A ALMA DO BOI PRETO

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Nesta obra, o escritor "SABÁ" relata fatos horripilantes e macabros narrados repetidas vezes por moradores de uma determinada região no município de Cristina Minas Gerais, mais precisamente nas proximidades do bairro " Vargem alegre no cruzamento para Olímpio Noronha, na tão famosa "PONTE PRETA" onde eles sempre consideraram um reduto de fantasmas. Alguns afirmam ter presenciado fatos, e outros apenas ouviram com muito espanto, mas, todos aprenderam a conviver tranquilamente com esses espectros. Confira você mesmo.Sérgio A. Zaina

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A ALMA DO BOI PRETO

Apesar de muito tempo já ter passado, ainda

lembro com muita clareza que, quando morava na

roça, em uma fazenda no bairro da Cachoeirinha no

município de Cristina, sul de Minas Gerais, apareceu

inesperadamente e inexplicavelmente bem lá no alto

da serra, no finalzinho mesmo da propriedade do Sr.

Joaquim Alves, um pequeno bezerro preto da cor do

carvão, muito feio, mal encarado, diferente de tudo

que se tinha visto até então em matéria de bezerro. E

por isso ele se contrastava com o rebanho da

propriedade de maneira tão óbvia, tão espantosa,

que todos que passavam por ali notavam logo a sua

presença. E chegavam a dar uma paradinha para

observá-lo: de longe é claro. Ele nunca conseguia

agradar ninguém, ficava sempre isolado, olhando

torto para as pessoas, encarando-as de maneira

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intimidatória, e nunca chegava perto do curral. E

quando alguém ameaçava aproximar-se, ele

ameaçava partir pra cima. As únicas pessoas a quem

ele demostrava não ter nenhuma aversão, era o Sr.

Joaquim Alves, que, por alguma razão “quase

inexplicável”, parecia saber que era o dono da

propriedade. E também uma senhora idosa de cor

negra cujo nome era Cula. Mas as pessoas da época,

na sua simplicidade, tinham o costume de tratar as

outras de: Sá Maria, Sá dita, Sá Ana, Seu Zé, Seu

Antônio, e a chamavam de “Sacula” ao invés de

Senhora ou Dona Cula. A Sra. Cula, ou Sacula, era

uma pessoa muito humilde, prestativa, caridosa e

muito querida por todos. Ela era a parteira,

benzedeira, rezadeira, torradora de café, fazedora de

sabão e lavadora de defuntos na região. Sem falar

que era muito religiosa e encarava o sobre natural

com muita naturalidade, tinha muita familiaridade

com o mundo dos mortos e muito respeito pelos

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espíritos com os quais tinha muita intimidade. E isto

dava a ela o direito de falar a respeito de tudo sobre

eles. E ela falava para as pessoas:

Olha gente, este bezerro não é exatamente o que

parece ser. E vocês, ao invés de odiá-lo, respeitem-no

e fiquem longe, ignore-o e tenham pena. Ele é com

certeza a alma de alguém que sofreu muito nesta

região, possivelmente um negro ou até mesmo um

branco que tenha sido muito humilhado, maltratado

e privado dos mínimos prazeres da vida, e agora

voltou, não para se vingar ou fizer mal a alguém,

desde que não mexam com ele. Ele só quer fazer o

que nunca pôde fazer antes: ter liberdade, andar de

cabeça erguida sem medo e sem dar satisfações a

ninguém. Portanto é um animal comum que está

sendo usado por uma infeliz alma penada. E mesmo

que ele morra, esta alma vai permanecer por aí por

muito tempo.” É claro que ela não usou exatamente

estes termos, pois era uma senhora muito simples,

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possivelmente descendente direto de escravos,

provavelmente analfabeta, dada as suas condições e

as dificuldades da época. Mas, no seu linguajar

simples, era bastante enfática e convincente e por

isso todos a ouviam, acreditavam e respeitavam, pois

era muito experiente, sábia e verdadeira. Dessa

forma então, o bezerro permanecia inabalável e

intocável. E, apesar do seu pequeno porte, todos o

temiam e preferiam manter-se afastados e bem

longe para não correr risco. O Sr. Joaquim Alves

sempre o observou com reserva e esperou que

alguém o reclamasse e o levasse embora para alivio

de todos, mas isso nunca aconteceu. Apesar do

esforço do Sr. Joaquim em conversar com todos os

fazendeiros vizinhos pra saber se o tal animalzinho

pertencia a algum deles, só ouvia:

— Não! Não é meu! Nunca vi.

A impressão que dava, era que, mesmo que

fosse de algum deles, eles não admitiam ou não o

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queriam. O bezerro era realmente um rejeitado. Todo

rebanho o ignorava. Nenhuma vaca ou bezerro se

juntava a ele. Mas ele também não se interessava e

reinava absoluto e acompanhava à distância o

rebanho, sempre de cabeça erguida, majestoso e

observava tudo.

Mesmo quando estava de cabeça baixa,

pastando, ele não baixava nem fechava os olhos: ele

baixava a cabeça, com os olhos virados para cima e

para os lados o tempo todo. Era desconfiado ao

estremo.

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E dessa forma ele foi crescendo e crescendo

sem nunca mudar suas características físicas, sua cara

feia e sem fazer amizade com ninguém. Certo dia,

porém, quando já havia se transformado em um

novilho, para surpresa de todos, ele simplesmente

desapareceu como num passe de mágica, deixando

todo mundo intrigado, perplexo, e perguntando:

— Onde ele está? Como Pode sumir assim?

— Credo gente, este animal só pode ser

mesmo coisa do outro mundo, ele é estranho demais.

E isso aumentava ainda mais o medo nas pessoas que

não entravam em suas casas sem antes alguém fazer

uma vistoria geral. E na tentativa de descobrir alguma

pista, o Sr. Joaquim Alves reuniu todos os campeiros

da vizinhança e começaram a percorrer as cercas da

propriedade e tentar descobrir por onde ele havia

saído. E esta foi, então, mais uma grande e

desagradável surpresa para todos: não havia um só

fio de arame rompido em toda extensão das cercas

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da propriedade, que indicasse a sua fuga por ali. E

alguém comentou enfaticamente:

— Bem, sair do pasto ele não pode ter saído!

Nenhum animal consegue sair sem deixar vestígio.

Sou campeiro a minha vida toda e nunca vi isto.

Vamos revirar cada canto, cada grota, cada caverna,

cada casa velha abandonada e esmiuçar a mata de

ponta a ponta. Ele tem que estar por aí. Só se ele for

invisível. E assim foi feito. Porém, depois de seguirem

todos os procedimentos de busca, constatou-se

enfim, para a desagradável surpresa de todos, que

realmente o animal havia evaporado deixando todo

mundo encafifado e sem entender nada. Nisso, muito

assustado, um campeiro mais jovem comentou:

— Olha gente, quando estava lá dentro da

mata, senti um arrepio, e mesmo não vendo nada de

lado algum, tive a impressão que ele me observava.

Fiquei de cabelos em pé, e saí depressa da mata.

— Credo gente! Que horror!...Que coisa mais

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estranha!

— Éh, Eu é que não entro mais sozinho

naquela mata nem que me paguem.

E assim o tempo passou! Mas ninguém

conseguiu esquecer aquele animal. Aquela expressão

horripilante ainda estava viva na memória de todos.

Depois de muito tempo porém, quando as pessoas já

pareciam ter conseguido esquecer, eis que numa

noite de grande escuridão e profundo silêncio,

quando todos pareciam dormir o sono dos justos, um

mugido forte, mais tão forte que se podia ouvir a

quilômetros de distância, quebrou o silêncio ecoando

por todo vale, entrando nos ouvidos, chegando até a

alma das pessoas que estremeceram e ficaram sem

entender nada, nem ter como saber o que estava

acontecendo porque ninguém ousava abrir a porta e

nem mesmo um pouquinho da janela.

As crianças levantaram correndo de suas

camas e foram para a cama dos pais em busca de

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segurança. E ali ficaram todos juntinhos um do outro

e não mais conseguiam dormir, e, se dormiam, o

sono era intermitente, agitado, e só torciam para que

o dia amanhecesse logo pondo fim naquela noite

tenebrosa que jamais seria esquecida. Algum tempo

depois, após tanta agonia, medo, e curiosidade,

finalmente o alívio: os galos começaram a cantar, e

alguns passarinhos a gorjear. Era começo de inverno,

a manhã estava fria, a brisa soprava suavemente, e

no horizonte já se dava sinal de despontar os

primeiros raios de sol ainda verticais e pouco

perpendiculares. Do chão, dissipava uma leve neblina

como se fosse um delicado e quase imperceptível

cândido véu.

A relva verde amarelada, característica típica

da época, exibia o prateado e gelado rocio da noite.

Entre o curral e as casas, corria um belo riacho com

suas águas cristalinas que murmurante desciam da

serra, serpenteando por entre as pedras formando

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lindas e longas cascatas que se pareciam véus de

noivas, e se arrastavam até chegar à planície

desembocando no rio que, da mesma forma,

serpenteava ao longo de sua extensão onde se podia

ver a suave neblina que dele evaporava subindo

lentamente para o espaço num movimento quase

imperceptível. Era uma paisagem dígna de uma cena

de romance se não houvesse nela um contraste tão

obvio e tão negativo para desviar a atenção das

pessoas que, assim que perceberem que o dia já

estava amanhecendo, pularam quase que

simultaneamente de suas camas, ansiosas e curiosas

para ver e saber o que havia ocorrido durante a noite

e que causou-lhes tamanho susto. Pena que, de tão

assustadas que ainda estavam, não conseguiam

prestar atenção em tanta beleza. Ao depararem com

o lado negativo do lindo cenário, ficaram

boquiabertos e mais assustados ainda. Pois ali, em

pleno cenário, como se fosse o ator protagonista da

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cena de terror, estava o boi preto em pé, encima do

barranco, sozinho, isolado do rebanho, como sempre,

todo majestoso como se fosse o dono daquele

império, olhando para o rebanho lá embaixo próximo

do curral e para as pessoas que o olhavam com muito

espanto.

Foi aí que as pessoas entenderam que aquele

aterrador mugido que ecoou por todo vale no meio

da noite, assustando e despertando todo mundo, era

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para anunciar a sua triunfante volta, sua chegada, e

ninguém ousaria enfrentá-lo. A sua expressão era

ainda muito mais assustadora que antes porque

agora ele não era mais um bezerrinho. E com o seu

súbito e inexplicável reaparecimento, mais uma vez

todos percorreram as cercas da propriedade e

constataram que da mesma forma que ele

desapareceu, ele apareceu: do nada, sem romper um

só fio de arame.

Ele se transformou em um boi preto (é

logico) bastante grande e ainda mais feio que antes:

era o cão quando está com o cão. Sua expressão era

tão assustadora que causava medo em todo mundo.

Diante do seu gigantismo e da

sua postura, o rebanho de gado ficava parecendo um

rebanho de cabras. Normalmente nos pastos onde

ele estava, as pessoas passavam por longe e bem

depressa, principalmente as crianças que tinham

pavor quando ele ficava olhando direto para elas.

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Ainda me lembro, como se fosse ontem, de que só a

expressão desse animal já era mais que suficiente

para provocar arrepios e gelar o sangue de qualquer

um. Infelizmente, somente o proprietário da fazenda,

o Sr. Joaquim Alves, e seu filho Lourenço, tinham o

poder de decidir sobre o destino do tal animal de

forma viável e decente. Então Lourenço apresentou

ao pai uma ideia que para ele parecia viável, dizendo:

— Papai, porque não procuramos uma

pessoa que tenha bastante experiência e coragem o

suficiente para tentar domesticá-lo? Ele é grande e

forte. Se domado e domesticado poderá ser muito

util. Nisso, o pai olhou para ele, sorriu e acatou a

idéia:

— Sabe que você pode ter razão? Já sei de

alguém que é exatamente como você falou: lida com

bois desde criança, é experiente, tranquilo e ara

terras para todos os agricultores da região.

— Ah, já sei até quem é!... É o Sr. Joãozinho

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Mira não é?

— Exatamente! Acertou na mosca. Dê uma

corrida até a fazenda dele e traga-o aqui, quero

conversar com ele. Algum tempo depois, Joãozinho

Mira chegou. Cumprimentaram-se alegremente

como eram sempre e foram ao que realmente

interessava: o boi. Após conversarem bastante sobre

o que poderia ou não ser feito, Joãozinho Mira, para

fazer um teste preliminar, tentou dissimuladamente

aproximar-se do animal para vê-lo mais de perto e

sentir sua reação, mas foi em vão. Aos primeiros

passos que deu, o boi levantou ainda mais a cabeça

exibindo seus longos chifres, encarou-o de maneira

intimidatória, jogou o rabo nas costas e ameaçou

partir pra cima.

Não foi preciso! Joãozinho Mira era

experiente demais e entendeu logo a mensagem

retirando-se rapidamente dali, e depois argumentou:

— É, meu amigo Joaquim, o senhor sabe

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muito bem que eu lido com bois desde criança, e já

peguei animais bem difíceis de lidar, mas não me

atreveria a lidar com este. Não por medo. É porque

ele não é apenas grande e bravo, ele é tinhoso,

valente, misterioso, independente e o que é pior: tem

instinto assassino. Portanto, o melhor a fazer é

ficarmos longe dele e sempre precavidos como

estamos fazendo agora. Se eu tentar domá-lo, ele vai

me dar muito trabalho, vai estragar minha boiada,

pode machucar ou até matar alguém. E assim sendo,

o melhor a fazer é livrar-se dele. Porque o senhor não

o vende para o matadouro?

— Não! Não posso! Primeiro porque ele não

me pertence, apareceu em minha propriedade como

todo mundo sabe. E eu espero que alguém ainda

venha reclamar sua posse. E o que é pior: se ele for

para o matadouro, do jeito que ele é ruim, é bem

capaz das panelas explodirem quando tiver

cozinhando sua carne, hahahaha!

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E, com este comentário, todos gargalharam,

quebrando um pouquinho aquele clima tenso, e

porque não dizer... tenebroso? E depois se

despediram sem chegar a nenhum acordo. Mas para

o Sr. Joaquim, a conversa com o amigo Joãozinho

Mira foi bastante esclarecedora e proveitosa. E assim

o tempo foi passando sem que ninguém aparecesse

para reclamar a posse do animal. O povo cada dia

mais com medo e até sem liberdade para andar

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livremente por ali, e o Sr. Joaquim sem conseguir

nenhuma solução para o caso em si. E assim os dias

foram passando e passando, até que num belo dia,

porém, para a agradável surpresa de todos,

aconteceu o que ninguém poderia imaginar: não se

sabe ao certo se o animal foi picado por alguma

cobra venenosa (o que era muito comum na região)

ou talvez tenha comido a tal erva de rato, ou o feijão

bravo (vegetais muito venenosos dos quais nenhum

animal escapa com vida após ingeri-los). Ele

amanheceu estirado no chão, morto, muito estufado

quase duplicando o seu tamanho, os olhos bem

arregalados e uma expressão bastante macabra. Ele

morreu ali, bem próximo do curral, que também

ficava bem próximo da sede da fazenda e das demais

casas.

E assim, diante de tantas dúvidas, foi preciso

alguém se aproximar e ficar cutucando-o com uma

vara bem comprida sem chegar perto. E depois

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confirmou:

— Podem ficar tranquilos, ele está realmente

morto!

— Pois é! Como disse a Sacula, ele pode até

morrer, mas, o espírito dele vai continuar por aí.

— Então é bom a gente não facilitar, não é?

— É! Eu também acho!

E só depois de verificar com segurança e se

constatar que o animal estava realmente morto, o

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que seria um alívio para as crianças, (e também para

os adultos), as pessoas muito ressabiadas arriscaram

o que antes nunca foi possível: dar uma olhadinha

um pouco mais de perto. Outros preferiam continuar

olhando de longe. Alguns trepados nas cercas de

tábuas do curral, outros encima dos barrancos

próximos, outros trepados nas árvores em volta.

E assim todos, cada um do seu jeito, pôde fazer o que

antes era impossível. Só que agora aquele animal não

podia continuar ali, tinha que ser removido o mais

depressa possível para que as pessoas ficassem livres

daquele pesadelo. E para removê-lo, o Sr. Joaquim

Alves precisou da intervenção do amigo Joãozinho

Mira que prontamente atrelou um conjunto de

quatro juntas de bois, ou seja: oito bois bem fortes

acostumados a puxar arados e tirar carros dos

atoleiros, e deixou a disposição do amigo que

juntamente com seu inseparável filho Lourenço e

mais alguns companheiros, o levou arrastado para ser

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enterrado numa cova bem funda (como se isso

bastasse para desaparecer com ele) lá no bairro da

Mutuca.

Antes de enterrar o animal, Lourenço sugeriu

ao pai:

— Papai, este animal é bastante grande,

porque não tirarmos o couro dele? Vai dar para

cobrir cangalhas, fazer vários laços, cabrestos, buçais

e muitas outras coisas que nos seriam muito úteis, o

senhor não acha?

— Não! Melhor não! Do jeito que este boi já

nos surpreendeu e nos assustou a todos com suas

súbitas aparições e desaparições, eu não duvido nada

que mesmo depois de morto e enterrado bem fundo

ele ainda nos surpreenda mais uma vez aparecendo

vivo por aí! Vamos enterrá-lo inteiro, não quero que

fique nada dele para nos lembrar, exceto o que já

está na nossa mente, o que é impossível esquecer.

— Credo papai, assim o senhor está me

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assustando!

— Não! Estou apenas querendo ser realista. E

vamos logo enterra-lo e acabar com isso.

— Está bem papai! O Sr. Está certo! Vamos lá

gente, toquem a boiada.

E assim, com ele morto e enterrado numa

cova bem funda, as pessoas já podiam sentir-se

aliviadas. E mesmo assim não levou muito tempo

para que dele começasse a exalar o fortíssimo e

desagradável mau cheiro que impregnava o ar de tal

forma que chegava a arder às narinas das pessoas, e

com isso atraindo grande quantidade de urubus que

o desenterraram e começaram a se banquetearem,

demonstrando assim grande satisfação dando seus

vôos em círculos, mergulhando na corrente de ar

como se fossem jatos em acrobacias aéreas, e às

vezes planando e pairando por longos tempos.

Nunca se havia visto na região aparecer

tantos urubus e com tanta rapidez. Parecia que os

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urubus do mundo todo estavam ali para a festa, a

convite do próprio defunto (o boi). De longe as

crianças observavam aquele movimento de vai e vem

da imensa quantidade daquelas aves pretas e

comentavam entre si:

— Nossa! Os urubus estão comendo o boi

preto. Eles não têm medo né? Será que o boi tem

alma mesmo?

— Não sei não! Mas... deve ter sim!

— É, deve ter sim! E deve ser muito feia.

— Será que ela já foi embora pro outro

mundo? Ou ainda está por aqui?

— Credo, eu já tô é morrendo de medo só de

pensar.

— Ué, você é homem ou não é?

— Sou! Claro que sou! Mas não sou fanático

e sinto medo, você também não sente?

— Ah, desculpe, foi só uma brincadeira! Eu

também tô morrendo de medo!

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— Olha! Vocês já perceberam que o céu tá

ficando nuviado e muito escuro?

— Sim, tô! Mas não é nuviado que se fala, é

nublado.

— Ah, não importa se está nuviado ou

nublado, mas que tá ficando feio tá! E eu é que não

vou ficar nem mais um minuto aqui!

— Aaaaaaah! Vamos ficar só mais um minuto,

quem sabe se a gente ainda consegue até ver a alma

do boi subindo pro espaço!

— É, mas a gente não sabe se ela vai subir ou

descer não é?

— É! Nisso aí você tá certo! Mas vamos

esperar mais um pouquinho pra ver!

— Ver? Com toda aquela nuvem negra? Só se

a alma dele fosse branca, o que eu duvido muito!

— Hummm, tá um fedor aqui, não tá?

— Não fui eu, eu juro!

— Ah, não estou falando disso. Estou me

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referindo ao mau cheiro no ar!

— Hummm! É verdade, tá mesmo!

— Do que será que ele morreu, hein?

— Ah, vai ver que estava com a doença da

vaca louca.

— Uái, mas isso não pode ser! Ele é boi.

— É, mas a doença da vaca louca dá em boi

também! Não dá?

— Ah... Não sei! E vocês estão falando

bobagens demais, vamos ficar quietos um pouco e

ficar observando se a alma do boi vai subir ou não.

— Gente, ela não vai subir e nem descer!

— Ué, como é que você sabe disso?

— Uái, eu sei porque escutei a Sacula falando

que mesmo que ele morra, a alma dele vai continuar

por aí.

— Credo gente! Que arrepio que eu senti! Eu

não sabia disso.

— E nem eu! Vai ver até que ele está por aí

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bem pertinho observando a gente!

— Credo! Não quero nem pensar nisso!

E com isso, enquanto eles confabulavam a

respeito da existência ou não da alma do boi, uma

vaca recém-parida deu um longo, forte e rouco

mugido em um grande arbusto bem atrás deles, o

que foi mais que suficiente para que ficassem

arrepiados, de cabelos em pé e pernas bambas. E

saíram todos em disparada, tropeçando, caindo,

atropelando e acotovelando um ao outro até

entrarem em suas casas buscando abrigo e segurança

ao lado dos pais. E os pais ao perceberem que

estavam ofegantes e pálidos, procuraram logo

acalmá-los e até mesmo dar a eles um chazinho de

hortelã, erva cidreira e outros inofensivos, porém,

eficazes calmantes. Mas passaram a partir daí, a

pregarem a real existência da alma do boi preto para

chantageá-los e assim controlá-los em suas constates

e quase incombatíveis reinações. Seus argumentos

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eram:

— Cuidado! Vocês têm mania de ir sozinho

brincar lá naquele barranco que, além de ser muito

perigoso e vocês se machucarem, a alma do boi preto

pode aparecer a qualquer momento porque ele

costumava ficar muito lá. E do jeito que ele era ruim,

garanto pra vocês que ele vai permanecer por ai por

muito tempo, e nos mesmos lugares que costumava

ficar.

Ao ouvir esses argumentos dos pais, as

crianças paravam, refletiam, analisavam, olhavam um

para o outro como quem diz:

— É! ...acho que eles têm razão!

E assim as crianças, receosas, evitavam ir

sozinhas na cachoeira, na lagoa, e enfim, vários

lugares onde causava muita preocupação aos zelosos

pais. E a partir dai então, de tanto os pais pregarem a

real existência da alma do boi preto para as crianças,

as crianças também passaram a pregar a mesma

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coisa para todos que por ali passavam ou apareciam.

Dessa forma a estória começou a ganhar uma

repercussão tão grande, que hoje a lenda ou ficção

ficou tão impregnada na cabeça das pessoas que, na

região, todos já admitem e pregam com veemência a

real existência desse “espectro”.

Hoje, muitos adultos confirmam

veementemente ter visto algo muito estranho

rondando as cercas dos pastos e observando as

pessoas que passam:

— É realmente um animal muito grande que

vai de pasto em pasto atravessando todas as cercas

como se elas não existissem e sem deixar rasto!

De fato! Quando o Sr. Joaquim falou que o

boi aparecia e desaparecia, e podia continuar

surpreendendo todo mundo até mesmo depois de

morto! Ele tinha razão. E o que a Sacula falou,

também se confirmou. Algum tempo depois ele foi

com um grupo de companheiros, equipados com

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ferramentas para aterrar o imenso buraco onde o boi

foi enterrado, para evitar que algum animal caísse

dentro dele. Ao chegarem ficaram muito surpresos e

assustados com o que viram (ou não que viram): os

restos mortais daquele grande animal haviam

desaparecido totalmente. Não havia um só osso no

interior do buraco e nem nas imediações, e nem um

sinal que indicasse que algum animal os tivesse

tirados dali. Um dos homens olhou bem destro

daquele grande buraco vazio, arregalou os olhos, se

benzeu, balançou a cabeça e:

— É!... Que coisa mais coisada hein?

— É! É verdade! Eu nunca vi uma coisa tão

coisada assim!

Então o Sr. Joaquim comentou com os

companheiros:

— Em se tratando desse animal, nada mais

me surpreende! Nem mesmo se ele aparecer vivo,

intacto na minha frente.

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Então uma das pessoas que com ele ali estava

balbuciou para os companheiros:

— Cruz credo! Eu é que não vou ficar nem

mais um minuto aqui!

E os outros compartilharam:

— Nem eu!

— E nem eu!

E assim um após outro, jogaram as

ferramentas nas costas e saíram às pressas.

O Sr. Joaquim, muito tranquilo sorriu:

— Fazer o que, não é?... Jogou a ferramenta

nas costas e se foi também.

Portanto, meu amigo leitor, se um dia por

acaso você passar ali pelo bairro da Cachoeirinha, até

a Vargem Alegre, Barra Grande, bairro da Pedra

(Pedra Branca), mais precisamente ali pela “Ponte

Preta”, no cruzamento para quem vai para a cidade

de Olímpio Noronha, doze quilômetros à frente,

preste bem atenção e não se surpreenda. Esta

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encruzilhada já é um lugar por si só tenebroso e com

um aspecto realmente assustador: sempre sombrio,

úmido, silencioso, com matas em suas margens,

barranco dos dois lados, uma santa cruz muito antiga

(apesar de estar sempre bem cuidada), encima do

barranco na beira da estrada. Essa ponte sempre foi

muito famosa e considerada como um reduto de

espectros, onde sempre foi visto a noite, caminhões

leiteiros andando sozinho atravessando-a (sem

condutor) e batendo os latões de leite, fazendo muito

barulho e desaparecendo logo na saída.

E muitos cavaleiros experientes, domadores e

peões, já tiveram que descer de suas montarias e

puxá-los, porque eles refugavam, recusando-se a

atravessar a ponte, deixando claro que estavam

vendo algo realmente muito assustador que seus

donos não conseguiam ver. E com isso, esses tais

“marmanjões corajosos”, até voltavam para casa e

deixavam para atravessá-la no outro dia, durante o

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dia é claro!

Cortejos fúnebres, em plena meia noite, com

todos os seguidores vestidos de preto, que

apareciam, atravessavam a ponte e desapareciam do

outro lado, também foram vistos muitas e muitas

vezes, deixando as pessoas perplexas e até sem

forças para gritar ou sair do lugar. Certa vez um grupo

de pessoas do bairro das Furnas (pouco pra cima do

Sertãozinho) foi até a Barra Grande visitar um amigo

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muito querido que se encontrava muito doente. E lá

estando, aproveitaram o máximo possível do tempo

para ficar com o amigo.

Quando tomaram a iniciativa de retornarem

para casa já era um tanto tarde da noite. Como o

grupo era formado por várias pessoas, todos amigos,

o longo trajeto para casa acabaria sendo muito

divertido, com falatórios e risadas, se não fosse pelo

desagradável imprevisto ocorrido. Nesse trajeto eles

tinham que obrigatoriamente passar pelo

cruzamento da Ponte Preta, a uma distância de

aproximadamente cinquenta metros dela. A certa

distância desse ponto, eles já viram que algo estava

errado, muito errado. Havia um grande clarão bem

na cabeceira da ponte, mas eles tinham que passar

por ali, era o único caminho. Então ficaram em

silêncio absoluto, assustados, cabelos em pé, bem

pertinho um do outro e seguiram em frente.

Ao passarem lentamente pelo cruzamento

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puderam ver a cena macabra que ali estava

ocorrendo: bem na cabeceira da ponte, do outro

lado, uma imensa fogueira e, bem no meio dela, um

mastro em pé e nele uma mulher amarrada. Ela, em

plenas chamas, dava gargalhadas que chegava a gelar

o sangue das pessoas. Em volta da fogueira um grupo

de pessoas dançava e girava. E quanto mais eles

giravam e dançam, mais a fogueira aumentava. E

quanto mais a fogueira aumentava, mais a mulher

dava gargalhadas; as chamas pareciam aumentar o

seu prazer, ela se deliciava. As pessoas que dançavam

e giravam freneticamente em volta da fogueira

pareciam não ter rosto. Era apenas o forte reflexo das

chamas dando a impressão que seus rostos eram

incandescentes.

Ao verem aquele ritual macabro, aquela

tenebrosa cena, as pessoas muito assustadas, porém

muito controladas, mas com muito medo de serem

vistas por eles, pararam, e para observar melhor o

Page 36: A ALMA DO BOI PRETO

35

que estava acontecendo sem serem vistos,

ocultaram-se atrás de um grande arbusto que os

ocultava sem impedir que pudessem ver claramente

a cena. E com isso puderam assistir com muito

espanto todo o desenrolar daquele inexplicável e

violento ritual. Enquanto observavam perceberam

que o ritual parou abruptamente e os dançarinos se

viraram num perfeito sincronismo como se tivessem

recebido telepaticamente uma mensagem ou ordem

do além e olharam simultaneamente num mesmo

ponto onde nesse exato momento surgiu na curva da

estrada, saindo de dentro da mata, um grupo de

cavaleiros todos montados em garndes mulas, todos

vestidos de preto, usando chapéus e muitas

correntes reluzentes no pescoço. O primeiro deles

que parecia ser o chefe, era um homem bastante

grande e se trajava igual aos demais, porém com

mais correntes no pescoço, pulseiras e muitos anéis.

Sua mula era bastante grande e preta assim como as

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36

dos companheiros, o arreamento todo trabalhado em

prata, inclusive o peitoral com muitas argolas

reluzentes e de tamanhos variados. Na ponta do

peitoral, pendurada, havia uma caveira. Não dava

para distinguir se era humana ou de um pequeno

animal, Mas, de qualquer forma, era muito estranha

porque tinha pequenos chifres. E no lugar dos olhos

havia dois grandes diamantes vermelhos muito

reluzentes. Na parte de cima havia esse par de

pequenos chifres como se o crânio fosse de uma

pequena cabra ou bode. A parte inferior era bem

semelhante a de um ser humano, inclusive a boca;

não era um focinho. Os dentes eram todos intactos,

perfeitos e todos de ouro. De acordo com o

movimento que a grande mula do chefe fazia,

sapateando o tempo todo, muito agitada e virando

pra lá e pra cá, dava a impressão que a caveira estava

olhando, vendo e zombando de tudo.

A caveira parecia ter vida própria,

Page 38: A ALMA DO BOI PRETO

37

movimentando-se no peito daquele grande animal...

Do Chefe! Enfim, era uma espécie de mascote do

mal, bobo da corte, puxa saco! Ao aproximar-se da

grande fogueira, foram reverenciados por todos, que

se inclinavam sincronizadamente num sinal de

respeito e submissão, menos a mulher que estava

amarrada e que levantou mais ainda a cabeça num

gesto de desafio, rebeldia, autoconfiança e deu uma

gargalhada ainda muito mais forte como que

quisesse afrontar ou demonstrar desprezo pelo

grande poderoso. Parecia que ela queria dizer: você

não pode comigo. Nisso, o grande cavaleiro

mostrando seu poder e sua superioridade, levantou

mais ainda a cabeça e pronunciou, com sua voz

bastante grave e forte, uma palavra que somente

eles podiam entender. Sua voz era de gelar o sangue

de qualquer corajoso. A mulher não esboçou

nenhuma reação, não demonstrou medo, mas calou-

se na mesma hora como se alguém a tivesse

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38

desligado a tomada. Quando ele abria a boca, parecia

que liberava, irradiava intensos e brilhantes raios. E à

medida que movimentava a cabeça e a boca, os raios

alternavam mudando de posição e de intensidade.

Isso acontecia porque seus dentes eram todos de

ouro e neles refletiam a intensa chama da fogueira,

assim como refletiam também na prataria dos

arreamentos das mulas, nas correntes que tinham no

pescoço, nas esporas dos cavaleiros e também nas

ferraduras das mulas. Era tudo um espetáculo digno

de admiração e muito aplauso se não fosse um caso

tão sério, tão macabro, tão fantasmagórico e tão

assustador. Enfim, se fosse uma encenação teatral.

Após proferir algumas poucas palavras com

sua voz grave e forte, o grande cavaleiro levantou um

dos braços, dando um sinal que foi logo entendido e

obedecido pelo cavaleiro que estava atrás de todos e

que veio imediatamente até ele e entregou-lhe uma

ave muito grande, bem parecida com uma águia, um

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39

condor ou coisa assim. Porém, com a diferença de ser

bem maior. O chefe, então, de posse do animal,

levantou-o com seu braço forte e proferiu o que seria

uma ordem. Ao comando da voz, a grande ave

ergueu-se, abriu seu grande bico que mais parecia as

mandíbulas de uma serpente, onde havia duas

carreiras de dentes bem assimétricas e enormes

presas pontiagudas. Em seguida, esticou o pescoço

para frente, soltou um grito ensurdecedor e

mergulhou na fogueira. Ao sair do outro lado, ele saiu

com suas grandes asas abertas, intactas e em chamas

como se fosse um pássaro de fogo. E, seguido pelos

olhares atentos de todos, ele subiu em chamas. Ao

atingir certa altura, ela simplesmente fez: ploc! Como

se fosse uma grande bola de sabão que se desfez no

ar. Exatamente no momento em que a bolha se

desfez, a mulher também se calou e pendurou a

cabeça como que desfalecida, vencida finalmente. Foi

como se o grande pássaro, ao passar pela fogueira,

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40

tivesse levado com ele toda energia, poder, força e

superioridade que ela tinha, deixando-a agora

totalmente fragilizada e vulnerável. Até então todo o

ritual não a abalava, não a atingia, e ela parecia se

divertir com tudo aquilo. Era poder demais e

autoconfiança. Porém o grande cavaleiro não se

abalou, não teve dificuldades e mostrou que seu

poder era muito superior. Depois de mostrar sua

força, poder e superioridade, ele simplesmente

colocou a ponta dos dedos na aba do chapéu,

inclinou levemente a cabeça para frente como que

dizendo: missão cumprida! Não tenho mais nada a

fazer aqui! E dessa forma ele despediu-se dos seus

leais súditos que o reverenciou novamente. Enquanto

era reverenciado, ele simplesmente virou a mula nos

pés e, seguido pelos companheiros, desapareceu na

curva da estrada da mesma forma que apareceu.

Felizmente, naquela noite, naquele horário, não

havia nenhum transeunte; ninguém estava indo ou

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41

vindo de Olímpio Noronha, e assim sendo, ninguém

precisou atravessar aquela temida ponte naquele

momento tão inoportuno.

Assim que os cavaleiros desapareceram, o

ritual recomeçou. Agora, porém, eles dançavam e

giravam mais rápido. E a fogueira ganhou muito mais

intensidade e força e já envolvia totalmente o corpo

da mulher. Do outro lado da ponte, na total

escuridão, o grupo de pessoas viu tudo, quase com

detalhes, favorecido pela grande claridade da

fogueira que lhes proporcionava o privilégio de ver

sem serem vistos. Houve um momento que quase

entraram em pânico e tiveram que tampar a boca

para conter o súbito grito de susto quando, num

movimento em que os olhos da caveira atingiram o

seu brilho máximo e chegou a ultrapassar a ponte

como se fossem duas lanternas vermelhas

procurando alguma coisa, quase chegando até eles.

Depois de presenciar quase todo o ritual macabro e

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42

levar esse grande susto, o grupo de amigos não quis

ver mais nada, se benzeram novamente e saíram

furtivos, silenciosos e rapidamente de traz do

arbusto, temerosos de serem vistos. E juntinhos um

do outro, apertaram o passo para chegarem o mais

logo possível em casa.

No resto do trajeto não houve mais falatórios

nem risadas. O que quebrava o silêncio era o barulho

dos seus passos rápidos, onde ninguém queria ficar

para trás. No dia seguinte, após todos os vizinhos

ficarem sabendo do ocorrido, relatados pelas

testemunhas oculares, foram até o local na certeza

de que encontrariam lá um corpo totalmente

carbonizado, o que seria um caso de polícia, é claro.

Mas, para surpresa e espanto de todos não havia ali

um só fio de grama queimada. Não havia o menor

resíduo de cinzas, e nem um carvãozinho sequer,

tudo estava na mais perfeita ordem.

Por todos estes fatos ocorridos e

Page 44: A ALMA DO BOI PRETO

43

presenciados pelas pessoas da região, elas ficam

assustadas, é claro, mas não se deixam abater nunca.

E já passaram a considerar a presença desses

espectros como normal, corriqueiros.

Já sabem que ali é um reduto de fantasmas,

que assustam, mas não fazem mal a ninguém, exceto

aos animais que não entendem a coisa por este lado

e sempre se recusam a atravessar a ponte,

principalmente à noite.

Um dos fatos mais intrigantes e horripilantes

ocorrido ali foi relatado muitas vezes pelo Sr. José

Cristiano, antigo e querido morador do bairro

Sertãozinho, bem lá no alto da serra, depois da

Vargem Alegre, que não fica longe dessa tão

conhecida e assustadora ponte. Segundo o Sr. José

Cristiano, que pelo menos uma vez de cada quinze

dias conduzia sua tropa em direção à cidade de

Cristina para escoar (vender) sua grande produção de

bananas e rapaduras, produtos de altíssima

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44

qualidade produzidos em sua propriedade e muito

aceito pelas pessoas da região. Ele relata que uma

vez, para auxiliar um agricultor vizinho e muito amigo

que precisava beneficiar sua produção de arroz, ele

foi com sua tropa de burros e mulas composta de

quinze animais, até a cidade de Olímpio Noronha,

cujo trajeto obrigatoriamente é feito por essa ponte.

Segundo ele e seus filhos, nesse dia eles voltavam já

bastante tarde da noite. A lua estava bastante clara.

Podia-se ver a estrada ao longo de sua extensão.

Tudo transcorria na maior tranquilidade, com os

animais experientes que seguiam em fila indiana na

mais perfeita ordem sem que fosse preciso ficar

chamando-lhes atenção. Os tropeiros, bastante

cansados por terem se levantado de madrugada,

muito raramente trocavam algumas palavras.

Cavalgavam em silêncio ouvindo o tropel dos

animais, o ranger dos jacás, das cangalhas, das celas,

e de vez em quando o gemido de cansaço de uma das

Page 46: A ALMA DO BOI PRETO

45

mulas. Ou o súbito e assustador grito de uma coruja

que aparecia inadvertidamente, fazia vôos rasantes

sobre eles fazendo alguns dos cavalos passarinhar. E

tudo que queriam era chegar logo em casa, livrar-se

das cargas, matar a fome que era grande e descansar.

O Sr. José Cristiano, homem de uma energia quase

inesgotável, tinha o habito de caminhar a pé na

frente. Era o prazer dele, enquanto que seus filhos

acompanhavam a tropa. Ao chegar à ponte, porém,

ele atravessou normalmente esperando que a tropa o

seguisse como de costume. Mas, para sua surpresa,

quando olhou para traz, viu que os animais se

recusavam a entrar nela, e seus filhos forçavam-os,

não batendo, apenas gritando e estalando seus

chicotes. Mas eles ficavam virando em círculo

tentando voltar. E quanto mais eles faziam voltas,

parecia que aumentava o número de animais. A tropa

parecia duplicar ou triplicar, era assustador demais.

Os burros davam urros, Enquanto ficavam dando

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46

voltas encostando-se um no outro tentando se

proteger, chegando ao ponto de ninguém conseguir

mais vê-los porque onde estavam formou-se uma

escuridão total como se uma nuvem negra pairasse

sobre eles. Eles iam girando, girando como se

estivessem dentro de um grande redemoinho. Os

gritos dos tropeiros, cada um no seu tom, o

simultâneo estalar dos chicotes e os apavorantes

urros dos animais podia se ouvir ao longe. E parecia

excitar e divertir mais ainda os fantasmas. Depois de

algum tempo naquela luta ferrenha entre tropa,

tropeiros e espectros, os animais vendo finalmente

que não tinham mesmo saídas, resolveram entrar e

atravessar a ponte, um após outro dando um grande

salto como se estivessem saltando sobre alguma

coisa e saíram a grande galope dando a entender que

tinham finalmente se livrado de algo muito

assustador e só queriam mesmo sumir dali para bem

longe.

Page 48: A ALMA DO BOI PRETO

47

O desespero era tão grande que até

esqueceram que estavam transportando cargas

pesadas em suas costas. E naquela disparada sem

trégua, só foram parar no terreiro da casa onde

sabiam que estavam em segurança. A família dos

tropeiros que aguardavam ansiosamente pela

chegada deles ficou muito assustada ao ver a tropa

chegar sozinha, assustada, ofegante, tão banhada em

suor que chegava a espumar, e fazendo tanto

barulho, o que não era normal, principalmente

depois de uma viagem tão cansativa e com tanto

peso. A maioria deles estava tão exaurida que não

conseguiam ficar em pé, e deitavam–se com carga e

tudo. Depois de algum tempo então, os tropeiros

chegaram, tão assustados quanto os animais, e

também muito cansados e famintos. Mas antes de

entrarem, relataram para todos os presentes o que

havia ocorrido, deixando todos de cabelos em pé. E

nisso os animais também foram descarregados,

Page 49: A ALMA DO BOI PRETO

48

desarreados e receberam água, bastante água, ração,

uma lavagem no lombo para tirar o excesso de suor,

um carinho e foram soltos. Mas permaneceram ali

mesmo todos juntinhos no terreiro da casa e não

foram para o pasto, estavam assustados demais e se

sentiam mais seguros ali. Somente no dia seguinte

eles pareciam mais tranquilos e refeitos do susto. As

pessoas que ali estavam e ouviram tudo com grande

espanto, acabaram por amanhecer ali mesmo

reunidos e acordados. Um cochilando aqui, outro ali,

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49

mas não foram para suas casas e nem para suas

camas. No dia seguinte então, toda região já ficou

sabendo de mais um horripilante fato ocorrido

naquele tão famoso reduto de fantasmas.

Os fatos presenciados e narrados pelo Sr.

José Cristiano, corria como um rastilho de pólvora e

ecoava em toda região porque ele era um homem

muito simples, humilde, verdadeiro, bom e de alma

muito pura. Sua característica? Um homem de

estatura mediana, pele clara, bastante cabelo, fala

mansa, voz suave pausada e muito educada.

Sempre usava roupas brancas de tecidos bem

simples, às vezes cheias de remendos, (coisa muito

comum na época), e bastante manchadas de nodoa

de bananeiras, (seiva), coisa muito normal e até

inevitável para quem trabalha nesse tipo de cultivo,

cujo produto, ele junto com a família, produziam em

grande quantidade e qualidade. Mas esta aparência

humilde e típica de homem do campo, nunca o fez

Page 51: A ALMA DO BOI PRETO

50

sentir-se inferior e nunca o inferiorizou perante as

pessoas que o amavam e respeitavam muito, do

jeitinho que ele era. Sua postura? Dificilmente ele se

sentava, sempre preferia ficar de cócoras. Não era

difícil vê-lo nesta posição, com calça arregaçada até o

meio das canelas, camisa de mangas compridas sem

punho, chapeuzinho de palha na cabeça, pés

descalços, pitando um cigarrão de palha preparado

por ele mesmo com muita tranquilidade, com fumo

de cordas, dando longas baforadas, as quais ele

nunca tragava.

Quando não estava pitando, ficava de cócoras

apoiando os cotovelos sobre os joelhos e com as

mãos no rosto. Uma imagem digna de ser retratada e

imortalizada por grandes mestres da pintura e da

escultura. Em volta dele muitas pessoas adultas

sentadas no chão, e as crianças em pé abraçadas aos

pais ouvindo atentamente a fantasmagórica

narração. Muitas vezes até apertando o pescoço do

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51

pai quando a narração do Sr. José Cristiano ficava

mais intensa. Coisa que ele fazia pausadamente, com

voz suave e com muito detalhe. Talvez, por ele ser

esta pessoa de alma pura, ele tinha esta percepção

para ver os espectros com mais facilidade que os

outros, porque ele não os temia e respeitava.

E foi ele exatamente que mais viu e pregou a

existência do espectro do boi preto naquela

redondeza. E entre muitas outras coisas

assustadoras como: gemidos de dor, cantos agudos,

crianças chorando, e muitas vezes uma voz forte e

rouca pedindo socorro. Na região é raro encontrar

alguém, principalmente mais velha, que não tenha

visto ou ouvido algo estranho ao passar a noite por

ali, por esse reduto. Portanto, lembrando mais uma

vez: se um dia você, leitor, passar por lá à noite, e ver

um grande vulto muito mais escuro que a própria

escuridão, pode ter certeza: é sem dúvidas a alma do

lendário boi preto.

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52

Então você benza o corpo, acelere o passo e

siga em frente sem olhar para traz. E você será então,

mais um a confirmar e a contar para os outros, essa

estória. Cruz Credo! Deus me defenda!

Mas, nem por isso você vai deixar de

conhecer e se encantar com a deslumbrante beleza e

a hospitalidade da região: Vargem Alegre,

Sertãozinho, Bairro da Pedra (Pedra Branca); que

vista fantástica! De perto e de longe é quase um

sonho! Olímpio Noronha com sua peculiaridade

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pequenina, porém, muito charmosinha.

Jesuânia, com seu charme, uma cidade que se

destaca de longe, privilegiada pela sua bela

topografia. Cristina, com seus casarões, sua história e

sua famosa lenda do “corpo seco da mata da

prefeitura”, uma estória que é contada

incessantemente pelos moradores da cidade,

passando de pai pra filho. Lambari, com seu grande

lago, seu grande parque, suas águas e muito, muito

mais.

Ah!... E não se esqueça da Ponte Preta e

Cachoeirinha, ok? Você nunca mais vai esquecer.

Quem nunca foi conhecer essa região, não conhece

Minas Gerais.

FIM

Page 55: A ALMA DO BOI PRETO

54

FRAGMENTOS DE “POEMAS, POESIAS E

PENSAMETOS” - SABÁ.

A CRÍTICA

“A crítica sincera, honesta e verdadeira nos faz,

refletir, analisar e corrigir, levando-nos a perfeição e

ao progresso. O falso elogio nos ilude, nos acomoda e

nos leva ao falso estrelismo”.

O BRILHO DA FERRAMENTA

“Não mantemos o brilho da nossa ferramenta

polindo-a, mas sim usando-a no trabalho. O trabalho

dignifica o ser humano, faz bem à saúde e faz

progredir a nação”.

QUE INCOERÊNCIA

“Sempre se ouve dizer que a mulher é a melhor coisa

do mundo, (concordo!) e, no entanto, ela é na

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55

maioria das vezes mal amada, maltratada e

discriminada. Imagine se ela não fosse a melhor coisa

do mundo? (que incoerência!)”.

COISAS PURAS E BELAS

“É quase impossível falar das coisas simples, puras e

belas, sem citar as músicas interpretadas pela dupla

sertaneja Tonico e Tinoco, e os lindos filmes de

Amácio Mazzaropi”.

A CRIANÇA

“Orientar, educar e alimentar bem a criança é

alicerçá-la para enfrentar as tempestades da vida; é

prepará-la para o futuro. O tempo da criança deve ser

dividido em três partes: estudo, lazer, e trabalho. A

criança precisa de cultura, precisa de lazer, mas

precisa também, desde pequena, aprender a

trabalhar, ter responsabilidades e valorizar os bens

conseguidos com seus próprios esforços. Deixar uma

Page 57: A ALMA DO BOI PRETO

56

criança na ociosidade é dar espaço para ela pensar e

fazer besteiras”.

AMIGOS SE PARECEM

“A minha maior felicidade são os meus amigos, os

quais selecionei cuidadosamente, para fazer parte do

meu mundo de amigos. Simples, sinceros, recíprocos,

confiáveis e verdadeiros. Que me respeitam e me

aceitam como sou. Falam-me, ouvem, orientam,

criticam, aconselham e torcem por mim. No meu

mundo de amigos, não há senhores nem escravos.

Não há hierarquia nem monarquia. Não há senhores

nem doutores. Não há excelência nem eminência;

somos todos iguais, apenas amigos, verdadeiros

amigos que se gostam, se respeitam, se preocupam e

desejam somente a felicidade do outro. Amizade não

se compra não se vende e não tem preço. Amizade...

É amizade”.

Page 58: A ALMA DO BOI PRETO

57

O QUE É AMOR?

“O amor! O que é amor?

É você desprezar, agredir verbal e fisicamente a

pessoa amada,

E depois dizer repetidamente que a ama?

É maltratar e depois pedir desculpas e dar presentes?

É privá-la de sua liberdade básica? Tornando-a sua

escrava, sua propriedade?

Assim como muitas pessoas fazem covardemente

com os passarinhos, tirando-os de seus habitats

naturais, privando-os de suas companhias e da

liberdade de escolher seus próprios alimentos?

Colocando-os em cativeiros (gaiolas) só para

satisfazerem a sua vontade cantando só para elas?

Não, isso não é amor! E se isto é amor, não quero ser

amado jamais. E peço a Deus que nunca alguém me

ame assim... É muita covardia!

Pena que aqueles que são amados dessa forma,

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58

normalmente são frágeis, sensíveis e delicados

demais para responder na mesma moeda”.

A MALDADE

“A maldade é como um bumerangue:

Você joga e ela volta pra você; é só esperar”.

OTIMISMO

“Quando plantamos uma árvore frutífera,

obviamente que, independente da nossa idade,

temos a esperança de acompanhar seu crescimento,

admirar sua beleza, sentir o aroma de suas flores,

colher dos seus frutos e desfrutar da sua sombra. Isto

se chama otimismo. Quem pensa o contrario é um

pessimista”.

BOM DESCANSO!

“... Um jovem burro de carga queixou-se de trabalhar

todo dia levando e trazendo cargas pra os mais

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diversos lugares. O seu interlocutor, porém, um velho

burro de carga que já havia passado muitas e muitas

vezes pela mesma situação, queixou-se da

monotonia, solidão e a sensação de inutilidade. É

preferível trabalhar todo dia e ouvir um “bom

descanso!” no final de cada dia, do que ouvir um...

(ouvir?)... Descanse em paz! ... Credo! Eu hein?”.

MUNDO DE PAZ

“Quero ir pra minha terra para ver as corredeiras

As murmurantes cachoeiras que descem por entre as

pedras

Quero ver todas as quedas que tem no meio da mata

Quero ver a pedra chata onde a água se espalha,

Deixando no meio a falha onde um lindo pé de flor

Esbanja beleza e cor enfeitando a natureza,

Num lugar onde a tristeza não pode se habitar.

É só pureza e alegria, por isso eu quero um dia,

Pra minha terra voltar.

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Quero ir pra minha terra pra ouvir os galos cantando

A madrugada chegando e as flores se abrindo,

A natureza sorrindo quando o sol desponta em

chama,

Onde a natureza trama de maneira tão perfeita,

Que não existe receita pra fazer o que ela faz:

Harmonizar animais rios vales e montanhas

Cuja beleza é tamanha que nem dá pra descrever,

Por isso quero rever e matar esta saudade

Curtir a tranquilidade daquele mundo de paz”.

POEMA DE UM MORIBUNDO

“Num pedaço de papel que a família encontrou,

Embaixo do travesseiro, que um moribundo deixou,

Havia umas poucas letras, mal escritas e tremidas,

Mostrando o último esforço de quem estava ao fim

da vida.

Naquelas poucas palavras, mal escritas e rabiscadas,

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61

Só havia palavras doces, muito bem selecionadas,

Mostrando que ele queria de forma bem delicada,

Dizer tudo que podia e não falou no dia-a-dia pra sua

pessoa amada.

Analisando os dizeres pude ver por um momento,

Que apesar da sua dor, agonia e sofrimento, Ele

buscava as palavras, as mais lindas que havia, Como

se o seu pensamento captasse pelo vento o que ele

nem sabia.

Era uma pessoa simples, rude e quase analfabeta,

Pouco falava e não lia, mas o final dos seus dias fez

dele um grande poeta.

Observei em cada palavra, seu sentimento profundo,

E não acrescentei nada,

Simplesmente coloquei, em letras bem declaradas:

Poema de um moribundo”.

INCOERÊNCIA EXPLICITA

“Os políticos que roubam não merecem respeito e

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62

nem consideração de ninguém. E aqueles que os

defendem e protegem merecem muito menos.

Proteger e defender pessoas desonestas e se dizer

honesto é incoerência explicita.”

FIM.

Page 64: A ALMA DO BOI PRETO

63

Conheça outras obras do mesmo autor:

LITERATURA:

01— Um Coração Duas Paixões

02— Manezão E A Maldita Fortuna

03— Jothaiá, A Esperança De Um Mundo Melhor.

04— A Vaquinha Feia

05— A Vingança Silenciosa

06— As Ribombuchas Do Monsieur Paulin (Polan)

(Teatro)

07— Poemas, Poesias E Pensamentos - Vol. 01

08—Poemas, Poesias E Pensamentos - Vol. 02

MÚSICAS – CDs:

Volume 1: Coração Cowboy

Volume 2: Coração Sertanejo

Volume 3: O Mineiro Tem Segredo

Volume 4: Doida de Pedra

Volume 5: Soltando Faísca

Page 65: A ALMA DO BOI PRETO

64

HUMOR:

— SABÁ E SUAS HISTÓRIAS ENGRAÇADAS, (piadas)

VOL. 01 E 02.

NA INTERNET:

— GOOGLE “SABATAUBATE”

— SABÁ-google sites

— SABA on scribd|scribd

— Sabataubate scribd scribd

— “Sabataubate angelfire” — (0xx)12-3602-1917-—

(0xx)12-99771-6577

— E-MAIL: [email protected]

DESENHOS (ILUSTRAÇÃO) IDEALIZADOS POR “SABÁ”

EXECUTADO POR PAULO DE TARSO

(0XX) 12-3633-5640 TAUBATÉ S.P. – março/2015.