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incêndio matéria de capa 20 Incêndio www.cipanet.com.br Benefícios da compartimentação para a segurança contra incêndios incêndio matéria de capa POR BRUNO SIMON | [email protected] FOTO SXC.HU COMPARTIMENTAR A EDIFICAçãO EVITA QUE O FOGO SE PROPAGUE E FACILITA O RESGATE DE VÍTIMAS

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Benefícios da compartimentação para a segurança contra incêndios

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Em uma noite de setembro de 1666, Thomas Farrinor, padeiro do rei Charles II, da Inglaterra, esque-ceu-se de desligar o forno de sua pa-daria, na região central de Londres, capital do país. O fogo atingiu res-tos de madeira que estavam ao lado do fogão e, em pouco tempo, toda a casa estava em chamas. O fogo alastrou-se pela Thames Street e to-mou grande parte da região central da cidade, destruindo 13.200 casas, 87 igrejas, 44 prédios públicos e a catedral de St. Paul. O episódio, co-nhecido como “O Grande Incêndio de Londres”, durou três dias e foi favorecido pela estrutura medieval da cidade, que contava com ruas estreitas e casas de madeira, muito próximas umas às outras.

Após o incidente, uma das me-didas tomadas pelas autoridades londrinas para evitar tragédias se-melhantes foi separar as casas com paredes de tijolos e pedras de ao me-nos 225 mm de espessura.

Em 1875, um novo incêndio na cidade, dessa vez em um galpão, te-ria levado o comandante da brigada de incêndio de Londres a afirmar que seria impossível controlar cha-mas de tão grandes dimensões, já que o ambiente tinha volume total de 7 mil metros cúbicos. Esse valor foi supostamente tomado como base para a definição do limite máximo de um compartimento tendo em vista os procedimentos de proteção contra incêndio.

Nos Estados Unidos, o relatório Fire Granding Report, publicado em 1946, analisava aspectos relaciona-dos à segurança contra incêndio em edifícios e sugeria uma nova forma de classificação de riscos, que levas-se em conta aspectos como a natureza da construção e o tipo de ocupação.

Esses acontecimentos foram cru-ciais para o desenvolvimento dos chamados métodos de proteção pas-siva contra incêndios.

Segundo o pesquisador Antonio Fernando Berto coordenador do La-boratório de Segurança ao Fogo do IPT (Instituto de Pesquisas Tecno-lógicas), de São Paulo, as metodo-logias de segurança passiva contra incêndio, entre as quais se destaca a compartimentação, incluem medi-das que basicamente não demandam energia e que fazem uso de com-ponentes e elementos que exercem funções diversas na edificação. “As-

sim, um forro de apartamento, por exemplo, exerce a função de deco-ração, de absorção sonora etc. Mas também pode proteger o ambiente em caso de incêndio, não propagan-do as chamas.”

Nesse contexto, a compartimen-tação deve ser entendida como um conjunto de medidas construtivas que tem como maior objetivo limi-tar o incêndio a um determinado ambiente, evitando que ele se alastre de um compartimento a outro, hori-zontal ou verticalmente.

De acordo com Valdir Pignatta e Silva, professor da escola politéc-nica da USP (Universidade de São Paulo) e vice-presidente da Albrasci (Associação Luso-Brasileira para a Segurança Contra Incêndio), o ter-mo compartimento refere-se à “pró-pria edificação ou parte dela, com-preendendo um ou mais cômodos, espaços ou pavimentos”.

Em um primeiro momento, com-partimentar significa, de acordo com Antonio Berto, reduzir áreas de risco, como óbvias vantagens finan-ceiras: “Em uma unidade industrial sem compartimentação, por exem-

Para Antonio Berto, a compartimentação é um dos métodos mais eficientes de

proteção contra incêndios

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Pintura de 1675 representando o grande incêndio de Londres. Tragédia deu origem à cultura de proteção contra incêndio na Inglaterra

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plo, um incêndio poderia facilmente passar da linha de produção para o estoque. A compartimentação difi-culta que isso aconteça, diminuindo

as perdas potenciais. Ela também traria compensações financeiras na contratação do seguro”.

Compartimentar significa tam-bém manter o incêndio em dimen-sões controláveis e salvaguardar a integridade física dos ocupantes da edificação. Nesse sentido, as medi-das de compartimentação facilitam o combate ao fogo; limitam o núme-ro de pessoas em risco num determi-nado momento; dão tempo para que as pessoas que se encontram em zo-nas sem fogo escapem; e providen-ciam zonas de refúgio temporário, viabilizando a evacuação segura da edificação.

Berto afirma, portanto, que com-partimentar ambientes não significa isolá-los uns dos outros, mas sim providenciar áreas e acessos pelos

quais os ocupantes da edificação possam sair com segurança: “Ao se compartimentar uma área, devem-se prever também rotas alternativas de saída e, por isso, a compartimenta-ção interage com a questão das saí-das de emergência. Uma área segura deve dar acesso a outra e assim su-cessivamente, até se chegar ao exte-rior do edifício”.

Assim, a compartimentação é essencial em ambientes como hos-pitais, por exemplo, onde muitos dos ocupantes podem estar impe-didos de se locomover: “Como re-solver a questão da segurança con-tra incêndio em hospitais se não for com compartimentação? Só ela pode oferecer condições para que todos os pacientes sejam retirados a tempo”.

Valdir Pignatta:

“A compartimentação é sempre desejável,

a fim de evitar a propagação do fogo e da fumaça”

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Outro aspecto importante, de acordo com o pesquisador do IPT, é que a compartimentação deve evi-tar não apenas que o fogo se alastre, mas também que a fumaça atinja ou-tros compartimentos: “A fumaça é o que mais mata durante um incêndio. E ela também dificulta o trabalho dos bombeiros”.

Valdir Pignatta e Silva afirma que os elementos de compartimen-tação devem ser previstos nos pro-jetos de estrutura, arquitetura e de instalações das edificações, e que o mais importante é que esse projeto seja rigorosamente seguido na etapa de construção.

Para Ana Maria Piñeiro Taboada, gerente de projetos da MHA Enge-nharia, geralmente as grandes cons-trutoras estão aptas a realizar esses procedimentos, que fazem parte das exigências legais de segurança con-tra incêndios, mas as constantes ino-vações no mercado de produtos para compartimentação podem demandar a necessidade de assessoria técnica de fabricantes: “Os fabricantes de

materiais para compartimentação podem dar assistência às obras por meio de cursos de aplicação dos seus produtos aos funcionários das construtoras”.

PROcEdImENTOS dE cOmPARTImENTAÇÃO

Os procedimentos de comparti-mentação dividem-se em horizon-tais e verticais. Os procedimentos horizontais evitam que o fogo se alastre para ambientes em um mes-mo pavimento; já os verticais impe-

dem a propagação do incêndio para os andares imediatamente superio-res ao pavimento atingido.

De acordo com o Regulamen-to de Segurança Contra Incêndios do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de São Paulo (CBMESP), os procedimentos de compartimenta-ção devem ser realizados levando-se em conta as dimensões e a natureza da edificação, bem como seu grupo de ocupação. Dessa forma, eles não são exigidos para edificações com áreas menores ou iguais a 750 me-tros quadrados e alturas de até 12 metros. Residências (casas e aparta-mentos) e habitações coletivas (pen-sionatos, alojamentos, mosteiros, conventos etc.), mesmo que tenham áreas maiores, não necessitam de compartimentação horizontal, em-bora devam ser compartimentadas verticalmente caso ultrapassem os 12 metros de altura. Já edificações de natureza industrial e comercial, hotéis, escolas, locais de reunião pública, depósitos etc. podem ou não exigir compartimentação, de-pendendo dos riscos que oferecem a seus ocupantes e da carga de incên-dio em potencial. Em muitos casos, a compartimentação nesses ambien-tes pode ainda ser substituída por medidas de proteção ativa, como instalação de sistemas de controle de fumaça e chuveiros automáticos.

A área máxima de um comparti-mento varia entre 800 e 5 mil metros quadrados e é calculada tomando por base a presença ou ausência de riscos especiais; a existência ou ine-xistência de sistemas auxiliares de combate a incêndio; os riscos ine-rentes à atividade prevista; e o valor do conteúdo presente no ambiente. O anexo B da Instrução Técnica (IT) n° 9 dos bombeiros militares

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Compartimentação é o método de proteção mais eficaz em hospitais

Ana Maria Taboada, da MHA engenharia

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paulistas, que trata justamente de compartimentação, traz uma tabela com as áreas máximas de comparti-mentação em função dos grupos de ocupação das edificações.

Segundo Carla Costa, engenhei-ra civil especializada em segurança contra incêndio, a compartimenta-ção é obtida por meio de uma série de medidas, entre elas a construção de barreiras físicas contra o fogo, tais como pisos e paredes corta-fo-go: “São estruturas convencionais, de alvenaria, de concreto e até de dry-wall, mas com uma espessura mínima, para que impeçam a passa-gem de chamas, calor e fumaça”.

De acordo com a engenheira, as barreiras de contenção precisam ser estanques e isolantes, evitando que tanto o fogo como o calor passem para os ambientes adjacentes. “As barreiras de compartimentação têm que apresentar baixa condutividade térmica, para evitar que a tempera-tura nos ambientes adjacentes suba muito, impedindo sua ocupação, e respeitar um tempo mínimo de re-sistência ao fogo.”

Para evitar a quebra da compar-timentação, as aberturas e passagens feitas nas paredes também devem

ter tratamento especial, por meio da utilização de portas, registros e sela-gens corta-fogo.

cOmPARTImENTAÇÃO VERTIcAL

A compartimentação vertical deve ser realizada tanto na fachada como no interior dos edifícios. A compar-timentação de fachadas tem como objetivo impedir que o incêndio se propague para os outros pavimentos da edificação através das aberturas existentes em sua área externa. Já a compartimentação interior visa im-pedir que o incêndio se propague através de aberturas nos entrepisos, saídas de emergência ou poços de elevador.

Os elementos empregados para a compartimentação vertical de edifi-cações são entrepisos (ou lajes) corta-fogo; paredes corta-fogo, para o en-clausuramento de escadas e poços de elevadores; selos, vedadores e regis-

tros corta-fogo (dampers); elementos construtivos corta-fogo de separação vertical entre pavimentos consecuti-vos; e selagem perimetral corta-fogo.

De acordo com Valdir Pignatta e Silva, a compartimentação verti-cal de fachadas é obtida por meio de parapeito-verga ou marquises (prolongamento dos entrepisos), construídos por materiais incom-bustíveis. De acordo com a IT nº 9 dos bombeiros, as vergas e para-peitos existentes entre as aberturas de pavimentos consecutivos devem apresentar espessura mínima de 1,2 metro (ver figura 1). Quando a se-paração entre os pisos for realizada por meio de marquises, essa estrutu-ra deve ser prolongada por, no míni-mo, 0,9 metro além do alinhamento da fachada.

No caso de edifícios com facha-da envidraçada, a engenheira Carla Costa explica que devem ser ins-talados elementos corta-fogo por trás desse revestimento. De acordo com a Instrução Técnica dos bom-

Carla Costa, especialista em segurança contra incêndios

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Compartimentação vertical na fachada de edifício. Fonte: IT nº 9 do CBMESP

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beiros, esses elementos podem ser marquises, vigas ou parapeitos. É

importante ressaltar que frestas ou aberturas entre a fachada de vidro e

as estruturas corta-fogo devem ser fechadas com selagem corta-fogo.

Para a compartimentação verti-cal interna, Pignatta explica que as lajes ou entrepisos devem respei-tar uma espessura mínima e que as selagens devem ser utilizadas para fechar toda e qualquer ligação entre pavimentos, tais como passagens de tubulação, dutos, shafts etc. Dutos de ventilação, ar-condicionado ou exaustão devem ainda contar com registros corta-fogo, devidamente ancorados aos entrepisos.

Segundo Carla Costa, para evi-tar a quebra da compartimentação, as escadas de emergência devem ser protegidas por paredes de comparti-mentação e portas corta-fogo, além de contar com sistema de pressuri-zação. “É importante que as escadas

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de saídas de emergência tenham um sistema de ventilação que expulse o ar do compartimento assim que as portas corta-fogo forem abertas por quem está fugindo. Isso evita a entrada de fogo e fumaça em seu interior.”

De acordo com a IT 9 dos bom-beiros, átrios podem interferir na compartimentação vertical das edifi-cações e por isso devem contar com proteções como sistemas de detec-ção e controle de fumaça e chuvei-ros automáticos. Em prédios acima de 60 metros, átrios devem ser pro-tegidos com cortinas, vidros ou ou-tros elementos para-chamas.

cOmPARTImENTAÇÃO hORIzONTAL

A compartimentação horizontal evita que o fogo se alastre dentro de um mesmo pavimento ou para edifi-cações adjacentes. Assim, o proce-dimento deve ser realizado tanto no exterior como no interior do edifício.

Internamente, os compartimen-tos devem ser separados por paredes

corta-fogo, portas corta-fogo, ve-dadores corta-fogo, registros corta-fogo (dampers) e selos corta-fogo.

Segundo o professor Pignatta, janelas voltadas para o exterior dos compartimentos e em lados opostos da parede de compartimentação de-vem manter uma distância mínima de 2 metros entre si. De acordo com a Instrução Técnica dos bombeiros, essa distância deve ser garantida por uma extensão de parede devidamen-te consolidada à parede de compar-timentação (ver figura 2).

A separação entre as janelas pode ainda ser substituída pelo pro-longamento da parede de comparti-mentação, com extensão mínima de 0,9 metro além do alinhamento da fachada.

Aberturas em fachadas ortogo-nais situadas em diferentes compar-timentos devem ser separadas por uma distância mínima de 4 metros, para evitar a propagação do incêndio por irradiação térmica.

De acordo com a IT 9, em edi-fícios que possuem telhas combus-tíveis, as paredes de compartimenta-ção devem prolongar-se, no mínimo, 1 metro acima do telhado. Entretan-to, se as telhas combustíveis estive-rem a uma distância de ao menos 2 metros da parede de compartimenta-ção, não há necessidade de prolon-gamento da parede. É importante ressaltar que a parede de comparti-mentação deve ser dimensionada es-truturalmente de forma a não entrar em colapso caso ocorra a ruína da cobertura do compartimento atingi-do pelo fogo.

Vale mencionar, também, que as medidas de compartimentação ho-rizontal devem ser combinadas ao

Modelo de compartimentação horizontal

Modelo de compartimentação em fachadas ortogonais. Fonte: IT n° 9 do CBMESP

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atendimento à Instrução Técnica n° 11 dos bombeiros, que trata do pla-nejamento das saídas de emergência da edificação, de forma que cada área compartimentada seja dotada de ao menos uma saída que leve a um local seguro. De acordo com a IT 11, essa saída deve estar posicio-nada a distâncias máximas de 30 a 140 metros, de acordo com o grupo de ocupação da edificação e os ris-cos envolvidos.

ELEmENTOS dE cOmPARTImENTAÇÃO

Em edificações compartimenta-das devem ser utilizados elementos construtivos chamados de corta-fo-go, ou seja, pisos, paredes e portas que apresentem resistência mecâni-ca às chamas, estanqueidade (im-pedindo a passagem de chamas e fumaça) e isolamento térmico (im-pedindo a passagem do calor). Em situações especiais, são permitidos os elementos conhecidos como pa-ra-chamas, que apresentam apenas resistência mecânica e estanqueida-de, mas não impedem a passagem de calor.

Todos os elementos de compar-timentação devem respeitar o TRRF (Tempo Requerido de Resistência ao Fogo), intervalo de tempo du-rante o qual a estrutura construtiva se mantém íntegra em situações de incêndio.

O TRRF dos elementos de com-partimentação pode variar de 30 a 180 minutos, dependendo do tipo de ocupação e das dimensões da edi-ficação, sendo classificados de P1 (30 minutos) a P8 (180 minutos). Já elementos instalados em subsolos são classificados em S1 (60 minutos

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de resistência) ou S2 (90 minutos de resistência).

De acordo com a IT 8 – Resis-tência ao fogo dos elementos da construção do Corpo de Bombeiros de São Paulo, o TRRF dos elemen-tos de compartimentação devem ser comprovados por meio da execução de testes e ensaios específicos de resistência ao fogo ou atendimen-to a tabelas elaboradas a partir de resultados obtidos em ensaios de resistência ao fogo. Para elementos estruturais, o TRRF pode ainda ser comprovado por meio de modelos

matemáticos (analíticos) devida-mente normatizados ou internacio-nalmente reconhecidos.

Segundo Berto, os ensaios de resistência ao fogo aplicados aos elementos de compartimentação no Brasil devem ser realizados em conformidade às seguintes normas técnicas:

• ABNT NBR 10636: Deter-minação da resistência ao fogo de paredes de compartimentação sem função estrutural;

• ABNT NBR 5628: Determi-nação da resistência ao fogo para

paredes de compartimentação com função estrutural; e

• ABNT NBR 6479: Determina-ção da resistência ao fogo das prote-ções das aberturas existentes nas pa-redes de compartimentação (portas corta-fogo, selagem corta-fogo etc.).

Ambientes compartimentados po-dem ainda contar com selagens corta-fogo, para fechar possíveis frestas deixadas nos espaços por onde pas-sam tubos e shafts, fachadas de vidro etc.; vedadores corta-fogo; e registros corta-fogo (dampers).

Segundo Ana Maria Taboada, vedadores corta-fogo são elementos parecidos com portas corta-fogo, só que utilizados nas paredes corta-fogo de áreas industriais, com fe-chamento automático acionado por detecção ou alarme.

Registros ou dampers corta-fogo são elementos utilizados nos dutos de exaustão ou ar-condicio-nado que atravessam paredes cor-ta-fogo e que, quando acionados pela detecção ou alarme, fecham-se, evitando que a fumaça de uma área atingida pelo fogo adentre outros ambientes. De acordo com a IT 9, os dampers devem ser dota-dos de acionamentos automáticos comandados por fusíveis bimetá-licos ou por sistema de detecção automática de fumaça, de acordo com a NBR 17240/10.

Já a selagem corta-fogo é geral-mente utilizada nas passagens de instalações que atravessam paredes corta-fogo ou nos shafts, evitando a propagação de fogo, fumaça e calor para outros ambientes. “A selagem corta-fogo funciona por meio da aplicação de produtos que, ao serem aquecidos pelo fogo, possuem efei-to intumescente e ocupam o espaço vazio deixado pela tubulação que

Portas corta-fogo devem ser instaladas em passagens entre compartimentos, evitando que o fogo se alastre

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entrou em colapso”, explica Ana Maria.

LEGISLAÇÃO

De acordo com Antonio Berto, até a década de 1970, as legislações sobre segurança contra incêndio em edificações no Brasil previam so-mente medidas de proteção ativas. Assim, era comum que os corpos de bombeiros estaduais exigissem ape-nas a instalação de hidrantes e extin-tores de incêndios.

Entretanto, episódios como os incêndios nos Edifícios Andraus e Joelma, em 1972 e 1974, respecti-vamente, que juntos deixaram mais de 200 mortos em São Paulo, ense-

jaram as discussões sobre seguran-ça contra incêndios em edificações no País, principalmente na capital paulista. Segundo Berto, essas dis-cussões levaram a legislações um pouco melhores, a partir de 1983, e culminaram, em 2001, com o Decre-to Estadual nº 56.819, que fornece as diretrizes para os projetos de se-gurança contra incêndio no Estado, a partir das chamadas Instruções Técnicas.

Para Berto, o decreto de 2001 foi a primeira legislação mais abran-gente do Brasil, passando a tratar de compartimentação com base em normas nacionais e internacionais. “Não dava para desenvolver uma legislação sem uma base normativa forte”, explica.

Segundo coronel Hamilton Coelho, as legislações brasileiras sobre segu-rança contra incêndios evoluíram bastante e o nível de exigência está de acordo com as principais normas e regulamentos internacionais: “O que deve ser feito é uma revisão perió-dica, principalmente para incorporar novas técnicas e equipamentos, à me-dida que são desenvolvidos”.

A legislação de segurança contra incêndios varia de acordo com os municípios do País. Atualmente, a legislação paulistana determina que estabelecimentos comerciais e in-dustriais apresentem AVCB (Alvará de Vistoria do Corpo de Bombeiros) para obter o alvará de funcionamen-to. O AVCB atesta que as medidas de segurança contra incêndio imple-

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Em 2011, passaram a valer as novas versões das Instruções técnicas dos Bombeiros Militares de São Paulo, entre elas a da It 9. uma das novidades introduzidas pela nova versão é a inclusão das chamadas cortinas corta-fogo entre os elementos de compartimentação.

de acordo com o texto da It 9, as cortinas corta-fogo podem ser utilizadas como elemento de compartimentação horizontal ou vertical em edificações protegidas por chuveiros automáticos e devem ser acionadas por sistema de detecção automática ou manualmente, de acordo com a NBr 17240/10.

carla costa explica que as cortinas corta-fogo são feitas de tecido sintético com características especiais de resistência ao fogo e ao calor e são mais indicadas para ambientes industriais: “É que, nas indústrias, existem muitas tubulações saindo das paredes e que precisam de vedação. Elas podem ser aplicadas também naquelas aberturas das cozinhas de restaurantes, para passar os pratos”.

outra aplicação possível das cortinas seria em escadas rolantes de shopping centers: “As cortinas são acopladas a detectores de fumaças. Então, em caso de incêndio, o detector envia um sinal para o painel de controle, que aciona as cortinas automaticamente, que então se fechariam ao redor da escada rolante, formando uma espécie de caixa”, explica carla.

daniel Franco, diretor-comercial da Exuvent, empresa que atua no segmento de ventila-ção natural, explica que as cortinas corta-fogo oferecem vantagens principalmente se utilizadas em substituição a uma parede de compartimentação, por exemplo: “A cortina corta-fogo abre grandes possibilidades de projeto para arquitetos, engenheiros civis e especificadores e podem ser utilizadas em residências, shoppings, indústrias e até embarcações”.

outra vantagem da cortina corta-fogo, de acordo com Franco, é que ela pode ser usa-da para facilitar a fuga dos ocupantes da edificação: “A cortina desce até uma altura predeterminada durante um período de tempo preestabelecido (compartimentação parcial), criando um ‘reservatório de fumaça’. Isso garante que as rotas de fuga protegidas permaneçam abertas por mais tempo antes da descida das cortinas até sua posição ope-racional de contenção de fogo (comparti-mentação total), permitindo uma evacuação planejada”.

Para Hamilton coelho, coronel reformado do cBMESP, as cortinas corta-fogo são bastante eficazes quando adequadamente projetadas e instaladas, principalmente em locais onde a construção de paredes traz algum prejuízo para a operação da edificação.

cortinas corta-Fogo

Cortina corta-fogo instalada em cozinha

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Cortina-corta fogo usada para proteger átrio de shopping center

Cel. reformado Hamilton Coelho, do CBMESP

Daniel Franco, diretor-comercial da Exuvent

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mentadas na edificação, entre elas a compartimentação, estão de acordo com as instruções técnicas dos bom-beiros. Segundo coronel Hamilton Coelho, o AVCB é emitido apenas após vistorias dos bombeiros na edificação, quase sempre por solici-tação do proprietário: “Nessas oca-siões, o bombeiro responsável con-fere a instalação e o funcionamento de todos os sistemas de proteção e combate a incêndio, verificando se a edificação está de acordo com o projeto técnico aprovado. Se estiver tudo bem, é emitido o AVCB”.

O coronel Hamilton explica ain-da que as edificações construídas na cidade de São Paulo já incorporam adequadamente as medidas de pro-teção contra incêndios, mas ainda há edificações antigas que não atendem

integralmente às exigências. Segun-do ele, nessas edificações são exi-gidas adaptações, de acordo com as possibilidades.

Segundo Carla Costa, um dos maiores problemas da segurança contra incêndio em edificações é a dificuldade de fiscalização, princi-palmente em São Paulo, onde a de-manda é muito grande: “São Paulo tem muitas construções e o Contru (Departamento de Controle do Uso de Imóveis) não dá conta de fiscali-zar a cidade toda. A maioria das irre-gularidades acaba sendo descoberta por meio de denúncias”.

De acordo com a engenheira, os bombeiros militares podem até cas-sar ou não conceder AVCB em caso de irregularidades, mas não podem embargar uma obra ou impedir um

estabelecimento de funcionar.E, para Gérson Gonçalves de

Souza, subtenente do CBMESP, nem é essa a intenção dos bombei-ros. “Não temos efetivo para reali-zar a fiscalização e a interdição de edificações. Além disso, o mais im-

Para Gonçalves, é preciso conscientização sobre a importância

da proteção contra incêndios

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portante não é a fiscalização, é pre-ciso antes educar a população sobre a importância da segurança contra incêndios.”

cOmPARTImENTAÇÃO E RESGATE dE VíTImAS

Uma das grandes contribuições da

compartimentação para a segurança de edificações é oferecer condições adequadas para que os bombeiros executem as operações de salvamen-to de vítimas e combate às chamas. De acordo com o subtenente Gonçal-ves, uma edificação compartimen-tada garante a eficácia do “Sicer”, como é chamado o plano de ação em situações de incêndio dos bombeiros: “‘S’ é salvamento; ‘I’, isolamento da área; ‘C’ é confinamento; ‘E’, extin-ção das chamas; e ‘R’, rescaldo. A compartimentação facilita o salva-mento, na medida em que restringe o fogo a determinadas áreas e cria lo-cais seguros para a fuga, e evita que o incêndio tome maiores proporções, facilitando sua extinção”.

Outra medida importante para fa-cilitar o trabalho dos bombeiros, de acordo com subtenente Gonçalves, é o bloqueio da fumaça proporciona-do pela compartimentação, por meio de barreiras estanques e isolantes. Nesse sentido, os procedimentos de compartimentação também devem ser realizados em conjunto com os descritos na Instrução Técnica nº 15 do CBMESP, que trata do controle de fumaça em edificações.

Segundo Daniel Franco, as me-didas de controle de fumaça visam isentar de fumaça os ambientes compartimentados horizontal e ver-ticalmente, e devem ser realizadas em átrios, subsolos, espaços amplos, rotas de fuga etc. Para isso, essas me-didas devem promover a entrada de ar limpo na edificação e a saída da fumaça, por meio de exaustores na-turais, que devem ser instalados na cobertura ou fachada da edificação.

De acordo com o texto da IT 15, cada ambiente compartimentado deve contar com um dispositivo in-dependente de controle de fumaça, que deve: propiciar a manutenção de

um ambiente seguro na edificação durante o tempo necessário para a fuga das pessoas, evitando intoxica-ção e falta de visibilidade; controle e redução da propagação de gases quentes e fumaça entre as áreas atin-gidas e áreas adjacentes, baixando a temperatura interna e limitando a propagação do incêndio; e prever condições dentro e fora do ambiente incendiado que facilitem as opera-ções de busca e resgate de pessoas e de controle das chamas.

Segundo a instrução técnica, a extração da fumaça é facilitada pela divisão de volumes de fumaça a ex-trair, por meio da previsão de áreas de acantonamento, criadas a partir da instalação dos chamados painéis de fumaça.

ARqUITETURA x cOmPARTImENTAÇÃO

Segundo Marcos Vargas Valen-tin, arquiteto, urbanista e pesqui-sador do GSI/NUTAU/FAU-USP (Grupo de Segurança Contra Incên-dio do Núcleo de Arquitetura e Ur-banismo da Faculdade de Arquitetu-ra e Urbanismo da Universidade de São Paulo), as medidas de compar-

Exemplo de instalação em cobertura SHED, com cortinas fixas de acantonamento de fumaça. Fonte: IT 15 do CBMESP

Marcos Vargas Valentin, arquiteto especializado em segurança contra incêndio

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Shaft selado

timentação não geram muitas inter-ferências nos projetos arquitetônicos das edificações, a não ser nos átrios: “Nos átrios, a compartimentação vertical é quebrada, e as exigências para minimizar a propagação do fogo e dos produtos da combustão nessas áreas elevam o custo da pro-teção contra incêndio”.

Outro elemento que deve ser visto com bastante atenção, segun-do Valentin, são os shafts: “Se não forem bem compartimentados, per-mitirão que o fogo siga seu caminho natural, que é subir, contaminando os ambientes superiores com fumaça e dificultando a saída das pessoas”.

De acordo com Valentin, o ar-quiteto não precisa ser especialista em segurança contra incêndio para o exercício de sua profissão, mas deve ter consciência de que o assunto é complexo e muito importante para a proteção da vida. Mesmo assim, segundo ele, a maioria dos profis-sionais de arquitetura do Brasil não se interessa pelo tema: “Por isso, muitos contratam outro profissional para elaborar o projeto (de seguran-ça contra incêndio), popularmente chamado de ‘projeto de bombeiro’. Muitas vezes, quando esse profis-

sional é contratado, o projeto de arquitetura e os complementares já estão avançados. Diante das exi-gências necessárias para que a obra seja aprovada, os trabalhos precisam passar por revisão, o que acaba atra-sando todo o processo”.

Para Carla Costa, a dificuldade maior dos profissionais envolvi-dos em projetos de construção civil pode ser resultado da falta de conhe-cimento sobre segurança contra in-cêndios: “Uma pesquisa recente fei-ta pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) confirmou uma suspeita que se tinha: hoje, o ensino de projetos de segurança contra in-cêndio para arquitetos e engenheiros civis é uma tragédia em praticamen-te todo o Brasil”.

Segundo a engenheira, salvo engano, apenas a FAU da USP tem disciplinas voltadas ao tema. “Nas outras faculdades, quando o coorde-nador do curso é mais antenado, ele convida os bombeiros para darem uma palestra sobre o tema. Se não há essa consciência, não acontece nem isso, e o aluno se forma sem ter noção nenhuma de proteção contra incêndio nos projetos que vai desenvolver.”

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