77 anos do CREA - PA ─ Oswaldo Coimbra

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Oswaldo Coimbra CREA-PA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do ParÆ Os 4 sØculos de exerccio das suas pro ssıes 77 anos do CREA - ParÆ

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Os 4 séculos de exercíciodas suas profissões

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Oswaldo Coimbra

CREA-PAConselho Regional de Engenharia, Arquitetura

e Agronomia do ParÆ

Os 4 sØculos de exercício das suas pro�ssıes

77 anos do CREA - ParÆ

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Diretoria 2011 Presidente: Eng” Civil JosØ Leitªo de Almeida Viana

1” Vice-Presidente: Eng” Agrônomo Dilson Augusto Capucho Frazªo 2” Vice-Presidente: Eng” Civil Antônio NoØ Carvalho de Farias

1” SecretÆrio: Eng” Agrônomo Elias JosØ Tuma Filho 2” SecretÆrio: Eng” Civil Evaristo Clementino Rezende dos Santos

1” Tesoureiro: Eng” Civil Marcelo Haroldo Mena Wanderley 2” Tesoureiro: Eng” Civil Roberto Serra Pacha

www.creapa.com.brTv. Doutor Moraes, 194 - NazarØ - BelØm - PA

CEP: 66.035.080 Tel/Fax (91) 4006-5500

Comissªo Editorial 2010

Efetivos:

Coordenador: Eng” Civil JosØ Leitªo de Almeida VianaCoordenador Adjunto: Eng” Civil Luiz SØrgio Campos LisboaMembros:

Eng” Civil Evaristo Clementino Rezende dos SantosEng” Agrônomo Dilson Augusto Capucho FrazªoSuplentes:

Eng” Civil Hito Braga de MoraesEng” Civil Carlos Antônio Duarte RodriguesEng” Eletricista Daniel de Oliveira Sobrinho

Comissªo Editorial 2011

Efetivos:

Coordenador: Eng” Agrônomo Dilson Augusto Capucho FrazªoMembros:

Eng” Civil Evaristo Clementino Rezende dos SantosEng” Civil Hito Braga de MoraesSuplentes:

Eng” Civil Joªo Fernando Lobo PinheiroEng” Civil Carlos Antônio Duarte RodriguesEng” Mecânico Antônio Carlos Crisóstomos Fernandes

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Oswaldo Coimbra

CREA-PAConselho Regional de Engenharia, Arquitetura

e Agronomia do ParÆ

Os 4 sØculos de exercício das suas pro�ssıes

BelØm

77 anos do CREA - ParÆ

2011

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Agradecimentos

A produçªo deste livro contou com o empenho da jornalista Leida Raquel Ferreira Rodrigues, Assessora de Imprensa do CREA-PA. E de Glayds do Socorro Dutra Barbosa, Coordenadora de Relaçıes Institucionais. AlØm delas, colaboraram para tornÆ-lo exequível:

Alexandrina Henrique dos Santos Oliveira - Coordenadora de LicitaçıesAndrØa Marina CÆceres Brito (arquiteta e urbanista) � SuperintendenteFranklin Rabelo da Silva (advogado) � Coordenador JurídicoHelena Ferreira Monteiro - Nœcleo Tecnologia da InformaçªoIsaac Serique da Costa Nascimento � Gestor de ContratosLuceli Nascimento de Brito � Gerente FinanceiraMaria da Conceiçªo Luz Dias � Chefe da Seçªo de DocumentaçªoMaria do CØu Silva de Campos - Coordenadora Administrativa e FinanceiraSilvia Maia Moura � SecretÆria da PresidŒncia

A todos agradecemos. O autor

C679s Coimbra, Oswaldo 77 Anos do CREA-PA. Os 4 sØculos de exercício das suas pro� ssıes / Oswaldo Coimbra; Ilustraçªo: Daniela Vianna Coimbra � BelØm, PA: CREA-PA, 2011. 200 p.: il.; 21 cm.

1. Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado do ParÆ � História. 2. Tecnologia. I Título.

CDD 19. ed. 620.811509

ColaboradoresDesign GrÆ� co e Editoraçªo: Daniela Vianna Coimbra

Fotogra� a: Rafaela Coimbra

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Palavra do PresidentePara expressar o que este livro representa para nós, da classe tecnológica do estado do ParÆ, nªo poderemos

deixar de falar de uma história de sonhos, de desa� os e de evoluçªo. Quando foi criado, no governo Vargas, em 23 abril de 1934, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia era conhecido como CREA da 1“ Regiªo e respondia pelos estados do ParÆ, Amazonas, Maranhªo, Piauí e pelo entªo Território Federal do Acre. Hoje, 77 anos depois, conseguimos nos posicionar como o maior Conselho Pro� ssional da Amazônia, com cerca de 30 mil pro� ssionais registrados, somando 19 Inspetorias situadas nos municípios de: Altamira, Ananindeua, Barcarena, Bragança, Capanema, Castanhal, Conceiçªo do Araguaia, Itaituba, Juruti,

MarabÆ, Monte Alegre, Novo Progresso, OriximinÆ, Paragominas, Parauapebas, Redençªo, SantarØm, Tucuruí e Xinguara e outras oito jÆ aprovadas para implantaçªo: Monte Dourado (Distrito de Almeirim), Breves, CametÆ,

Canaª dos CarajÆs, Rondon do ParÆ, Salinópolis, Soure e Tucumª. A concretizaçªo deste sonho só foi possível porque o crescimento do CREA-PA foi um objetivo comum

de grandes pro� ssionais, que dedicaram anos de suas vidas na militância em prol do fortalecimento do Sistema Confea/CREA no estado do ParÆ. Este ensaio representa uma grande vitória para

todos os que tiveram a honra e a ousadia de exercer, ao longo desses anos, os cargos de Presidente, Conselheiro, Inspetor, que unidos à força de trabalho dos colaboradores do Conselho, nªo mediram esforços para tornar cada vez mais viva a história deste CREA.

É com imenso orgulho e satisfaçªo que vos convido a adentrar nestas pÆginas e, por meio delas, conhecer a nossa história. Ela, que por permanecer mutante, desa� adora e viva, continua nos movendo sempre em busca de novos

horizontes. Finalmente, nada mais justo do que me direcionar especialmente a todos os Engenheiros, Arquitetos, Agrônomos, Metereologistas, Geógrafos,

Geólogos, TØcnicos e Tecnólogos, que enquanto verdadeiros autores destas pÆginas, merecem de modo peculiar o tªo sonhado convite: venham e leiam, pois esta história Ø de todos nós que formamos o maior Conselho pro� ssional da Amazônia!

JosØ Leitªo de Almeida VianaPresidente do CREA-PA

Confea/CREAtodos os que tiveram a honra e a ousadia de exercer, ao longo desses anos, os

cargos de Presidente, Conselheiro, Inspetor, que unidos à força de trabalho dos colaboradores doviva a história deste

É com imenso orgulho e satisfaçªo que vos convido a adentrar nestas pÆginas e, por meio delas, conhecer a nossa história. Ela, que por permanecer mutante, desa� adora e viva, continua nos movendo sempre em busca de novos

horizontes. Finalmente, nada mais justo do que me direcionar especialmente a todos os

Geólogos, TØcnicos e TecnólogospÆginas, merecem de modo peculiar o tªo sonhado convite: venham e leiam, pois esta história Ø de todos nós que formamos o maior Conselho pro� ssional da Amazônia

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Pro�ssionais dos CREAs (Incluídos na tabela do CONFEA)

Agrimensores

Agrônomos

Arquitetos

Engenheiros: Civil, Agrícola, Eletricista, Mecânico,

Arquiteto, Naval, de Computaçªo, de

Comunicaçıes, de Controle e Automaçªo,

Ambiental, de Operaçªo, em Eletrônica,

de Telecomunicaçªo, de Forti�caçªo, de

Produçªo, Industrial, Militar, RodoviÆrio,

Sanitarista, de Infra-estrutura AeronÆutica,

AeronÆutico, Químico, de Alimentos, de

Materiais, TŒxtil, de Petróleo, de PlÆstico,

de Minas, de Exploraçªo e Produçªo de

Petróleo, Agrimensor, Cartógrafo, de

GeodØsia, Topógrafo, Florestal, de Pesca.

Tecnólogos em: Construçªo Civil, Edi�caçıes, Estradas,

Operaçªo e Administraçªo de Sistemas

de Navegaçªo Fluvial, Saneamento

Ambiental, Saneamento BÆsico, Automaçªo

Industrial, Distribuiçªo de Energia ElØtrica,

Eletricidade, Eletrônica, Eletrônica

Industrial, EletrotØcnica, Instrumentaçªo

e Controle, MÆquinas ElØtricas, TØcnicas

Digitais, Telecomunicaçıes, Sistema de

Telefonia, Transmissªo e Distribuiçªo

ElØtrica, Redes de Computadores, Sistema

de Comunicaçªo Sem Fio, Aeronaves,

Construçªo Naval, Eletromecânica, Indœstria

de Madeira, Manutençªo de MÆquinas

e Equipamentos, Mecânica, Metalurgia,

Processo de Produçªo e Usinagem,

Produçªo de Calçados, Produçªo de Couro,

Siderurgia, Sondagem, Naval, Qualidade

Total, Alimentos, Cerâmica, Indœstria

TŒxtil, Materiais, Processos Petroquímicos,

Química, TŒxtil, Minas, Manutençªo

Petroquímica, Topogra�a, Açœcar e

`lcool, Administraçªo Rural, Agricultura,

Agronomia, AgropecuÆria, Aquacultura,

Bovinocultura, CiŒncias AgrÆrias,

Cooperativismo, Curtumes e Tanantes,

Fitotecnia, Fruticultura, Heveicultura,

Laticínios, Mecanizaçªo Agrícola,

Meteorologia, PecuÆria, Industrial de Açœcar

e Cana, Recursos Hídricos e Irrigaçªo.

TØcnicos em: Construçªo Civil, Desenho de Construçªo Civil, Desenhos de Projetos, Edi�caçıes, Estradas, Estradas e Pontes, Hidrologia, Saneamento, Transportes RodoviÆrios,

Meio Ambiente, Automaçªo Industrial, Eletricidade, Eletrônica, EletrotØcnica, Informaçªo Industrial, Instrumentaçªo,

MicroinformÆtica, Proteçªo Radiológica, Telecomunicaçıes, Telefonia, Mecatrônica,

Eletroeletrônica, Manutençªo de Computadores, Redes de Comunicaçªo, Desenhista de MÆquinas, AeronÆutica, Aeronaves, Automobilismo, Calçados, Construçªo de MÆquinas e Motores, Construçªo Naval, Estruturas Navais, Fundiçªo, Manutençªo de Aeronaves,

MÆquinas, Mecânica, Metalurgia, NÆutica, Operaçıes de Reatores, Refrigeraçªo e

Ar Condicionado, Siderurgia, Soldagem, Usinagem Mecânica, Naval, Metrologia, Qualidade e Produtividade, Alimentos,

Borracha, Celulose, Cerâmica, Cerveja e Refrigerantes, Fiaçªo, Malharia, Papel,

Petroquímica, PlÆstico, Química, Tecelagem, VestuÆrio, TŒxtil, Cervejaria, Controle e Qualidade de Alimentos, Processamento

de Frutas e Hortaliças, Agrimensura, Fotogrametria, GeodØsica e Cartogra�a, Geomensura, Desenhista de Arquitetura,

Decoraçªo, Maqueteria, Paisagismo, Agrícola, Agroindœstria, Açœcar e `lcool, Agricultura, AgropecuÆria, Aquacultura,

Bene�ciamento de Madeira, Bovinocultura, Carnes e Derivados, Cooperativismo,

Enologia, Frutas e Hortaliças, Horticultura, Irrigaçªo e Drenagem, Laticínios, Meio

Ambiente, Meteorologia, PecuÆria, Pesca, Piscicultura, Florestal, Rural, Cafeicultura,

Zootecnia.

Especialistas em:Engenharia de Segurança do Trabalho

Geógrafos

Geólogos

Meteorologistas

Arquitetos e Urbanistas

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(Atualizaçªo: 31/12/2010)CREA-PA: Dados NumØricos

Pro� ssionais por `reas:

Agrimensura: 175

Agronomia: 2.563

Arquitetura: 1.596

Civil: 5.316

Eletricista: 1.768

Especializaçªo: 694

Geologia e Minas: 732

Mecânica e Metalurgia: 1.237

Química: 203

Total: 14.284

Pro� ssionais de Nível Superior: 17.711

Pro� ssionais de Nível MØdio: 11.440

Total: 29.151

Visto para pro� ssional de outro Estado: 7.848

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CREA-PA

77 anos

Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do ParÆ

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SumÆrioUm CREA de longa História ________________________________________________________ 19

Antes de BelØm existir ______________________________________________________________ 21

A importância do primeiro pro�ssional _________________________________________________ 21

Os construtores antigos ______________________________________________________________ 22

O uso da palavra �engenheiro� ________________________________________________________ 22

Uma decisªo grave: o local para erguer BelØm ____________________________________________ 23

A previsªo do crescimento da cidade ___________________________________________________ 23

BelØm no lugar errado? ______________________________________________________________ 23

Di�culdades para o crescimento de BelØm _______________________________________________ 24

BelØm em Icoaraci? _________________________________________________________________ 24

BelØm, em Colares? Na Ilha de Marajó? ________________________________________________ 24

A 1“ construçªo era de madeira? _______________________________________________________ 25

Era de madeira, repete Manoel Barata __________________________________________________ 25

Um escândalo: o forte de pedra ________________________________________________________ 26

A fundamentaçªo de Braga ___________________________________________________________ 27

Primeiro conjunto de obras ___________________________________________________________ 27

A primeira rua _____________________________________________________________________ 28

Piso de assoalho e chªo batido ________________________________________________________ 28

O 1° e o 2” templos que desapareceram _________________________________________________ 29

O povoado se expande ______________________________________________________________ 30

O início da catedral de BelØm _________________________________________________________ 30

Como eram as casas dos colonos_______________________________________________________ 30

O primeiro mestre pedreiro __________________________________________________________ 31

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A 1“ reforma no Forte do PresØpio _____________________________________________________ 31

O 3” templo que desapareceu _________________________________________________________ 32

A capela de Sªo Joªo ________________________________________________________________ 32

O primeiro gradeado de ruas _________________________________________________________ 32

Como eram as primeiras ruas _________________________________________________________ 33

Quem passava nas ruas ______________________________________________________________ 33

Surge o Senado da Câmara em BelØm __________________________________________________ 33

Carmelitas levantam convento de taipa _________________________________________________ 34

Começa a aparecer o segundo bairro ___________________________________________________ 35

O que dividiu os dois bairros _________________________________________________________ 35

O eixo do segundo gradeado __________________________________________________________ 36

A primeira lØgua patrimonial de BelØm _________________________________________________ 36

Os mercedÆrios se instalam em BelØm __________________________________________________ 36

As ruas do novo gradeado ____________________________________________________________ 37

A 1“ Santa Casa de Misericórdia ______________________________________________________ 38

Como era uma quadra do povoado _____________________________________________________ 38

Chegam os grandes construtores religiosos ______________________________________________ 39

Primeiros tempos dos jesuítas _________________________________________________________ 39

Pedra e cal para o ColØgio ____________________________________________________________ 40

Uma quase tragØdia _________________________________________________________________ 40

Restauro da ermida, e, a Alfândega _____________________________________________________ 41

BelØm em suas primeiras dØcadas ______________________________________________________ 41

O Forte de Sªo Nolasco _____________________________________________________________ 42

A melhor igreja do Gram-ParÆ ________________________________________________________ 43

Um alambique no colØgio ____________________________________________________________ 43

A Casa da ResidŒncia, do governador ___________________________________________________ 44

A ermida dos escravos negros _________________________________________________________ 44

A fortaleza que explodiu _____________________________________________________________ 45

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Um raro retrato de BelØm, em 1694 ____________________________________________________ 45

Mais uma ordem religiosa em BelØm ___________________________________________________ 46

Um jesuíta, engenheiro principiante ____________________________________________________ 47

A estrutura do colØgio jesuíta _________________________________________________________ 47

Topógrafos demarcam 1“ lØgua ________________________________________________________ 48

Igrejas do Carmo e Sªo Joªo, no início de 1700 ___________________________________________ 48

A obra mais importante _____________________________________________________________ 49

O ColØgio dos Jesuítas ______________________________________________________________ 49

A igreja dos jesuítas, em BelØm ________________________________________________________ 50

As duas igrejas em Vigia _____________________________________________________________ 51

O 4” templo que desapareceu _________________________________________________________ 52

As tØcnicas construtivas _____________________________________________________________ 53

Taipa de mªo, taipa de pilªo __________________________________________________________ 53

Reforma do Forte do PresØpio ________________________________________________________ 54

O início do segundo conjunto arquitetônico _____________________________________________ 55

Construtores do 3° conjunto arquitetônico _______________________________________________ 55

10.000 pessoas em BelØm ____________________________________________________________ 56

Arquiteto e naturalista amador ________________________________________________________ 56

Membros da Comissªo de Demarcaçıes ________________________________________________ 57

Uma Ærea pro�ssional organizada ______________________________________________________ 57

Posiçªo de Landi na comissªo _________________________________________________________ 58

SalÆrio do ajudante de Engenheiro _____________________________________________________ 58

A difícil produçªo de mapas __________________________________________________________ 59

O trabalho mais ingrato _____________________________________________________________ 59

Morte na Comissªo de Demarcaçıes ___________________________________________________ 60

1“ planta de BelØm feita por Schwebel __________________________________________________ 60

2“ planta de BelØm, de autoria de Schwebel ______________________________________________ 61

3“ planta de BelØm, criada por Schwebel ________________________________________________ 61

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Henrique Antonio Galluzzi, cartógrafo _________________________________________________ 62

Galluzzi, construtor de monumento militar ______________________________________________ 63

Sturm, um �construtor de cidade� ______________________________________________________ 64

Sturm: um forte ao lado da Venezuela __________________________________________________ 65

Parecer tØcnico sobre a Catedral _______________________________________________________ 66

Gronsfeld enfrenta o Alagado do Piri___________________________________________________ 66

Uma soluçªo para a drenagem do Piri __________________________________________________ 67

O aproveitamento dos igarapØs do Piri __________________________________________________ 68

Onde �caria a ligaçªo dos igarapØs do Piri _______________________________________________ 69

Um sistema de defesa para BelØm ______________________________________________________ 69

Um cais para as canoas atracarem ______________________________________________________ 69

BelØm mais bonita que Veneza ________________________________________________________ 70

Um jeito melhor de produzir farinha ___________________________________________________ 70

Melhor planta de BelØm, no sØculo XVIII _______________________________________________ 71

Um estadista no interior do Gram-ParÆ _________________________________________________ 72

No Gram-ParÆ, Manaus nasce ________________________________________________________ 72

O Velho Mundo na selva amazônica ___________________________________________________ 73

Grave ofensa ao construtor de cidade ___________________________________________________ 73

A carta angustiada de Lobo d�Almada __________________________________________________ 74

Maior administrador do futuro Amazonas _______________________________________________ 75

Primeira rua com calçamento em BelØm ________________________________________________ 75

BelØm começa a construir navios ______________________________________________________ 76

Primeiros navios fabricados em BelØm __________________________________________________ 77

Produçªo do estaleiro de BelØm _______________________________________________________ 78

ArmazØm de armas no colØgio jesuítico _________________________________________________ 79

A igreja de cœpula de BelØm __________________________________________________________ 79

Landi construiu seu próprio mausolØu? _________________________________________________ 80

Descaracterizaçªo da Igreja Santana ____________________________________________________ 80

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Casa do governador ameaçava desabar __________________________________________________ 81

Um palÆcio começa a surgir __________________________________________________________ 81

Um novo projeto para o palÆcio _______________________________________________________ 82

De onde saiu o 1° Círio de NazarØ _____________________________________________________ 83

O sobrado vira Hospital Militar _______________________________________________________ 83

Duas fachadas na Casa das Onze Janelas ________________________________________________ 84

Defunto excomungado pÆra obra ______________________________________________________ 84

Na igreja, um painel de prata _________________________________________________________ 85

Uso de tijolo de barro cozido _________________________________________________________ 85

Nova igreja para os escravos negros ____________________________________________________ 85

Amor dos negros pela Igreja do RosÆrio _________________________________________________ 86

Janelas de urupema na igreja __________________________________________________________ 87

Pura linguagem arquitetônica _________________________________________________________ 87

Uma catedral convencional, em BelØm __________________________________________________ 88

Landi, Gronsfeld e Calheiros, na catedral _______________________________________________ 88

A corte portuguesa instalada em BelØm? ________________________________________________ 89

O dedo de Landi na fachada __________________________________________________________ 89

Altar-mor de Landi foi substituído ____________________________________________________ 90

Telas pintadas e nªo imagens esculpidas _________________________________________________ 91

Moedas de ouro na igrejinha __________________________________________________________ 92

Um octógono na planta da igreja ______________________________________________________ 92

�Uma jóia da Arquitetura� em BelØm ___________________________________________________ 93

A conclusªo do 2” conjunto arquitetônico _______________________________________________ 94

Espaço da aristocracia local ___________________________________________________________ 95

Terceiro conjunto monumental de BelØm ________________________________________________ 96

Convento dos mercedÆrios vira Alfândega _______________________________________________ 98

As trŒs igrejas de NazarØ _____________________________________________________________ 98

Como era BelØm, em 1784 ___________________________________________________________ 100

Page 14: 77 anos do CREA - PA ─ Oswaldo Coimbra

Edi�caçıes de qualidade superior ______________________________________________________ 100

Mªo-de-obra e material de construçªo __________________________________________________ 100

As casas comuns de BelØm, em 1784 ___________________________________________________ 101

Privacidade das famílias nas residŒncias _________________________________________________ 104

Habitantes e ruas de BelØm __________________________________________________________ 104

Fundaçªo do Horto de BelØm, em 1796 _________________________________________________ 104

2.362 plantas no Horto de BelØm ______________________________________________________ 105

Plantas levadas para Rocinhas_________________________________________________________ 106

1699: antecedentes da preparaçªo pro�ssional ____________________________________________ 107

1753: 1° aluno _____________________________________________________________________ 107

1753: centro de formaçªo em MacapÆ __________________________________________________ 108

1757: em BelØm ___________________________________________________________________ 108

1799: Formaçªo de cartógrafos e topógrafos _____________________________________________ 109

1803: Curso de Engenharia de Antônio Baena ___________________________________________ 109

Com era ministrado o ensino de Engenharia _____________________________________________ 110

Primeira biblioteca de Engenharia do ParÆ ______________________________________________ 111

Nasce o bairro do Reduto ____________________________________________________________ 112

Uma igreja no alagado _______________________________________________________________ 112

Quem construiu a Igreja da Trindade ___________________________________________________ 112

O dono da Casa Rosada _____________________________________________________________ 113

O aterramento do Alagado Piri _______________________________________________________ 114

TrŒs estradas sobre o alagado _________________________________________________________ 115

Ciclo da borracha: grandes obras ______________________________________________________ 116

Notícias de outra riqueza do ParÆ: cobre ________________________________________________ 117

Edi�caçıes de BelØm, nos anos de 1800 _________________________________________________ 117

TrŒs tipos de casas particulares ________________________________________________________ 118

Desentendimentos com empreiteiro ____________________________________________________ 119

BelØm, 1886: 6.551 prØdios ___________________________________________________________ 119

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Criaçªo do Clube de Engenharia ______________________________________________________ 120

A cerimônia de fundaçªo do clube _____________________________________________________ 120

Os membros da diretoria do clube _____________________________________________________ 121

1“ reuniªo do Clube de Engenharia ____________________________________________________ 122

Como avaliar casas em BelØm _________________________________________________________ 122

O presidente do Clube de Engenharia __________________________________________________ 123

Surge o 1° nome de um fundador do CREA � PA _________________________________________ 124

O patrono da Engenharia do ParÆ _____________________________________________________ 124

Em BelØm outro fundador do CREA-PA _______________________________________________ 125

O início da construçªo do porto de BelØm _______________________________________________ 126

Percival Farqhuar cria a Port-of-ParÆ ___________________________________________________ 127

Ajudas e problemas de Farqhuar _______________________________________________________ 128

O SNAPP substitui a Port-of-ParÆ ____________________________________________________ 128

O 1” presidente do CREA no ParÆ ____________________________________________________ 129

Lemos disciplina as construçıes de BelØm _______________________________________________ 129

�Abramos espaço ao ar e à luz� ________________________________________________________ 130

�Inimigos e inimigas� do intendente de BelØm ____________________________________________ 130

Palacetes e chalØs elegantes em BelØm __________________________________________________ 131

A prefeitura de BelØm impıe suas regras ________________________________________________ 131

Mais um fundador do CREA-PA: Acatauassu ___________________________________________ 131

Empresas construtoras em 1911 _______________________________________________________ 132

Um grande sanitarista em BelØm ______________________________________________________ 133

A via mais nobre: Avenida Presidente Vargas _____________________________________________ 133

A bela Praça da Repœblica ___________________________________________________________ 134

Fundadores do CREA-PA, juntos em 1919 ______________________________________________ 135

Outros fundadores do CREA-PA, no Clube _____________________________________________ 136

Outra escola de fundadores do CREA-PA ______________________________________________ 136

Santa Rosa salva o PalÆcio Antônio Lemos ______________________________________________ 137

Page 16: 77 anos do CREA - PA ─ Oswaldo Coimbra

O que Santa Rosa fez no palÆcio ______________________________________________________ 137

O 2° inscrito no CREA-PA, AndrØ Benedetto ___________________________________________ 138

Em 1930, mais um fundador do CREA-PA _____________________________________________ 138

As mudanças no Ensino de Agronomia _________________________________________________ 138

1933: Getœlio regulamenta pro�ssıes ___________________________________________________ 139

1934: Uma comissªo para criar o CONFEA _____________________________________________ 139

A dedicaçªo de Adolfo Morales Filho __________________________________________________ 140

Fundador do CREA � PA na BelØm-Brasília ____________________________________________ 141

Fernando e Carlos Guapindaia ________________________________________________________ 142

Construtor e professor de Engenharia __________________________________________________ 142

Uma montanha de materiais num prØdio ________________________________________________ 142

O 8° prØdio mais alto do mundo _______________________________________________________ 143

O autor do projeto arquitetônico ______________________________________________________ 143

Construtores do Edifício Manuel Pinto da Silva __________________________________________ 144

Lima Paes: o calculista do bloco menor _________________________________________________ 144

A 1“ Faculdade de Arquitetura do ParÆ _________________________________________________ 145

O autor da pesquisa sobre a História do CREA-PA _______________________________________ 146

A versªo de Paul ___________________________________________________________________ 147

Em BelØm, um CREA com ampla jurisdiçªo _____________________________________________ 148

O CREA na Escola de Engenharia do ParÆ ______________________________________________ 148

Alteraçıes na jurisdiçªo do CREA da 1“ Regiªo __________________________________________ 148

Primeiros Presidentes do CREA-PA ___________________________________________________ 150

Primeiro pro�ssional inscrito no CREA � PA ____________________________________________ 154

Os fundadores do CREA-PA _________________________________________________________ 154

História da sede atual do CREA-PA ___________________________________________________ 156

Presidentes do CREA-PA - Período mais recente _________________________________________ 157

O CREA-PA, hoje _________________________________________________________________ 164

Câmaras _________________________________________________________________________ 164

Page 17: 77 anos do CREA - PA ─ Oswaldo Coimbra

Comissıes ________________________________________________________________________ 165

Inspetorias ________________________________________________________________________ 170

Entidades de Classe ________________________________________________________________ 174

Algumas obras atuais, realizadas na jurisdiçªo do CREA - PA _______________________________ 177

O estÆdio olímpico _________________________________________________________________ 177

A usina hidrelØtrica _________________________________________________________________ 178

Eclusas de Tucuruí _________________________________________________________________ 179

Alça ViÆria _______________________________________________________________________ 180

CarajÆs ___________________________________________________________________________ 182

Parques tecnológicos (em implantaçªo) _________________________________________________ 185

Tocantins _________________________________________________________________________ 185

Tapajós __________________________________________________________________________ 186

GuamÆ __________________________________________________________________________ 187

Obras às quais remetem os trechos deste livro ____________________________________________ 193

Bibliogra�a ______________________________________________________________________ 195

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Na imagem dos anos de 1790, uma visªo dos primeiros dois sØculos de exercício

de pro�ssıes do CREA-PA na criaçªo do espaço urbano de BelØm.

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Um CREA com longa HistóriaTrezentas e seis pro�ssıes sªo exercidas, no Brasil, dentro do âmbito da jurisdiçªo do sistema

CONFEA/CREAs. Pro�ssıes de alta complexidade em campos muito diversi�cados se juntaram, neste âmbito, desde que o sistema foi criada em 1933, abarcando inicialmente as Æreas de Arquitetura, Engenharia, e, Agronomia, elas próprias submetidas à vertiginosa evoluçªo nos œltimos 70 anos.

A atuaçªo do sistema por um extenso tempo - durante o qual as CiŒncias progrediram notavelmente-, num país com a dimensªo e a diversidade cultural do Brasil, garantiu ao CREA de cada regiªo a oportunidade de obter identidade própria.

A do CREA-PAR` estÆ marcada por trŒs traços. O primeiro relacionado à amplidªo do seu espaço físico, que chegou a corresponder à quase metade do país. Era tªo grande que nele surgiram outros CREAs. O segundo relacionado à amplidªo do nœmero de seus pro�ssionais. Hoje, sªo mais de 30 mil. Vinte e nove mil do próprio Estado, outros sete mil provindos de fora dele. O terceiro relacionado à amplidªo temporal da vivŒncia pro�ssional que ele herdou. Quatro sØculos, numa regiªo, em geral, vista como dotada apenas de natureza exuberante, portanto supostamente privada de formaçªo cultural e de História das CiŒncias.

É a reconstituiçªo destes quatros sØculos de exercício pro�ssional, nas amplidıes do ParÆ que este livro traz. A verdadeira saga da qual o CREA-PA Ø fruto e personagem atuante.

Oswaldo CoimbraAutor

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BelØm, antes mesmo de ser fundada, jÆ tinha um engenheiro ligado à sua História. Francisco Frias da Mesquita, participou da preparaçªo da viagem das naus enviadas ao Gram-ParÆ, por Alexandre de Moura, capitªo-mor do Maranhªo, no Natal do ano de 1615. Mesquita, no Maranhªo, era, indiscutivelmente, um �gurªo. AlØm de engenheiro-mor do Brasil, cargo para o qual foi nomeado, em 1603, ele, por decisªo do rei de Portugal, era, ainda provedor-mor e auditor-geral do Maranhªo. Portanto, foi nesta condiçªo de autoridade no exercício de vÆrias funçıes que ele foi convidado a assinar o documento onde �caram registradas as providŒncias tomadas para a viagem, juntamente com Moura, com o capitªo-mor Francisco Caldeira Castelo Branco, escolhido para comandar as trŒs naus da expediçªo, com o tabeliªo Frutuoso Lopes, com Diogo de Campos Moreno, outro militar de destaque, e, com Fayo Coelho de Carvalho. (Saga)

A importância do primeiro pro�ssional Mas, a�nal, a presença do engenheiro-mor do Brasil, naquela ocasiªo, era algo importante? Para avaliar corretamente o que poderia representar para a fundaçªo do povoado, a partir do qual surgiu a cidade de BelØm, a participaçªo dele na preparaçªo da expediçªo, Ø necessÆrio, de início, levar em conta quais eram a formaçªo e as atribuiçıes de um engenheiro-militar, na Øpoca. Depois, se torna imprescindível analisar melhor quem era, no �nal das contas, o engenheiro-mor do Brasil. A formaçªo e as atribuiçıes de um engenheiro-militar no sØculo XVII e o papel desempenhado por Mesquita no Brasil-Colônia, foram dois dos ítens desenvolvidos por Pedro Carlos da Silva Telles, em "História da Engenharia do Brasil - sØculo XVI a XIX" (1984). (Saga)

Antes de BelØm existir

Construçıes projetada por Frias de Mesquita 1. Forte de Sªo Marcelo, em Salvador. 2. Forte de Sªo Diogo, em Salvador. 3. Igreja Matriz, em Natal. 4. Forte dos Reis Magos, em Natal. 5. Convento de Sªo Bento, no Rio de Janeiro. 6. Forte de Sªo Diogo, em Salvador. 7. Forte Santa Catarina, em Cabedelo na Paraíba. 8. Torre de Garcia d�`vila, na Bahia.

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Os construtores antigos

Nesta obra, para dimensionar a importância dos engenheiros-militares, Telles lembra que o sØculo XVII, e mais precisamente o ano de 1638, foi o do aparecimento do primeiro livro, em todo o mundo, no campo da ResistŒncia dos Materiais. Chamava-se "As duas novas ciŒncias" e fora escrito por Galileu Galilei. No sØculo anterior, tinham sido produzidos outros estudos situados entre os precursores da Engenharia: os de autoria de Leonardo da Vinci, com os quais ele faz a primeira tentativa de utilizar a EstÆtica na determinaçªo das forças atuantes numa estrutura simples. Tais estudos, todavia, só chegaram a ser publicados sØculos mais tarde, depois de escritos. Diz Telles: "Antes dessa Øpoca muita gente houve, Ø claro, que se ocupou de diversas tarefas que hoje sªo atribuiçıes do engenheiro". Uma prova disto sªo as incontÆveis e magní�cas construçıes surgidas desde a Antiguidade. "Os construtores antigos, entretanto, - prossegue o autor - mesmo tendo realizado obras difíceis e audaciosas, contavam principalmente com uma sØrie de regras prÆticas e empíricas". Em muitos casos, eles tinham exatas noçıes de estabilidade, equilíbrio de forças e centro de gravidade. Ainda assim, suas obras resultavam mais de um conhecimento intuitivo do que de cÆlculo teórico. (Saga)

O uso da palavra �engenheiro�A Engenharia moderna, ele a�rma ainda, nasceu dentro dos exØrcitos. "A descoberta da pólvora e depois o progresso da artilharia, obrigaram a uma completa modi�caçªo das obras de forti�caçªo". Estas obras, a partir do sØculo XVII, passaram a exigir pro�ssionais mais habilitados para o seu planejamento e sua execuçªo. JÆ neste período, a palavra "engenheiro" era usada, inclusive em língua portuguesa, para designar

Pataxo - um dos trŒs tipos de embarcaçıes utilizadas no transporte da expediçªo comandada por Castelo Branco que fundou BelØm

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o pro�ssional capaz de construir forti�caçıes e fabricar engenhos bØlicos. Os engenheiros-militares �como, eram praticamente, as œnicas pessoas com algum conhecimento sistemÆtico da arte de construir, foram empregados nªo só nas obras de forti�caçıes mas tambØm nas de palÆcios, igrejas, conventos e aquedutos". Quanto ao papel desempenhado por Frias de Mesquita o conjunto de obras que ele deixou Ø su�ciente para mostrar sua relevância, como revelam as imagens da pÆgina 20. (Saga)

Uma decisªo grave: o local para erguer BelØm Coube a Castelo Branco enfrentar uma complexa questªo cujo equacionamento seria decisivo para a futura História das Construçıes de BelØm: a da escolha do seu sítio inicial. Numa situaçªo como aquela os colonizadores portugueses, quando dispunham de conhecimentos sobre a regiªo, aonde haviam chegado, costumavam seguir a orientaçªo detalhada dada por Dom Manoel a TomØ de Souza - transcrita por Reis Filho(1968) Instruiu, entªo, o monarca: depois de paci�cada a Ærea, "vejais com pessoas que bem entendam o lugar que sera aparelhado para fazer a fortaleza forte e que se possa defender e que tenha disposiçªo e qualidade para ali pelo tempo em diante se ir fazendo uma povoaçªo grande e tal qual convem que seja dela se proverem as outras capitanias... e deve ser em sitio sadio e de bom ares e que tenha abastança de Æguas e porto em que possam amarrar os navios e vararem se quando cumprir". O sítio ideal, por conseguinte, seria aquele que atendesse a uma sØrie de requisitos ligados à natureza do solo, ao relevo, a fontes de Ægua para consumo, a cursos de Æguas navegÆveis etc. De um ponto de vista imediato, o sítio devia convir à defesa da regiªo, enquanto propriedade portuguesa. Para atender a esta conveniŒncia, diz Reis Filho(1968), no Brasil, a tendŒncia geral dos nœcleos mais antigos foi a ocupaçªo de sítios elevados. (Saga)

A previsªo do crescimento da cidadeMas, alØm da estratØgia de defesa, teriam de pesar na decisªo da escolha do sítio a comodidade dos habitantes do nœcleo inicial do povoado, e, ainda, a previsªo do seu crescimento. A observaçªo de tantos aspectos, na identi�caçªo do sítio adequado, �cava impossível quando a nova terra nªo era conhecida pelos colonizadores portugueses ou quando eles apenas a conheciam super�cialmente. Nestes casos, supıe Reis Filho, as escolhas deviam ser feitas um tanto aleatoriamente. "Em consequŒncia - continua o autor -, diversas povoaçıes desapareceram ou foram transferidas de sítio". (Saga)

BelØm no lugar errado? A adequaçªo do sítio escolhido por Castelo Branco, tanto à defesa da ocupaçªo portuguesa da regiªo, como à instalaçªo e ao crescimento de uma nova povoaçªo, logo foi questionada. Gilberto de Miranda Rocha, em sua tese de Mestrado, intitulada "Geomorfologia aplicada ao planejamento urbano: as enchentes da Ærea urbana de BelØm-PA"(1987). a�rma que BelØm foi construída numa pequena península, formada por um fragmento

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de terraço, o qual estÆ colocado 7 ou 8 metros acima do nível mØdio das Æguas. Tal fragmento de terraço Ø contornado, ao Sul, por um rio (o GuamÆ) e, a oeste, por uma baía (a do GuajarÆ). Isolando-o, havia, em 1616, nas outras direçıes, as planícies de inundaçªo de um igarapØ (o Piri). Foi, portanto, mal escolhido, do ponto de vista da conveniŒncia estratØgica militar portuguesa, a�rma Roberto Southey, em "História do Brasil" (1862), porque, sua localizaçªo entre pantanais, tornava-o indefensÆvel. Southey, ao a�rmar isto, se apoiava em Bernardo Pereira de Berredo - capitªo-general, governador do estado do Maranhªo/Gram-ParÆ, entre 1718 e 1722, e autor de "Anais Históricos do Estado do Maranhªo". (Saga)

Di�culdades para o crescimento de BelØmA preferŒncia de Castelo Branco por aquele sítio, do ângulo dos cuidados impostos à implantaçªo de um novo povoado, tornou-se inaceitÆvel para as autoridades portuguesas. A inadequaçªo da escolha, por este ângulo, era evidenciada pelo terreno, ao lado do forte, no qual havia uma ladeira, e, depois dela, um imenso mangue.Tªo extensas eram essas baixadas pantanosas, emoldurando a sede da capitania, com suas Æguas mortas, quase a atingir a cota de um metro, no inverno, que os moradores pensavam que o povoado estivesse assentado numa ilha. O povoado inicial de BelØm terminou se desenvolvendo sobre os leitos dos igarapØs. Isto provocou a diminuiçªo ou o desaparecimento da profundidade dos canais destes igarapØs, o que, por sua vez, reduziu a capacidade deles de suportar os volumes das Æguas a serem escoadas. (Saga)

BelØm em Icoaraci? Em 1619, apenas trŒs anos após a instalaçªo do povoado, a transferŒncia de BelØm para outro local jÆ havia sido ordenada, tanto pelo monarca portuguŒs, como pelo governador-geral do Brasil. Percebe-se isso atravØs da leitura da carta que Jerônimo de Albuquerque, entªo, ocupante do cargo de capitªo-mor do Gram-ParÆ, enviou ao rei no dia 9 de maio de 1919. Na carta, Albuquerque diz: "encomendou-me tambØm o governador muito buscasse outro sítio pelos grandes inconvenientes deste, e com a ordem que achei de Vossa Majestade na mesma materia �z diligencias". As diligŒncias a que Albuquerque se refere levaram-no a encontrar um sítio, segundo ele, mais adequado, cuja localizaçªo, tal como feita na carta, Ø a seguinte: "em uma paragem a quatro leguas daqui para o mar, que chamam de Ponta de Mel". Explica Meira Filho (1976): "o pretendido lugar da Ponta do Mel �cava situado no Pinheiro, exatamente onde se achava o Cruzeiro, em frente à baía, hoje bairro preferencial da atual Vila de Icoaraci". (Saga)

BelØm, em Colares? Na Ilha de Marajó? Em 1633, uma segunda tentativa de tirar o povoado daquele sítio foi empreendida pelo, na Øpoca, governador do Maranhªo/Gram-ParÆ, capitªo-general Francisco Coelho de Carvalho. Ele quis levar o povoado para o

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lugar citado por Roberto Southey como o mais adequado à defesa da regiªo: a Ilha do Sol, chamada depois de Colares, na Baía do Sol. Houve, ainda, uma terceira tentativa de mudar o povoado feita pelo governador AndrØ Vidal de Negreiros, em 1655. Desta vez, foi feita uma tentativa de levÆ-lo para a Ilha de Joannes (Marajó). Todas as trŒs iniciativas fracassaram porque esbarraram na insistŒncia dos moradores em permanecer no sítio primitivo. Surpreendentemente, dois dos trŒs lugares cogitados como alternativas para a localizaçªo do povoado - a Baía do Sol e a Ilha de Joannes - sªo, tambØm considerados inadequados por Rocha (1987). Ele a�rma: "os sítios escolhidos apresentavam condiçıes geomorfológicas semelhantes ao atual e ambos se localizavam na regiªo delta/estuÆrio onde se faz presente periodicamente a ocorrŒncia das inundaçıes". (Saga)

A 1“ construçªo era de madeira?No começo do sØculo XX, Arthur Vianna tomou como base da sua visªo sobre o Gram-ParÆ aquilo que dizia o padre Jacinto de Carvalho, no seu livro �Crônica da Companhia de Jesus no Maranhªo�, escrito provavelmente em 1720. O padre estivera no Gram-ParÆ quase oitenta anos depois do desembarque de Castelo Branco. E dizia na sua obra que o capitªo-mor mandara edi�car, no sítio escolhido para o povoado, uma forti�caçªo de madeira. Vianna atØ avançava mais a identi�cando como uma simples paliçada ou cerca, semelhante às de outras regiıes. Esta descriçªo do forte vinha apoiada, tambØm, nas mesmas duas razıes da utilizaçªo das cercas de madeira fora do Gram-ParÆ: a escassez dos recursos empregados pelos portugueses na colonizaçªo do Brasil, e, a disponibilidade, na capitania, de um œnico material de construçªo - a madeira. Numa de suas monogra�as, Viana escreveu que Castelo Branco, �sem recursos para levantar uma boa forti�caçªo, limitou-se a fazer de madeira o forte�. Neste estudo - "Monogra�a Paraense", publicada em 1900, pela Revista do Instituto GeogrÆ�co e EtnogrÆ�co do ParÆ - ele destaca a suposta falta de recursos da expediçªo do capitªo-mor a ponto de sustentar que os portugueses, ao chegarem ao Gram-ParÆ, nªo só se valeram daquilo que a terra lhes oferecia para as construçıes de suas habitaçıes (�forquilha, palha, barro�). Eles tambØm teriam tido necessidade de ajuda dos índios para conseguirem alimentos. (Saga)

Era de madeira, repete Manoel BarataOutro historiador de inicio do sØculo XX, tªo ou mais ilustre do que Vianna, Manoel Barata, seguiu as mesmas trilhas. Apoiou-se igualmente em Jacinto de Carvalho, e, ainda, em outros dois autores, antigos porØm distanciados mais de um sØculo da fundaçªo de BelØm, que descreviam o forte como de madeira: frei Agostinho de Santa Maria, autor de �SantuÆrio Mariano�, de 1722, e, Ayres do Cazal, autor de �Corogra�a Brasílica� de 1817. Barata começou a veicular, em seus textos, uma visªo da primeira construçªo de BelØm semelhante à de Vianna. Esta visªo Ø detalhada em dois textos de Barata � �A capela de Santo Cristo� e �As primeiras ruas de BelØm� - publicadas em 1973, juntos com outros trabalhos do autor, sob o título geral de �Formaçªo Histórica do ParÆ�. (Saga)

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Os pesquisadores que acreditavam ter sido construído com madeira o Forte do PresØpio supunham que ele fosse parecido com o de Sªo JosØ de Marabitenas (na foto) no interior da Amazônia.

Um escândalo: o forte de pedra

No começo dos anos de 1900, o todo-poderoso intendente de BelØm, Antônio Lemos, amante do re�namento europeu e senhor da Belle ¨poque belenense, encomendou, entªo, a Theodoro Braga um quadro, para a decoraçªo do seu gabinete, na IntendŒncia Municipal. Tema do quadro encomendado: a fundaçªo de BelØm. Braga iniciou uma minuciosa pesquisa, atravØs da qual ele pretendia colher informaçıes sobre todos os elementos que comporiam a cena a ser pintada: os integrantes da expediçªo portuguesa, os índios, as primeiras construçıes, as plantas da regiªo etc. Depois de preparado, o quadro de Braga, contudo, provocou grande perplexidade. Ao invØs de mostrar uma cena coerente com a visªo da fundaçªo de BelØm veiculada pelos dois historiadores consagrados da cidade, Vianna e Barata, dela discrepava num ponto fundamental: a forti�caçªo construída sob ordem de Castelo Branco nªo era, no quadro, uma simples paliçada, uma faxina, uma cerca de madeira. Ao contrÆrio, era um forte mesmo. E - o maior escândalo - um forte de pedra. As reaçıes logo vieram, atravØs da imprensa. Mas Braga estava preparado para enfrentÆ-las. Assim, escreveu um �opœsculo histórico e documental�, como ele chamava o texto preparado com os dados de sua pesquisa, intitulado �A fundaçªo de BelØm�. Nele, embora deixe claro que atØ aquele momento nªo se considerava um historiador, Braga ataca os fundamentos da visªo da primeira construçªo de BelØm, veiculada nas produçıes de Vianna e de Barata. (Saga)

Visªo nítida das pedras utilizadas na construçªo do Forte do

Castelo na imagem criada pelo pintor Theodoro Braga.

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A fundamentaçªo de Braga

Para sustentar seus argumentos Braga utilizou-se de uma ampla bibliogra�a sobre o povoado fundado por Castelo Branco, levantada pessoalmente por ele, em diversos países. Para se avaliar a dedicaçªo de Braga àquele assunto basta saber que a bibliogra�a do seu opœsculo - apresentada por ele como �Bibliogra�a consultada para a execuçªo da tela �A fundaçªo da cidade de BelØm�� -, tem 113 títulos. Entre as obras relacionadas nela, hÆ uma do sØculo XV, mais de dez do sØculo XVI, quase trinta do sØculo XVII e seis do sØculo XVIII. A maioria destas obras, ele localizou em bibliotecas da Europa. (Saga)

Primeiro conjunto de obras

Os membros da expediçªo do Capitªo-Mor levantaram nªo somente um forte militar, mais um conjunto de edi�caçıes. Este conjunto era composto, em primeiro lugar, pelo forte que, como toda construçªo rœstica, veio logo necessitar de reparos. Mas no conjunto incluíam-se, em segundo lugar, umas casas igualmente rœsticas, de palha, onde se recolheram Castelo Branco "com a gente de sua expediçªo" - como diz Manuel Barata (1973). Braga (1908) classi�ca essas casas como "palhoças e casebres" e assim as pintou em seu quadro. Como "essa gente" somava 150 pessoas - os soldados

da tropa - o espaço, nestas casas, para abrigÆ-las, nªo poderia ser pequeno. Em terceiro lugar, integrava o conjunto de edi�caçıes uma capela dedicada à Nossa Senhora das Graças. Braga (1908) reproduziu-a no quadro, conforme sua própria descriçªo, no opœsculo, como uma, "pequenina igreja ... de taipa, coberta de palhas ainda nªo ressequidas". Meira Filho (1976) classi�ca-a como "uma ermida humílima". A partir daquele conjunto das primeiras edi�caçıes, necessÆrias às instalaçıes dos membros da expediçªo vinda de Sªo Luís, o povoado começou a se expandir em vÆrias direçıes.

O primeiro conjunto de obras realizadas em BelØm, noquadro de Theodoro Braga. Era composto do forte,

da capela e dos alojamentos para os soldados.

O pintor Theodoro Braga realizou ampla pesquisa em bibliotecas da Europa na busca da criaçªo da imagem da fundaçªo de BelØm.

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A primeira rua

Um primeiro caminho dentro da mata foi aberto. Ele se prolongava pela margem do rio, no sentido norte - sul, e, veio a se tornar, tambØm, a primeira rua de BelØm com a denominaçªo de Rua Norte (hoje, Rua Siqueira Mendes). O despacho de Manuel de Eça e de Castelo Branco, de 15 de setembro de 1617, à petiçªo de Maria Cabral, o menciona ao localizar os terrenos que a peticionÆria queria o�cialmente reconhecido como parte dos seus bens. Sobre este caminho, Penteado (1968) a�rma que tinha uns 300 metros - iniciando na proximidade do forte e �ndando junto à borda ocidental do fragmento de terraço sobre o qual estava o povoado. Após mencionar o caminho, o despacho à petiçªo pormenoriza as propriedades de Maria Cabral. Diz que elas tinham 200 braças de comprimento e revela a existŒncia de um porto naquela Ærea do povoado, ao acrescentar que "vªo dar no rio e porto de que hoje se serve a gente". Comenta Meira Filho (1976): "As propriedades de dona Maria Cabral se situavam nos terrenos circunvizinhos à atual praçinha do Carmo e Rua Siqueira Mendes". Ali terminava a Rua do Norte. Naqueles terrenos �caram as construçıes levantadas por Maria Cabral, como a "olaria, com as casas, forno e o�cina a elas pertencentes". Nas casas próximas à olaria viviam a "gente que nela trabalha". Outras construçıes da mulher do Capitªo-Mor, Maria Cabral, nos terrenos foram "umas casas grandes, as primeiras de sobrado, nesta cidade de BelØm". Tais casas foram tambØm identi�cadas no despacho como "as primeiras de telhas que aqui se �zeram". Eram "em madeira e �cavam na" face da Rua do Norte".

Piso de assoalho e chªo batido

A inclusªo dos sobrados na lista dos bens de Maria Cabral revela a situaçªo privilegiada da família do Capitªo-Mor em contraste com a das famílias dos colonos. O sobrado, dentro dos dois esquemas de construçıes residenciais adotados em Portugal e trazidos para o Brasil, era, informa Reis Filho (1968) no seu livro �Contribuiçªo ao estudo da evoluçªo urbana do Brasil (1500/1720)�, um tipo superior de edi�caçªo, em relaçªo ao outro tipo - o das casas tØrreas -, embora ambos apresentassem pontos em comum, em suas localizaçıes e em suas plantas. Casa tØrrea e sobrado sempre se construíam nos limites dos terrenos com as vias pœblicas e com os terrenos vizinhos. Seus telhados compunham-se de duas Æguas que lançavam o produto das chuvas sobre o leito das ruas e nos quintais. Tanto a casa com o sobrado tinham, no andar tØrreo, como compartimentos bÆsicos duas salas � uma, na frente, outra, nos fundos - iluminadas atravØs de suas fachadas. Entre estas salas �cavam as escadas - no caso do sobrado - e as alcovas, indiretamente arejadas. A circulaçªo das pessoas se realizava por um corredor longitudinal que atravessava a residŒncia da porta da rua a seus fundos. A sala da frente servia para o contato da família com o mundo exterior. A dos fundos se reservava para o uso privado das pessoas da casa. Nos sobrados

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esta divisªo de espaço e esta forma de utilizaçªo de cômodos ocorriam no andar superior. O tØrreo era aproveitado, eventualmente, como depósito, com um saguªo, mais valorizado, à sua frente, ou, se a família comerciasse, para instalaçªo de lojas. Tanto a casa tØrrea, como o sobrado tinham, nos fundos, uma "puxada" (construçªo que prolonga o corpo de uma residŒncia) para os serviços domØsticos. Uma das características distintivas dos dois tipos de moradia era o piso: de assoalho, no sobrado, e, de "chªo batido", na casa tØrrea. Esta diferença ajudava a marcar a distinçªo das classes sociais que se valiam destes tipos de habitaçªo. Diz Reis Filho (1968): "A idØia de habitar numa casa de ’chªo batido’ se ligava à de pobreza, e, num sobrado, à de riqueza". A distância do chªo - batido ou assoalho - enobrecia. Por isso, quanto o pavimento tØrreo do sobrado, nªo era usado nem como depósito, nem com loja, nele se acomodavam os escravos ou os animais. (Saga)

Da Igreja de Nossa Senhora dos Homens Brancos ainda existem as ruínas na Praça do Carmo, embora abandonadas, quase completamente recobertas por mato.

O 1° e o 2” templos que desapareceram

Perto dos sobrados, naqueles terrenos, Maria Cabral, segundo sua petiçªo, havia começado a construir uma capela em homenagem a uma santa venerada pelas igrejas do Oriente, incluindo a da Etiópia: Santa Febrônia. No Ocidente, esta santa Ø conhecida e venerada nas cidades de Trani, Apœlia e Patti, na Sicília, onde se diz que sªo conservadas algumas de suas relíquias. Vítima de torturas, ela morreu em Nísibis, na Mesopotâmia, por volta do ano 304, sob perseguiçªo de Diocleciano, Imperador de Roma. No início da História de BelØm, o nome dela foi dado ainda ao caminho de acesso à capela, na Rua do Norte. Mas, como a capela, o caminho tambØm desapareceu depois. TambØm próximo dos terrenos de Maria Cabral, desapareceu outro templo. Ficava em frente da Igreja do Carmo, do outro lado da praça de mesmo nome. Sua edi� caçªo se deu como forma de retribuíçªo dos jesuítas à obtensªo do direito a uma pensªo, paga, antes, à confraria de Nossa Senhora do RosÆrio dos Homens Brancos, por uma das moradoras do povoado, Catarina da Costa. No seu livro publicado, em 1943, Sera� m Leite, a� rma: "Ainda hÆ vimos hÆ trinta anos. Quando voltamos ao ParÆ, em 1941, jÆ nªo existia. Deixada ao abandono, o tempo arruinou-a e acabaram de a demolir os homens". Dela, hoje, hÆ apenas ruínas, cobertas de mato. (Saga)

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O povoado se expandeO terceiro ano de implantaçªo do povoado, 1618, trouxe alteraçıes para a Ærea próxima do forte. Os quatro franciscanos que haviam se instalado em 22 de junho de 1617 num terreno, ao lado do forte, se desentenderam com o capitªo-mor Francisco Castelo Branco, o abandonaram e foram se �xar numa aldeia a trŒs lØguas dali, num local à margem da baía do GuajarÆ, chamado de Una. LÆ, os frades ergueram um pequeno convento e um hospício, ambos protegidos por muralhas de pau-a-pique. No mesmo ano, um AlvarÆ Real lhes deu o direito de receber da administraçªo da colônia uma igreja construída com madeira. (Saga)

O início da catedral de BelØm A administraçªo inÆbil da capitania por Castelo Branco terminou jogando os índios do Gram-ParÆ contra os primeiros colonos portugueses a quem eles tinham recebido amistosamente. Com isto, os portıes do forte tiveram de ser mantidos fechados, o que impedia os colonos de freqüentarem a capela de Nossa Senhora das Graças, construída no seu interior, em 1616. A capela, jÆ na condiçªo de matriz, foi transferida para a Ærea diante do forte, que logo se transformou na praça central do povoado. Era ainda muito humilde. Foi feita em taipa de pilªo e coberta com palha, diz Ernesto Cruz, em "Igrejas de BelØm" (1974). De qualquer modo, estava predestinada a exercer um importante papel. Naquela Øpoca, diz Reis Filho (1968): "Existia, entªo, um comparecimento às igrejas dos povoados, para a realizaçªo de cerimônias referentes aos eventos mais importantes da vida familiar". Em certas datas, as frentes das igrejas se transformavam em pontos de reuniıes pœblicas e de comØrcio, enquanto as sacristias serviam para encontros de natureza política. (Saga)

Como eram as casas dos colonosComo seriam as casas dos novos e antigos colonos, sem os recursos da família de Castelo Branco? Dois autores tratam do tema no âmbito mais restrito da capitania do Gram-ParÆ. Meira Filho (1976) a�rma que as casas dos colonos eram baixas, de madeira, barro ou palha, muito modestas, com divisıes precÆrias e poucas aberturas para o exterior. Ele a�rma, ainda: "As construçıes que se levantaram acompanhando o desenvolvimento da povoaçªo essencialmente humilde, erguiam-se de madeira, rœsticas moradas, cobertas de palha de pindoba, ou ubuçu, chªo batido, portadas em ripado leve, urupemas

O tipo de casa mais simples utilizada nos promeiros anosde BelØm ainda pode ser visto no interior do Brasil.

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(esteiras) nos vªos de janelas e quase nenhuma penetraçªo de luz no interior". Uma tØcnica de construçªo empregada na Øpoca Ø lembrada por Ernesto Cruz (1973): "o processo usado consistia no levantamento de esteios, no adubamento das paredes com o tijuco (lama), caiaçªo com sernambi (cal) extraído das conchas, e cobertura de palha". O autor conclui: "as casas eram, na generalidade, tØrreas, nem todas assoalhadas". (Saga)

O primeiro mestre pedreiro

Um daqueles o�ciais mecânicos, citados por Reis Filho, cuja presença num povoado era uma das condiçıes para a melhoria das primeiras moradias dos colonos, jÆ estava em BelØm, em 1619. O primeiro nome de um pedreiro aparece em BelØm num documento mencionado por Ernesto Cruz (1973), numa polŒmica sobre a data fundaçªo da Santa de Misericórdia. Tratava-se do testamento do pedreiro - chamado de Domingos Fernandes -, que se encontrava relacionado no inventÆrio, feito 1810, dos livros e papØis do arquivo daquela casa de saœde. No testamento, Fernandes - dado com "natural da Ilha Terceira" - Ø identi�cado como "o�cial de pedreiro". Tal denominaçªo da sua pro�ssªo nªo Ø registrada por Silva Telles, no livro sobre a História da Engenharia, no Brasil. Em sua obra, este autor a�rma que as pessoas que projetavam e construíam as edi�caçıes, em geral, eram chamadas, no sØculo XVII, de "mestres pedreiros" ou mestres de risco" - expressıes ainda relacionadas com as antigas corporaçıes medievais. Foi por meio destas pessoas e dos engenheiros-militares, diz Telles, que a Engenharia entrou no Brasil. Estes "mestres", às vezes, obtinham um tal domínio da arte de construir que conseguiam projetar obras grandiosas, com ousadia arquitetônica, equilíbrio, solidez e estabilidade, capazes de desa�ar a passagem dos sØculos, lembra Telles. (Saga)

A 1“ reforma no Forte do PresØpio

A partir de julho de 1621, assumiu a direçªo da colônia, Bento Maciel Parente, outro militar veterano das lutas pela expulsªo dos franceses do Maranhªo, como o Engenheiro-Mor do Brasil, Frias da Mesquita.Maciel Parente executou, em 1622, uma reforma no forte construído sob ordens de Castelo Branco, em 1616. A primeira das inœmeras reformas que a edi�caçªo receberia ao longo de quase quatro sØculos. O novo capitªo-mor mandou levantar uma muralha de 90 braças de comprimento, dezessete palmos de altura, e, sete de largura. Construiu, ainda, no forte, trŒs baluartes, com suas guaritas, corpos de guarda, alojamentos e armazØns para muniçıes. Tudo em taipa de pilªo, isto Ø, com aquela tØcnica de construçªo descrita por Silva Telles (1984) como barro fortemente socado entre formas de madeira, com o qual, se obtØm uma estrutura monolítica, depois de seca a sua massa. Os portugueses, informa Telles, tinham uma antiga tradiçªo de construçıes com barro, aprendida possivelmente junto aos mouros ou aos romanos. Eles usaram esta tØcnica para construir forti�caçıes, torres e grandes igrejas. (Saga)

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O 3” templo que desapareceu

Em 1622 foi levantada, por ordem de Maciel Parente, uma capela, tambØm em taipa de pilªo. Ficava próxima do fosso do Forte do PresØpio, de frente para a praça. Tinha um só altar, no qual foi colocado um grande cruci� xo de madeira. Era a capela de Santo Cristo. "Nela - revela Barata, no estudo "A capela de Santo Cristo", republicado no livro "Formaçªo Histórica do ParÆ" (1973) - foi instituída e nela funcionou uma confraria de o� ciais militares, com o título de Irmandade do Santo Cristo, a cujo cargo estava a capela". À irmandade a capela serviu atØ 1788, conquanto, naquela ocasiªo jÆ tivesse em estado de ruína. Pouco depois foi demolida. (Saga)

Exatamente no local onde existiu a Capela de Santo Cristo, entre o fosso do Forte do PresØpio e a Casa das Onze, foi instalada uma grande obra em cerâmica de Denise Milan.

A capela de Sªo JoªoA outra capela erguida por Maciel, a de Sªo Joªo, como a de Santo Cristo, era de taipa de pilªo, mas, diferentemente dela que desapareceu quase sem deixar vestígios, ganharia importância em vÆrios setores do povoado: serviria, mais tarde, como prisªo do padre Antônio Vieira; desempenharia as funçıes de igreja-matriz, e, por � m, seria reconstruída, como obra de arte, pelo arquiteto Antônio Landi, mantendo-se assim atØ hoje. JÆ em 1622 a capela contribuiu para a expansªo do povoado, pois, para que os � Øis tivessem acesso a ela, foi aberto mais um caminho, paralelamente, às trŒs primeiras vias, transformado em quarta rua de BelØm. Recebeu o nome de Rua de Sªo Joªo (depois, Rua TomÆzia Perdigªo). (Saga)

O primeiro gradeado de ruasDepois da Rua do Norte (atual Siqueira Mendes), foram abertos outros trŒs caminhos, paralelos a ela, que receberam as denominaçıes de Rua do Espírito Santo (Dr. Assis), Rua dos Cavaleiros (Dr. Malcher), e, a mencionada Travessa Sªo Joªo (TomÆzia Perdigªo). Estas quatro vias surgiram a partir do largo aberto diante capela levantada na frente do forte, considerada como a Igreja Matriz do povoado. Elas passaram, em seguida, a ser cortadas por outros caminhos, igualmente paralelos - um dos quais, na Øpoca chamado de Rua Atalaia ( Joaquim TÆvora). Surgiu, assim, no início da implantaçªo de BelØm, um gradeado de ruas que, logo se tornaria o seu primeiro bairro, denominado de Cidade. (Saga)

Foto: Rafaela Coimbra

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Como eram as primeiras ruas

As primeiras ruas de BelØm, com seus caminhos transversais, se compunham um gradeado, eram, porØm, irregulares, como, de resto, as ruas das cidades fundadas pelos portugueses. Para abrir vias nelas, os portugueses, diz Reis Filho (1968), se aproveitavam das condiçıes topogrÆ� cas mais favorÆveis. O alinhamento destas ruas era feito por eles com instrumentos rudimentares de navegaçªo. Em alguns casos, a largura de uma mesma rua variava tanto a ponto de num trecho ela ser duas vezes maior que em outro. As ruas eram sempre estreitas, para os padrıes atuais, prossegue Reis Filho. Algumas seriam consideradas hoje como terrivelmente estreitas. "A escala da Øpoca, porØm, era, outra e outros os usos os quais dispensavam facilmente, em todas as cidades, mesmo nas europØias, maiores amplitudes�, a� rma o

pesquisador.

Quem passava nas ruasO uso das ruas decorria de um determinado entendimento que se tinha delas, aquele de acordo com o qual elas existiam como meios de ligaçªo, isto Ø, como vias ou linhas de percurso, entre os pontos de maior importância, na vida do povoado. O que signi� cava o seguinte: para cada família a rua era vista como a ligaçªo do seu domicilio com um dos pontos de interesse coletivo, como as praças, ou, como ligaçªo de um destes pontos com outro. Nas ruas havia, sobretudo, circulaçªo de pessoas - a pØ com frequŒncia, a cavalo, em redes ou cadeirinhas, transportadas por escravos, às vezes. Em menor proporçªo, havia, tambØm, nelas, circulaçªo de mercadorias - em veículos, ou, nas costas dos escravos. Por circularem poucos veículos nelas, nªo existia tanta preocupaçªo com o nivelamento. Buracos e valas abertos pelas enxurradas na frente das casas só eram fechados - pelas próprias famílias - por ocasiªo das festas religiosas, para possibilitar a passagem das procissıes. As ruas, entªo, eram, tambØm, capinadas e limpas. Passadas as festas religiosas, o movimento das ruas, novamente, se reduzia, principalmente "nos centros menores - informa Reis Filho -, onde à noite, muitas vezes, passeavam soltos os animais". Na maioria dos povoados, as ruas nªo serviam como locais de permanŒncia. Em BelØm, nos períodos de chuvas mais intensas elas se transformavam em lodaçais. (Saga)

O período da administraçªo de Maciel, compreendido entre os anos de 1621 a 1626, foi valorizado por decisıes tomadas em esferas nªo alcançadas pelo seu poder, pelo governo portuguŒs. Em 1624, procurou-se melhorar a organizaçªo político-administrativa do Gram-ParÆ, integrando-o, junto com o Maranhªo e CearÆ num œnico estado, separado do governo do Brasil e diretamente subordinado às Cortes de Portugal e Espanha. No âmbito interno da capitania, surgiria seu Senado da Câmara, em funcionamento jÆ em 1625. A nova instituiçªo � cou instalada na segunda rua aberta no povoado - a do Espirito Santo (atual

Surge o Senado da Câmara em BelØm

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A imagem da igreja dos carmelitas a partir do Porto do Sal revela a proximidade das Æguas da baía buscada pelas ordens religiosas, devido à facilidade de acesso às embarcaçıes que ela criava. Algo conveniente para as ordens que administravam aldeias indígenas no interior do Estado.

Dr” Assis). Segundo Barata (1973), o Senado da Câmara era formado por trŒs vereadores e um procurador, escolhidos pelos "homens bons" de BelØm atravØs do seguinte processo: inicialmente era organizada uma relaçªo dos cidadªos "mais entendidos". Dela, doze nomes eram extraídos para a elaboraçªo de trŒs outras listas, menores, cada qual com trŒs nomes de pessoas indicadas para o cargo de vereador e um nome para o de procurador. Estas listas, em envelopes lacrados, eram colocadas numa urna. Uma criança retirava da urna qualquer dos envelopes. As pessoas cujos nomes estivessem na lista do envelope seriam os novos membros da instituiçªo.

No œltimo ano da gestªo de Maciel � 1626 -, chegaram ao povoado os frades da antiga ordem Carmelitas Calçados, aprovada pelo Papa Honório Terceiro, em 1226. Maciel doou a eles uma propriedade sua, na Rua do Norte, próxima dos imóveis reivindicados por Maria Cabral, mulher de Castelo Branco, junto à Corte. A doaçªo consistiu numa casa feita com mesma tØcnica empregada nas outras construçıes levantadas por ordem de Maciel, a taipa de pilªo. Era, porØm, coberta de telha. Ali os frades começaram a montar um convento, com a ajuda das esmolas dos �Øis. Ao lado da casa, eles levantaram uma igreja, tambØm, de taipa de pilªo. A nova igreja �cava próxima do rio GuamÆ, separado da Rua do Norte por uma ladeira. A instalaçªo naquela Ærea era muito conveniente para os carmelitas porque a proximidade dela com o rio facilitava o deslocamento por canoa para os povoados no interior do Gram-ParÆ. Outras ordens religiosas, com aldeias missionÆrias fora de BelØm, viriam a se instalar em terrenos que oferecessem a mesma conveniŒncia. Sessenta e trŒs anos após

a chegada dos carmelitas, eles jÆ dispunham, em 1689, de recursos, oriundos das aldeias indígenas que administravam, su�cientes para poderem demolir a igreja primitiva e iniciar a construçªo de outra, melhor. (Saga)

Carmelitas levantam convento de taipa

Foto: Rafaela Coimbra

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Começa a aparecer o segundo bairro

Ainda no œltimo ano da administraçªo de Maciel - 1626-, os franciscanos, que jÆ tinham residido ao lado do forte e, depois, haviam se mudado para o Una, por terem se desentendido com Castelo Branco, se reaproximaram do centro do povoado, depois que o antigo Capitªo-Mor foi deposto e despachado para Portugal. Fixaram o convento e a igreja da ordem deles numa Ærea do subœrbio de BelØm. Ficaram próximos tanto de um terreno onde mais tarde apareceria o Largo de Santo Antônio, como das Æguas da baía do GuajarÆ. O terreno do futuro largo, a�rma Antônio Rocha Penteado, em �BelØm: estudo de Geogra�a Urbana� (1968), tinha, para os padrıes do povoado, a considerÆvel elevaçªo de 9 metros, em relaçªo às Æguas da baía do GuajarÆ no entorno de BelØm. A partir dele se descortinava amplo panorama da baía. Mais uma vez, portanto, uma ordem religiosa buscava o acesso fÆcil aos rios da regiªo para tornar menos complicado o deslocamento atØ as aldeias do interior. A edi�caçªo inicial dos franciscanos ali, diz Meira Filho(1976), �como as demais, era humildíssima e simplória, mas receberia grandes impulsos de crescimento da própria evoluçªo da cidade que promissoramente se avultava". A decisªo da ordem religiosa de nªo se �xar num lugar muito próximo do centro do povoado teve uma relevante consequŒncia: deu origem ao nascimento de um segundo bairro em BelØm, chamado de Campina. (Saga)

Os dois primeiros gradeados de rua de BelØm, numa imagem do trabalho de Gilberto Miranda Rocha sobre a geomorfologia urbana da cidade.

O que dividiu os dois bairros

Como acontecia no Brasil Colonial, a divisªo do povoado de BelØm em dois bairros foi, mais tarde, formalizada pelo aparecimento, nele, de duas paróquias ou freguesias. Esta divisªo se impôs, entªo, como necessÆria para de�nir o âmbito, ao mesmo tempo administrativo e religioso, de cada paróquia. Como tambØm frequentemente acontecia, em povoados de outras regiıes, a separaçªo entre os dois bairros de BelØm foi determinada por um elemento natural: um desnível acentuado no meio deles. Em outros povoados, o elemento natural era, às vezes, uma grota, outras vezes, um morro, ou, ainda, uma lagoa. O desnível, no caso da separaçªo dos bairros de BelØm, existia jÆ ao lado da Ærea do forte, a partir da qual descia uma ladeira na direçªo de imenso mangue - o alagado do Piri -, o qual dava a impressªo de ilha ao sítio escolhido por Castelo Branco. (Saga)

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O eixo do segundo gradeado

Entre o Forte do PresØpio e o convento dos franciscanos, no bairro de Campina, hÆ, segundo Penteado (1968), uma distância de 1250 metros. Abriu-se um caminho, ligando o forte ao convento, que começava na ponte de estiva construída sobre o Piri e terminava onde - diz o autor - "continuava a dominar erecta e �oresta secular". O caminho fugia do litoral subindo pela encosta suavizada de 5 a 10 metros de nível. Neste caminho veio a se estabelecer o comØrcio do povoado. Por isto, foi chamado de Rua dos Mercadores (depois Rua da Cadeia, e, por �m, ruas Joªo Alfredo e Santo Antônio). A via Ø considerada por Penteado como o eixo mais importante da expansªo urbana de BelØm, daquela Øpoca. (Saga)

A primeira lØgua patrimonial de BelØm

No ano seguinte, ao tØrmino da gestªo de Bento Maciel, como Capitªo-Mor do Gram-ParÆ, BelØm, em 1627, foi visitada pelo Governador do Estado do Maranhªo, Francisco Coelho de Carvalho, e, dele recebeu a doaçªo de sua primeira lØgua patrimonial. A carta de doaçªo, de 19 de setembro de 1627, dizia que, tambØm, passavam a pertencer à Câmara da cidade todas as datas (terrenos), �Æguas, lenha, madeira, serventia e pastos" que estivessem na Ærea daquela lØgua. A demarcaçªo o�cial daquela Ærea ainda demoraria quase oitenta anos, mas a posse da terra, jÆ em 1628, representou um passo importante no sentido de dotar o povoado de um mecanismo de arrecadaçªo de impostos, capaz de assegurar recursos a serem aplicados em serviços pœblicos. (Saga)

Os mercedÆrios se instalam em BelØm

No dia 12 de dezembro de 1639, graças ao empenho de Pedro Teixeira, o �Bandeirante da Amazônia�, chegaram a BelØm frei Pedro de La Rua Cirne e frei Joªo da MercŒ, da ordem dos mercedÆrios. Quatro meses depois, com a ajuda dos moradores, os dois mercedÆrios levantaram uma construçªo de taipa de pilªo. Tinha cobertura de palha, e, tambØm �cava num terreno às margens do rio, como as construçıes de carmelitas e franciscanos. O terreno foi parte de uma doaçªo à ordem feita por um rico morador, Mateus Cabral, ao qual se somaram ainda sete vacas. Estes animais dariam origem à criaçªo de gado da ordem que, anos mais tarde, se tornaria uma das maiores do Marajó, onde tambØm os mercedÆrios teriam grandes engenhos. (Saga)

A imagem do �nal dos anos de 1700 mostra com clareza a proximidade do terreno, no qual os mercedÆrios

se instalaram, com as Ægua da baía do GuajarÆ.

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A imagem atual mostra o terreno da igreja dos mercedÆrios afastado das Æguas da baía pela Boulevard Castilho França e pela Praça dos Pescadores, ambas construídas numa Ærea aterrada a partir do �nal dos anos de 1800.

As ruas do novo gradeado

O convento dos mercedÆrios e depois a igreja erguidos ali tinham seus fundos voltados diretamente para a praia, o que, como lembra Penteado (1968), fez o conjunto ser aproveitado como alfândega, depois. Na praça aberta diante daquelas edi�caçıes terminava o caminho chamado, posteriormente, de Rua da Praia (atual 15 de Novembro), tªo próximo às Æguas que, atØ 180 anos mais tarde, só tinha edi�caçıes do lado oposto a elas. Como a Rua da Praia, outro caminho paralelo àquele que ligava o forte ao convento dos franciscanos - o da Rua dos MercedÆrios (atuais Joªo Alfredo e Santo Antônio) - foi aberto. Chamou-se Rua da Paixªo (hoje 13 de Maio). Cruzando aquelas trŒs vias paralelas, surgiram os caminho transversais, depois transformados em ruas, que formariam um segundo gradeado, semelhante ao outro, próximo do centro do povoado. Estes caminhos, com seus respectivos nomes atuais, foram os seguintes: do Pelourinho (7 de Setembro); Sªo Mateus (Padre Eutíquio); do Passinho (Campos Sales); das MercŒs (Padre PrudŒncio); das Gaivotas (1” de Março), e, das Mirandas (Presidente Vargas). Todos, diz Penteado, tinham, na Øpoca, pequena extensªo. (Saga)

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A 1“ Santa Casa de Misericórdia

Em benefício do bairro da Campina, nas proximidades do largo que surgiu diante das edi�caçıes dos mercedÆrios

� eixo do crescimento dele - outro templo foi construído, com seu respectivo largo, em

1650, como registra Antônio Baena (1838): "Fundava-se na vizinhança

do Convento dos MercedÆrios sobre o lado oriental da rua de Santo Antônio dos Capuchos, uma igreja da Misericórdia". Junto deste templo, construído em homenagem à Santa Luzia, foi erguida a 1“ Santa Casa de Misericórdia, ambos em taipa de

pilªo. Numa parte do terreno pertencente à Santa Casa viria a ser levantado, mais de 200 anos depois, um dos

ícones da Arquitetura de Ferro do ParÆ, a Paris N’AmØrica, a mais tradicional loja de tecidos e confecçıes da BelØm enriquecida no ciclo econômico da borracha. (Saga)

Como era uma quadra do povoado

O terreno de Santa Casa, que englobava o da igreja, era grande, correspondente a uma quadra inteira do povoado. Para se ter idØia de sua dimensªo, deve-se levar em conta o que Reis Filho (1968) diz a respeito do tamanho e das dimensıes de uma quadra, nos povoados do Brasil Colonial. Segundo este autor, as condiçıes de topogra�a e a posiçªo dentro da Ærea do povoado eram determinantes das dimensıes e das proporçıes de uma quadra. Quando havia alguma regularidade no traçado do povoado, ela podia chegar a comportar oito lotes, com cerca de 4,4 a 8,8, metros de frente, cada, e com variadas extensıes de fundo. Nas quadras de grandes dimensıes, os quintais internos a elas compunham sempre enormes vazios que contrastavam de modo gritante com a aparŒncia de concentraçªo das casas edi�cadas habitualmente nos limites das vias pœblicas. (Saga)

O interior da loja, hoje.

A fachada da loja Paris n�AmØrica num cartªo-postal antigo.

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Chegam os grandes construtores religiosos

Nas vizinhanças do convento das MercŒs, se acomodaram, em 5 de dezembro de 1652, dois jesuítas: o padre Joªo do Souto Maior, destinado ao cargo de reitor do colØgio, como era chamado um convento da Companhia de Jesus, a ser erguido, e, o padre Gaspar Fragoso. Desde o sØculo anterior, a ordem dos jesuítas dirigia, em Portugal, um colØgio - o de Santo Antªo -, no qual se ministrava um daqueles raros cursos em que eram tratados assuntos relacionados com a Engenharia. Do curso dos jesuítas - chamado de Aula da Esfera e onde se ensinava MatemÆtica aplicada à Navegaçªo e às Forti�caçıes - provieram muito dos engenheiros-militares que atuaram no Brasil-Colônia, diz Silva Telles (1984). Este autor, em sua pesquisa a respeito da História da Engenharia no Brasil, encontrou uma frase do padre Antônio Veira - personagem do momento inicial dos jesuítas no Gram-ParÆ -, sobre a preparaçªo dos membros da ordem, no campo das construçıes: "Somos nós os mestres e obreiros daquela arquitetura, com o cordel, com o prumo, e enxó e com a serra e outros instrumentos". Para preparar os padres neste campo, os conventos da Companhia de Jesus, no Brasil, os mandavam estudar na Europa. Assim, em diversas regiıes do Brasil-Colônia os jesuítas deixaram obras de grande valor. (Saga)

Na Ladeira da Memória uma das faces da quadra inteira que as obras dos jesuítas iriam ocupar em BelØm. Os degraus diante das casas mostram o terreno elevado, e portanto privilegiado, obtido pela ordem religiosa numa cidade que surgiu quase no mesmo nivel das Æguas da baía do GuajarÆ.

Primeiros tempos dos jesuítas

A Companhia de Jesus no Gram-ParÆ iniciou suas atividades com grande modØstia. A casa com uma capelinha que os dois padres levantaram, no bairro de Campina, em terreno dos mercedÆrios e próxima do convento deles, era afastada do centro do povoado. Pequena, humilde, de taipa de pilªo e coberta de palha, num terreno œmido. Depois, o reitor Souto Maior tratou de buscar outro lugar para a Companhia erguer suas edi�caçıes. Conseguiram um terreno ao lado do forte, portanto, num ponto do povoado elevado e arejado, quase à margem do rio, vizinho do chamado Portªo, o lugar de intersecçªo entre o bairro da Cidade com o da Campina. O terreno era "o melhor de todos" no povoado, de acordo com o reitor do colØgio, na

Foto: Rafaela Coimbra

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dØcada seguinte, o padre Joªo Felipe Benttendorff, em "Crônicas dos Padres da Companhia de Jesus no Estado do Maranhªo" (1694). Ali o reitor Souto Maior "lançou as medidas dos alicerces e obras para o colØgio e começou a abri-los perto do sítio de uma ermidazinha", conta Bettendorff, provavelmente se referindo à capela de Santo Cristo. Para o uso imediato dos padres - ele mesmo informa - "nªo se fez, por entªo, mais do que uma choupana e igrejinha de taipa de mªo". (Saga)

Pedra e cal para o ColØgio

Com o emprego da mªo-de-obra de índios vindos das aldeias da Ilha do Marajó, em pouco tempo estava concluída metade do pavilhªo pelo qual teve início a construçªo do colØgio, em taipa de pilªo. O pavilhªo teria vigas de pedra e cal. Para obter cal, os jesuítas nªo precisaram procurar muito. Segundo Ernesto Cruz (1973), no largo da matriz, diante das obras deles, portanto, no sØculo XVII, existiram dois fornos de cal. Cruz a�rma que foi grande o "nœmero de casas que se levantaram nos bairros da Cidade e Campina, com as suas paredes feitas de pedra e cal, sólidas e bem construídas". Quanto às pedras, Cruz, em contradiçªo com outros autores, sustenta que nªo eram originÆrias do terreno do centro do povoado, onde segundo ele, nªo existiam. (Saga).

Assinatura de Joªo Felipe Bettendorff, reitor do ColØgio dos Jesuítas dedicado às construçıes que sua ordem religiosa realizou em BelØm.

Uma quase tragØdia

A sofreguidªo com que os padres se lançaram às suas obras quase provoca uma tragØdia. As construçıes foram cobertas com telhas. Mas, com a pressa, relata Bettendorff: restaram "mal encaixados os tirantes, �cando as paredes com abertura quase de um palmo e o teto todo abaixado, de sorte que, por milagre do cØu, nªo matou a todos", quando desabou. O cronista diz ainda: "foi forçoso tirar a telha� para cobrir a construçªo com �pindoba da terra". Eram ainda muito simples as instalaçıes em uso pela ordem. Os padres se acomodaram no pedaço jÆ

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construído do pavilhªo. Bettendorff descreve a precariedade dos abrigos dos jesuítas, àquela altura: "Nªo tinha o ColØgio do ParÆ pÆtio nenhum, e era a oitaria (paredes laterais, nas linhas de divisa do terreno) um salªo cercado de uns paus altos a pique, com uma escada de tabuada que corria de baixo". Quanto à ermida - diz o padre Sera�m Leite, em "História da Companhia de Jesus� (1943)-, se assemelhava à pobre choupana do bairro de Campina. No seu altar havia um painel de Sªo Francisco Xavier. Sua sacristia �cava na passagem entre a porta externa do colØgio e porta do pavilhªo, interno. (Saga)

Restauro da ermida, e, a Alfândega

Naquele mesmo ano de 1653, os jesuítas restauraram a ermida de Nossa Senhora das Graças que servia de matriz para o povoado, situada do outro lado do mesmo largo defronte ao qual eles construíram o primeiro pavilhªo do colØgio. A ermida, transferida do sítio interno para a parte exterior do forte, se encontrava em tªo mau estado que um jesuíta, padre Mello Moraes, em "História da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhªo e ParÆ" (1860), a descreveu como "uma pobríssima igreja, apenas sustentada em uns poucos esteios, alØm de velhos", concluindo: "Ø o lugar mais próprio de um estÆbulo que de um tempo". Nas cercanias dos jesuítas, num esforço de ordenar a economia local, foi iniciada uma obra que, concluída, permitisse, ainda que modestamente, o funcionamento da alfândega de BelØm. Foi armado, para a repartiçªo, um simples telheiro no terreno adjacente ao adquirido pela Companhia de Jesus, próximo do atual Ver-o-Peso. (Saga)

BelØm em suas primeiras dØcadas

Segundo D·Azevedo (1901), BelØm era um "arraial de gentes sem ideal artístico, assente em terra ainda bÆrbara, onde o clima suavíssimo nªo requer agasalho, nem a pobreza geral tinha bens a resguardar da alheia cobiça". Tal arraial era composto de �ruas de estreitas veredas, parte invadidas pelo mato�. Nestas ruas, as casas de barro e cobertas de palha apareciam irregularmente semeadas, ao capricho dos moradores; e os quintais, à volta de cada uma faziam ainda maior o espaço vazio das edi�caçıes". D�Azevedo realça a �misØria evidente da povoaçªo ... as casas lamacentas, ensopadas pelas chuvas cotidianas; as casas cobertas de palha, entre as quais, as edi�caçıes consagradas ao culto se distinguiam, por um aspecto grandioso, da mesquinharia geral". Naquele cenÆrio, diz ele, se movimentavam os habitantes. "De um lado para o outro vagueavam os índios quase nœs, os brancos e mestiços vestidos de algodªo grosseiro na terra, de um alvacento sujo, ou entªo tinto da cor avermelhada do muruxi". A igreja de taipa de pilªo, com cobertura de palha, construída pelo padre Souto Maior, em tudo contrastaria com os grandes recursos de que os jesuítas viriam a dispor, depois, conclui D·Azevedo. (Saga)

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O Forte de Sªo Nolasco

Tªo promissora a regiªo parecia que para melhor defendŒ-la da cobiça de outros países, um novo forte foi construído, em BelØm, no ano de 1665. Levantou-se a forti�caçªo na orla da baía que banhava o terreno do Convento das MercŒs, no bairro da Campina. Os mercedÆrios cederam o sítio, mas exigiram que o forte recebesse o nome do fundador da ordem deles: Sªo Pedro de Nolasco. A fortaleza foi erguida, informa Meira Filho(1976), em forma "triangular isósceles, com o vØrtice se alongando para o interior da baia do GuajarÆ". Sua base, diz o autor, �cou �engastada nas ombreiras do barranco". O forte permaneceria ali por mais de um sØculo. Depois, seu terreno seria usado para a construçªo do galpªo reservado aos municípios de Mosqueiro e Soure, no cais de BelØm. Mais tarde, ruínas de suas paredes foram encontradas quando o antigo cais sofreu a reforma que o transformou na atual Estaçªo das Docas. Sobre as ruínas instalaram-se trilhos que servem a uma espØcie de teatro a cØu aberto, num dos extremos do logradouro, jÆ próximo da Praça dos Pescadores. (Saga)

Planta da Fortaleza de Nolasco cujas ruinas foram encontradas nas obras da Estaçªo das Docas.

Visªo das ruinas da Fortaleza de Sªo Nolasco, próximas à Praça dos Pescadores, hoje integradas ao teatro a cØu aberto no complexo da Estaçªo das Docas. A fortaleza originalmente se situava nas bordas da baía do GuajarÆ.

Foto: Rafaela Coimbra

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A melhor igreja do Gram-ParÆ

À medida em que, nos anos de 1650 e 1660, os jesuítas passaram a contar com os recursos advindos das suas fazendas de gado no Marajó, executaram obras de reforma e ampliaçªo de sua igreja e do colØgio, como relatam os padres Bettendorff (1694) e Sera�m Leite, em �História da Companhia de Jesus no Brasil� (1943). Com tantos pro�ssionais brilhantes na Ærea das construçıes, pertencentes à companhia, os jesuítas, porØm, tiveram a infelicidade de contratar para mestre de suas obras em BelØm, um fabricante de tinas e barris, Christovªo Domingos. Pouco habituado a lidar com a tØcnica de construçªo em taipa de pilªo, Domingos, conta Bettendorff, �fez a igreja tªo torta que para endireitÆ-la foi necessÆrio picÆ-la pelo meio, para as bandas dos altares colaterais". Era o segundo contratempo que a ordem enfrentava em suas edi�caçıes no Gram-ParÆ. Para enfrentÆ-lo, e, a igreja pudesse suportar a cobertura de telha de barro cozido, Bettendorff, depois, no cargo de reitor do colØgio, mandou reforçar sua estrutura. Informa o padre cronista sobre a igreja: "para a sua duraçªo havia eu de mandÆ-la fazer de pedra e cal, mais larga e com o arco mais levantado". Quando concluída, a igreja �cou bem proporcionada, na largura, no comprimento e na altura. Sua elegância permitiu que ela fosse considerada, entªo, a melhor de todo Estado. E aos poucos se foi enriquecendo. Em 1670, a sacristia jÆ estava ornamentada, segundo o padre Sera�m Leite, "com belos embutidos de tartaruga e os quadros da vida de Cristo, que pintara o irmªo Baltasar de Campos, �amengo". (Saga)

Um alambique no colØgio

No colØgio, informa Bettendorf, foram construídos "uma parede da banda do mar , um pÆtio de banda da cidade, um muro que cercava o quintal". O muro se tornava necessÆrio "para separar o ColØgio das ruas e do bulício e para poderem repousar os missionÆrios quando voltavam das entradas e missıes". Dispunha, tambØm, agora, o colØgio de uma capela domØstica. Ela ocupava todo o lado oriental externo do colØgio, partindo do pavilhªo do norte atØ a praça. E tinha a extensªo do pÆtio para o qual dava um corredor ou varanda. AtØ mesmo com um alambique o colØgio foi equipado, entªo. Para provar que ele era necessÆrio, o padre Píer Luigi Consalvi - o celebrante da primeira missa, em 2 de dezembro de 1668, na igreja reconstruída - contou, dez anos depois, que a ordem gastara 2.000 cruzados na compra de aguardente para o consumo dos operÆrios daquelas obras. (Saga)

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A Casa da ResidŒncia, do governador

Reforçada a defesa de BelØm, a Coroa tomaria algumas medidas em relaçªo ao Gram-ParÆ, indicativas da suas boas expectativas quanto às potencialidades da regiªo. Uma delas foi a autorizaçªo, dada em 1676, para construçªo em BelØm de um imóvel adequado à hospedagem do Governador do Estado, quando ele estivesse no povoado. AtØ aquele momento, o Governador, instalado em Sªo Luís, no Maranhªo, ainda capital do Gram-ParÆ/Maranhªo, quando visitava BelØm, se hospedava em casas particulares. Em obediŒncia a um Decreto RØgio, o imóvel o�cial destinado a ele em BelØm recebeu a denominaçªo de Casa da ResidŒncia. Ficava no bairro da Cidade, no caminho transversal à Rua do Norte (Siqueira Mendes), chamado, por causa do imóvel, de Travessa da ResidŒncia (e, depois Travessa da Vígia). Concluída em 1680, a casa foi descrita por Barata (1973): "Era de taipa de pilªo, com dois pavimentos, 14 janelas de sacada com balaœstres de madeira no pavimento superior da fachada principal, e trŒs janelas idŒnticas em cada uma das fachadas laterais". (Saga)

A Rua da ResidŒncia recebeu esta denominaçªo porque num dos extremos dela, hoje parte do Largo do PalÆcio, �cava a Casa da ResidŒncia. O outro extremo da rua fazia esquina com a primeira via de BelØm, a Rua do Norte, atual Siqueira Mendes. Por muitos anos a rua depois chamou-se de Travessa da Vigia. Hoje Ø a Rua FØlix Rocque.

A ermida dos escravos negrosNo dia 1 de abril de 1680, uma Provisªo Real estabeleceu que, todos os anos, negros da Costa da GuinØ seriam conduzidos para o Maranhªo/Gram-ParÆ, informa Barata (1973). Os africanos que chegaram ao Estado tiveram a mesma sorte dos índios catequizados pelos religiosos: foram escravizados. Em 1682, os que tinham conseguido obter alguma renda, contribuíram para a criaçªo de uma irmandade e para a construçªo de uma modesta ermida na Rua da Misericórdia (Padre PrudŒncio), no bairro da Campina. Logo, a ermida �cou sem espaço para abrigar os membros da irmandade. Novos recursos tiveram de ser coletados entre os negros para a construçªo de um templo mais amplo, segundo Ernesto Cruz, em �Igrejas de BelØm� (1974). Depois, o templo seria reconstruído, se tornando a atual Igreja do RosÆrio dos Homens Pretos. (Saga)

Foto: Rafaela Coimbra

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A fortaleza que explodiu

Os militares que jÆ contavam com um segundo forte em BelØm, foram autorizados, em 1684, durante uma visita do Governador Gomes Freire de Andrade, a levantar uma nova forti�caçªo, na entrada �uvial do povoado, 8 quilômetros distante, sobre um banco de pedras. Ficava, na Baía do GuajarÆ, numa posiçªo de domínio do canal de acesso a BelØm. A planta aprovada pelo Governador era de autoria do o�cial da guarniçªo do povoado, capitªo Antônio Rodrigues Lameira da França. Previa uma construçªo de pedra e cal, em forma redonda. Ela recebeu 35 canhıes, de vÆrios calibres, dispostos em duas baterias. Concluída em 1685, foi denominada de Fortaleza da Barra. Ali, permaneceria por 262 anos, embelezando a chegada dos navios a BelØm, como a fortaleza, igualmente redonda de Sªo Marcelo, na entrada de Salvador, na Bahia. Em 1947, porØm, autoridades do ParÆ permitiram a transferŒncia do depósito de dinamites de BelØm para a fortaleza. Uma simples fagulha de raio a explodiu, durante uma chuva. (Saga)

Um raro retrato de BelØm, em 1694

Em 1694, o aspecto físico do povoado foi descrito por alguØm que esteve nele, na Øpoca, o padre Joªo Felipe Bettendorff. Em sua crônica de 1694, ele escreveu: "Divide-se a cidade em duas partes, uma para a banda do Sul, em sítio um pouco mais alto, e esta se chama Cidade; outra, em sítio um tanto mais baixo, se chama Campina. Para a banda do Norte, bem no principio da Cidade, onde chamavam o Portªo os antigos, estÆ o

Foto rara do acervo do pesquisador Sebastiªo Godinho na qual se pode ver a Fortaleza da Barra antes de sua explosªo.

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ColØgio de Santo Alexandre dos padres da Companhia de Jesus, virado, com a portaria para a praça assaz espaçosa. Dela se reparte, Norte para o Sul, em quatro ruas principais, e do Leste a Oeste, em outras tantas que atravessam as primeiras. EstÆ o ColØgio no principio da terceira, tŒm a Matriz defronte, no cabo da praça para o Sul, entre a segunda e terceira rua; no principio da primeira, que estÆ ao Norte, e corre Norte ao Sul, estÆ a Fortaleza de taipa de pilªo, sobre um alto de pedra, edi�cada em quadro, com suas peças de artilharia ao redor, tem o rio bem largo e fundo para Oeste, e no mais cercada de muito poço seco. Correndo do Norte para o Sul pela primeira rua, ocorre logo a ermida de Santo Cristo, mais adiante, Nossa Senhora do RosÆrio, e no cabo o convento dos religiosos de Nossa Senhora do Carmo, sito bem sobre o rio; indo da mesma fortaleza Norte e Sul, pela segunda rua, logo se oferece em a praça a Casa da Câmara. Pela terceira rua adiante, dÆ-se em o cabo com o Carmo novo que se vai fazendo, na œltima rua que atravessa a ermida de Sªo Joªo, de Leste a Oeste, e de lÆ de Leste para Oeste, pela primeira rua que se atravessa, se dÆ com o PalÆcio do Governador, assaz grandioso se fora de pedra e cal, e nªo de taipa de pilªo. A parte que se chama Campina se reparte pelo mesmo modo, pouco mais ou menos, em ruas direitas e travessas. A primeira vai do ColØgio para o Norte, tem lØgua e meia, armazØm d’El Rei, e depois, pelo meio, o convento de Nossa Senhora das MercŒs, sito bem sobre o rio. A segunda tem a Campina e depois, à mªo esquerda, a Misericórdia, lÆ muito adiante e ao cabo de tudo estÆ Santo Antônio. As ruas travessas nªo tem nada de consideraçªo digno de se relatar se nªo a Misericórdia". (Saga)

Mais uma ordem religiosa em BelØm

As vantagens de que os religiosos desfrutavam no Gram-ParÆ atraiu mais uma ordem para a regiªo - a quinta a se instalar em BelØm, depois dos carmelitas, mercedÆrios, franciscanos, e, jesuítas. Em 1706, chegam ao povoado os padres da Conceiçªo da Beira e Minho. Como acontecia quando chegava ao Gram-ParÆ alguma ordem, recebem aldeias para administrar. Ganharam tambØm 132 metros de terreno de JosØ Velho de Azevedo, procurador da Fazenda Real, na parte mais ocidental do povoado, num sítio chamado de Porto-Tiçªo, à altura, hoje, do Arsenal da Marinha. No terreno, eles construíram uma pequena capela e uma casa de madeira e taipa de pilªo, coberta de palha. A casa serviu tanto de residŒncia para os padres - e por isto foi identi�cada como Convento de Sªo Boaventura -, como de abrigo para doentes mentais do povoado. Com a instalaçªo desta ordem, observa Meira Filho (1976), todo o litoral de BelØm �cou dominado por religiosos:

Os dois œnicos bairros de BelØm cerca de um sØculo depois da descriçªo de

Bettendorff num desenho de Grosnfeldt

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num extremo, no bairro da Cidade, estava o convento dos padres da Conceiçªo; em outro, no bairro da Campina, estava o dos franciscanos. Em pontos intermediÆrios, se �xaram: os carmelitas, na Rua do Norte; os jesuítas, em frente à matriz, e, os mercedÆrios, ao lado do forte de Sªo Nolasco.(Saga)

Um jesuíta, engenheiro principiante

Nos anos de 1668 a 1670, ocupou o cargo de Superior da Casa de Santo Alexandre do ParÆ, o padre Bento `lvares, �homem de boa idade, robusto, prudente e jÆ versado em obras, pois tinha feito a bela residŒncia de Gurupi", segundo Bettendorff (1990). Sua escolha para aquele cargo se mostraria acertada, pois, prossegue o cronista: Padre Bento "logo que entrou no governo mandou acabar as portas e janelas da igreja (de Santo Alexandre), rebocar e ladrilhar a capela-mor�. Foi, entªo, feita uma distribuiçªo de encargos na reforma da igreja. O altar-mor �cou entregue a Chistovªo Domingos, aquele mesmo que, antes, construíra a igreja, com defeitos. Os altares laterais �caram sob a responsabilidade do Irmªo Joªo de Almeida, um francŒs que sabia desenhar plantas - debuxos, como se dizia, na Øpoca - e pintava bem. Por mais uma vez, Bettendorff menciona este irmªo, relacionando-o com a pro�ssªo de engenheiro. Quando ele trata das obras no prØdio dos jesuítas, em Sªo Luís, diz que "De tudo isso, tinha um belo debuxo feito pelo irmªo Joªo de Almeida, francŒs de naçªo, que tinha vindo do Brasil, e era engenheiro, ao menos bem principiante de sua pro�ssªo". Novamente, o cronista cita o irmªo, quando trata da reconstruçªo da igreja de Santo Alexandre, em BelØm, nos anos de 1668/1670. A�rma, entªo: "e os altares de baixo, os pintou belamente o irmªo Joªo de Almeida, que, por ter sido companheiro de um engenheiro, sabia debuxar e pintar mui bem".Reconstruída e ricamente ornamentada, a igreja foi benzida pelo próprio Bettendorff que, tambØm rezou missa na festa de S. Francisco Xavier, "sendo o auditório mui grande, pelo concurso de gente a essa novidade". (Saga)

A estrutura do colØgio jesuíta

Bettendorff, ainda como superior da ordem, enviou a Roma, em 1671, segundo Sera�m Leite (1943), um singelo esboço grÆ�co da estrutura do colØgio, em BelØm, a que tanta atençªo dedicava, no qual se viam, ao centro, o pÆtio, e, rodeando-o, quatro varandas, chamadas de "deambulacra interiora". Ao sul, havia o corredor que dava para a praça. Ao norte, outro corredor, entre a varanda os cubículos, voltados para a baía. Ao oriente, ao longo da varanda, a igreja. E, ao ocidente, pegado à varanda, um corredor, "e daí para o exterior os novos aposentos que se iam construindo nesse ano", diz Sera�m Leite (1943). (Saga)

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Topógrafos demarcam 1“ lØgua

Finalmente, em 1703, foi demarcada a primeira lØgua patrimônial de BelØm, doada em carta de Sesmaria, 76 anos antes. A mediçªo - diz Meira Filho (1976) - foi feita conforme estabelecia a Carta de Sesmaria. Nela, foram utilizadas duas turmas de topógrafos, as quais, junto com outros funcionÆrios graduados da administraçªo portuguesa e autoridades locais, partiram da con�uŒncia das bacias hidrogrÆ�cas do GuajarÆ e do GuamÆ, e, após costearem o litoral, determinaram as distancias previstas no documento de doaçªo, a Carta de Sesmaria, isto Ø, uma lØgua (6.600m) em arco de quadrante, cujo tØrmino �cava às margens dos rios ParÆ e GuamÆ. Uma turma de topógrafos, em seguida, penetrou na mata, partindo do Rio GuamÆ, em direçªo ao Norte. Outra turma, entrou na selva, indo desde a baía do GuajarÆ, em direçªo ao Sul. As duas turmas se encontraram no ponto onde o arco fechava. Ali, conta Meira Filho, "festejaram o feliz sucesso da empresa, lavraram, entªo, um auto de mediçªo e, no local próprio, a administraçªo da capitania levantou um marco", o qual �cou conhecido depois como "marco da LØgua" e de onde foi tirado o nome do bairro - Marco - que surgiu em torno dele. (Saga)

Igrejas do Carmo e Sªo Joªo, no início de 1700

Em 1712, foram concluídas os obras de reconstruçªo da igreja do Carmo, iniciadas mais de 10 anos antes. Outra obra, feita no mesmo período, foi a de reforma e ampliaçªo da igrejinha de Sªo Joªo, tambØm no bairro da Cidade, como a igreja do Carmo. A obra, executada em 1714, visou adaptar o pequeno templo para o desempenho de uma funçªo - a de matriz provisória do povoado - cuja atribuiçªo a ele nªo tinha sido prevista. Tal necessidade surgiu com o completo desmoronamento de igreja matriz de Nossa Senhora da Graça. Custeada pela administraçªo da colônia, a obra de reforma da igreja de Sªo Joªo custou 1.025$700 rØis. Foi na igrejinha, reformada, que no dia 22 de dezembro de 1720 tomou posse o primeiro bispo do ParÆ, frei Bartolomeu do Pilar, nomeado no ano anterior. (Saga)

Igreja do Carmo, ao lado do convento, com a aparŒncia que ela adquiriu numa fase posterior dos

anos de 1700 quando Landi jÆ havia atuado nela.

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Os jesuítas, aos poucos, �zeram em BelØm, algo que contrastava muito com as modestas construçıes de taipa de pilªo, típicas da arquitetura do povoado atØ aquele momento. O conjunto arquitetônico que inauguraram por volta de 1720 ocupou um quadrilÆtero cujas faces correspondiam a quarteirıes, em diferentes níveis de terrenos. Havia uma face mais elevada do quadrilÆtero, onde estavam a entrada da igreja e um dos pavilhıes do colØgio, no qual funcionou o PalÆcio do Arcebispo do ParÆ, e hoje estÆ ocupado pelo Museu de Arte Sacra. E outra face do quadrilÆtero, quase no nível das Æguas da baía, estava junto ao Ver-o-Peso. Entre os dois níveis extremos, havia a face do quadrilÆtero, com um nível intermediÆrio, voltada para o Forte do PresØpio. Nela foram instaladas casas de variadas utilizaçıes. E, por �m, havia a face oposta, no nível intermediÆrio, voltada para a Rua Padre Champagnat, na qual existiu, atØ hÆ meio sØculo, a porta de entrada do SeminÆrio Metropolitano, tambØm instalado no conjunto arquitetônico depois da expulsªo dos jesuítas. (Saga)

O ColØgio dos Jesuítas

A fachada do colØgio toda branca, tem cerca de 40 metros de extensªo, beirais salientes e doze janelas, guarnecidas de sacadas, com gradis de ferro, em cada um dos seus dois andares superiores. Por detrÆs desta fachada, a estrutura interna do colØgio

A face majestosa do conjunto arquitetônico jesuítico, voltada para a Praça da SØ, na qual se vŒ a fachada da igreja ao lado do ColØgio jesuítico, na sua imagem mais antiga guardada na iconogra�a do ParÆ.

A obra mais importante

A face do conjunto arquitetônico voltada para a Rua Padre Champagnat. O sobrado à direita Ø

uma parte do ColØgio usada atØ os anos de 1960 como entrada do SeminÆrio Metropolitano.

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�cou organizada em torno de dois pÆtios. Em torno do pÆtio de cima, próximo da Praça da SØ, estavam as: a) Capela domØstica, por cima da sacristia da igreja, com as mesmas dimensıes dela; b) Varandas dos pavilhıes. AtravØs das varandas se tinha acesso aos compartimentos de: 1) Salas de aulas; 2) Aposentos dos padres; 3) Refeitório dos padres; 4) Refeitório geral; 5) FarmÆcia; 6) Biblioteca; 7) O�cina de encardenaçªo; 8) Aposento do padre superior; 9) Sala de consultas; 10) Pomar; 11) Jardim; 12) Horta. Em torno do pÆtio de baixo, nas proximidades da atual Praça do Açaí, existiam: 1) Cozinha; 2) Cozinha especial para enfermos; 3) Forno; 4) Casas de hospedes; 5) O�cina de pintura; 6) O�cina de escultura. Uma das œltimas obras realizadas no conjunto arquitetônico pelos jesuítas foi a Casa da Torre. Estava na esquina do terreno dos jesuítas, o qual �cava de frente, num lado, do Forte do PresØpio, e, no outro, da Praça da SØ. A partir da Casa da Torre, saíam os muros de pedra e cal, que cercavam o pedaço de terreno do pÆtio de cima, na atual Ladeira do Castelo, em direçªo à Praça do Açaí. (Saga)

A igreja dos jesuítas, em BelØm

Dentro do conjunto arquitetônico jesuítico, a igreja de Santo Alexandre era o espaço do re�namento artístico-religioso. Por cima de suas portas, em trŒs nichos, �cavam imagens de santos venerados pelos jesuítas. Próximo delas, havia uma cruz de jaspe. Nas duas torres, cinco sinos. Uma das torres ameaçou ruir e foi emparedada, anos depois. Nela, segundo uma lenda amazônica, estÆ a Mulher Seca da Torre, que virou pedra quando tentou agredir sua mªe, com uma vassoura. A igreja dispunha de nove capelas - a capela-mor e oito laterais -, pintadas a ouro e mantidas sempre com rica ornamentaçªo. Na capela-mor, as paredes receberam telas pintadas que se enquadravam em molduras barrocas de talha dourada. Quanto às capelas laterais, seus retÆbulos eram os mais belos do ParÆ, segundo o ex-curador do Museu de Louvre, Germain Bazin (1955), em "L’ Architecture Religieuse Baroque au BrŁsil". Mais elogiados ainda que os altares sªo os pœlpitos da igreja, tidos como impetuosas obras do barroco brasileiro, pelos

Um dos altares laterais da Igreja de Santo Alexandre pintados a ouro.