A ARTE DE PENSAR: APLICAÇÕES CLÍNICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO. William B. Gomes, Instituto de...

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A ARTE DE PENSAR: APLICAÇÕES CLÍNICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO. William B. Gomes, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Resumos da XXXIX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, Goiânia- GO, 29-31 de outubro, 2009 Estudos sobre resultados de tratamentos psicológicos indicam que um dos ganhos reconhecidos pelos pacientes é a descoberta de novos meios para lidar com os sentimentos e para organizar os pensamentos. Tratamentos bem sucedidos propiciam aos pacientes uma melhor compreensão das variadas facetas dos sentimentos e de modos mais efetivos de clarificar os pensamentos. Há também um reconhecimento de que a atitude fenomenológica é de grande auxílio à intervenção psicológica, seja qual for a teoria subjacente, se o interesse for compreender a singularidade e a novidade do paciente que se apresenta ao terapeuta. Deste modo, o objetivo desta exposição é apresentar a fenomenologia como uma técnica para pensar e refletir, e como fundamento para a prevenção, intervenção e avaliação de tratamentos psicológicos nos mais diferentes contextos. A idéia não é apresentar a fenomenologia como uma abordagem concorrente aos muitos insights oriundos de teorias e práticas psicológicas bem estabelecidas e desenvolvidas ao longo de anos, mas como um recurso que de uma forma ou de outra aparece em atendimentos psicológicos como decorrência da própria maturidade e experiência do terapeuta. Na prevenção, a atitude fenomenológica tem sido utilizada como recurso cognitivo para separar e suspender idéias e focalizar mais claramente em outras, inclusive com ganhos psicofisiológicos expressivos. Neste caso, a arte de pensar está na capacidade de orientar o pensamento para o ponto do qual emana o fluxo associativo. Na intervenção, a atitude fenomenológica apresenta- se como o mais acurado recurso para a entrevista compreensiva, cujo interesse é captar a perspectiva de quem fala e não buscar evidências tácitas ou explícitas para as crenças de quem está no lugar de ouvinte. Neste caso, a arte de pensar está na capacidade de suspender os próprios pensamentos, para dar espaço ao pensamento de quem fala. Na avaliação, a atitude fenomenológica firmou-se como recurso indispensável ao entendimento qualitativo, nos mais variados modos de pesquisa, inclusive na avaliação de intervenções psicológicas. Neste caso, a arte de pensar está na capacidade de suspender qualquer preconceito que distorça a compreensão do que está sendo analisado na perspectiva da situação em foco. A exposição ilustrará

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 A ARTE DE PENSAR: APLICAÇÕES CLÍNICAS DO MÉTODO FENOMENOLÓGICO. William B. Gomes, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Resumos da XXXIX Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia, Goiânia- GO, 29-31 de outubro, 2009 Estudos sobre resultados de tratamentos psicológicos indicam que um dos ganhos reconhecidos pelos pacientes é a descoberta de novos meios para lidar com os sentimentos e para organizar os pensamentos. Tratamentos bem sucedidos propiciam aos pacientes uma melhor compreensão das variadas facetas dos sentimentos e de modos mais efetivos de clarificar os pensamentos. Há também um reconhecimento de que a atitude fenomenológica é de grande auxílio à intervenção psicológica, seja qual for a teoria subjacente, se o interesse for compreender a singularidade e a novidade do paciente que se apresenta ao terapeuta. Deste modo, o objetivo desta exposição é apresentar a fenomenologia como uma técnica para pensar e refletir, e como fundamento para a prevenção, intervenção e avaliação de tratamentos psicológicos nos mais diferentes contextos. A idéia não é apresentar a fenomenologia como uma abordagem concorrente aos muitos insights oriundos de teorias e práticas psicológicas bem estabelecidas e desenvolvidas ao longo de anos, mas como um recurso que de uma forma ou de outra aparece em atendimentos psicológicos como decorrência da própria maturidade e experiência do terapeuta. Na prevenção, a atitude fenomenológica tem sido utilizada como recurso cognitivo para separar e suspender idéias e focalizar mais claramente em outras, inclusive com ganhos psicofisiológicos expressivos. Neste caso, a arte de pensar está na capacidade de orientar o pensamento para o ponto do qual emana o fluxo associativo. Na intervenção, a atitude fenomenológica apresenta-se como o mais acurado recurso para a entrevista compreensiva, cujo interesse é captar a perspectiva de quem fala e não buscar evidências tácitas ou explícitas para as crenças de quem está no lugar de ouvinte. Neste caso, a arte de pensar está na capacidade de suspender os próprios pensamentos, para dar espaço ao pensamento de quem fala. Na avaliação, a atitude fenomenológica firmou-se como recurso indispensável ao entendimento qualitativo, nos mais variados modos de pesquisa, inclusive na avaliação de intervenções psicológicas. Neste caso, a arte de pensar está na capacidade de suspender qualquer preconceito que distorça a compreensão do que está sendo analisado na perspectiva da situação em foco. A exposição ilustrará cada uma dessas contribuições com pesquisas recentes e fará demonstrações de recursos fenomenológicos cognitivos de articulação de pensamento. CNPq/CAPES Palavras chaves: fenomenologia, tratamento psicológico, clarificação de pensamentos, clarificação de sentimentos.

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A Arte de Pensar:Aplicações do Método

FenomenológicoWilliam B. Gomes

XXXIX RASBPGoiânia, [email protected]

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A arte de pensar

Tratamentos psicológicosLidar com sentimentosClarificar e organizar pensamentos

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A arte de sentir (Leibniz)

Semiose

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Semiose corporificada

Da consciência à noção ampliada de linguagem (Merleau-Ponty, 1945)

Gesto = comportamento intencionalLíngua = valor da orientaçãoFala = atualização expressivaLinguagem = código simbólico

Do poder semiótico (Wiley, 1994)

Emoção, afeto, motivação“Sentimento”

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Objetivo

Apresentar a teoria fenomenológica como

base experiencial para o desenvolvimento de

habilidades de

sentir e pensar

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• Base experiencial• Atividade• Comportamento• Ensino-aprendizagem• Habilidades• Competências• Efetividade

7

SentirPensarSentirPensar

Linguagem(Código Simbólico)

Linguagem(Código Simbólico)

Língua(Valor)

Língua(Valor)

Gesto(Intenção)

Gesto(Intenção)

Fala(Atualização)Fala(Atualização)

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Fenomenologia = Fundamento

• Prevenção

• Intervenção

• Avaliação

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Saúde Mental

GOMES, W. B. & SOUZA (2000) Ética e fenomenologia na formação em psicologia. Temas em Psicologia 08(02), 183-193.

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FENOMENOLOGIA

1) Perspectivas concorrentes

2) Abertura ao conhecimento

3) Abertura à experiência

Giorgi, A. (1974). The meta-psychology of Merleau-Ponty as a possible basis for unity in psychology. Journal of Phenomenological Psychology, 5, 53-74.

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APA, 2005

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Psychological Bulletin, 46, 366–302, 1948 16

2009 Volume 19

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Learning1. All schools of psychotherapy can with some justice claim cures

(S. Rosenzweig, 1936).2. Clinical patients, in spite of their enormous differences, tend

to present a similar problem in that one of their primary motivations is anxiety

3. All types of counseling employ the techniques of the therapeutic relationship,

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Theoretical orientation (N = 46)

00,5

11,5

22,5

33,5

4

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0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3

Psicd

Comp

Cogn

Hum

Sist

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Personalidade & Psicoterapeuta

HumanistaSistêmicoPsicodinâmica

Maior expressão das emoçõesAbertura aos sentimentosAbertura aos valores do outro

CognitivoComportamental

Maior controle das emoções

Psicodinâmico Maior impulsividade

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Intentionality Model• The model is experientially based because psychological

distress is assessed in terms of mental processes, or intentionalities, which create complex outcomes of emotion, repetitive patterns of maladaptive relating, and persistently negative mood.

• Intentionality refers to the many ways in which consciousness is aware.

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Relação Terapêutica

Psicorelacional

Psicoeducacional

Experiencial

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Relação

Psicorelacional

Psicoeducacional

Experiencial

=SentidoPlano do conteúdo

Plano da expressão

Hjelmslev, 1954

Dualidade

Reversibilidade

Transitividade

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Fenomenologia na avaliação

Recurso indispensável ao entendimento qualitativo

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Revista da Abordagem Gestáltica – XIII(2): 228-240, jul-dez, 2007

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Fenomenologia na intervenção

Recurso acurado para a entrevista compreensiva

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Fenomenologia na Prevenção

Recurso cognitivo para suspender e separar idéias

Recurso imaginativo para revisar relações entre afetos e idéias

Exemplos:

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1996 1978

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Dialogical Self Theory: Positioning and Counter-Positioning in a Globalizing SocietyHubert J.M. Hermans, Agnieszka Hermans-Konopka (Hardcover - Apr 30, 2010)

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Eugene Gendlin & William GomesUniversidade de Chicago 1983

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Referência direta/metáfora Reconhecimento /compreensão

Especifica o senso corporal

Nomeia

Abre-se para outras possibilidades

Sentido pra si

Outras especificações

Imagina-se novos aspectos

Especifica

Sentido para o outro

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Reflexividade e conversação interna

• Thiago Gomes de Castro (2009)– Lógica e técnica na redução fenomenológica:

da filosofia à empiria em psicologia.

• Daniel Rosemberg (2008) – Atenção para tarefas simples e complexas na

perspectiva de primeira e de terceira pessoa:

• Amanda da Costa da Silveira (2007) – Conversação interna: Entre a reflexividade e

a ruminação.

• Maickel Andrade dos Santos (2007) – Movimentos do self-dialógico em

psicoterapia.

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Relação experiencial

Fenomenologia semiótica

Relações

Intenções

Sentido

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