A alegria do nipo-brasileiro Hugo contrasta com a ... · gai, o Mundial Universitário de Tênis de...

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Mackenzie 37 O s atletas Hugo Hanashiro e Aily Murashige, que, no ano 2000, disputaram, em Shan- gai, o Mundial Universitário de Tênis de Mesa – como registramos na edi- ção nº 15 da revista Mackenzie – vol- taram à China, agora acompanhados do mackenzista Erico Reis Duarte, aluno do 5º ano de Direito, para dis- putar a XXI Universíade, realizada em Pequim, em julho de 2001.Aily, Hugo e Erico, conhecidos no Mackenzie pela prática do tênis de mesa, durante o ano participam de torneios nacio- nais e internacionais, promovendo sempre o nome do Mackenzie. Da Universíade – competição uni- versitária equivalente às tradicionais Olimpíadas – participaram 185 países, com atletas alojados em Vila Olímpica especialmente construída. A delega- ção brasileira foi representada por 250 pessoas, entre atletas e dirigentes. As modalidades disputadas: tênis de mesa, vôlei, basquete, natação, pólo aquático, tênis, ginástica olímpica, atletismo e judô. A infra-estrutura da Vila, muito bem montada, conseguiu acomodar, sem problemas, cerca de 7.000 pessoas, segundo Aily. Somente um item, reclama Hugo, deixou a dese- jar – a comida totalmente sem gosto. “Qualquer prato que você escolhesse tinha o mesmo sabor, isto é, nenhum!” A participação do Mackenzie A equipe brasileira de tênis de me- sa, formada por sete atletas e um téc- nico, correspondeu à expectativa. Os atletas competiram nas modalidades individuais, em dupla, dupla mista e por equipe.As melhores classificações tiveram a participação dos três repre- sentantes do Mackenzie.“É necessário considerar que muitos dos atletas das equipes fortes competiram com cam- peões mundiais, habilitados a partici- par por serem universitários”, destaca Érico. “Como a equipe chi- nesa, que dispunha simples- mente do campeão mundial de tênis de mesa!” Diante disso, o 11 o lugar que a equipe masculina brasileira conseguiu entre 26 participantes pode ser considerado ótimo resulta- do. Destaque-se a modali- dade individual, que incluiu a Aily, o Hugo e o Gustavo (aluno da Unip) entre os 64 melhores atletas universi- tários de tênis de mesa do mundo, entre 120 partici- pantes. Também foi impor- tante a classificação da Aily e da Kelly (aluna da Metodista) entre as 32 me- lhores duplas. “Conseguimos ganhar de Hong Kong, que é considerada forte, mas acabamos perdendo para a França, uma das melhores do mundo”, enfatiza Aily. O trânsito caótico A impressão que Pequim deixou nos nossos atletas foi um misto de encantamento e de curiosidade. “A imagem que os chineses fazem ques- tão de passar é de um país socialista que está abrindo suas portas para o Ocidente”, explica Hugo. Para ele, a repressão a atitudes, gestos ou pa- lavras ainda é visível. “Fomos à Praça da Paz Celestial e, quando perguntei sobre o massacre dos estudantes em 1989, a guia desconversou, evitando comentar o assunto”, ressalta Érico. O controle pôde ser melhor constatado pelos três alunos quando abriram a bandeira do Mackenzie – vermelha com o logotipo em branco – em plena Universíade Bandeira Mackenzie na Muralha da China Mackenzistas levam o pavilhão universitário a lugares históricos da China A legendária muralha chinesa foi tomada de assalto pelos mackenzistas participantes da Universíade, cujo símbolo mostramos no detalhe. A alegria do nipo-brasileiro Hugo contrasta com a seriedade da chinesa feita de cera. Hanashiro posa ao lado de atletas universitários de países africanos.

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Os atletas Hugo Hanashiro eAily Murashige, que, no ano2000, disputaram, em Shan-

gai, o Mundial Universitário de Tênisde Mesa – como registramos na edi-ção nº 15 da revista Mackenzie – vol-taram à China, agora acompanhadosdo mackenzista Erico Reis Duarte,aluno do 5º ano de Direito, para dis-putar a XXI Universíade, realizada emPequim, em julho de 2001.Aily, Hugoe Erico, conhecidos no Mackenziepela prática do tênis de mesa, duranteo ano participam de torneios nacio-nais e internacionais, promovendosempre o nome do Mackenzie.

Da Universíade – competição uni-versitária equivalente às tradicionaisOlimpíadas – participaram 185 países,com atletas alojados em Vila Olímpicaespecialmente construída. A delega-ção brasileira foi representada por250 pessoas, entre atletas e dirigentes.

As modalidades disputadas: tênisde mesa, vôlei, basquete, natação, póloaquático, tênis, ginástica olímpica,atletismo e judô. A infra-estrutura daVila, muito bem montada, conseguiuacomodar, sem problemas, cerca de7.000 pessoas, segundo Aily. Somenteum item, reclama Hugo,deixou a dese-jar – a comida totalmente sem gosto.“Qualquer prato que você escolhessetinha o mesmo sabor, isto é, nenhum!”

A participação do Mackenzie

A equipe brasileira de tênis de me-sa, formada por sete atletas e um téc-nico, correspondeu à expectativa. Osatletas competiram nas modalidadesindividuais, em dupla, dupla mista epor equipe.As melhores classificaçõestiveram a participação dos três repre-sentantes do Mackenzie.“É necessárioconsiderar que muitos dos atletas dasequipes fortes competiram com cam-peões mundiais, habilitados a partici-par por serem universitários”, destaca

Érico. “Como a equipe chi-nesa, que dispunha simples-mente do campeão mundialde tênis de mesa!”

Diante disso, o 11o lugarque a equipe masculinabrasileira conseguiu entre26 participantes pode serconsiderado ótimo resulta-do. Destaque-se a modali-dade individual, que incluiua Aily, o Hugo e o Gustavo(aluno da Unip) entre os 64melhores atletas universi-tários de tênis de mesa domundo, entre 120 partici-pantes. Também foi impor-tante a classificação da Aily e da Kelly(aluna da Metodista) entre as 32 me-lhores duplas. “Conseguimos ganharde Hong Kong, que é consideradaforte, mas acabamos perdendo para aFrança,uma das melhores do mundo”,enfatiza Aily.

O trânsito caótico

A impressão que Pequim deixounos nossos atletas foi um misto deencantamento e de curiosidade. “Aimagem que os chineses fazem ques-

tão de passar é de um país socialistaque está abrindo suas portas para oOcidente”, explica Hugo. Para ele, arepressão a atitudes, gestos ou pa-lavras ainda é visível. “Fomos à Praçada Paz Celestial e, quando pergunteisobre o massacre dos estudantes em1989, a guia desconversou, evitandocomentar o assunto”, ressalta Érico. Ocontrole pôde ser melhor constatadopelos três alunos quando abriram abandeira do Mackenzie – vermelhacom o logotipo em branco – em plena

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Bandeira Mackenzie na Muralha da China

Mackenzistas levam o pavilhão

universitário a lugares históricos da China

A legendária muralha

chinesa foi tomada

de assalto pelos

mackenzistas

participantes da

Universíade, cujo

símbolo mostramos

no detalhe.

A alegria do nipo-brasileiro

Hugo contrasta com a seriedade

da chinesa feita de cera.

Hanashiro posa ao lado de atletas

universitários de países africanos.

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chinês impedindo a passagem de pos-sante tanque de guerra, somentepostando-se à sua frente, dando umpasso para um lado ou para o outro,na frente do canhão, à medida que otanque tenta desviar dele. Um doscabeças do levante,Wang Dang, ficoupreso até 1998, quando, no mês deabril, foi libertado e mandado para osEUA. Justificativa oficial: “Ele precisapassar por um bom tratamento médi-co”. Foi a forma que os governanteschineses encontraram para extirpardo país a imagem de mártir que Wangganhou junto à oposição.

A Cidade Proibida

Voltada para a Praça da Paz Ce-lestial, atualmente está aberta à visi-tação – somente com alguns trechosrestritos a signatários da RepúblicaPopular da China.

A construção começou em 1368,quando o imperador Zhu Di fez dePequim a capital da China. Com áreatotal de 720.000 metros quadrados,mobilizou 100.000 arquitetos e ummilhão de operários, que construíramas duas principais zonas da cidade às

O projeto simétrico do conjuntoreúne templos e grandes pavilhões.Apesar de a Cidade Proibida ter sidoquase totalmente queimada em 1644,e reconstruída diversas vezes, suaplanta básica permanece a mesma.Feita em um eixo norte-sul, tem trêsseções distintas: os portões, os salõescerimoniais e a área residencial. Osquatro portões frontais são suficiente-mente grandes para serem confundi-dos com o palácio propriamente dito.Nos salões centrais do conjunto dopalácio, o imperador realizava impor-tantes cerimônias. A parte traseira dopátio interno do palácio imperial eradedicada a pequenos templos, palá-cios e aposentos residenciais da fa-mília imperial e de seus empregados.Muitos desses palácios são, atual-mente, museus visitados por milharesde turistas.

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Praça para uma inocente foto.Prontamente foi-lhes pedido para quenão a abrissem,porque a cena remetiaao vermelho do Comunismo. Outrosinal dos novos tempos – o trânsitocaótico que domina Pequim. “Os se-máforos são ignorados. Carros, pe-destres e bicicletas disputam, palmo apalmo, cada pedaço de rua”, contaAily. “E isso acontecia durante umevento que mobilizou toda a cidade.Imagine como deve ser em dias nor-mais”, diz Erico.

A cidade milenar

O maior encantamento da viagemfoi, sem dúvida, visitar lugares históri-cos e ver de perto símbolos de um país,que somente aparecem em fotos,na TVou no cinema. Andar sobre a milenarMuralha da China – a única construçãohumana visível de um satélite em órbi-ta. Foi uma sensação estranha, contamos atletas, percorrer alguns metros dos7.200 quilômetros que ela tem na suatotalidade. Sensação não menos emo-

cionante foi desfraldar a bandeiramackenzista na Praça da Paz Celestial,de tamanho descomunal, ou conhecera Cidade Proibida, antiga moradia dosimperadores. Impressionou a todos aarquitetura, o tamanho e, claro, o pesoda história de cada um desses locais.Felizardos foram Aily, Hugo e Érico, va-lorizados pelas competições e visi-tantes de séculos de história.

A Praça da Paz Celestial

Imensa, no centro de Pequim, foipalco de diversos fatos que fizeramhistória. No início, servia de porta deentrada para a Cidade Proibida, edifi-cação que abrigava os imperadores eque não podia ser transposta pelopovo. Com a queda do Imperialismo ea implantação do Comunismo, serviude local para comemorações do par-tido vermelho – que fazia questão dereunir ali milhares de pessoas a fim de

que assistissem a desfiles e ouvissemintermináveis discursos –, passandoao mundo a imagem de poder e força.

Em 1989, a Praça da Paz Celestialentrou definitivamente para a Históriaquando mostrou ao mundo o protestodos estudantes que lutavam por maiorliberdade. O levante mobilizou mi-lhares de jovens e ficou conhecidocomo O Massacre de 1989. O porta-voz do governo, na época, minimizouo número de mortos. A oposição, noentanto, registrou a morte de milharesde estudantes, presos e barbaramenteassassinados.Uma cena marcante,que,ainda hoje pode ser vista de vez emquando na TV: a de um frágil jovem

Três brasileiros – Aily Murashige,

entre Érico Duarte e Hugo Hanashiro

– desfraldam a bandeira vermelha

do Mackenzie na Praça da Paz

Celestial, em Pequim, China.

O colorido desfile final dos

jogos universitários. No detalhe,

a mascote “Lala” outro símbolo

do evento.

Hugo e Aily, próximos

da Cidade Proibida.

Foi construída há mais de 2.000

anos para proteger a China dos

invasores. Estende-se do Golfo de

Chihli, no Mar Amarelo, até a Ásia

Central, e é considerada a maior

obra de engenharia já realizada pe-

lo homem, sendo a única que pode

ser vista do espaço sideral. A ordem

para o início da construção foi da-

da por Qin Shi Huang Di, o pri-

meiro imperador da China. A obra

monumental mobilizou 700.000

trabalhadores e 300.000 soldados.

Homens, mulheres e crianças fo-

ram forçados a trabalhar nela, dia e

noite, sem parar. Após dez anos, a

Grande Muralha foi completada.

Feita de varas de bambu, tijolos de

argila e quadrados de pedras, tem

a altura média de 6,70 metros e,

com intervalos de 183 metros, tor-

res de 12,2 metros. Posteriormen-

te, entre os séculos XV e XVI, foram

edificados novos trechos com altu-

ra média menor – 9,15 metros.

Ainda hoje, algumas partes origi-

nais da Muralha estão em bom

estado. Outras foram restauradas

ao longo do tempo. Em 2001, uma

descoberta acrescentou 500 quilô-

metros à Muralha, fazendo-a atin-

gir 7.200 quilômetros. Segundo a

agência oficial Nova China, arqueó-

logos encontraram as ruínas de um

muro de terra que se estende até o

deserto de Lop Nor, na região au-

tônoma de Xinjiang (noroeste da

China), de maioria muçulmana.

A história da Grande Muralha

quais somente podiam ter acesso afamília imperial e empregados espe-ciais. O palácio alojou os imperadoresda China até 1922, ano da queda dosistema imperial.

A história da Grande Muralha