A água nas religiões

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A água nas religiões Tratar da água nas Religiões é como navegar num largo oceano. Há uma multidão de divindades, ritos e mitologias aquáticas, que se conectam entre si e se estendem numa teia de analogias. As Religiões desenvolveram uma relação vital e simbólica com a água. Isto se mostra na tradição oral, nos textos sagrados, no culto, nas práticas terapêuticas e no código comportamental. A água é considerada como purificadora na maioria das religiões, incluindo o Hinduísmo, Cristianismo, Judaísmo, Islamismo, Xintoísmo e Wicca. O exemplo do batismo nas igrejas cristãs é praticado com água, simbolizando o nascimento de um novo ser, purificado com remissão dos pecados. Verifica-se que, nas mitologias politeístas, os deuses vinculados à água — Yemanjá, Vishnu, Enki e Poseidon (Netuno), para citar alguns exemplos —, em regra, possuem mais seguidores, gozam de maior prestígio ou ocupam graduação mais elevada em relação às demais divindades representantes de outros fenômenos naturais. Seguindo um princípio semelhante, em outras religiões, incluindo o Judaísmo e o Islamismo, é ministrado aos mortos um banho de água purificada, simbolizando a passagem para a nova vida espiritual eterna. Ainda no Islão, os fiéis apenas podem praticar as cinco orações diárias após a lavagem do corpo com água limpa, no ritual de ablução denominado abdesto (ou wudu). No Xintoísmo e na Wicca, a água é usada em quase todos os rituais de limpeza dos praticantes. Na Nova Versão Internacional da Bíblia, o termo "água" é mencionado 442 vezes. Na mitologia Celta, Sulis é a deusa das nascentes termais. No Hinduísmo, o rio Ganges é personificado como uma deusa, enquanto que Sarasvati é referida como a deusa dos Vedas. A água é também um dos tatvas (cinco elementos básicos da

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A água nas religiões

Tratar da água nas Religiões é como navegar num largo oceano. Há uma multidão de divindades, ritos e mitologias aquáticas, que se conectam entre si e se estendem numa teia de analogias.

As Religiões desenvolveram uma relação vital e simbólica com a água. Isto se mostra na tradição oral, nos textos sagrados, no culto, nas práticas terapêuticas e no código comportamental.

A água é considerada como purificadora na maioria das religiões, incluindo o Hinduísmo, Cristianismo, Judaísmo, Islamismo, Xintoísmo e Wicca. O exemplo do batismo nas igrejas cristãs é praticado com água, simbolizando o nascimento de um novo ser, purificado com remissão dos pecados.

Verifica-se que, nas mitologias politeístas, os deuses vinculados à água — Yemanjá, Vishnu, Enki e Poseidon (Netuno), para citar alguns exemplos —, em regra, possuem mais seguidores, gozam de maior prestígio ou ocupam graduação mais elevada em relação às demais divindades representantes de outros fenômenos naturais.

Seguindo um princípio semelhante, em outras religiões, incluindo o Judaísmo e o Islamismo, é ministrado aos mortos um banho de água purificada, simbolizando a passagem para a nova vida espiritual eterna. Ainda no Islão, os fiéis apenas podem praticar as cinco orações diárias após a lavagem do corpo com água limpa, no ritual de ablução denominado abdesto (ou wudu). No Xintoísmo e na Wicca, a água é usada em quase todos os rituais de limpeza dos praticantes. Na Nova Versão Internacional da Bíblia, o termo "água" é mencionado 442 vezes.

Na mitologia Celta, Sulis é a deusa das nascentes termais. No Hinduísmo, o rio Ganges é personificado como uma deusa, enquanto que Sarasvati é referida como a deusa dos Vedas. A água é também um dos tatvas (cinco elementos básicos da natureza segundo o Hinduísmo, onde se incluem o fogo, a terra, o akasha e o ar). Em outras tradições, deuses e deusas são mencionados como patronos locais de nascentes, rios ou lagos, como no exemplo da mitologia grega e romana, onde Peneus era o deus do rio. Na religião Wicca a água é tida como um dos símbolos da Grande-Deusa, assim como o cálice e o caldeirão.

O antigo filósofo grego Empédocles, defendia que a água era um dos quatro elementos da natureza básicos, em conjunto com o fogo, terra e ar, sendo respeitada como a substância básica do Universo, denominada ylem. Nas antigas tradições chinesas, a água era um dos cinco elementos, em conjunto com a terra, o fogo, a madeira e o metal. Nas religiões neopagãs, como é o caso da Wicca, também existe a crença na existência de cinco elementos constituintes do Universo, sendo eles: o fogo, o ar, a água e a terra e o akasha(a manifestação da energia divina).

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Os desafios ambientais nos quais a sociedade moderna está envolvida, levam às mais diversas religiões existentes a se envolverem na mudança de consciência, necessária para transformar nossa relação com o Planeta. Isto implica em uma revisão de suas linguagens a fim de se tornarem mais compreensíveis para o mundo atual, e por isso, O Farol reuniu, em uma mesa redonda, representantes de quatro religiões para debaterem uma forma de contribuir para uma nova cultura da água.

A Água nas demais religiões

A água é símbolo de pureza e fonte de vida, tendo por isso um papel central em várias religiões como o Cristianismo, o Islamismo, o Judaísmo e o Hinduísmo. As limpezas com água são um fator comum, mas cada religião tem as suas particularidades no que toca à utilização da água.

A água tem um papel central em diversas religiões e nas crenças de todo o mundo. Como fonte de vida representa o renascimento. A água lava o corpo e, consequentemente, purifica-o, e estas duas qualidades conferem-lhe um grande simbolismo, ou mesmo um estuto sagrado. A água é, portanto, um elemento-chave em cerimónias e rituais religiosos.

No Cristianismo

A água está intrinsecamente ligada ao batismo, uma declaração pública de fé e um símbolo de boas-vindas à igreja Cristã. Quando batizada, uma pessoa é parcial ou totalmente imersa em água que alternativamente pode vertida ou aspergida sobre a sua cabeça. O sacramento tem as suas origens na Bíblia, onde está escrito que Jesus foi baptizado por João Baptista no Rio Jordão. No baptismo, a água simboliza a purificação, a rejeição do pecado original. Por outro lado, no Novo Testamento, a “água viva” ou a “água da vida” representa o espírito de Deus, isto é, a vida eterna. 

O Judaísmo

Os Judeus usam a água para lavagens rituais com o objectivo de restaurar ou manter um estado de pureza. A lavagem das mãos antes e depois das refeições é obrigatória.

Por outro lado, é de notar que embora os banhos rituais, ou mikveh, tenham em tempos sido importantes nas comunidades judias, deixaram de o ser; permanecem, no entanto, obrigatórios para os indivíduos convertidos. Os homens realizam o mikveh às 6ªas Feiras ou antes de grandes celebrações, ao passo que as mulheres fazem-no antes do casamento, depois de dar à luz ou antes da menstruação.

Por último, deve referir-se que o primeiro livro da Bíblia, o Génesis, conta a história da Criação e do Dilúvio. Para castigar os humanos pela sua desobediência Deus enviou chuvas torrenciais que duraram quarenta dias e quarenta noites: em segurança na Arca, Noé, a sua família e dois animais de cada espécie foram poupados. O Dilúvio lavou os pecados do mundo de forma que a que este renasceu livre do pecado.

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O Hinduísmo

Para os Hindus, a água está imbuída de poderes de purificação espiritual, sendo a limpeza matinal com água uma obrigação diária. Todos os templos se situam perto de uma fonte de água, e os crentes têm de se banhar antes de entrarem no templo. Por outro lado, muitos lugares de peregrinação encontram-se nas margens de um rio, sendo que locais de confluência de dois ou até três rios são considerados particularmente sagrados.

São 7 os rios sagrados, segundo o Hinduísmo: o Ganges, o Godavari, o Kaveri, o Narmada, o Saravasti, o Sindhu e o Yamuna. De acordo com esta religião, os que se banham no Ganges ou deixam parte de si (cabelo, ossos dos defuntos) na margem esquerda deste rio atingirão o Svarga, o paraíso de Indra, o deus das Tempestades.

Por outro lado, é de referir também que os rituais funerários têm lugar junto a rios; o filho do defunto verte água sobre a pira fúnebre em chamas para que a alma não possa escapar e regressar à Terra como um fantasma. Quando o fogo atinge o crânio do defunto, os enlutados banham-se e depois vão para casa. As cinzas são recolhidas três dias depois da cremação, e vários dias mais tarde são deitadas num rio sagrado.

Por último, deve notar-se que o mito do Dilúvio também está presentes em algumas escrituras Hindus, e conta a história de como Manu, o primeiro Homem, foi salvo de uma inundação por um peixe (o deus Brahma), que o levou aos Himalaias até que as águas retrocedessem.

O Islamismo

Para os Muçulmanos, a água serve, mais que nada, para a purificação. Existem três tipos de abluções, ou lavagens: a primeira e mais importante envolve a lavagem integral do corpo – é obrigatória depois das relações sexuais e recomendada antes das orações à 6ª Feira e antes de tocar o Corão. A segunda ocorre antes de cada uma das cinco orações diárias, tendo os crentes de banhar a cabeça, lavar as mãos, os antebraços e os pés. Todas as mesquitas possuem uma fonte de água, normalmente uma fonte, para esta ablução. Por fim, o último tipo de ablução diz respeito às situações em que a água escasseia – nesse caso os Muçulmanos usam areia para a lavagem. 

O Budismo Para os budistas o simbolismo e os rituais não fazem sentido porque procuram a iluminação espiritual que advém de ver a realidade da irrealidade.  No entanto, a água está presente nos funerais Budistas, sendo vertida sobre uma taça que transborda perante o corpo do defunto e dos monges que recitam “Como as chuvas enchem os rios e transbordam para os oceanos, também o que é oferecido aqui possa chegar aos que partiram”.

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