A argentina e os investimentos das empresas portuguesas na américa do sul
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Universidade Portucalense e Infante D. Henrique Mestrado em Finanças
Trabalho para a Gestão Financeira Internacional
A Argentina e os investimentos das empresas portuguesas na América do Sul
Professor Doutor Vasco Soares
Matosinhos, Junho de 2002 César Ferreira
2
Índice
0 Objectivos do trabalho
3
Parte I
4
1. Introdução
4 1.1 As características históricas, geográficas, económicas políticas e sociais 4
2. Um breve análise a três variáveis macro económicas
6 2.1 A taxa de desemprego 7 2.2 O consumo 8 2.3 A Balança de Transações Correntes 8
3. As políticas económicas da Argentina na última década
9
3.1 As políticas económicas de Carlos Menem e Domingo Cavallo
9 3.1.1 Currency board 10 3.1.2 União monetária 10 3.1.3 Dolarização 11
3.2 A escolha da Argentina
11 3.2.1 Os movimentos especulativos 11 3.2.2 O crescimento económico da Argentina 12
3.3 Um breve relance pelas contas públicas argentinas
12
3.4 As medidas de Duhalde para a crise
13
3.5 A ajuda do FMI
13
4. Conclusões
14
Parte II
15
1. Introdução
15
2. Amostra
16
3. Objectivos
16
4. Conlusões
16 Bibliografia
17 Anexos
18
3
A Argentina e os investimentos das empresas portuguesas na América do Sul
0 Objectivos do trabalho
Este trabalho foi elaborado entre Setembro de 2001 e Junho de 2002, para ser avaliado
na disciplina de Gestão Financeira Internacional do Mestrado em Finanças da
Universidade Portucalense. A conclusão do trabalho foi consecutivamente atrasada, não
só pelas mutações constantes que ocorreram na Argentina, bem como, pela falta de
resposta de algumas empresas nacionais a uma pequena questão, oportunamente
colocada, que é da maior importância para as conclusões deste estudo.
O trabalho tem como tema principal o estudo do risco cambial. Defini os seguintes
pressupostos para a sua elaboração: um trabalho que envolvesse aspectos práticos e
utilizasse algum trabalho de campo, um trabalho sobre um tema actual, que abarcasse
várias matérias da Gestão Financeira Internacional mostrando a interligação que existe
nas matérias estudadas, que a sua elaboração me proporcionasse conhecimentos
adicionais aos estudados durante as aulas teóricas da disciplina.
Escolhi a crise na Argentina como pano de fundo para a elaboração do trabalho, e
utilizei uma forma bipartida para o estudo. Numa primeira parte fiz um diagnóstico da
Argentina e na segunda parte debrucei-me sobre o estudo dos mecanismos de cobertura
do risco cambial que as empresas portuguesas tinham utilizado aquando dos seus
investimentos na América do Sul
Para a elaboração do diagnóstico foi analisado o desenvolvimento da Argentina numa
perspectiva histórica passada e recente, foram analisados indicadores macro económicos
de apoio e foram estudadas as opiniões de diversos economistas acerca dos problemas
actuais da argentina. Para o estudo dos mecanismos utilizados para a cobertura do risco
cambial, por parte das empresas portuguesas, foram inquiridas algumas empresas
nacionais acerca de como é que estas tinha assegurado o risco cambial quando
efectuaram investimentos na América do Sul. O trabalho está assim dividido em duas
partes uma que é dedicada ao estudo da Argentina e da sua situação actual e a segunda
parte é uma pequena análise ao comportamento das empresas nacionais face ao risco
cambial.
4
Parte I
A Argentina
1. Introdução
Para a elaboração do diagnóstico da Argentina resumi os dados essenciais para a análise
que importava a este trabalho. Assim dividi a primeira parte em quatro pontos. Um
primeiro ponto onde se apresentam os dados históricos, geográficos, demográficos,
políticos e sociais da Argentina, o segundo ponto é dedicado ao estudo dos dados macro
económicos actuais, no terceiro ponto vamos analisar as políticas económicas da
Argentina na última década (nomeadamente, de Carlos Menem, apontado como o
principal causador da situação actual e de Eduardo Duhalde o actual presidente) e no
quarto e último ponto vamos apresentar as conclusões e as nossas contribuições para o
problema.
1.1 As características históricas, geográficas, económicas, políticas e sociais
Ocupando a maior parte do sul da América do Sul com 2.766.890 km2 estende-se ao
longo de 3.460 Km, desde a Bolívia até Cape Horn. Tem fronteira a oeste com o Chile
ao longo da Cordilheira dos Andes, faz ainda fronteira a norte e a este com a Bolívia,
Brasil, Paraguai e Uruguai. Actualmente tem cerca de 36 milhões de habitantes(1). As
principais fontes de riqueza são: agricultura com o trigo e a fruta, a criação de gado,
especialmente bovino, e os recursos energéticos como petróleo e gás natural.
Numa perspectiva histórica A Argentina foi uma colónia Espanhola até 1816, sendo este
facto de extrema importância por dois motivos, o primeiro revela-nos a importância
deste país para o nosso maior parceiro comercial (a Espanha), o segundo motivo é o
facto em si, de a Argentina ser uma ex-colónia espanhola, com todas as especificidades
idiossincráticas da colonização Espanhola. Uma forte presença da igreja católica com
pouca escolarização da população, “... quanto a manufacturas, poucas, e a maior parte
delas era remanescente da indústria caseira. Quase todo esse trabalho recaía sobre os
ombros das mulheres – fiar e tecer, olaria, fabricação de sabão, de óleo de cozinha, de 1 36.265.463 em 1998 de acordo com a Enciclopédia Encarta
5
velas. Numa sociedade macho com valores herdados da Espanha, a idade adulta trouxe
para os homens «a completa independência e ociosidade».(2)”
O arranque económico da Argentina deu-se no final do século XIX, utilizando o modelo
da vantagem comparativa. O principal sector económico foi a criação de gado e os
produtos derivados, peles, lã, sebo e carne. Quando em 1880 apareceu o transporte de
carne refrigerada para a Europa e posteriormente o transporte de carne bovina
congelada, foram os factores determinantes do desenvolvimento e criação de riqueza da
Argentina.
Para termos uma ideia da importância e dimensão do comércio de gado na altura,
existem estudos demográficos sobre o desenvolvimento da população europeia que dão
como factor de desenvolvimento e de alteração da robustez e altura da população
europeia o aumento de consumo de carne bovina provocado pela importação de carne
da Argentina que ocorreu no início do século passado.
A Agricultura ficou em segundo plano sem programas de desenvolvimento e
modernização, e a indústria foi entregue a interesses estrangeiros, sobretudo britânicos,
que desenvolveram a indústria de acordo com os seus próprios interesses e necessidades
estratégicas.
Mas o grande problema da Argentina foi, desde a sua independência, a governação. É
importante reflectir que a independência foi conseguida em 1816, no entanto a república
foi proclamada em 1862 cerca de 50 anos após. Durante esses 50 anos reinou uma
batalha entre os centralistas de Buenos Aires e as respectivas províncias. Desde essa
data até aos dias de hoje, o poder na Argentina tem passado de mão em mão
normalmente pela força e quando não é utilizada a força, os processos tendem a ser
conturbados, exemplo disso, é que aconteceu no final do ano passado, em pleno século
XXI, a Argentina teve 5 presidentes no espaço de 2 semanas revelando a instabilidade
política deste país.
Num rápido decorrer cronológico, podemos evidenciar que em 1543 os espanhóis
instalaram as primeiras colónias nos vales dos Andes, em 1816 é proclamada a
independência das Províncias Unidas do Rio de La Plata, durante o período de 1835 a
1852 o poder foi exercido pelo ditador Juan Manuel Rosas, em 1853 é estabelecido o
sistema Federal, em 1857 os europeus começam a instalar-se nas pampas e o poder do
país estava entregue a uma oligarquia de 2000 famílias, em 1916 é eleito,
6
democraticamente, o primeiro presidente, Hipólito Yrigoyen, em 1930, um golpe militar
abala a constituição republicana, em 1943 dá-se um novo golpe militar, em 1946 o
general, Juan Péron, é eleito presidente com o apoio dos militares e das organizações de
trabalhadores. É um período em que a Argentina vive governada pelo populismo e pelo
faz de conta, em 1955, um golpe militar derruba Péron quando, no país, vive-se um
clima de greves, de desemprego e de inflação elevada. Em 1973 Perón regressa do
exílio e é reeleito presidente, morre no ano seguinte. É sucedido pela sua terceira mulher
Isabelita que é incapaz de controlar a esquerda Peronista e a violência urbana. Em 1976
o poder é tomado pela junta militar controlada pelo general Videla, os partidos políticos
são proibidos, inicia-se um período obscuro, criminoso, com o desaparecimento 10.000
“suspeitos de esquerda”. Em 1982 o general Galtieri sucede a Videla e no ano seguinte
ordena a invasão das Ilhas Falkland (território britânico), o exército Argentino é
humilhado, e no ano seguinte são convocadas eleições livres multipartidárias, que são
ganhas pelo candidato humanista Raúl Alfonsin, vive-se, no entanto, num período de
hiperinflação e de crise na dívida externa. Em 1989 Carlos Menem é eleito presidente e
em 1990 lança o Plano de Convertibilidade, um regime de câmbios fixos ancorado na
relação de paridade de um peso um dólar. Em 1999 De La Rúa é eleito presidente após
um conjunto de complicações com o governo de Menem, nomeadamente, o descalabro
económico do país e a acusação de envolvimento do presidente no tráfico de armas, De
La Rúa não consegue controlar a economia da Argentina e em Janeiro de 2002 após um
conturbado processo político é eleito pelo congresso Eduardo Duhalde antigo
governador da província de Buenos Aires.
2 Uma breve análise a três variáveis macro económicas para se compreender os
problemas sociais de hoje na Argentina
A situação que se vive hoje na Argentina é dramática, no entanto, e no âmbito do estudo
deste trabalho, vou analisar três variáveis macro económicas, taxa de desemprego, o
consumo das famílias e o saldo da Balança de Transações Correntes para avaliar os
problemas que existem hoje na Argentina. No ponto 3.3 fiz algumas considerações
sobre as contas públicas da Argentina, devido à importância do equilíbrio orçamental,
numa situação de currency board.
7
Estas variáveis macro-económicas servem para reflectir a situação actual da Argentina
pela relevância que imprimem à produtividade, às expectativas presentes via
desemprego e pelos cenários que se desenham por via do consumo das famílias
Uma elevada taxa de desemprego reflecte um clima de instabilidade social profundo e
uma revolução popular eminente. A diminuição do consumo dos argentinos reflecte
uma diminuição do rendimento disponível das famílias e algum (senão muito)
cepticismo face ao futuro.
O saldo da Balança de Transações Correntes é crucial para se estudar a competitividade
de um país. É importante numa sociedade, cada vez mais global, um posicionamento
internacional competitivo. Caso não se consiga uma competitividade internacional o
país tem dois caminhos ou se isola, atrasando-se imediatamente, ou vai ser penhorado,
aos poucos, por centros de decisão internacional, muito zelosos dos seus interesses mas
sem preocupações sociais e de desenvolvimento económico do país.
2.1Taxa de Desemprego
Analisando a taxa de desemprego Argentina verificamos que apresenta valores
elevados, comparativamente aos EUA e Europa.
Se analisarmos a evolução do nível de desemprego na Argentina (ver gráfico I)
verificamos, que embora, o
país apresente uma
sazonalidade que está
associada a uma economia
com uma forte componente
primária, podemos afirmar
que o nível de desemprego
está a aumentar
consideravelmente. Entre Outubro de 1999 e Outubro de 2001 a taxa de desemprego
cresceu 32,6%, gerando uma forte contestação social e graves problemas económicos.
Não podemos analisar esta questão de per si, mas teremos que estudar os problemas
económicos a montante e a jusante do aumento do desemprego. Quais são as causas dos
despedimentos? É a fraca competitividade das empresas argentinas, ou será a
diminuição do consumo interno? Qual será o impacto nas expectativas dos
8
consumidores de um aumento do desemprego? Qual será o impacto da diminuição de
receitas induzido pela diminuição de imposto e contribuições pagas pelos trabalhadores
e sobre os seus salários? Qual será o impacto no aumento da despesa através do
pagamento das prestações de desemprego? Que custos estruturais estão a ser criados
com os despedimentos em massa?
2.2 O Consumo
Se analisarmos as vendas nos supermercados durante o período de 1996 a 2001 (Gráfico
2(2)), verificamos que a partir de 1998 existe uma quebra acentuada do consumo
Argentino, realçamos que
os dados estão a preços de
mercado.
A diminuição do consumo
tem reflexos importantes
no PIB, bem como, os
efeitos induzidos através
da diminuição do gastos
públicos provocados pela
diminuição de receitas do sector público pela via fiscal (diminuição das receitas das
empresas). Podemos afirmar, conscientes que podemos ser polémicos, que uma
diminuição do consumo arrasta sempre a sociedade para um nível de bem estar inferior.
Conscientes de todos os pressupostos teóricos da economia pública para que se
verifique esta condição, não posso deixar de realçar este ponto.
2.3 A BTC
Embora suscite alguma discussão, essencialmente por economistas americanos que não
concordam com o método, a melhor forma de analisarmos a competitividade
internacional de uma economia, é a análise à sua Balança de Transações Correntes
(BTC). Analisando o saldo da BTC durante o período que decorre entre 1995 e 1999
(em anexo mapa fornecido pelo INDEC Instituto Nacional De Estadistica Y Censos De
La Republica Argentina), verificamos que o saldo da BTC diminui 358, 62 %, no
espaço de 5 anos, diminuindo, essencialmente, nas relações com a Ásia, Brasil e
2 Dados obtidos do INDEC Instituto Nacional De Estadistica Y Censos De La Republica Argentina
Vendas anuais em supermercados
11.500
12.000
12.500
13.000
13.500
14.000
14.500
15.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001Gráfico 2
Em
milh
õe
s d
e d
óla
res
9
Europa. Estes tempos não foram fáceis para o comércio dos produtos argentinos. Em
1997 e 1998 a Ásia sofreu uma crise económica que a abalou profundamente e que
ainda hoje não foi ultrapassada. O Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina e
mantinha uma relação de paridade com o dólar que assegurava alguma estabilidade às
relações comerciais entre os dois países, no entanto em 1999 o Brasil desvaloriza o real
face ao dólar e em 1999 o saldo da BTC com o brasil diminui 89%. A desvalorização do
real face ao dólar foi fatal para a economia Argentina, os produtores argentinos não
conseguiram vender para o brasil, os brasileiros aumentaram as suas vendas para a
Argentina e os produtores internacionais que estavam sediados na Argentina
deslocalizaram as suas unidades produtivas para o Brasil. Na Europa, na última metade
da década de 90, surge um problema de saúde pública com repercussões económicas
importantes que indirectamente vai afectar as exportações argentinas, a febre das vacas
loucas vai afectar o consumo de carne na Europa, afectando naturalmente as
exportações argentinas, e, por outro lado o dólar valoriza-se face às principais moedas
europeias encarecendo as exportações argentinas a facilitando as exportações europeias.
Podemos então concluir que a conjuntura internacional não foi boa para a Argentina,
mas provavelmente, a Argentina não tinha estrutura económica para a política monetária
que escolheu.
Se conjugarmos a diminuição do consumo com o aumento da taxa de desemprego e
com a degradação da balança comercial, podemos concluir que a Argentina está numa
crise profunda interna e externa, que os comportamentos irracionais3 dos indivíduos
perante uma situação de crise económica vão certamente agravar essa mesma crise. Isso
já aconteceu, com a saída em massa de capitais e com a emigração depauperando a
força produtiva do país.
3 As políticas económicas da Argentina na última década
3.1 As políticas económicas de Carlos Menem e Domingo Cavallo
Em 1990 o presidente Carlos Menem lança o Plano de Convertibilidade que consiste
basicamente na ancoragem do peso ao dólar numa relação de paridade de um para um.
Este mecanismo permitiu o controlo da inflação. Mas Menem não só instituiu a
3 J. M. Keynes
10
paridade com o dólar como lançou um programa de privatizações que permitiu a
abertura da economia ao estrangeiro, conseguindo entradas significativas de capital
estrangeiro atraídos não só pelas condições económicas locais, mas também pela
paridade com o dólar. Pois os investimentos não acarretavam riscos cambiais apenas um
risco político que muitos pensavam ser controlado através da exposição internacional da
economia Argentina. No início, tudo parece correr bem e Domingo Cavallo ministro da
economia argentino é considerado um mago das finanças(4). Tinha descoberto o ovo de
Colombo.
Para compreendermos melhor o plano de convertibilidade vamos resumir três conceitos
essenciais para estudarmos a escolha Argentina. São mecanismos cambiais que existem
actualmente e que se encontram a funcionar em vários países.
3.1.1 Currency Board
Este sistema é definido pela cobertura integral da base monetária do país por activos
numa moeda externa que vai servir de âncora, e uma relação de paridade fixa com essa
moeda. A instituição monetária central não pode refinanciar os bancos de segunda
ordem, obrigando que esses bancos fiquem dependentes do saldo de transações
correntes e da sua capacidade de financiamento externo. Para que a economia possa
crescer, assegurando a liquidez necessária ao sistema financeiro, e de alguma forma,
proteger-se contra ataques especulativos é necessário que a Balança de Transações
Correntes do país seja estruturalmente superavitária, e, a sua Balança de Operações Não
Monetárias seja no mínimo equilibrada e tendencialmente superavitária. Para que estas
situações aconteçam são necessárias pelo menos três condições de base, níveis de
produtividade e competitividade internacional superiores ou iguais à dos seus parceiros
comerciais, disciplina orçamental e restrições à livre circulação de capitais. Falhando
um destes pilares a liquidez da economia será drenada, implicando a insolvência do
sistema financeiro e a falência do modelo.
3.1.2 União monetária
É o que acontece na UE com o euro em que dois ou mais países partilham a mesma
moeda, no entanto, existe uma actuação conjunta dos bancos centrais na formulação da
política monetária. Não há lugar à renúncia da soberania monetária mas sim partilha da 4 Executive Digest, Janeiro de 1999
11
mesma. Implica livre circulação de mercadorias e capitais, tal como a liberdade de
estabelecimento e de prestação de serviços.
3.1.3 Dolarização
O termo foi criado em relação ao dólar mas pode ser utilizado para qualquer outra
moeda, e basicamente define-se como a substituição da moeda nacional pelo dólar, não
sendo necessário o consentimento do país que fornece a moeda âncora. Não é
necessário, no entanto, é desejável.
Pois caso não exista um acordo o país que fornece a moeda fica com todos os ganhos de
senhoriagem. O país dolarizado fica impotente quanto a uma actuação, no âmbito da
política monetária, do país que fornece a moeda, que pode ser contrária às suas
necessidades.
3.2 A escolha da Argentina
Mas se formos analisar o sistema utilizado pela Argentina verificamos que não é
nenhum dos mencionados. Assemelha-se a um currency board, no entanto diverge num
ponto essencial. A actuação do Banco Central. O Banco Central Argentino continuou a
refinanciar os bancos de segunda ordem e estes dados são fornecidos pelo próprio banco
central (em anexo) que apresenta um aumento dos recursos monetários globais entre
1995 e 1999 de 66.63%!
O que aconteceu?
O problema tem que ser analisado de uma forma cuidada e devem ser separadas as
operações especulativas internacionais, do crescimento económico argentino durante a
década de 90 do século passado.
3.2.1 Os movimentos especulativos
Os investidores internacionais com uma taxa de juro de cerca de 10 % durante o período
de 1995 a 2000 e com uma taxa de câmbio fixa com o dólar foram atraídos para o
sistema financeiro argentino. Um montante considerável de liquidez que procurava
elevada rendibilidade com um baixo risco, foi “aplicado” na economia argentina, só
que essa mesma liquidez desapareceria ao mínimo indício, de desvalorização do peso ou
de instabilidade económica. Assim e durante algum tempo estiveram na Argentina
vários milhares de milhões de dólares que fomentaram o crescimento via sistema
financeiro, e do crescimento que este sistema aportava à economia, no entanto, esta
12
situação estava apoiada numa arquitectura frágil que poderia a qualquer momento
desacreditar o próprio sistema financeiro argentino. Bastava para isso que os
investidores estrangeiros retirassem os seus depósitos e investimentos em dólares para
ser decretada a insolvência da banca argentina.
3.2.2 O crescimento económico da Argentina
Durante a década de 90 a Argentina regista um crescimento médio do PIB superior a
5%, este crescimento deve-se essencialmente pelo investimento directo estrangeiro via
privatizações. Faltou, no entanto, a consolidação desse crescimento através da melhoria
dos níveis de competitividade da economia argentina com os seus parceiros comerciais,
competitividade essa, que era essencial para a manutenção de uma relação de paridade
com o dólar.
3.3 Um breve relance das contas públicas argentinas
Analisando as contas publicas argentinas(5) verificamos que durante a segunda metade
da década de 90 o déficit público aumentou, essencialmente, através das transferências
para as províncias e do aumento dos encargos com a dívida pública, estes duplicaram
em 5 anos(6), a dívida pública aumentou ao longo dos anos, mas é sobretudo para a
emissão de obrigações e títulos em moeda estrangeira que é canalizada a dívida pública.
Estes dados revelam por um lado uma derrapagem orçamental crónica, motivada pela
falta da disciplina orçamental e por uma política central dependente das províncias,
originando uma grave descoordenação da política orçamental.
O aumento da dívida titulada em moeda estrangeira é talvez a consequência da política
monetária e orçamental da Argentina. O país precisa de moeda estrangeira para manter
o seu regime cambial, no entanto, a sua competitividade vai eliminando a liquidez do
sistema financeiro, o Estado gasta mais do que pode, e por isso a solução será a emissão
de dívida titulada em moeda estrangeira pagando um prémio cada vez maior no final de
2000 a taxa de retorno da dívida pública argentina era de 15 % (?) implicando um
aumento dos encargos com a dívida, e sem resposta efectiva para esse aumento.
5 Saldo de la deuda pública, por tipo de deuda y credor ( Fuente: Ministerio da Economia, Secretaria de Hacienda) Ejecución del pressupuesto del Sector Público Nacional, en valores corriengtes. ( Fuente: Ministerio da Economia, Secretaria de Hacienda) 6 Esta conclusão não pode ser analisada de uma forma linear, pois os dados foram apresentados a preços correntes, no entanto, dá-nos uma percepção da variação, pois a análise é relativa.
13
3.4 As medidas de Duhalde para a crise
Em primeiro lugar o executivo criou um complexo sistema cambial que utiliza dois
mercados, um para operações de exportação e importação e algumas operações de
capital, com um câmbio de 1 USD = 1.4 Pesos, as restantes operações cambiais seriam
realizadas num sistema de câmbios flutuantes. Foi instituído o sistema de corralito que
consistia na limitação dos levantamentos dos depositantes do sistema financeiro. Foram
congelados os despedimentos e foram anunciados um conjunto de promessas no âmbito
da criação de postos de trabalho.
3.5 A ajuda do FMI
Será que os empréstimos do FMI à Argentina vão ajudar a resolver a crise da
Argentina?
Os empréstimos do FMI à Argentina vão servir para honrar os compromissos com os
credores internacionais, credores que estavam a ser remunerados a uma taxa com um
prémio de cerca 10%. Existia um prémio de 10 % porque os credores só se dispunham a
compra títulos da dívida Argentina se esses títulos rendessem mais 10% do que os
títulos da dívida pública do EUA (por ex.), o prémio era para cobrir o risco de
incumprimento, por parte do emissor da dívida. Então se o emissor se declarar
insolvente os credores estavam avisados do risco que corriam quando compraram esses
títulos, pois caso contrário, não exigiriam 10% de prémio.
No caso de o FMI emprestar o dinheiro suficiente à Argentina para cobrir os
pagamentos, os credores (especuladores) vão ser reembolsados e continuarão a investir
em mercados economicamente deficitários, pois, têm a garantia do FMI do reembolso
dos seus investimentos.
No caso do FMI não socorrer a Argentina o país vai declarar a insolvência e,
consequentemente, não vai conseguir atrair investimento estrangeiro nos próximos
tempos. Poderá sofrer algumas sanções internacionais, no entanto, o povo argentino irá
certamente sofrer com essas sanções, e será o mais prejudicado.
14
4. Conclusões
Vários economistas propuseram algumas soluções para a crise Argentina, neste ponto
vou apresentar algumas soluções desses economistas, e a minha modesta opinião.
Concordo com a desvalorização do peso e da criação de uma união monetária com o
Brasil defendida por Jeffrey Sachs, quanto ao pagamento da dívida externa e ao
cumprimento das obrigações internacionais, devem ser acautelados os credores
internacionais mas com um pagamento desfasado no tempo, devem adiar-se os
pagamentos a uma taxa de juro igual a da reserva federal americana. A ajuda do FMI só
poderá ser aceite caso mude a sua política restritiva da despesa pública pois este não é o
momento oportuno para diminuir a despesa pública Argentina, muito pelo contrário, a
Argentina necessita de um empurrão económico e cabe neste momento ao governo
Argentino impulsionar a economia com despesas de investimento que criem riqueza.
Essas despesas devem ser canalizadas para vários sectores sociais e económicos, no
entanto, a sobrevivência de qualquer povo, nos dias de hoje, depende do grau de
escolarização e de desenvolvimento tecnológico dos seus recursos humanos, pelo que é
fundamental investir na educação tecnológica e na fomentação da investigação, para que
o país alcance níveis de competitividade que sustentem por si só a economia Argentina.
Devem ser controladas as despesas das províncias, impedindo o despesismo eleitoral
que só serve para afundar a economia, e o grau de endividamento de cada província.
Quanto ao congelamento dos despedimentos, é uma medida desnecessária que só vai
atrasar a recuperação da economia, vai impedir que as empresas se adaptem aos tempos
da crise, empurrando-as para a falência. É uma medida populista que vai acabar por
prejudicar mais os trabalhadores. Uma alternativa seria o lançamento de um conjunto de
medidas de incentivo à criação de empresas e de emprego. Esta tem sido uma política
utilizada na União Europeia, muito criticada pelos EUA, mas, na minha opinião, as
políticas de apoio à criação de empresas em sectores estratégicos são determinantes para
o desenvolvimento e coesão social de um país.
E mais importante do que tudo deve ser eleito um governo competente e honesto que
consiga levar a bom porto tão grande nau. Séneca dizia que sem bons marinheiros por
muito bom que seja o piloto nunca se chega a lugar nenhum e que sem um destino, por
muito bom que o vento esteja também nunca chegaremos a lugar nenhum.
15
Parte II
Os Investimentos Nacionais na América do Sul
1. Introdução
A actual situação sócio-económica da Argentina serviu de base à elaboração deste
trabalho, tentei, utilizando os conhecimentos adquiridos sobre Finanças Internacionais
estudar o problema Argentino, e as implicações deste na economia Portuguesa.
Nos dias de hoje, a cobertura de risco cambial é uma ferramenta que está ao alcance de
qualquer empresa que transaccione internacionalmente. Será então interessante verificar
que mecanismo de cobertura é mais utilizado, e, quais as empresas que mais utilizam a
cobertura do risco cambial.
Analisando o investimento directo das empresas portuguesas no estrangeiro, durante o
período 1979-1998(7), verificamos que uma grande parte 43.29% foi direccionada para
dois países, Espanha e Brasil. Estes dois países são dos maiores parceiros comerciais
que a Argentina tem, o Brasil é o maior parceiro comercial da Argentina e a Espanha
ocupa o sexto lugar .
A recessão que afecta a economia Argentina tem reflexos importantes nas economias do
Brasil e de Espanha, afectando obrigatoriamente os investimentos portugueses nestes
países. Tem ainda uma repercussão importante nos países que constituem o
MERCOSUL (Uruguai, Paraguai, Argentina e Brasil) que pode arrastar estes países
para uma crise profunda através do efeito de bola de neve. E uma crise no
MERCOSUL, vai se alastrar à UE, NAFTA e APEC, isto é, ao mundo inteiro, à boa
maneira da globalização.
Ao nível micro-económico, as empresas portuguesas poderão ver os seus recebimentos
internacionais em causa, bem como, o retorno dos seus investimentos. Uma situação
que poderá ser preocupante tendo em conta o montante dos investimentos portugueses
no estrangeiro nos últimos anos.
7 Fonte : Banco de Portugal
16
2. Amostra
Para servir de amostra para o estudo foram contactadas as empresas que constituem o
índice PSI 30 através de contacto por correio electrónico para o gabinete de apoio ao
investidor. Desta forma não foram contactadas as empresas, SAG, Teixeira Duarte,
Cofina, Corticeira Amorim, Jerónimo Martins, Mota-Engil, Soares da Costa, Semapa e
Ibersol. Forma contactadas 21 Empresas (BCP, BANIF, BES, BPI, Pararede, Portucel,
Somague, Sonae SGPS, Sonae.com, Sonae Indústria, Modelo Continente, Brisa,
Cimpor, CIN, EDP, Impresa, Inapa, Portugal Telecom, PT Multimédia, Vodafone e
Novabase)
3. Objectivos
As empresas contactadas forma confrontadas com uma questão acerca da cobertura do
risco cambial nos investimentos efectuados na América do Sul. O objectivo deste
“inquérito” tinha uma dupla intenção a primeira era a de verificar qual o instrumento de
cobertura do risco cambial preferido pelas empresa nacionais a segunda era mais
modesta e tentava-se testar a sensibilização das empresas nacionais para a problemática
do risco cambial.
4. Conclusões
Não podemos estar contentes com os resultados obtidos, e forçosamente teremos que
reformular a nossa estratégia de contacto com as empresas caso queiramos aprofundar o
nosso estudo. Mesmo assim podemos retirar algumas conclusões que, objectivamente,
não podem ser ignoradas; a primeira conclusão que podemos retirar, é que mesmo
empresas que figuram num dos principais índices bolsistas nacionais e têm uma
dimensão bastante razoável não estão sensibilizadas para a economia digital e para as
vantagens da internet na comunicação e divulgação das empresas.
A segunda conclusão é retirada pelo reduzido número de respostas o que demonstra
uma cultura empresarial virada para o umbigo das empresas dando pouca importância
ao mercado e aos pequenos investidores. É preocupante que empresas como a PT e
Sonae não tenham sequer respondido à questão que lhes foi colocada, e que a EDP,
embora tenha assinalado a recepção da mensagem, não tenha respondido ao fim de seis
meses.
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A terceira conclusão é retirada das duas respostas (em anexo) que demonstram que as
empresas nacionais não utilizaram qualquer mecanismo de cobertura do risco cambial
demonstrando a fraca sensibilização dos gestores portugueses para a gestão
internacional, demonstrando mesmo alguma falta de preparação para a gestão financeira
internacional.
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Bibliografia
Landes, David S. – A Riqueza e a Pobreza da Nações – Edições Gradiva
Atlas Enciclopédico Mundial - Dorling Kindersley
Casalinho, Cristina – Os Dilemas da Argentina – Economia Pura, Março de 2002
Soares da Fonseca, J. A. – O duopólio monetário – Economia Pura, Janeiro de 2001
Palhinha Machado, A. – To dolarize or not to dolarize – Economia Pura, Abril de 2002
Sachs, Jefrey – O Erro Argentino – Economia Pura, Dezembro de 2000
Sachs, Jefrey – A Armadilha Argentina – Economia Pura, Julho/Agosto de 2001
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Anexos