A ARTETERAPIA, A CRIATIVIDADE E A LINGUAGEM DOS MATERIAIS 10

CAPITULO II

ARQUÉTIPOS E SÍMBOLOS E PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO 18

CAPÍTULO III

SAÚDE MENTAL SEGUNDO NISE DA SILVEIRA 28

CONCLUSÃO 37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 38

ÍNDICE 40