A Arte Da Convivencia - Roberto Shinyashiki

23

Transcript of A Arte Da Convivencia - Roberto Shinyashiki

INTRODUÇÃORelacionamentos: a base da prosperidade

“A fama de habilidade muitas vezes provém da falta de habilidade que soubemos aproveitar”Henri de Régnier

Uma empresa é um agrupamento de seres humanos com suas particularidades. Quem souber tocar a sensibilidade dessas pessoas vai conseguir transformá-las num time.

proveito para começar a escrever este texto no saguão do Aeroporto de Caxias do Sul, enquanto espero a resolução de um problema técnico no avião que vai me levar de volta para

casa. No balcão de embarque, alguns passageiros brigam fervorosamente quando os funcionários da companhia aérea dizem que a decolagem vai ser adiada.

AO incômodo se agrava com a saída dos passageiros que embarcaram em Porto Alegre para esperar o concerto no solo. Aumentam as vozes nas reclamações. Todos querem saber o motivo do atraso e qual será a solução. Alguns extrapolam, dizendo que já prevêem que terão de dormir na cidade.Diante dos protestos, os funcionários da empresa fazem de conta que estão muito ocupados e se retiram para suas salas. A confusão torna-se maior. De vez em quando, um funcionário vai até o balcão, pega alguma coisa, faz cara de ocupado, finge que ninguém

está falando com ele e sai apressado. A raiva da multidão cresce, as ameaças são imensas.Certamente, você deve imaginar o quanto viajo. É verdade. Durante o período em que estou escrevendo esses fascículos, já estive nos Estados Unidos, na Europa e percorri o Brasil de ponta a ponta.

E, com a mania de observar o que acontece ao meu redor, o que não faltam são histórias de avião, aeroporto, hotel e coletiva de imprensa. Costumo dizer que escritor não conversa, simplesmente recolhe histórias.

Logo depois da confusão em Caxias do Sul, nos avisam que o problema foi resolvido. Embarcamos para completar a viagem. O clima está pesado durante o vôo. As reclamações continuam num tom elevado, as comissárias servem a refeição o mais rápido possível, e o comandante se desculpa pelo inconveniente causado, mas os clientes estão machucados.Mais uma cena de pessoas que se encontram e não conseguem se comunicar. Mais um exemplo de empresa que não sabe cuidar de seus clientes. É atribuição de uma companhia aérea cuidar da segurança de seus passageiros, mas, quando isso é feito sem uma boa comunicação, a impressão é de que ela não se importa com os clientes.

Esse é o tema desse fascículo: como criar bons relacionamentos, a chave para parcerias eternas. A felicidade e o sucesso individual estão baseados em relacionamentos construtivos.Infelizmente, a maior parte das relações humanas causa mais sofrimento que satisfação.Desde que era adolescente e via as pessoas brigando e gritando umas com as outras, eu me perguntava qual a razão de, apesar de se gostarem muito, elas se ferirem tanto.Por que dois companheiros de empresa não conseguem trabalhar cooperativamente? Por que clientes e fornecedores não são capazes de formar uma parceria que estimule o

crescimento de ambos? Por que os gerentes de departamentos diferentes não trabalham pelo mesmo objetivo? Por que os pais não conseguem criar seus filhos para que se tornem adultos saudáveis?Certa vez, na Índia, perguntei a Ramesh, um de meus mestres:- Por que as pessoas se machucam tanto?Ramesh me respondeu:- Roberto, no Ocidente, vocês pensam que as pessoas se machucam porque elas são maldosas, mas, na verdade, querem somente amar e ser amadas. Elas se machucam porque são ignorantes e não sabem o que está acontecendo. Elas ficam inseguras e acabam machucando o outro para se proteger.Esse diálogo me influenciou muito na procura por entender as pessoas. Afinal, para convivermos bem com os outros, é preciso conhecê-los melhor. Às vezes, algo é dito na melhor das intenções, mas não é assim que o interlocutor escuta esse algo, e aí tudo vai por água a baixo.O outro ser humano é um mistério que a maioria dos indivíduos não consegue desvendar. Então, esse estranho a que chamamos outro se torna fonte de sofrimentos.Cada vez mais, sucesso e felicidade estão relacionados com seres humanos. Quem paga seu salário são as pessoas – seus clientes e companheiros de trabalho -, e não exatamente seu chefe. E quem dá lucro para a empresa são as pessoas, porque são seu maior patrimônio.Todos falam de encantar o cliente. Isso é fundamental. Mas como encantar alguém que não conhecemos? E como conhecer alguém com quem não nos relacionamos?É necessário desenvolver aquela sensibilidade capaz de tocar a alma das pessoas. É preciso aprender a agir como um poeta que nos emociona sem nunca ter nos visto.Há pouco tempo, num congresso, um diretor de recursos humanos me disse:

- Apesar de todos os critérios formais de nossa companhia, o que realmente pesa para aceitar um novo sócio é saber se vamos nos sentir bem almoçando com ele.

Quando uma empresa se limita a pensar nos números, esquece-se de que em qualquer negócio há um acontecimento subjetivo: um encontro de duas pessoas com percepções diferentes. Tem gente que sabe tornar esse encontro agradável, mas outros o tornam insuportável.Por mais que alguns pesquisadores analisem os fatores lógicos da administração, sempre existirá a influência imponderável dos sentimentos humanos. Pois uma empresa é um agrupamento de seres humanos com suas particularidades. Quem souber tocar a sensibilidade desses indivíduos vai conseguir transformá-los num time. É essa capacidade de tocar o coração das pessoas que vai transformar a administração numa arte e o administrador num líder de verdade.

PARTE 1

Motivação:o prazer de viver“Tentemos viver de tal forma que, quando tivermos de morrer, até a dona da casa funerária fique triste.”Mark Twain

Qualquer que seja o trabalho que uma pessoa realize, ela adquire mais força se existir um sentido maior do que apenas colecionar dinheiro. A importância da ação é maior que todas as limitações.

uitas empresas, hoje, procuram criar programas que motivem os funcionários, a maioria deles baseada em prêmios e bônus financeiros. Essa criatividade

possibilita inventar programas que premiem as melhores performances. Tal recompensa é muita louvável, porque nos dá a oportunidade de ser dono de nossa remuneração, ou seja, nos transforma em empreendedores. Quem quer ganhar mais produz mais.

MHá um aspecto, porém, que deve ser analisado: quase todos esses programas não sensibilizam ou envolvem as pessoas para quem foram criados. Ganham os prêmios aqueles que sempre tiveram os melhores resultados. O restante mantém seu pique de trabalho, como se dissessem:

- Eu faço meu trabalho da minha maneira e vamos ver o que acontece.Ainda que cenoura funcione bem pendurada à frente, os prêmios não são a melhor forma de motivação. Nos últimos anos, tenho analisado o resultado de programas de incentivo e percebo que eles servem apenas para criar um salário extra para os campeões e, desse modo, conservá-los na empresa. Caso contrário, seriam alvo fácil de sedução pela concorrência.Ainda assim escuto executivos reclamando que, devido aos baixos salários, não conseguem manter a motivação da equipe elevada. Concordo que a remuneração adequada é parte fundamental para a motivação das pessoas, mas nem de longe é a parte mais importante.

Tenho trabalhado com profissões cujos salários são os mais baixos de nosso país, como policiais militares, profissionais de saúde e professores. Porém, mesmo com os salários incrivelmente baixos, muitos desses profissionais são exemplos de dedicação e comprometimento. Vamos tentar entender:- Como um tenente da Polícia Militar motiva um soldado que recebe um salário baixo a enfrentar tiros de traficantes para defender a população?- Como uma enfermeira-chefe motiva uma auxiliar de enfermagem a ser atenciosa com os pacientes apesar de ganhar muito pouco?- Como um diretor de escola pública motiva os professores a tratar seus alunos dignamente apesar do pouco que recebem?Você, que é diretor de uma empresa que não tem condições de aumentar os salários de sua equipe, deve analisar essas questões atenciosamente. Entretanto, situação inversa também ocorre com freqüência.

Enquanto alguns profissionais, apesar de ganhar pouco, continuam se dedicando com afinco ao trabalho, há os que produzem muito aquém de sua remuneração. Nesse caso, oferecer mais para que cumpram sua obrigação é um engano fatal.Quando o pai, por exemplo, promete presentes para o filho estudar, algo está errado na importância que o rapaz dá ao estudo. Quando o chefe tem que prometer um prêmio extra

para conseguir a colaboração de sua equipe de vendas, algo precisa ser acertado.O melhor motivador, sem dúvida, é um líder capaz de tocar o coração de seus colaboradores e mostrar a importância do trabalho de cada um. O verdadeiro líder cria condições para a pessoa realizar seu máximo independentemente de prêmios. Vejamos, agora, como criar nas pessoas o desejo de fazer o melhor:

1- Nossa atuação melhora quando nos sentimos valorizados

A educação está quase toda baseada num sistema de correções. Ou seja, quando alguém não está exercendo direito suas funções, é criticado para que melhore. Chefes, professores e pais raramente se preocupam com a auto-estima dos outros. O que eles pensam que funciona é endireitar o que está torto, independentemente do sentimento da pessoa.Nessa hora, todos se transformam em auditores procurando defeitos para apontar os erros e se sentir úteis, sem analisar o resultado desse método. Na verdade, ele não funciona. A pessoa que é criticada o tempo todo se coloca numa posição defensiva e passa a não escutar ninguém.Muitos chefes se deixam contagiar pelo baixo-astral e não enxergam o lado positivo de seus colaboradores. Muitos pais criticam os filhos sem cessar e não conseguem ver suas virtudes. Criam, desse modo, um sentimento de que nada vale a pena, de que, não importa o que eles façam, seus pais ou chefes vão estar sempre insatisfeitos.No entanto, se desejo valorizar meu funcionário, é minha função ajudá-lo a confiar mais em si mesmo e fazê-lo notar que ele tem muito valor. Criticar e destruir é tarefa fácil, pois qualquer ignorante é capaz disso. Mas para perceber as qualidades de alguém, é preciso ser generoso.

Lembre-se: as pessoas atuam melhor ao se sentir valorizadas. Portanto, elogie pelo menos uma vez por semana seus colaboradores. Reforce seu lado positivo, por pior que esteja a situação.

2- Enxergar um sentido maior no trabalho que desenvolvemos nos faz ter mais energia para superar nossas limitações

Como motivar um médico da Cruz Vermelha a entrar num campo de batalha para salvar vidas? Por que um voluntário do Exército da Salvação tem aquela garra inabalável ao lutar para ajudar os mais carentes? O que faz um soldado do Corpo de Bombeiros enfrentar o incêndio de um prédio, em que vidas estão em risco?Certamente, esses profissionais têm uma motivação interior que lhes dá coragem para enfrentar todos os perigos com o objetivo de ajudar um outro ser humano que está em situação de sofrimento. Essa consciência da importância de sua ação faz eles se tornarem maiores do que todas as limitações.Não importa qual é o seu trabalho, com certeza, você vai ter mais energia para fazê-lo se existir um sentido maior, uma razão que não se restrinja a simplesmente colecionar dinheiro.Para ajudar sua equipe e sua família a enxergarem esse sentido maior no que fazem, estimule as pessoas a discutir temas que mostrem o papel que elas exercem socialmente.

3- A gente se compromete mais quando sente que nosso trabalho é importante para alcançar um objetivo comum

Os seres humanos têm fome de pertencer a um grupo. Pode ser a família, o país, a empresa ou a religião. O que a gente busca é sentir que nosso trabalho é importante para os outros, que nosso papel é fundamental para que aquele time alcance suas metas. Pense na dificuldade que é obter o comprometimento total de um funcionário temporário. Isso é praticamente impossível, a menos que alguém acene com uma contratação.Quando as empresas demitem em massa e, pior, tratam os demitidos com seres descartáveis, elas abalam profundamente os que ficam. Uma pergunta costuma perturbar suas mentes:- Serei o próximo? Aquela sensação de fazer parte de um time morre e nasce a desmotivação. Daí a importância de explicarmos aos funcionários todas as medidas adotadas. Pois quando as decisões são tomadas ou os planos modificados sem uma explicação convincente, a equipe começa a perder a credibilidade na empresa, passando a perceber que o discurso não condiz com a realidade.Saiba que são os pequenos gestos que demonstram às pessoas o quanto o trabalho delas é importante para que a empresa alcance os resultados desejados. É muito raro alguém reformar uma casa alugada ou mandar lavar um carro emprestado. As pessoas precisam saber que aquela casa ou aquele carro estará com elas no futuro para se empenharem na realização de melhorias. A tranqüilidade de saber que é somos e seremos de uma família, de uma empresa, de um clube, desperta nosso desejo de fazer sempre o melhor.

4- Autoconfiança é conseqüência de vitórias

É impossível manter motivado um time que só perde. Imagine o moral de um vendedor que não vende, ou de um tradutor que não traduz?A melhor maneira de motivar é desenvolver a competência da equipe. Invista em cursos, seminários, livros, concursos de idéias; comente debates, traga profissionais vitoriosos para fazer uma palestra e passarem suas experiências de vida etc. A capacitação é a escada que leva ao pódio. E uma pessoa de bem com a vida consegue realizar com prazer suas funções.Aliás, uma forma de deixar alguém maluco é promovê-lo sem fornecer recursos adequados para que exerça seu trabalho ou, então, negar-lhe a oportunidade de se aperfeiçoar para a missão.

5- As pessoas adoram acertar. Ninguém erra porque quer!

“Não encontre falhas, encontre a solução”, disse, certa vez, Henry Ford. A frase é muito parecida com a idéia dos orientais sobre os problemas. No Ocidente, quando surgem dificuldades, procura-se um culpado; no Oriente, procura-se alguém para consertá-lo. Se sua empresa está com problemas, converse com sua equipe para descobrir as causas. Ninguém erra porque quer, muito pelo contrário, as pessoas se orgulham de poder fazer algo bem-feito.Telê Santana, um dos maiores técnicos de futebol do Brasil, costuma dizer que a função de um treinador é acompanhar o desenvolvimento do atleta o tempo todo. Ele citava como exemplo:- Se eu quero que o Müller e o Palhinha voltem para marcar, eu tenho que repetir isso durante todos os treinos.Ele sabe que um feedback bem orientado pode fazer uma grande diferença na carreira de um profissional. Afinal, num ambiente em que se sentem protegidas, as pessoas trabalham mais felizes e arriscam mais, sem medo de errar.

Eles sabem que, se fizerem algo errado, poderão contar com as preciosas palavras do líder e não cometeram mais aquele mesmo deslize. Portanto, erros devem ser corrigidos, e acertos, comemorados.

6- É mais fácil ser produtivo num ambiente gostoso e humano

Os seres humanos precisam do estímulo do ambiente para poderem produzir mais. Proporcione um lugar onde as pessoas se sintam bem em trabalhar e, principalmente, onde se sintam produzindo algo mais que lucro para os acionistas. Um lugar claro, com bela decoração, refeitório aconchegante e banheiros bem cuidados, mostra que as pessoas são valorizadas. A simples presença de um jogo de xícaras bonitas assinala que alguém se preocupa com a equipe.

7- As pessoas se sentem mais protegidas onde as regras são claras e honestas

A injustiça destrói o auto-astral da equipe. Defina as estratégias, as metas e, principalmente, o sistema de recompensa da alta performance. Isso torna claro o porquê de uns receberem mais do que os outros. Se as metas não forem transparentes, a tendência é cada um puxar a empresa para o seu lado – e, embora lutem bravamente, o resultado será muito aquém do que se poderia alcançar.

8- A gente se envolve mais nos projetos que ajudamos a criar

Quando a empresa implanta um programa criado pelos funcionários, eles batalham muito mais. Então, em vez de trazer uma solução

pronta, estimule as pessoas a debaterem em grupos os possíveis caminhos e envolva todos no processo desde o começo.Procure substituir ordens por perguntas. E tente consultar seus funcionários sempre, acompanhando seus vendedores nas visitas, conversando com os motoristas para saber suas opiniões etc. Freqüentemente, a maneira como esses funcionários vêem a empresa propicia que a gente enxergue aspectos que, sem a ajuda deles, não conseguiríamos observar.

9- Seres humanos adoram o mistério da conquista

“Precisamos de mais pessoas especializadas no impossível”, proclamou Theodore Rotohke. As pessoas gostam de trabalhar em empresas que se propõe a realizar milagres. Por isso, os planos da organização e as oportunidades de crescimento que ela oferece a seus funcionários devem fazer parte das conversas do dia-a-dia.Ajude sua equipe a imaginar as possibilidades que ela têm pela frente e a acreditar na realização de sonhos maiores. É importante mostrar que, depois de uma montanha, tem sempre outra para ser conquistada.

Saiba que a acomodação é uma das grandes vilãs da empresa e ela só aparece quando o presente nos impede de ver o futuro.

10- Não aceite no time quem não quer participar

Você já deu treinamento, conversou, mostrou a necessidade de mudar de atitude e nada funcionou. Prepare, então, o currículo dele e mande-o para concorrência... Ninguém muda simplesmente porque precisa ou porque tem os recursos à sua disposição. As pessoas mudam quando se comprometem. Portanto, obrigar alguém a mudar não resolve. Você só vai tornar a vida dela e a sua um inferno.Seja o mais generoso possível com a demissão de um colaborador e dê-lhe a chance de ser feliz em outro lugar. Não adianta colocar óculos cor-de-rosa quando as coisas não estão funcionando. Tenha coragem para enfrentar a separação como uma opção de manter o respeito mútuo. Aliás, aceitar alguém na equipe que não está no mesmo ritmo dos outros, cria a dúvida sobre o que é certo ou errado e pode desmotivar um time inteiro. Não corra esse rico.

PARTE 2

A arte da convivênciaA base de qualquer relacionamento é a conversa. Porque é o diálogo que nos traz a possibilidade de conhecer a outra pessoa e de nos deixarmos conhecer por ela. Pena que poucas pessoas entendam isso.

onviver é uma arte que poucos aprenderam a dominar. Uma arte muito mais sutil do que a música, a literatura, a pintura ou o teatro. Infelizmente, no currículo das

escolas, não existem matérias que nos ensinem a nos relacionarmos. Resultado: o mundo vive guerras devastadoras, não somente no sentido estrito da palavra como ocorre no Iraque ou em determinados países africanos, mas principalmente no casamento, na família e na empresa.

CÉ como se estivéssemos perdendo a habilidade de dialogar e de conhecer o outro. Elas ouvem, mas não escutam; falam, mas não se deixam conhecer; esbarram-se, mas não se vêem; e uma multidão caminha solitariamente em direção a lugar nenhum. Estamos esquecendo como dividir sonhos e compartilhar a solidão.Essa dificuldade de percorrer o mundo dos outros está criando uma geração de pessoas impacientes e distantes. Ao perdermos a generosidade de respeitar diferentes pontos de vista, transformamos os casamentos e os

negócios em verdadeiros campos de batalha, em que o outro passa a ser nosso inimigo.Por exemplo, todas as vezes que ocorre um massacre numa escola dos Estados Unidos, os jornalistas norte-americanos ficam entrevistando psicólogos e educadores sobre as causas da violência entre os estudantes, como se fosse muito difícil identificá-las. Mas é muito simples: o modelo da economia e da política norte-americana está baseado na violência. O que podemos esperar dos jovens quando seus líderes estimulam a violência? Ora, mais violência.Mesmo quando os líderes não têm a intenção de servir como modelo para os mais jovens, eles se tornam exemplos quer queiram ou não. Quando eles bombardeiam para impor seus pontos de vista, ensinam os jovens a fazer o mesmo com os colegas. Quando o presidente norte-americano anda com uma mala que tem o poder de enviar mísseis nucleares para qualquer ponto do planeta, está ensinando a juventude a andar armada. Quando os filmes de sucesso mostram armas e assassinatos em

profusão, estão exportando um modelo de violência e de falta de respeito ao outro. Dessa forma, não adianta os Estados Unidos falarem sobre paz, pois são o povo que mais cria guerras e ganha dinheiro com elas.Eles conseguiram construir uma realidade selvagem, em que os valores humanos são destruídos e os mais poderosos bombardeiam os mais fracos quando seus interesses não são atendidos. Eles plantam pobreza e colhem a revolta. É assim no Iraque, na Organização Mundial do Comércio, foi assim na Sérvia, no Timor Leste etc.

Essa loucura só vai terminar quando aprendermos a conviver uns com os outros, aceitando e admirando a diversidade.Ainda que admire o sentido competitivo dos norte-americanos, prefiro a visão humana e social

dos europeus e japoneses. Esses últimos procuram um desenvolvimento que integre

todos na sociedade, mesmo que, muitas vezes, não obtenham sucesso em suas empreitadas. Os japoneses procuram fornecer um salário

decente para que até os desempregados possam viver de maneira decente e buscam

soluções para que os ex-funcionários continuem fazendo parte das empresas. Tais preocupações nos mostram uma visão digna do ser humano e nos fazem ter orgulho de pertencer à raça humana. Afinal, nós não

trabalhamos nossa consciência durante séculos para voltarmos à lei da selva, onde quem pode

mais chora menos.

Aprendendo a conviver

Criar um tempo para conviver com os outros continua sendo fundamental para aceitarmos outros pontos de vista. Em vez dos almoços rápidos, dos fast foods, tão comuns nos Estados Unidos, prefiro a poesia das conversas dos espanhóis em seus deliciosos cafés. Os almoços prolongados dos italianos aos domingos. A simplicidade serena de nossos irmãos portugueses.

Conviver é possibilitar que todos participem e se sintam respeitados. Eu adoro ver os japoneses usando as máscaras de centro cirúrgico no metrô quando estão gripados, para não contaminar os outros passageiros.No entanto, existem pessoas que vão para o trabalho como se fossem para uma guerra. Elas pensam que, para sobreviver na selva da empresa, têm que estar armadas até os dentes e acabam gerando mais conflitos.Precisamos criar um ambiente ecologicamente saudável em nossas vidas. A raiva e a inveja poluem mais nosso ambiente do que a fumaça produzida pelos automóveis. Precisamos resgatar a beleza da generosidade aceitando pontos de vista divergentes do nosso, admirando a beleza do outro, reconhecendo e respeitando aqueles que receberam uma educação diferente da nossa. Essa generosidade cria uma experiência maravilhosa em nossa passagem por esse planeta azul.

Aprendendo a conversarA base de qualquer relacionamento é a conversa. É o diálogo que nos abre a possibilidade de conhecer outra pessoa e de nos deixarmos conhecer por ela. Elementar, não é? Mas poucas pessoas praticam isso. Poucas conversas se aprofundam além do superficial. Fala-se sobre carros, viagens, política, esportes, mas muito pouco sobre sentimentos. Mostram-se muitas opiniões e poucos sentimentos.O casal até conversa sobre decoração, mas quase nada sobre o lar que deseja construir. Os pais orientam seus filhos, mas poucos perguntam sobre seus sonhos. Os filhos costumam reclamar que os pais não entendem o que eles falam, mas não se sentam para dialogar com eles.Nas empresas, conversa-se sobre projetos, mas não se abrem espaços para as pessoas compartilharem seus anseios. Os departamentos de Recursos Humanos falam

bastante sobre plano de carreira, mas pouco sobre vocação. Os chefes falam de suas visões, mas nunca sobre seus medos.Precisamos descobrir a beleza de uma conversa de mineiro, daquele conversar por conversar, quando deixamos nossa imaginação voar com um companheiro. Pois é fazendo o outro entrar me nosso mundo que criamos a possibilidade de nos conhecermos. Conversar, antes de mais nada, é ter curiosidade sobre o mundo do outro, é poder olhar essa pessoa com os olhos do novo.Geralmente, isso é mais difícil para nós, homens, pois nossas conversas costumam girar em torno do mundo das aparências, quando falamos apenas de nossas conquistas. Assim, vivemos solitários, precisando ser acordados por enfartes precoces, que evidenciam nosso isolamento. Quando um time de futebol está numa fase ruim, com as derrotas se sucedendo umas às outras, nada dando certo, o jogador mais experiente do time organiza um churrasco para a turma. Muita carne, muita cerveja e, principalmente, muito papo. Assim, no meio das tensões, dos conflitos, as pessoas voltam a perceber que cada uma possui sentimentos e ambições. Freqüentemente funciona. A mesma técnica pode dar resultado na empresa. Aquela festa para comemorar o aniversário de alguém, um churrasco, um chope no final do expediente. Tudo isso nos ajuda a compartilhamos mais e a nos conhecermos melhor.Há uma pequena história que nos mostra o quanto as pessoas compartilham uma vida inteira e não se conhecem. Dois velhinhos apaixonados, casados há mais de cinqüenta anos, foram comprar dois jazigos. Subitamente, o homem falou para a esposa:- Se eu morrer antes, você se incomoda de me enterrar do lado direito?Sua companheira respondeu:- Não tem nenhum problema. Mas me diga porque gostaria de ser enterrado do lado direito se sempre dormiu do lado esquerdo. Você prefere o lado direito?Ele sorriu positivamente, e ela lhe falou:

- Por que não me disse isso antes? Para mim, não faria diferença.

Aprendendo a confrontar

Em nossa vida, é comum existirem acontecimentos que nos desagradam ou não nos interessam. A tendência da maioria das pessoas é deixar que essas situações se repitam como se não tivessem importância. Até que um dia, as pessoas explodem e ocorre uma briga ou, pior ainda, uma separação silenciosa.Esses dias eu conversava com um amigo que me falou o seguinte:- As pessoas perdem muito mais oportunidades por não falar ‘não’ do que por não falar inglês.Verdade! Aprenda a dizer não quando a situação está desconfortável para você. Com freqüência, deixamos o mal-estar se ampliar até se tornar uma situação insuportável. Portanto, aprenda a colocar limites, porque algumas pessoas invadem o espaço do outro sem perceber e precisam que você acenda a luz do PARE!É fundamental dizer às pessoas, de maneira direta, firme, e clara, quando uma atitude delas nos incomoda. Pois confrontar é uma maneira de dizer ao outro que a amizade dele é importante. Quando você não expressa para alguém o que o importuna, acaba se afastando dessa pessoa, negando a ela a oportunidade de conhecer você de verdade.Ao confrontar alguém, é interessante dizer a ele qual conduta o incomoda, como você se sente e como você gostaria que ele agisse. Por exemplo, quando a pessoa fica aborrecida porque um amigo falta a um compromisso, em vez de estourar com ele ou decidir não mais encontrá-lo, é melhor dizer:- Não gosto quando você combina de ir em casa e não aparece. Sinto-me rejeitado e tenso por esperá-lo à toa. Quero pedir que não marque nada se não puder ir ou que me telefone se aparecer algum imprevisto.

Uma sugestão para as confrontações: trate um assunto de cada vez até resolvê-lo. Por exemplo, se a esposa está colocando a necessidade de o marido acompanhar os deveres do filho, é importante que eles cheguem a uma conclusão sobre este assunto antes de iniciar outro.As conversas em que são discutidos muitos problemas ao mesmo tempo tendem a se tornar acusações mútuas, sem levar a uma reflexão que solucione as dificuldades. Lembre-se de que cabe à pessoa confrontada a decisões de mudar ou não. Se ela continuar com o comportamento que o aborrece, está dizendo, de certa maneira, que não consegue mudar ou que não tem vontade de fazê-lo. Aí, a escolha por continuar ou não essa amizade estará em suas mãos.

Aprendendo a pedir desculpas

Do mesmo modo que é impossível viver sem que alguém pise em nosso calo, é difícil não incomodar outra pessoa. Quando negamos um erro, agravamos a situação, pois o pior não é cometer um deslize, mas a atitude que tomamos depois de tê-lo cometido.Um pedido de desculpas traz uma trégua para o mal-estar alheio. Não resolve, mas dá condições de manter o relacionamento.Mas há pessoas que nunca se permitem reconhecer um erro: têm uma auto-imagem de perfeição. Pensam que os outros vão desvalorizá-las ou desrespeitá-las se admitirem uma falha. Essa postura prejudica o relacionamento, pois elas acabam esperando que os outros assumam o erro e, no entanto, são elas que deveriam assumi-lo. Há quem, percebendo uma situação tensa, pede desculpas para mudar de assunto. Não o faz por arrependimento, mas como um recurso estratégico para pôr fim à discussão, o que reflete simplesmente uma tática para encerrar a conversa e não se comprometer com nada. Esse comportamento também é prejudicial.

Uma terapeuta norte-americana chamada Jaqui Schiff criou um método para pedir desculpas que é muito eficaz. Primeiro você se desculpa e descreve seu comportamento inadequado. Depois expõe o sentimento negativo que ele provocou no companheiro e, então, assume o compromisso de ter uma nova conduta.Alguns exemplos:- Eu quero pedir desculpas por não ter entregue o relatório ontem. Eu sei que isso lhe deixou numa situação difícil com a diretoria e me comprometo a, da próxima vez, cumprir minhas promessas.- Eu quero pedir desculpas por ter gritado com você. Sei que isso o deixou magoado e me comprometo a não fazer mais algo assim.Reconhecer o próprio erro e pedir desculpas é uma demonstração de humildade e de valorização do outro. É ter consciência do mal-estar que sua conduta provocou e assumir o compromisso de agir diferente da próxima vez. É dizer “você é importante para mim” de uma forma sensível.

Aprendendo a elogiar

Todas as pessoas têm necessidade de ser reconhecidas, de saber que provocam admiração. Se percebem que estão no caminho certo, elas reforçam a imagem positiva que têm de si mesmas e ganham força para arriscar mais na vida.Por exemplo, quando uma criança é elogiada, ela reforça sua confiança para enfrentar os desafios do mundo. Situação semelhante ocorre nas empresas: para ousar sempre mais, um funcionário precisa saber que é importante para sua equipe.Você também faz as pessoas se sentirem importantes ao reconhecer que sua esposa está mais paciente, que seu marido está mais participativo, que sua filha está mais responsável ou que seu assistente está evoluindo. Isso significa aplaudir uma vitória deles.

Quando as pessoas se consideram valorizadas e capazes, as mudanças ficam mais fáceis. Ao elogiar alguém, você demonstra suas virtudes e revela o quanto conhece o que é bom.Certa vez, um discípulo perguntou a seu mestre:- Qual é o valor da verdade?Como resposta, recebeu um anel de ouro e diamantes e a recomendação:- Vá até o mercado e veja se consegue uma moeda de ouro por ele!E o rapaz foi e logo depois voltou.- Consegui apenas duas moedas de prata!

O mestre então disse:

- Vá até uma joalheria e pergunte quanto lhe oferecem.Ao voltar, o discípulo relatou o resultado da pesquisa:

- Esse é o valor da verdade!A verdade só tem valor para quem a conhece. Quantos profissionais, por exemplo, não são dispensados apesar de sua capacidade imensa por que o chefe acha que ele não serve? Às vezes, você tem um diamante na mão e não percebe. Você se lembra quando seu diretor o elogiou? Lembra como isso fez parte das conversas de família, do almoço com os amigos? Saiba que, quando você elogia um funcionário, toda a família dele e amigos vão saber desse fato.Um elogio cria uma corrente de alto-astral que se espalha por toda a organização. Infelizmente, a maior parte das pessoas acredita que, para ajudar alguém a crescer, é preciso criticar seus erros. As dicas para que as pessoas se aprimorem são importantes, mas elogiar é essencial. Ao admirar as virtudes de um assistente, você demonstra a grandeza de seu coração. Por isso, mostre sua admiração pelas pessoas. Isso só vai enriquecer seus relacionamentos.Uma pequena lição de casa: faça elogios pelo menos três vezes ao dia. Você vai perceber que isso cria um benefício secundário, porque a gente recebe de volta o

que dá às pessoas. E elogiar é a maneira mais fácil de receber elogios.

Aprendendo a agradecer

Na Índia, alguns mestres dizem que a pessoa iluminada é a que vive em estado de gratidão. É iluminado quem sabe reconhecer a beleza de um olá e de um adeus, do sol e da chuva, do dia e da noite, porque todos os acontecimentos e as pessoas trazem uma oportunidade de crescimento. Quando se agradece a alguém, reconhece-se a comunhão entre ambos e cria-se uma energia que fará a comunhão se repetir.Quando um diretor se reúne com sua equipe para agradecer a dedicação no trabalho para atingir as metas, ele transmite o reconhecimento pela grandeza da turma. Quando um empresário agradece a seus funcionários a responsabilidade que demonstraram ao enfrentar um problema, ele cria uma energia poderosa para os próximos desafios.Quando um marido agradece à esposa pela paciência com sua ausência durante a implantação de um novo projeto, ele divide seu sucesso com ela. Quando uma esposa agradece ao marido por dar uma força com os filhos enquanto termina a pós-graduação, ela retribui o amor que ele lhe dedicou.Agradecer é a melhor maneira de aumentar a comunhão com as pessoas que são importantes para você. Mas agradeça também a seu concorrente, que não deixa você se acomodar. Agradeça àquele comprador difícil que obriga você a crescer para conquistá-lo. Agradeça aos problemas que o tornam um guerreiro preparado para campeonatos mais difíceis.O ato de agradecer cria em você a sensação de ser abençoado, o que é fundamental para sua auto-estima. A pessoa que, mesmo nos piores desafios, percebe que está vivendo uma experiência de aprendizado vai confiar mais em sua capacidade de superação.

Aprendendo a pedir ajuda

Todos os seres humanos têm momentos de fragilidade, insegurança e confusão. Quando isso acontece, pode-se ter três atitudes: - Isolar-se, para que os outros não descubram que você está precisando de algo. - Manipular, levando os outros a prestar ajuda contra a vontade, pressionados pelo medo ou pelo sentimento de culpa. - E, a mais indicada, saber pedir ajuda.Pedir ajuda é compartilhar as próprias necessidades e abrir o coração, reconhecendo que existe alguém em condições de ajudá-lo. Pedir ajuda é querer um abraço amigo, é querer alguém que tire uma dúvida, que ensine algo, que escute, que incentive, que participe dando opinião.Muitas pessoas pensam erroneamente que, se alguém as ama, tem a obrigação de adivinhar o

que precisam. Acham que carinho pedido não tem valor, pois ninguém é obrigado a saber que você precisa dele. Abra seu coração quando tiver dúvida e ficará surpreso com quantas pessoas estarão dispostas a ajudá-lo.Um pedido de proteção é um elogio ao outro, pois é o reconhecimento de sua capacidade superior naquele tema. Todos nós temos o desejo de sermos úteis.Certa vez, eu li numa revista norte-americana que a característica comum às crianças que se tornaram adultos consistentes era o fato de se sentirem participantes na vida da família.As crianças que ajudam nas tarefas da casa se sentem mais importantes para os pais. Portanto, dentro de cada um de nós existe uma necessidade de se sentir capaz, de ajudar alguém. E essa capacidade aumenta nossa sensação de competência, nos tornando mais bem preparados para os problemas do dia-a-dia.

PARTE 3

A resolução dos conflitos“Quando todo mundo é corcunda, o belo portetorna-se a monstruosidade.”Honoré de Balzac

Os problemas devem ser enfrentados antes que adquiram maiores proporções. Mas, dependendo da gravidade da situação, é necessário um tempo para cicatrizar as feridas.

s conflitos ocorrem quando duas ou mais pessoas têm pontos de vistas diferentes sobre um mesmo assunto. De repente, o gerente de marketing explode com o gerente

financeiro porque eles não chegam a um acordo sobre a melhor maneira de alocar a verba da empresa. Já o gerente de compras do supermercado decide não adquirir a mercadoria de um fornecedor que aumentou o preço de seu produto. A situação fica tensa entre os dois...

OEm casa, vamos imaginar a seguinte cena: o pai entra no quarto do filho e exige que ele coloque o lugar em ordem. O filho responde que o quarto é seu e o pai não tem direito de interferir. O pai argumenta que o quarto está

na sua casa e somente quando o filho tiver a casa dele, aí sim, poderá fazer o que quiser. O filho coloca uma camiseta e sai gritando que odeia o pai.No fundo, tanto o pai quanto o filho querem apenas se sentir importantes, respeitados e fazer seu ponto de vista ser valorizado. Não é o que acaba acontecendo. No fim das contas, ambos se aborrecem e a solução do conflito fica cada vez mais distante.O melhor a fazer, então, é tentar resolver o problema antes que ele adquira proporções maiores. É importante que você aprenda a enfrentar os conflitos diretamente e, dependendo da gravidade da situação, dê um tempo para que as feridas cicatrizem. A

seqüência da resolução de um conflito descrita a seguir vai ajudá-lo nessa tarefa:

- Estabeleça um diálogo: nas situações de conflito, geralmente a conversa fica travada. Portanto, a primeira ação é procurar uma forma de restabelecer a comunicação. Ausência de diálogo só serve para aumentar o conflito. Se necessário, descubra alguém para servir de interlocutor enquanto as partes não ficam frente a frente. Exemplo: dois irmãos herdam a empresa do pai. Brigam pelo controle administrativo do negócio e desistem de tentar conversar. Delegam as negociações para os advogados. Pronto: as chances de mal-entendimentos passam a ser muito maiores.

- Defina os motivos exatos das divergências: muitas vezes, as pessoas envolvidas em um conflito embarcam em emoções negativas e se deixam contaminar por esses sentimentos não-elaborados. Quando se define de imediato qual

o ponto em discussão, fica mais fácil encontrar uma solução que agrade a todos.

- Compreenda as razões do outro: freqüentemente, quando alguém começa a desabafar, origina uma catarse, na qual, geralmente, a resolução do problema fica em segundo plano. A preocupação maior é ferir o outro. Tenha paciência para ouvir o desabafo sem dar nenhuma justificativa. O ideal é conseguir escutar e procurar não julgar a opinião do outro. Nessa fase, surgem ressentimentos do passado que, apesar de não terem relação nenhuma com o que está sendo discutido, reduzem a possibilidade de os envolvidos chegarem a um acordo.

- Interprete o que cada um realmente deseja extrair do conflito: nesse momento, os dois devem expor seus objetivos e suas preocupações até que apareça uma opção que agrade a ambos.

CASO

Dulce Pereira: uma mulher iluminadaDocente do Departamento de Lingüística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa desde 1976, Dulce Maria Pereira dedica sua vida e sua carreira àquilo que realmente a faz feliz: o fortalecimento do movimento negro e sua integração na sociedade.

uando falamos em relacionamentos saudáveis, à primeira idéia que me vem à mente é o conceito de igualdade, seja ele entre homens e mulheres, jovens e idosos, chefes e trabalhadores ou ricos

e pobres. Um verdadeiro encontro entre duas pessoas só é possível quando as duas se colocam no mesmo nível. Infelizmente, nem sempre é isso que acontece.

QComo existem muitas pessoas que se sentem inferiores, a primeira atitude que elas tomam é colocar o outro numa posição de inferioridade, para se sentirem confortáveis. São pessoas inseguras, que precisam diminuir o outro para estarem bem.Quando vejo alguém fazendo um comentário racista, imediatamente fico com pena de seus filhos e de sua esposa ou marido, pois sei que se trata de alguém que extravasa sua

insegurança por meio da raiva. Em geral, os preconceituosos se orgulham de sua mediocridade, por isso são de extrema importância as pessoas que lutam para acabar com essa praga em todos os níveis.Resolvi homenagear uma mulher especial que tem lutado e vencido essa batalha contra o racismo em todas as trincheiras: Dulce Pereira, professora do Departamento de Lingüística Geral e Românica da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ex-presidente da Fundação Cultural Palmares e ex-secretária executiva da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Dulce dedica seu tempo ao crescimento da cultura negra no Brasil e no exterior e também à luta contra o preconceito de que um dia foi vítima. Com a força de uma leoa, toca projetos para resgatar a cidadania dos negros, o

desenvolvimento de sua auto-estima e ampliar seu acesso à cultura.Ultrapassar barreiras tem sido sua marca, já que desde pequena sofreu preconceitos e decidiu combater o que a tornava tão infeliz. Não foi fácil, mas o fôlego dessa mulher a fez superar os obstáculos. Ela foi a primeira negra brasileira a ocupar um cargo da importância do que ocupou frente à CPLP, com status diplomático.Sua meta é aprimorar o relacionamento da comunidade negra com a sociedade. Para isso, sempre buscou estabelecer parcerias com instituições governamentais, federais, estaduais e municipais, organizações internacionais e multinacionais ligadas ao movimento negro e à sociedade civil em geral.Aliás, essa é a base de um bom relacionamento: saber conversar, ensinar, conduzir pessoas, não só dentro de uma empresa, mas na vida. E ela não só tem mostrado o potencial dos negros em todas as áreas da sociedade, mas provado, sobretudo, suas competências no desempenho de suas tarefas.Paulista de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, Dulce, aos 16 anos, ganhou uma bolsa para estudar nos Estados Unidos. De lá para cá não parou mais. Voltou falando inglês e espanhol fluentemente, fez arquitetura na UnB – Universidade de Brasília, cursos de

cinema, roteiro, programação visual e se especializou em Tecnologia e Ciência do Desenvolvimento na Inglaterra. Fala também francês, alemão e italiano.Logo ao entrar na faculdade de Arquitetura – seu sonho mesmo era fazer Cinema, mas escolheu Arquitetura pensando no mercado de trabalho –, a militância no movimento negro se intensificou, tornando-se sua maior bandeira. Ajudou a formar o PT e produziu um documentário contando a história de Zumbi dos Palmares na Serra da Bexiga.Dulce acabou nunca trabalhando com arquitetura, pois decidiu dedicar sua vida e sua carreira àquilo que realmente a faz feliz: o fortalecimento do movimento negro e sua integração na sociedade. E o mais importante: sempre obteve bons resultados.Na Índia, as pessoas dizem que um ser humano iluminado serve somente para um tipo de pessoa. Aquelas que ainda estão dormindo não conseguem escutá-lo; para as que despertaram, ele nada serve porque elas já se iluminaram; mas o ser iluminado é essencial para as pessoas que estão acordando: ele é capaz de fazer bastante barulho e impedi-las de voltar a dormir.Dulce é uma mulher iluminada e faz um barulho especial, que ajuda milhares de pessoas a despertar.

ARTIGO

Relações saudáveis na empresaPaulo Gaudencio é uma daquelas pessoas que a gente fica feliz de ter o privilégio de conhecer. Sua genialidade e simplicidade ao falar do ser humano sempre me surpreendem. Além de ter uma qualidade admirável: é corintiano.Roberto Shinyashiki

No modelo moderno de gestão, a vivência da emoção e dos valores individuais são presença constante. Os louros são colhidos na forma de lucro, no evidente aumento da produtividade e da energia.

Por Paulo Gaudencio*

empre que nos propomos a falar sobre relacionamentos saudáveis nas instituições, pensamos no lado psicológico do relacionamento. No modelo antigo de gestão, não havia

espaço para isso. O aspecto emocional era deixado de lado porque as empresas tinham a seguinte mentalidade: “Sentimentos como medo, insegurança, agressividade e afeto devem ficar em casa. Eles não fazem parte do trabalho profissional”.

SHoje, a situação se inverteu. As exigências atuais implicam o conhecimento do ser humano enquanto indivíduo. Descobrindo

como funciona sua cabeça, sabe-se quem é o cliente e qual a melhor forma de satisfazê-lo. Há pouco tempo, as empresas começaram a perceber e a se preocupar com os níveis de estresse e as doenças psicossomáticas que atingem grande parte dos profissionais.O modelo moderno de gestão possibilita a vivência dos impulsos no papel profissional e isso é cada vez mais positivo, pois a competência não é comprometida. Você só é produtivo se concede tempo para o lazer e o descanso. Ganham-se qualidade, produtividade e motivação. O funcionário fica mais feliz. As organizações que já perceberam isso, com

certeza, estão entre as melhores e, se ainda não entraram no ranking, estão a caminho.Quando vivíamos sob a "era arcaica", as empresas tinham a tendência de medir a competência de um profissional pela sua utilidade. Ninguém pensava no quanto o capital humano poderia beneficiar os negócios. Muito menos em como as pessoas se relacionavam com as instituições, e estas com seus colaboradores. Todos deveriam trabalhar seguindo normas, que o dono julgava certas.A bagagem de vida não era sequer cogitada, apenas os dons técnicos de cada um eram avaliados. As pessoas eram coisificadas (vistas pela ótica da utilidade). A maioria acabava trabalhando pelo salário, e não pela satisfação pessoal.Os empregados participavam, mas não havia comprometimento. Seus objetivos não eram os mesmos da empresa, e vice-versa. Com as mudanças no cenário mundial, a mecânica econômica modificou-se. A realidade exigiu novas competências, planejamento e dedicação. Produtividade tornou-se essencial. A partir de então, a palavra-chave passou a ser comprometimento. Foi aí que a necessidade de resgatar a dignidade do indivíduo (valor intransferível e incomparável que faz cada pessoa ser única), os aspectos emocionais e o bem-estar se tornaram a maior preocupação do mercado profissional.

Empresas do passado X empresas do futuro

As empresas que vivem do passado têm um estilo gerencial autocrático. O gerente pensa pelo subordinado e toma conta dele para que siga as normas. O subordinado é mantido submisso, sem criatividade e sem iniciativa. O desperdício de talentos é enorme. AfuniIam-se as decisões. O meio de comunicação chama-se "goela abaixo". O feedback inexiste. A empresa é altamente burocratizada. Se alguém

estiver cobrando sua participação, ele o faz, mas não está inteiro.Já na empresa composta de pessoas maiores, autônomas, independentes, o estilo gerencial é democrático. A função do gerente não será tomar conta do subordinado, mas criar condições para que ele cresça. E crie. O gerente será coatcher (treinador). O trabalho em grupo será privilegiado. O feedback será instrumento gerencial corriqueiro e valorizado. A comunicação será clara. Haverá concentração de energia. E os gastos com burocracia serão mínimos. Por isso, as pessoas se comprometerão.Quer um bom exemplo da diferença entre participação e comprometimento? Então, pense num bife a cavalo: o boi se compromete e a galinha participa. Se duas empresas em igualdade de condições técnicas e tecnológicas, uma composta de bois e outra de galinhas, forem colocadas em competição, a vitória será obviamente da primeira.Comprometimento é alvo das empresas modernas. E só será conseguido se a empresa tiver pessoas com sua dignidade respeitada. Para isso, é fundamental que elas possam viver suas emoções no papel profissional. Isso marcará o sucesso das empresas no futuro e desde já.Tenho definido o ser humano como sendo a última descoberta da tecnologia moderna. Depois de décadas na pesquisa do mais moderno maquinário e dos mais modernos sistemas, as empresas descobriram a necessidade de entender e desenvolver a pessoa que lida com a máquina e com os sistemas.Esse é o grande campo da psicologia empresarial: desenvolver esse tipo de habilidade. Como se dá o ajustamento do ser humano numa empresa que não permite a vivência dos impulsos? Desperdício de energia e infelicidade no exercício de seu papel. O indivíduo terá um emprego, isto é, um lugar chato onde ele trabalha para ser remunerado (toda pessoa coisificada tem um preço), mas vai viver fora dali.

Quando na organização a emoção e os valores individuais são presença constante, os louros são colhidos na forma de lucro, no evidente aumento da produtividade e da energia, que é despendida em ações concretas. A pessoa é feliz exercendo esse papel. O indivíduo não terá apenas um emprego, mas uma profissão, isto é, o espaço profissional será um espaço onde ele vive, e será remunerado para continuar vivendo fora dali.

Felicidade é comer jabuticaba

Mas, afinal, o que é felicidade? Como entender esse conceito filosófico e psicológico tão complexo? Para mim, na realidade, é um conceito muito simples: felicidade é comer jabuticaba. Como?Há alguns anos, 35 anos para ser exato, vivi um episódio marcante. Fomos, a convite de um cunhado, passar um feriado prolongado no seu sítio. Família toda reunida. Duas dezenas de pessoas. Tempo agradável, papo idem. Evidentemente, um grupo de marmanjos brasileiros com tempo diante de si se propôs ao óbvio: jogar futebol.Durante o jogo, um chute mais forte, a bola vai longe. Meu filho mais velho, então com 5 anos de idade, era o mais jovem do grupo. Era, portanto, o gandula. Saiu imediatamente atrás da bola. Na volta, passou diante de algo que jamais tinha visto: uma jabuticabeira carregada. Ele parou, provou uma fruta, logo uma segunda, largou a bola e mudou de atividade. De jogador de futebol a comedor de jabuticaba. Algo perfeitamente natural num menino de 5 anos. Não foi esse o marcante do episódio. O que marcou foi a reação do grupo

que esperava a bola. Em vez de pedi-Ia aos gritos, o pessoal ficou parado olhando aquela demonstração de felicidade. Cabeça e emoções voltadas para uma atuação prazerosa.As empresas que pensam assim tornam-se empresas onde as pessoas são felizes e, por isso, saudáveis e produtivas. Você terá muito mais prazer em trabalhar numa empresa que tolera, por exemplo, alguns minutos de atraso devido ao trânsito e permite que você vá ao médico durante o expediente caso esteja doente. Ao contrário daquela que descontará seu salário por 2 segundos de atraso. Atitudes desse tipo são encontradas em organizações obsoletas.Empresas com visão e preocupadas com o futuro investem no capital humano. As que perceberam que o lucro advém do comprometimento estão um passo à frente. Algumas já instalaram academias, salas de descanso, dedicam tempo às questões ambientais e aos projetos assistenciais. Elas sabem que o bem-estar e a felicidade dos colaboradores são, na verdade, o bem-estar e a felicidade da empresa.

*Paulo Gaudencio é médico psiquiatra pela Faculdade de Medicina da USP e dedica-se

há 40 anos à psicoterapia de grupo, supervisionando uma equipe terapêutica e

de pesquisa científica no Instituto Paulo Gaudencio. É consultor de empresas nas

áreas de administração participativa, sinergia organizacional e flexibilização de papéis. Autor de sete livros, é docente do

MBA em Marketing da Madia Marketing School e do PADE - Programa Avançado de

desenvolvimento de Executivos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

(RS).

PARA REFLETIR

Em busca da mulher perfeitam jovem tinha o sonho de encontrar a mulher perfeita, a musa de seus sonhos: bonita, inteligente, simpática. Enfim, a mulher ideal.U

Durante anos procurou essa mulher, nas ruas, no trabalho, nas festas e nas viagens. O jovem não podia aceitar outra, apenas aquela de seus sonhos, que o faria feliz pelo resto da vida.O tempo passou e ele continuou solitário. Um dia, um amigo que sabia de sua obsessão lhe falou:- Que pena que você passou toda a vida procurando e não encontrou a mulher perfeita!O outro, indignado, falou:- Não é verdade. Eu encontrei a mulher

perfeita!E o amigo, surpreso, perguntou:- E porque você não ficou com ela?- Porque ela não quis ficar comigo.A maioria das pessoas passa a vida inteira procurando o par perfeito sem se dar conta de sua própria imperfeição. No amor, assim como na vida, não existe o parceiro perfeito, como não existe um casamento sem problemas. Os casais que têm um casamento admirável tiveram a paciência e a perseverança de construí-lo aos poucos.No amor, não existe pronto um casamento cinco-estrelas. O que existe é um namoro que começa uma-estrela e vai sendo melhorado aos

poucos até se tornar a relação dos sonhos dos parceiros. E mesmo quando a relação fica boa, eles sabem que precisam continuar a cuidar dela.Assim é nos relacionamentos afetivos e profissionais. Temos de saber construí-los com paciência e dedicação para formar um time que dê prazer de trabalhar em conjunto. Talvez, se você encontrasse o chefe perfeito, ele não quisesse tê-lo na equipe. Talvez, se você encontrasse o funcionário perfeito, ele não desejasse trabalhar para você.As relações mais admiráveis da sociedade, quer sejam elas estabelecidas dentro ou fora das organizações, são construídas com muita dedicação e generosidade.Até o próximo fascículo! Que você consiga estabelecer relações cada vez mais especiais.

Com afeto,

Roberto Shinyashiki.