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7.1.1 Um novo equilíbrio globalO final da 1ª Grande Guerra trouxe grandes mudanças no equilíbrio de poderes internacional. A Alemanha saía destroçada e vencida e a Inglaterra e a França, potências vencedoras do conflito, enfrentavam a dura tarefa da reconstrução económica.Apesar de afectados pelo conflito os E.U.A. tornavam-se então a grande potência mundial.

Na Conferência de Paz iniciada em Janeiro de 1919 em Paris, com o intuito de negociar e impor aos países vencidos condições e indemnizações, estiveram presentes apenas os países vencedores, entre os quais Portugal. Destaca-se a Mensagem dos 14 pontos ao Congresso dos E.U.A.apresentada pelo presidente Wilson ao Congresso serviu de base às negociações pondo em discussão um conjunto de princípios de diplomacia internacional que aliás serviriam também como agenda trabalho da Conferência de Paz e  fundamento da Sociedade das Nações.

Das discussões ocorridas entre os países vencedores da guerra na Conferência de Paz resultaram tratados de paz entre países vencedores e países vencidos:

Tratado de Versalhes entre os aliados e a AlemanhaTratado de Saint Germain entre os países aliados e a nova república da ÁustriaTratado de Sèvres entre os aliados e a TurquiaTratado de Trianon entre os aliados e a nova república da HungriaTratado de Neuilly entre os aliados e a Bulgária

Triunfo das nacionalidades e da democracia

Os tratados conduziram a uma reorganização do mapa político da Europa e de algumas regiões de África e da Ásia.

Depois do desaparecimento do império russo desapareceram também os grandes impérios centrais da Europa, a Alemanha, Austro-Hungria e Império Turco surgindo em vez deles diversos novos pequenos estados dando prosseguimento ao princípio das nacionalidades defendido pelos políticos liberais desde o século XIX.

Surgiram assim na Europa no final do conflito a Finlândia, Estónia, Letónia, Lituania, Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia e Hungria, na Ásia, a Arábia, Curdistão, Arménia, territórios sob mandato da SDN, a Síria, Líbano, Mesopotâmia e Palestina.

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A França recuperou a Alsácia-Lorena, a Bélgica ganhou os cantões de Eupen e Malmedy, a Itália recebeu o Tirol e a Istria, a Dinamarca recuperou o norte de Schleswig, a Roménia recebeu a Transilvania e a Bessarábia enquanto a Grécia recebeu a Trácia da Bulgária.

A Alemanha era no entanto a potência mais afectada. Além da perda de territórios na África e Ásia perdia também o seu enorme poder militar (ler texto doc 3 pág 15).

Entre os alemães o sentimento de vingança desenvolveu-se ao longo dos anos tendo como principal alvo a França, considerada responsável pelas duras condições de derrota impostas pelos aliados, o Diktat.

Hitler na sua obra Mein Kampf dá voz a sentimentos revanchistas contra franceses e judeus ao afirmar:

"O sonho da França é e sempre será impedir a formação de um poder sólido na Alemanha, conservando um sistema de pequenos Estados com forças equilibradas e sem uma direcção uniforme, com a ocupação da margem esquerda do Reno para assegurar a sua hegemonia na Europa." e mais adiante, "... assim o judeu é hoje o grande instigador do completo aniquilamento da Alemanha. Todos os ataques contra a Alemanha, no mundo inteiro, são da autoria de judeus."

As perdas da Alemanha foram enormes: perda dos territórios coloniais separação da Prússia Oriental do território alemão através do corredor de Danzig, cidade polaca enclave polaco sob a protecção da Sociedade das Nações. Devolução dos territórios da Alsácia e Lorena à França, Eupen e Malmedy à Bélgica, diversas regiões alemãs integradas na Polónia, Checoslováquia e Dinamarca. perda de grande parte da frota mercante. ocupação pela França das minas do Sarre e da Renânia. pagamento de indemnizações de guerra desmilitarização da Alemanha com perda de grande parte do exército e da infantaria além da frota naval e aviação de combate. desmilitarização da margem direita e esquerda do Reno com ocupação das regiões de fronteira com a França, por exércitos deste país.

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Sociedade das Nações

Durante os trabalhos da Conferência de Paz os países vencedores do conflito sob proposta do presidente Wilson dos E.U.A., decidiram a criação de uma organização mundial que propunha a resolução dos conflitos pela via pacífica. Antecessora da O.N.U., na S.D.N. existiam vários organismos como o Tribunal Internacional de Justiça, o Banco Internacional, a Organização Internacional do Trabalho e algumas outras que procuravam dar seguimento aos objectivos propostos pela organização.

Vários problemas acabaram por limitar o alcance de intervenção da S.D.N. dificultando a sua missão e retirando-lhe eficácia: Os países vencidos pela guerra como a Alemanha não faziam parte da organização e alguns dos vencedores como Portugal ou a Itália não se mostraram satisfeitos com as reparações pagas pelos países agressores. Isolacionismo dos E.U.A. Regulamentação das fronteiras e a satisfação das reivindicações das minorias nacionais, muito criticada nos países vencidos criando animosidades e oposição às condições dos tratados de paz. O Diktat de Versalhes foi por exemplo muito criticado pelos alemães. As relações estabelecidas entre a Alemanha e alguns dos países vencedores da guerra dificultaram a tomada de posições contra as manobras e actividades belicistas de Hitler ao longo dos anos 30.Documentos 6 / 7A /7B analisar na óptica das consequências económicas e políticas da guerra e da eficácia das S.D.N..

Os constrangimentos da política interna e externa dos E.U.A. levantada pelo lamentável estado dos países europeus e pela questão das reparações de guerra fez com que a S.D.N. perdesse grande parte da sua credibilidade e margem de manobra. 

A situação da Europa no pós-guerra era muito difícil (doc. 7C), destruição, quebra demográfica, inflação galopante e desvalorizações monetárias acentuadas. 

E.U.A. 

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A guerra permitiu grande prosperidade aos Estados Unidos da América. No entanto sentiu os efeitos críticos de um período de excesso de produção mas a economia conseguiu recuperar através da adopção generalizada do novo modelo de produção industrial, da concentração monopolista de empresas beneficiando ainda do relançamento da economia europeia. Também a adopção pelos países europeus do Gold Exchange Standard permitiu a reanimação do comércio internacional. Os E.U.A. tornaram-se o grande financiador das economias europeias nomeadamente a alemã permitindo-lhe o pagamento das reparações e indemnizações que eram devidas ao Reino Unido e à França. 7.1.2 A implantação do marxismo-leninismo na Rússia: a construção do modelo soviético1917 o ano das Revoluções

A Rússia em 1917 estava em profunda crise política. Governado de forma autoritária pelo czar Nicolau II, o país sentia os efeitos de uma situação social deveras difícil e delicada.

Descontentamento de largos sectores da população: camponeses, operários, burguesia e até a nobreza mais liberal. Motivos diversos e diferentes partidos e facções: miséria, concentração fundiária nas mãos da nobreza, salários baixos e miséria do proletariado, variadas razões para reclamar mudanças.

Politicamente a oposição estava dividida entre facção dos socialistas revolucionários que reclamavam partilha de terras, apoiada pelos camponeses. sociais democratas, divididos em bolcheviques mais extremistas (adeptos da via da ditadura do proletariado, da clandestinidade e acção directa) e mencheviques, moderados que consideravam necessária a existência de um partido de oposição no quadro do parlamentarismo. constitucionais democratas adeptos do parlamentarismo ocidental.Contexto da revolução: a situação de envolvimento da Rússia no conflito mundial levou a uma situação insustentável de crise social e económica agravada pelas perdas territoriais que puseram em causa a política de participação na guerra seguida pelo czar e seus apoiantes ocidentais. Fome, inflação, pobreza da maioria da população, derrotas militares e clima de descontentamento e desânimo.

Como diz Hannah Arendt: "... since the end of the First World War, we almost automatically expect that no government, and no state or form of government, will be strong enough to survive a defeat in war."

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Hannah Arendt, On Revolution, Penguin Classics, 1991, pp. 5

Da Revolução de Fevereiro à Revolução de Outubro

A revolta das mulheres contra o aumento do preço do pão, acompanhada por revoltas e greves dos operários e dos soldados contra a guerra provocou a revolução de Fevereiro de 1917 na qual o Czar foi obrigado a renunciar ao poder deixando a Rússia nas mãos dos partidos politicamente mais activos. Ministros e generais foram presos.Os mencheviques e socialistas revolucionários asseguraram o controle do soviete de Petrogrado cujo chefe era o menchevique Tchkheidizé. Negociações entre os revolucionários e os constitucionais democratas conduziram ao poder o príncipe Lvov como chefe do governo provisório mas o clima conspirativo aumentou sob o impulso dos bolcheviques que conseguiram assegurar o controlo do soviete de Petrogrado no sentido de retirar o poder à burguesia e entregá-lo a um governo revolucionário.

Lvov e mais tarde Kerensky procuraram acalmar a situação e encaminhar o país no sentido do parlamentarismo ocidental mas o facto de não terem suspendido as acções militares e continuarem uma política pró-aliada fomentou um clima de revolta de rua numa estratégia revolucionária dirigida por Lenine entretanto regressado do exílio. Os sovietes, conselhos de operários, soldados e camponeses, controlados de início pelos mencheviques e socialistas revolucionários e mais tarde pelos bolcheviques formaram-se por toda a Rússia e tornaram-se a partir de Agosto de 1917, os pólos dinamizadores do movimento revolucionário.

As divergências entre bolcheviques, socialistas revolucionários e mencheviques levaram a um confronto de posições crescente ao longo desse ano de 1917. Lenine considerava que a fase burguesa não era necessária no caminho para atingir o socialismo. Nas teses de Abril, Lenine proclamava: a recusa da guerra distribuição das terras, estatização dos bancos e fábricas entrega do poder aos sovietesO clima adensou-se. Os sovietes favoráveis aos bolcheviques foram perseguidos pelos governos provisórios. Os cossacos, entraram em Petrogrado e tentaram prender os bolcheviques mas estes defenderam a cidade e conseguiram manter o ímpeto revolucionário mesmo contra exércitos de cossacos. O governo provisório caiu e as populações tomaram progressivamente controlo dos campos e das fábricas. Os bolcheviques eram já maioritários nos sovietes de Petrogrado, Moscovo e Kiev. Os soldados desertaram da frente de

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combate permitindo às tropas alemãs e austríacas controlarem vastas regiões da Ucrânia e Rússia ocidental.

Em Outubro de 1917 o clima de sublevação transformou-se em movimento revolucionário orientado pelos sovietes bolcheviques e suas milícias, os Guardas Vermelhos, acabando por derrubar o governo provisório de Petrogrado. Na noite de 24 para 25 de Outubro (calendário Juliano) Petrogrado foi tomada pelos guardas vermelhos organizados por Trotsky, o couraçado Aurora disparou sobre o Palácio de Inverno sede do governo e o governo capitulou. Kerensky fugiu e os ministros foram presos.O II Congresso dos Sovietes entregou no mesmo dia o poder ao Conselho dos Comissários do Povo presidido por Lenine. Trotsky recebeu a pasta do exército e Estaline a pasta das nacionalidades.

Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático

Revolução Russa Parte 1

Revolução Russa Parte 2

O governo revolucionário presidido por Lenine tomou controlo da situação e iniciou a publicação de decretos revolucionários que procuravam legalizar as reformas revolucionárias já iniciadas e instaurar a ditadura do proletariado:

Decreto sobre a paz - foi negociado o tratado de Brest Litovsk que permitiu um armistício antecipado com a Alemanha em condições muito desvantajosas pois a Rússia perdia grandes extensões de território. Esta paz separada provocou por sua vez o início do conflito com as ex-potências aliadas que invadiram os territórios da Rússia procurando combater a revolução e impedir a ocupação pelas tropas dos impérios centrais, dos territórios abandonados pelos Russos. Iniciou-se então a guerra civil. Decreto sobre a terra - colectivização das terras e entrega das colheitas ao Estado. Fim da grande propriedade fundiária da Coroa, da Igreja e dos particulares, sem indemnizações. Decreto sobre o controlo operário - colectivização das empresas, indústrias, minas, companhias de transportes, seguros, etc.

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Decreto das nacionalidades - proclamação da Carta do Povo Russo que reconhecia o livre desenvolvimento das diferentes etnias e minorias nacionais, evitando a revolta e conflitualidades internas. Decreto sobre a imprensa - liberdade de imprensa, reunião e associação 1ª Constituição Revolucionária - proclamando a Rússia como estado federal e multinacional, favorecendo o operariado e as suas reivindicações mas reservando o sufrágio directo e universal apenas para a constituição dos sovietes locais. Reunião da 3ª Internacional comunista que propôs a união de todos os partidos comunistas numa única organização o Kominterncontrolado por Moscovo e que defendia o movimento internacionalista comunista numa via marxista - leninista. Este movimento acabou por afastar as facções socialistas democráticas discordantes da ditadura do proletariado. Formaram-se a partir de 1919 partidos comunistas por todo o mundo.

O Comunismo de Guerra face da ditadura do proletariado

Num quadro de ditadura do proletariado em que o Estado era controlado pelos proletários, era necessário assegurar a defesa da via comunista. Para isso Trotsky organizou o Exército Vermelho fazendo frente aos exércitos brancos dos países aliados e capitalistas, que invadiram a Rússia depois da Revolução. Emigrados e descontentes somaram-se aos exércitos brancos de invasores procurando aniquilar a revolução: anarquistas ucranianos socialistas revolucionários dissidentes burgueses financeiros e homens de negócios Kulaks (proprietários de terras) médios e pequenos camponeses descontentesA guerra provocou enormes sacrifícios  obrigando até 1921 a uma política fortemente centralizada e repressiva a nível interno, designada porComunismo de Guerra. Devido à guerra a constituição foi suspensa, a assembleia dos sovietes extinta bem como os partidos políticos e estabelecido o regime de partido único. Criada polícia política - a Tcheka - campos de concentração e censura que suspendeu o decreto sobre a imprensa.

Aspectos da ditadura do proletariado tiveram realização no período de guerra civil com o comunismo de guerra. Partindo da definição para Lenine, de proletariado (diferente da definição de Marx) o comunismo de guerra foi um período em que camponeses e operários, definidos como proletários, configuraram o regime comunista entregando ao Estado as colheitas.

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As medidas revolucionárias não foram aceites sem contestação. Piquetes de operários vigiavam a entrega de colheitas ao Estado. Nas cidades as fábricas tinham que trabalhar ao sábado e outros abusos dos direitos:

As empresas com mais de 5 operários foram nacionalizadas cabendo ao Estado a redistribuição dos recursos. O trabalho tornou-se obrigatório dos 16 aos 50 anos; foi prolongado o horário de trabalho e a indisciplina foi reprimida.

Centralismo democrático

Desde 1922, formou-se a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, estado federal e multiétnico reconhecido pela Carta dos Povos da Rússia.A formação de um estado tão heterogéneo a partir de um Império com as características do russo, reclamava uma organização fortemente centralizada.

o povo votava nos seus representantes para os sovietes locais e regionais através de sufrágio universal. os representantes dos sovietes tinham acesso ao congresso anual dos sovietes da Rússia. O congresso dos sovietes designava um Comité Central Executivo (formado pelo Conselho de União e Conselho das Nacionalidades). Os dois conselhos do Comité Central designavam os orgãos do poder ou governo: o Presidium e o Conselho de Comissários do Povo.Entretanto a divulgação das teses de Lenine e da revolução por todo o mundo levaram à fundação da 3ª Internacional ou Komintern em Moscovoem 1919, organização chefiada por Zinoviev.

A Nova Política Económica (1921 a 1927)

Acabada a guerra foi necessário reconstruir a União, porque:

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a população reduzira-se em 8% as cidades estavam despovoadas campos devastados e fábricas destruidas transportes parados baixa produção industrial baixa produção agrícola porque os camponeses apenas produziam o necessário para a sobrevivência das famílias. produção de cereais desceu para metade da de 1913 Minas de hulha estavam inutilizadas caminhos de ferro paralisados redução drástica da produção industrial.Procurando retirar o país da ruína em que se encontrava, foi adoptada uma política de reconstrução designada por NEP, Nova Política Económica, a partir de 1921. A ideia principal era aumentar a produção. Foram tomadas medidas para: recuperação da agricultura desenvolvimento e modernização da indústria. reactivadas medidas de carácter capitalista para estimular a produção através da concorrência, no pequeno comércio, artesanato e agricultura. suspensas as medidas de colectivização agrária.  suprimidas as requisições agrícolas substituídas por imposto em géneros e depois em dinheiro. liberdade de comércio.  desnacionalização das empresas industriais com menos de 20 operários. Arrendamento de fábricas a sociedades e particulares. Abertas concessões a empresas estrangeiras.O Estado ao mesmo tempo tomou medidas para desenvolvimento das empresas na sua dependência: contratou técnicos estrangeiros reintegrou técnicos do tempo do czar investiu em grandes fábricas criando grandes concentrações industriais desenvolveu cooperativas agrícolas promoveu o investimento estrangeiro instituíram-se prémios de produção. construiram-se barragens e centrais hidroeléctricasAs medidas tomadas fizeram de novo crescer uma classe média de intermediários, Kulaks (camponeses médios) e nepmen (comerciantes) que detinham riqueza cada vez maior gerando oposição e crítica dentro do partido.

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A morte de Lenine em 1924 veio colocar em dúvida o regime que sofreu até 1927 os efeitos de uma feroz luta política pelo poder entre Estaline e Trotsky. Estaline mais feroz e determinado acabou por vencer esta contenda e Trotsky viu-se obrigado a fugir da U.R.S.S.7.1.3 - A regressão do demoliberalismoOs anos do após guerra foram marcados por uma grande instabilidade política e mudanças radicais não só no equilíbrio geoestratégico mundial mas também nas posições assumidas pelos agentes de poder e principais protagonistas. As dificuldades económicas, as gravosas consequências da guerra e as ideologias políticas produziram fracturas graves por todo o mundo. Alguns factos atestam esta tendência: O Komintern ou III Internacional Comunista existente em Moscovo sob a protecção do Partido Comunista da União Soviética deu um grande impulso às lutas operárias e à contestação laboral que alastrava por todo o mundo capitalista nomeadamente o mais afectado pela guerra. Formaram-se partidos comunistas em muitos países do mundo em particular os mais industrializados. A III Internacional orientada por Trotsky e Lenine procurava orientar a acção desse movimento comunista mantendo-o fiel à ortodoxia e aos princípios. Na Alemanha, na Hungria e na Itália movimentos radicais de esquerda marxistas leninistas procuraram tomar o poder aproveitando-se das situações políticas caóticas em que os respectivos países saíram do conflito. Em Berlim, um movimento de contestação à Republica de Weimar acabou em banho de sangue com o assassinato dos líderes espartaquistas. Em Munique uma república soviética declarou independência do estado alemão e durou um mês. Até 1920 vários movimentos reivindicativos espalharam a desordem e o caos social em várias regiões da Alemanha enquanto na Hungria um movimento chefiado pelos comunistas procurava implantar uma república marxista. Na Itália greves manifestações e desordens frequentes lideradas por activistas comunistas tentaram implantar a ditadura do proletariado através da ocupação de fábricas e campos agrícolas sendo severamente reprimidos. Também em Portugal e noutros países europeus a vaga de contestação esquerdista provocou o caos económico e um período de vários anos de recessão económica. 

Os movimentos de esquerda despertaram por toda a parte o medo de revoluções comunistas o que teve como resultado o extremar de posições e a implantação de regimes autoritários  em vários países da Europa e do Mundo. Na Itália Mussolini, na Espanha Primo de Rivera, em Portugal a ditadura militar e o Estado Novo. 

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Os aspectos descritos demonstram a regressão da democracia liberal ao longo dos anos vinte como consequência das grandes dificuldades provocadas pela guerra. 

7.1.4 - Mutações nos comportamentos e na cultura

Uma nova sociabilidade

O inicio do século trouxe às cidades do mundo ocidental um movimento frenético que inspirava optimismo e esperança. Apesar de tudo as memórias do conflito e da crise ainda perduravam principalmente nas cidades europeias dos países ainda atingidos pela recessão. 

A estandardização dos comportamentos desenvolveu-se do que resultou uma massificação de preconceitos e crenças interiorizadas por grandes grupos de pessoas geralmente habitando nas cidades. Generalizava-se uma cultura de massas que era também uma cultura de ócio. Desenvolveram-se os espaços e a indústria de entretenimento subsidiadas

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pela classe média que acedia a todo o tipo de bens de consumo e conteúdos culturais. 

O desporto, o espectáculo e a cultura adquiriram novo dinamismo e projecção tornando-se sectores económicos de grande investimento impulsionados pelos factores acima citados. 

A crise dos valores tradicionaisA par de uma transformação nos hábitos a sociedade ocidental assistiu a uma erosão progressiva nos seus costumes e valores mais ancestrais. A burguesia, herdeira de uma posição privilegiada sentiu os efeitos desse desgaste ainda acelerado pela descrença nos valores propagandeados pelas revoluções  liberais. Perante as dificuldades e o sofrimento, as classes mais baixas sentiram que a sua sorte poderia depender da movimentação e acção política. Tal crença levou-as a adoptar ideologias que no ambiente difícil do após guerra não tardaram a dominar largos sectores da população nomeadamente nos países mais industrializados.A família, o casamento, a religião e mesmo as mais básicas regras de conduta e da moral passaram a sofrer os efeitos de um individualismo e uma anomia crescentes que tiveram como efeito o desenraizamento e a marginalidade típicas das sociedades urbanas mas também o relativismo dos valores e das crenças. 

A emancipação feminina A mulher adquiriu projecção nova nesta sociedade. A sociedade descobriu uma presença cada vez mais constante da mulher em todos os domínios. Espectáculo, política, desporto, cultura, arte, ciência, vida social  eram ambientes onde a mulher se distinguiu e onde se impôs. Desde o século XIX a mulher lutava pelo reconhecimento da sua posição não só na sociedade mas mesmo na família. A partir de inícios do século XX o direito a voto passou a ser reivindicado pelos movimentos feministas. Destacaram-se as sufragistas britânicas lideradas por Emmeline Pankurst que recorreram a todo o tipo de argumentos e formas de luta para exigir um tratamento igual ao dos homens. Em Portugal, Maria Veleda, Ana Castro Osório, Adelaide Cabete e Carolina Beatriz Ângelo destacaram-se na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas. Só no final da Primeira Grande Guerra é que as mulheres europeias começaram a ver os seus direitos políticos reconhecidos. 

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Descrença no pensamento positivista e as novas concepções científicas

No início do século XX rejeição gradual do racionalismo e positivismo científico. Outras vias se abrem ao pensamento humano.

·        Begson considerava que além da Física e Matemática, existia um pensamento intuitivo que explicava os comportamentos humanos e libertava os homens do espartilho racionalista.

·        Teoria Quântica, a energia desenvolve-se através de movimentos muito rápidos de porções mínimas e variáveis de matéria, os quantum. 

·        Teoria da Relatividade, tempo decorre mais depressa ou devagar consoante a velocidade dos corpos.A verdade científica não tinha o grau de certeza que até então se pensava. Surgiu assim o Relativismo. 

Concepções psicanalíticas

Freud desenvolveu a Psicanálise que divide a mente em três zonas: inconsciente, subconsciente e consciente. O inconsciente influencia muitos dos nossos comportamentos explicando-os através de noções como a de recalcamento e sublimação, sonhos e livre associação. A psicanálise influenciou a sociedade e a arte admitindo comportamentos e  leituras da realidade alternativos aos do senso comum.

As vanguardas artísticas: rupturas com os cânones das artes e da literatura

O movimento modernista desenvolveu-se nos inícios do século XX a partir da Europa e em cidades cosmopolitas e com forte movimentação cultural como Paris, ponto de encontro das vanguardas culturais da Europa e do mundo. Reagindo contra o classicismo naturalista e o paradigma romântico e conformista do século XIX os movimentos artísticos vanguardistas procuraram exprimir um intimismo de raiz psicológica matizado com a visão relativista dos fenómenos, admitindo visões alternativas e desfigurando a realidade.