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  • Universidade Federal do Paran - UFPR Setor de Cincias Agrrias - SCA Depto de Economia Rural e Extenso - DERE Curso de Ps-Graduao em Gesto Florestal Ed. a Distncia

    INTRODUO ANLISE DAS CADEIAS PRODUTIVAS

    Disciplina: Cadeia Produtiva do Negcio Florestal

    Md. 01 Aula1

    Prof. Dr. Vitor Afonso Hoeflich UFPR / DERE

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    Orientao para citao do Autor desse Material

    HOEFLICH, V. A. Introduo anlise das cadeias produtivas. In: HOEFLICH, V. A. Cadeia produtiva do negcio florestal. Curitiba: UFPR; Colombo: Embrapa Florestas, 2007. Apostila do Curso de Ps-Graduao em Gesto Florestal -UFPR.

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    INTRODUO A ANLISE DE CADEIAS PRODUTIVAS

    SUMRIO

    1 CONCEITOS BSICOS 1.1 OS CONCEITOS DE AGRIBUSINESS E DE CADEIA PRODUTIVA 1.2 COMPONENTES DA CADEIA PRODUTIVA 1.3 OS OBJETIVOS DA CADEIA PRODUTIVA 1.4 CADEIAS PRODUTIVAS: SUA IMPORTNCIA NUM PROCESSO DE

    GLOBALIZAO 1.5 TECNOLOGIA E COMPETITIVIDADE DO AGRONEGCIO 2 ANLISE PROSPECTIVA 3 APLICAES DA ANLISE PROSPECTIVA DE CADEIAS PRODUTIVAS 3.1 NA GESTO DE CADEIAS PRODUTIVAS 3.2 NA GESTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D) 3.3 NO DESENVOLVIMENTO SETORIAL E REGIONAL 3.4 VANTAGENS E LIMITAES DA PROSPECO DE DEMANDAS:

    CONTRIBUIO DOS ESTUDOS PROSPECTIVOS 4 MONITORAMENTO TECNOLGICO 5 MODELO CONCEITUAL PARA A PROSPECO REFERNCIAS

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    Objetivos da aula:

    Entender os conceitos bsicos de agronegcio e de cadeia produtiva. Conhecer os componentes, os objetivos e a importncia das cadeias produtivas, assim como o papel da tecnologia, da pesquisa e desenvolvimento, para o seu desempenho.

    1 CONCEITOS BSICOS

    1.1 OS CONCEITOS DE AGRIBUSINESS E DE CADEIA PRODUTIVA

    Megido e Xavier (1994) relembraram que os professores Ray Goldberg e John Davis, da Universidade de Harvard, na dcada de 1950, constataram que as atividades rurais e aquelas ligadas a elas no poderiam viver isoladas. Esses professores, utilizando fundamentos da teoria econmica sobre cadeias integradas, estabeleceram metodologia para o estudo da cadeia agroalimentar e cunharam o termo agribusiness. Este foi utilizado para avaliar as funes inter-relacionadas entre agricultura e os negcios. Mais especificamente, definiram o agribusiness como a soma total das operaes de produo e distribuio de insumos agrcolas, as operaes de produo nas unidades agrcolas, armazenamento, a distribuio dos produtos agrcolas e itens com eles produzidos (DAVIS; GOLDBERG, 1957); (BURNQUIST et al. 1994). O termo agribusiness foi posteriormente traduzido por agronegcios ou complexo agroindustrial (SCARLATO et al. 1994)

    Goldberg (1968) ampliou essa conceituao pela incorporao de influncias institucionais (como polticas governamentais, associaes governamentais, mercados futuros, etc.) s relaes tradicionais entre compradores e vendedores.

    Mallais1, integrante da Escola de Montpellier, citado por Burnquist et al. (1994) e por Scarlato et al. (1994), tambm utilizou o conceito de sistema industrial no agribusiness. Segundo estes autores, Mallais dividiu o setor agroalimentcio das sociedades industrializadas em quatro segmentos ou subsetores: 1) as empresas que fornecem agricultura servios e meios de produo (crdito, assistncia tcnica, fertilizantes, sementes, plantas, defensivos, mquinas agrcolas, etc.), o que corresponde definio de indstria montanha expressa por Davis e Goldberg (1957); 2) o subsetor agropecurio

    1MALLAIS

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    propriamente dito; 3) o subsetor das indstrias de transformao e alimentcias, chamando-as de indstria a jusante; 4) o setor de distribuio de alimentos. Mallais, segundo Burnquist et al. (1994), denominou esse conjunto de quatro subsetores e suas relaes de sistema agroindustrial.

    Os trabalhos de Mallais constituem um esforo para analisar a agricultura sob o enfoque da economia agroalimentar, contrapondo-se ao enfoque tradicional da economia agrcola. O autor destacou a importncia de se analisar os fluxos e encadeamentos por produtos, utilizando-se, para isso, a noo de cadeia ou filire agroalimentar, que constitui o caminho seguido por um determinado produto transformao distribuio e nos fluxos que a ele esto ligados, considerando-se seus mecanismos de regulao.

    A definio de agribusiness expressa uma consequncia importante para o desenvolvimento econmico representada pelo aprofundamento da interdependncia entre os ramos industriais e entre os diferentes setores produtivos, tais como a agropecuria e os servios:

    Esta interdependncia, por sua vez, estabelece que a dinmica de cada segmento produtivo influencia e influenciada pelos padres de mudana tecnolgica dos outros segmentos, de forma que no h como tratar a eficincia na produo agrcola desconsiderando as mltiplas relaes entre agricultura, indstria e mercado (FARINA e ZYBERSZTAJN,1993).

    Ramalho et al. (1988) indicam que a principal vantagem de se utilizar esse tipo de abordagem que ela permite analisar a evoluo da agropecuria por meio de ncleos pressionadores de seu dinamismo. A anlise destes ncleos tambm permite traar linhas de polticas governamentais cuja influncia sobre elas se d de forma direta. Tambm se cita como vantagem desta abordagem o fato de que se permite no apenas analisar o setor agrcola como tambm focalizar as suas relaes com as organizaes industriais e comerciais, que tm na atividade agrria o principal mercado, tanto no que tange compra de produtos quanto ao fornecimento de matrias-primas.

    O estudo de uma cadeia de produtos comporta dois aspectos fundamentais: 1) sua identificao (produtos, itinerrios, agentes, operao) e, 2) a anlise dos mecanismos de regulao (estrutura e funcionamento dos mercados, interveno do Estado, planificao) (BURNQUIST et al.,1994).

    Castro et al. (1996), ao comentarem sobre a anlise prospectiva de cadeias produtivas agropecurias, apresentam os seguintes conceitos:

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    Negcio agrcola: conjunto de operaes de produo, processamento, armazenamento, distribuio e comercializao de insumos e produtos agropecurios e agroflorestais, incluindo servios de apoio (assistncia tcnica, crdito, etc.);

    Cadeias produtivas: conjunto de componentes interativos, compreendendo os sistemas produtivos agropecurios e agroflorestais, fornecedores de servios e insumos, indstrias de processamento e transformao, distribuio e comercializao, alm de consumidores finais de produtos e subprodutos da cadeia.

    1.2 COMPONENTES DA CADEIA PRODUTIVA

    Castro et al. (1996) ilustram uma tpica cadeia agropecuria ou agroflorestal, com seus principias componentes e fluxos (Figura 1).

    FIGURA 1 - MODELO GERAL DA CADEIA PRODUTIVA FONTE: CASTRO (1996)

    O esquema apresentado distingue os componentes mais comuns: 1) o mercado consumidor, composto pelos indivduos que consomem o

    produto final (e pagam por ele); 2) a rede de atacadistas e de varejistas; 3) a indstria de processamento e/ou transformao de produto;

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    4) as propriedades agropecurias ou agroflorestais, com seus diversos sistemas produtivos;

    5) os fornecedores de insumos para a produo primria (adubos, defensivos, mquinas, implementos e outros servios).

    Esses autores explicitam, ainda, que estes componentes esto relacionados a um ambiente institucional (leis, normas, instituies normativas, etc.) que, em conjunto, exercem influncia sobre os componentes da cadeia.

    1.3 OS OJETIVOS DA CADEIA PRODUTIVA

    Zylberaztajn (1994) indica que a preocupao e objetivo dos estudos de agribusiness esto centrados nos aspectos da coordenao das cadeias. Caracterizada como uma sequncia de operaes, cabe a preocupao de como estas so coordenadas. Essa coordenao passa a ter maior importncia naquelas cadeias expostas competio internacional e especialmente s crescentes presses dos consumidores, vistos como alvo final dessas cadeias ao qual estas devem continuamente adaptar-se.

    percepo de que existe um fator de fundamental importncia o consumidor final do produto gerado pela cadeia pode ser estendida a de que existem vrios fatores ao longo da cadeia que contribuem ou interferem de algum modo na terminao do produto. Assim, cada ao tecnicamente independe ao longo da cadeia executada por um agente especializado que ir relacionar-se diretamente com um ou mais agentes tambm ligados cadeia. O objetivo final a produo de um bem ou servio para o maestro final, o consumidor, na ponta do consumo (ZYLBERSZTAJN, 1994). De outro modo, as cadeias produtivas objetivam suprir o consumidor final em qualidade e quantidade compatveis com as suas necessidades e a preos competitivos. Por essa razo, para Castro et al. (1996), muito forte a influncia do consumidor final sobre os demais componentes da cadeia e importante conhecer as demandas desse mercado consumidor para garantir a sustentabilidade cadeia produtiva.

    Zylbersztajn (1994) e Castro et al. (1996), nas metodologias que apresentam, propem que se estude as cadeias de trs para frente, isto , que se identifique em primeiro lugar o consumidor, suas caractersticas e padres, formas de organizao social e capacidade de interferir sobre a cadeia. Concordam, tambm, que o consumidor passa a ser o elemento dinamizador das cadeias agroindustriais na sua viso moderna. Zylbersztajn

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    (1994) acrescenta que a competitividade de uma cadeia pode estar totalmente atrelada sua capacidade de adaptar-se s mudanas dos padres de preferncia do consumidor.

    Castro et al. (1996) concluem que, de uma forma geral, os principias objetivos perseguidos pelas cadeias produtivas, ou pelos seus componentes individualmente, so: a eficincia, a sustentabilidade, a qualidade e a equidade.

    1.4 CADEIAS PRODUTIVAS: SUA IMPORTNCIA NUM PROCESSO DE GLOBALIZAO

    As cadeias produtivas so importantes componentes para o desenvolvimento econmico setorial e regional. O crescimento econmico de uma regio est associado ao desempenho de diversas cadeias produtivas. Variveis de desenvolvimento social, com nvel de emprego, sade, habitao, frequentemente tambm esto associadas ao desempenho de determinadas cadeias produtivas. Vrios setores da economia dependem diretamente desse desempenho (CASTRO et al., 1996).

    Na atualidade, intensa a preocupao com relao aos impactos decorrentes da implantao do Mercosul sobre a economia de cada um de seus pases componentes. Vrios estudos tm sido realizados, enfocando a competitividade das cadeias produtivas de cada pas em relao aos demais.

    De uma maneira geral, constata-se nos estudos realizados que os problemas de competitividade entre cadeias produtivas agropecurias no mbito dos pases do Mercosul, alm de causas referentes a diferenciaes ambientais mais favorveis, algumas atividades tm apresentado explicaes que fogem aos limites da fazenda. Entre os fatores que diferenciam a competitividade entre os pases, citam-se: questes de infraestrutura de apoio produo tais como armazns, estradas, ferrovias e portos, custos de insumos, diferenciais de cargas tributarias; estrutura de mercado interno; e grau de modernizao do processo agroindustrial (CASTRO et al., 1996).

    Os pases no mbito do Mercosul apresentam heterogeneidade com relao importncia relativa para a formao de seu respectivo produto interno bruto (PIB). Enquanto o setor primrio representa aproximadamente 10% do PIB no Brasil, 11% no Uruguai, 14% na Argentina, no Paraguai corresponde a 28%. As indstrias transformadoras de produtos (que incluem as indstrias de alimentos, bebidas e fumo; txteis e couros; madeiras e mveis; papel, papelo e impressos), por sua vez, apresentam

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    grande importncia nesse conjunto de pases. No Paraguai e Bolvia, por exemplo, 70% a 80% da indstria corresponde manufatura de produtos de origem agropecuria, contribuindo a indstria de alimentos com aproximadamente 50% do total gerado pela atividade industrial. Por sua vez, na Argentina e Uruguai, aproximadamente 50% do PIB industrial gerado pela industrializao de produtos de origem agropecuria, contribuindo a indstria alimentcia argentina com a metade deste quantitativo. No setor industrial brasileiro, os produtos alimentcios aportam aproximadamente 11,5% do PIB gerado pelo conjunto de indstrias do pas (PROGRAMA COOPERATIVO PARA O DESENVOLVIMENTO TECNOLGICO AGROALIMENTAR E AGROINDUSTRIAL DO CONE SUL - PROCISUR , 1996).

    H um pleno reconhecimento de que, apesar de a atividade agrcola dos pases do MERCOSUL no serem semelhante, os seus pases membros podem conseguir saldos positivos dessa unio, pois em vez de competirem entre si podem, com a integrao, aumentar o fluxo de capital que importante para o crescimento econmico, bem como fortalecerem-se para juntos criarem novos mercados com o resto do mundo (BRUM et al., 1997).

    Apesar de a integrao gerar alguns impactos negativos e limitantes para os pases-membros, para Regunaga (1989) poder trazer amplas potencialidades, derivadas da especializao, da cooperao para a competitividade e do desempenho de amplos setores agroalimentares.

    Garcia Jr. (1996) acentua que a compreenso do processo de globalizao tarefa complexa, pois envolve conceitos multidisciplinares conjugados ao entendimento dos efeitos diretos e indiretos das inovaes tecnolgicas em curso.

    1.5 TECNOLOGIA E COMPETITIVIDADE DO AGRONEGCIO

    Mattuella et al. (1995) ressaltam que o processo de integrao de mercados, em sua concepo global, bastante complexo e requer mudanas significativas em toda estrutura jurdico-institucional dos pases envolvidos. No aspecto estritamente econmico, a integrao desenvolveu-se pela adoo de polticas globais e setoriais unificadas, de forma a garantir aos agentes econmicos iguais oportunidades de competio. Afirmam, ainda, que a inter-relao entre os elos da cadeia agroindustrial devero estabelecer o conjunto de estratgias mais adequado para enfrentar o novo ambiente de mercado.

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    Concluem que as vantagens competitivas, oriundas da eficincia organizacional, das inovaes tecnolgicas e da qualidade dos produtos, representam o principal instrumento para que as empresas sejam mais eficientes e competitivas nesse novo ambiente de concorrncia.

    Batalha (1995) tambm refora a corrente de autores para os quais a tecnologia desempenha papel cada vez mais importante como fator explicativo das estruturas industriais e do comportamento competitivo das empresas. Em seu estudo, ressalta que uma cadeia de produo sustentada por um sistema de tecnologias (tecnologias de base, tecnologias-chave e emergentes) ter poucas condicionantes tecnolgicas que possam influenciar a concorrncia. Conclui, ainda, que este o caso de grande parte das cadeias de produo agroindustriais.

    O autor relembra que na medida em que a tecnologia melhora a produtividade das empresas, influi tambm na capacidade destas para competir. Ressalta que a competitividade o grande desafio enfrentado pelos pases em desenvolvimento, em especial os da Amrica Latina, para participar e ganhar mercados internacionais. Lana, do ponto de vista tecnolgico e com vistas a uma melhor competitividade, a pergunta frequente: onde se deve concentrar o esforo de atuao: na produo agrcola, na ps-colheita ou no mercado? Acrescenta que a aplicao do conceito de sistema de agronegcios, enfatizando a inter-relao entre as partes do mesmo, fundamental para se obter um desenvolvimento equilibrado de forma que as distintas partes sejam colocadas num mesmo nvel. Conclui que os pases recm-incorporados exportao de produtos agropecurios tero, por exemplo, excelentes perspectivas de desenvolvimento das suas indstrias correlatas de embalagens, de conservao refrigerada, de transportes especializados, bem como das atividades de transferncia de tecnologia em apoio a todo sistema agroindustrial.

    2 ANLISE PROSPECTIVA

    Voc sabe o que anlise prospectiva? Pois bem, a anlise prospectiva uma tcnica de planejamento que tem sido utilizada para melhorar a base de informao disponvel aos gestores, melhorando a tomada de deciso gerencial. Embora inicialmente desenvolvida no mbito do planejamento estratgico de instituies ou de setores da economia, a tcnica apresenta timas possibilidades de uso no contexto de planejamento e

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    da gesto das cadeias produtivas agropecurias, tanto para as instituies de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), como para outras organizaes diretamente interessadas no assunto. Em geral, busca-se identificar tendncias futuras de comportamento de variveis econmicas, sociais, tcnicas e polticas. As instituies de P&D tm especial interesse pelo comportamento futuro da tecnologia.

    Os conceitos de cadeia produtiva e prospeco de demandas tambm so de introduo recente, no mbito da pesquisa agropecuria brasileira. O processo de planejamento estratgico realizado por essas instituies tem evidenciado a necessidade de reformular o enfoque de atuao predominante centrado no produtor rural e na fazenda, em favor de uma viso mais abrangente, que inclua as demandas do consumidor final de produtos agrcolas, os demais componentes da produo agropecuria, ou seja, um amplo mercado de tecnologia. Atender a esse novo conjunto de clientes implica a necessidade de reviso de conceitos e mtodos nas instituies de pesquisa agropecuria e, muitas vezes, em profundas mudanas de cultura organizacional.

    A operacionalizao da prospeco tecnolgica complexa, por envolver muitos campos do conhecimento. Baseia-se em necessidades de grupos sociais e, por isso, os conceitos de marketing e segmentao de mercados so aplicveis na especializao desses grupos e de suas necessidades. Ao tratar da questo tecnolgica direcionada para a soluo de problemas ou de necessidades sociais, trabalha-se com complexidades que extrapolam o campo das disciplinas. A teoria de sistemas e o enfoque sistemtico passam a ser uma imposio no equacionamento de abordagem multidisciplinar.

    Complementarmente, por se tratar de atividade de cunho preditivo, necessrio mobilizar tcnicas extrapolativas, de forma a assegurar que as decises tomadas no presente possam estar em sintonia com expectativas futuras da sociedade.

    Este trabalho objetiva revisar e melhorar o processo da prospeco de demandas, que vem se desenvolvendo desde 1995, centrado no desenvolvimento de metodologias e estratgias para a prospeco de demandas tecnolgicas em cadeias produtivas, principalmente sob o ponto de vista da instituio de pesquisa agropecuria. Discute as bases tericas desse processo e as aplicaes da anlise prospectiva no planejamento da pesquisa agropecuria. Apresenta uma metodologia para anlise de demandas tecnolgicas de cadeias produtivas, especialmente desenvolvidas, tendo em conta as necessidades e particularidades da pesquisa agropecuria. Exata reviso baseia-se na experincia de

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    introduo desses conceitos e instrumentos no Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria (SNPA) e nos resultados at ento obtidos.

    3 APLICAES DA ANLISE PROSPECTIVA DE CADEIAS PRODUTIVAS

    3.1 NA GESTO DE CADEIAS PRODUTIVAS

    Castro et al. (1999) indicam que os estudos de prospeco tecnolgica, realizados pelas diversas equipes do SNPA, tm identificado demandas tecnolgicas e no tecnolgicas. medida que esse conhecimento avana, as equipes se deparam com a necessidade de propor e implementar medidas para superar os obstculos identificados ao bom desempenho das cadeias produtivas, isto , para atender s demandas identificadas.

    Assim, verifica-se que, antes mesmo da concluso dos estudos, tem sido usual que as equipes iniciem a identificao, proposio, negociao e implementao de intervenes nas cadeias produtivas analisadas. Pode-se observar tambm que, mais do que as demandas tecnolgicas, essas intervenes tem se dirigido tambm e muitas vezes com maior efeito imediato soluo de demandas no tecnolgicas, causando impacto em componentes isolados e na prpria coordenao das cadeias produtivas.

    Os objetivos dos estudos prospectivos tm um papel determinante na maneira como esta preocupao com a interveno incorporada pela equipe. Assim, estudos cujo principal foco est restrito identificao de demandas tecnolgicas parecem mais tmidos na proposio de intervenes para a soluo de demandas no tecnolgicas.

    Estudos cujo foco mais ampliado e que, mais do que identificar demandas tecnolgicas, buscam tambm subsidiar, de algum modo, a poltica agrcola embutem, desde a sua concepo e realizao, mecanismos para articulao de diversos atores sociais envolvidos, como uma garantia de seu comprometimento com as intervenes necessrias aos problemas identificados. Esse o caso, por exemplo, dos estudos prospectivos realizados pelo Estado do Paran, sob patrocnio da Secretaria de agricultura do estado, a coordenao do Iapar (Instituto Agronmico do Paran) e participao da Emater-PR (Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Paran) e de instituies privadas.

    Exemplos de possveis intervenes propostas podem ser: a) a reformulao da programao de pesquisa (caso do centro Nacional de Pesquisa de Uva e Vinho da Embrapa) e de assistncia tcnica; b) a reestruturao de processos de elos na cadeia, e de

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    fluxos entre componentes, para melhoria de fatores crticos de eficincia, qualidade ou competitividade (caso da cadeia produtiva do caju no nordeste, que reestruturou o segmento de equipamentos); c) a criao de fruns polticos de negociao entre elos da cadeia (caso da cadeia produtiva da seda, no Paran, de acordo com Yamaoka et al., 1998).

    3.2 NA GESTO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D)

    Para Megido e Xavier (1994), a cadeia produtiva agroalimentar reserva para o executivo da iniciativa privada, de instituies ou de governos a necessidade de estudar, de um enfoque sistmico, as vrias relaes que sempre esto em jogo para o sucesso do negcio, produto ou servio ou mesmo para uma poltica governamental, dentro do composto integrado de todo setor.

    Pinazza (1994) enfatiza que a viso da agricultura ultrapassa o enfoque da produo que se limita s fronteiras da porteira das fazendas. E acentua a necessidade de entender o processo sistmico de adio de valor na cadeia alimentos e fibras, que existe nas atividades antes e depois da porteira. O autor relembra que agricultura propriamente dita cabe o papel de incorporar tecnologias e conseguir ganhos de produtividade que so transferidos via preos mais baixos para seus produtos. E complementa, afirmando que sua margem econmica tende a se estreitar entre os consumidores de bens e matrias-primas agrcolas. Tambm ressalta que a competitividade de cada cadeia agroalimentar resultado da competncia das atividades de antes, dentro e depois da porteira. Contudo, enfatiza que a fora da cadeia dada pela capacidade de resistncia do seu elo mais fraco.

    Castro et al. (1996) indicam que uma das decises cruciais na gesto de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) a escolha de o que pesquisar. Acrescentam, ainda, que nas instituies pblicas de P&D, que historicamente trabalham em regime de escassez de recursos, surge a necessidade de priorizar os problemas a serem abordados. Identifica, pois, corretamente as demandas de tecnologia e a necessidade de tornar os projetos de pesquisa consistentes com tais demandas, podendo representar o principal fator de sustentabilidade dessas instituies. Indicam, tambm, que o sistema produtivo o componente preferencial focalizado pela pesquisa agropecuria e florestal.

    Maximizar a eficincia sob a influncia de cenrios socioeconmicos, atingir padres de qualidade mais elevados e proporcionar equilbrio sustentvel de explorao e competitividade ao produto passam a ser buscado pela pesquisa no contexto das exigncias do mercado consumidor, intermedirio e final (CASTRO et al., 1995).

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    Goedert et al. (1994) tambm acentuam que a caracterizao das demandas para o desenvolvimento tecnolgico e a disseminao de informaes tcnicas visando ao desenvolvimento regional constitui-se em instrumento de fundamental importncia para o planejamento das aes de pesquisa agropecuria e florestal, assim como constituem importante estratgia para assegurar a participao conjunta com os diversos segmentos de usurios, clientes e beneficirios para a sua definio.

    Segundo Castro et al. (1995), em sentido mais amplo, explicitam que em especial nas instituies pblicas, a definio de demandas significa transformar grandes expectativas da sociedade em objetivos de trabalho do projeto de P&D, de forma que o conjunto de objetivos da programao institucional contribua para que sejam alcanados os objetivos maiores da sociedade.

    Castro et al. (1994) enfatizam que o grande problema que se apresenta s instituies de pesquisa e desenvolvimento responder s seguintes questes:

    1) O que importante pesquisar? 2) Como alocar os recursos (financeiros, humanos) para atender s demandas

    identificadas? A formulao de respostas claras e mais precisas a estas questes somente ser

    alcanada, conforme Castro et al. (1995), com a implantao de um sistema de obteno e processamento de informaes que servir no s para o estabelecimento e reviso peridica das demandas e prioridades, mas tambm para servir de referencial de julgamento para a seleo dos projetos de P&D. Para os autores, imperioso que se identifiquem os problemas a partir das relaes da cadeia produtiva, em geral, e dos sistemas produtivos, em particular. Acrescentam, tambm, que importante se avaliar a importncia econmica e social atribuda aos problemas identificados, bem como as preferncias do agricultor na adoo de novas tecnologias. O sistema de informaes proposto deve tambm conter detalhes da estrutura e desempenho dos mercados, dos produtos e de insumos, de forma a permitir que se possam medir os impactos dos esforos de P&D e sua posterior adoo, para que se alcancem os resultados desejados na sociedade.

    Os mesmo autores propem que o sistema de informaes para a identificao de demandas de tecnologias seja constitudo de: 1) zoneamentos agroecolgicos e socioeconmicos; 2) estudos sobre a caracterizao de cadeias produtivas e de sistemas naturais e, tambm, sobre os sistemas produtivos; 3) anlise da estrutura do conhecimento

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    cientfico e tecnolgico prevalecente nas regies estudadas. Tambm ressaltam que a tarefa de caracterizao de demandas por tecnologias exige um aparato de conhecimentos que transcende o campo disciplinar e, tambm, que se fundamenta em trs vertentes tericas: 1) o enfoque sistemtico; 2) o estudo de mercados e de sua segmentao, e 3) a viso prospectiva.

    Ainda segundo Castro et al. (1995), a teoria dos sistemas e o enfoque sistmico so os elementos de unio entre as mltiplas reas do conhecimento e, por isso, oferecem instrumentos para avaliar as varias interaes dos diferenciados interesses e limitaes dos fatores do processo produtivo. Por outro lado, os conceitos e tcnicas normalmente utilizados nos estudos de mercado podem ser adaptados para operar nas condies particulares da pesquisa agropecuria, auxiliando para a distino dos segmentos sociais especficos do processo produtivo e, assim, melhor identificar suas necessidades de conhecimento e tecnologias. A anlise de cenrios , tambm, uma das caractersticas do processo de P&D importante para se garantir a receptividade ao produto da pesquisa na poca de sua divulgao.

    Nos estudos de prospeco tecnolgica do negcio agrcola como tambm denominado o complexo agroindustrial ou agribusiness importante que sejam conhecidas as relaes que ocorrem tanto nos limites das propriedades rurais bem como dos processos que propiciam a oferta de produtos do setor agropecurio aos diferentes consumidores. A viso prospectiva objetiva orientar a tomada de deciso tendo como premissa a existncia de turbulncias que provocam mudanas sociais pela modificao das tendncias de comportamento (passado e atual) das variveis (CASTRO et al., 1995).

    A reflexo sobre o mercado tambm fundamental para a definio da estratgia de gerao de tecnologia e sua posterior adoo. Castro et al. (1995) argumentam que a gerao de tecnologias que no se sustenta nas necessidades reais do mercado est fadada ao fracasso.

    Nas instituies de pesquisa, as pblicas em especial, o planejamento precisa transformar grandes finalidades da sociedade em objetivos de trabalho do projeto de P&D, de forma que o conjunto de objetivos da programao de P&D contribua para se atingir os objetivos maiores da sociedade. A dificuldade esta na interpretao correta dos conflitos sociais inerentes ao processo de estabelecimento destes objetivos bem como na utilizao de mecanismos apropriados para a sua desagregao, em objetivos de trabalho do projeto P&D (CASTRO et al., 1999).

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    necessrio implantar um sistema de informaes, no s para o estabelecimento e reviso peridica de demandas e prioridades, mas tambm para servir de referencial de julgamento para os projetos de P&D. imperativo conhecer as necessidades, aspiraes e problemas dos clientes e usurios, a importncia relativa, econmica e social atribuda a eles, bem como as suas preferncias na adoo de novas tecnologias.

    Uma questo importante na escolha da estratgia para a soluo de um problema a do grau de complexidade associado. H problemas simples, em que uma ou poucas variveis conhecidas esto envolvidas e cuja soluo pode ser facilmente equacionada aplicando-se procedimentos simples. H problemas complexos, envolvendo muitas variveis inter-relacionadas, e para os quais a estratgia de soluo necessita maior elaborao. O conceito de problemas simples e complexos bem como as diferentes estratgias de soluo a adotar em cada caso so detalhados no tpico complementar a este captulo .

    Para Castro et al. (1999), a identificao de demanda por tecnologia agropecuria pode ser facilmente classificada como um problema complexo. Os objetivos dos diversos segmentos sociais de uma cadeia produtiva, consumidores, comerciantes, produtores, so em geral conflitantes. muito grande o nmero de variveis sociais, econmicas, biolgicas e gerenciais, relacionando-se de forma interativa, para compor o desempenho geral de uma cadeia produtiva. Neste contexto, o comportamento de uma varivel influenciado pelo de outras variveis, sendo muito difcil compreender o desempenho de uma cadeia produtiva. Tentar modific-lo, sem a aplicao de tcnicas analticas mais elaboradas, capazes de trabalhar a complexidade envolvida.

    Veja bem, ao tentar compreender a natureza fundamental dos problemas complexos, o analista necessita separar, dentre as muitas variveis e estruturas atuando em forma interativa, aquelas que so essenciais ao desempenho do sistema analisado. O processo de anlise de complexas relaes de causa e efeito entre as variveis deve ser capaz de identificar aquelas de maior impacto sobre o desempenho de sistema em anlise, de forma a permitir um exame objetivo das possveis solues ao problema analisado. Esta separao de variveis de maior impacto sobre o desempenho do sistema daquelas de menor impacto definida como fatores crticos de desempenho.

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    3.3 NO DESENVOLVIMENTO SETORIAL E REGIONAL

    Castro et al. (1998) enfatizam que as cadeias produtivas so importantes componentes para o desenvolvimento econmico setorial e regional. Para os autores, o desenvolvimento econmico de uma regio pode estar associado ao desempenho de diversas cadeias produtivas. Variveis de desenvolvimento social, como nvel de emprego, sade, habitao, freqentemente tambm esto associadas ao desempenho de determinadas cadeias produtivas. Setores da economia dependem diretamente desse desempenho. Assim, o planejamento do desenvolvimento regional ou setorial seria beneficiado pelos resultados da anlise prospectiva.

    Acreditam, tambm, que a participao das instituies integrantes do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria (SNPA) no desenvolvimento regional e nacional ser ampliada, com base no conhecimento sistmico do desempenho das cadeias produtivas, obtido a partir de estudos prospectivos. Tal fato, concluem, representa uma oportunidade para ressaltar o papel das instituies de pesquisa agropecuria como agncia de desenvolvimento.

    3.4 VANTAGENS E LIMITAES DA PROSPECO DE DEMANDAS: CONTRIBUIO DOS ESTUDOS PROSPECTIVOS

    Castro et al. (1999) realizaram uma avaliao junto aos pesquisadores e gerentes de P&D do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuria (SNPA) sobre o Sistema Embrapa de Planejamento (SEP), o enfoque sistmico de P&D e o processo de caracterizao e priorizao de demandas, por ocasio da realizao de seminrios realizados sobre estes temas. Foram aplicados questionrios a 74 gerentes de P&D, a 800 pesquisadores da Embrapa e a 365 pesquisadores das Organizaes Estaduais de Pesquisa Agropecuria. Nessa ocasio foi solicitada a opinio dos participantes, em escala crescente de notas de 1 a 6 (1 significando a completa discordncia, e 6 a completa concordncia).

    Os resultados da avaliao efetuada mostraram que os avaliadores consideram ser o modelo de demanda e os enfoques de P&D e de sistemas instrumentos vlidos para aumentar a eficincia da pesquisa agropecuria e para melhoria de relacionamento com a clientela, por meio do atendimento das suas demandas (mdia 5, em ambas as questes). O Sistema Embrapa de Planejamento, no qual se inclui o processo de demanda apresentado

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    neste captulo, foi entendido como um instrumento para racionalizar os processos de pesquisa (mdia 5).

    Avaliaes realizadas pelos participantes em relao aos seminrios e cursos de demandas indicaram tambm um bom entendimento e aceitao dos conceitos veiculados nos eventos. Consideraram que o contedo representava um avano, demonstrando interesse em desenvolver estudos prospectivos de demandas.

    Os resultados da avaliao desses eventos mostram resultados positivos, com avaliaes mdias acima de cinco para as dez variveis avaliadas. A exceo se refere percepo dos participantes quanto a sua capacidade em realizar estudos de prospeco, que obteve uma avaliao alta, porm um pouco menor (mdia acima de 4). Tal percepo correta, uma vez que o propsito desses eventos preparar pesquisadores de variadas formaes disciplinares para iniciar estudos prospectivos, recebendo posterior assistncia durante a realizao dos mesmos.

    4 MONITORAMENTO TECNOLGICO

    Outra preocupao futura dos rgos de P&D, responsveis pelos estudos prospectivos, consiste na realizao sistemtica de avaliaes para monitoramento de mudanas e rupturas no desempenho dos sistemas, aps a realizao da anlise prospectiva.

    Assim, se tais estudos identificam demandas (tecnolgicas e no tecnolgicas) que devem ser atendidas, por meio de intervenes de diversas naturezas, pode-se prever que estas mesmas intervenes iro condicionar alteraes nas prioridades e demandas inicialmente identificadas. Ou seja, a matriz de prioridades e demandas necessita tambm ser constantemente ajustada, medida que estas demandas forem sendo atendidas.

    Alm disso, essas intervenes tambm podem causar mudanas, no totalmente antecipadas, na prpria dinmica do sistema, dentro e entre componentes, alterando assim sua prpria articulao. Novamente, metodologias para monitoramento tecnolgico devem garantir que as alteraes na relao dinmica entre os componentes do sistema sejam corretamente acompanhadas e identificadas.

    Finalmente, podem ocorrer rupturas, no desempenho destes sistemas, como resultado de mudanas tecnolgicas, entrada de novos fatores no sistema, mudanas no ambiente institucional, etc. Tais rupturas devem tambm ser acompanhadas e identificadas

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    por uma metodologia de monitoramento tecnolgico, mantendo-se constantemente atualizadas a massa de informao relevante.

    5 MODELO CONCEITUAL PARA A PROSPECO

    Em face dessas caractersticas, a tarefa de caracterizao de demandas por tecnologias (ou prospeco tecnolgica) exige um aparato de conhecimentos que transcende o campo disciplinar. Primeiramente, devem ser consideradas as interaes dos mltiplos interesses e limitaes dos diversos fatores do processo produtivo e os conflitos a envolvidos, cujas causas so determinadas no campo das cincias biolgicas, sociais e econmicas. A teoria dos sistemas e o enfoque sistmico so os elementos de unio entre essas mltiplas reas de conhecimento. Os conceitos de cadeias produtivas agropecurias e sistemas produtivos so aplicaes diretas do enfoque sistmico.

    Em segundo lugar, necessrio distinguir os segmentos sociais especficos do processo produtivo e determinar suas aspiraes e necessidades por conhecimentos e tecnologia. A adoo do produto da P&D fortemente influenciada pela adequao de tecnologia s necessidades especficas da clientela. Neste caso, os conceitos e tcnicas normalmente utilizados para estudos de mercado (ou tcnicas de marketing) podem ser adaptados, para operar nas condies particulares de pesquisa agropecuria.

    Finalmente, uma das caractersticas do processo um campo que decorre entre a caracterizao do problema de pesquisa e a oferta da soluo, que pode chegar a dcadas em algumas situaes especficas da pesquisa agropecuria. Tal caracterstica implica a necessidade do exame de cenrios futuros de desempenho da cadeia produtiva e de seus futuros de desempenho da cadeia produtiva e de seus fatores crticos, para garantir que haver receptividade ao produto da pesquisa na poca da sua produo.

    Essas condies caracterizam a determinao de demandas de cadeias produtivas com um problema complexo e indicam que a anlise prospectiva de demandas tecnolgicas deva se assentar em trs vertentes tericas principais: 1) na viso sistmica, assegurada pela aplicao do enfoque sistmico; 2) na viso prospectiva, apoiada pelas tcnicas de prospeco de cenrios futuros e; 3) no estudo de mercado de tecnologia e sua segmentao.

    Estas dimenses tericas sero examinadas com maior grau de detalhamento nos prximos captulos.

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    REFERNCIAS

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    COMPLEMENTO DA AULA 1

    INTRODUO ANLISE DAS CADEIAS PRODUTIVAS

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    PROBLEMA CARACTERSTICAS QUEM Simples - Resoluo lgica

    - Sequencial - Causa especial - Poucos tm o saber

    Especialista ou Grupos deles

    Complexo - O saber pulverizado - Tratamento no lgico - Abordagem negociada Causas comuns (sistmicas) - H conflito de valores

    Grupo

    FIGURA 2 -PROBLEMAS SIMPLES X COMPLEXOS: CARACTERSTICAS E ESTRATGIAS DE SOLUO

    FONTE: www.afpu.unicamp.br/Gerentes/Melhoria%20de%20Processo/18

    Algumas observaes

    - Um grupo tentando resolver problemas simples: o Desperdia recursos o Fica inoperante o No eficaz o Passa longe da eficincia o Provoca muito estresse nas relaes o Desmotiva-se para a melhoria

    - Um indivduo tratando de um problema complexo

    o No eficaz (o especialista no ver vrias possibilidades)

    o Gera autoritarismo (perda de qualidade de vida no trabalho)

    o Gera conflitos de implementao o Tem avanos rpidos iniciais que evaporam o Gera muitas perdas no longo prazo

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    ALOCAO CERTA DO PROBLEMA GERA COMPROMETIMENTO E EFETIVIDADE (ww.afpu.unicamp.br/Gerentes/Melhoria%20de%20Processo/18)

    Resolver Problemas:

    Encontrar solues para problemas ou situaes identificando e analisando questes, desenvolvendo opes e solues, avaliando os potenciais efeitos das solues e executando uma soluo escolhida, como na resoluo de uma disputa entre duas pessoas.

    Resolver problemas simples:

    Encontrar solues para um problema simples envolvendo uma nica questo, atravs da identificao e anlise da questo, do desenvolvimento de solues, da avaliao dos potenciais efeitos das solues e da execuo escolhida.

    Resolver problemas complexos: (Fonte: www.fsp.usp.br/cbcd/CIF/WebHelp/d175)

    Encontrar solues para um problema complexo que envolva questes mltiplas e inter-relacionadas, ou vrios problemas relacionados, atravs da identificao e anlise da questo, desenvolvimento de solues, avaliao dos potencias efeitos das solues e execuo da soluo escolhida.

    Nota Explicativa ao texto referente a classificao de tecnologias, indicada por BATALHA (1995).

    "As operaes tcnicas de uma cadeia de produo podem ser distribudas em trs classes distintas, segundo seu contedo tecnolgico (Maisseu & L Duff, 1991)". So elas:

    Tecnologias de base: operaes necessrias atividade principal da cadeia, porm facilmente disponveis e, portanto, sem impacto competitivo importante;

    Tecnologias-chave: operaes determinantes do ponto de vista do impacto concorrencial. Essas tecnologias esto associadas s operaes-chave2 da cadeia de produo.

    2 Uma operao bsica elementar (tcnica, comercial ou logstica) pode ser considerada

    chave quando influencia de maneira importante a dinmica do funcionamento de uma dada cadeia de produo agroindustrial, condicionando sua forma e/ou a intensidade das trocas ocorridas no exterior ou no interior dos seus limites.

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    Tecnologias emergentes: operaes ligadas s tecnologias importantes do ponto de vista de evoluo futura do sistema.

    Referncias

    AFPU. UNICAMP.Problemas simples x complexos: caractersticas e estratgias de soluo. www.afpu.unicamp.br/Gerentes/Melhoria%20de%20Processo/18

    BATALHA, M. O. As cadeias de produo agro-industriais: uma perspectiva para o estudo das inovaes tecnolgicas. Revista de Administrao, So Paulo, v. 30, n. 42, p. 43-50, out./dez. 1995.

    MAISSEUM, A.; LE DUFF, R. Stratgie et technologie: le role clef des technologies verrou. In: BATALHA, M. O. As cadeias de produo agro-industriais: uma perspectiva para o estudo das inovaes tecnolgicas. Revista de Administrao, So Paulo, v. 30, n. 42, p. 43-50, out./dez. 1995.

    USP. Resoluo de problemas simples e complexos www.fsp.usp.br/cbcd/CIF/WebHelp/d175.htm