Bases Conceituais para o Diagnóstico Psicopedagógico Institucional
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTREPÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO
Por: Marcelle Gomes de Lima
Rio de Janeiro2006
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDESINSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO PSICOPEDAGÓGICO
Por: MarcelleOrientador: Prof. Carlos Alberto Cereja de Barros
Monografia apresentada ao curso de Pós-Graduação em Psicopedagogia da Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do Grau em Psicopedagogia.
Rio de Janeiro2006
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por manter viva a minha fé em superar mais esta etapa.
12
Dedico esta vitória a minha querida família pelo carinho, atenção e suporte que muito contribuiu para conclusão deste curso.
13
Resumo
O presente estudo aborda a importância do trabalho psicopedagógico. Observou-se
o objetivo principal da psicopedagogia, ciência nova que estuda o processo de
aprendizagem e as suas dificuldades.
O papel do psicopedagogo, também observado dentro da instituição escolar, com
suas tarefas e funções. Esse profissional dedica-se também ao assessoramento da
instituição escolar visando condições necessárias para uma melhor compreensão do
processo de ensinar e aprender.
As áreas de atuação do psicopedagogo são diversas e de forma preventiva, porem
neste estudo será abordado a psicopedagogia preventiva ou escolar.
Devido a psicologia e a pedagogia não terem dado conta de resolver o problema do
grande números de crianças com fracasso escolar, surge no Brasil a psicopedagogia.
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SumarioIntrodução
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Capítulo I – A contribuição da Psicopedagogia na Aprendizagem
12
1.1 Histórico
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1.2 Conceito
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1.3 A Ação do Psicopedagogo no Resgate da Aprendizagem
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1.3.1 Papel do Psicopedagogo
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1.4 A Prática Pedagógica a Luz da Psicopedagogia
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1.5 Teorias que Embasam a Formação Psicopedagógica
22
1.6 Áreas de Atuação do Psicopedagogo
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Capitulo II – A Importância da Análise do Funcionamento Escolar 28
2.1 Atividades Escolares
29
2.1.1 Programação
29
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2.1.2 Recursos Materiais
30
2.1.3 Pessoal Escolar
30
2.1.4 Corpo Discente
30
2.2 Intervenção Psicopedagógica na Escola
32
2.3 Relação Família – Escola e Intervenção Psicopedagógica
35
2.4 Importância da Legalização do Psicopedagogo como Profissão 37
Capitulo III – Aprendizagem – Processo na Visão Psicopedagógica 39
3.1 A intervenção Psicopedagógica no Problema de Aprendizagem 40
Conclusão
46
Referências
49
Anexos 50
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INTRODUÇÃO
O atual paradigma de competência repousa em uma ação humana criativa,
contextualizada, adequada à realidade, respaldada no conhecimento científico e realizada
com muita maturidade emocional.
Aprender a lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado, com o
erro, com a dificuldade, transformar informação em conhecimento, ser seletivo e buscar na
pesquisa as alternativas para resolverem os problemas que surgem são tarefas que farão
parte do cotidiano das pessoas.
A escola, no cumprimento da sua função social, deverá desenvolver nas
crianças e jovens que nela confiam a sua formação, competências e habilidades para
prepará-los para agir conforme as exigências da contemporaneidade.
Como não há como se distanciar desta realidade, todos os profissionais da
educação sentem a necessidade de refletir sobre suas ações pedagógicas no que diz respeito
a conhecer e reconhecer a importância do sujeito da aprendizagem, a entender o que pode
facilitar ou impedir que se aprenda.
Auxiliando professores e todos aqueles envolvidos com a questão do aprender,
surgiu a Psicopedagogia, ciência nova que se destina a buscar as causas dos fracassos
escolares e resgatar o prazer de aprender numa visão multidisciplinar, podendo orientar as
instituições escolares e seus professores e atender a pais e alunos na perspectiva de
transformar as relações com o aprendizado.
Ao lado daquelas pessoas que acompanham, compreendem e aceitam o
aparecimento das novas profissões, há sempre alguém mais resistente, que embora conheça
e viva cercado de produtos sofisticados e de última geração, ainda reluta em acreditar que
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as novas especialidades profissionais na área da educação e da saúde vieram para ajudar a
resolver problemas e não para criá-los.
Quando a escola seguia o método tradicional, o que se pretendia era a aquisição
de muitos conhecimentos. Quem, com mais de 30 anos, não se lembra de passar horas
decorando matéria para uma prova? Porque era isso exatamente que representava estudar:
memorizar fatos, datas, acontecimentos,etc. Assim, quem não estudava, ou seja, não
passava boa parte do dia exercitando sua memória, era mau aluno, porque
conseqüentemente não reproduzia na prova o texto do livro ou as palavras da professora e,
assim, tirava notas baixas.
Hoje, a situação é outra: a exigência mudou de lugar. Ter boa memória é
importante, mas não basta. Estudar agora é compreender, classificar, analisar, sintetizar,
estabelecer relações e tirar conclusões próprias, baseadas em fatos ou em dados
comprováveis. É ser autor, alguém capaz de expor coerentemente suas idéias,
pensamentos, acrescentar conhecimento ao conhecimento. E isso depende de um aparelho
cognitivo e emocional competente e não apenas de memorização!
Então, o que acontecia antigamente com as crianças com dificuldades no
aprender? O método tradicional era melhor para elas? Sem discutir a metodologia,
respondo: elas eram ignoradas nas suas dificuldades, pois bastava a mãe, a avó ou a
professora particular estudarem com elas, tomarem o ponto, ensiná-las a memorizar com
uma série de dicas, para que as notas vermelhas sumissem dos boletins.
Mas essas crianças cresceram, foram para a faculdade, escolhendo na grande
maioria das vezes profissões nas quais não se exigia conhecimentos e nem habilidades nas
suas áreas de maior dificuldade.
Hoje sabemos que essas pessoas não conseguiram reunir o melhor de si, a
totalidade de suas competências e nem investir seu potencial na escolha e no seu
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desempenho profissional. Porém, no século XXI, a exigência do mercado de trabalho vai
permitir cada vez menos essas limitações.
Ao contrário do que dizem algumas pessoas, não aumentaram as indicações
para os consultórios de psicopedagogia por livre iniciativa das escolas ou dos médicos. O
desenvolvimento das neurociências, do conhecimento sobre o funcionamento emocional e
mental, o aprimoramento de testes, a globalização, a democratização do acesso às
pesquisas, vieram enriquecer as condições dos profissionais da educação e da
psicopedagogia em diagnosticar. E decorrente desse fato, as intervenções, começaram a ser
mais diretivas e com grande oportunidade de sucesso.
CAPITULO I
1. A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NA APENDIZAGEM
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1.1 HISTÓRICO
A Psicopedagogia tem por definição o trabalho com a aprendizagem, com o
conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Realiza este trabalho através
de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do aprendente. É uma
praxe, portanto comprometida com a melhoria das condições de aprendizagem.
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do
processo de aprendizagem humana e assim estar resolvendo as dificuldades de
aprendizagem. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a respeito dos problemas de
aprendizagem, fazia com que os alunos com dificuldades fossem encaminhados para
profissionais de diversas áreas de atuação, sem uma resolução eficiente dos problemas.
Em primeiro momento, no período de Medicalização dos problemas de
aprendizagem, estas crianças eram encaminhadas ao médico: pediatra e depois ao
neurologista. Em segundo momento, denominado Psicologização dos problemas de
aprendizagem, onde eram encaminhadas ao psicólogo, submetendo a criança a uma bateria
de testes. Frente a estas situações, não se chegava a uma explicação clara sobre as
dificuldades da criança, foi-se criando a consciência da necessidade de formação de um
único profissional apto a integrar conhecimentos e para atuar de maneira objetiva e eficaz,
não só na resolução dos problemas escolares, mas também que atuasse na prevenção dos
mesmos, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e o resgate do
prazer de aprender, melhorando assim, o desempenho escolar do aluno.
Assim nasceu a Psicopedagogia, cujo termo apresenta-se hoje com uma
característica especial. Devido a complexidade dos problemas de aprendizagem, a
Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca conhecimento em
diversas outra áreas de conhecimento, além da psicologia e da pedagogia. É necessário ter
20
noções de lingüística, para explicar como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e
sobre os processos de aquisição da linguagem oral e escrita. Também de conhecimentos
sobre o desenvolvimento neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a
aprendizagem; de conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece o
entendimento sobre a visão do homem, seus relacionamentos a cada momento histórico e
sua correspondente concepção de aprendizagem.
1.2 CONCEITO
A Psicopedagogia, ciência nova que estuda o processo de aprendizagem e as
suas dificuldades (Scoz,1992),1 muito tem contribuído para explicar a causa da dificuldade
de aprendizagem, pois tem como objeto central de estudo o processo humano de aquisição
de conhecimento: seus padrões evolutivos normais e patologias bem como a influência do
meio (família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento.
A partir de uma visão interdisciplinar, a Psicopedagogia observou que o
fracasso escolar deixou de ser algo patológico, deixou de ser tratado como “doença”.
Segundo Cypel (1986) a impressão que causava ao atender crianças com dificuldade de
aprendizagem, na época em que havia a crença de que o fracasso estava associada a
problemas genéticos e físicos, era a de que convivíamos em nossas salas de aulas com uma
população de anormais, visto que, ao serem avaliados pelos médicos em análises clínicas,
o diagnóstico de Disfunção Cerebral chegava a índices de 40%.
A Psicopedagogia, por contar com a contribuição de várias áreas do
conhecimento-Psicologia, Sociologia, Antropologia, Lingüística, Neuropsicologia e outras-
, assume o papel de desmistificadora do fracasso escolar, entendendo o erro apresentado
1 SCOZ, B. Psicopedagogia e Realidade Escolar. Campinas: Vozes, 1996.
21
pelo indivíduo como um processo de construção do seu conhecimento (Ferrero2 e Piaget3)
e as interações sociais (Vygotsky),4 como fator importante no desenvolvimento das
habilidades cognitivas.
Desta forma, a Psicopedagogia se torna um campo com conhecimentos amplos,
onde se tem objeto central de estudo o processo de aprendizagem humana, seus padrões
evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola,
sociedade). As dificuldades escolares não podem ser explicadas apenas de um fator, esteja
ele na criança, no meio familiar ou escolar e deve ser explicada pela interação de vários
fatores. Observando seu objeto de estudo, podemos perceber a sua extensão e o quanto o
psicopedagogo em formação tem que investir em seu conhecimento para a formação de sua
identidade.
1.3 A AÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO RESGATE DA APRENDIZAGEM
Inicialmente o profissional da Psicopedagogia só atuava em clínicas atendendo
aqueles que, encaminhados pelas escolas, precisavam de uma avaliação mais apurada da
dificuldade escolar.
Mesmo sendo convocado para ajudar a desvendar as causas do fracasso
escolar, este profissional encontra, ainda hoje, muitas resistências configuradas em
omissões de dados necessários para a composição do diagnóstico do sujeito que não quer
aprender.
Para a avaliação da situação, o psicopedagogo, no encontro inicial com o
sujeito aprendente e seus familiares, na anamnese, usa dois recursos importantíssimos: o
2 FERRERO – Psicolingüística argentina que revolucionou a forma de alfabetizar ao utilizar textos diversos em substituição a tradicional cartilha3 PIAGET – Psicólogo suíço. Sua teoria baseia-se na epistemologia do conhecimento através das estruturas genéticas4 VYGOSKY – Defendeu a teoria sócio- interacionista. Considera o processo de ensino-aprendizagem como uma construção coletiva, que acontece na interação social
22
olhar e a escuta psicopedagógica, que o auxiliará a captar através do jogo, do silêncio, das
expressões do sujeito, dados que possam explicar a causa do não aprender.
A história pessoal do indivíduo, a função que ele desempenha na família, o
conhecimento da vida pessoal da criança ou jovem, como ele lida com a sua ansiedade,
com o medo do desconhecido e das mensagens inconscientes existentes no discurso dos
pais ou responsáveis também fazem parte do trabalho de investigação do caso.
Na composição do diagnóstico, o psicopedagogo considera os outros sistemas -
escola, professor e família - que interferem positiva ou negativamente no processo de
aprendizagem.
Em relação à escola, avalia-se a forma como está organizada, inclusive a sua
estruturação hierárquica, sua orientação de trabalho, os conflitos internos e o seu projeto
pedagógico.
Nos professores, observa-se:
a forma de circulação do conhecimento utilizada;
o comprometimento com o trabalho;
o zelo pelo aluno e pela aprendizagem;
as transferências realizadas durante a interação com cada estudante;
o estímulo que é capaz de provocar ao apresentar seu saber;
a formação que possui, que o habilitará a identificar as dificuldades escolares a
partir da interpretação dos processos mentais que levaram o aluno a responder
desta ou daquela forma;
a conduta pedagógica - se respeita ou não o conhecimento trazido pelo aluno.
As pontuações feitas na observação familiar são:
sua função social e as funções de cada elemento da família;
as formas de circulação do conhecimento;
23
as normas que a regulamentam;
as resistências;
a identidade dessa família (ideologias, crenças etc);
as expectativas e conflitos.
No entanto, a partir dos atendimentos, constata-se a necessidade de se realizar
uma atuação preventiva junto às instituições escolares na busca da identificação precoce de
um número maior de indivíduos com dificuldade de aprendizagem.
Na atuação institucional, junto com educadores, o psicopedagogo, através de
discussões e atividades lúdicas, contribui para o esclarecimento das dificuldades escolares,
que podem ser decorrentes da organização administrativa do sistema escolar e familiar, das
relações truncadas entre professor e aluno, das exigências pedagógicas inadequadas, das
expectativas familiares, das formas de circulação do conhecimento do professor e da
família e das modalidades de aprendizagem que, segundo Alicia Fernandez, são passadas
de pai para filho, determinando como serão as relações do sujeito aprendente com o saber,
levando em consideração as crenças, os mitos, as mensagens repassadas na comunicação
familiar.
O psicopedagogo poderá, também, auxiliar o professor a investir numa prática
pedagógica que seja respaldada na visão psicopedagógica de educar.
1.3.1 Papel do Psicopedagogo
O amplo conjunto de tarefas e funções realizadas pelos profissionais que
prestam assessoramento psicopedagógico às escolas, apesar de sua diversidade, pode ser
organizado em torno de quatro eixos (Coll, 1989b). O primeiro relativo à natureza dos
objetivos da intervenção, cujos pólos caracterizam respectivamente as tarefas que se
centram, prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como finalidade incidir no contexto
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educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm como objetivo prioritário o
atendimento a um aluno, quanto as que aparecem vinculadas a aspectos curriculares e
organizacionais.
O segundo eixo afeta as modalidades de intervenção, que podem ser
consideradas como corretivas, ou preventivas e enriquecedoras. Qualquer intervenção
realizada na escola pode ser caracterizada, em um determinado momento, embora, em um
momento posterior, sua consideração se modifique.
Outro eixo também diferencia modelos de intervenção, embora tenha como
objetivo final o aluno, pode ter diferenças consideráveis: enquanto alguns psicopedagogos
trabalham diretamente com o aluno, orientam-no e, inclusive, manejam tratamentos
educacionais individualizados, outros combinam momentos de intervenção direta com
intervenções indiretas, (por exemplo, no caso de uma avaliação psicopedagógica),
centradas nos agentes educacionais que interagem com ele (no próprio processo de
avaliação psicopedagógica, na tomada de decisões sobre o plano de trabalho mais
adequado para esse aluno). São freqüentes as consultas formuladas por um professor ao
psicopedagogo em relação a um aluno que não vai manter nenhum contato direto com esse
profissional.
O último eixo, Coll (1989) indica o lugar preferencial de intervenção, que
entendemos como a diversidade de níveis e contextos, inclusive quando circunscrita ao
marco educacional escolar. Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas no nível de sala de
aula, em algum subsistema dentro da escola, na instituição em seu conjunto, ano, série,
assim como aquelas que se dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, etc.
O fato que se deve considerar é que as tarefas que aparecem englobadas nos
eixos precedentes são objeto da intervenção psicopedagógica, não significa que todos os
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psicopedagogos as executem em seu conjunto e, obviamente, não significa que as realizem
da mesma forma.
O desempenho profissional de um psicopedagogo ou de uma equipe é
influenciado também pela tradição e pela formação recebida. Com relação à tradição,
aquilo que se fez sempre, aquilo que responde à percepção social sobre o papel
profissional, possui uma influência direta inegável nas próprias crenças do psicopedagogo,
em sua autopercepção profissional e, conseqüentemente, no que faz; indiretamente, influi
também por meio das expectativas geradas por sua tarefa e pelas demandas que lhe são
formuladas.
Quanto à formação, a intervenção psicopedagógica foi assumida,
fundamentalmente, por pedagogos, e psicólogos, e, mais recentemente por
psicopedagogos. Estes profissionais foram formados em tradições disciplinares diferentes
(psicologia escolar, psicologia clínica, psicologia social, pedagogia, terapêutica,
organização escolar, orientação profissional, etc) e em diferentes escolas de pensamento
psicológico que, com freqüência, fazem alusão a modelos de funcionamento do psiquismo
humano abertamente discrepantes.
No Código de Ética e Estatuto da Associação Brasileira de Psicopedagogia
reza no seu artigo 6º os deveres fundamentais do psicopedagogos:
a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o
fenômeno da aprendizagem humana;
b) zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma
atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo;
c) assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos
limites da competência psicopedagógica;
d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
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e) difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre
que possível;
f) responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara
do seu diagnóstico;
g) preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões
feitos a título de exemplos e estudos de casos;
h) responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;
i) manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou
acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia.
j) O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do
psicopedagogo para harmonia da classe e manutenção do conceito público.
1.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA À LUZ DA PSICOPEDAGOGIA
O professor deverá cumprir com o seu papel de facilitador da aquisição de informações como mediador do processo ensino-aprendizagem e conduzir à aquisição de ideologias e conteúdos libertadores. (Beatriz Scoz, 1996 p. 27)5
Para cumprir com o papel de mediador na aquisição do conhecimento,
apresentando o elenco de informações de forma adequada ao grau de compreensão que seu
aluno é capaz, estruturalmente, de ter, o professor precisa agir psicopedagogicamente.
Observar, educar o seu olhar na perspectiva do outro, adotar a escuta como
meio de conhecer mais o seu aluno, refletir sobre sua práxis, buscar nas pesquisas e em
outros profissionais a resposta para suas questões, resgatar o seu aluno, conduzindo-o ao
prazer de conhecer e aprender - são ações que poderão ser implementadas pelos
professores.
5 SCOZ, B. Psicopedagogia e Realidade Escolar. Campinas: Vozes, 1996. p. 27
27
Na interação com o aluno, o professor poderá observar se há alguma alteração
visual, auditiva, motora que modificariam a forma de perceber as coisas. Através de uma
relação dialógica, é possível entender como se estrutura o pensamento do sujeito que está
aprendendo ou não, bem como quais as suas habilidades, interesses, valores e vínculos; que
medos, conflitos, defesas, ansiedade está vivenciando; como se relaciona com o saber
anterior e o novo e qual o seu modelo de aprendizagem, seu método. O significado, a razão
de aprender para ele e para sua família, como cada um valoriza a escola e que expectativas
têm em relação ao trabalho desenvolvido na instituição, também são dados que o professor
poderia obter para organizar seu trabalho visando a favorecer a aprendizagem.
Reconhecer que os jovens hoje possuem um outro padrão de aprendizado é um
caminho para o professor. De acordo com Pierre Bertaux, em seu livro A Educação do
Futuro, o aluno contemporâneo apresenta um aumento visível da sensibilidade visual e
audiovisual, no entanto há uma considerável regressão da sensibilidade auditiva pura; é
mais rápido na aprendizagem e na manipulação e interpretação de sinais e símbolos,
entretanto possui importante dificuldade de concentrar-se por mais de dois ou três minutos
seguidos sobre o mesmo tema, bem como de decorar e reter textos de certa extensão.
Leituras e debates entre professores e profissionais da área da saúde poderão
ser oportunidades importantes para que o professor conheça mais como acontece e como
poderá contribuir para o desenvolvimento cognitivo de seus alunos. Atualmente muito se
discute sobre o funcionamento cerebral e as formas múltiplas de aquisição, memorização,
consolidação e evocação de uma informação que poderá ser transformada em saber
levando em consideração que o cérebro não é um sistema de funções fixas e imutáveis,
mas um sistema aberto, de grande plasticidade (Vygotsky in Oliveira, 1993) 6
6 OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: Aprendizado e Desenvolvimento – Um Processo Sócio-Histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
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Ao promover situações em que se reflita sobre as regras e contra-regras, ordens
e contra-ordens, conflitos, oposições, valores a escola estará preparando o estudante para
lidar com a diversidade, para aceitar o outro e sua opinião, experenciando o erro, o
fracasso, as perdas, desenvolvendo a sua maturidade emocional, contribuindo, pois, para a
formação da sua identidade.
Ao realizar seus planejamentos, o professor que atua com uma postura
psicopedagógica, antes de organizá-los considera as vivências, os conhecimentos e as
informações que o aluno carrega e a sua forma de ver e de viver no mundo moderno, para
optar por uma forma metodológica que auxilie a transpor o conteúdo sistematizado,
científico e promover uma aprendizagem significativa. Outro aspecto que deverá preocupar
as instituições e, principalmente, professores, é a avaliação. Uma prática mais humana e
justa, formativa e reflexiva e não-excludente encorajará os alunos a encarar os seus
resultados, suas falhas e a prosseguir sem medo de fracassar, de errar, de crescer, pois
... o erro não é um corpo estranho, uma falha na aprendizagem. Ele é essencial, faz parte do processo. Ninguém aprende sem errar. O homem tem uma estrutura cerebral ligada ao erro, é intrínseco ao saber-pensar a capacidade de avaliar e refinar, por acerto e erro, até chegar a uma aproximação final. (DEMO, 2003).7
Nessa perspectiva, André e Passos, em 2002 pronunciam que
... a avaliação não pode, pois, se limitar a uma apreciação sobre o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos. Ela deve levar a uma revisão dos conteúdos selecionados, do método utilizado, das atividades realizadas, das relações estabelecidas em sala de aula, ou seja, a uma revisão do ensino, pois não existe melhor critério para avaliar a eficácia do ensino do que a aprendizagem dos alunos.
Nesta ação, a Psicopedagogia institucional conseguiria situar professores como
elementos transformadores da sociedade e contribuidores na formação de cidadãos mais
comprometidos com o seu mundo, para que se sentissem induzidos a estarem
constantemente estudando e aprendendo de forma prazerosa. 7 DEMO, P. É errando que a gente aprende. Rio de Janeiro, Abril, 2003. Sessão Fala Mestre. Disponível em http://www.novaescola.abril.com.br . Acesso em outubro, 2006
29
1.5 TEORIAS QUE EMBASAM A FORMAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
As teorias que embasam a formação psicopedagógica, ou seja a própria
identidade profissional como psicopedagogo, derivam de alguns elementos básicos e de
outras áreas de conhecimento como:
1º- Ter uma formação acadêmica de nível superior voltada para a área humana,
direcionado para a educação;
2º- Ter um objeto de atuação: a escola e a criança em processo de aprendizagem;
3º- Conhecer este objeto de atuação de uma forma ampla,através das teorias de
desenvolvimento e de aprendizagem e suas dificuldades;
4º - Ter conhecimento sobre avaliação e recursos de atuação psicopedagógica, que
possibilite ao profissional que trabalha na área, melhorar o desempenho acadêmico do
aluno, como também, prevenir e remediar o fracasso escolar.
1.6 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO
O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, de forma preventiva e
terapêutica, para compreender os processos de desenvolvimento e das aprendizagens
humanas, recorrendo a várias estratégias objetivando se ocupar dos problemas que podem
surgir.
Por se tratar de uma atividade relacionada as dificuldades escolares, a primeira
vista, pensam que o psicopedagogo deva trabalhar na escola, lugar onde são produzidos a
30
maioria dos problemas escolares, mas são vários os campos de atuação psicopedagógica;
como clínica, escola, instituição de saúde ou mesmo em empresas.
A atuação do psicopedagogo não se refere apenas ao espaço físico onde ele vai
atuar, mas também ao modo dele pensar a Psicopedagogia e ao conhecimento que ele tem
da área, ou seja da sua atitude psicopedagógica. A Psicopedagogia Educacional tem como
objetivo, fazer com que os professores, diretores e coordenadores educacionais repensem o
papel da escola frente as dificuldades de aprendizagem da criança. Por outro lado, mesmo
que a escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca conseguiria
abarcá-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas escolares apresentam um
padrão de comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento
psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de
diferentes modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais preventiva com o objetivo
de estar atenuando ou evitando os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra a
clínico-terapêutica, onde seria encaminhadas apenas as crianças com maiores
comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola.
Esta pesquisa de certa forma está centrada para a Psicopedagogia Preventiva
ou Escolar, oferece conhecimentos para o profissional estar atuando dentro da instituição
escolar na prevenção ou atenuação dos problemas de aprendizagem, fazendo com que
menos crianças sejam encaminhadas para as clínicas, além de uma melhoria no rendimento
escolar em geral. Esta demanda já aparece na nova Lei de Diretrizes e Bases, de 1996,
quando faz alterações substanciais na forma de entender o ensino no Brasil, tornando-se
mais acentuada através das Diretrizes Curriculares Nacionais de 1999, que sugere que para
melhorar o ensino há a necessidade de capacitar o professor e todos os que estão inseridos
no sistema educacional.
31
No caso dos problemas já instalados é tarefa do psicopedagogo escolar tentar
resolvê-los dentro da escola antes de encaminhamento para a clínica. O encaminhamento
para a clínica deve sempre ser feito com muito critério, sempre levando em conta as
necessidades específicas daquela criança. Para um encaminhamento adequado é necessário
que o profissional conheça muito bem não só a criança como também a instituição que ela
freqüenta.
A Psicopedagogia Escolar deve trabalhar para que a escola acompanhe o
desenvolvimento da humanidade e se constitua num verdadeiro espaço de construção do
conhecimento, auxiliando para que todos que participam da escola entendam “como” e
“por que” transformá-la num lugar de construção de conhecimento.
Para que um psicopedagogo possa realizar um bom trabalho é necessário que
ele conquiste um espaço dentro da escola, o que nem sempre é fácil, pois a maioria das
escolas acham que um orientador educacional já é suficiente para resolver todos os
problemas.
Uma forma de conquistar este espaço psicopedagógico dentro da escola está na
forma de como este profissional apresenta seu trabalho. Este profissional tem que
demonstrar amplos conhecimentos não só da criança que aprende como também dos
processos didáticos metodológicos e da dinâmica institucional. Para uma atuação
institucional, deve ser com siderado como ambiente educacional a escola como um todo,
desde a criança que aprende, o professor que ensina, o diretor que organiza, até a
merendeira que é responsável pela alimentação. Além disso, deve ser considerado a
família responsável pela criança e outros membros da comunidade que decidem sobre as
necessidades e prioridades da escola.
32
Segundo BOSSA (2000),8 o psicopedagogo pode colaborar na elaboração do
projeto pedagógico, ou seja, através de seus conhecimentos ajudar a escola a responder
questões fundamentais como: O que ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? Pode
realizar o diagnóstico institucional para detectar problemas pedagógicos que estejam
prejudicando a qualidade do processo ensino-aprendizagem; pode ajudar o professor a
perceber quando a sua maneira de ensinar não é apropriada à forma do aluno aprender;
pode orientar professores no acompanhamento do aluno com dificuldades de
aprendizagem; pode ainda, realizar encaminhamentos para fonoaudiólogos, psicólogos,
neurologistas, psiquiatrias infantis, entre outros.
Além disso, a relação professor-aluno é um fato importante que deve ser
constantemente avaliado pelo psicopedagogo. Muitas vezes, esta relação pode estar
ocorrendo de modo negativo pelo fato do professor desconhecer o aluno, estar muito
distante de suas necessidades, ou não por não saber identificar a fase de desenvolvimento
cognitivo/afetivo do aluno, ou mesmo, por não saber o que está se passando no ambiente
familiar da criança.
O psicopedagogo escolar deve participar da reunião de pais, com o objetivo de
estar esclarecendo o que se está passando com a criança na escola, podendo assim ensinar
aos pais a reconhecerem as verdadeiras necessidades de seus filhos até ensinarem os pais a
estimular seus filhos para aprendizagens escolares em casa. Quando necessário o
psicopedagogo pode marcar hora para outros encontros com alguns pais, para melhor
orientar ou mesmo conhecer melhor o ambiente familiar da criança que está com
problemas.
Faz parte do trabalho psicopedagógico educacional participar da avaliação dos
processos didáticos metodológicos, onde poderá oferecer conhecimentos sobre métodos a
8 BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes Médicas Sul, 2000.
33
ser aplicados para determinada classe ou para ajudar o professor na implantação de uma
nova sistemática de ensino, oferecendo desta forma um suporte instrumental aos
professores.
É função deste profissional também oferecer um suporte emocional para
professores que estão inseguros quanto a sua capacidade para aplicação de um método
novo ou que estão com alunos com problemas de aprendizagem. Na medida em que o
psicopedagogo ouve as dificuldades dos professores, esclarece sobre suas dúvidas, este se
sentirá mais tranqüilo, ganhará mais confiança e proporcionará melhores condições para a
aprendizagem.
O suporte instrumental oferecidos aos professores pode se dar também
oferecendo ao professor sugestões de atividades para a sala de aula; outras vezes sua
atuação será individual ou em grupo com os alunos.
Quando a atuação do psicopedagogo for trabalhar em pequenos grupos, poderá
ter os seguintes objetivos:
a) socialização e auto-confiança;
b) orientação de estudos;
c) apropriação dos conteúdos escolares;
d) desenvolvimento do raciocínio e
e) possibilitar o trabalho com alunos de diferentes níveis no desempenho
acadêmico numa mesma classe.
Certamente cada instituição tem suas necessidades e o psicopedagogo deverá
identificá-las para que efetivamente cumpra seu papel. A atuação Clínico-Terapêutica, é
praticada fora das paredes escolares, em locais especiais de atendimento, o consultório
psicopedagógico; geralmente são atendidas crianças encaminhadas por outros profissionais
como médicos e psicólogos clínicos infantis. Este trabalho apresenta uma etapa inicial
34
onde se faz uma avaliação sobre os aspectos afetivos, cognitivos e pedagógicos da criança,
paralelo com entrevistas de anamnese com os pais, elabora-se um estudo de caso e realiza-
se sessões. Num segundo momento a criança passa por um período de intervenção
psicopedagógica paralelo com sessões de orientação aos pais. Também a prática
psicopedagógica clínica é freqüentemente desenvolvida em instituição de saúde, que
mantém atendimento psicopedagógico à criança proveniente da comunidade e que não
teriam condições financeiras para receber este tipo de assistência em clínicas particulares.
CAPITULO II
A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DO FUNCIONAMENTO ESCOLAR
35
Embora muitos psicopedagogos tenham o curso de pedagogia, ou sejam
professores, existem também uma grande porcentagem de profissionais que procuram a
psicopedagogia para melhorar sua atuação profissional, como psicólogos, fonoaudiólogos,
terapeutas ocupacionais e outros que atuam direta ou indiretamente, na instituição escolar.
Portanto, quem quer que se proponha a trabalhar em uma escola precisa
informar-se sobre os objetivos da mesma, para que possa atuar com eficácia. Essa
necessidade é particularmente relevante para o profissional que irá desempenhar na escola
a função de articulador entre o ensino e a aprendizagem de todos os elementos dessa
instituição, provocando mudanças e ajudando no processo evolutivo individual e coletivo.
A escola tem uma organização formal e uma organização informal. O
conhecimento e a observação da organização formal possibilita ao psicopedagogo a análise
da organização informal, pois nessa estão envolvidos os relacionamentos “não visíveis”de
uma escola. A organização formal é constituída de elementos sujeitos à influência da
administração e intencionalmente organizada de forma a conduzir à consecução dos
objetivos escolares, podendo ser dividida em quatro grandes áreas: Programação, Recursos
materiais, Pessoal Escolar e Corpo Discente.
2.1 ATIVIDADES ESCOLARES
2.1.1 Programação
A Programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem
realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam ser
36
alcançados. Portanto, a programação é função dos objetivos. Fazem parte da programação
o mecanismo administrativo, o plano didático e os planos de trabalho.
É importante que o psicopedagogo faça uma análise sobre a programação da
escola para poder subsidiar sua atuação. O mecanismo administrativo de uma escola é
representado pelo seu organograma, desta forma, o psicopedagogo poderá iniciar seu
diagnóstico escolar pela análise do mesmo, ou seja, estudando as suas relações e fazendo
suas conexões com as outras áreas da programação. Em outras palavras, fazendo uma
análise se cada profissional da escola está desempenhando adequadamente a sua função e o
que poderia ser melhorado.
Quanto ao plano didático, ou seja, o currículo e o programa organizado de
acordo com uma seriação que acompanha o desenvolvimento dos alunos em seus vários
aspectos (físico, intelectual, social, etc.), algumas escolas apresentam um excelente
currículo e ótimos programas, mas pecam na divulgação do conteúdo, ou seja, como
ensinar. Desta forma, a análise do psicopedagogo deve estar voltada para recursos que
possam amenizar as inseguranças dos professores na transmissão do conhecimento, como
também para oferecer a esses, técnicas e estratégias mais adequadas à aprendizagem.
Os planos de trabalho representam a implantação do plano didático e os
resultados do planejamento escolar, tendo em vista as possibilidades do mecanismo
administrativo e as metas estabelecidas. Cabe ao psicólogo observar se os planos de
trabalhos estão adequados à faixa etária dos alunos e se atendem às suas exigências
cognitivas, podendo sugerir técnicas e estratégias adequadas e mais modernas.
2.1.2 Recursos materiais
Os Recursos Materiais, compreendem a expressão física da programação
como: prédio escolar, instalações, mobiliários, equipamentos didáticos, materiais
37
permanentes e de consumo, verbas entre outros. Os recursos materiais são função da
programação. Com uma análise sobre os recursos materiais, o psicopedagogo poderá
avaliar o potencial e as possibilidades de sua atuação, frente às necessidades da escola,
como também poderá utilizar toda sua criatividade para ampliar esses recursos, no caso de
escolas com recursos insuficientes.
2.1.3 Pessoal escolar
O Pessoal Escolar pode ser classificado em: administração (diretor e auxiliar de
direção); corpo docente (professores); pessoal técnico (orientador pedagógico, orientador
educacional, psicólogo, psicopedagogo, bibliotecário, etc); pessoal auxiliar (secretário,
escriturário, inspetores de aluno, serventes). O pessoal escolar deve fazer parte de uma
equipe para planejamentos e execução de projetos, visando a melhoria da escola.
2.1.4 Corpo discente
O Corpo Discente, ou seja, o aluno deve ser considerado como um ser concreto
que sintetizam, em si, inúmeras relações sociais e, sendo assim, deve ser compreendido na
medida em que se toma como referência a situação real em que vive. Dentro de uma
escola, o corpo discente deve ser avaliado e classificado de acordo com o seu progresso,
em séries didáticas, sendo que dentro de cada série, os alunos são agrupados em classes ou
turmas. Cabe ao psicopedagogo acompanhar a avaliação, o progresso alcançado e a
adaptação do aluno na série ou turma que se encontra.
Desta forma, pode se concluir que a atuação do psicopedagogo dentro da
instituição escolar inicia-se por uma análise sobre vários aspectos da organização escolar.
Além de ser primordial um trabalho em equipe, junto com professores, alunos e pessoal
administrativo, procurando dentro deste contexto melhorar o relacionamento entre si e
38
entre grupos, tendo como meta à melhoria das condições de aprendizagem individual e
grupal.
Há muitas funções dentro de uma escola, onde se fundem, nem sempre
havendo uma distinção nítida entre elas, principalmente entre o diretor, coordenador
pedagógico, orientador educacional, psicopedagogo, psicólogo educacional e professores.
Desta forma aparece a necessidade de articulação entre estes profissionais para a
configuração de um trabalho que atenda a necessidade de todos. Para que ocorra essa
articulação, é necessário que sejam bem esclarecidas as características de cada função
dentro da instituição escolar. O psicopedagogo tem a necessidade de conhecer, pelo menos
teoricamente, o que seria a função de cada profissional dentro da escola, para poder
planejar seu trabalho.
Resumindo, uma escola é funcional quando conta com forte aliança entre a
comunidade, o corpo docente e administrativo, os quais trabalham os seus conflitos através
da colaboração e diálogo. Esses elementos são flexíveis em sua maneira de lidar com os
conflitos, utilizando-se do conhecimento de várias técnicas e métodos adequados. As
decisões são tomadas em conjunto e a participação dos alunos é solicitada, mas sem ser
igualitária. Cada membro do sistema escolar tem seu papel e função determinada. O
psicopedagogo observa e diagnostica o sistema escolar e então cria condições favoráveis
para a resolução dos problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o aprender se
tornem comprometidos. Sendo assim, a atuação do psicopedagogo dentro da escola exige
algumas características básicas.
2.2 INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA ESCOLA
Depois de um bom conhecimento sobre o funcionamento de escola onde vai
atuar, o psicopedagogo necessita refletir sobre algumas características básicas e tarefas
39
psicopedagógicas que podem ser realizadas no contexto escolar. Estas sempre devem ser
realizadas com apoio em aspectos teóricos/práticos e adaptadas as condições da escola
onde o trabalho vai ser desenvolvido.
Para a realização deste trabalho será necessário considerar que:
1. A intervenção psicopedagógica na escola deve ser considerada como um recurso do
sistema educacional, portanto, de todos os alunos e professores e não somente
daqueles que possuem determinadas características.
2. É uma intervenção que requer uma definição coerente com àquilo que a própria
tarefa representa como recurso para a escola e precisa de análise e reflexão
constantes, como meio para atingir objetivos.
3. É uma intervenção que, apesar de considerar aquilo que não funciona
adequadamente, investiga as características positivas da situação em que se
encontram alunos e professores, para a partir delas, poder modificar o que aparece
como inadequado.
4. Trata-se de uma intervenção mais global, não necessariamente centrada no
indivíduo; este é levado em consideração, mas ao mesmo tempo em que são
considerados os demais elementos do sistema com os quais interage.
5. É uma intervenção que não se esgota com a demanda concreta,mas que fica ligada
ao contexto específico (sala de aula, instituição) e ao contexto mais amplo (família-
comunidade) e que se apóia na rede de serviços e recursos que a comunidade
dispõe.
6. A maior parte das tarefas psicopedagógicas deve ser realizadas em equipe (diretor,
orientador pedagógico, professores e outros). O trabalho em equipe nem sempre é
fácil, mas as decisões devem ser tomadas em conjunto, para que todos assumam
responsabilidades. Um trabalho em equipe também impulsiona a cooperação entre
40
os profissionais. Desta forma, o psicopedagogo pode estimular junto ao
coordenador pedagógico a formação de equipes de professores, ou comissão de
orientação pedagógica, onde se torne possível um projeto comum de construir uma
escola democrática para a redução dos problemas de ensino aprendizagem.
Como parte da equipe o psicopedagogo pode participar das seguintes tarefas:
a) colaborar junto com os professores no estabelecimento dos planos de ação
de regência mediante análise e a avaliação de modelos, técnicas e
instrumentos para o exercício da mesma, assim como de outros elementos
de apoio para a realização de atividades docentes de reforço,recuperação e
adaptação escolar;
b) assessorar o corpo docente na definição de procedimentos e instrumentos de
avaliação, tanto das aprendizagens realizadas pelos alunos como dos
próprios processos de ensino;
c) assessorar o corpo docente para o tratamento flexível e diferenciado da
diversidade de aptidões, interesse e motivação dos alunos, colaborando na
adoção das medidas educacionais oportunas. Como também, trabalhar as
concepções dos professores sobre os processos de ensino aprendizagem,
assinalando a multidimensionalidade dos problemas de aprendizagem, a
importância de se considerar fatores orgânicos, cognitivos,afetivos/sociais e
pedagógicos para análise e a necessidade de se trabalhar com a diversidade,
ou seja, respeitando as características de cada aluno;
d) colaborar com professores e orientador na orientação educacional e
profissional dos alunos, favorecendo neles a capacidade de tomar decisões e
promovendo a maturidade profissional;
41
e) colaborar para a prevenção e para a rápida detecção de dificuldades e ou
problemas de desenvolvimento pessoal e de aprendizagem que os alunos
possam apresentar,realizar avaliações psicopedagógicas cabíveis e
participar, em função dos resultados desta, da elaboração das adaptações
curriculares e da programação de atividades de recuperação e de reforço;
f) colaborar com os professores e equipe de apoio no acompanhamento dos
alunos com necessidades educacionais especiais e orientar sua escolaridade
no início de cada etapa educacional;
g) promover a cooperação entre a escola e a família para uma melhor educação
dos alunos, participar no planejamento de reuniões com os pais,
privilegiando a integração, a cooperação e a informação, como também,
atender individualmente alguns pais quando for necessário;
h) atuar na modificação das expectativas e atitudes dos professores diante do
insucesso escolar dos alunos, ou seja, atenuar concepções preconceituosas
da escola e dos professores, sobre as dificuldades de aprendizagem da
criança;
i) participar de tarefas junto com o ensino de educação especial e
j) realizar atendimentos à alunos ou à grupos de alunos com necessidades
específicas, fora da sala de aula.
Algumas sugestões em que o psicopedagogo poderá fazer, atuar dentro
das escolas,como: reuniões sistemáticas com a participação de todos os profissionais
existentes na escola: falar/ouvir/propor; elaboração e organização de cursos sobre
determinados assuntos; oficinas com atividades práticas, para professores, pais, alunos;
palestras; elaboração de cronogramas para atendimento dos pais; elaboração de
cronogramas para atendimento individual e/ou grupal de alunos, quando for possível.
42
Para que o psicopedagogo atinja seu objetivo, realizando estas tarefas na
intervenção psicopedagógica, deverá adaptar sua intervenção de acordo com as
necessidades do contexto educacional, se utilizando do seu saber e de sua criatividade.
2.3 RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA E INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Para Boszormeny (apud Polity, 2000),9 família e escola têm um objetivo
comum: estabelecer as melhores condições para favorecer o desenvolvimento integral das
crianças e dos jovens. Este objetivo requer atuações de qualidade em cada um dos
sistemas, dirigidos a que as crianças possam ter acesso, progressivamente, à cultura de seu
grupo social num processo que repercuta de forma favorável em seu auto-conceito, na
capacidade de relacionar-se construtivamente com outros e nas suas possibilidades de
inserir-se paulatinamente em novas estruturas e sistemas. Mas também requer a existência
do conhecimento mútuo, a formação de vínculos e o estabelecimento de acordos entre estes
contextos originários como condição necessária para que o potencial de desenvolvimento
de cada um deles chegue a se concretizar. Cada escola é, em si mesma, uma comunidade
que estabeleceu ao longo de sua trajetória uma história de relação e afeto entre seus
membros; entre a equipe de docentes, com os alunos, entre a equipe e as famílias; em cada
caso estes aspectos são diferentes.
O psicopedagogo pode encontrar-se em uma instituição que tem uma boa
relação entre a família e escola, bem como poderá encontrar escolas que possuem atritos,
incompreensões e conflitos freqüentes, gerando clima de desconfiança e mal-estar que
provoca interações tensas e pouco construtivas.
9 POLITY, E. Pensando as dificuldades de aprendizagem à luz das relações familiares. Disponível em http://www.psicopedagogiaonline.com.br. Acesso em outubro 2006
43
Os psicopedagogos podem contribuir, de maneira proveitosa para o
estabelecimento de canais fluidos de comunicação entre a família e a escola. Quando
ocorre, essas relações são conduzidas pela confiança e pelo respeito mútuos e articulam-se
em torno de algumas metas ou objetivos concernentes a ambos os sistemas. São relações
nas quais se buscam os aspectos positivos que possuem todos os interlocutores.
Paralelamente, os pais respeitam a tarefa educacional da escola, criando-se deste modo um
contexto de relação cômodo para todos.
Conforme afirma HUGUET (1996),10 pais e professores para que se obtenha
esta boa relação entre família-escola, atribui fundamentalmente a responsabilidade na
escola. O grau em que os familiares possam elaborar expectativas positivas em relação ao
bem-estar e à educação de seus filhos na escola vai depender da colhida que esta oferecer
não somente aos alunos mas à família em seu conjunto, assim como dos esforços
destinados a manter e a cuidar dessa relação. Assim, há uma variedade de intervenções que
estão vinculadas à cultura da escola em relação às famílias.
Os conteúdos desta relação família-escola são: o caráter sistêmico, mutante e
interativo da família; a singularidade da função educacional da família e sua
complementaridade com a da escola; o benefício das relações fluidas entre o regente e os
familiares e, simultaneamente, a necessidade de estabelecer limites entre ambos os
sistemas, evitando as intromissões indesejadas. Outras intervenções dirigidas a levar as
famílias a conhecer a escola são: palestras gerais de início de ano, comunicações escritas,
personalizadas ou gerais, apresentação de projetos nos quais a escola está envolvida,
informar sobre o estilo, as formas de relação que se estabelecem na escola; onde o
psicopedagogo pode colaborar ajudando nestas atividades. Todas estas intervenções têm
10 HUGUET, Teresa, Aprender e Ensinar na Educação - Pedagogia Freinet: teoria e prática Papirus, Campinas, São Paulo, 1996.
44
como fim prioritário melhorar a comunicação entre a família e a instituição educacional e
fomentar entre elas relações positivas.
2.4 IMPORTÂNCIA DA LEGALIZAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO COMO PROFISSÃO
A Psicopedagogia é uma profissão que atende às necessidades do século XXI.
Aprender a Aprender é a premissa deste século, é a condição para podermos viver dentro
de um mundo de mudanças rápidas, resultantes do advento da transformação da tecnologia
e informática, onde é necessário que a capacidade de transformação das pessoas e
conseqüente possibilidade de aprendizagem seja intensamente cuidada.
Aprender a Aprender, objeto de estudo e de atuação da Psicopedagogia. A
Psicopedagogia pertence à Educação e Saúde e as instituições em geral. É procurada
prioritariamente por educadores que querem mostrar às crianças, jovens e adultos, a sua
possibilidade de aprendizagem. A Psicopedagogia é uma realidade, um fato. A
Psicopedagogia surgiu de uma demanda específica da sociedade: o fracasso escolar, a falha
na aprendizagem, o insucesso do ensino.
Podemos dizer hoje, e afirmar que a Psicopedagogia não é uma disciplina
híbrida, não surgiu em laboratório, não é um produto da pedagogia e da psicologia e, com
isto, não se restringe, absolutamente, a estas duas áreas. É sim, um espaço transdisciplinar,
pois se constitui a partir de uma nova compreensão acerca da complexidade dos processos
de aprendizagem e, dentro desta perspectiva, das suas deficiências.
É uma área portanto, que não se volta apenas aos psicólogos e pedagogos.
Utiliza conhecimentos advindos da pedagogia e da psicologia, assim como de várias outras
áreas de conhecimento, alcançando aquilo que denominamos de transdisciplinaridade. É
uma área que requer um estudo específico, que vai além do conhecimento adquirido pelos
profissionais acima mencionados.
45
O psicopedagogo é um profissional que também se dedica ao assessoramento
da instituição escolar, visando assegurar ao profissional desta instituição as condições
necessárias para uma melhor compreensão do complexo processo de ensinar e aprender. E
é parte deste processo a compreensão, por parte do professor, de seu próprio o processo de
aprendizagem. Neste sentido, o trabalho desenvolvido pelo psicopedagogo institucional
permite a composição de determinadas medias, próprias à análise de cada instituição, as
quais proporcionam melhores condições e qualidade de trabalho aos docentes.
A grande expansão dos cursos de formação e especialização em
Psicopedagogia é sinal do reconhecimento deste profissional. Desde a década de 70 esta
formação vem ocorrendo em caráter regular e oficial, em instituições universitárias. Esta
formação foi regulamentada pelo MEC em cursos de pós-graduação e especialização, com
carga horária de 360 horas.
Portanto, isso mostra que mais uma vez há importância da legalização do
Psicopedagogo como profissão é fundamental, para fortalecer e dinamizar as áreas de
saúde e educação em nosso país; colocar a favor do desenvolvimento de nosso país na
forma de efetivos contribuidores.
46
CAPITULO III
APRENDIZAGEM – PROCESSO NA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA
Para enveredarmos sobre o problema de aprendizagem, necessitamos
primeiramente compreender o que é aprendizagem e como ela se processa no olhar
psicopedagógico. Há na literatura vários modos de conceituar aprendizagem, muitos
autores preocupam em definir o tema na visão psicopedagógica.
Conforme relata FERNÁNDEZ (2001),11 todo sujeito tem sua modalidade de
aprendizagem e os seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso significa uma
maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber.
Já PIAGET (1976),12 busca subsídios na linha cognitivista para desenvolver
uma caracterização do processo de aprendizagem. Ele afirma que a aprendizagem é um
processo necessariamente equilibrante, pois faz com que o sistema cognitivo busque novas
formas de interpretar e compreender a realidade enquanto o aluno aprende.
A aprendizagem é um fruto da história de cada sujeito e das relações que ele consegue
estabelecer com o conhecimento ao longo da vida, afirma Bossa (2000).13
Todavia, ao falarmos em aprendizagem, não podemos relacionar o problema
simplesmente com o aluno, pois, a aprendizagem não é um processo individual, ou seja,
não depende só do esforço de quem aprende, mas sim de um processo coletivo.
É o que ainda nos mostra Fernández (2001) a importância da família, que por sua vez,
também é responsável pela aprendizagem da criança, já que os pais são os primeiros
ensinantes e os mesmos determinam algumas modalidades de aprendizagem dos filhos.
Esta consideração também nos remete a relação professor-aluno, para essa mesma autora,
11 FERNÁNDEZ, A. O Saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed,200112 PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central ao desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar.1976.13 BOSSA, N. A Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2000
47
quando aprendemos, aprendemos com alguém, aprendemos daquele a quem outorgamos
confiança e direito de ensinar.
Segundo ALMEIDA (1993),14 a aprendizagem ocorre no vínculo com outra
pessoa, a que ensina, aprender, pois, é aprender com alguém. É no campo das relações que
se estabelecem entre professor e o aluno que se criam às condições para o aprendizado,
seja quais forem os objetos de conhecimentos trabalhados.
Após verificarmos as considerações de alguns autores sobre o processo de
aprendizagem, na visão psicopedagógica, pretendemos agora abordar o problema de
aprendizagem, analisando as contribuições da psicopedagogia no desvio do processo de
aprendizagem, ou seja, na dificuldade de aprendizagem.
3.1 A INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NO PROBLEMA DE APRENDIZAGEM
As causas do não aprender podem ser diversas. Em vista dessa complexidade, é
necessário reconhecer que não é tarefa fácil para os educadores compreenderem essa
pluricausalidade. Portanto, torna-se comum constatar que as escolas rotulam e condenam
esse grupo de alunos à repetência ou multirrepentência, como também os colocam na
berlinda, com adjetivos de alunos sem solução e vítimas de uma desigualdade social.
Neste contexto, analisaremos as possíveis intervenções psicopedagógicas na dificuldade de
aprendizagem.
No entender de WEISS (2000),15 a prática psicopedagógica deve considerar o
sujeito como um ser global, composto pelos aspectos orgânico, cognitivo, afetivo, social e
pedagógico. Vamos entender a participação de cada aspecto na compreensão da
14 ALMEIDA, S. F. C. O lugar da afetividade e o desejo na relação ensinar-aprender; In: Revista Temas em Psicologia. Ribeira Preto – SP: Sociedade Brasileira de psicologia, 1993, n.1.15 WEISS, M. L. Reflexões sobre o diagnóstico psicopedagógico. In: BOSSA, N.A. Psicopedagogia no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2000.
48
dificuldade de aprendizagem. O aspecto orgânico diz respeito à construção biológica do
sujeito, portanto, a dificuldade de aprender de causa orgânica estaria relacionada ao corpo.
O aspecto cognitivo está relacionado ao funcionamento das estruturas
cognitivas. Nesse caso, o problema de aprendizagem residiria nas estruturas do
pensamento do sujeito. Por exemplo, uma criança estar no estágio pré-operatório e as
atividades escolares exigirem que ela esteja no estágio operatório-concreto. O aspecto
afetivo diz respeito à afetividade do sujeito e de sua relação com o aprender, com o desejo
de aprender, pois o indivíduo pode não conseguir estabelecer um vínculo positivo com a
aprendizagem.
O aspecto social refere-se à relação do sujeito com a família, com a sociedade,
seu contexto social e cultural. E, portanto, um aluno pode não aprender porque apresenta
privação cultural em relação ao contexto escolar. Por último, o aspecto pedagógico, que
está relacionado à forma como a escola organiza o seu trabalho, ou seja, o método, a
avaliação, os conteúdos, a forma de ministrar a aula, entre outros. Para a autora a
aprendizagem é a constante interação do sujeito com o meio. Podemos dizer também que é
constante interação de todos os aspectos apresentados. Em contrapartida, a dificuldade de
aprendizagem é o não-funcionamento ou o funcionamento insatisfatório de um dos
aspectos apresentados, ou ainda, de uma relação inadequada entre eles.
SCOZ (1998),16 também agrupa os problemas de aprendizagem segundo a
concepção de Visca para quem as dificuldades de aprendizagem referentes à escrita e à
leitura, apresentam-se como nível de sintomas. Assim, esses problemas devem ser
entendidos como produtos emergentes de uma pluricausalidade e não como decorrente de
uma única causa.
16 SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes. 1998, p. 45
49
SCOZ (1994), ainda vê os problemas de aprendizagem não se restringindo em
causas físicas ou psicológicas. É preciso compreendê-los a partir de um enfoque
multidimensional enfocando fatores orgânicos, cognitivos, afetivos, sociais e pedagógicos.
Ou seja, para aprender é necessário que exista uma relação de condições entre fatores
externos e internos. Há necessidade de estabelecer uma mediação entre o educador e o
educando.
Segundo destaca PAIN (1992, p. 32),17, na concepção de Freud, os problemas
de aprendizagem não são erros:
“... são perturbações produzidas durante a aquisição e não nos mecanismos de conservação e disponibilidade, é necessário procurar compreender os problemas de aprendizagem não sobre o que se está fazendo, mas sim sobre como se está fazendo”.
No que concerne aos problemas de aprendizagem, PATTO (1990),18 destaca
que o fracasso escolar acontece pela falta de conhecimento, pelo menos em seus aspectos
fundamentais, da realidade social na qual se enquadrou uma determinada versão sobre as
diferenças de rendimento escolar existentes entre crianças de diferentes origens sociais.
Ao avaliarmos os alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, vamos encontrar
diversas categorias. Haverá aqueles que necessitam da intervenção psicológica ou
psicopedagógica, ou até mesmo, aqueles que o problema pode ser resolvido dentro do
contexto escolar, por meio de programas individualizados de ensino e práticas pedagógicas
diferenciadas. Dessa forma a avaliação torna-se um elemento muito importante para
traçarmos o caminho a seguir. Avaliar não para classificar, para rotular, mas para promover
alternativas.
17 PAIN, S. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem.4 ed. Porto Alegre: Artmed, 1992, p. 3218 PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia, São Paulo: T. A. Queiroz, 1990.
50
Vamos refletir um pouco, sobre como agimos diante das dificuldades de
aprendizagem de nossos alunos. É comum prestarmos mais atenção às dificuldades, pois
elas saltam aos olhos com muito mais evidências que as potencialidades. Podemos
começar a pensar sobre a dificuldade de aprendizagem pelos acertos dos alunos. Assim,
experimentando alguns sucessos, podemos abrir uma porta para a construção de um
vínculo positivo com as demais áreas da aprendizagem que nosso aluno necessita
aprimorar. Vamos descobrir os talentos dos nossos alunos e nos concentrar neles!
Veremos algumas sugestões para o trabalho com alunos portadores de dificuldades de
aprendizagem, sobre a intervenção da psicopedagogia.
Organizar as turmas para o trabalho em grupo, juntando alunos que aprendem
com facilidade e alunos que apresentam dificuldades também pode ser uma boa alternativa,
pois as crianças e os adolescentes falam a mesma língua e podem funcionar como
professores uns dos outros. A psicopedagogia utiliza os termos ensinantes e aprendentes
para denominar o par educativo que comumente conhecemos por professor e aluno.
3 Mas quem é ensinante e que é aprendente?
4 A nossa primeira tendência é imaginar que o ensinante é o professor e o
aprendente é o aluno, correto?
5 Mas para a psicopedagogia esses papéis se alternam o tempo inteiro, afinal, quem
nunca aprendeu com um aluno?
6 Qual o aluno que nunca ensinou nada ao professor?
No processo ensino-aprendizagem visto pela psicopedagogia também
aprendemos sobre nós, sobre a nossa forma de ensinar. O outro nos serve de espelho.
Como todo professor, queremos que nossos alunos acertem sempre, mas é bom
adquirir um novo olhar sobre o erro na aprendizagem. O erro é um indicador de como o
aluno está pensando e como ele compreendeu o que foi ensinado. Analisando com mais
51
cuidado os erros dos alunos, podemos elaborar a reformulação e práticas docentes de modo
que elas fiquem perto da necessidade dos alunos e assim atender a dificuldade que o
mesmo apresenta.
É importante que o professor reflita sobre as causas do fracasso escolar não
para se culpar, mas para se responsabilizar. Responsabilizar-se significa abraçar a causa e
procurar alternativas para solucionar o problema. Não podemos nos satisfazer com
aprendizagens parciais. Procurar compreender como ocorre o conhecimento, os fatores que
interferem na aprendizagem, seus diferentes estágios, e as diferentes teorias que podem
transformar o trabalho do professor em processo científico e assim ele percorrerá o
caminho prática-teoria-prática.
Recomenda-se, também, que o professor, em conjunto com a equipe da escola,
reflita sobre a estrutura curricular que está sendo oferecida e a compatibilidade deste com a
estrutura cognitiva, afetiva e social do aluno, afinal para a psicopedagogia a aprendizagem
se baseia no equilíbrio dessas estruturas.
O professor deve, ainda, adaptar a sua linguagem utilizada em sala de aula,
pois pode haver diferença de cultura entre professor e alunos, e isso pode causar conflito e
dificuldade de comunicação e conseqüentemente problema na aprendizagem.
Segundo VYGOTSKY (1993),19 todos os seres humanos são capazes de
aprender, mas é necessário que adaptemos a nossa forma de ensinar.
O enfoque psicopedagógico da dificuldade de aprendizagem compreende
então, os processos de desenvolvimento e os caminhos da aprendizagem. Compreende o
aluno de maneira interdisciplinar, buscando apoio em varias áreas do conhecimento e
analisando aprendizagem no contexto escolar, familiar; e no aspecto afetivo, cognitivo e
biológico.
19 VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
52
Nesse contexto, cabe então ao professor, com uma visão psicopedagógica, ser
um investigador dos processos de aprendizagem de seus alunos, evitando que o problema
de aprendizagem leve a um fracasso escolar.
Acreditar porém que o problema de aprendizagem é responsabilidade exclusiva
do aluno, ou da família, ou somente da escola é, no mínimo uma atitude muito ingênua
perante a grandiosidade que é a complexidade do aprender. Procurar achar um único
culpado para o problema é mais ingênuo ainda. A atitude que devemos tomar enquanto
educadores desejosos de uma educação de qualidade, com um menor número de crianças
com dificuldade de aprendizagem, é intervir psicopedagógicamente sobre o problema de
aprendizagem.
Para concluir, os problemas de aprendizagem constituem uma situação real
presente nas instituições escolares. Portanto, é necessário que todos os envolvidos com
questões educacionais realizem pesquisas que possibilitem conhecer cada vez melhor as
relações entre os problemas de aprendizagem. Assim, pode-se recorrer ao psicopedagogo
para estruturar formas de ações e ou intervenções psicopedagógicas que clareiem o
caminho percorrido pelos sujeitos.
CONCLUSÃO
Tradicionalmente, a Psicopedagogia é concebida como à área de saberes que
tem como meta intervenções pedagógicas, de natureza preventiva e terapêutica, no âmbito
de clínicas ou de instituições escolares, para a superação de dificuldades de aprendizagem.
Consoante com essa concepção, o profissional formado até então era levado a desenvolver
ações pedagógicas, sem a devida consideração da importância do envolvimento coletivo de
todos os atores da instituição a que o aluno se encontra vinculado.
53
A Psicopedagogia constitui-se em uma justaposição de dois saberes -
psicologia e pedagogia - que vai muito além da simples junção dessas duas palavras. Isto
significa que é muito mais complexa do que a simples aglomeração de duas palavras, visto
que visa a identificar a complexidade inerente ao que produz o saber e o não saber. É uma
ciência que estuda o processo de aprendizagem humana, sendo o seu objeto de estudo o ser
em processo de construção do conhecimento.
Seu surgimento no Brasil, originou-se devido ao grande número de crianças
com fracasso escolar e de a psicologia e a pedagogia, isoladamente, não darem conta de
resolver tais fracassos. O Psicopedagogo, por sua vez, tem a função de observar e avaliar
qual a verdadeira necessidade da escola e atender aos seus anseios, bem como verificar,
junto ao Projeto Político-Pedagógico, como a escola conduz o processo ensino-
aprendizagem, como garante o sucesso de seus alunos e como a família exerce o seu papel
de parceira nesse processo.
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser
humano, o trabalho do Psicopedagogo na instituição escolar tem um caráter preventivo no
sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos problemas. Com esta
finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldades de
aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção
psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino.
Ao acreditarmos que a dificuldade de aprendizagem é responsabilidade
exclusiva do aluno, ou da família, ou somente da escola é, no mínimo, uma atitude ingênua
perante a grandiosidade que é a complexidade do aprender. Procurar e achar um corpo que
assuma a culpa do fracasso escolar dá-nos a sensação de que está tudo resolvido. A
atitude do não aprender traz em si o subtexto da denúncia de que algo deverá ser feito. E
este feito não poderá jamais ser a duas mãos.
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Nesta visão, a Psicopedagogia contribui significativamente com todos os atores
envolvidos no processo de aprendizagem, pois exerce seu trabalho de forma
multidisciplinar, numa visão sistêmica. Assim, a abordagem exposta neste trabalho, reforça
o pensamento de que devemos exercer uma prática docente em parceria, em equipe, onde
todos deverão voltar seu olhar e sua escuta para o sujeito da aprendizagem. Não há como
refletirmos sobre nosso trabalho e buscarmos continuamente agregar valores a nossa
formação, resignificarmos os conteúdos e adotarmos novas posturas avaliativas, se não
conhecermos o ser que estamos educando e a grande responsabilidade que é a de
participarmos da sua formação.
A realização da atuação docente elaborando vínculos afetivos com este ser que
aprende, mesmo que não deseje aprender naquele momento, por alguma circunstância,
certamente estaremos fazendo a parte que nos cabe: prepará-lo para operar
autonomamente seu futuro usando sua cabeça para pensar em alternativas viáveis para os
problemas da sua sociedade, seu coração para sentir as exigências e apelos sociais e suas
mãos para agir em prol do bem comum. Afinal, é esta a finalidade da educação.
As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o
que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar
e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com que
as experiências de aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que
promovam o desenvolvimento.
Portando, a psicopedagogia, pode fazer um trabalho entre os muitos
profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem
como pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que
vivem, de saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e
competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da
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criança, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições
de vida da maioria da humanidade.
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ANEXOS