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Dedicado ao Irmão João Gonçalves Miguéis

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A MAÇONARIA DURANTE A DITADURA VARGAS

Roberto AguilarM. S. Silva1

João Gonçalves Miguéis2 Antecedentes históricos

As informações a seguir foram obtidas no site da Loja América (2008) extraído de escritos do Ir José Castellani. Em 1932, vivia, o Brasil, sob o regime implantado pelo golpe de 1930. Neste ano, o país já enfrentara uma conturbada situação político-social, quando a oposição ao governo da República já vinha se movimentando desde as eleições de março --- vencida pelo candidato oficial, Júlio Prestes de Albuquerque --- conspirando, para promover o levante armado contra o governo.

1 A.:R.:L.:S.: Sentinela da Fronteira No 53, Corumbá, MS, Brasil

2 A.:R.:L.:S.:Estrela do Oriente No 1, Corumbá, MS, Brasil

Júlio Prestes de Albuquerque. http://www.galeriadosgovernadores.sp.gov.br/03

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O estopim da revolta fora o assassinato de João Pessoa3, governador da Paraíba, o qual fora candidato a vice-presidente na chapa de oposição, encabeçada por Getúlio Vargas.

Pessoa foi morto a tiros, por João Duarte Dantas, por simples questões familiares da Paraíba --- muito comuns, na região Nordeste, na época --- e sem qualquer motivo político, mas o fato foi, matreiramente , aproveitado pela oposição. A revolta ocorreria a 3 de outubro, partindo dos três Estados ligados pela Aliança Liberal : do Rio Grande do Sul, partiam as tropas do Exército e da Polícia, comandadas pelo tenente-coronel Góis Monteiro ; partindo da Paraíba, o capitão Juarez Távora conseguia dominar todos os Estados do Norte e do Nordeste; e, em Minas Gerais, eram dominados os focos fiéis ao governo federal e as tropas ameaçavam os governos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

3 João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque (Umbuzeiro, 24 de janeiro de 1878 — Recife, 26 de julho de 1930) foi um político brasileiro. Sobrinho do ex-Presidente da República Epitácio Pessoa. Quando ainda presidente do estado da Paraíba e já candidato a vice-presidente, foi assassinado, em Recife, por João Duarte Dantas, seu adversário político, jornalista, cuja residência fora invadida por elementos da polícia, supostamente a mando de João Pessoa, que culminou com a publicação nos jornais da capital do estado, de cartas íntimas trocadas com a professora Anayde Beiriz.

Getúlio Vargas e João Pessoa, pouco antes da Revolução de 1930.http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Pessoa_Cavalcanti_de_Albuquerque

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A Revolução Constitucionalista

Conforme o site da Loja América (2008) em 1932, já voltara a ser tensa a situação político-social do país, pela demora do Governo Provisório, do caudilho Getúlio Vargas, em providenciar uma nova Constituição ao Brasil. À euforia dos primeiros momentos após o golpe, sucedia o desencanto, seguido da inquietação, que acabaria envolvendo os meios maçônicos. E essa inquietação, com a conseqüente agitação dos meios sociais, era mais forte em São Paulo, levando à extrema irritação os que, anteriormente, eram os mais fervorosos adeptos do levante, ou seja, os membros do Partido Democrático, os quais se sentiam esbulhados do poder, por interventores militares e estranhos ao Estado de São Paulo. Já a partir do início de 1931, da pena do advogado, jornalista e tribuno Ibrahim Nobre, maçom originário da Loja Fraternidade de Santos, saiam críticas mordazes contra o golpe e a situação social, publicadas no jornal paulista "A Gazeta". No início de 1932, então, o pensamento da população de São Paulo seria cristalizado na expressão "Civil e Paulista", repetida pelos meios de comunicação, externando o desejo de ter um interventor federal que não fosse militar e que fosse de São Paulo. A 3 de março, ouvindo o clamor dos paulistas, o ditador nomeava, para o cargo, o embaixador Pedro de Toledo4, ex Grão Mestre

4 Pedro Manuel de Toledo (São Paulo, 29 de junho de 1860 — Rio de Janeiro, 29 de julho de 1935) foi um advogado, diplomata e político brasileiro. Foi o quarto interventor federal a ocupar o governo do estado de São Paulo.

Juarez do Nascimento Fe rnandes Távora (Jaguaribemirim, actual Jaguaribe, 14 de janeiro de 1898 – Rio de Janeiro, 18 de julio de 1975). http://es.wikipedia.org/wiki/Juarez_T%C3%A1vora

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do Grande Oriente Estadual (1908-1914), o qual assumiria no dia 7. Essa indicação, todavia, não serviu para aliviar o mal estar e a tensão reinantes em diversos pontos do país, começando, dessa maneira, a fermentar a revolta. As reuniões preparatórias do movimento foram levadas a efeito na sede do jornal "O Estado de S. Paulo", fundado, em 1875, com idéias republicanas, pelos maçons Américo de Campos5 (Loja América), Francisco Rangel Pestana6 (Loja América), Manoel Ferraz de Campos Salles7 (Loja Sete de Setembro) e José Maria Lisboa (Loja Amizade). Nessa época, o jornal já era dirigido por Júlio de Mesquita Filho (Loja União Paulista II), que era um dos principais líderes do movimento. O estopim da revolta já havia sido aceso a 23 de maio de 1932, quando, durante uma manifestação , na praça da República, alguns jovens --- Mário Martins de Almeida, Amadeu MartinS, Euclides Miragaia, dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo de Camargo, cujos nomes deram origem ao M.M.D.C.8 --- foram

5 Américo Brasílio de Campos (Bragança Paulista, 12 de agosto de1835 — Nápoles, 28 de janeiro de 1900) foi um advogado e político brasileiro.Formado pela Faculdade de Direito de São Paulo, foi promotor público e fez da imprensa uma tribuna para defender seus ideais abolicionistas e republicanos. De 1865 a 1874 foi diretor e redator do Correio Paulistano, de onde saiu para fundar em 1875, com Francisco Rangel Pestana, o jornal A Província de S. Paulo, que, com o advento da República, passou a chamar-se O Estado de S. Paulo. Em 1884, com José Maria Lisboa, fundou o Diário Popular. Proclamada a República, foi nomeado cônsul do Brasil em Nápoles, onde faleceu. Foi um importante defensor dos ideiais republicanos e membro da Convenção de Itu. Obtido em http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rico_Bras%C3%ADlio_de_Campos"

6 Francisco Rangel Pestana (Nova Iguaçu, 26 de novembro de 1839 — São Paulo, 17 de março de 1903) foi

um jornalista e político brasileiro. Signatário do Manifesto Republicano (1870), foi deputado da província de São Paulo em diversas legislaturas e, proclamada a República, assumiu a direção da província no triunvirato em que também faziam parte Prudente de Morais e o coronel Joaquim de Sousa Mursa. Em 1890, foi eleito senador, cargo que exerceu até 1896.

7 Manuel Ferraz de Campos Sales (Campinas, 15 de Fevereiro de 1841 — Santos, 28 de junho de 1913) foi um advogado e político brasileiro, terceiro governador do estado de São Paulo, de 1897 a 1898, presidente da República entre 1898 e 1902. 8 O MMDC foi organizado como sociedade secreta, na Capital de S. Paulo, a 24 de maio de 1932, tendo sido

projetado durante um jantar no Restaurante Posilipo, por Aureliano Leite, Joaquim de Abreu Sampaio Vidal, Paulo Nogueira e Prudente de Moraes Neto, aos quais se juntaram, em reunião posterior, no Clube

Comercial, Cesário Coimbra, Antônio Carlos Pacheco e Silva, Francisco Mesquita, Edgard Batista Pereira, Francisco A. Santos Filho, Bernardo Antônio de Moraes, Alberto Americano, Roberto Victor Cordeiro, Carlos de Souza Nazaré, capitão Antônio Pietcher, Bueno Ferraz, José A. Telles de Mattos, Gastão Grossé Saraiva,

Herman de Moraes Barros, Flávio B. Costa, Moacyr Barbosa Ferraz, Bráulio Santos, Waldemar Silva, Jorge Rezende, e Thiago Mazagão Filho. Inicialmente, a sociedade foi chamada "Guarda Paulista", mas, depois, foi

fixada em MMDC, em homenagem aos jovens mortos a 23 de maio. Na fase de conspiração, que levaria ao

movimento de 9 de julho, organizou pelotões de voluntários, distribuídos por toda a Capital. Durante o desenrolar da luta, a 10 de agosto, pelo Decreto no. 5627-A, o governo do Estado oficializou o MMDC, cuja direção foi entregue a um decenvirato, presidido por Waldemar Martins Ferreira, secretário da Justiça, e

tendo, como superintendente, Luís Piza Sobrinho. Inicialmente instalado na Faculdade de Direito, foi, depois, para o antigo Fórum, na rua do Tesouro, e para o prédio da Escola de Comércio Álvares Penteado. Durante o movimento constitucionalista, cuidou da intendência geral, das finanças, da direção geral do abastecimento,

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mortos pela polícia política da ditadura, entrincheirada nos altos de um prédio da rua Barão de Itapetininga. No mesmo dia, era reorganizado o secretariado do governo paulista. Estranhamente, em sessão de 25 de maio, da Loja Piratininga, para a eleição da administração, no período 1931-1932, nada se comentou sobre esse fato marcante, preferindo, os obreiros, deter-se sobre uma crise no Grande Oriente do Brasil, onde rebeldes contestavam a autoridade do Grão-Mestre, Octavio Kelly9, ao qual a Piratininga apoiava, totalmente, na Assembléia Geral. Júlio de Mesquita Filho, depois de ter conseguido organizar uma frente única dos partidos de S. Paulo, entrou em entendimento com líderes da Frente Única Sul-riograndense, nas pessoas de João Neves da Fontoura e Glicério Alves. Pelo Rio Grande do Sul, com concordância do interventor, Flores da Cunha, foi firmado um pacto entre paulistas e riograndenses, o qual os obrigava a recorrer às armas, caso o interventor de um dos dois Estados fosse destituído, ou se houvesse a substituição do gal. Andrade Neves do comando da região militar do Rio Grande do Sul, ou do gal. Bertholdo Klinger10, da guarnição de Mato Grosso. O governo ditatorial reagia ao movimento, tentando asfixiar o Estado de S. Paulo e, enquanto o governo paulista prevenia-se, para não sofrer um golpe de surpresa, na Capital Federal, vários fatos políticos e militares levavam à exoneração do ministro da Guerra, a 28 de junho, com a nomeação do general Espírito Santo Cardoso, há muito tempo reformado e afastado da tropa. Isso suscitou a revolta de Klinger, externada num agressivo ofício, datado de 1o. de junho, dando conhecimento do que resolvera, a Pedro de Toledo. Exonerado, por isso, estava criado o motivo suficiente, que fora exigido por Flores da Cunha, para que o Rio Grande entrasse na luta. Ele, todavia, além de não cumprir o acordo, ainda enviaria tropas contra São Paulo. Em reunião realizada no dia 7 de julho, com a presença de Francisco Morato, Ataliba Leonel, Sílvio de Campos, coronel Júlio Marcondes Salgado e general Isidoro Dias Lopes11, ficou decidido que o levante aconteceria no dia 20, dos departamentos de engenharia, de saúde, de propaganda e militar, do correio militar e dos serviços auxiliares. (do Arquivo do Estado). 9 Otávio Kelly (Niterói, 20 de abril de 1878 — Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1948) foi um magistrado e escritor brasileiro, ministro do Supremo Tribunal Federal de 1934 a 1942.

10 Bertoldo Klinger (Rio Grande, 1884 — Rio de Janeiro, 1969) foi um militar brasileiro. Em 1901 ingressou na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Participou da Revolta da Vacina em 1904 e, em função disso, foi preso, retornando ao exército somente no ano seguinte. Em 1924 foi novamente preso, acusado de colaborar com a revolta tenentista em São Paulo. Em 1932 uniu-se aos grupos dirigentes paulistas que preparavam uma revolução contra a ditadura imposta por Getúlio Vargas, chamada Revolução de 1932, tendo sido escolhido para chefiar militarmente o movimento, que perdurou entre julho e setembro daquele ano. Preso após a rendição do exército paulista, foi em seguida enviado para exílio em Portugal. Em 1934 recebeu anistia e retornou ao Brasil. Foi readmitido pelo Exército Brasileiro em 1947, passando em seguida para a reserva. Anos depois, em 1964, apoiou o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart e implantou o regime militar no país.

11 Isidoro Dias Lopes (Dom Pedrito, 1865 — Rio de Janeiro, 1949) foi um militar e político brasileiro. Entrou

para o Exército em 1883 em Porto Alegre. Apoiou o movimento que pôs fim ao Império. Em 1893, abandonou o Exército e participou da Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul, contra o governo de Floriano Peixoto. Após a derrota dos federalistas, em 1895 foi para o exílio em Paris. Em 1896 voltou ao Brasil , foi anistiado e retornou ao Exército no Rio de Janeiro, continuando a carreira. Participou da articulação e da Revolução de 1924 em São Paulo e posteriormente juntou-se a Coluna Prestes. Em 1930 após a derrota da Aliança Liberal

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sob o comando de Isidoro e do coronel Euclides Figueiredo. Pedro de Toledo ainda tentou evitar a revolta, mandando seu genro ao Rio de Janeiro, no dia 8, para conferenciar com Vargas. Todavia, em nova reunião, nesse dia, resolveu-se deflagrar o movimento no dia 10, antes que chegasse a S. Paulo o gal. Pereira de Vasconcellos, para assumir o comando da Região Militar. A 9 de julho, um sábado, a revolta constitucionalista estava nas ruas. Embora algumas obras didáticas situem o início do movimento às 24 horas desse dia, ele eclodiu às 11,40 hs., sob o comando de Euclydes Figueiredo, com a tomada do Q.G. da 2a. Região Militar. No mesmo dia, às 23,15 hs., as sociedades de rádio eram tomadas por civis e, a partir das 24 horas --- daí a confusão de alguns autores --- começava a ser repetida a seguinte mensagem: “De accordo com a Frente Única Paulista e com a unànime aspiração do povo de São Paulo e por determinação do general Izidoro Dias Lopes, o coronel Euclydes Figueiredo acaba de assumir o comando da 2a. Região Militar tendo como Chefe do Estado Maior o coronel Palimercio de Rezende. A oficialidade da Região assistiu incorporada no QG à posse do coronel, nada havendo occorrido de anormal. Reina em toda a cidade intenso júbilo popular e o povo se dirige em massa aos quartéis, pedindo armas para a defesa de São Paulo”. No dia 10, o interventor Pedro de Toledo era aclamado, pelo povo, pelo Exército e pela Força Pública, governador de S. Paulo. No dia 12, o general Bertholdo Klinger desembarcava na Estação da Luz e, no QG da 2a. R.M., na rua Conselheiro Crispiniano, diante do microfone da Rádio Educadora Paulista, recebia o comando da região de S. Paulo, transmitido por Euclydes, que, na tarde do mesmo dia, iria para Cruzeiro, onde assumiria o comando da vanguarda das tropas constitucionalistas. Deixado sozinho, na luta pela Constituição e pelo Brasil, os combatentes de S. Paulo, sem recursos, iriam resistir durante três meses. Sem o esperado apoio de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, as tropas paulistas, que ocuparam o vale do Paraíba, ao longo da Estrada de Ferro Central do Brasil, não conseguiram avançar além da divisa com o Estado do Rio. O bloqueio do porto de Santos e a grande concentração de forças federais, vindas de todos os Estados, venceram a resistência dos soldados paulistas, graças ao esgotamento de seus recursos. A 28 de setembro, a luta chegava ao fim. Sem que o governo civil fosse consultado, Klinger enviou emissários aos adversários, com propostas de paz e um telegrama a Vargas propondo suspensão do conflito. Fracassados os entendimentos, porque os termos do armistício eram humilhantes para São Paulo, elementos do comando geral da Força Pública --- seu comandante, Júlio Marcondes Salgado, extraordinário defensor da causa paulista, havia falecido num estúpido acidente com uma granada --- sob o comando do coronel Herculano Silva, assinaram a vexatória rendição, na noite de 1o para 2o de outubro, submetendo-se ao governo ditatorial, em troca de vantagens para os seus oficiais. Herculano foi indicado --- prêmio? --- para assumir o governo e, no dia 2, às 15,30 hs, mandava três oficiais seus, ao palácio dos Campos Elíseos, para depor Pedro apóia a Revolução de 1930 e participa do governo de Getúlio Vargas, como comandante da 2ª Região Militar em São Paulo. Em 1931 se indispõe com Vargas e é substituído por Góis Monteiro. Em 1932 participa da Revolução Constitucionalista, e acaba deportado para Portugal . Anistiado em 1934 retorna ao Brasil. Em 1937, afastado da política, critica o golpe e a ditadura do Estado Novo.

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de Toledo12. A voltar, a Piratininga, à atividade, a 3 de novembro, o Venerável Mestre comunicava que, embora tivesse, a Loja, deixado de funcionar por determinação superior --- do Grande Oriente de S. Paulo, dirigida a todas as suas Lojas --- mas que a sua diretoria havia continuado a se reunir, semanalmente, para tomar conhecimento do expediente e para resolver os assuntos mais urgentes. E Vaz de Oliveira, interpretando o pensamento da Piratininga e de todo o povo paulista, dizia que "não pode deixar de saudar ao povo paulista pela dedicação, patriotismo e heroísmo, que tão fortemente demonstrou na guerra em que se empenhou, heroísmo que igual, quanto mais maior, em nenhuma guerra aponta a história, mesmo na mundial, bem como não pode ser apontada maior traição do que a sofrida pelos paulistas, para cujos traidores deve todo maçom cônscio dos seus deveres, evitar convívio, votando-lhes desprezo".

A Constituinte de 1934

Em novembro de 1933, diante da instalação da Assembléia Nacional Constituinte, que era a aspiração dos paulistas, no movimento de 1932, a notícia era saudada pelos obreiros da Loja. E o Orador, Ramon Roca Dordal, propunha a inserção, em ata, de um voto de louvor e aplauso, por aquela instalação. Aprovada, unanimemente, a proposta, Alexandre de Albuquerque dizia que havia votado como paulista de coração e na qualidade de ex-combatente, mas propunha um adendo àquela resolução: que o voto de louvor e aplauso fosse extensivo ao fato da volta, a São Paulo, do Irmão Pedro de Toledo, que havia sido exilado. Em 1934, no dia 23 de maio, emblemático para a alma paulista, depois de cumprimentos ao Irmão do quadro, Alexandre de Albuquerque, pela homenagem que recebera do Instituto de Engenharia, como um importante engenheiro civil de S. Paulo e pela sua atuação na Revolução Constitucionalista, Guilherme de Carvalho, dizendo que aquela era a "data anniversaria da libertação paulista", pedia que a sessão fosse encerrada, em homenagem a ela e aos jovens mortos em 32. E Roca Dordal, inflamado, referia-se "à posição injusta em que, por todos os meios, procurava a dictadura collocar S. Paulo, que, muito embora vencido nos seus altos desideratuns pela eventualidade de circunstancias ligadas à força,

12 O extraordinário paulista, Pedro de Toledo, nesse dia, recebia, com extrema dignidade e serenidade, a desgraça que se abatia sobre si e sobre S. Paulo, dizendo, apenas: "São Paulo não foi derrotado! Fomos traídos e vencidos no campo das armas! Os ideais que nos levaram à luta, porém, serão vitoriosos". Por volta das 18 horas do dia 2, quando se preparava para deixar os Campos Elíseos, ele ouvia a voz do tenente Cândido Bravo, rompendo o pesado silêncio, que cercava o fim de um sonho: --- Senhor governador, estaremos sempre juntos. Emocionado, ele respondia: --- Nem poderia ser de outra forma! Estamos com São Paulo! (segundo reportagem de Silveira Peixoto, em A Gazeta, de 3-10-1932)

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assim não se considerava; devido a nobreza da causa que defendera, e graças a sua força moral, ao progresso a que soube elevar-se, conseguiu o fim que almejava, e mantém-se firme e admirável na conquista do justo e do direito, não só para o seu bem, mas para o do Brasil – não discrepou do lugar de destaque em que o colocaram os seus antepassados; antes mesmo continuou o seu traçado de luta e de glória, impondo-se à admiração mundial". Poderia, até, ter terminado sua fala, com a citação de um pequeno trecho do vibrante "Minha Terra", oração de bandeirantismo do Irmão Ibrahim Nobre, o tribuno de São Paulo13. Fazendo juz ao seu título distintivo, na São Paulo de Piratininga, a Loja firmava-se como a Piratininga de São Paulo. Em julho, promulgada a nova Constituição brasileira, pela qual lutara S. Paulo, em 32, Roca Dordal tecia comentários sobre a instituição maçônica e a luta de São Paulo: "A reunião de quatro confrarias, em Londres, em 1717, dá origem à Maçonaria – que um grupo de homens destemidos, fortes, cançados da tyrania e da escravidão, que envolvia a nação e, podemos dizer, a Europa, resolveram traçar novos princípios regeneradores dos costumes da Humanidade sofredora. É a Maçonaria --- que em breve seria forte bastante para pôr um dique ao despotismo universal. Mas essa seita, essa reunião de homens de ideaes e de vontades inquebrantaveis, teve de preparar sua lucta sem tréguas ao obscurantismo e á oppressão. Agrupados esses homens de costumes puros, de energia e coragem para os mais duros sacrifícios, entraram a pregar no meio da sociedade com o mais absoluto sigilo, escolhendo os homens, que dedicados até ao sacrifício, desejavam uma Humanidade melhor. E o sacrifício é necessário! Não ha na historia da Humanidade uma conquista que não custasse rios de sangue e sacrifícios sem conta, áquelles que primeiro se opuzerão ao arbítrio e á tyrania. São Paulo recolhe os beneficios de uma Constituição, pelo sacrifício dos que não se submetteram ao capricho de uma dictadura, de um poder discricionario e tyranico. É o fim que almejavam os sinceros maçons, cujos sacrifícios serão pequenos, em face da vitória alcançada". Infelizmente, a frágil Constituição de 1934, não garantiria a continuidade de um regime realmente democrático, como viria a comprovar o golpe de 10 de novembro de 1937 (América, 2008).

13 "Terra Paulista! Da tua carne, massapé e honesta, do teu ventre de Mãe, fecundo e são, veio a alma que realizou a nacionalidade, imprimindo-lhe o sentido da Independência e os rumos católicos da Civilização. De ti proveio o homem que defrontou a natureza peito a peito e que a venceu e a dominou a facão e a fé! Tu deste geografia ao Brasil! Essa terra toda, que aí se estende e se esparrama e se perde por esse mundo grande de Deus, tudo isso tem os seus limites demarcados, não apenas pelos rios que se vadearam, pelas grimpas transpostas, pelas florestas vencidas! Mas, sobretudo, pelas sepulturas dos teus filhos, Minha Terra! Balisas! Picadas! Cruzes! Paulistas, paulistas, paulistas"! - IBRAHIM NOBRE – 1931.

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O Estado Novo No dia 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas14 anunciava o Estado Novo, em cadeia de rádio. Iniciava-se um período de ditadura na História do Brasil. O Golpe de Getúlio Vargas foi articulado junto aos militares e contou com o apoio de grande parcela da sociedade, pois desde o final de 1935 o governo havia reforçado sua propaganda anti comunista, amedrontando a classe média, na verdade preparando-a para apoiar a centralização política que desde então se desencadeava. De acordo com (Historianet, 2008) a partir de novembro de 1937 Vargas impôs a censura aos meios de comunicação, reprimiu a atividade política, perseguiu e prendeu inimigos político. Conforme Silva (2005) em 1937, o Estado autoritário que vinha sendo construído pelas práticas discursivas e pela reorganização e atuação de uma polícia política, produzindo informações sobre o perigo das ideologias externas que invadiam o país, se consolidou com Getúlio Vargas declarando à nação que: “Tanto os velhos partidos, como os novos em que os velhos se transformaram sob novos rótulos, nada exprimem ideologicamente, mantendo-se à sombra de ambições pessoais ou de predomínios localistas, a serviço de grupos empenhados na partilha dos despojos e nas combinações em torno de objetivos subalternos (...) as novas formações partidárias surgidas em todo o mundo, por sua própria natureza refratárias aos processos democráticos, oferecem perigo imediato para as instituições, exigindo, de maneira urgente e proporcional à virulência dos

14 Getúlio Dorneles Vargas (São Borja, 19 de abril de 1882 — Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954) foi um

político brasileiro, chefe civil da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha depondo seu 13º e último presidente Washington Luís. Getúlio Vargas foi por duas vezes presidente da república. Na primeira vez, de 1930 a 1945, governou o Brasil em três fases distintas: de 1930 a 1934, no governo provisório; de 1934 a 1937, no governo constitucional, eleito pelo Congresso Nacional; e de 1937 a 1945, no Estado Novo. Na segunda vez, de 1951 a 1954, governou o Brasil como presidente eleito por voto direto.

Getúlio Vargas .

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antagonismos, o esforço do poder central. Isto já se evidenciou por ocasião do golpe extremista de 1935 (...) o perigo das formações partidárias sistematicamente agressivas à Nação, embora tenha por si o patriotismo da maioria absoluta dos brasileiros e o amparo decisivo e vigilante das forças armadas, não dispões de meios defensivos eficazes dentro dos quadros legais, vendo-se obrigada a lançar mão, de modo normal, das medidas excepcionais que caracterizam o estado de risco iminente da soberania nacional e da agressão externa”. Os trechos supracitados são partes dos pronunciamentos utilizados por Vargas na implantação do Estado Novo. São declarações nas quais o representante do Estado colocava- se como “saneador” de uma grande ameaça que se espalhava pela nação através da ação dos inimigos, num primeiro momento apontados entre os comunistas (Silva, 2005).

Segundo o site da Loja Triumpho do Direito (2008) o Ir.: José Castellani o escreveu o seguinte sobre o Estado Novo e o fechamento das Lojas Maçônicas: a essa altura dos acontecimentos (1937), o ambiente político do país voltava a ficar agitado, diante de nova campanha presidencial --- já que o mandato de Getúlio Vargas deveria se encerrar em 1938 --- à qual se apresentaram duas candidaturas: a de José Américo de Almeida --- político, literato e figura de projeção no Nordeste --- e a do governador de S. Paulo, Armando de Salles Oliveira, sendo, a do primeiro, ostensivamente apoiada pelo governo federal. Vargas, todavia, com sua formação caudilhesca, já se preparava para se instalar como senhor absoluto, impedindo as eleições. Já nos primeiros meses de 1937, muitos políticos ligados ao governo sabiam que uma nova Constituição havia sido elaborada por Francisco Campos, ministro da Justiça, com planos de continuísmo. Além de Campos, participavam da operação, para levar a cabo um golpe de Estado, o general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra, o general Góis Monteiro, chefe do Estado Maior do Exército, e Agamenon Magalhães, ministro do Trabalho. Os governadores de Estados, que não aderiram aos planos de Vargas, foram obrigados a se demitir, ou a fugir para o Exterior. E, em outubro de 1937, o governo solicitava, ao Congresso Nacional, a decretação do Estado de guerra, com base na existência de um vasto plano de terrorismo comunista, denominado "Plano Cohen". Todavia, como o próprio Góis Monteiro declararia, mais tarde, o Plano Cohen não passava de um documento forjado por um oficial integralista do Estado Maior. Era mais um embuste de Vargas, utilizando, em seu proveito, as lutas das facções extremistas. Com a decretação do estado de guerra, conseguida graças à ovina docilidade do Congresso Nacional, o governo não tardou a dar o golpe de Estado. E este aconteceria a 10 de novembro de 1937,quando era dissolvido o Congresso, dissolvidos todos os partidos, extinta a Constituição de 1934 e imposta aquela elaborada por Francisco Campos. Estava implantado o chamado "Estado Novo", regime ditatorial de direita, a exemplo daqueles existentes na Itália, na Alemanha, em Portugal, na Espanha e na Polônia, numa época em que a conjuntura internacional favorecia a implantação do nazi-fascismo. Esse fato iria repercutir em todas as instituições sociais brasileiras, inclusive na Maçonaria. O fechamento desta foi aconselhado, ao governo, a 25 de novembro de 1937, pelo general Newton Cavalcanti, membro do Conselho de Segurança Nacional. E embora isso possa não ter ocorrido entre as

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Lojas do então Distrito Federal --- provavelmente por mediação de algum figurão do novo regime --- o mesmo não se pode dizer do resto do país. No Estado de São Paulo, por exemplo, podem ser tomados os casos de cinco Lojas, de quatro cidades, de diferentes regiões do Estado:

1. Na Loja Piratininga, da Capital, o Livro de Atas nº 45 foi encerrado na folha nº 84, com o final da ata nº 2.993, de 20 de outubro de 1937. Nessa mesma folha, consta um termo, com os seguintes dizeres: "Tendo sido, por ordem das autoridades do país, fechados os templos maçônicos e interrompidos os nossos trabalhos, os trabalhos de reabertura foram, por deliberação da Diretoria, lançado em um livro de atas, a partir de 17 de janeiro de 1940, data em que foi permitido, novamente funcionarem as Lojas. Ass. : A. Pacheco Júnior - Secretário". Na ata nº 2.994, de 17 de janeiro de 1940, consta que o Ir.: Secretário informa que não pode dar leitura à ata dos últimos trabalhos, em virtude de terem sido, os arquivos, apreendidos pela autoridade policial; é resolvido, então, que se inicie um novo livro de atas e um novo livro de presenças.

2. Na Loja Fé e Perseverança, de Jaboticabal, consta, em ata de 29 de outubro de 1937, que o Venerável Mestre, major Hilário Tavares Pinheiro, informava que "em virtude de Lei Federal editada pelas autoridades do País, foi fechada toda a Maçonaria brasileira e, por esse motivo, fica, de hoje em diante, fechada esta Loja, até ulterior deliberação". A Loja só iria ser reaberta, oficialmente, a 3 de setembro de 1943, embora, já a partir de 1940, as demais Lojas tenham voltado a funcionar. A data de 29 de outubro --- quando a Loja foi fechada --- pode ter sido registrada com erro (seria 29 de novembro), ou pode ser verdadeira, reforçando, então, a tese de que as Lojas começaram a ser fechadas já quando o Estado Novo estava sendo articulado, em sua fase final.

3. Na Loja Firmeza, de Itapetininga, não constam atas do período compreendido entre outubro de 1937 e janeiro de 1940. No dia 20 de janeiro de 1940, cogitava-se da autorização policial para a reabertura da Oficina.

4. Na Loja Ordem e Progresso, da Capital, o Livro de Atas nº 18 termina, abruptamente, à folha 68, estando, todas as demais, até à última, de nº 100, em branco. Nessa folha 68, está lavrada a ata da sessão de 27 de setembro de 1937, na qual foram lidos diversos artigos de jornais, criticando o integralismo de Plínio Salgado. A ata seguinte, no livro nº 19, tem a data de 5 de outubro de 1941, sendo registrada como a primeira reunião de reabertura dos trabalhos, realizada na rua Passos, nº 246, residência do Irmãos Serpa Sobrinho. Nela consta, textualmente, o seguinte: "Os trabalhos foram abertos às 15 horas e de acordo com a convocação feita pelo Ir.: Serpa, o qual foi aclamado Secretário, em continuação de mandato, por se achar exercendo esse cargo na ocasião em que, por ordem do governo federal, foram suspensos os trabalhos". Para dirigir os trabalhos, foi aclamado o Irmão Elias Rahal e, para Orador, o Irmãos Luís Trento. O Ir.: Serpa declarava, na ocasião, que a reunião era para tratar da reabertura dos trabalhos, pois a Loja "Ordem e Progresso", uma das mais antigas e das de maior tradição em São Paulo, não podia continuar inativa, pois grande parte das suas co-irmãs já

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se achava em funcionamento; ao final dos trabalhos, deliberou-se convocar outra reunião, para, definitivamente, serem reiniciados os trabalhos no templo.

5. A Loja Estrela de Santos, de Santos, fundada a 22 de junho de 1937, embora tenha recebido sua Carta Constitutiva, a 8 de outubro de 1937, só iria ser regularizada a 1 de agosto de 1942. Além disso tudo, não foram fundadas novas Lojas no Estado, em todo esse período. E o Boletim Oficial do Grande Oriente de S. Paulo interrompeu sua publicação em outubro de 1937 --- quando foi publicado o último número da década --- só a tendo restabelecida em 1943.

O Funcionamento da Loja Estrela do Oriente n o 1 Durante a Ditadura Vargas

Em 27 de junho de 1937 A∴R∴L∴S∴ Estrela do Oriente, foi fechada. Momentos antes de ser fechada o Ir∴Natala Abraão, entra na Loja e retira todos os livros e documentos, salvando desta maneira o acervo documental da Loja. Em Corumbá, MS, apenas uma Loja a A∴R∴L∴S∴ Estrela do Oriente manteve-se funcionando na clandestinidade. Em 27 de outubro de 1937 aconteceu a primeira sessão clandestina, na residência do V∴M∴ João Baptista de Oliveira Mota. A sua residência estava situada à rua Major Gama em frente ao antigo Fórum.

V∴M∴ João Baptista de Oliveira Mota.

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Em novembro de 1938 ocorreu a abertura das Lojas Maçônicas em

Corumbá. A ordem foi dada pelo Comandante da 9° região Militar o General José Pessoa15. E finalmente em 10 de novembro de 1938 ocorreu a primeira sessão regular da ARLS Estrela do Oriente, após a abertura.Porem em outros orientes como o paulista a reabertura das Lojas somente ocorreu em 1940, e deveu-se à atitude destemida de Benedicto Pinheiro Machado Tolosa, que, em plena vigência do Estado Novo, compareceu, como Grão-Mestre Adjunto, no exercício do Grão-Mestrado --- o Grão-Mestre, José Adriano Marrey Júnior estava licenciado --- perante as autoridades policias a serviço da ditadura, e assumiu desassombradamente, o compromisso de responsabilidade pessoal pela manutenção da ordem, o que fez com que fossem autorizados os trabalhos maçônicos.

15 José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque , conhecido como marechal José Pessoa, (Cabaceiras-PB, 12

de setembro de 1885 — Rio de Janeiro, 16 de agosto de 1959) foi um militar brasileiro. Filho de Cândido Clementino Cavalcanti de Albuquerque e de Maria Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, era sobrinho de Epitácio Pessoa, presidente da República de 1919 a 1922, e irmão de João Pessoa, presidente da Paraíba de 1928 a 1930. Assentou praça em 1903 no 2º Batalhão de Infantaria em Recife, seguindo depois para a Escola Preparatória e de Tática em Realengo (Rio de Janeiro). Transferiu-se em 1909 para a Escola de Guerra em Porto Alegre, de onde saiu aspirante-a-oficial. Esteve à disposição do Ministério da Justiça, servindo na Brigada Policial do Distrito Federal. Foi ajudante-de-ordem e assistente do comando da divisão de operações enviada a Mato Grosso para pacificar o estado em 1917 e, finalmente, serviu como ajudante-de-ordem e assistente do inspetor da 10ª Região Militar na Bahia. Participou da Revolução de 1930. Após um breve período como comandante do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, José Pessoa assumiu, ainda em 1930, o comando da Escola Militar do Realengo. Foi o grande idealizador da Academia Militar das Agulhas Negras, que só veio a ser fundada em 1944, bem como dos novos símbolos do Exército: uniformes históricos, brasão, espadim de Caxias etc. Em 1933 foi promovido a general-de-brigada e enfrentou, em 1934, um movimento de rebeldia dos cadetes do estabelecimento que comandava. Inconformado com a solução dada para o caso, demitiu-se do comando da escola, sendo nomeado em seguida inspetor e comandante do Distrito de Artilharia de Costa da 1ª Região Militar no Distrito Federal. Foi o fundador do Centro de Instrução de Artilharia de Costa. Somente em março de 1938, quatro meses após o advento do Estado Novo, recebeu outra comissão de comando. Inicialmente cogitado para um posto em Belo Horizonte, acabou nomeado comandante da 9ª Região Militar em Mato Grosso, promovendo intenso combate ao banditismo que então grassava no estado. No início de 1939, foi nomeado inspetor da arma de cavalaria, que tratou de modernizar, dotando-a de novos regulamentos. Adido militar em Londres de 1946 a 1947, retornou ao Brasil e, em abril de 1948, participou da fundação do Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional (Cedpen). Em torno do órgão se articularam, de modo amplo, estudantes, jornalistas, militares, professores e homens públicos, e em pouco tempo o centro se tornou o núcleo de uma campanha de mobilização da opinião pública em favor de uma solução nacionalista para a questão do petróleo. A Campanha do Petróleo como ficou conhecida, desembocou no estabelecimento do monopólio estatal em 1953 e na conseqüente criação da Petrobrás em 1954. Em 12 de setembro de 1949, foi transferido para a reserva no posto de general-de-exército. Promovido a marechal em janeiro de 1953. Foi convidado em 1954 pelo presidente Café Filho para ocupar a presidência da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, encarregada de examinar as condições gerais de instalação da cidade a ser construída. Em seguida, Café Filho homologou a escolha do sítio da nova capital e delimitou a área do futuro Distrito Federal, determinando que a comissão encaminhasse o estudo de todos os problemas correlatos à mudança. A comissão encerrou seus trabalhos em 1956. Brasília foi erigida no local escolhido pelo Marechal josé pessoa, que, também, idealizou o Lago Paranoá e a estruturação da cidade ao longo de dois eixos transversais. http://www.eltheatro.com/destaque16.htm

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Eram maçons , entre os principais participantes da Revolução Constitucionalista , os seguintes homens16: Júlio de Mesquita Filho (chefe civil da revolta) , Altino Arantes ; Pedro de Toledo ; Menotti del Picchia ; Ibrahim Nobre ; Paulo Duarte ; José Adriano Marrey Júnior (Grão-Mestre do Grande Oriente de S. Paulo) ; Benedicto Pinheiro Machado Tolosa17 (Venerável Mestre da Loja Piratininga e, depois , Grão-Mestre do Grande Oriente de S. Paulo) ; Thyrso Martins, Waldemar Ferreira ; Alcântara Machado ; Mergulhão Lobo ; Piragibe Nogueira ; Cincinato Braga ; Frederico Abranches , tenente Cândido Bravo .

16 http://www.lojasmaconicas.com.br/ jc_sinopses/sinopse/sip23.htm 17 Médico, pesquisador e professor da USP

General José Pessoa.

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Referências bibliográficas América. A Maçonaria Paulista na Revolução de 1932. A Participação de Destaque da Loja América. Extrato de Artigo de José Castellani http://www.america.org.br/documentos/ rev_const_1932.html. Acessado em 9/10/2008. Historianet. O Estado Novo http://www.historianet.com.br/conteudo/default. aspx?codigo=53. Acessado em 19/9/2008. Silva, G. B. No entre guerra, a situação dos integralistas na implantação do estado novo de Getúlio Vargas. Proj. História, São Paulo, v. 30, p. 229-241, 2005.Loja Triumpho do Direito. O Estado Novo e o fechamento das Lojas Maçônicas. Obtido de escritos do Ir.: José Castellani . Do livro "História do Grande Oriente de São Paulo" Editora do GOB – 1994. http://www.triumphodo direito.triunfo.nom.br/Tboestadonovo.htm. Acessado em 9/10/2008.

Benedicto Pinheiro Machado Tolosa .

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A Maçonaria Durante o Regime do General Francisco Franco na Espanha.

Na Espanha dos sécalos XIX e XX a Maçonaria teve momentos de grande poder até a Guerra Civil de 1936. Com a ditadura do general Francisco Franco, os Maçons se convirteram no símbolo por excelencia dos enemigos da Patria e foram perseguidos sem tregua.

General Francisco Franco.

Práxedes Mateo Sagasta Es colar (1825 — 1903) foi um dos dez Chefes do Governo espanhol entre 1868 e 1936 que era Maçom.

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Para entender a preseguição do General Francisco Franco à Maçonaria, é preciso conhecer a história da Guerra Civil Espanhola. Guerra Civil Espanhola

A chamada Guerra Civil Espanhola foi um conflito bélico deflagrado após um fracassado golpe de estado de um setor do exército contra o governo legal e democrático da Segunda República Espanhola18. A guerra civil teve início em 17 de julho de 1936 e terminou em 1° de abril de 1939, com a vitória dos rebeldes e a instauração de um regime ditatorial de caráter fascista19, liderado pelo general Francisco Franco.

Antecedentes historicos

18 A Segunda República Espanhola foi proclamada a 14 de Abril de 1931 na sequência da vitória republicana nas eleições municipais, tendo como primeiro presidente Niceto Alcalá Zamora. Após a demissão voluntária do general Miguel Primo de Rivera, Afonso XIII tentou devolver o debilitado regime monárquico ao caminho constitucional e parlamentar, apesar da debilidade dos partidos dinásticos. Para ele o governo da Coroa convocou uma ronda de eleições que deviam injectar legitimidade democrática nas instituições monárquicas. 19 O fascismo é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919, durante seu governo (1922–;1943 e 1943–;1945). Fascismo deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão camisas negras , em virtude do uniforme que utilizavam.

Francisco Franco.

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A derrubada temporária dos Bourbons absolutistas por Napoleão Bonaparte, em março de 1808, a Guerra de Independência contra a ocupação francesa, a abertura das Cortes de Cádiz, em 1810, e a proclamação da Constituição liberal de 1812 assinalam o desaparecimento do Antigo Regime espanhol, que, durante o reinado de Carlos III, chegou a ser considerado como um exemplo de Despotismo Esclarecido. Durante todo o século XIX e o início do século XX, no entanto, a Espanha não conseguiu completar, política e socialmente, a sua revolução burguesa de forma a produzir uma institucionalidade liberal-democrática estável.

O século XIX espanhol foi um período especialmente conflitivo, com lutas entre liberais e absolutistas, entre membros rivais da Casa de Bourbon20 (isabelinos e carlistas), e mais tarde entre monarquistas e republicanos, sobre o pano de fundo da perda das colônias americanas e filipinas.

A economia espanhola teve um crescimento rápido desde o final do século XIX até ao início do século XX. Em especial, as indústrias mineiras e metalúrgicas lucraram e expandiram-se enormemente durante a Primeira Guerra Mundial, fornecendo insumos a ambos os lados.

20 A Casa de Bourbon ou Burbom (Borbón em castelhano e Borbone em italiano) é uma importante casa real européia. Durante o século XVI, os reis Bourbon governaram Navarra e França.

Carlos III.

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Entretanto, os resultados desse crescimento não se refletiram em mudanças nas condições sociais. A agricultura, sobretudo na Andaluzia, continuou em mãos de latifundiários, que deixavam grandes extensões de terra sem cultivar. Somava-se a isto a forte presença da Igreja Católica, que se opunha às reformas sociais e se alinhava aos interesses da elite agrária. Finalmente, a monarquia espanhola apoiava-se no poder militar para manter o seu regime. O fim da monarquia e o advento da república, em 1931, em nada mudou esta configuração política básica, com a agravante de que Igreja e Exército se mantiveram monárquicos e as tentativas de golpe tornaram-se constantes.

Com o crescimento da economia, cresceu também o movimento operário. Após a fundação da primeira sociedade operária em Barcelona (1840), o movimento cresceu e se espalhou pelo país. Desde o início, e principalmente na Catalunha, a principal região industrial de Espanha, o anarquismo tornou-se a tendência política mais difundida entre os operários. A principal confederação sindical, a CNT (Confederación Nacional del Trabajo21), sob influência anarcossindicalista, recusava-se a participar na política partidária.

O choque entre classes é freqüente e violento. Desde o fim do século XIX até o início do século XX, grupos de extermínio, como o Sindicato Libre, procuram suprimir os sindicatos através do assassinato dos seus principais militantes. Do outro lado, grupos de militantes sindicalistas, como o famoso Nosotros, também assassina religiosos e industriais suspeitos de apoiar o Sindicato Libre. Insurreições armadas, tanto de direita como de esquerda, ocorrem com regularidade.

O fim da monarquia, a eleição da Frente Popular e o golpe

Com a renúncia do ditador Primo de Rivera22 após uma onda de escândalos de corrupção, o rei Alfonso XIII procurou restaurar o regime parlamentar e constitucional. Foram convocadas eleições municipais em Abril de 1931 e, embora

21 A Confederação Nacional do Trabalho (CNT) (em espanhol Confederación Nacional del Trabajo) é uma união confederal de sindicatos autônomos de ideologia anarcossindicalista da Espanha. 22 Miguel Primo de Rivera y Orbaneja , Marquês de Estella e de Ajdir (Jerez de la Frontera, 8 de Janeiro de 1870 — Paris, 16 de Março de 1930) foi um militar e ditador espanhol, fundador da organização fascista Unión Patriótica, inspiradora da União Nacional portuguesa. Miguel Primo de Rivera y Orbaneja nasceu em Jerez de la Frontera, província de Cádis, pertencendo a uma família de militares ilustres, na qual se destacava seu tio, Fernando Primo de Rivera (1831-1921), marquês de Estella, herói da terceira guerra carlista, governador das Filipinas e várias vezes Ministro da Guerra. Seguindo a tradição familiar, Miguel ingressou no exército aos 14 anos, tendo desenvolvido a maior parte da sua carreira em serviço nas colónias: Marrocos, Cuba e Filipinas, aonde acompanhou o seu tio. Nestes destacamentos, por mérito em combate, teve a oportunidade de ascender rapidamente na hierarquia militar pelo que em 1912 já era general. Depois de uma intensa carreira política, desautorizado pelos altos comandos militares e pelo rei Afonso XIII, em 1930, Primo de Rivera demitiu-se e auto-exilou-se em Paris, onde morreu dois meses mais tarde, amargurado e desiludido com aquilo que entendia ser a ingratidão dos seus compatriotas. O seu filho mais velho, José António Primo de Rivera, sucedeu-o na actividade política, alegadamente para reabilitar a memória paterna, sendo uma das figuras gradas da implantação do franquismo e o mítico fundador da Falange espanhola.

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os monarquistas tivessem sido vitoriosos, os republicanos conquistaram a maioria nas grandes cidades. Prevendo uma guerra civil, o rei Alfonso XIII prefere abdicar e é proclamada a Segunda República.

Rei Alfonso XIII.

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Novas eleições são convocadas para compor uma assembléia constituinte em Junho, que institui a separação entre Igreja e Estado. Por este motivo, Alcalá Zamora, chefe do governo provisório, abdica.

Novas eleições acontecem em Dezembro de 1931, nas quais a esquerda sai vitoriosa. Alcalá Zamora é eleito presidente da República e encarrega Manuel Azaña de organizar um governo. O governo da República não consegue avançar na resolução da questão das autonomias regionais, nem no encaminhamento da questões agrária e trabalhista. Na questão religiosa, a governo Azaña cedeu moderadamente ao espírito anticlerical que predominava no parlamento, através da dissolução da Companhia de Jesus23 na Espanha, ficando preservadas as demais ordens religiosas, que no entanto foram proibidas de dedicar-se ao ensino. Comprimido entre a direita e a Igreja - que viam a laicização do Estado e da educação de maneira muito negativa - e a esquerda e os anarquistas - os quais consideravam as mesmas reformas insignificantes - o governo Azaña é incapaz de agradar a população.

Como economia predominantemente agrário exportadora, a Espanha havia sido pouco atingida pela Crise de 1929: o desemprego era pequeno e o salário médio por dia trabalhado havia aumentado significativamente nos primeiros anos da Segunda República. Este aquecimento da economia aguçava as tensões sociais 23 A Companhia de Jesus (em latim: Societas Iesu, S. J.), cujos membros são conhecidos como jesuítas , é uma ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Inácio de Loyola. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional.

Niceto Alcalá-Zamora.

Miguel Primo de Rivera y Orbaneja.

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já existentes, e com elas a aguda divisão político-ideológica da sociedade, que já vinha do século anterior.

Em maio de 1931, os anarquistas incendiaram a Igreja dos Jesuítas na Calle de la Flor, no centro de Madrid. Em agosto de 1932, o general monarquista Sanjurjo tenta dar um golpe, mas fracassa. Condenado à morte, é depois indultado, continuando a conspirar na prisão.

Em 1933, a recusa dos anarquistas em dar apoio aos partidos de esquerda e sua propaganda pela "greve do voto" permitem a vitória eleitoral da direita, representada pela Confederação das Direitas Autônomas (CEDA) de José Maria Gil Robles. Segue-se uma insurreição da esquerda, que foi mal sucedida em toda a Espanha, menos nas Astúrias, onde os operários dominaram Gijón por 13 dias. Este evento ficou conhecido como Comuna das Astúrias.

Com milhares de militantes feitos prisioneiros, os anarquistas decidem apoiar a esquerda nas eleições de 1936. Espera-se que o novo governo lhes conceda anistia. A esquerda vence em 16 de Fevereiro, com 4.645.116 votos, contra 4.503.524 da direita e 500 mil votos do centro, mas as particularidades do sistema eleitoral - que favorecia as maiorias - dão à esquerda a maioria das cadeiras no parlamento.

Alcalá Zamora encarrega Azaña de formar um governo. Em maio de 1936, Alcalá Zamora é destituído e Azaña assume a Presidência da República, tendo como seu primeiro-ministro o socialista Largo Caballero. A direita então lança-se a preparar um golpe militar que se concretiza em 18 de Julho.

O desenrolar das operações: do golpe à vitória franquista

Se os militares rebeldes esperavam resolver a questão com um pronunciamiento rápido e sem muito derramamento de sangue, à maneira do século XIX, foram surpreendidos pelo nível de mobilização ideológica da sociedade espanhola da

General Sanjurjo.

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época: de modo geral, exceto em casos isolados, os militares triunfaram nas regiões onde a direita havia sido mais votada em fevereiro de 1936, enquanto a esquerda - principalmente pela ação das milícias armadas socialistas, comunistas e anarquistas - vence nas regiões onde havia sido mais votada a Frente Popular: em Madrid e Barcelona, a insurreição foi esmagada quase que imediatamente.

Em 21 de julho, os rebeldes controlavam o Marrocos Espanhol, as Canárias (exceto a ilha de La Palma), as Baleares (exceto Minorca) e o oeste da Espanha continental. As Astúrias, a Cantábria, o País Basco e a Catalunha, assim como a região de Madri e Murcia, estavam nas mãos dos republicanos. Mas os rebeldes conseguem apoderar-se das cidades mais importantes da Andaluzia: Sevilha - tomada pelo General Queipo de Llano24, que se tornaria tristemente célebre pelas suas atrocidades - Cádiz, Granada e Córdoba.

Muralhas de la Macarena, em Sevilha, onde foram assasinados os condenados pelo aparato jurídico militar do General Queipo. No pelotão de fuzilamiento, era regulamentar a presença de um sacerdote e um médico, que certificava a morte. Finalmente o pelotão desfilava na frente dos cadáveres.

As posições rebeldes no Sul da Espanha estando separadas de suas posições mais ao Norte, realiza-se a Campanha da Extremadura, quando o bombardeio de aviões alemães e italianos contra a marinha republicana no Estreito de Gibraltar, o que permite a passagem de tropas rebeldes do Marrocos para a Espanha.

24 Gonzalo Queipo de Llano y Sierra (Tordesillas, 5 de febrero de 1875 - Sevilla, 9 de marzo de 1951), foi um militar espanhol, “uno de los cuatro cabecillas” principais do golpe militar contra a II República Espanhola, cujo fracaso parcial originou a Guerra Civil española.

O bombardeio de aviões alemães.

Muralhas de la Macarena.

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Um avanço rápido de Sevilha a Toledo, realizado sob o comando do Tenente-Coronel Yagüe, que aplicava as técnicas alemãs de Blitzkrieg25, com avanços rápidos de tropas de infantaria apoiadas por artilharia e aviação (acompanhada pela eliminação sistemática de pessoas suspeitas na retaguarda) , possibilitou aos rebeldes nacionalistas tomarem Badajoz, em agosto de 1936, o que lhes permite organizar um frente coerente contra o campo republicano - estratégia esta, mais rotineira, adotada por Franco, que preferiu apoiar-se primeiro sobre a fronteira do Portugal de Salazar a tentar um avanço direto até Madrid, a partir do Sul.[2]

A morosidade dos rebeldes e a ação das milícias populares na defesa republicana fizeram com que o conflito assumisse, assim, um caráter ideológico e potencialmente revolucionário.

Uma vez tendo feito junção as forças rebeldes em Badajoz, inicia-se o avanço sobre Madrid, buscando-se encerrar a campanha o mais rápido possível. Em 28 de setembro, as forças rebeldes rompem o cerco republicano ao Alcazar de Toledo, defendido por José Moscardó desde 22 de julho - uma conquista sem muito significado estratégico mas que foi logo revestida de características lendárias (o filho de Moscardó teria sido fuzilado após haver pedido ao pai, ao telefone, que se rendesse26) e serviu de mito fundador do regime franquista.

Em 8 de novembro começa a Batalha de Madrid, mas o lento movimento das forças rebeldes, que haviam levado três meses deslocando-se a partir de Sevilha, permite ao governo republicano estabilizar o frente em 23 do mesmo mês. No Norte, os rebeldes tomam Irún em 5 de setembro e San Sebastián no dia 13, isolando o Norte republicano.

Em inícios de 1937, os rebeldes tentam novamente tomar Madri: uma ofensiva a partir de Jarama, de 6 a 24 de fevereiro, é apoiada pelo avanço de tropas de voluntários italianos fascistas na direção de Guadalajara, de 8 a 18 de março. A

25 O Blitzkrieg (termo alemão para guerra-relâmpago) foi uma doutrina militar a nível operacional que consistia em utilizar forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tivessem tempo de organizar a defesa. Seus três elementos essenciais eram a o efeito surpresa , a rapidez da manobra e a brutalidade do ataque, e seus objetivos principais a desmoralização do inimigo e a desorganização de suas forças (paralisando seus centros de controle). O arquitecto desta estratégia militar foi o general Erich von Manstein 26 O coronel José Moscardó, comandante da Academia Militar sediada no alcácer de Toledo, aderira à rebelião militar. Mas a cidade estava nas mãos de milícias socialistas, fiéis ao governo de Madrid. O alcácer foi cercado e o coronel chamado ao telefone. Do outro lado da linha, o chefe das milícias intimou-o a render-se dentro de dez minutos porque, se o não fizesse, lhe fuzilaria o filho. O filho do coronel, Luís, de 24 anos, foi então posto ao telefone. Falou ao pai e confirmou que o matariam se este não rendesse o alcácer. Moscardó respondeu-lhe que encomendasse a alma a Deus e morresse como um patriota com um viva a Cristo-rei e a Espanha.

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resistência das Brigadas Internacionais republicanas27 frusta os planos das forças italianas e, mais uma vez, converte o que se pretendia como golpe de estado numa guerra civil de longa duração, em que o acirramento das paixões políticas internas era potencializado pela presença de contingentes militares estrangeiros, ideologicamente opostos, numa verdadeira guerra civil européia, em que voluntários italianos fascistas e alemães nazistas, por exemplo, enfrentavam voluntários esquerdistas das mesmas nacionalidades.

A substituição do governo republicano de Largo Caballero pelo de Juan Negrín - que buscou apoiar-se, internamente, no Partido Comunista, e, externamente, na aliança com a União Soviética - deu conta do acirramento ideológico do conflito, mesmo no interior do campo republicano, levando aos incidentes de maio em Barcelona, de enfrentamento armado entre forças do governo e comunistas contra diversas milícias de Extrema Esquerda - anarquistas, trotskistas e semi-trotskistas -seguidos por uma cruel repressão policial à mesma Extrema Esquerda, sob o comando dos comunistas. Neste interím, o governo Negrín tenta substituir as milícias, tanto quanto possível, por um exército republicano regular, e lança, em agosto, na frente de Aragão, uma ofensiva em Belchite, tentando aliviar a pressão sobre a frente Norte.

A ofensiva fracassa; o lado republicano tinha menos armas modernas (blindados e aviões) do que o nacionalista, e, ao invés de combinar ações defensivas com a infiltração de guerrilheiros na retaguarda franquista (para o que teria que contar com as milícias anarquistas) preferia tentar vitórias convencionais com ganho propagandístico para os comunistas que comandavam as unidades de elite do exército regular. Estas ofensivas, que não tinham um alvo estratégico claro, soldaram-se sempre com enormes perdas de homens e equipamento, solapando ainda a moral das Brigadas Internacionais.

Acrescente-se a isso que as dissensões internas e insanáveis no campo republicano, sobre se convinha primeiro ganhar a guerra militarmente, ou se a guerra deveria ser combinada com uma revolução socialista, fizeram com que este governo jamais conseguisse a autoridade indisputada que precisaria para vencer militarmente, ao mesmo tempo que não possuía uma ideologia coerente que garantisse sua sustentação política: no verão de 1937, soma-se à ofensiva fracassada em Belchite o avanço dos rebeldes no Norte, onde é rompido o assim chamado "Cinturão de Ferro" republicano: Bilbao, Santander e finalmente Gijón, em 20 de outubro, são ocupadas pelos franquistas e a Frente Norte desaparece,

27 Brigadas Internacionais , conjunto de unidades militares compostas por voluntários estrangeiros que durante a Guerra Civil Espanhola lutaram do lado da República. Combateram em Espanha mais de 40 mil Brigadistas , o maior contigente veio da França e da Alemanha, mas vieram voluntários de todas as partes do mundo, entre os quais portugueses e brasileiros. As Brigadas perderam cerca de 10.000 voluntários em combate. Em 26 de Janeiro de 1996 as Cortes concederam a todos os brigadistas ainda vivos a cidadania espanhola, cumprindo uma promessa feita pela República mais de 60 anos antes.

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com os prisioneiros republicanos sendo internados no campo de Miranda de Ebro. A República perde, assim, o apoio do nacionalismo basco, assim como uma das suas bases industriais mais importantes. No Sul, depois da tomada de Málaga pelos franquistas em 8 de fevereiro, a frente havia estabilizado-se na província de Almería.

Situação do frente em outubro de 1937

Em fins de 1937, os republicanos tomam a iniciativa e fazem uma ofensiva na direção de Teruel, que é tomada em 8 de janeiro de 1938, apenas para ser recuperada pelos franquistas em 20 de fevereiro. A contra-ofensiva franquista toma Vinaroz em 15 de abril, atingindo o Mar Mediterrâneo, e a zona republicana remanescente é dividida em duas partes, isolando a Catalunha.

Os republicanos contra-atacam em 24 de julho na Batalha do Ebro, e acabaram por retirar-se em 16 de novembro após uma longa batalha de atrito, que permite aos franquistas o caminho para a tomada da Catalunha. Em 23 de setembro o governo republicano ordena a retirada total das Brigadas Internacionais, numa tentativa (fracassada) de modificar a posição de não intervenção mantida pelos governo francês e inglês pela retirada de uma força militar sob forte influência comunista. Em 23 de dezembro inicia-se a batalha por Barcelona, que cai nas mãos dos franquistas em 26 de janeiro de 1939. As tropas rebeldes ocupam a fronteira com a França e cortam a retirada dos republicanos.

Em março de 1939, começa uma pequena guerra civil dentro do campo republicano, quando o Coronel Casado, comandante do Exército do Centro, dá um golpe de estado em Madri, apoiado pelos oficiais de carreira (que acreditavam que "entre militares nos entenderemos melhor"), golpe este que tinha como objetivo a ruptura com os comunistas para facilitar negociações com os franquistas, enquanto o governo Negrín, partidário da continuação da resistência - e esperando que o estalar iminente da Segunda Guerra Mundial trouxesse novos apoios aos republicanos - refugia-se na chamada Posição Yuste.

Os franquistas, no entanto, exigem dos casadistas a rendição incondicional, e Madri cai em 26 de março. Com a queda de Valencia e Alicante em 30 de março, e de Murcia em 31, a guerra termina em 1o. de abril.

A questão religiosa na Guerra Civil

O liberalismo, na Espanha, tinha, desde os inícios do século XIX, sido violentamente anticlerical; entre os anarquistas, muito influentes na Esquerda, o anticlericalismo havia sido sempre particularmente agressivo, ao contrário dos socialistas marxistas. Na medida em que a Guerra Civil foi a conclusão dos enfrentamentos político-ideológicos do século XIX espanhol, a identificação da Igreja com a Direita determinou o anticlericalismo da Esquerda na sua generalidade: Já em 14 de outubro de 1931, no jornal El Sol, o então primeiro-

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ministro Azaña equiparara a proclamação da República com o fim da Espanha católica, e durante a Guerra Civil, como Presidente da República, teria dito num de seus discursos, que preferia ver todas as igrejas de Espanha incendiadas a ver uma só cabeça republicana ferida, e o radical catalão Alejandro Leroux teria conclamado a juventude a destruir igrejas, rasgar os véus das noviças e "elevá-las à condição de mães".

A perseguição anticatólica durante a Guerra Civil apenas continuou um padrão já existente: nos só quatro meses que precederam a guerra civil já 160 igrejas teriam sido incendiadas. Durante a Guerra, pela repressão republicana, segundo o historiador Hugh Thomas, foram mortos 6861 religiosos católicos (12 bispos, 4.184 padres, 300 freiras, 2.363 monges); uma obra mais recente, de Anthony Beevor, dá números muito semelhantes (13 bispos, 4.184 padres seculares, 283 freiras, 2.365 monges).

De acordo com o artigo espanhol, foram destruídas por volta de 20.000 igrejas, com perdas culturais incalculáveis pela destruição concomitante de retábulos, imagens e arquivos. Diante disto, é pouco surpreendente verificar que a Igreja Católica, tenha chegado, na sua generalidade a propagandear a revolta contra o governo e chegado a compará-la, numa declaração coletiva de todo o episcopado (1 de julho de 1937) com uma cruzada moderna; note-se, no entanto, que os mesmos bispos espanhóis, numa carta de 11 de julho do mesmo ano de 1937, mostraram-se ciosos em desmentir à opinião católica liberal, que via na intransigência conservadora do clero espanhol a razão das perseguições por ele sofridas, argumentando que a Constituição republicana de 1931 e todas as leis subseqüentes haviam dirigido a história da Espanha num rumo contrário à sua identidade nacional, fundada no Catolicismo[1]- ou, nas palavras do Cardeal Segura y Sáenz: "na Espanha ou se é católico ou não se é nada".

Sacerdotes espanhóis armados.

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Muito embora houvessem sido realizados esforços de propaganda pelos republicanos no exterior em favor da liberdade religiosa (o Ministro da Justiça do governo Negrín, Manuel Irujo, autorizou o culto católico, que, no entanto, na prática realizou-se de forma semi-clandestina) de forma a não alienar a opinião pública católica internacional e os próprios grupos católicos no campo republicano (muito notadamente o principal partido basco, o PNV) o campo republicano era em

Cardeal Segura y Sáenz.

Cardeal Segura y Sáenz, preso. O Cardeal está saindo do palácio, preso. Sério, sem

falar com ninguém nem comentar nada. Está preso, e o prisioneiro não deve se comunicar com o carcereiro.

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geral anticlerical e apoiava a repressão à Igreja. Por outro lado, o escritor e filósofo católico francês Jacques Maritain protestou violentamente contra as repressões franquistas contra o clero basco, e teria dito que "a Guerra Santa, mais do que ao infiel, odeia ardentemente os crentes que não a servem".

Dois contingentes militares

De um lado lutavam a Frente Popular, composta pela esquerda (e extrema esquerda como o comunismo, anarquismo mas também o governo eleito liberal-democrático) e os nacionalistas da Galiza, do País Basco e da Catalunha, que defendiam a legitimidade do regime instalado recentemente no Estado, (a República proclamada em 1931 e os respectivos estatutos de autonomia).

Do outro lado os nacionalistas (compostos por monárquicos, falangistas, e militares de extrema direita, etc. O seu referente político (sobretudo para a Falange) era o general José Sanjurjo, chave da intentona militar de 1932, mas que morreu num acidente aéreo ao se transladar de Portugal para a zona ocupada pelos nacionalistas. Só durante o decorrer da guerra, os nacionalistas, chefiados pelo militar Francisco Franco irão aceitar progressivamente a sua indiscutível liderança.

Franquismo

A sublevação fascista tentava impedir a qualquer preço que as instituições republicanas assentassem de maneira estável e permanente o regime democrático, impedindo o trabalho de um governo real de esquerda que estava para realizar profundas reformas económicas, jurídicas e políticas no conjunto do Estado. Sob o suposto afã de lutar contra o perigo do aumento do comunismo e do anarquismo em certos lugares do Estado, ocultava-se realmente o levantamento contra o regime institucional e democrático estabelecido, na tentativa de impedir a continuação e assentamento da democracia e daquilo que os fascistas consideravam intoleráveis experiências de colectivismo.

Mas outra das claras intencionalidades do chamado "Movimiento Nacional", além de lutar contra o "perigo vermelho", foi lutar contra o que consideravam o "perigo separatista" tentando impedir a todo preço a instituição dos governos autónomos nas nações chamadas históricas.

Aliados à Igreja Católica, Exército e latifundiários, buscavam implementar um regime de tipo fascista na Espanha,o que consideravam mais condizente com a "originalidade espanhola (suas tradições políticas de raiz católica e autoritária).No entanto, o franquismo não foi fascista, se por tal entender-se um regime fundado numa base política de massa, na mobilização mais ou menos permanente dos seus partidários e no papel importante atribuído a certos grupos sociais emergentes: mesmo antes da queda dos regimes efetivamente fascistas, o regime acabou muito cedo por configurar-se como uma ditadura pessoal apoiada nos grupos dominantes tradicionais, muito semelhante nisto ao Portugal salazarista.

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Os apoios internacionais

As tropas do chamado "Movimiento Nacional" foram reforçadas, desde o início da guerra pela pela ajuda militar directa da Alemanha de Hitler, expressa no bombardeamento a Guernica e Madrid, e da Itália de Mussolini, que enviou um Corpo de Tropas Voluntárias ao fronte nacionalista, assim como engajou aviões e submarinos no esforço de guerra franquista. O Portugal de Salazar enviou tropas voluntárias (a Legião Viriato) e permitiu o abastecimento das tropas rebeldes através de seu território; a Irlanda católica enviou uma brigada comandada pelo General Eoin O'Duffy, um veterano histórico do IRA que na Irlanda presidia os Camisas Azuis, algo entre uma associação de ex-militares e um partido fascista.

O Vaticano apoiou igualmente Franco, pois a Igreja condenava o comunismo - e também porque a política anticlerical do governo da República não lhe oferecia outra alternativa.

General Eoin O'Duffy .

Franco e a Igreja católica.

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O papa Pio XI, no entanto, que não tinha simpatias pelo fascismo, e que em 1937 publicaria a encíclica em alemão Mit brennender Sorge ("Com profunda preocupação"), condenando a ideologia nazista, não chegou jamais a oferecer um apoio incondicional ao campo franquista.

No País Basco- que ficou isolado do restante da zona republicana desde o início da guerra - grande parte do clero católico colocou-se ao lado do nacionalismo basco e pela República, escapando assim à sorte dos seus análogos no restante do território republicano, onde as igrejas foram saqueadas e os padres perseguidos como agentes do fascismo. Pelo menos uma figura do alto clero espanhol, o cardeal-arcebispo de Tarragona Vidal y Barraquer - que havia sido exilado na Itália pela Generalitat republicana catalã - tentou realizar esforços por uma paz negociada, o que lhe valeu o desprazer constante do governo franquista, que impediu o seu retorno a Espanha até à sua morte em 1943, na Suíça.

Papa Pio XI .

Francisco de Asís Vidal y Barraquer, cardeal-arcebispo de Tarragona Vidal y Barraquer.

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De certo modo, a divisão no interior do catolicismo mundial encontra-se bem descrita num artigo, muito posterior, do escritor e católico integrista brasileiro Gustavo Corção que relata como um grupo de padres bascos, buscando entrevistar-se com Pio XI para conseguirem um protesto seu contra as perseguições franquistas ao clero basco, teria sido impedido de conferenciar com o pontífice pelo seu Secretário de Estado, o cardeal Pacelli [2]- que, mais tarde, como papa Pio XII, seria objeto de fortes controvérsias quanto a sua postura em relação ao fascismo. O mesmo Pio XII, tendo sido elevado ao papado durante o término da Guerra Civil, saudou o fim da guerra com a vitória nacionalista no documento Com imenso gozo e em discurso radiofônico de 18 de abril de 1939.

Em 11 de maio de 2001, o papa João Paulo II procederia à beatificação de 233 vítimas religiosas da repressão republicana. Uma nova beatificação de outras 498 vítimas seria proclamada por Bento XVI em 28 de outubro de 2007.Esta última beatificação, que não foi celebrada pelo próprio papa, não sendo incluída, entre suas celebrações litúrgicas, foi no entanto, a maior beatificação da história da Igreja Católica. O papa declarou, na ocasião, a importância do martírio como testemunho de fé numa sociedade secularizada.

Continuam sem solução os protestos dos parentes das vítimas das repressões nacionalistas ao clero basco contra o que consideram falta de reconhecimento da hierarquia católica [5]

Padres Salesianos assassinados pelo regime de Francisco Franco.

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As tropas republicanas receberam ajuda internacional, proveniente da URSS (alguns assistentes militares e material bélico) e das Brigadas Internacionais composta de militantes de frentes socialistas e comunistas de todo o mundo e de numerosas pessoas que a título individual entravam na Espanha a defender o governo da República. Vários intelectuais europeus e americanos participaram deste esforço, nomeadamente o romancista americano Ernest Hemingway, o escritor inglês George Orwell, o poeta também inglês W. H. Auden, os escritores franceses André Malraux e Saint-Exupéry e a matemática, católica e activista política, também francesa, Simone Weil. Dos brasileiros que lutaram nas Brigadas - principalmente militares comunistas de prévia militância na Aliança Nacional Libertadora - celebrizar-se-ia, sobretudo, Apolônio de Carvalho28, cuja atuação nas Brigadas seria seguida, após seu internamento na França, pela sua participação heróica na Resistência Francesa.

Os governos da Inglaterra e da França, optaram por ficar de fora, impondo um embargo geral à exportação de armas à Espanha. Oficialmente, este embargo foi furado pela Alemanha e pela Itália, e não levou a qualquer consequência, na ausência de sanções impostas pela Liga das Nações.

Para os anarquistas e outros críticos de Extrema Esquerda, boa parte da culpa da derrota do campo republicano espanhol pode ser creditada à política de Josef Stalin, que, desejoso da vitória da República, mas temendo que esta vitória

28 Apolônio de Carvalho foi uma figura ímpar no cenário da vida política brasileira. Poucos como ele viveram com tanta intensidade a «paixão libertária» que o impeliu, desde os seus anos de cadete da Escola Militar de Realengo, a engajar-se na luta pelos ideais socialistas e contra os regimes de opressão, com uma coerência que se manifestou em todos os episódios vividos: da militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB) e na ANL (Aliança Nacional Libertadora) à participação na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa contra o fascismo; da luta clandestina contra a ditadura militar no Brasil, como membro do PCBR, à militância no PT, desde o momento da fundação do partido até sua morte.

Apolônio de Carvalho , Corumbaense, herói na Guerra Civil Espanhola.

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levasse a uma revolução socialista na Espanha que criasse complicações diplomáticas à União Soviética -pois um "Outubro Espanhol" criaria uma divisão ideológica na Europa Ocidental que atuaria contra a política de uma Frente Popular antifascista que era o grande objetivo de Stalin à época - foi capaz apenas de realizar uma ajuda militar tímida, pelo envio de alguns militares, aviões e armas (por estas exportações de armas, Stálin fêz-se pagar com a reserva de ouro do Banco Central Espanhol). Segundo este ponto de vista, instalou na Espanha uma série de agentes da sua polícia secreta, o GPU, que desencadeou uma política de repressões indiscriminadas contra militantes de Extrema Esquerda, anarquistas e trotskistas, visando conter a Guerra Civil dentro de um marco democrático-liberal. O ponto alto destas repressões foi a prisão e morte sob tortura de Andreu Nin, dirigente catalão do semi-trotskista POUM - Partido Operário de Unificação Marxista. Para cúmulo, Stálin ainda encarcerou e matou como traidores os executantes desta política (tais como o velho bolchevique Antonov-Ovssenko, que havia comandado em 1917 a tomada do Palácio de Inverno do tsar em São Petersburgo) quando do seu retorno à URSS, de modo a impedir o questionamento de sua política espanhola. E Isaac Deutscher sumariza: ao tentar preservar a respeitabilidade burguesa da Espanha republicana, sem querer antagonizar as democracias liberais européias, Stalin não preservou nada e antagonizou a todos: a causa da revolução socialista foi perdida, sem que a Direita européia, por um momento sequer, deixasse de ver em Stalin o agitador revolucionário.

Teve fim a guerra com a consequência da morte de mais de 400 mil espanhóis e uma queda enorme na economia, como a morte de mais da metade do gado,a queima de vários campos e milhões de moradias destruidas. Um abalo financeiro e queda do PIB que demorou quase 30 anos para se normalizar. Outras fontes ressaltam a dificuldade em quantificar o número de mortos por causa da guerra originada pelo chamado "Movimiento Nacional", mas colocam o dado para todo o período do franquismo de mais de 2 milhões de pessoas mortas sob o regime fascista.

Nas áreas controladas pelos anarquistas, Aragão e Catalunha, somando-se às suas vitórias militares temporárias, existiu uma grande mudança social na qual os trabalhadores e camponeses se apoderaram da terra e da indústria, estabeleceram conselhos operários paralelos ao governo, que estava paralisado, e autogestionaram a economia. Esta revolução ocorreu à revelia dos republicanos e comunistas apoiados pela União Soviética. A coletivização agrária obteve um êxito considerável, apesar da carência de recursos, já que as terras com melhores condições para o cultivo estavam em poder dos "Nacionais". Esse êxito sobreviveu na mente dos revolucionários libertários como uma prova de que uma sociedade anarquista pode florescer sob certas condições como as que haviam durante a Guerra Civil Espanhola.

Mais tarde durante o conflito, o governo e os comunistas receberam armas soviéticas, com as quais restauraram o controle do governo e se esforçaram por ganhar a guerra através da diplomacia e do poder bélico. Os anarquistas e os

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membros do POUM foram integrados ao exército regular, ainda que a contragosto, e o POUM foi declarado ilegal, após ser falsamente denunciado como instrumento dos fascistas. Num dos episódios mais dramáticos da Guerra, centenas de milhares de soldados comunistas e militantes anarquistas, ambos antifascistas, enfrentaram-se uns aos outros pelo controle dos pontos estratégicos de Barcelona, nas chamadas "Jornadas de Maio de 1937". Por trás desse conflito estava a divergência básica entre PCE de um lado e POUM e CNT de outro: estes acreditavam que a guerra devia servir para conduzir à vitória na revolução que tinham iniciado; já o PCE acreditava que a revolução lhes minava os esforços diplomáticos para ganhar o apoio das potências ocidentais contra o fascismo, assim como seu esforço de controle sobre a economia e a sociedade de maneira geral.

Na Galiza, zona que ficara na "retaguarda fascista" (militarmente ocupadas logo no início), a luta republicana encontrou a forma de guerrilhas organizadas que levaram a luta até depois de 1940.

A resposta através do método das guerrilhas manteve-se na Galiza até 1956 com muita força, iniciando-se um período de decadência a partir desta data, devida em parte ao abandono dessa estratégia por parte do PCE, até ocorrerem os últimos assaltos e combates em 1967, com a morte do último guerrilheiro e o exílio doutros.

Segundo dados fornecidos por diferentes historiadores foram presas ou mortas cerca de 10.000 pessoas relacionadas com a guerrilha galega durante esses anos.

O Franquismo instaurou na Galiza/Galicia o método dos "passeios" (ir procurar pessoas a sua casa para "passeá-los", isto é fuzilá-los à noite e deixá-los nas valetas). Através deste método do "passeio", dos conselhos de guerra realizados contra civis, dos fuzilamentos maciços dos prisioneiros e dos confrontos armados com a guerrilha morreram 197.000 pessoas galegas (fonte "La Guerra Civil en Galicia" edic. La Voz) durante o regime franquista, das quais a grande maioria continua em valas comuns.

Restos mortais de um fuzilado na Galicia.

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Quanto ao exílio, cerca de 200 mil galegos fugiram exilados para outros países nesse período.

Por outro lado, os campos de concentração mais conhecidos na Galiza são os de Lubián, Lavacolla (Santiago de Compostela) e o cárcere de extermínio da Ilha de São Simão (comarca de Vigo), assim como os respectivos cárceres de cada cidade.

Existem ainda em cada cidade ou vila lugares ainda não reconhecidos de fuzilamento maciço e continuado de pessoas que foram consideradas "perigosas" para o regime fascista.

O General Francisco Franco (centro) recebe o seu aliado Adolfo Hitler em Hendaya.

Memorial às vitimas do cárcere de extermínio da Ilha de São Simão.

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Em 1 de março de 1940, a Espanha franquista, ditou a Lei para a Repressão à Maçonaria e o Comunismo.

Em seu artigo n° 12 estabelece a criação e composiç ão do Tribunal Especial para a Repressão da Maçonaria e o Comunismo. As penas iam desde o seqüestro de bens até a reclusão. Os Maçons, aparte das sanções econômicas, ficavam automaticamente afastados de qualquer emprego ou cargo de caracter público. Se estabeleceram penas de vinte a trinta anos de prisão para os com graus Maçônicos superiores e de doze a vinte para os cooperadores. Os arquivos do Tribunal Especial para a Represão da Maçonaria e o Comunismo atualmente faz parte do Arquivo Geral da Guerra Civil Espanhola, situado em Salamanca (Espanha). Sua informação é publicamente acessível a qualquer que desejar. Nestes arquivos se pode consultar as condenações por delito da Maçonaria.

Lei de Repressão da Maçonaria e do Comunismo

O artigo 12 da Lei de repressão da Maçonaria e o Comunismo, de 1 de março de 1940 (B.O.E. n 62, de 2 de marzo), estabelece sua criação e composição: um presidente, um general do Exercito, um membro da Falange e dois letrados, todos eles nomeados pelo Chefe do Estado. Seu primeiro presidente foi Marcelino de Ulibarri (Decreto de 4 de junho de 1940), pondo desta forma em íntima conexão o tribunal com o organismo que haveria de facilitar-le a información para julgar as pessoas: Delegação do Estado para a Recuperação de Documentos. Esta ligação ficou de manifiesto com a criação em Salamanca de uma oficina provisional do tribunal que funcionou na Secção Especial, porém independente dela. Ali se criou

Lei para a Repressão à Maçonaría e o Comunismo.

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um arquivo de expedientes pessoais, que posteriormente passou a depender do responsável da Delegação Nacional de Serviços Documentais, quem continuamente o enviará informes para abrir os correspondentes expedientes judiciais. Tratava-se de uma jurisdição especial, sob a dependência da Presidência do Governo, que julgava os delitos tipificados pela lei (Maçonaria e comunismo). Pelo decreto de 31 de março de 1941 cessa como Presidente Marcelino de Ulibarri e é substituído por Don Andrés Saliquet Zumeta.

Em 1941 começou o funcionamento efetivo do tribunal centrando-se em atender o delito da Maçonaria.

Em 1963 se suprime o tribunal e se forma uma Comissão Liquidadora do mesmo que funciona até 1971.

Lei 1 de março de 1940 (B.O.E. nº 12.667) para a Repressão do Comunismo e da Maçonaria. A Lei de Responsabilidades políticas de fevereiro de 1939 a sucedeu a Lei de Represão da Maçonaria e Comunismo e mais tarde, a Lei de Segurança do Estado. Pelo interesse histórico para o povo Maçônico espanhol sobre o que se aplicou a esta legislação se reproduz o Decreto 2º de 30 de março de 1940, Presidência, B.O.E. 12.688, 3 de abril que desenvolve a aplicação da Lei de 1 de março de 1940.

Artº 1

Todo espanhol ou estrangeiro residente na Espanha que antes de día 2 de março de 1940 haja ingressado na Maçonaria está obrigado a formular ante ao Governo uma declaração-retratação compreensiva dos seguintes extremos:

1. Nome, sobrenome, estado civil, idade, domicilio e profissão, categoria, classe e emprego se tratando de militar ou funcionário público.

2. Cargos que desempenha no Estado, corporações públicas ou oficiais, entidades subvencionadas e empresas concessionárias, inclusive em Conselhos de Administração do Estado.

3. Declaração do lugar e a data em que ingressou na Maçonaria e da pessoa por quem foi iniciado.

4. Nome simbólico que teve e grau que alcançou.

5. Chefes ou Grados superiores a que está subordinado.

6. Oficinas, Lojas ou Grupos aos quais pertenceu.

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7. Sessões ou reuniões que assistiu especialmente as assembléias ordinárias ou extraordinárias, nacionais ou internacionais.

8. Cargos ou comissões que participou.

9. Razões que teve para ingressar.

10. Informações ou dados interessantes sobre as atividades, sobre chefes ou companheiros que possam servir para a repressão da Maçonaria.

“MAÇONARIA” por “Hakin Boor”

(Pseudônimo utilizado habitualmente pelo General Francisco Franco)

Franco, ocultando-se sob o pseudônimo de “Hakin Boor”, escreveu uma serie de artigos no diário falangista Arriba , que depois publicou em forma de livro, com o título de "Maçonaria".

Com exemplo de sua doutrina antimaçônica se reconhece o artigo publicado em 16 de fevereiro de 1949 no diário Arriba .

“Com motivo das eleições presidenciais da nação portuguesa, sua velha Maçonaria tentou sacudir sua aparente modorra e apresentar-se a fazer um reconto de suas forças, para tentar no futuro imediato o assalto à fortaleza do Estado vizinho. O que o alerta dado pelo Exército e o bom sentido do povo português hajam desfeito a manobra, não cessa o valor nem o ensinamento de que, uma vez mais, a Maçonaria haja pretendido explorar a conjuntura de dificuldades econômicas em que nesta hora do mundo as nações se debatem para alcançar seus propósitos, sem que para isso houvesse de aliar-se e entregar o país ao comunismo. [...]

Que a Maçonaria portuguesa intensificava suas atividades era coisa conhecida em nossa nação. Não é em vão, desde o termino de nossa Cruzada, desde lá chegam as consignações por eles denominados “Vales Ibéricos” e desde lá se pretende

General Francisco Franco.

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periodicamente, se bem com escasso êxito, demover os “Irmãos” espanhóis com vistas a alterar a paz de nossas Universidades ou explorar a nobre ingenuidade de nossa juventude.

Manuel Bethencourt del Rio, Médico, Maçom, fundador do PSOE en Tenerife (Ilhas Canárias). Preso em 18 de julho de 1936 e libertado em 1939, porém foi de novo encarcerado por ser Maçom e com base na Lei da Repressão a Maçonaria e ao Comunismo. Enfermo morreu pouco tempo depois de libertado. A manobra Maçônica sobre Portugal constituía uma parte dos planos Maçônicos contra a Espanha. E que este fato Maçônico haja sido facilmente superado não exclui a gravidade de nosso alarme, pois demonstra, em que pese a gravíssima crise que a Maçonaria européia vem sofrendo na última década29 e frente à ameaça perigosíssima que o comunismo representa, não descansa em seus propósitos de restabelecer suas velhas posições, aliando-se inclusive com seu próprio verdugo, o comunismo, que na Polônia, România, Checoslovaquía e Hungria eliminou os seus poderosos Irmãos Maçons.[...]

Buscou a Maçonaria na democracia o meio para a extensão de seu poder e subjugar os povos e a democracia fatalmente teria que voltar-se contra o que representa a ação mais antidemocrática que possa conceber-se. O que é em síntese, a Maçonaria se não uma seita secreta que associa-se a grupos minoritários dos países para lograr por o complô, a astúcia e a proteção estrangeira, sob uma disciplina sem limites, apoderar-se da direção e do mando das nações? Por que ocultam suas decisões e até sua filiação ao conhecimento do povo? Por constituir o veículo secreto em que se incubaram as revoluções liberais dos tempos modernos, imprimiram a política liberal de muitos países uma submissão aos poderes Maçônicos estrangeiros que os patrocinaram. E as insígnias de fora e ao golpe de malhete das grandes Lojas responderam a toda a

29 Repressão pelos nazistas, do qual Franco era simpatizante e aliado.

Manuel Bethencourt del Rio

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política exterior e interior dos Estados por virtude daqueles conspícuos Maçons que com a ajuda estrangeira haviam alcançado o poder em seus países.

Nem os interesses supremos da pátria, nem o geral do povo, nem o respeito a consciência religiosa dos demais, nem os sentimentos de honra ou da propria estima representaram nada frente a obediência obrigada aos Poderes ocultos superiores. E quando nos casos isolados se produziu a rebeldia ou se falou em patriotismo pela boca de seus governantes Maçons, a mão de algum desalmado fanático comprado se encarregou da correspondente execução Maçônica. Prim, Canalejas, Melquíades Álvarez30 y Salazar Alonso31 fora, entre outros muitos, Maçons executados por desígnio expresso da Maçonaria para vingar-se de sua rebeldia (ver a verdadeira história nas notas de rodapé).

Uma destas repugnantes execuções chegou a ser causa uma cisma em que a Maçonaria universal se debate. Vários tem sido os assassinatos desta ordem

30 Melquíades Álvarez González-Posada, (Gijón, España; 1864 - Madrid; 22 de agosto de 1936) foi Maçom, político e jurista español. Em agosto de 1936, un mes depois do começo da Guerra Civil, Melquíades Álvarez foi preso, junto com outros dirigentes políticos conservadores, no Cárcere Modelo de Madri e posteriormente assasinado por milicianos esquerdistas e não por Maçons com Franco queria que acreditassem. 31 Rafael Salazar Alonso (1895-1936) Maçom, advogado, escritor e político republicano. Durante a Segunda República foi deputado em Cortes, prefeito de Madrid, presidente da representação dos deputados provinciais Ministro nos Governos de Samper e Lerroux. Neste último cargo destacou-se por sua luta contra os movimentos revolucionarios e separatistas em 1934, motivo pelo qual foi executado pela Frente Popular em setembro de 1936 e não por Maçons com Franco queria fazer acreditar.

Melquíades Álvarez González-Posada

Rafael Salazar Alonso

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cometidos durante a última contenda32; porém um somente tem sido a causa da grande cisão: o do almirante Darlan33, do que nada se atreve a falar. O almirante Darlan estava no setor de inteligência com Roosevelt e com a Maçonaria norte-americana; porém a figura de Darlan estorvava a concepção inglesa de um De Gaulle britanizado, e ante a decisão americana de utilizar Darlan no Norte da África, a Maçonaria européia se encarregou da sua eliminação. Não convinha aos interesses Maçônicos europeus que Inglaterra controlasse a preponderância de Darlan, que a Maçonaria americana com Roosevelt patrocinavam e não faltou a mão de um fanático que se prestasse facilmente a ela. A ação Maçônica corresponderia fazer silencio sobre a morte. Um abismo se abriu desde entre as duas Maçonarias. A figura do prudente e discreto Maçom Harry Hookins, misterioso conselheiro privado do presidente Roosevelt, muito poderia aclarar a este respeito; porém sua natureza delicada não sobreviveu muito após a morte do presidente.

Harry Hookins 34

32 Franco tentou insistentemente culpar os próprios maçons por assassinado cometidos à seu mando. 33 O almirante francês Darlan foi colaboracionista de Hitler durante a ocupação da França. No caso dele, almte. Darlan, o patriota que o executou, no mínimo tinha ordens do Exército de Libertação (De Gaulle) ou da Resistência (formações irregulares comandadas pelos comunistas franceses, com participação de comunistas espanhóis, brasileiros, etc., ou, simplesmente por corajosos dissidentes do regime de Vichy e dos nazistas). O que motivou a mentira de Franco que era simpatizante de Hitler e perseguidor da Maçonaria. 34 Harry Lloyd Hopkins (August 17, 1890 – January 29, 1946) Maçom, foi um dos conselheiros mais intimos do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt. Foi um dos arquitetos do New Deal.

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É de lastimar que de suas interessantíssimas Memórias se suprimiram episódios como este, tão interessantes para a historia da política americana nos últimos anos. [...]

Franco com a voz apagada, com evidentes síntomas de dificultade respiratoria, pronunciou seu último discurso público em 1 de outubro de 1975.

Franco saudou e chorou do balcão do Palácio Real. Faltavam 50 dias para sua morte.

General Francisco Franco e o Rei Juan Carlos em 1 de outubro de 1975.

Noticia da morte do General Francisco Franco.

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Garcia Lorca e a Guerra Civil Espanhola

Frederico Garcia Lorca, poeta e dramaturgo espanhol consagrado mundialmente, uma das primeiras vitimas do terror nacionalista. Não pertencia a nenhuma organização política, mas tinha profundas preocupações democráticas. “Sempre serei partidário dos que nada têm”, declarou em 1934. Em agosto de 1936, foi atacado e fuzilado por um grupo de falangistas, nas proximidades de Granada. A poesia para Lorca era um belo estado de espírito, uma maneira de observar a vida para encontrar em todas as coisas seus mistérios. Suas atividades literárias granjearam-lhe notoriedade e fama mundial, graças a sua singela limpidez do estilo, doce e vivaz, uma qualidade que o torna visivelmente querido de todos. Se vivo estivesse, estaria mais perto da alma popular, traduzindo nos seus versos, as ânsias comuns da sua gente, a eloqüência, a atormentada sensualidade e seus encantos. Lorca transmitiu a sua poesia expressa não só no veículo literário, mas também na ação cênica, pois, diferentemente de muitos dos autores espanhóis que o antecedem que a ele se seguiram, teve o poeta intensa experiência de palco. Ou como foi definido pelo poeta Rafael Albert: “para Frederico o teatro não foi alguma coisa nova ou diferente de seu trabalho habitual, mas uma síntese de todas as suas vocações. Muitas das poesias que não escreveu assumiram forma e humanidade no teatro, como se Garcia Lorca as amasse com maior ternura...”. Depois do seu desaparecimento a sua obra ficaria fora dos palcos do país até a década de 60. Condenava-se ao exílio uma dramaturgia das mais importantes no teatro moderno e para a qual logo se mantiveram atentos os grandes centros teatrais, tornaram-se ela fonte clássica do repertório internacional.

Frederico Garcia Lorca, Maçom, poeta e dramaturgo espanhol. Seu codinome Maçônico era Homero.

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Por isso, qualquer relato sobre a vida do poeta, começa obrigatoriamente pela sua morte brutal nas mãos dos fascistas, quando no alvorecer de 19 de agosto de 1936, em pleno verão andaluz, toda essa intensa atividade cultural e literária (poeta, dramaturgo, músico e desenhista), foi bruscamente interrompida; à bala de um fuzil tirou a vida de um poeta, que a violência de uma guerra cegamente lhe roubou, no amado solo de Granada: “Creio que ser de Granada me inclina a compreensão simpática dos perseguidos. Do cigano, do negro, do judeu, do mourisco que todos nós levamos dentro. Granada cheia de mistério, a coisa que não pode ser e, no entanto, é. Que não exige, mas influi. Ou influi precisamente por não existir”.

Embora fosse partidário da república Espanhola, são raríssimos na sua obra os versos de significação política. A sua morte parece ter sido menos um ato de ação deliberadamente contra-revolucionária do que de brutalidade estúpida. O cadáver de Garcia Lorca nunca foi localizado, o regime do generalíssimo Franco tentou durante anos, encobrir o fato e suas circunstâncias. Da mesma forma, impediu à difusão de sua obra. (1) A eclosão da Guerra Civil Espanhola (2) no verão de 1936 realça até que ponto os governos britânico e francês que haviam sido empurrados para a defensiva. Na França, a frente Popular de Blum, coalizão de socialistas, comunistas e radicais, acabava de assumir o poder, e lutava para construir uma força armada francesa num ambiente de grave depressão econômica. A Grã-Bretanha não desejava ser arrastada a mais uma área de conflito, e assim se inclinava a concordar com a França quanto a uma política de não intervenção. Enquanto isso, Mussolini começou a enviar soldados italianos em grande escala para ajudar Franco, e a Alemanha forneceu equipamentos aéreos e pilotos.

A Espanha foi transformada no campo de batalha de uma luta de amplitude européia entre as forças do socialismo e do comunismo, de um lado, e as forças do fascismo (assassino do povo, morte da consciência nacional), do outro. A guerra arrastou-se por três anos, mas já em início de 1937 estava evidente que Franco se encontrava firmemente instalado e que a França corria o grande perigo de se ver ameaçada por governos do tipo fascista por três de suas fronteiras. Seus problemas se complicaram com a declaração do governo belga de uma política de mentalidade em fins de 1936, e com a construção, na Renânia, de Linha Siegfried de fortificações alemãs, que, no caso de uma guerra, impediria totalmente que a França mantivesse contato militar com seus aliados do leste europeu.

Nascido a 5 de julho de 1898 em Fuente Vaqueros, na província de Granada, uma das primeiras cidades espanholas a cair nas mãos das milícias republicanas. Ano em que o desastre, no qual a Espanha perdeu suas últimas colônias ultramarinas: Cuba, Porto Rico e as Filipinas, numa curta e decisiva batalha contra a Marinha dos Estados Unidos. Lorca era filho de Frederico Garcia Rodrigues, oriundo de uma pequena burguesia liberal e ilustrada, era um abastado proprietário de terras cuja família fora muito rica até o século XIX, mas atingida também pela depressão econômica que tomou Andaluzia, logo depois da revolta republicana em 1820-1830, quando perdeu grande parte de seus bens. Sua mãe, Vicenta Lorca Romero

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natural de Granada, nascida em 1870, era uma antiga professora primária, antes de vir a ser a segunda esposa de Dom Frederico em 1897. Era uma mulher calma e séria, dela Lorca herdara a inteligência e do pai o temperamento apaixonado. O avô materno do poeta, Enrique Garcia Rodrigues e seus três irmãos, eram famosos por suas improvisações artísticas, por suas travessuras extravagantes. Os Garcias eram todos naturais e seus talentos musicais e artísticos influenciaram o poeta. Pois desde muito jovem, para ser preciso aos quatro anos, ele já sabia dezenas de canções populares de cor, e recebeu as primeiras lições de violão com sua tia Isabel.

Depois de uma infância no campo, num ambiente humano e natural, crescendo na Veja (um vale irrigado naturalmente entre colinas), que marcou sensivelmente o jovem, influenciado pelo modo de vida local. As primeiras letras aprenderam com a mãe e com Antonio Rodrigues Espinosa, um republicano amigo da família e aos dez anos já freqüentava a escola secundária. Vitima de uma enfermidade na boca e garganta, foi obrigado a afasta-se temporariamente da escola, o que motivou a escrever seu primeiro poema humorístico. Em 1909 a família muda-se da aldeia para Granada, a fim de cuidar da educação dos filhos, cursa a escola pública e o Colégio Sagrado Coração de Jesus, iniciando também os estudos musicais, aulas de piano e harmonia com Antonio Segura, um discípulo de Verdi. Seis anos mais tarde, Lorca começa os cursos de Direito e Letras, este por opção pessoal, o primeiro para satisfazer o desejo do pai. Mas ele não gosta dos estudos literários. Sua verdadeira paixão era a música, e tornar-se um pianista de primeira, chegando a escrever várias composições para piano. Com a morte de Segura no ano seguinte, a família resolve encerrar definitivamente a carreira do jovem.

No decorrer de 1917, Frederico viaja por Castela, Leon e Galicia na companhia de Dom Martin Domingos Berrueta, professor de Teoria da Arte na Universidade de Granada. E as impressões de viagem foram registradas em seu primeiro livro em prosa, Impressões e Paisagens, publicado neste mesmo ano, dedicado a Segura. Obrigado a abandonar a música, Lorca retoma com grande ardor a literatura, e rebela-se para sobreviver a sua tragédia. E na primavera de 1919 transfere-se para Madri, onde habita a Resistência dos Estudantes durante dez anos. Na capital, torna-se amigo do cineasta Luis Buñuel, do escritor Juan Ramón, do compositor Manuel De Falla, do pintor Salvador Dali e outros intelectuais espanhóis. Lorca publicou sua primeira peça, O Malefício da Borboleta, comédia em dois atos, um misto de fábula e conto que teve estréia em 1920 no Teatro Eslava, mas passou despercebida do público e da crítica local, exceto de alguns amigos que o incentivavam. Em Granada, Lorca gozava dos talentos artísticos que lhe oferecia e compreende que nesta cidade, atravessava um período singular na sua história artística. Mesmo antes de publicar seus versos, era conhecido e admirado como poeta. Já no ano seguinte, o seu Livro de Poemas, o torna conhecido e merece do crítico Adolfo Salazar um artigo elogioso no jornal O Sol.

Durante o ano de 1922 ele dedica-se quase que por inteiro ao estudo do “cante jondo”, um tipo de canto característico da Andaluzia, com forte influência oriental. E sobre o assunto, publica neste ano os livros de versos Poemas Del Cante Jundo

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e Primeiras Canções. Em 1923, conclui o curso de Direito em Granada e um ano depois publica mais um livro Canções, Málaga, onde reúne poemas de 1921-1924. Sua segunda peça Mariana Pineda, encenada em 1927 no Teatro Goya pela Companhia de Margarita Xirgu, exigiu dele quatro anos de trabalho. Mas com esta publicação, o poeta consegue a celebridade e graças ao sucesso da peça viaja para Cuba e Estados Unidos em 1929, a fim de estudar na Universidade de Columbia de Nova York.

Ao retornar na primavera do ano seguinte traz consigo quatro livros: poesia, impressões e teatro. Entre eles, um bastante diferente do conjunto de sua obra, pois o impacto da tumultuosa civilização norte-americano, da indústria e da técnica, lhe causa profundamente sua sensibilidade, de cultura tradicionalista européia. Em julho de 1928, ele publica o Primeiro Romanceiro Gitano, que inocula na tradição do romanceiro medieval, vibrações da sensibilidade moderna. Livro pitoresco e colorido é um magnífico retrato poético de Andaluzia. São dezoito romances onde Lorca aborda uma diversidade temática e sobre alerta constante, uma presença de morte. Seus protagonistas definidos, delimitados, interpretam liricamente uma situação narrativa e se elevam devido ao traço magistral do poeta, a uma dimensão mítica. Porque são expressões elaboradas em imagens da essência popular andaluza.

Seu populismo profundamente arraigado na tradição se absorve de um dinamismo dramático que Lorca com sua perspicácia estiliza numa fusão excepcional, da melodia popular e da arte. De tal maneira que o Romanceiro adquire um valor extraordinário na lírica espanhola: por sua revitalização de uma forma métrica, pela magia surpreendente de suas imagens, por sua expressiva estilização, por sua esplêndida claridade estética. O Romanceiro Gitano é um livro sombrio e patético, em que se trate de violência, assassinatos, violações e tragédias, que alcançou em 1936 sete edições e foi traduzido em vários idiomas. Entre sua produção de poesia Romanceiro Gitano tem obtido a mais ampla receptividade, que inocula na tradição do romanceiro medieval, vibrações de sensibilidade moderna.

Um Poeta em Nova York é o resultado de uma época de depressão nos Estados Unidos, que o fascinou o imenso mundo com o sofrimento pelas injustiças sociais. Foi escrito na Columbia University, durante os anos de 1928-1930, mas só aparecerá completo em 1944 na edição de Guilhermo de Torre. O livro este dividido em dez partes, com uma madureza poética que se reflete de modo imediato na complexidade metafórica ou na vibração sonora das palavras. O poeta Garcia Lorca eleva seu protesto frente a desumanização do homem sumido na alucinante civilização da técnica. E nessa desesperada realidade, nesse tempo e espaço distinto se refugia (em um primeiro momento) em seu passado. Depois se deixa apanhar por um indomável primitivismo dos negros do Harlem contraponto, em sua miséria e sua angústia de uma sociedade super civilizada que se comporta como um pesadelo despiedoso. Diante da cidade atormentada, o poeta se cobiça na natureza e encontra, uma vez mais, sua solidão, sua dor que,

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definitivamente é buscada desalentada de um autêntico “amor humano”, uma ausência que o faz meditar a morte.

Os Seis Poemas Galegos, publicados em 1935 e escritos em galego para mostrar que embora fosse sulista, a Galicia nortista e tão distante, possuía uma poesia lírica e milenar. Em janeiro de 1936 Lorca regressa a Madri vindo de Barcelona, onde sua peça Dona Rosita a Solteira, recebera os maiores elogios, tanto da crítica especializada como do público. Considerado o mais talentoso jovem poeta e dramaturgo de sua geração na Espanha, a fama começa a chegar a vários países.

Dramaturgia

O teatro espanhol experimentaria duplamente a tragédia da Guerra Civil. Morto o poeta nas mãos de um dos partidos em luta, o dos nacionalistas, a sua obra ficaria fora dos palcos do país até a década de 60. Condenava-se ao exílio uma dramaturgia das mais importantes no teatro moderno e para o qual logo se mantiveram atentos os grandes centros teatrais. Terminada a Segunda Guerra Mundial, tornou-se ela fonte clássica do repertório internacional. Isto acontecia graças à profunda captação da essência do drama, peculiar a Garcia Lorca, patente em sua obra-prima.

De retorno à Espanha, o autor e ato a partir de 1931, dedica-se que exclusivamente ao teatro e passa a dirigir com Eduardo Ugarte A Barraca, companhia universitária ambulante, que percorre a Espanha representando os grandes clássicos do repertório espanhol, durante seus dezoito meses de atividades. Alguns como: Cervantes, Lope de Rueda, Lope de Veja, Calderón de la Barca e outros. Sendo que os atores, estudantes da Universidade de Madri, eram admitidos no grupo, depois de se submeterem a uma série de testes rigorosos, sob a orientação de Lorca. Devido a sua atividade com a criação do grupo teatral, o estimulou a produzir uma monumental obra cênica, graças à inata vocação para a arte dramática. Entretanto continua a escrever peças de teatro, as quais: A Sapateira Prodigiosa (1930), Amor de don Perlimplin com Belisa em seu jardim (1931) e Dona Rosita a Solteira (1935).

Para Lorca, o teatro, segundo o poeta Rafael Alberti, “não foi alguma coisas nova ou diferente de seu trabalho habitual, mas uma síntese de todas as suas vocações. Muitas das poesias que não escreveu assumiram forma e humanidade no teatro, como se Garcia Lorca as amasse com a maior ternura...”. A consagração definitiva como autor advem-lhe com a trilogia Bodas de Sangue (1933) Yerma (1934) 3 e A Casa de Bernarda Alba (1936). Bodas de Sangue - que estréia em 8 de março de 1933 no Teatro Beatriz de Madri, representado pela companhia de Josefina Dias de Artigas. A idéia de escrevê-la surgiu em 1928, quando Lorca leu num jornal a notícia sobre um crime passional. Essa peça está dividida em três atos e sete quadros. O autor não desejou fazer a peça inteira em versos, mas numa prosa livre, que permitisse jogar com as palavras de forma mais livre. Para alguns críticos, Bodas de Sangue é uma obra poética muito mais do

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que dramática, mas de qualquer forma a maioria da crítica aplaude a obra por sua extraordinária beleza literária, pelos surpreendentes efeitos cênicos. De outubro desse ano até março do ano seguinte, o poeta esteve na América do Sul, visitando vários países: Uruguai, Brasil e Argentina, onde sua peça Bodas de Sangue alcançou um sucesso triunfal em Buenos Aires, obtendo mais de cem apresentações.

No Brasil, a primeira apresentação foi realizada no teatro Ginástico (companhia Dulcina de Morais e Odilon) em 1951. Participaram da montagem, sob a direção de Dulcina de Morais, Odilon Azevedo (Leonardo), Aurora Aboim (a Mãe) e Dulcina (a Noiva). A segunda montagem da peça foi dirigida por Antunes Filho em 1973, com a interpretação de Maria Della Costa (a Noiva), Ney Latorraca (o Noivo), Márcia Real (a Mãe), Jonas Mello (Leonardo). Em 1934, Lorca era um dos mais famosos poeta e dramaturgo espanhol vivo. Quando a tragédia rural Yerma estreou em Madri, a imprensa reacionária recusou sem exceção, a reconhecer seu talento e afirmaram que sua obra era imoral, anticatólica e irrelevante para os problemas da Espanha. Somente triunfaria em 30 de dezembro quando o jornal El Defensor, de Granada anunciou com orgulho que a encenação da peça tivera um sucesso extraordinário.

A Casa de Bernarda Alba, escrita no mesmo ano do seu desaparecimento é considerada com a obra mais perfeita do teatro espanhol contemporâneo. A partir de um horror, Lorca estruturou este drama como dialética entre caracteres humanos diferentes. A ação e os personagens primaram sobre os demais elementos cênicos. O ascetismo da mão viúva, sua austeridade estabelecerá o conflito com as vozes mais novas. Estreada postumamente no Teatro Avenida de Buenos Aires em 1945, trata-se de uma tragédia das mulheres das aldeias espanholas acorrentadas a preconceitos e mitos que um convencionalismo social tão cruel como vazio de valores. É o que efetivamente acontece nessa peça trágica, impregnada simultaneamente pelo lirismo característico de Lorca e pela supra fatalista que o poeta bebeu na Andaluzia da sua infância. A esta poderosa tragédia da liberdade tolhida pelo autoritarismo, que transcende a ação de Bernarda sobre suas filhas para refletir um conflito mais profundo da realidade espanhola.

Morte

Nos arredores de Granada, na madrugada do dia 19 de agosto de 1936 – ano em que se iniciou a Guerra Civil Espanhola – morre Frederico Garcia Lorca, covardemente assinado com um tiro pelas costas “no lugar onde treme, emaranhada, a escura raiz do grito”, um pelotão de soldados que pertenciam ao exercito de Franco ceifou a vida do poeta. A vida que Lorca amava acima de tudo, em todas as suas formas: da criatura humana às manifestações mais primitivas da

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natureza. A vida que o encantava a cada instante, porque nas menores coisas encontrava poesia.

Naquela madrugada, toda essa intensa atividade cultural e literária foi bruscamente cortada pela violência que varreu a Espanha durante a guerra. Recolhido na casa da família em Fuentevaqueros, não ficou a salvo. Seu cunhado, prefeito do lugar, era socialista e não tardou a ser preso pela falange franquista. Pouco depois Lorca era capturado, sob a acusação de ser um espião a serviço da Rússia. Dias depois foi publicada no diário Ideal, de Granada, com uma explicação sucinta: “Morto por ferimento de guerra”. Com ele morria na Espanha a poesia.

Nem os biógrafos nem seus amigos puderam até hoje ter uma explicação para o brutal fuzilamento de Frederico Garcia Lorca, que, ao lado de Ortega y Gassete, Vicente Aleixandre honram os melhores momentos das letras espanholas. O poeta chileno Pablo Neruda, um dos mais caros amigos de Garcia Lorca escreveu pouco depois da sua morte: “Desde então não sabemos nada, senão sua própria morte, o crime pelo qual Granada volta a história como um pavilhão negro que se divisa de todos os pontos do planeta”.

Lorca e os Maçons

Na ante-sala da morte, nas colinas de Víznar, lugar em que conduziam os que iam ser assassinados, se encontrava também um grupo de Maçons a quem se haviam 'perdoado' a vida para que servissem de coveiros dos executados e outros trabalhos à serviço das tropas sublevadas. Até poucos anos, os descendentes daqueles coveiros sepultados em vida pelo regime franquista guardaram silencio sobre um passado vinculado a Maçonaria e sobre o ocorrido em relação a Federico García Lorca. Uma exposição entitulada 'La maleta de Penón', onde se exibiam os documentos sobre a investigação do escritor, revelou novos fatos. Um dos descendentes daqueles Maçons, os da familia H. R. , rompeu o silencio. Dois membros desta familia, que haviam pertencido a Maçonaria da cidade de Alhambra, puderam escapar do pelotão de execução trabalhando como coveiros em Víznar e Alfacar. Ali conheceram Manuel Castilla Blanco, 'Manolo El Comunista' e outros Maçons, todos eles se identificavam como a “Escuadra de Juan Simon”, nome que tomaram ironicamente da canção 'La hija de Juan Simón. Na noite de 18 para 19 de agosto de 1936 souberam que estavam dando sepultura a Federico García Lorca junto com outras vítimas35. Alguns dos trabalhadores da Escuadra de Juan Simón reconheceram o poeta e decidiram conservar um distintivo no corpo de Lorca para que algum dia pudesse ser resgatado seus restos mortais. Durante a ditadura franquista: «Ser masón es el mayor delito que se puede cometer en esta España nuestra». 35 Estes homens, conscientes de que sepultavam o corpo de Lorca, deixaram um distintivo para que algum día o poeta fosse identificado, a fivela de prata do cinturão.

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Coveiros Quando em 4 de agosto de 1936, já havia sido declarada a Guerra Civil, foi denunciado a existência de um templo Maçônicos no hotel Reúma, imediatamente começaram a deter os integrantes da sociedade. Dezessete deles foram levados juntos a comissária, de onde foram reclusos em peça muito pequena, até o dia 24, véspera de São Luis rei da França, em foram transladados de lugar. E um grupo formado por oito destes Maçons, dentre os mais jóvenes, foram enviados à Víznar.

Hotel Reúma próximo a La Alhambra.

Mendoza (um dos membros) se refere ao medo terrivel que passaram naquele trajeto que fizeram em carro até Víznar crendo que lhes iam fuzilar. Ao chegar as colinas les perguntaram se queriam jantar; todos disseram que não. Sua surpresa foi comprovar que não lhes deixaram na sala baixa, onde aguardavam os que iam a ser fuzilados. Porém os enviaram a um dormitório no piso superior para que passassem a noite. Na manhã seguinte, muito cedo começaram o seu trabalho. Os prisioneiros foram destinados a construir fortificações e arrumar estradas. Naquela mesma manhã também souberam que outros trabalhos lhes estavam reservados era de coveiro. E no amanhecer desse día já cavaram a sepultura de dezessete fuzilados, nas cercanias do barranco onde ocorriam as execuções. Anteriormente os fuzilamientos se haviam realizado, primeiro no caminho de la Alfaguara e despois perto de Fuente Grande, onde mataram Federico García Lorca. Aos Maçons que chegaram ao 'barranco de la muerte' foram raspadas as cabeças e ornamentados com um avental Maçônico como sinal infamante. Aquelas

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pessoas eram: José Rivas Rincón, Manuel Plaza Caro, Antonio Henares, Antonio Mendoza Lafuente, Francisco Jiménez Bocanegra, José Lopera Vaquero, Fernando Fernández García y Francisco Moral Galán. De todos eles, unicamente este último, Francisco Moral Galán, foi fuzilado. Os outros sete Maçons foram prisioneiros em Víznar e conseguiram sobreviver. O Maçom Federico García Lorca

Tudo aponta que o poeta estava filiado a Loja de la Alhambra com nome de 'Homero'36, segundo consta em alguns documentos desta sociedade, um deles reproduzido no livro 'Los últimos día de García Lorca', de Molina Fajardo. Nesta lista, em que aparece o nome do poeta, se soma ao expediente de responsabilidades políticas contra García Lorca, sob o número 630 de 1940. Em diligencias abertas pela comissária se confirmou que Garcia Lorca era Maçom.. Segundo o pesquisador Francisco López Casimiro, García Lorca manteve uma estreita relação com alguns Maçons, como Fernando de los Ríos, quem chegou a considerar Federico «su hijo espiritual37». Outros 'Irmãos' amigos de Lorca foram Francisco Callejón (íntimo do poeta), José Raya, Constantino Ruiz Carnero, José Villoslada, Alfredo Daneo e Francisco Callejón. Também contou entre seus amigos com alguns membros da Loja Alhambra38 em 1927, Gabriel Bonilla, Virgilio Castilla, Luis Fajardo, Joaquín García Labella, José Megías Manzano, José Murciano, Enrique Rodríguez Santos e Francisco Vera Guglieri.

A causa Maçônica se apresentava como uma das mais prováveis que levaram a sua detenção e posterior covarde e cruel assassinato.

36 Era comum os Maçons receberem um “Apelido Maçônico” na Iniciação. Homero (em grego, Ὅµηρος - Hómēros, na transliteração) foi o primeiro grande poeta grego cuja obra chegou até nós. Teria vivido no século VIII a.C., período coincidente com o ressurgimento da escrita na Grécia. Consagrou o género épico com as obras Ilíada e Odisséia. 37 Talvez seu padrinho na Maçonaria. 38 As informações recentes informam ser esta a Loja de filiação de Garcia Lorca.

Fernando de los Ríos.

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Operação García Lorca

Toda cidade tem sua própria via crucis. No caso de Granada, trata-se de um caminho sinuoso e inquietante: que vai desde a rua da Duquesa até os arredores de Alfacar. Foi lá que aconteceu, em 18 de agosto de 1936, o martírio do poeta Federico García Lorca e de mais três homens: o professor Dióscoro Galindo e os toureiros anarquistas Joaquín Arcollas Cabezas e Francisco Galadí.

Entre a sede do Governo Civil, de onde Lorca partiu de carro sem saber para onde, e a vala na qual terminaram os quatro, despojados de sua vida e sua dignidade, as curvas estreitas continuam driblando todos os mistérios daquelas mortes. Mas desde que o juiz Baltasar Garzón deu início no começo de setembro, na Audiência Nacional, a um processo judicial tão ambicioso quanto controverso, a história desse assassinato poderá ser esclarecida com a exumação de todos os restos mortais.

Tudo já está preparado para acontecer. Uma equipe da Universidade de Granada, organizada em colaboração com a Associação para a Recuperação da Memória Histórica (ARMH) da cidade, simplesmente espera por uma ordem. Ela é composta de arqueólogos, especialistas em geofísica, antropologia física e em DNA, e está pronta para receber um telefonema do juiz. Será um trabalho curto: dois meses desde o início. Se comparados aos 72 anos que passaram desde o assassinato, não parecem nada.

As coisas sofreram uma reviravolta há apenas dez dias. Os familiares de Dióscoro Galindo e Francisco Galadí apresentaram na quarta-feira um pedido para recuperar os cadáveres de seus familiares. O maior obstáculo até o momento era o desejo da família de García Lorca de não mexer no lugar. Mas a decisão anunciada na última quinta-feira por Laura García Lorca - sobrinha do poeta, presidente da fundação que leva o nome dele e porta-voz da família - de não impedir em nada o processo, transformou de maneira radical as expectativas dos demais envolvidos. “Abrir a vala não fecha nossas feridas. Não gostaríamos que o fizessem, mas respeitamos os desejos das outras famílias”, assegurou.

A reação implica um claro sinal verde. Pelos barrancos de Víznar, onde podem existir entre 2.500 e 2.700 mortos segundo a Associação para a Recuperação da Memória Histórica e Granada, os habitantes dos bairros vizinhos fazem caminhadas e passeiam tranquilamente com carrinhos de bebê. A paisagem é semidesértica e rude, mas têm suas relíquias. A fonte de Aynadamar (das Lágrimas), cujo manancial rega a área desde o século 11, confundiu muitas vezes, nos sinistros anos da guerra, o barulho da água com o eco do sangue. Na quarta-feira ela destilava, em vez disso, um esperançoso reflexo cristalino.

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Talvez a claridade não fosse tão intensa no dia em que o hispanista Gerald Brenan se apresentou por ali, como um pioneiro da justiça histórica, em busca do poeta. Contou sobre isso num capítulo mais do que emocionante de seu livro “La faz de España” [”A face da Espanha”], uma memória limpa e fascinante de seu regresso ao país de seus amores nos anos 50. Ao chegar a Granada, Brenan foi onde todo homem de bem teria ido para perguntar pelos mortos. Direto ao cemitério. Conforme se recorda Juan Antonio Díez López, granadino especialista na obra do inglês: “Disseram-lhe que esse Lorca não estava ali, claro”.

Brenan encontrou um país destruído, uma terra órfã profanada pela barbárie e o estandarte dos derrotados. Muitos seguiram seus passos, entre eles, Ian Gibson. O biógrafo irlandês de Lorca investigou a fundo a morte do poeta nos anos 60 e publicou um livro que, obviamente, Franco proibiu, e que se transformou numa referência sobre aqueles fatos. O livro intitulava-se “La represión nacionalista de Granada em 1936 e a morte de Federico García Lorca” [”A repressão nacionalista de Granada em 1936 e a morte de Federico García Lorca”], e nele Gibson chegou a marcar o lugar exato onde, segundo suas pesquisas, encontra-se a vala na qual os homens foram enterrados.

Foi levado até lá por Manuel Castilla Blanco, que cavou o buraco na madrugada de 18 de agosto de 1936. Hoje, um parque com o nome do poeta recorda o local que passou a ser sagrado. Ainda assim, a sombra da especulação também o espreita. “Ali, junto ao pinheiral onde está a vala descrita por Gibson, abaixo dos chalés que foram construídos, calculamos que existam 40 valas”, diz Francisco González, presidente da Associação para a Recuperação da Memória Histórica de Granada.

Manter os restos no local para protegê-los da especulação era uma das razões pela qual os familiares de García Lorca defendiam que o lugar não fosse violado. Mas essas não são as únicas tumbas do entorno. Nem da província. A ARMH granadina já localizou 120 valas, ainda que saibam que a de Lorca e dos outros três homens é a que guarda o maior valor simbólico.

Todavia, existem dúvidas mais do que razoáveis sobre sua localização.

A família do poeta, apesar de admitir que o trabalho de Gibson é referência, também as têm. “Uma das razões que nos motivam a não querer remover o terreno é que não há certeza absoluta sobre a localização”, dizem. Francisco González, por sua vez, acredita que ela possa estar 400 metros antes do local, no caminho entre Víznar e Alfacar. Foi o que disse um morador da área: Valentín Huete García.

Segundo esse homem, o lugar oficialmente reconhecido pode não ser exato. “Ele me indicou esse aqui”, comenta González, no lugar conhecido como Las Colonias, última parada antes da morte dos condenados. “Indicou exatamente ali em frente, e me disse: ‘Naquelas oliveiras em frente ao Caracolar’”.

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É um lugar que já havia sido indicado por outros dois pesquisadores, Agustín Penón e Eduardo Molina Fajardo. “Os moradores do local, que nunca perderam de vista a paisagem, também indicam esse lugar”, afirma Francisco González. Ele diz isso depois de mostrar uma pedra evidente e isolada das demais, que se encontram a cerca de cem metros. “Os coveiros marcavam as valas com uma pedra. Era a maneira de indicar que não cavassem o terreno”, comenta o presidente da associação granadina.

E acrescenta: “No outro lugar não havia nenhuma [pedra] que o assinalasse, mas pode ser uma exceção”.

O medo também confunde. “Os que não conheciam a área e voltaram depois, como era o caso de Manuel Castilla Blanco, conhecido como Manolillo o Comunista, podiam se equivocar. Os dois lugares são muito parecidos. Além disso, estavam muito nervosos; é preciso levar em conta que aquela ainda era uma época de deslealdade”.

Para que o processo caminhe, seria conveniente não criar muita confusão. Mas hoje existe tecnologia mais que confiável para saber onde se encontram as valas. Bastariam alguns georradares para saber em qual dos dois lugares o terreno foi removido.

Por isso, tudo está mais do que preparado. E os agentes da ação estão prontos para atuar. Assim que o juiz Garzón ordenar a exumação, a associação já tem definido, junto à Universidade de Granada, um plano de ação para levar a cabo com todas as garantias científicas. Por um lado, a escavação seria feita por uma equipe de arqueólogos ligados ao departamento de pré-história e coordenada por Francisco Carrión. Os georradares com os quais se exploraria o lugar pertencem ao Instituto de Geofísica da universidade. A análise dos restos mortais ficaria por conta do Instituto de Antropologia Física dirigido por Miguel Botella, um pesquisador experiente que realizou trabalhos para encontrar vítimas de Ciudad Juárez, no México, e desaparecidos na ditadura chilena de Pinochet. A operação duraria, segundo Botella, dois meses.

Os passos são claros: “identificar as valas, escavar e estudar os restos in loco, sem tirá-los dali, para identificá-los”, comenta o cientista. Em seguida seriam transferidos para a universidade para uma análise minuciosa que depois seria apresentada a cinco especialistas internacionais. Depois cada família faria com os restos o que achasse mais oportuno.

Os García Lorca querem, a princípio, mantê-los ali. Nieves Galindo, neta de Dióscoro, os levaria a Puliana. Cidade em que Galindo deixou sua marca, onde era o professor. E onde o prefeito Rafael Gil, do PSOE, ofereceu à família enterrá-lo no lugar onde ele ensinou até que a morte cruzasse seu caminho. Nieves está esperançosa. O processo aberto por Garzón ergueu a moral destruída em sua família desde a noite em que ele desapareceu. “Toda essa quantidade de valas com gente enterrada, sem nome nem sobrenome, é como ter animais na sarjeta:

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um atropelo e um abandono total. Agora nos cabe recuperar nossa memória, nossas feridas estão abertas. Não se fecharam”, comenta.

Dióscoro, que tinha 60 anos quando foram buscá-lo, havia cometido um crime recorrente em sua vida: ser ateu e exercer o ensino baseado em princípios laicos. Os falangistas do povo o haviam catalogado como “o professor vermelho”. Cometeu o atrevimento de defender a Frente Popular nas mesas eleitorais para evitar o coronelismo nas eleições.

Não foi difícil para os assassinos colocarem-no na cruz. Uma cruz que veio a pesar na vida de seu filho Antonio, pai de Nieves. “Até a sua morte não quisemos fazer nada. Ele teve medo durante a vida toda”, disse ela. Antonio tinha 25 anos quando mataram seu pai. Estava no quarto ano de medicina e teve que interromper o curso. A carreira nas salas de cirurgia foi destruída, ele teve de ganhar a vida nos andaimes, escritórios ou como chofer para uma marquesa. “Uma boa mulher que tentou lhe devolver a faculdade”, comenta Nieves. Mas foi inútil. “Ele não quis voltar. Temia que o identificassem e colocassem na prisão”.

A sombra ficou para os filhos. Marcou a todos. O mesmo aconteceu com os descendentes de Francisco Galadí. E o paradeiro dos parentes mais próximos do outro toureiro, Joaquín Arcollas Cabezas, ainda é um mistério. Ninguém reclamou seu corpo. Os dois foram, além de toureiros, membros insurrectos da CNT e da FAI. No levante de Albaicín, participaram de piquetes de greve e discussões. Os encarregados da repressão não gostavam deles. Enquanto Dióscoro Galindo foi detido em sua casa, onde pensava que nada podia lhe acontecer, Arcollas e Galadí foram pegos quando fugiam.

Os três passaram a engrossar a lista negra na qual o número um era outra pessoa. O poeta Federico García Lorca. Um homem se empenhou em sua detenção. O direitista Ramón Ruiz Alonso, que o encontrou na casa de Luis Rosales, onde Lorca se escondia confiando que ninguém se atreveria a procurá-lo na casa de um importante falangista.

Detiveram-no em 16 de agosto e na madrugada do dia 18 começou seu caminho ao calvário a desde a sede do Governo Civil, ao lado de Dióscoro Galindo. Os dois toureiros se juntaram a eles mais arde, em uma das escalas de seu caminho para a morte.

Todos foram vítimas de uma repressão que acabou em 12.500 desaparecidos em Granada. Enquanto em Víznar existem cerca de 3 mil, há outros tantos assassinados junto às cercas do cemitério - outro buraco negro símbolo da morte na cidade.

Vários haviam sido amontoados numa vala que não foi fechada. “Uma vala na qual se acumulavam os restos mortais e que tiveram que fechar em 1971″, comenta Francisco González. Foi um prefeito, Manuel Pérez-Sarrabona y Sanz, quem o fez. Mas não porque aquilo lhe parecia uma desonra, “e sim porque tinha

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que aumentar os espaços sobre esses terrenos”, acrescentou o presidente da ARMH granadina. “Sabe o que ele fez com os cadáveres? Os despejou em um lixão”.

A sombra da repressão sempre pesou como uma pedra sobre Granada. É um assunto mais do que pendente. Desde que os pioneiros da ARMH começaram a trabalhar em 1997, pouco conseguiram das autoridades. Tampouco os granadinos se mostraram muito dispostos a colaborar. “Existe uma apatia alarmante na cidade”, assegura o jornalista Francisco Vigueras, membro da associação e autor de “Los paseados com Lorca” [”Os passeios com Lorca”].

As ações do juiz Garzón deram sentido a seu trabalho. “Até hoje, apesar de muitas outras províncias terem exumado suas valas, nenhuma havia sido recuperada em Granada”. E isso porque existe um censo rigoroso que foi apresentado para a Audiência Nacional, com um total de 6.376 casos documentados sobre pessoas que sofreram repressão apenas na cidade, sem contar na província.

À iniciativa de Garzón, que vêem como uma boa notícia, soma-se a nova postura da família García Lorca. De fato, a posição deles não mudou, mas o fato de anunciarem que não impediriam a exumação é um passo gigantesco para o processo. “Os reconhecemos de forma muito positiva e estamos agradecidos”, assegura González, presidente da ARMH.

A privacidade da operação está garantida. “Nossa intenção é proteger os trabalhos com um recinto fechado e contratar segurança 24 horas por dia para que ninguém possa ter acesso”, diz.

Laura García Lorca ressalta que esse é um tema prioritário para eles.

Além da dor que isso implica para sua família. “Abrir uma vala é espantoso para todos. Pode ser um consolo para alguns, uma tranqüilidade; mas para mim, pessoalmente, gera inquietude, sobretudo quando não foi solicitado”. O tema tem a ver com a expressão “abrir e fechar feridas”, que para ela é confusa e pode ser manipulada. “Antes de mais nada, prevalece o sentimento próprio, mais íntimo. No meu caso, cavar essa vala não implica fechar nenhuma ferida. Pode ser que as abra de novo”.

São terrenos tão pessoais como escorregadios. Como o fato de considerar a exumação um ato progressista ou o contrário, conservador: “Isso é algo que se insinua, que paira e que simplesmente não é certo. Não é algo que tenha a ver com a ideologia, mas com o sentimento íntimo, porque nossa ideologia é a que é. Cremos que esse já é um lugar sagrado e que deve ficar como está. É nossa impressão. Naturalmente, queremos que nos ouçam e que nos compreendam, mas não vamos impedir nada”.

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É o mesmo que ressalta Manuel Fernández Montesinos, também sobrinho do poeta, filho de sua irmã Concha, que foi a presidente anterior da fundação. “Acreditamos que cada um pode fazer o que achar mais conveniente. É claro, respeitaremos todas as decisões judiciais. Mas este é um caso especial, especialíssimo”. Fernández Montesinos também está preocupado com a repercussão na mídia. “Exigimos privacidade absoluta, que aquilo não se transforme num mercado com câmeras. Para nós, aquele lugar é um santuário civil; será doloroso mexer lá, até mesmo humilhante, mas não nos oporemos”, ressalta.

Onde quer que estejam os restos, é impossível escapar à memória do espanto. Quem havia visto Federico García Lorca, em sua etapa na Residencia dos Estudantes, representar na cama macia de seu quarto a imagem e o momento de sua morte, sabia o que mais o aterrorizava naquele momento. Toda aquela via crucis deve ter sido como um chicote em sua alma e uma coroa de espinhos rasgando-lhe as entranhas. O olhar perdido, ensimesmado, ao lado de Dióscoro Galindo, dentro do carro pelas ruas da Duquesa até San Jerónimo e San Juan de Dios. Depois, pelas pedras da ladeira do Hospício e o passeio da Cartuja até a estrada poeirenta de Víznar. Depois a parada no palácio do Bispo Moscoso para um controle, em direção a Las Colonias. Depois, na escuridão, cavando sua própria tumba, tal como recordava Gerald Brenan. Uma vala que agora reclama o seu definitivo halo de luz. Como se o fato simples e frio de sua morte não fosse humilhação suficiente para esses quatro mártires.

A imagen original de propiedade de Manuel Castilla Blanco, um dos coveiros do poeta e os nomes de todos os protagonistas desta imagem. A fotografía é o documento gráfico que representa o capítulo final da tragedia vivida por García Lorca.

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Lugar em que p rovavelmente se enco ntram os restos mortais de García Lorca .

¡Yo soy la Libertad porque el amor lo quiso! ¡Pedro! La Libertad, por la cual me dejaste. ¡Yo soy la Libertad, herida por los hombres! ¡Amor, amor, amor, y eternas soledades!

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A Guerra Civil Espanhola em Imagens

Matança de Presos em Badajoz, 1936.

Espanhóis em Mauthausen. Mauthausen -Gusen foi um complexo de campos de concentração construídos pelos nazistas na Áustria.

Fuzilamento em Puerto Real, 1936.

«¡No pasarán! » durante a Guerra Civil Espanhola (1936 –39) por Dolores Ibárruri Gómez ( La Pasionaria ), uma das fundadoras do Partido Comunista da Espanha. Ela distinguiu-se durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), ao instigar os republicanos contra as tropas do General Franco com a frase: "É melhor morrer de pé do que viver de joelhos! Eles não passarão!". Exilou-se na URSS após a vitória de Franco, e regressou a Espanha em 1977, após a morte do general. Foi eleita para o Parlamento e permanece líder honorária do Partido Comunista até morrer, em 1989. Sua morte em 1989 coincide com o ano em que caiu o muro de Berlim.

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A Maçonaria Durante o Regime Nazista

Para entender o ódio de Adolf Hitler à Maçonaria, é preciso conhecer a teoria ideologica do nazismo. Nazismo

De acordo com o livro Mein Kampf ("Minha Luta"); Hitler desenvolveu as suas teorias políticas pela observação cuidadosa das políticas do Império Austro-Húngaro. Ele nasceu como cidadão do Império e acreditava que a sua diversidade étnica e lingüística o enfraquecera. Também via a democracia como uma força desestabilizadora, porque colocava o poder nas mãos das minorias étnicas, que tinham incentivo para enfraquecer e desestabilizar mais o Império, diferentemente da ditadura, que colocava o poder nas mãos de indivíduos restritos e intelectualmente favoráveis.

O centro da ideologia nacional-socialista é a raça. A teoria nazista defende que a raça ariana é uma raça-mestra, superior a todas as outras.

A Raça Ariana

O conceito de raça ariana teve seu auge do século XIX até a primeira metade do século XX, uma noção inspirada pela descoberta da família de línguas indo-européias. Os etnólogos do século XIX propuseram que todos os povos europeus de raça branca eram descendentes do antigo povo ariano. A palavra ariano, ao referir-se a um grupo étnico, tem várias significações. Refere-se, mais especificamente, ao subgrupo dos indo-europeus, que se estabeleceu no planalto iraniano desde o final do terceiro milénio a.C. e que povoou a Península da Índia por volta de 1500 a. C., vindo do norte, pelo Punjabe, disseminando-se pela Índia, Pérsia e regiões adjacentes.

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Estes são também chamados de árias. A sua cultura ficou particularmente expressa nos Vedas e, principalmente, no Rig Veda, considerado como o mais antigo. Por extensão, a designação "arianos" (não o termo "árias") passou a referir-se a vários povos originários das estepes da Ásia Central - os Indo-europeus - que se espalharam pela Europa e pelas regiões já referidas, a partir do final do neolítico. O termo designa ainda os descendentes dos indo-europeus que fundaram a civilização indiana, subjugando as populações locais, dando origem ao sistema de castas e, mais especificamente, às castas dominantes dos Brâmanes, xátrias e vaixás.

O termo refere-se, também, na História das Línguas, ao proto-ariano, que teria sido o ramo linguístico comum aos antepassados dos povos indo-áricos e iranianos e aos dois grandes subramos linguísticos a que terá dado origem, ou seja, às línguas indo-áricas e às línguas iranianas. Estes dois sub-ramos são árico ou indo-iraniano. Pode ainda referir-se, especificamente, aos grupos linguísticos actualmente conhecidos como proto-indo-europeu, proto-indo-iraniano e indo-iraniano. Em tempos, também se utilizou o termo para designar todas as línguas indo-europeias.

Imagem de satélite do planalto iraniano, onde os arianos ter-se-iam estabelecido desde o final do terceiro milénio antes de Cristo.

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O termo ganhou outro significado com a ideologia nazi que, baseando-se em teorias de vários autores do século XIX, o usou para classificar uma suposta raça comum aos indo-europeus e aos seus descendentes não miscigenados com outros povos. Deve-se a este facto a vulgar confusão que identifica arianos com os povos nórdicos e, mais especificamente, germânicos.

Exemplo de membro da "raça ariana" numa aula de antropometria.

O nacional-socialismo alemão diz que uma nação é a máxima criação de uma raça. Conseqüentemente, as grandes nações (literalmente, nações grandes) seriam a criação de grandes raças. A teoria diz que as grandes nações alcançam tal nível devido seu poderio militar e intelectual e que estes, por sua vez, se originam em culturas racionais e civilizadas, que, por sua vez ainda, são criadas por raças com boa saúde natural e traços agressivos, inteligentes e corajosos. As nações mais fracas seriam então aquelas criadas por raças impuras, isto é, que não apresentassem a quase totalidade de indivíduos de origem única.

De acordo com os nazistas, um erro óbvio deste tipo é permitir ou encorajar múltiplas línguas dentro de uma nação. Esta crença é o motivo pelo qual os nazistas alemães estavam tão preocupados com a unificação dos territórios dos povos de língua alemã.

Nações incapazes de defender as suas fronteiras, diziam, seriam a criação de raças fracas ou escravas.

Defendiam eles que as raças escravas eram menos dignas de existir do que as raças-mestras. Em particular, se uma raça-mestra necessitar de espaço para viver (Lebensraum), teria ela o direito de tomar o território das raças fracas para si.

Raças sem pátria eram, portanto, consideradas "raças parasíticas". Quanto mais ricos fossem os membros da "raça parasítica" mais virulento seria o parasitismo. Uma raça-mestra podia, portanto, de acordo com a doutrina nazista, endireitar-se facilmente pela eliminação das "raças parasíticas" da sua pátria.

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Foi esta a justificação teórica para a opressão e eliminação dos judeus, ciganos, eslavos e homossexuais, um dever que muitos nazistas consideravam repugnante, tendo eles como prioridade a consolidação do estado ariano.

As religiões que reconhecessem e ensinassem estas "verdades" eram as religiões "verdadeiras" ou "mestras" porque criavam liderança por evitarem as "mentiras reconfortantes". As que pregassem o amor e a tolerância, "em contradição com os fatos", eram chamadas religiões "escravas" ou "falsas". Os homens que aceitassem estas "verdades" eram chamados "líderes naturais"; os que as rejeitassem eram chamados "escravos naturais". Dizia-se dos escravos, especialmente dos inteligentes, que embaraçavam os mestres pela promoção de falsas doutrinas religiosas e políticas. Se bem que a raça fosse um fator crucial na visão do mundo dos nazistas, as raízes ideológicas do nazismo iam um pouco mais fundo. Os nazistas procuraram legitimação em obras anteriores, particularmente numa leitura, por muitos considerada discutível, da tradição romântica do século XIX, em especial do pensamento de Friedrich Nietzsche sobre o desenvolvimento do homem em direcção ao Übermensch.

No seu livro de 1939, Alemanha:Jekyll & Hyde, Sebastian Haffner chama ao Nazismo de "uma primeira (autónoma e nova) forma de Niilismo39 radical, que nega simultaneamente todos os valores, sejam eles valores capitalistas e burgueses ou sejam eles proletários". É bem verdade que este ponto de vista acaba por desconsiderar o projecto de crescimento industrial e de manutenção da ordem social estabelecida, como se percebe na Alemanha sob poder nazista, não necessariamente burguesa (visto o repúdio aos judeus, maior parte da burguesia na época).

O Programa do Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores (NSDAP)

Pode ser resumido em 25 pontos-chaves:

1. "Nós pedimos a constituição de uma Grande Alemanha, que reúna todos os alemães, baseados no direito dos povos a disporem de si mesmos.

2. Pedimos igualdade de direitos para o Povo Alemão em relação às outras nações e a revogação do Tratado de Versalhes e do Tratado de Saint Germain.

3. Pedimos terras e colônias para nutrir o nosso povo e reabsorver a nossa população.

39 Niilismo é um termo e um conceito filosófico que afeta as mais diferentes esferas do mundo contemporâneo (literatura, arte, ciências humanas, teorias sociais, ética e moral). É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais se depreciam e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". "Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro".

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4. Só os cidadãos gozam de direitos cívicos. Para ser cidadão, é necessário ser de sangue alemão. A confissão religiosa pouco importa. Nenhum judeu, porém, pode ser cidadão.

5. Os não cidadãos só podem viver na Alemanha como hóspedes, e terão de submeter-se à legislação sobre os estrangeiros.

6. O direito de fixar a orientação e as leis do Estado é reservado unicamente aos cidadãos. Por isso pedimos que todas as funções públicas, seja qual for a sua natureza, não possam ser exercidas senão por cidadãos. Nós combatemos a prática parlamentar, origem da corrupção, de atribuição de lugares por relações de Partido sem importar o caráter ou a capacidade.

7. Pedimos que o Estado se comprometa a proporcionar meios de vida a todos os cidadãos. Se o país não puder alimentar toda a população, os não cidadãos devem ser expulsos do Reich.

8. É necessário impedir novas imigrações de não alemães. Pedimos que todos os não alemães estabelecidos no Reich depois de 2 de Agosto de 1914, sejam imediatamente obrigados a deixar o Reich.

9. Todos os cidadãos têm os mesmos direitos e os mesmos deveres. 10. O primeiro dever do cidadão é trabalhar, física ou intelectualmente. A

atividade do indivíduo não deve prejudicar os interesses do coletivo, mas integrar-se dentro desta e para bem de todos. É por isso que pedimos:

11. A supressão do rendimento dos ociosos e dos que levam uma vida fácil, a supressão da escravidão do juro.

12. Considerando os enormes sacrifícios de vidas e de dinheiro que qualquer guerra exige do povo, o enriquecimento pessoal com a guerra deve ser estigmatizado como um crime contra o povo. Pedimos por isso o confisco de todos os lucros de guerra, sem exceção.

13. Pedimos a nacionalização de todas as empresas que atualmente pertencem a trusts.

14. Pedimos uma participação nos lucros das grandes empresas. 15. Pedimos um aumento substancial das pensões de reforma. 16. Pedimos a criação e proteção de uma classe média sã, a entrega imediata

das grandes lojas à administração comunal e o seu aluguer aos pequenos comerciantes a baixo preço. Deve ser dado prioridade aos pequenos comerciantes e industriais nos fornecimentos ao Estado, aos Länder ou aos municípios.

17. Pedimos uma reforma agrária adaptada às nossas necessidades nacionais, a promulgação de uma lei que permite a expropriação, sem indemnização, de terrenos para fins de utilidade pública – a supressão de impostos sobre os terrenos e a extinção da especulação fundiária.

18. Pedimos uma luta sem tréguas contra todos os que, pelas suas atividades, prejudicam o interesse nacional. Criminosos de direito comum, traficantes, agiotas, etc., devem ser punidos com a pena de morte, sem consideração de credo religioso ou raça.

19. Pedimos que o Direito romano seja substituído por um direito público alemão, pois o primeiro é servidor de uma concepção materialista do mundo.

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20. A extensão da nossa infra-estrutura escolar deve permitir a todos os Alemães bem dotados e trabalhadores o acesso a uma educação superior, e através dela os lugares de direção. Os programas de todos os estabelecimentos de ensino devem ser adaptados às necessidades da vida prática. O espírito nacional deve ser incutido na escola a partir da idade da razão. Pedimos que o Estado suporte os encargos da instituição superior dos filhos excepcionalmente dotados de pais pobres, qualquer que seja a sua profissão ou classe social

21. O Estado deve preocupar-se por melhorar a saúde pública mediante a proteção da mãe e dos filhos, a introdução de meios idôneos para desenvolver as aptidões físicas pela obrigação legal de praticar desporto e ginástica, e mediante um apoio poderoso a todas as associações que tenham por objetivo a educação física da juventude.

22. Pedimos a supressão do exército de mercenários e a criação de um exército nacional.

23. Pedimos a luta pela lei contra a mentira política consciente e a sua propagação por meio da Imprensa. Para que se torne possível a criação de uma imprensa alemã, pedimos que:

1. Todos os diretores e colaboradores de jornais em língua alemã sejam cidadãos alemães.

2. A difusão dos jornais não alemães seja submetida a autorização expressa. Estes jornais não podem ser impressos em língua alemã.

3. Seja proibida por lei qualquer participação financeira ou de qualquer influência de não alemães em jornais alemães. Pedimos que qualquer infração estas medidas seja sancionada com o encerramento das empresas de impressão culpadas, bem como pela expulsão imediata para fora do Reich os não alemães responsáveis. Os jornais que forem contra o interesse público devem ser proibidos. Pedimos que se combata peã lei um ensino literário e artístico gerador da desagregação da nossa vida nacional; e o encerramento das organizações que contrariem as medidas anteriores.

24. Pedimos a liberdade no seio do Estado para todas as confissões religiosas, na medida em que não ponham em perigo a existência do Estado ou não ofendam o sentimento moral da raça germânica. O Partido, como tal, defende o ponto de vista de um Cristianismo construtivo, sem todavia se ligar a uma confissão precisa. Combate o espírito judaico-materialista no interior e no exterior e está convencido de que a restauração duradoura do nosso povo não pode conseguir-se senão partindo do interior e com base no princípio: o interesse geral sobrepõe-se ao interesse particular.

25. Para levar tudo isso a bom termo, pedimos a criação de um poder central forte, a autoridade absoluta do gabinete político sobre a totalidade do Reich e as suas organizações, a criação de câmaras profissionais e de organismos municipais encarregados da realização dos diferentes Länder, de leis e bases promulgadas pelo Reich.

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Os dirigentes do Partido prometem envidar todos os seus esforços para a realização dos pontos antes enumerados, sacrificando, se for preciso, a sua própria vida.

Munique, 24 de Fevereiro de 1920".

O inicio

Quando Adolf Hitler subiu ao poder, dez Grandes Lojas da Alemanha foram dissolvidas. Muitos dentre as mais eminentes personalidades e membros da Ordem foram enviados para campos concentração. A Gestapo apreendeu listas da filiação das Grandes Lojas e saquearam suas bibliotecas e coleções de objetos Maçônicos. Muito desse saque, em seguida, foi exibido em uma “Exposição Anti-Maçônica” inaugurado em 1937 pelo Dr. Joseph Goebbels em Munique. A Exposição incluíu mobiliario completo de Templos Maçônicos.

Quem foi Joseph Goebbels

Paul Joseph Goebbels (Mönchengladbach, 29 de outubro de 1897 —

Berlim, 1 de maio de 1945) foi o Ministro do Povo e da Propaganda de Adolf Hitler (Propagandaminister) na Alemanha Nazista, exercendo severo controle sobre as instituições educacionais e os meios de comunicação. Foi uma figura-chave do regime, conhecido por seus dotes retóricos. Era um dos líderes políticos nazistas mais destacados que tinham concluído estudos superiores. Teve uma posição correspondentemente importante entre os nazistas. Um dos primeiros e ávido apoiante da guerra, Goebbels fez tudo em seu poder para preparar o povo alemão para um conflito militar em larga escala. Durante a Segunda Guerra Mundial, ele aumentou o seu poder e influência através de alianças, deslocando dirigentes nazistas. Em finais de 1943, a guerra estava virando contra os poderes do Eixo, mas isso só fez Goebbels estimular a intensificar a propaganda, exortando os alemães a aceitar a idéia de guerra total e de mobilização. Goebbels permaneceu com Hitler em Berlim até o fim, e na sequência do suicídio do Führer, foi indicado por ele para servir como Chanceler do Reich, ao quel o foi, por apenas um dia. Em suas últimas horas, sugere-se que Goebbels permitiu a sua mulher, Magda, matar

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os seus seis filhos pequenos. Pouco depois, Goebbels e sua mulher cometeram suicídio.

A perseguição iniciou na Austria quando o pais foi capturado pelos nazistas. Veneráveis Mestres de várias Lojas de Viena foram confinados em campos de concentração, incluindo o terrível campo de Dachau na Bavária (ver fotos abaixo).

O mesmo procedimento se repetiu quando Hitler tomou a Republica Checa

e também a Polonia. Imediatamente após conquistar a Holanda e a Belgica, os nazistas ordenaram a dissolução das Lojas daquelas nações. Foi também um ponto da ordem do dia do Major Quisling40 na Noruega. O General Franco na 40 Vidkun Abraham Lauritz Jonssøn Quisling (18 de Julho de 1887 - 24 de Outubro de 1945) foi um oficial da armada real norueguesa e o principal colaborador do ocupante nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Em Dezembro de 1939, o major Quisling encontra-se com Hitler (que o considerada um aliado pouco valioso) e pressiona-o a ajudar a tomar o poder na Noruega, agitando o espectro de uma invasão britânica para cortar a rota do ferro da Suécia. A ameaça aliada parece formar-se em Narvik e a Alemanha invade a Noruega em 8/9 de Abril de 1940. Quisling proclama-se chefe do governo nacional numa emissão radiofónica noticiosa. A hostilidade da população norueguesa fez com que o seu governo durasse uns escassos cinco dias. A Noruega foi então governada até Fevereiro de 1942 pelo alemão Josef Terboven, com quem Quisling

O terrível campo de concentração de Dachau na Bavária, Alemanha.

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Espanha em 1940 condenou todos os Maçons automaticamente a dez anos de prisão.

Quando a França caiu em junho, o governo de Vichy41 dissolveu as duas Potencias Maçônicas Francesas, o Grande Oriente e a Grande Loja, que tiveram seus bens confiscados e leiloados.

O ódio de Hitler à Maçonaria é bem documentado. Em 1931 foi dada aos

membros do partido Nazista um "Guia e Carta Instructional", que declarava: "a hostilidade natural dos camponeses contra os judeus, e também sua hostilidade contra a Maçonaria como um agente dos judeus...”.

Em 7 de abril de 1933, Hermann Goering42 em uma entrevista com o Grande Mestre von Heeringen da Grande Loja da Alemanha, disse que não havia lugar para a Maçonaria na Alemanha nazista. O livro oficial para a Escolarização da Juventude Hitlerista, atacava Maçons, marxistas, e as igrejas cristãs por ensinarem a igualdade de todos os homens.

Em 28 de outubro de 1934, o ministro do Interior do III Reich, Wilhelm Frick43 instituiu um decreto declarando as Lojas Maçônicas como “hostis ao estado” e, portanto, sujeitos a ter seus bens confiscados. Finalmente, em 17 de agosto de 1935 Frick ordenou o fechamento do restante das Lojas e o confisco de seus bens. mantinha uma relação tensa. Quisling reinstalou-se no poder em Fevereiro de 1942 e colabora activamente com o ocupante nazi, quer na deportação da população judia, no combate aos resistentes ao lado da Gestapo ou convidando os jovens noruegueses a integrar as Waffen SS. Preso após a capitulação alemã (9 de Maio de 1945), Quisling foi julgado e condenado por alta traição. Foi fuzilado em 24 de Outubro de 1945 em Oslo. A palavra "quisling" entrou na língua norueguesa e noutras línguas como sinónimo de traidor à pátria.

41 A França de Vichy (em francês chamada hoje de Régime de Vichy ou Vichy; na altura autotitulava-se de État Français) foi o Estado francês dos anos 1940-1944, o qual era um governo fantoche da influência Nazi, opondo-se às Forças Livres Francesas, baseadas inicialmente em Londres e depois em Argel. Foi estabelecido após o país se ter rendido à Alemanha em 1940, na Segunda Guerra Mundial. Recebe o seu nome da capital do governo, a cidade de Vichy, a sudeste de Paris, próximo de Clermont-Ferrand.

42 Hermann Wilhelm Göring (ou Goering) (12 de janeiro de 1893, Rosenheim – 15 de outubro de 1946, Nuremberg) foi um político e líder militar alemão, membro do Partido Nazista, Marechal do Reich, comandante da Luftwaffe e segundo homem mais importante na hierarquia do III Reich de Adolf Hitler.

43 Wilhelm Frick (Alsenz, 12 de março de 1877 — Nurembergue, 16 de outubro de 1946) foi um político nazista, ministro do Interior do Terceiro Reich, julgado e condenado à morte por crimes de guerra pelo Tribunal de Nuremberg. Após a guerra, preso e julgado pelo Tribunal de Nuremberg, onde foi o único acusado que se recusou a apresentar uma defesa, seu papel como formulador das Leis de Nuremberg e controlador dos campos de concentração o fizeram ser considerado culpado por planejar e iniciar guerra de agressão, crimes contra a paz e crimes contra a humanidade, sendo condenado à morte por enforcamento. Em 16 de outubro de 1946, ele foi o sexto homem a deixar sua cela algemado, as 2:05 da madrugada, andar até o patíbulo, ter a corda passada no pescoço, dizer as palavras “Vida longa à eterna Alemanha” e cair pelo alçapão.

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A Propaganda Anti-Maçônica A propaganda nazista continuava a ligar judeus e a Maçônaria; a virulenta publicação de Julius Streicher44 Der Stuermer (A Tropa de Assalto) que repetidamente imprimiu cartoons e artigos que tentaram retratar uma conspiração “Judaico-Maçônica”.

44 Julius Streicher (Fleinhausen, 12 de Fevereiro de 1885 — Nuremberga, 16 de Outubro de 1946) foi um militar alemão, proeminente oficial nazi antes e durante a Segunda Guerra Mundial. Ele publicava o jornal nazista "Der Stürmer", o qual se tornaria parte da máquina de propaganda nazista. Chegou mesmo a publicar livros infantis anti-semitas, incluindo um chamado Der Giftpilz (O cogumelo venenoso). Foi um dos principais responsáveis pelo ambiente racista, xenófobo e anti-semita na Alemanha, que acabaria por culminar no Holocausto.

Wilhelm Frick.

Julius Streicher.

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A Maçônaria tambem tornou-se uma obsessão particular do chefe da Policia Secreta Nazista, Reinhard Heydrich45, que classificou os Maçons juntamente com os judeus e o clero, como os "mais implacáveis inimigos da raça alemã."

Em 1935 Heydrich defendeu a necessidade de eliminar não apenas as manifestações visíveis destes inimigos, mas a raiz a partir da qual todos os

45 Reinhard Tristan Eugen Heydrich (Halle an der Saale, 7 de Março de 1904 — Praga, 4 de Junho de 1942) foi um dos líderes da SS durante o regime nacional-socialista na Alemanha. Chegou a alcançar o posto de General dentro da SS, a temida tropa de choque nazi.

Poster entitulado "A relação entre Judeus e Maçons.”

Reinhard Heydrich .

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alemães poderiam sofrer a influência indireta do espírito judeu - um resíduo infecciosos judeu, liberal, e Maçônico que permanecem no inconsciente de muitos, sobretudo no mundo acadêmico e intelectual. Heydrich criou um setor especial SS46 para tratar especificamente da Maçonaria. Com o seu pessoal ele acreditava que Maçonaria exercia um poder político real, na forma do controle da opinião pública através da imprensa, e assim em posição de provocar a guerra, subversão e revolução.

Como parte de sua propaganda campanha contra a Maçonaria, os nazistas

e outras organizações locais de direita montaram exposições anti-maçônicas em toda a Europa ocupada. Paris ocupada pelos alemães organizou uma exposição anti-maçônicas, em Outubro de 1940, tal como fez o Bruxelas também ocupada pelos alemães, em Fevereiro de 1941. As exposições mostravam rituais Maçonicos e instrumentos culturais roubados das Lojas, tais exposições eram destinadas à ridícularizar e estimular o direto ódio contra Maçons e também para aumentar temores de uma conspiração Judaica-Maçônica. A propaganda alemã durante a guerra, em especial no exército, culpava os judeus e os Maçons de terem provocado a II Guerra Mundial e eram responsáveis pelas políticas de E.U.A., visto que o Presidente Franklin Roosevelt, foi identificado como um Maçom.

Em Agosto de 1940, o regime de Vichy (França ocupada) emitiu um decreto declarando Maçons como inimigos do Estado e autorizou vigilância policial deles. As autoridades francesas ainda criaram um arquivo micro filmado que identificou todos os membros do Grande Oriente da França.

46 A Schutzstaffel, ou SS, foi uma organização paramilitar ligada ao partido nazista alemão. Seu lema era "Mein Ehre heißt Treue" ("Minha honra é a lealdade"). Da Stroßtrupp/Strosstrupp ("tropa de choque") de Adolf Hitler (400 Sturmabteilung, SA, de elite, criada em 1921 por Ernst Röhm), nasceram em 1925 as SS abreviatura de Schutzstaffel, ("esquadrão de proteção"), que em 1932 tinham 60.000 membros, dois anos depois 100.000, 240.000 em 1939 e que, durante a Segunda Guerra Mundial, chegaram a um milhão de homens.

Franklin Roosevelt.

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Em 1942, Alfred Rosenberg47 foi autorizada por um decreto de Hitler para desenvolver uma "guerra intelectual" contra os judeus e os Maçons.

Após o final da II Guerra Mundial, enormes coleções de arquivos, bibliotecas e coleções Maçônicas que tinham sido apreendidos pelas autoridades alemãs foram recuperadas, pelas forças Aliados e Soviéticas.

47 Alfred Rosenberg (Reval, 12 de Janeiro de 1893 — Nuremberg, 16 de Outubro de 1946) foi um político e escritor alemão, sendo o principal teórico do nacional-socialismo, sintetizado na obra O Mito do Século XX("Der Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts", 1930). Conselheiro de Adolf Hitler, chegando a ser ministro encarregado dos territorios da Europa Oriental, em 1941, onde deportou e exterminou centenas de milhares de pessoas, principalmente judeus. O Tribunal de Nuremberg o condenou à morte por enforcamento, pelos crimes de guerra.

Alfred Rosenberg.

Propaganda intitula da "judaísmo, Maçonaria e bolchevismo.

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Hitler discursando ao povo alemão. O ódio de Hitler à Maçonaria por suas próprias palavras: “Para fortalecer sua posição política, ele [o judeu] tenta derrubar as barreiras raciais e civis que, por uma vez continuar a limitar-lhe a cada passo. Para esse fim, ele luta com toda a tenacidade inata nele para a tolerância religiosa, e na Maçonaria, que sucumbiu a ele completamente, ele tem um excelente instrumento para a luta pelos seus objetivos e para colocá-los em prática. Os círculos governamentais, os altos estratos da burguesia econômica e política que são atraídos em sua rede pelas cordas da Maçonaria, e nem precisa suspeitar o que esta acontecendo.” "Só o mais amplo e profundo extratos da população, como tal, ou melhor, como uma classe que está começando a acordar e lutar pelos seus direitos e liberdade, ainda não podem ter percebido esses métodos. Porem isto é necessário mais do que qualquer outra coisa, pois os judeus sentem a possibilidade da sua ascensão a um papel dominante existe somente se algo a frente deles clarear o caminho e esse algo pode ser reconhecido na burguesia. Os burgueses, contudo não podem ser capturados na fina rede da Maçonaria, não sem a utilização de meios menos dramáticos. Então a Maçonaria se une aos judeus a través de uma segunda arma: a imprensa. Com toda a sua perseverança e destreza ele (o judeu) aproveita e se apossa dela. Com ela ele lentamente começa a agarrar e preparar uma armadilha para guiar e empurrar toda a vida publica, visto que ele esta numa posição onde pode criar algo conhecido como “opinião pública”, que é melhor conhecida hoje do que a poucas décadas." “Enquanto o mundo judeu lenta, mas persistentemente nos estrangula, os nossos patriotas gritam contra um homem e um sistema o qual ousa em um canto da terra livra-los da coalizão Judaico-Maçônica e se opõem a esse envenenamento através de uma resistência nacionalista.” "A proibição das sociedades secretas como a Maçônica, a perseguição à imprensa supra-nacional, bem como a continuidade da demolição do marxismo internacional, e, inversamente, um constante reforço da concepção do estado

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fascista48, será, no decurso dos anos fará com que o Governo italiano sirva os interesses do povo italiano mais e mais, sem olhar para o mundo judeu". "A paralisia geral nacional pacifista do instinto de auto preservação iniciada pela Maçonaria nos círculos chamados de intelligentsia49 é transmitida para as grandes massas e, sobretudo, para a burguesia pela atividade dos grandes jornais que hoje são de judeus.”

Resistência Maçônica 50

No início de 1934, logo após a ascensão de Adolf Hitler ao poder, ficou claro que a maçonaria alemã corria o risco de desaparecer. E breve, a maçonaria alemã, que conhecera dias gloriosos e que tivera, em suas colunas, os mais ilustres filhos da pátria alemã, com Goethe, Schiller e Lessingn, veria esmagado o espírito da liberdade sob o pretexto de impor a ordem e uma estúpida supremacia racial. Quanto retrocesso desde que Friedrich Wilhelm III, Rei da Prússia, em 1822, impediu que os esbirros reacionários da Santa Aliança de Metternich fechassem as Lojas Maçônicas, declarando peremptoriamente que poderia descrever o Franco-Maçons prussianos, com toda a honestidade, como sendo os melhores dentre os seus súditos... As Lojas alemãs, na terceira década do século XX, estavam jurisdicionadas a onze Grande Lojas, divididas em duas tendências. O primeiro grupo, de tendência humanista, seguindo os antigos costumes ingleses, tinha como base a tolerância, valorizando o candidato por seus méritos e não levando em consideração sua crença religiosa. Constava de sete Grandes Lojas, a saber: Grande Loja de Hamburgo; GrandeLoja Nacional da Saxônia, em Dresden: Grande Loja do Sol, de Bayreuth; GrandeLoja-Mãe da União Eclética dos Franco-Maçons, em Frankfurt; Grande Loja Concórdia, em Darmstadt; Grande Loja Corrente Fraternal Alemã, em Leipzig; e, finalmente, a Grande Loja Simbólica da Alemanha. O segundo grupo consistia das três antigas Lojas prussianas, que faziam a exigência de que os candidatos fossem cristãos. Havia ainda a Grande Loja União Maçônica do Sol Nascente, não considerada regular, mas que também

48 fascismo é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919, durante seu governo (1922–;1943 e 1943–;1945). Fascismo deriva de fascio , nome de grupos políticos ou de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces , que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão camisas negras, em virtude do uniforme que utilizavam. 49 A palavra intelligentsia , como o conceito que designa, é de origem russa e foi inventada a certo momento algures entre a década de 1860 e 1870. Não significava simplesmente o conjunto de pessoas instruídas. E também não, sem dúvida, simplesmente os intelectuais nessa qualidade. 50 Título original: Para não esquecer de autoria do Irmão Felisberto S. Rodrigues, M.I. M.R.A Publicado na revista maçônica “Engenho & Arte” n° 1 0 de outubro de 2002.

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tinha tendências humanistas e também pacifistas. Voltando a 1934, a Grande Loja Alemã do Sol se deu conta do grave perigo que iria enfrentar. Inevitavelmente, os maçons alemães estavam partindo para a clandestinidade, devido à radicalização política e ao nacionalismo exacerbado. Muitos adormeceram e alguns romperam com a tradição, formando uma espúria Franco-Maçonaria Nacional Alemã Cristã, sem qualquer conexão com o restante da Franco-Maçonaria. Declaravam eles abandonarem a idéia da universalidade maçônica e rejeitar a ideologia pacifista, que consideravam como demonstração de fraqueza e como uma degeneração fisiológica contrária aos interesses do estado! Miosótis e a Maçonaria Germânica

Os Maçons que persistiram em seus ideais precisaram encontrar um novo meio de identificação que não o óbvio Compasso & Esquadro, seguramente um risco de vida. Porém há uma pequenina flor azul que é conhecida, em muitos idiomas, pela mesma expressão: não-me-esqueças – o miosótis.

Entenderam, nossos irmãos alemães, que esse novo emblema não atrairia a atenção dos nazistas, então a ponto de fechar-lhes as Lojas e confiscar-lhes as propriedades.

O Miosótis, Vergissmeinnicht, em alemão; forget-me-not, em inglês;

forglemmigef em dinamarquês; ne m’oubliez pás, em francês; non-ti-scordar-di-me, em italiano; não-te-esqueças-de-mim, em português. Diz a lenda que Deus assim chamou a florzinha porque ela não conseguia recorda-se do próprio nome. O nome miosótis (Myosotis palustris) significa orelha de camundongo, por causa do formato das pétalas. O folclore europeu atribui poderes mágicos ao miosótis, como o de abrir as portas invisíveis dos tesouros do mundo. O tamanho reduzido das flores parece sugerir que a humildade e a união estão acima dos interesses materiais, porque é notada principalmente quando, em conjunto, forma buquês no jardim. De acordo com uma velha tradição romântica alemã, o nome da flor está relacionado às últimas palavras de um cavaleiro errante que, ao tentar alcançar a flor para sua dama, caíra no rio, com sua pesada armadura e afogara-se.

O Miosótis

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Outra história diz que Adão, ao dar nomes às plantas do Jardim do Éden, não viu a pequena flor azul. Mais tarde, percorrendo o jardim para saber se os nomes tinham sido aceitos, chamou-as pelo nome. Elas curvaram-se cortesmente e sussurravam sua aprovação. Mas uma voz delicada a seus pés perguntou: “- E eu, Adão, qual o meu nome?” Impressionada com a beleza singela da flor e para compensar seu esquecimento, Adão falou: “ – Como eu me esqueci de você antes, digo que vou chama-la de modo a nunca mais esquecê-la. Seu nome será não-te-esqueças-de-mim.” Através de todo o período negro do nazismo, a pequenina flor azul identificava um Irmão. Nas cidades e até mesmo nos campos de concentração, o miosótis adornava a lapela daqueles que se recusavam a permitir que a Luz se extinguisse.6 Também muitos Maçons recolheram e guardaram zelosamente jóias, paramentos e registros das Lojas, na esperança de dias melhores. O irmão Rudolf Martin Kaiser, VM da Loja Leopold zur Treue, de Karlsruhe, quebrou a jóia do Venerável Mestre em pequenos pedaços de tal modo que não pudesse ser reconhecida pela infame Gestapo.

Em 1945, o nazismo, com seu credo de ódio, preconceito e opressão, que exterminara, entre outros, também muitos maçons, era atirado no lixo da História. Nas fileiras vitoriosas que ajudaram a derrota-lo, estavam muitos maçons – ingleses, americanos, franceses, dinamarqueses, tchecos, poloneses, australianos, canadenses, neozelandeses e brasileiros. De monarcas, presidentes e comandantes aos mais humildes pracinhas. Mas, entre os alemães, alguns velhos maçons também sobreviveram, seu sofrimento ajudando a redimir, de alguma forma, a memória da histeria coletiva nazista. Eles eram o penhor da consciência alemã, a demonstração de que a velha chama da civilização alemã continuara, embora com luz tênue, a brilhar durante a barbárie.

Em 14 de junho de 1954, a Grande Loja O Sol (Zur Sonne) foi reaberta, em Bayreuth, sob um ilustre irmão o Dr. Theo Vogel, núcleo da Grande Loja Unida da Alemanha. Nesse momento, o miosótis foi aprovado como emblema oficial da primeira convenção anual, realizada por aqueles que conseguiram sobreviver aos anos amargos do obscurantismo. Nessa convenção, a flor foi adotada, oficialmente, como um emblema Maçônico, em honra àqueles valentes Irmãos que enfrentaram circunstâncias tão adversas.

Certamente, na platéia, estava o Venerável Mestre da Loja Leopold ZurTreue, agora nº 151, ostentando orgulhoso sua jóia recuperada e reconstituída, suas emendas de solda constituindo-se num testemunho mudo e comovente da

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história.

Finalmente, para coroar, quando Grão-Mestres de todo o mundo encontraram-se nos Estados Unidos, o Grão-Mestre da recém formada Grande Loja Unida da Alemanha presenteou a todos os representantes das Grandes Jurisdições ali presente com um pequeno miosótis para colocar na lapela.

O miosótis também é associado com as forças britânicas que serviram na

Alemanha, em especial na região do Rio Reno, logo após a guerra. Há uma Loja, jurisdicionada à Grande Loja Unida da Inglaterra, a Forget-me-not Lodge nº 9035, Ludgershall, Wiltshire, que adotou a flor como emblema. Foi formada especialmente para receber os militares ingleses que retornavam do serviço na Alemanha.

Foi assim que essa mimosa florzinha azul, tão despretensiosa, transformou-

se num significativo emblema da Fraternidade – talvez hoje o mais usado pelos maçons alemães. Ainda hoje, na maioria das Lojas germânicas, o alfinete de lapela com o miosótis é dado aos novos Mestres, ocasião em que se explica o seu significado para que se perpetue uma história de honra e amor frente à adversidade, um exemplo para as futuras gerações Maçônicas de todas as nações.

O miosótis em um detalhe da parede de uma Loja Maçônica.

Pequeno miosótis para colocar na lapela .

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Referências bibliográficas http://pt.wikipedia.org/wiki/Nazismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Povo_ariano http://freemasonry.bcy.ca/anti-masonry/hitler.html. Acessado em 18/4/2009. http://www.ushmm.org/wlc/media_da.php?lang=en&ModuleId=10007187&MediaId=5797 Sobre o Miosótis e a Maçonaria acessar : Para não esquecer de autoria do Irmão Felisberto S. Rodrigues, M.I. M.R.A Publicado na revista maçônica “Engenho & Arte” n° 1 0 de outubro de 2002.http://mictmr.blogspot.com/2006/01/para-no-esquec

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A Maçonaria Durante o Estado Novo Português

O Estado Novo Português

Estado Novo é o nome do regime político autoritário e corporativista de Estado que vigorou em Portugal durante 41 anos sem interrupção, desde 1933, com a aprovação de uma nova Constituição, até 1974, quando foi derrubado pela Revolução do 25 de Abril. Ao Estado Novo alguns historiadores também chamam "II República", embora tal designação jamais tenha sido assumida pelo próprio regime.

A designação oficiosa "Estado Novo", criada sobretudo por razões ideológicas e propagandísticas, quis assinalar a entrada numa nova era, aberta pela Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926, marcada por uma concepção antiparlamentar e antiliberal do Estado. Neste sentido, o Estado Novo encerrou o período do liberalismo em Portugal, abrangendo nele não só a Primeira República, como também o Constitucionalismo monárquico.

Como regime político, o Estado Novo foi também chamado salazarismo, em referência a António de Oliveira Salazar, o seu fundador e líder. Salazar assumiu o cargo de Ministro das Finanças em 1928, tornou-se, nessa pasta, figura preponderante no governo da Ditadura Militar já em 1930 (o que lhe valeu o epíteto de "Ditador das Finanças") e ascendeu a Presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro) em Julho de 1932, posto que manteve até ao seu afastamento por doença em 1968. A designação salazarismo reflecte a circunstância de o Estado Novo se ter centrado na figura do "Chefe" Salazar e ter

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sido muito marcado pelo seu estilo pessoal de governação. O Estado Novo, todavia, abrange igualmente o período em que o sucessor de Salazar, Marcello Caetano, chefiou o governo (1968-1974). Caetano assumiu-se como "continuador" de Salazar, mas vários autores preferem autonomizar este período do Estado Novo e falar de Marcelismo. Marcello Caetano51 ainda pretendeu rebatizar publicitariamente o regime ao designá-lo por Estado Social, "mobilizando uma retórica política adequada aos parâmetros desenvolvimentistas e simulando o resultado de um pacto social que, nos seus termos liberais, nunca existiu", mas a designação não se enraizou.

Ao Estado Novo têm sido atribuídas as influências do maurrasianismo52, do Integralismo Lusitano53, da doutrina social da Igreja54, bem como de alguns

51 Marcello José das Neves Alves Caetano (Lisboa, 17 de Agosto de 1906 — Rio de Janeiro, 26 de Outubro de 1980) foi um jurista, professor universitário de direito, historiador e político, tendo sido o último Presidente do Conselho do Estado Novo. Exerceu cargos políticos e governativos de destaque no Estado Novo, sendo ministro das Colónias (1944-1947), presidente da Câmara Corporativa e ministro da Presidência do Conselho de Ministros (1955-1958). Nesta última data, na sequência de uma crise política interna do regime, viu-se afastado por Salazar da posição de número dois do regime, aceitando porém assumir funções destacadas no partido único União Nacional, como presidente da comissão executiva da UN. Regressado à vida académica, foi reitor da Universidade de Lisboa de 1959, até se demitir, em 1962, no seguimento da Crise Académica desse ano e da ação brutal da polícia de choque contra os estudantes na cidade universitária. Tendo afirmado não voltar à vida política e pedido a sua exclusão do Conselho de Estado, de que era membro vitalício, não explicou nas suas memórias por que razão, em 1968, na altura do afastamento de Salazar, voltou a esse mesmo Conselho e acabou por ser nomeado Presidente do Conselho de Ministros. Foi o fundador do moderno Direito Administrativo Português, cuja disciplina sistematizou e ordenou; influenciou várias gerações de juristas e, também, de governantes, no modo de pensar uma Administração Pública legal e sujeita ao contencioso (embora limitado por considerações políticas). Foi professor de Ciência Política e Direito Constitucional e também aqui deixou a mesma influência nos vindouros (estudaram-se, pela primeira vez, de um ponto de vista jurídico e sistemático os problemas dos fins e funções do Estado, da legitimidade dos governantes, dos sistemas de governo, etc.). Foi ainda um historiador de Direito de méritos pouco igualados, designadamente, da Idade Média portuguesa. Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, Marcelo Caetano foi destituído de todos os seus cargos, exilando-se no Brasil com a família. O exílio permitiu-lhe evitar ser judicialmente responsabilizado, mas lhe retirou o direito à pensão de reforma no fim da sua carreira universitária. No Brasil prosseguiu a sua actividade académica como director do Instituto de Direito Comparado da Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Recebeu, também, o título de Professor Honorário da Faculdade de Direito de Osasco, em São Paulo. Marcello Caetano morreu aos 74 anos, a 26 de Outubro de 1980, vítima de ataque cardíaco. A sua morte aconteceu pouco tempo antes de ser publicado o I volume (e único) da sua História do Direito Português, que abrange os tempos desde antes da fundação da nacionalidade até ao final do reinado de D. João II (1495), incluindo um apêndice sobre o feudalismo no extremo ocidente europeu. Morreu sem nunca ter desejado regressar a Portugal do exílio no Brasil, onde morava no bairro carioca de Copacabana. Seu corpo foi sepultado no Cemitério São João Batista, na cidade do Rio de Janeiro. 52 Charles Maurras (20 de Abril de 1868 - 16 de Novembro de 1952) foi um poeta monarquista francês, um jornalista, dirigente e principal fundador do jornal anti-semita e germanófobo Action Française. Foi a figura principal do movimento anti-Dreyfusard da Action Française. Salazar estudou cuidadosamente as suas ideias, com as quais simpatizava. 53 O Integralismo Lusitano (IL) designa um agrupamento sócio-político tradicionalista português, activo e influente entre 1914 e 1932 e, por intermédio dos seus dirigentes fundadores e discípulos, na oposição ao Estado Novo de Oliveira Salazar. 54 Doutrina Social da Igreja é o conjunto dos ensinamentos contidos no Magistério da Igreja Católica constante de numerosas encíclicas e pronunciamentos dos papas inseridos na tradição multissecular e que tem suas origens nos primórdios do Cristianismo. Tem por finalidade fixar princípios, critérios e diretrizes

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aspectos da doutrina e prática do Fascismo italiano, regime do qual adoptou o modelo do Partido Único e, até certo ponto, do Corporativismo de Estado.

A Ditadura Nacional55 (1926-1933) e o Estado Novo de Salazar e Marcello Caetano (1933-1974) foram, conjuntamente, o mais longo regime ditatorial na Europa Ocidental durante o séc. XX, estendendo-se por 48 anos.

Nascimento do Estado Novo

A Ditadura Nacional (1926-1933), regime de exceção dirigido por militares, com uma estrutura constitucional provisória e suspensão das garantias consignadas na Constituição Portuguesa de 1911, precedeu a instauração formal do Estado Novo (1933). Após a eleição por sufrágio directo, mas em lista única, do General Óscar Carmona para Presidente da República em 1928, este, tendo em atenção a incapacidade dos anteriores governantes, nomeadamente o General Sinel de Cordes, para resolver a crise financeira, chamou António de Oliveira Salazar, especialista de Finanças públicas da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, para assumir o cargo de ministro das Finanças. Salazar aceitou o encargo com a condição, que lhe foi garantida, de poder supervisionar os orçamentos de todos os ministérios e de ter direito de veto sobre os respectivos aumentos de despesas. Impôs então uma forte austeridade e um rigoroso controlo de contas, principalmente aumentando os impostos e reduzindo as despesas públicas, conseguindo assim um saldo orçamental positivo logo no primeiro ano de exercício (1928-29).

Aconselhado e apoiado por António Ferro, que viria a chefiar o aparelho de propaganda do Estado Novo, o SPN, Salazar soube servir-se da imprensa (que lhe era maioritariamente favorável, mantendo a restante sob apertada censura), assim como das recém-criadas emissoras de rádiodifusão — o Rádio Clube Português, a católica Rádio Renascença e a Emissora Nacional estatal, todas suas apoiantes. Soube também aproveitar as lutas entre as diferentes facções da Ditadura, especialmente entre Monárquicos e Republicanos, para consolidar o seu poder e ganhar mais prestígio. Tendo-se tornado indispensável à Ditadura, o Presidente da República consultava-o em cada remodelação ministerial.

Salazar procurou então, com o apoio do General Carmona, dar um rumo estável à Revolução Nacional que impedisse um "regresso à normalidade constitucional" da Primeira República, para que alguns generais da Ditadura se inclinavam. Por isso, em 1930, depois de vencida por Carmona a resistência do General Ivens Ferraz,

gerais a respeito da organização social e política dos povos e das nações. É um convite a ação. A finalidade da doutrina social da Igreja é "levar os homens a corresponderem, com o auxílio também da reflexão racional e das ciências humanas, à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade terrena." 55 Ditadura Nacional foi a denominação do regime saído da eleição por sufrágio universal do presidente da República Óscar Carmona em 1928. Durou até 1933, ao ser referendada uma nova Constituição, que deu origem ao Estado Novo. Foi antecedida pela Ditadura Militar (1926-1928).

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Salazar criou, a partir do governo e com fundos provenientes do Orçamento de Estado, a União Nacional, espécie de "frente nacional", como lhe chamou, a qual devia proporcionar o apoio necessário à construção de um novo regime, o Estado Novo, concebido e integralmente desenhado por Salazar.

A União Nacional era uma organização em parte idêntica aos partidos únicos dos regimes autoritários surgidos na Europa entre as duas guerras mundiais, se bem que, ao contrário desses, tivesse sido integralmente construída de cima para baixo e não se apoiasse num pujante movimento de massas pré-existente. A União Nacional, cujo papel foi sempre muito pouco determinante na prática política do Estado Novo, simbolizava acima de tudo o carácter nacionalista, antidemocrático e antipluralista do regime.

Nenhuma lei proibia expressamente os partidos políticos enquanto tais, mas Salazar considerava que, existindo a União Nacional, os antigos partidos tinham sido colocados fora da lógica do novo regime, acabando todas as organizações e movimentos políticos existentes por ser obrigados a coibir-se de qualquer actuação pública. Alguns, como o Partido Comunista (PCP) ou o movimento Anarcossindicalista da Confederação Geral do Trabalho passaram a actuar na clandestinidade ou no exílio, outros, como o Partido Socialista Português e o Integralismo Lusitano, foram levados a extinguir-se em 1932-1933. O Movimento Nacional-Sindicalista, de Francisco Rolão Preto foi proibido após a tentativa de revolução levada a cabo por elementos seus a partir do quartel da Penha de França, acrescentando a nota oficiosa de 29 de Julho de 1934, que decretava a sua extinção, que se tratava de um movimento inspirado em "certos modelos estrangeiros".

Em 1932 foi publicado o projeto de uma nova Constituição, que seria "aprovada" por referendo popular em 1933 (embora o texto da constituição mencionasse plebiscito, na realidade o que houve foi tecnicamente um referendo56). Nesse referendo as abstenções foram contadas como votos "sim", falseando o resultado. Com esta constituição, Salazar criou finalmente o seu modelo ditatorial, o Estado Novo, e tornou-se o "Chefe" da Nação portuguesa. Não deixa contudo de ser curioso que tenha sido essa a primeira constituição da História portuguesa a dar o direito de voto às mulheres e a assegurar determinadas regalias para as chamadas classes operárias.

56 Referendo é um instrumento da democracia semi-direta por meio do qual os cidadãos eleitores são chamados a pronunciar-se por sufrágio direto e secreto, a título vinculativo, sobre determinados assuntos de relevante interesse à nação. Em Portugal ocorre mediante proposta da Assembleia da República, ou do Governo, ao Presidente da República que decide da sua realização. No Brasil, depende de expedição de decreto legislativo pelo Senado ou pela Câmara dos Deputados, nos termos da Lei 9.709/98, para que seja realizado. A diferença entre plebiscito e referendo no direito latino é que o plebiscito é convocado antes da criação da norma (ato legislativo ou administrativo), e é o povo, por meio do voto, que vai aprovar ou não a questão que lhe for submetida. Já o referendo é convocado após a edição da norma, devendo o povo ratificá-la ou não. No direito anglo-saxonico os termos "plebiscite" e "referendum" são usados quase como sinónimos; sua distinção é enevoada.

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Caracterização geral do Estado Novo

O Estado Novo (1933-1974) foi um regime autoritário, conservador, nacionalista, corporativista de Estado de inspiração fascista, parcialmente católica e tradicionalista, de cariz anti-liberal, anti-parlamentarista, anti-comunista, e colonialista, que vigorou em Portugal sob a Segunda República. O regime criou a sua própria estrutura de Estado e um aparelho repressivo (PIDE, colónias penais para presos políticos, etc.) característico dos chamados Estados policiais, apoiando-se na censura, na propaganda, nas organizações paramilitares (Legião Portuguesa), nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa), no culto do "Chefe" e na Igreja Católica.

O Estado Novo apresenta aspectos semelhantes aos regimes autoritários instituídos por Benito Mussolini na Itália, Francisco Franco na Espanha, Engelbert Dollfuss na Áustria, Miklós Horthy na Hungria, Metaxas na Grécia, Juan Perón na Argentina, Getúlio Vargas no Brasil e, em muito menor grau, por Adolf Hitler na Alemanha.

É, todavia, assunto de debate entre os estudiosos se o Estado Novo constitui verdadeiramente, ou não, um regime fascista, visto apresentar algumas diferenças em relação ao regime italiano, que serve naturalmente de "padrão" do fascismo, e ainda maiores relativamente ao nazismo. Salazar (que manteve durante algum tempo a fotografia emoldurada de Mussolini em cima da sua secretária de trabalho, mas que acabaria por afirmar que o ditador italiano era demasiado vaidoso e defensor de uma intervenção excessiva do Estado na vida da nação), nunca reivindicou para o seu regime o qualificativo de fascista, recusando igualmente o seu carácter totalitário, reflexo de quem pretendia ser associado à recusa da "estatolatria" e do totalitarismo pela Igreja Católica e pelo Papa Pio XI.

Independentemente do modo como o regime de Salazar se via a si próprio, a questão gira em torno de saber em que características, essenciais ou secundárias, o Estado Novo diferiu do padrão fascista: existência ou não de movimento da massas, papel do partido único, estrutura, lugar e papel dos sindicatos e corporações no Estado, características e estilo de governação do chefe carismático, grau de autonomia do poder judicial, liberdades públicas, nível de repressão das oposições políticas, independência da Igreja Católica. Nos pontos citados, com efeito, há diferenças e semelhanças entre o Estado Novo e o fascismo: há diferenças flagrantes no papel atribuído ao "movimento de massas" e no estilo de governação do chefe; há semelhanças muito vincadas no papel do partido único e no lugar dos sindicatos e das corporações na estrutura do Estado, assim como no cercear das liberdades públicas e no nível de repressão das oposições políticas.

Para muitos, parece não haver dúvida que se trata de um regime fascista, quasi-fascista ou, até, segundo o politólogo Manuel de Lucena, de um "fascismo sem movimento fascista". Para outros, tratar-se-ia de um regime autoritário e conservador de inspiração simultaneamente católica e fascizante (especialmente

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durante a sua primeira fase, até ao final da Segunda Guerra Mundial) — o que, por sua vez, tem levado certos autores a apontar a influência doutrinária do denominado clero-fascismo (clerico-fascismo em italiano, clerical-fascism em inglês), que aproximaria o Estado Novo do regime austríaco de Dollfuss (também dito Austro-fascismo) e, em parte, do Franquismo. O Estado Novo, materialização do pensamento político de Salazar, foi certamente um regime político com algumas características singulares no panorama dos regimes autoritários do seu tempo — como o foram, aliás, todos os outros movimentos e regimes autoritários nascidos na Europa da primeira metade do século XX.

Em matéria de política externa, sobretudo, o Estado Novo marcou uma sensível diferença relativamente aos regimes do Eixo, embora já não tanto em relação a Espanha, tendo os dois países signatários do Pacto Ibérico, de 1939, mantido uma difícil neutralidade durante a Segunda Guerra Mundial e adoptado, depois desta, uma semelhante política de aliança com a Europa Ocidental e os Estados Unidos da América no quadro formal da NATO57 (Portugal) ou à margem desta (Espanha).

Características do Estado Novo

O Estado Novo foi considerado pelos seus ideólogos como um "Estado corporativo", definindo-se oficialmente como uma "República Corporativa", devido à forma republicana de governo e à vertente doutrinária e normativa corporativista, refletida no edifício das leis (Constituição política, Estatuto do Trabalho Nacional e numerosa legislação avulsa) e na configuração do próprio Estado (Câmara Corporativa, Corporações, Ministério das Corporações, Instituto Nacional do Trabalho e Previdência, Sindicatos Nacionais de direito público, Grêmios Nacionais, Grêmios da Lavoura, Casas do Povo, Casas dos Pescadores, Comissões Reguladoras, etc.).

57 A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO), por vezes chamada Aliança Atlântica , é uma organização internacional de colaboração militar estabelecida em 1949 em suporte do Tratado do Atlântico Norte assinado em Washington a 4 de Abril de 1949. Os seus nomes oficiais são North Atlantic Treaty Organization (NATO), em inglês, e Organisation du Traité de l'Atlantique Nord (OTAN), em francês.

Salazar e Franco, 1939.

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Oliveira Salazar considerou o corporativismo como a faceta do seu regime com maiores potencialidades futuras, mas a sua implantação prática foi muito gradual e, sobretudo, obedeceu a um padrão de "corporativismo de Estado" e não a um figurino de "corporativismo de associação", que poderia ter conferido um maior papel à iniciativa privada e à auto-regulação da sociedade civil.

Várias personalidades apoiantes do Estado Novo apresentaram aquele regime político como tendo sido inspirado nas doutrinas corporativas do Integralismo Lusitano. Os integralistas lusitanos, no entanto, cedo se demarcaram daquele regime, considerando-o como um corporativismo de Estado de inspiração fascista e, como tal, uma falsificação grosseira das suas doutrinas corporativas de associação. O integralista Hipólito Raposo, ao classificar em 1940 o Estado Novo como um regime autocrático - a "Salazarquia" - foi preso, e deportado para os Açores.

Hipólito Raposo e a "Salazarquia” José Hipólito Vaz Raposo , 1855-1953. Advogado, escritor, historiador e político, natural de S. Vicente da Beira, foi um dos mais destacados dirigentes do Integralismo Lusitano. Começou a sua carreira profissional como professor no

Hipólito Raposo.

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Liceu Passos Manuel e no Conservatório de Lisboa. Em 1919, era diretor do jornal A Monarquia quando desempenhou destacado papel no pronunciamento monárquico de Monsanto, vindo a ser demitido de todos os cargos públicos e a cumprir pena de prisão em S. Julião da Barra (1920). Exerceu advocacia em Angola (1922-23). Reintegrado como professor no Conservatório (1926), defendeu a recusa de colaboração dos monárquicos à União Nacional (Partido Único) e ao regime do "Estado Novo", acabando por ser de novo demitido de todos os cargos públicos, e deportado para os Açores, na sequência da virulenta denuncia da "Salazarquia" que fez no livro Amar e Servir (1940). Subscreveu a reatualização doutrinária integralista «Portugal restaurado pela Monarquia» (1950). Da sua produção como escritor integralista, merece destaque o ensaio que escreveu acerca da distinta matriz doutrinária do Integralismo Lusitano e do nacionalismo francês da Action française (Dois nacionalismos, 1925), bem como a conferência A Reconquista das Liberdades (1930), onde sintetizou o programa político do Integralismo Lusitano e procurou desfazer a miragem de messianismo salazarista que se anunciava. Outras obras: Sentido do Humanismo, 1914; Aula Régia, 1936; Pátria Morena, 1937; Direito e Doutores na Sucessão Filipina, 1938; Mulheres na Conquista e Navegação, 1938; D. Luísa de Gusmão, 1947; Folhas do Meu Cadastro, 1º Volume (1911-1925), 1940, Idem, 2º Volume (1926-1952), 1986, etc.. Anti-parlamentarismo e anti-partidário

O regime político-constitucional que vigorou durante o Estado Novo é considerado antiparlamentar e antipartidário, uma vez que o único partido político aceite pela força política que na altura era responsável pela apresentação de candidaturas aos órgãos electivos de poder foi a União Nacional, sendo que os restantes foram ilegalizados, o mesmo aconteceu mais tarde com as associações políticas. Eram permitidos em alguns actos eleitorais a apresentação de listas não afetas à União Nacional, mas a sua existência era apenas consentida momentaneamente e era impossível a eleição de qualquer candidato destas listas, pois a fraude eleitoral ou a repressão provocada pela poderosa polícia política PIDE (ver nota mais adiante) provocava o esvaziamento de candidatos afectos a estas ou porque se encontravam presos ou porque desistiam por falta de condições.

Concentração de poderes no Presidente do Conselho de Ministros

Neste regime autoritário, o Governo tem simultaneamente o poder executivo e legislativo (o Governo pode decretar decretos-leis que sobrepõe as leis aprovadas pela Assembleia Nacional), e por sua vez os poderes do Governo estão fortemente centralizados e reforçados nas mãos do Presidente do Conselho de Ministros (Chefe do Governo). O Presidente da República tinha somente funções meramente cerimoniais, embora tivesse o poder de escolher e demitir o Presidente do Conselho de Ministros. Mas este poder nunca foi utilizado visto que o cargo de Presidente da República era sempre ocupado por um partidário da União Nacional e apoiante do Presidente do Conselho de Ministros.

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António de Oliveira Salazar, no sentido de inviabilizar a vitória do General Humberto Delgado à Presidência da República em 1958, por este ser contra a ideologia do regime, propôs a revisão constitucional onde a eleição que até naquela altura era feita por sufrágio direto passou a ser feita por sufrágio indireto, através de um colégio eleitoral.

Esta medida, a par com a inviabilização dos partidos políticos que já tinham sido ilegalizados na constituição original, sendo permitidos no entanto candidaturas de movimentos independentes, levou a um aumento e a uma concentração dos poderes no Presidente do Conselho de Ministros, que era já visto como o real detentor dos destinos de Portugal.

Outras características do regime

• Tal como outros regimes autoritários da época, o Estado Novo possuia lemas para mostrar resumidamente a sua ideologia e doutrina: "Tudo pela Nação, nada contra a Nação" e "Deus, Pátria, Família" são os mais conhecidos e utilizados;

• O Estado Novo autoritário declarava-se limitado pelo Direito e pela Moral cristã, considerando, por isso, não ser classificável como um regime totalitário, considerando-se sempre um Estado de direito;

• Era contra o liberalismo político, apesar da existência de uma Assembleia Nacional (função legislativa) e de uma Câmara Corporativa (função meramente consultiva) com alguma liberdade de palavra, mas representando apenas os sectores apoiantes do regime, organizados na União Nacional (que Caetano mudará para Acção Nacional Popular), a unanimidade era a tónica destes órgãos visto serem compostos exclusivamente por apoiantes do regime;

• O culto do Chefe, Salazar (e depois, sem grande êxito, Marcello Caetano), é representado como um chefe paternal, mas austero, eremita "casado com a Nação", sem as poses bombásticas e militaristas dos seus congéneres Francisco Franco, Mussolini ou Hitler; Salazar era muitas vezes mencionado como um "ungido de Deus", o "salvador da Pátria", ou o "redentor da Nação";

• Uma ideologia com forte componente católica, associando-se o regime à Igreja Católica através da Concordata58 entre a Santa Sé e Portugal59, em

58 Dá-se o nome de concordata ao tratado internacional celebrado entre a Santa Sé e um Estado, usualmente com a finalidade de assegurar direitos dos Católicos ou da Igreja Católica naquele Estado. Muitas foram assinadas quanto os Estados se laicizaram, como forma de garantir direitos para a Igreja e permitir sua existência em tais países. Do ponto de vista histórico, também se dava o nome de concordata ao acordo entre o Papa e um soberano, a qual vinculava o papado e o Estado governado pelo soberano.

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1940; esta concordata concede vastos privilégios à Igreja, bem diferente do paganismo hitleriano;

• Um serviço de censura prévia às publicações periódicas, emissões de rádio e de televisão, e de fiscalização de publicações não periódicas nacionais e estrangeiras, protegendo permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo e defendendo a moral e os bons costumes;

• O regime apoia-se na propaganda política (fundando o Secretariado de Propaganda Nacional, a SPN) para difundir os bons costumes, a doutrina e a ideologia defendida pelo Estado Novo;

• Apoia-se nas organizações juvenis (Mocidade Portuguesa) para ensinar aos jovens a ideologia defendida pelo regime e ensiná-los a obedecer e a respeitar o "Chefe";

• Uma polícia política repressiva (PIDE), omnipresente e detentora de grande poder, que reprime apenas qualquer oposição política expressa ao regime, de acordo com critérios de selectividade pontual, nunca se responsabilizando por crimes de massas, ao contrário das suas congéneres italiana e especialmente alemã, a PIDE semeia o terror, o medo e o silêncio nos sectores oposicionistas que fossem activos na sociedade portuguesa, protegendo o regime de qualquer Oposição organizada, e com visibilidade pública; os opositores políticos mais activistas eram interrogados e, aqueles que apoiavam ou pertenciam a organizações que defendiam a luta armada contra o Regime ou que tinham ligações às potências inimigas de Portugal eram por vezes torturados e detidos em prisões (ex: Prisão de Peniche e Prisão de Caxias) e campos de concentração (ex: Tarrafal);

59 A Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa de 1940, foi assinada no dia 7 de Maio de 1940, durante o papado de Pio XII e o governo de António de Oliveira Salazar. Após a instauração da Primeira República Portuguesa, em 1910, as relações entre a Igreja Católica e Portugal rapidamente se deterioraram, ao ponto de a Santa Sé cortar as suas relações diplomáticas com Portugal. Em 1911, os dirigentes republicanos de Portugal adoptaram uma série de medidas anticlericais, como por exemplo a Lei da Separação do Estado da Igreja, de 20 de Abril, a proibição do culto público e a nacionalização dos bens da Igreja. Com a queda da Primeira República, em 1926, a maioria destas medidas foram postas fora de uso. No dia 6 de Julho de 1928, os dirigentes da Ditadura militar decretaram a reposição da paz entre o Estado e a Igreja Católica. Mas, mesmo assim, as relações entre Portugal e a Santa Sé ainda não tinham sido oficialmente definidas, suscitando-se ainda questões relacionadas com a lei da separação de 1911 e de algumas medidas anticlericais.

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A Colónia Penal do Tarrafal

A Colónia Penal do Tarrafal, situada no lugar de Chão Bom do concelho do Tarrafal, na ilha de Santiago (Cabo Verde), foi criada pelo Governo português do Estado Novo ao abrigo do Decreto-Lei n.º 26 539, de 23 de Abril de 1936. Em 18 de Outubro de 1936 partiram de Lisboa os primeiros 152 detidos, entre os quais se contavam participantes do 18 de Janeiro de 1934 na Marinha Grande (37) e marinheiros que se tinham amotinado a bordo de um navio de guerra no Tejo. O Campo do Tarrafal, ou Campo de Concentração do Tarrafal, como ficou conhecido, começou a funcionar em 29 de Outubro de 1936, com a chegada dos primeiros prisioneiros.

• Além da PIDE, o regime apoia-se também nas organizações paramilitares (Legião Portuguesa) para proteger o regime das ideologias oposicionistas, principalmente o comunismo.

• Um discurso e uma prática anticomunistas, tanto na ordem interna como na externa, que leva o regime a combater o Comunismo e a aliar-se ao lado dos E.U.A, durante a Guerra Fria, juntando-se à NATO, em 1949;

• O sistema educacional é controlado pelo regime (uma educação nacionalista e ideológica) e centra-se na exaltação dos valores nacionais (ex: o passado histórico, o grande Império Colonial Português, a religião, a tradição, os costumes, o serviço à comunidade e à Pátria, a solidariedade humana numa perspectiva cristã, o apego à terra...), no ensinamento e difusão da ideologia estatal aos jovens; teme as pessoas de correntes políticas diferentes que têm um nível educacional alto e que defendem ou o Capitalismo ou o Comunismo, com os quais Salazar mantinha uma relação

Colónia Penal do Tarrafal.

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de desconfiança (no primeiro caso) ou até mesmo de rejeição (no segundo caso), visto que ele se orientava pela Doutrina Social da Igreja, que defendia uma solução económica de pequena iniciativa privada (para maior distribuição de riqueza) e de maior protecção dos assalariados/trabalhadores do que aquela que existia normalmente nos sistemas capitalistas de então;

• Um projeto nacionalista e colonial que pretende manter à sombra da bandeira portuguesa vastos territórios dispersos por vários continentes, "do Minho a Timor", mas rejeitando a ideia da conquista de novos territórios (ao contrário do expansionismo do Eixo) e que é mesmo vítima da política de conquista alheia (caso da Índia Portuguesa) e no qual radica a manutenção de uma longa guerra colonial começada em 1961, uma das causas do desgaste e queda do regime, para proteger os seus territórios ultramarinos;

• O regime era extremamente cauteloso nas relações diplomáticas, principalmente durante a década 30 e 40, que leva Salazar, por um lado, a assinar um pacto com a vizinha Espanha franquista e anticomunista e, por outro, a hesitar longamente entre o Eixo (compostos por ditaduras) e os Aliados (compostos por democracias e pela União Soviética, um regime comunista) durante a Segunda Guerra Mundial;

• Uma economia capitalista controlada e regulada por cartéis constituídos e supervisionados pelo Governo, detentores de grandes privilégios, conservadores, receosa da inovação e do desenvolvimento, que só admitirá a abertura da economia e a entrada regulada de capitais estrangeiros numa fase tardia da história do regime, na década de 50;

• O regime era muito conservador, tentando controlar o processo de modernização do País, pois Salazar temia que se esta não fosse controlada, iria destruir os valores religiosos, culturais e rurais da Nação. Este medo de uma modernização segundo os modelos capitalistas puros que imperavam no Mundo Ocidental contribuiu, depois da Segunda Guerra Mundial, para o distanciameto progressivo de Portugal em relação a outros países ocidentais, principalmente nas áreas das ciências, da tecnologia e da cultura;

• O regime, devido sobretudo ao carácter conservador e algumas vezes arrogante de Salazar, teimava e prevenia a sua evolução a par das tendências políticas mundiais, optando por se isolar quando sujeito a pressões externas que exigiam a sua mudança, e somente nos seus últimos anos, durante o período de Marcello Caetano, experimentou uma renovação "liberal" tentativa, logo fracassada pelo bloqueio da extrema-direita;

• Uma forte tutela sobre o movimento sindical, proibindo todos os sindicatos, exceptuando aqueles controlados pelo Estado (os Sindicatos Nacionais), e

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procurando organizar os operários e os patrões de cada profissão em corporações, organizações controladas pelo Estado que pretendiam conciliar harmoniosamente os interesses do operariado e do patronato, prevenindo assim a luta de classes e a agitação social e protegendo os interesses/unidade da Nação (objectivo principal do regime).

• A ilegalização da Maçonaria em Portugal, através da Lei n.º 1901, de 21 de Maio de 1935. Todos os funcionários públicos eram obrigados a assinar uma declaração rejeitando a Maçonaria e garantindo não serem membros dela, antes de poderem tomar posse nos seus cargos. A sede do Grande Oriente Lusitano (o Grémio Lusitano), foi confiscada e encerrada sendo entregue à Legião Portuguesa que nela instalou a sua sede. Dentro do regime, no entanto, havia várias personalidades destacadas com um passado de filiação ou afinidades maçónicas, caso do Presidente da República, Óscar Carmona (sendo esta informação não confirmada), e do primeiro presidente da Assembleia Nacional, José Alberto dos Reis, mas que, todavia, não opuseram qualquer resistência à ilegalização das chamadas «associações secretas»,e que, pelo contrário, a apoiaram.

Presidentes da República durante o Estado Novo

• António Óscar de Fragoso Carmona (1933-1951) • António de Oliveira Salazar (1951) (Presidente interino, desde a morte de

Carmona até à eleição de Lopes) • Francisco Higino Craveiro Lopes (1951-1958) • Américo de Deus Rodrigues Tomás (1958-1974)

Presidentes do Conselho de Ministros durante o Estado Novo

• António de Oliveira Salazar (1932-1968) • Marcello das Neves Alves Caetano (1968-1974)

Lemas

• "Deus, Pátria, Família."

• "Tudo pela Nação, nada contra a Nação."

• "Persistentemente, Teimosamente, não somos demais para continuar Portugal"

• "Enquanto houver um Português sem trabalho e sem pão a Revolução continua"

• "Temos uma Doutrina. Somos uma Força"

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• "Orgulhosamente sós"

Queda do Estado Novo

O Estado Novo, após 41 anos de vida, é finalmente derrubado no dia 25 de Abril de 1974. O golpe que acabou com a ditadura foi efectuado pelos militares do Movimento das Forças Armadas - MFA. O golpe militar contou com a colaboração da população, cansada da repressão, da censura, da guerra colonial e da má situação económico-financeira. Ficou conhecida por Revolução dos Cravos. Neste dia, diversas unidades militares comandadas por oficiais do MFA marcharam sobre Lisboa, ocupando uma série de pontos estratégicos. As guarnições militares que supostamente eram apoiantes do regime renderam-se e juntaram-se aos militares do MFA. O regime caiu sem ter quase quem o defendesse. Os acontecimentos deste dia culminaram com a rendição de Marcello Caetano, sitiado pelo capitão Salgueiro Maia, no Quartel do Carmo. Foi uma revolução considerada "não-sangrenta" e "pacífica", sendo que no dia 25 de Abril propriamente dito houve apenas quatro mortos, vítimas de disparos da polícia política, junto à sua sede.

Revolução dos Cravos

Revolução dos Cravos é o nome dado ao golpe de estado militar[1] que derrubou, num só dia, sem grande resistência das forças leais ao governo - que cederam perante a revolta das forças armadas - o regime político que vigorava em Portugal desde 1926. O levantamento, também conhecido pelos portugueses como 25 de Abril, foi conduzido em 1974 pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (o MFA), na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial. Considera-se, em termos gerais, que esta revolução trouxe a liberdade ao povo português (denominando-se "Dia da Liberdade" o feriado instituído em Portugal para comemorar a revolução).

Antecedentes

Na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, foi implementado em Portugal um regime autoritário de inspiração fascista. Com a Constituição de 1933 o regime é remodelado, auto-denominando-se Estado Novo e Oliveira Salazar passou a controlar o país, não mais abandonando o poder até 1968, quando este lhe foi retirado por incapacidade, na sequência de uma queda em que sofreu lesões cerebrais. Foi substituído por Marcelo Caetano que dirigiu o país até ser deposto no 25 de Abril de 1974.

Sob o governo do Estado Novo, Portugal foi sempre considerado uma ditadura, quer pela oposição, quer pelos observadores estrangeiros quer mesmo pelos próprios dirigentes do regime. Formalmente, existiam eleições, mas estas foram sempre contestadas pela oposição, que sempre acusaram o governo de fraude eleitoral e de desrespeito pelo dever de imparcialidade.

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O Estado Novo possuía uma polícia política, a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), uma evolução da ex-PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado), mais tarde DGS (Direcção-Geral de Segurança), que perseguiria os opositores do regime. De acordo com a visão da história dos ideólogos do regime, o país manteve uma política que considerava a manutenção das colónias do "Ultramar", numa altura em que alguns países europeus iniciavam os seus processos de alienação progressiva das suas colónias. Apesar da contestação nos fóruns mundiais, como na ONU, Portugal manteve uma política de força, tendo sido obrigado, a partir do início dos anos 60, a defender militarmente as colónias contra os grupos independentistas em Angola, Guiné e Moçambique.

Economicamente, o regime manteve uma política de condicionamento industrial que resultava no monopólio do mercado português por parte de alguns grupos industriais e financeiros (a acusação de plutocracia é frequente). O país permaneceu pobre até à década de 1960, o que estimulou a emigração. Notou-se, contudo, um desenvolvimento económico a partir desta década.

O mito do "orgulhosamente sós"

Nos inícios dos anos 1970 o regime autoritário do Estado Novo continuava a pesar sob Portugal. O seu fundador, António Oliveira Salazar, foi destituído em 1968 por incapacidade e veio a falecer em 1970, sendo substituído por Marcelo Caetano na direcção do regime. Qualquer tentativa de reforma política foi impedida pela própria inércia do regime e pelo poder da sua polícia política (PIDE). O regime exilava-se, envelhecido num mundo ocidental em plena efervescência social e intelectual de finais de década de 60, obrigando Portugal a defender pelas forças das armas o Império Português, instalado no imaginário dos ideólogos do regime. Para tal, o país viu-se obrigado a investir grandes esforços numa guerra colonial de pacificação, atitude que contrastava com o resto das potências coloniais que tratavam de assegurar-se da saída do continente africano da forma mais conveniente.

O contexto internacional não era favorável ao regime salazarista/marcelista.

Com o auge da Guerra Fria, as nações dos blocos Capitalista e Comunista apoiaram e financiaram as guerrilhas das colónias portuguesas, numa tentativa de as atrair para a influência americana ou soviética. A intransigência do regime e mesmo o desejo de muitos colonos de continuarem sob o domínio português, atrasaram o processo de descolonização por quase 20 anos, no caso de Angola e Moçambique.

Ao contrário de outras Potências Coloniais Europeias, Portugal mantinha laços fortes e duradoros com as suas colónias africanas. Para muitos portugueses um Império Colonial era necessário para um poder e influência contínuos. Contrastando com Inglaterra e França, os colonizadores portugueses casaram e constituíram família entre os colonos nativos.

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Apesar das constantes objecções em forúns nacionais, como a ONU, Portugal manteve as suas colónias como parte integral de Portugal, sentindo-se portanto obrigado a defendê-las militarmente de grupos armados de influência comunista, particularmente após a anexação unilateral e forçada dos enclaves portugueses de Goa, Damão e Diu, em 1961.

Em quase todas as colónias portuguesas africanas – Moçambique, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde – surgiram movimentos independentistas, que acabaram por se manifestar sob a forma de guerrilhas armadas. Excepto no caso da Guiné, estas guerrilhas foram facilmente contidas pelas forças portuguesas, apesar dos diversos embargos ao armamento militar fornecido a Portugal. No entanto, os vários conflitos forçaram Salazar e o seu sucessor Caetano a gastar uma maior parte do orçamento de Estado na administração colonial e despesas militares, sendo que cedo Portugal viu-se um pouco isolado do resto do Mundo

Após a ascensão de Caetano ao poder, a guerra colonial tornou-se num forte motivo de discussão e num assunto muito focado por parte das forças anti-regime. Muitos estudantes e manifestantes contra a guerra terão sido forçados a abandonar o país para escapar à prisão e tortura.

Economicamente, o regime mantinha a sua política de Corporativismo, o que resultou na concentração da economia portuguesa nas mãos de uma elite de industriais.

No entanto, a economia crescia fortemente, especialmente após 1950 e Portugal foi mesmo co-fundador da EFTA, OCDE e NATO. A Administração das colónias custava a Portugal um aumento percentual anual no seu orçamento e tal contribuíu para o empobrecimento da Economia Portuguesa, pois o dinheiro era desviado de investimentos infraestruturais na metrópole. Até 1960 o país continuou relativamente frágil em termos económicos, o que estimulou a emigração para países em rápido crescimento e de escassa mão-de-obra da Europa Ocidental, como França ou Alemanha principalmente após a Segunda Guerra Mundial.

Para muitos o Governo português estava envelhecido, sem resposta aparente para um mundo em grande mudança cultural e intelectual.

A guerra colonial gerou conflitos entre a sociedade civil e militar, tudo isto ao mesmo tempo que a fraca economia portuguesa gerava uma forte emigração.

Em Fevereiro de 1974, Marcelo Caetano é forçado pela velha guarda do regime a destituir o general António Spínola e os seus apoiantes, quando tentava modificar o curso da política colonial portuguesa, que se revelava demasiado dispendiosa para o país.

Nesse momento, em que são reveladas as divisões existentes no seio da elite do regime, o MFA, movimento secreto, decide levar adiante um golpe de estado.

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O movimento nasce secretamente em 1973 da conspiração de alguns oficiais do exército, numa primeira fase unicamente preocupados com questões de carreira militar.

Preparação

A primeira reunião clandestina de capitães foi realizada em Bissau, em 21 de Agosto de 1973. Uma nova reunião, em 9 de Setembro de 1973 no Monte Sobral (Alcáçovas) dá origem ao Movimento das Forças Armadas. No dia 5 de Março de 1974 é aprovado o primeiro documento do movimento: "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação". Este documento é posto a circular clandestinamente. No dia 14 de Março o governo demite os generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, alegadamente, p Colónia Penal do Tarrafal, or estes se terem recusado a participar numa cerimónia de apoio ao regime. No entanto, a verdadeira causa da expulsão dos dois Generais foi o facto do primeiro ter escrito, com a cobertura do segundo, um livro, "Portugal e o Futuro", no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar. No dia 24 de Março a última reunião clandestina decide o derrube do regime pela força.

Movimentações militares durante a Revolução

No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.

Às 22h 55m é transmitida a canção ”E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa. Este foi um dos sinais previamente combinados pelos golpistas e que desencadeou a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado.

O segundo sinal foi dado às 0h20 m, quando foi transmitida a canção ”Grândola Vila Morena“, de José Afonso, pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.

O golpe militar do dia 25 de Abril teve a colaboração de vários regimentos militares que desenvolveram uma acção concertada.

No Norte, uma força do CICA 1 liderada pelo Tenente-Coronel Carlos de Azeredo toma o Quartel-General da Região Militar do Porto. Estas forças são reforçadas por forças vindas de Lamego. Forças do BC9 de Viana do Castelo tomam o Aeroporto de Pedras Rubras. Forças do CIOE tomam a RTP e o RCP no Porto. O regime reagiu, e o ministro da Defesa ordenou a forças sedeadas em Braga para avançarem sobre o Porto, no que não foi obedecido, já que estas já tinham aderido ao golpe.

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À Escola Prática de Cavalaria , que partiu de Santarém, coube o papel mais importante: a ocupação do Terreiro do Paço. As forças da Escola Prática de Cavalaria eram comandadas pelo então Capitão Salgueiro Maia. O Terreiro do Paço foi ocupado às primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo, Marcello Caetano, que ao final do dia se rendeu, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao General António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcello Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil.

A revolução resultou na morte de 4 pessoas, quando elementos da polícia política (PIDE) dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

Cravo

O cravo vermelho tornou-se o símbolo da Revolução de Abril de 1974; Com o amanhecer as pessoas começaram a juntar-se nas ruas, solidários com os soldados revoltosos; alguém (existem várias versões, sobre quem terá sido, mas uma delas é que uma florista contratada para levar cravos para a abertura de um hotel, foi vista por um soldado que pôs um cravo na espingarda, e em seguida todos o fizeram), começou a distribuir cravos vermelhos para os soldados, que depressa os colocaram nos canos das espingardas.

Consequências

No dia seguinte, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída por militares, e que procederá a um governo de transição. O essencial do programa do MFA é,

General António de Spínola.

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amiúde, resumido no programa dos três D: Democratizar, Descolonizar, Desenvolver.

Entre as medidas imediatas da revolução contam-se a extinção da polícia política (PIDE/DGS) e da Censura. Os sindicatos livres e os partidos foram legalizados. Só a 26 foram libertados os presos políticos, da Prisão de Caxias e de Peniche. Os líderes políticos da oposição no exílio voltaram ao país nos dias seguintes. Passada uma semana, o 1.º de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa reuniram-se cerca de um milhão de pessoas.

Portugal passou por um período conturbado que durou cerca de 2 anos, comummente referido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta e perseguição politica entre as facções de esquerda e direita. Foram nacionalizadas as grandes empresas. Foram igualmente "saneadas" e muitas vezes forçadas ao exílio personalidades que se identificavam com o Estado Novo ou não partilhavam da mesma visão politica que então se estabelecia para o país. No dia 25 de Abril de 1975 realizaram-se as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, que foram ganhas pelo PS. Na sequência dos trabalhos desta assembleia foi elaborada uma nova Constituição, de forte pendor socialista, e estabelecida uma democracia parlamentar de tipo ocidental. A constituição foi aprovada em 1976 pela maioria dos deputados, abstendo-se apenas o CDS.

A guerra colonial acabou e, durante o PREC, as colónias africanas e Timor-Leste tornaram-se independentes.

A Monarquia em Portugal deu lugar à República em 1910. O golpe de 1926 afastou o presidente Gomes da Costa e assumiu o poder o Marechal de Exército Óscar Carmona que foi candidato único a presidente em 1928 iniciando a ditadura militar. Em 1929, passou a ter como chefe de governo Antonio de Oliveira Salazar (1889 – 1970). Em 1933 foi promulgada uma Constituição e criada a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE, a partir de 1945 chamada PIDE) ligada diretamente a Salazar. Essa polícia tinha como objetivo "modernizar e reforçar a capacidade de intervenção (preventiva e repressiva). Também foi criado o Tribunal Militar Especial para julgar crimes contra a segurança do Estado e também foram criados os campos de concentração Tarrafal e Peniche. Em 1934 Salazar lança a Ação Escolar Vanguarda, organização da juventude promovida pelo Estado Novo para a "formação político-ideológica" dos jovens. Em 12/02/35, dias após a publicação do artigo, Óscar Carmona foi reeleito mais uma vez como candidato único.

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Oposição à ditadura portuguesa

A oposição começou logo após a implantação da ditadura portuguesa em 1926 e foi-se fortificando e alargando à medida que o regime autoritário (1926-1974) perdurava. Ela sempre lutou, perturbou e se opôs às ideias da ditadura militar (1926-1933) e do Estado Novo (1933-1974).

Muitos intelectuais e pessoas importantes, como Humberto Delgado, Álvaro Cunhal, Norton de Matos, participaram na oposição e contribuíram muito. A oposição sofria muito com as perseguições e repressão da PIDE, a polícia política do Estado Novo, por isso ela optou pela clandestinidade. Muitos opositores foram forçados a exilar-se para o estrangeiro e alguns até foram assassinados pela PIDE, como o General Humberto Delgado60 ou o escultor Dias Coelho, entre muitos outros.

60 Humberto da Silva Delgado (Brogueira, Torres Novas, 15 de Maio de 1906 — Villanueva del Fresno, 13 de fevereiro de 1965) foi um militar português da Força Aérea que corporizou o principal movimento de tentativa de derrube da ditadura salazarista através de eleições, tendo contudo sido derrotado nas urnas, num processo eleitoral que deu a vitória ao candidato do regime ditatorial vigente, Américo Tomás. Participou nas eleições presidenciais de 1958, contra o almirante Américo Tomás (apoiado por Salazar), reunindo em torno da sua candidatura toda a oposição ao regime. Numa famosa entrevista realizada pelo jornalista Mário Neves em 10 de Maio de 1958 no café Chave de Ouro, quando lhe foi perguntado que postura tomaria face ao primeiro-ministro (Presidente do Conselho dos Ministros) António de Oliveira Salazar, respondeu com a célebre frase “obviamente, demito-o”, que ainda hoje é frequentemente citada na política portuguesa em diversos contextos e variações. Foi a frase de declaração de guerra ao regime. Devido à sua coragem de dizer em público palavras pouco respeitosas e agressivas para o regime e para Salazar, ele foi cognominado ora de “General sem Medo” ora de “General sem Juízo”. Esta frase célebre incendiou os espíritos das pessoas oprimidas pelo regime salazarista que o apoiaram e o aclamaram durante a campanha com particular destaque para a entusiástica recepção popular na Praça Carlos Alberto no Porto a 14 de Maio de 1958. Nas eleições presidenciais de 1958 acabou por ser derrotado graças à gigantesca fraude eleitoral montada pelo regime. Em 1959, na sequência da derrota, vítima de represálias por parte da polícia política, pede asilo político na Embaixada do Brasil, seguindo depois para o exílio na Argélia. Convencido de que o regime não poderá ser derrubado pelos meios pacíficos procura atrair as chefias militares para um golpe de Estado. Este golpe foi por fim executado em 1962 e planeou tomar de assalto o quartel de Beja e outras posições estratégicas e importantes de Portugal. A revolta fracassou. Pensando vir ao encontro de opositores do regime do Estado Novo, confiando em Mário de Carvalho, dirige-se a Badajoz. Ao seu encontro, na fronteira Espanhola em Villanueva del Fresno (Espanha, nos arredores de Olivença), é enviado um comando da PIDE, liderado por Rosa Casaco que o assassinou a tiro (quem o matou foi Casimiro Monteiro, facto provado em tribunal. Ver o video da RTP que serve de referência), bem como à sua secretária. Morre assim na fronteira, sem ter conseguido regressar a Portugal, no dia 13 de Fevereiro de 1965. Em 1990 foi nomeado Marechal da Força Aérea. O seu corpo está, agora, no Panteão Nacional.

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A Maçonaria Portuguesa e o Estado Novo 61 Em 28 de Maio de 1926 tem lugar um golpe de Estado promovido por militares que conduz à instauração da Ditadura Militar e ao derrube da democracia parlamentar instituída em Outubro de 1910, golpe chefiado pelo General Gomes da Costa, o qual avança sobre Lisboa sem encontrar resistência. O consenso que gera na sociedade portuguesa deve-se a razões de natureza interna, decorrentes da instabilidade política com 45 ministérios em 16 anos, a vários actos violentos conduzido pela oposição monárquica e grupos radicais de republicanos, sem esquecer os confrontos laborais. Por outro no seu afã anticlerical a República esquecera o país maioritariamente agrário, conservador e católico e viu esfumar-se o apoio da sua base social, a classe média urbana, com a redução dos seus rendimentos proveniente da inflação do pós-guerra, da instabilidade social e política e do avanço das idéias bolchevistas, inclinando-se para um governo que restaurasse a ordem e a tranqüilidade. Para muitos republicanos a Revolução de 28 de Maio representara um primeiro passo para a restauração da República. O movimento não se repercute logo, diretamente, na atividade Maçônica, até porque a liderança do regime passa para o General Oscar Carmona62 (Maçom) que é eleito Presidente da República em Abril de 1928.

61 B r e v e h i s t o r i a l d a M a ç o n a r i a C a r b o n á r i a e m P o r t u g a l I r m ã o A . M . G o n ç a l v e s M e s t r e M a ç o m , R.L. Anderson nº 16, Grande Loja Regular de Portugal/GLLP, 14º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito. http://www.triplov.com/Venda_das_Raparigas/2008/Carbonaria-em-Portugal/Parte4.html.

62 António Óscar de Fragoso Carmona (Lisboa, 24 de Novembro de 1869 — Lisboa, 18 de Abril de 1951)

foi um político e militar português, filho e neto de militares, e foi o décimo primeiro Presidente da República Portuguesa (primeiro do Estado Novo). Estudou no Colégio Militar em Lisboa. Carmona foi um dos conspiradores do 28 de Maio 1926, assumiu o poder após o derrube do general Gomes da Costa, como Presidente do Conselho de Ministros (9 de Julho de 1926), sendo nomeado Presidente da República em 16 de Novembro de 1926. Foi eleito em 1928, ainda durante a Ditadura Militar, dando início ao período denominado Ditadura Nacional, e, já na vigência da Constituição de 1933, em 1935, 1942 e 1949, não concluindo o último mandato por ter falecido no decurso do mesmo. Óscar Carmona foi nomeado marechal do exército em 1947.

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Sendo alguns dos seus chefes Maçons a Maçonaria teve até 1929 plena liberdade de ação, embora se começasse a sentir, gradualmente, o emergir de um aceso e virulento conservadorismo, apoiado pelas forças próximas da Igreja Católica, de há muito adversárias da Maçonaria e dos princípios defendidos pelos Franco-Maçons. Elemento fundamental nesta conjuntura foi a nomeação do Professor António Oliveira Salazar63 como Ministro das Finanças do novo ministério chefiado pelo Coronel Valente de Freitas, que aceitaria a nomeação com a condição de superintender sobre as despesas de todos os ministérios.

63 António de Oliveira Salazar GO TE* (Vimieiro, Santa Comba Dão, 28 de Abril de 1889 — Lisboa, 27 de Julho de 1970) foi um estadista, político português e professor da Universidade de Coimbra. Notabilizou-se pelo facto de ter exercido, de forma autoritária e em ditadura, o poder político em Portugal entre 1932 e 1968. Foi também ministro das Finanças entre 1928 e 1932, procedendo ao saneamento das finanças públicas portuguesas. Instituidor do Estado Novo (1933-1974) e da sua organização política de suporte, a União Nacional, Salazar dirigiu os destinos de Portugal, como Presidente do Conselho de Ministros, entre 1932 e 1968. Apoiando-se na doutrina social da Igreja Católica, Salazar orienta-se para um corporativismo de Estado autoritário, com uma linha de acção económica nacionalista assente no ideal da autarcia. Esse seu nacionalismo económico levou-o a tomar medidas de protecionismo e isolacionismo de natureza fiscal, tarifária, alfandegária, para Portugal e suas colónias, que tiveram grande impacto sobretudo até aos anos sessenta. *GO TE: Ordem Militar da Torre e Espada, Valor, Leal dade e Mérito. A Ordem Militar da Torre e Espada, oficialmente designada por Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, é uma das ordens honoríficas portuguesas que apenas pode ser conferida em três casos: . Por méritos excepcionalmente relevantes demonstrados no exercício de funções dos cargos supremos que exprimem a actividade dos órgãos de soberania ou no comando de tropas em campanha; . Por feitos de heroísmo militar e cívico; . Por atos excepcionais de abnegação e sacrifício pela Pátria e pela Humanidade. Tem a sua origem histórica na Ordem da Torre e Espada, fundada por Afonso V de Portugal em 1459.

António Óscar de Fragoso Carmona

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O sucesso de Oliveira Salazar nas Finanças numa gestão de apertado rigor deu-lhe as condições políticas para a sua ascensão a chefe do governo em Julho de 1932, com o apoio do capital financeiro, da Igreja, da maioria do exército, dos intelectuais conservadores e dos monárquicos. Já na revolta de Fevereiro de 1927 contra a Ditadura tomaram parte numerosos Maçons e em 31 de Outubro do mesmo ano, o Conselho Geral do Grande Oriente Lusitano64, pelo médico Ramón de la Féria, dirigia uma comunicação a todos os obreiros e Lojas, propondo um programa detalhado de resistência e luta contra o avanço do movimento e ideologia reacionária que favorecera a entrada de Oliveira Salazar no governo e sequencialmente a consolidação do seu poder pessoal. Passo que propiciaria a instalação em Portugal de um Estado antiliberal, conservador, nacionalista e corporativo, autoritário e colonialista, simpatizante das ideologias fascista e nazi que se haviam instalado na Itália e na Alemanha.

64 Ver nos anexos a historia do Grande Oriente Lusitano Português.

António de Oliveira Salazar .

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Falecia, entretanto, em 7 de Dezembro o Grão-mestre Magalhães Lima e a Dieta elegeria António José de Almeida como Grão-mestre o qual se encontrando já debilitado, vindo a falecer em 31 de Outubro de 1929. Este período corresponde também ao ataque das forças do novo regime contra as instituições Maçônicas. Em 16 de Abril, o Grémio Lusitano, sede do Grande Oriente é assaltado por forças da Guarda Nacional Republicana e da polícia, sendo ao mesmo tempo presos todos os Maçons que ali se encontravam e apreendido e destruído diversos materiais que ali se encontravam. A partir de Maio de 1929 e até ao ano seguinte o Palácio Maçônico encerra as suas portas para evitar a repetição de desacatos.

Reconhecendo o clima persecutório instituído pelo regime, o Conselho do Grande Oriente sob presidência de José da Costa Pina decreta a triangulação de todas as lojas com vista a redução de grandes ajuntamentos facilmente detectáveis pelas novas autoridades e seus espiões. Em seu lugar ocorrem reuniões formais em pequenos conciliábulos65 realizados, discretamente, em casas particulares. No último dia do ano de 1929, a Maçonaria portuguesa elege como seu chefe e Grão-

65 Conciliábulo" pode ser definido como pequeno concílio (que é a reunião de bispos em assembléia). O têrmo pode ser aplicado, por extensão, a várias outras circunstâncias, como reunião secreta, conspiração, etc.

Ramón de la Féria.

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mestre o General Norton de Matos66 que na sua mensagem ao povo Maçônico concita a Maçonaria «a marchar na grande obra da reorganização nacional e sublinha que perante a grande desastre que representará para a Nação a vitória reacionária que se está preparando, é dever nosso empregar todos os meios pacíficos e dignos de que dispomos para desviar a Pátria às calamidades que a ameaçam.»

Um ano depois perante a Grande Dieta, o General Norton de Matos dando eco ao agravamento da situação política no país, apela «à luta incansável contra a ditadura e a necessidade de travar o último combate contra a definitiva e completa vitória reacionária» A concluir, profeticamente, prediz que «se a reação vencesse uma longa época de marasmo, de inércia forçada, de desanimo e de tristeza cairia sobre Portugal». A supressão das idéias liberais e dos princípios da tolerância e do dissenso é acompanhada da deportação, demissão da função pública, e colocação na miséria de muitos maçons e outros opositores ao regime. Por falta de obreiros ou por impossibilidade de trabalhar simplesmente, dezenas de lojas e triângulos são obrigadas a cessar a sua atividade e abatem colunas. Os anos de 1931 a 1935 são de gradual enfraquecimento da maçonaria e de uma perseguição constante. Em 1930 havia sido criada a União Nacional, pretensamente uma organização não-partidária, assumindo-se como a base de apoio político ao governo. A União Nacional rapidamente se revelou um partido único que Salazar, o seu chefe incontestado, manobrava a seu belo prazer. Em fins de 1934 realizam-se as primeiras eleições depois do golpe de 1926, concorrendo unicamente a União Nacional, a qual fica a controlar os 90 deputados da Assembléia Nacional. Entretanto havia sido iniciada a extinção dos partidos 66 José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos (Ponte de Lima, 23 de Março de 1867 — Ponte de Lima, Portugal, 3 de Janeiro de 1955) foi um general e político português. Foi eleito grão-mestre da Maçonaria do Grande Oriente Lusitano. Em 1948, participou nas eleições presidenciais de 1949, reivindicando a liberdade de propaganda e uma melhor fiscalização dos votos. O regime de Salazar recusou-se a satisfazer estas exigências. Obteve vastos apoios populares e apoio de membros da oposição. Devido à falta de liberdade no acto eleitoral, e prevendo fraudes eleitorais, ele acabou por desistir depois de participar em comícios e outras manifestações de massas.

General Norton de Matos

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políticos, das ''sociedades secretas'' e dos sindicatos livres. Com o reforço do poder pessoal de Salazar começa a ser modelado a partir de 1930 o sistema político autoritário do Estado Novo o qual recusa a soberania popular e a liberdade como conceitos de legitimação do regime, opondo-se Salazar ao multipartidarismo da República. Segundo a doutrina de Salazar a soberania não se fundava nos indivíduos que constituíam a Nação mas nesta, por representar um todo orgânico onde apesar de existirem diferenças os interesses de todos se deveriam sobrepor às convenções individuais, sendo o Estado e o governo os exclusivos intérpretes desse interesse nacional. De um ponto de vista moral, Salazar recupera valores e conceitos morais decorrentes da tradição elegendo Deus, a Pátria, a Família, a Autoridade, a Paz Social, a Hierarquia, a Moralidade como valores fundamentais, sendo o princípio da autoridade o fulcro do seu sistema axiológico. Em 19 de Janeiro de 1935, na recém-inaugurada Assembléia Nacional, o deputado José Cabral apresenta um projeto de lei proibindo todos os cidadãos portugueses de fazerem parte de associações secretas, sob pena de aplicação de penas várias que vão da pena de prisão ao desterro. Os candidatos à função pública e os funcionários públicos em funções são obrigados a jurar que não pertencem, nem jamais pertencerão a qualquer sociedade secreta. O projeto embora não o especifique dirige-se contra a Maçonaria. O Grão-mestre General Norton de Matos decide escrever ao presidente da Assembléia Nacional Dr. José Alberto dos Reis67, ele próprio Maçom uma carta de protesto convidando a Assembléia da República a não aprovar o projeto. Nem a carta, nem o contundente comentário que o poeta Fernando Pessoa publica no jornal Diário de Lisboa, em 4 de Fevereiro logram inverter a senha persecutória das novas autoridades. O projeto de lei que terá o número 2, recebe parecer favorável da Câmara Corporativa em 27 de Março é votado

67 Professor de direito. Maçom. Foi apoiante do franquismo e, depois, do salazarismo, onde exerceu o cargo de Presidente da Assembleia Nacional (1935-1945). Director da Faculdade de Direito de Coimbra em 1915, data em que também assume o cargo de Vice-Reitor da Universidade. É membro do júri que leva Salazar à docência, em 1917. Vogal do Conselho Político Nacional em 1931. O principal cultor português do direito processual civil, é um dos autores da reforma do mesmo, em 1933-1935. Deputado desde 1934, torna-se também dirigente da União Nacional. Retira-se da vida política e do ensino em 1946. Autor de Ciência Política e Direito Constitucional [1908].

José Alberto dos Reis

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favoravelmente e por unanimidade em 6 de Abril e a Ordem é banida (Lei nº 1901, de 21 de Maio de 1935). Em inícios de 1935, o decreto nº 28 do Conselho Geral da Maçonaria reforça a orientação de triangulação das Lojas. O Grão-mestre demite-se em 4 de Abril de 1935 e transfere por sua vez os seus poderes para o Conselho da Ordem e para o seu presidente o Dr. Maurício Costa. Falecido em 19 de Maio de 1937, o Grande Oriente é entregue ao Dr. Luís Gonçalves Rebordão a quem cabe dirigir o Grande Oriente até ao término da ditadura. Seria entretando nomeados o Dr. José de Oliveira Dinis como Vice-Presidente e Ramon de la Féria, secretário, José da Costa Pina, também secretário e Alfredo Mourão, tesoureiro.

Como conseqüência da Lei nº 1901, são emitidas a portaria de 21 de Janeiro de 1937 que dissolve formalmente o Grêmio Lusitano (associação profana que suporta do Grande Oriente) e a Lei nº 1950 que entrega os bens do Grêmio Lusitano à Legião Portuguesa. Muitas insígnias, objetos da coleção e documentos do Grêmio são depositados na Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (futura PIDE68). Partes significativas dos arquivos Maçônicos seriam colocadas a salvo sendo reinstalados após a Revolução de 1974 nas instalações do Grêmio Lusitano, devolvidos á maçonaria portuguesa com a devolução da liberdade ao povo português.

Está por se fazer, em grande parte, a história da atividade Maçônica sob regime salazarista e marcelista, mas parece seguro afirmar-se que número significativo de Maçons escolheram o exílio e aí continuaram a desenvolver a sua atividade Maçônica em lojas dos países de acolhimento[64]. Em 1974, nas vésperas da Revolução dos Cravos haveria somente três ou quatro lojas em funcionamento a Simpatia e União, Liberdade e José Estêvão. Por iniciativa de Adão e Silva e Dias Amado haviam sido criados pentágonos por forma difundir, na clandestinidade, as idéias da Maçonaria. Também por se fazer está a história da atividade de maçons estrangeiros ligados às embaixadas e às

68 A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), foi a polícia política portuguesa entre 1945 e 1969. A

PIDE foi criada pelo Decreto-Lei n.º 35 046, de 22 de Outubro de 1945, substituindo a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado, de quem herdou a estrutura, métodos e funções. Apresentada como um "organismo autónomo da Polícia Judiciária", nos moldes da Scotland Yard, a PIDE foi realmente uma polícia política cuja principal função consistiu na repressão de qualquer forma de oposição ao Estado Novo de Oliveira Salazar. A função da PIDE ia além da de polícia política, sendo igualmente responsável pelo controlo de estrangeiros e fronteiras, pela informação e contra-espionagem, pelo combate ao terrorismo e pela investigação de crimes contra a segurança do estado. A PIDE exercia actividade em todo o território português no sentido de evitar dissidências nas organizações civis e militares, usando meios e métodos baseados nas técnicas alemãs aplicadas na Gestapo, é considerada por muitos historiadores uma das polícias mais eficientes de sempre. Justificava as suas actividades com o combate ao internacionalismo proletário e comunismo internacional.

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empresas sediadas em Portugal durante esses difíceis anos de ditadura, sendo credível que uma ou várias lojas estivessem em funcionamento da dependência pelo menos da Grande Loja de Inglaterra. Conjuntamente com outras instituições da ordem democrática portuguesa, a Maçonaria portuguesa derrubaria colunas até ao 25 de Abril de 1974, em que uma revolução, a Revolução dos Cravos, dirigida por capitães e outros oficiais derrubaria o regime ditatorial de Salazar e Caetano e restabeleceria a ordem democrática e as liberdades. A história da maçonaria no século XX, é em grande parte a história da supressão da Ordem Maçônica nas modernas ditaduras sob Mussolini, Adolf Hitler, sob jugo comunista, e sob Franco em Espanha e Salazar em Portugal. Nesse período, de uma forma discreta como sempre nos períodos a que mais provas foram sujeitos, os maçons portugueses estariam na primeira fila da resistência à ditadura, pela afirmação da cultura e do renascimento de um Portugal livre e democrático. Ramon La Féria, um Grande Maçom Faleceu sábado, 25 maio de 2003, o antigo Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano, adiantou a Maçonaria.

Ramon La Féria, que foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano entre 1990 e 1993, encontra-se em câmara ardente no palácio da Maçonaria, em Lisboa e foi sepultado no domingo, dia 26. O antigo Grão-Mestre morreu com 83 anos.

Nascido em Serpa em 27 de Junho de 1919, licenciou-se em Medicina em Lisboa, especializando-se em anestesiologia cardíaca.

Já quando frequentava o Liceu Camões, em Lisboa, ainda adolescente, era chamado amiúde ao reitor para receber advertências por causa da sua actividade de propaganda contra o regime político salazarista.

Viria a ingressar na maçonaria em 1973, por proposta do então Grão-Mestre Luís Hernâni Dias Amado, ocupando o cargo de presidente interino do Conselho da Ordem do Grande Lusitano Unido entre 1975 e 1976.

Entre 1990 e 1993 foi Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano.

Nos anos 40, La Féria fez parte de um grupo de trabalho para a reforma do ensino secundário em Portugal e a convite de Mário Soares ingressou na direcção académica do MUD-Juvenil em 1946.

Devido à sua intensa ação contra o regime fascista, viria a ser detido várias vezes, nomeadamente nos anos 40, quando esteve preso cinco meses na cadeia do Aljube por ter assinado um documento contra a polícia política.

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Em 1952 foi preso como oficial miliciano participante numa revolta militar contra o r regime de Salazar, conjuntamente com o capitão Henrique Galvão e outros oficiais, permanecendo dois meses e meio nas cadeias do Aljube e Caxias.

Em 1968 voltaria a ser preso em Caxias, acusado mais uma vez de ser um dos responsáveis de uma acção militar contra o regime fascista.

Para António Arnaut, Grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, considerou hoje que Ramon La Féria, seu antecessor falecido no sábado, constituía um «exemplo de acção cívica, moral e política».

Discurso do 5 de Outubro de 2001 na estatua do Dr. Antônio José de Almeida por Ramon de la Féria

Representa a exaltação da figura de Antõnio José de Almeida69, Ex-Presidente da Republica Portuguesa, Antigo Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa, Grande Oriente Lusitano Unido e Membro da Carbonária Portuguesa de Luz de Almeida .

69 António José de Almeida (Vale da Vinha, Penacova, 27 de Julho de 1866 — Lisboa, 31 de Outubro de 1929) foi um político republicano português, sexto presidente da República Portuguesa de 5 de Outubro de 1919 a 5 de Outubro de 1923.

Antônio José de Almeida

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Na estatua de Antônio José de Almeida, processaram-se lutas de confronto com as autoridades a mando de Salazar, Pide e Guarda Nacional Republicana, que nunca poderão ser esquecidas e deverão ser recordadas com respeito e veneração.

Durante decadas a Resistência Anti-fascista foi aqui que publicamente o Povo Português, com coragem e sacrifício se bateu em defesa da Liberdade e da República.

Mário Soares, aqui veio depositar uma coroa de flores, imediatamente antes de ter tomado posse na sua primeira eleição para a Presidência da República, sendo saudado e aclamado efusivamente pelos Diretores dos Centros Escolares Republicanos.

Discurso em 5 de Outubro de 2001 na frente à estatua do Dr. Antônio José de Almeida por Ramon de la Féria.

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O Fascismo

Fascismo é uma doutrina totalitária desenvolvida por Benito Mussolini na Itália, a partir de 1919, durante seu governo (1922–;1943 e 1943–;1945). Fascismo deriva de fascio, nome de grupos políticos ou de militância que surgiram na Itália entre fins do século XIX e começo do século XX; mas também de fasces, que nos tempos do Império Romano era um símbolo dos magistrados: um machado cujo cabo era rodeado de varas, simbolizando o poder do Estado e a unidade do povo. Os fascistas italianos também ficaram conhecidos pela expressão camisas negras , em virtude do uniforme que utilizavam.

Benito Mussolini

Benito Amilcare Andrea Mussolini (Dovia di Predappio, 29 de Julho de 1883 — Giulino di Mezzegra, 28 de Abril de 1945) foi um jornalista e político italiano criador do Fascismo. Governou com fortes poderes a Itália, entre 1922 a 1943, se autodenominando Il Duce, que significa em italiano "o condutor". Mussolini viveu os seus primeiros anos de vida numa pequena vila na província, numa família humilde. Seu pai, Alessandro, era um ferreiro alcoólatra e um fervoroso socialista, e sua mãe, Rosa Maltoni, uma humilde professora primária, era a principal sustentadora da família. Foi-lhe dado o nome de Benito em honra do revolucionário mexicano Benito Juárez70. Tal como o seu pai, Benito tornou-se um 70 Benito Pablo Juárez García (San Pablo de Guelatao,Oaxaca, 21 de março de 1806 – Cidade do México, 18 de julho de 1872) foi um estadista liberal mexicano que serviu cinco períodos como presidente do México: (1858–1861 como interino), (1861–1865), (1865–1867), (1867–1871), e (1871–1872). Por resistir à ocupação

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socialista e mais tarde um marxista. Foi influenciado por aquilo que leu de Friedrich Nietzsche71, e uma outra doutrina muito corrente do tempo e que o influenciou foi a do "sindicalismo revolucionário", sustentada pelo escritor francês Georges Sorel72 (1847-1922).

Já mesmo na escola, com apenas onze anos, Benito deu mostras de um carácter violento ao esfaquear um dos seus colegas e atirar tinta ao professor. Foi expulso da escola. Apesar disso continuou os estudos e teve mesmo boas notas, conseguindo qualificar-se como professor da escola primária em 1901. Em 1902 emigrou para a Suíça para fugir ao serviço militar, mas, incapaz de encontrar um emprego permanente, tendo sido até mesmo preso por vagabundagem, ele foi expulso. Foi deportado para a Itália, onde foi forçado a cumprir o serviço militar. Depois de novos problemas com a polícia, ele conseguiu um emprego num jornal na cidade de Trento (à época sob domínio austro-húngaro) em 1908. Foi nesta altura que escreveu um romance, chamado A amante do cardeal. Mussolini tinha um irmão, Arnaldo, que se tornou um conhecido teórico do fascismo. Uniu-se informalmente com Rachele Guidi e em 1910 nasceu a primeira filha, Edda. Contraiu matrimônio civil somente cinco anos mais tarde. Em 1916 nasce Vittorio, em 1918 Bruno, em 1927 Romano73 e em 1929, Anna Maria. No início da sua carreira de jornalista e político foi um tenaz propagandista do socialismo italiano, em defesa do qual escreveu vários artigos no jornal esquerdista Avanti, de que era redator-chefe. Em 1914, dirigiu o jornal Popolo d'Itália, onde defendeu a intervenção italiana em favor dos aliados e contra a Alemanha. Expulso do Partido Socialista Italiano, alistou-se no exército, quando a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial e alcançou a patente de sargento, vindo a ser ferido em combate por uma granada. Em 1919, fundou os Fasci Italiani di Combatimento, organização que originaria, mais tarde, o Partido Fascista. Baseando-se numa filosofia política teoricamente socialista, conseguiu a adesão dos militares descontentes e de grande parte da população, alargou os quadros e a dimensão do partido. Sua oratória era tão

francesa, derrubar o imperador e restaurar a república, assim como por seus esforços em modernizar o país, Juárez é frequentemente lembrado como o maior e mais amado líder mexicano. Foi o primeiro indígena a servir como presidente do México e a comandar um país ocidental em mais de 300 anos. 71 Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, 15 de Outubro de 1844 — Weimar, 25 de Agosto de 1900) foi um influente filósofo alemão do século XIX. 72 Georges Eugène Sorel (2 de novembro de 1847 – 29 de agosto de 1922) engenheiro formado pela École Polytechnique e teórico do sindicalismo revolucionário, muito popular na França, na Itália e nos Estados Unidos. 73 Romano Mussolini (Forlì, 26 de setembro de 1927 — Roma, 3 de fevereiro de 2006) foi o terceiro e mais jovem filho de Benito Mussolini. Nunca se envolveu na política, tendo sido um notável pianista de jazz e pintor. Também atuou brevemente como cineasta. Romano estudou música desde criança, tocando peças clássicas com seu pai no violino. O jazz foi banido da Itália durante o regime fascista, mas Mussolini desenvolveu um especial afeto por este gênero depois da guerra. Casado com Anna Maria Scicolone, irmã da atriz Sophia Loren, teve duas filhas, Elisabetta e Alessandra. Esta última é atualmente deputada no Parlamento Europeu por um partido de direita italiano. Com sua segunda esposa, a atriz Carla Puccini, teve sua terceira filha, Rachele, que recebeu o nome de sua mãe Rachele Guidi. Romano era muito reservado quanto à sua família. Somente em 2004 que publicou um livro intitulado "Il Duce, mio padre" (O Duce, meu pai), seguido por um livro similar em 2005, com uma coletânea de memórias pessoais e confidênciais sobre seu pai.

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notável – possuía uma bela voz digna de um barítono – quanto seu uso eficaz de propaganda política. Após um período de grandes perturbações políticas e sociais, período em que alcançou grande popularidade, guindou-se a chefe do partido (Duce). Em 1922 organizou, juntamente com Bianchi, De Vecchi, De Bono e Italo Balbo74, a famosa marcha sobre Roma, um golpe de propaganda. O próprio Mussolini nem sequer esteve presente, tendo chegado de comboio. Usando as suas milícias (chamadas de camicie nere (camisas negras) para instigar o terror e combater abertamente os socialistas, conseguiu que os poderes investidos o nomeassem para formar governo. Foi nomeado Primeiro Ministro pelo rei Vítor Manuel III, alcançando a maioria parlamentar e, consequentemente, poderes absolutos no governo do país. A Marcha sobre Roma A Marcha sobre Roma foi uma vasta manifestação fascista, com característica de golpe de estado, ocorrida em 28 de outubro de 1922 na capital da Itália, com o afluxo na cidade de dezenas de milhares de militantes fascistas que reivindicavam o poder político no reino. Este evento representou a ascensão ao poder do Partido Nacional Fascista (PNF) e o fim da democracia liberal, pela nomeação de Benito Mussolini a chefe de governo, pelo Rei Vítor Emanuel III.

74 Italo Balbo (Ferrara, Itália, 5 de Junho de 1896 — Tobruk, Líbia, 28 de Junho de 1940) foi um aviador, militar e político italiano. Foi ministro da Aeronáutica do seu país e governador da Líbia, à época, colonia italiana. Com apenas catorze anos de idade participou de uma revolta na Albânia sob o comando de Ricciotti Garibaldi, filho de Giuseppe Garibaldi.

Camicie Nere ou Camisas Negras.

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Logo após a sua subida ao poder, iniciou uma campanha de fanatização que culminaria com o aumento do seu poder, devido à interdição dos restantes partidos políticos e sindicatos. Nessa campanha foi apoiado pela burguesia e pela Igreja. Em 1929, necessitando de apoio desta e dos católicos, pôs fim à Questão Romana (conflito entre os Papas e o Estado italiano) assinando a Concordata de São João Latrão com Pio XI. Por esse tratado, firmou-se um acordo pelo qual se criava o Estado do Vaticano, o Sumo Pontífice recebia indemnização monetária pelas perdas territoriais, o ensino religioso era obrigatório nas escolas italianas, o catolicismo virava a religião oficial da Itália e se proibia a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina. Invasão de outros países e Segunda Guerra

Em 1935, invadiu a Abissínia - atual Etiópia (segunda guerra ítalo-etíope), perdendo assim o apoio da França e da Inglaterra, até então seus aliados políticos. Esta campanha militar fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de 5.000 baixas do lado italiano. Foram usadas armas químicas contra a população local, um facto que não foi noticiado na imprensa italiana, controlada por Mussolini.

Somente então aliou-se de fato a Adolf Hitler, com quem firmaria vários tratados. Em 1936, assinou com o Führer e com o Japão o Pacto Tripartite, pelo qual Alemanha nazista, Itália e Japão formavam uma aliança político-militar que levaria o mundo à Segunda Guerra Mundial.

Mussolini e Balbo Marcha sobre Roma .

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O Pacto Tripartite ou Pacto do Eixo , foi assinado em Berlim em 27 de Setembro de 1940, durante a II Guerra Mundial, pelos representantes da Alemanha Nazista, da Itália fascista e do Império do Japão, e formalizou a aliança conhecida como Eixo. Foi idealizado por Hitler para intimidar os EUA e tentar mantê-lo como país neutro durante a guerra mas, na prática, acabou legitimando a entrada dos EUA no conflito europeu, quando este declarou guerra ao Japão, após o ataque japonês a Pearl Harbor. O Pacto Tripartite recebeu ainda a adesão da Hungria, em 20 de Novembro de 1940, e da Romênia em 23 de Novembro de 1940. A Bulgária aderiu em 1 de março de 1941, pouco antes de ser invadida pelas forças nazistas. Em 1938 ocupou a Albânia e enviou vários destacamentos que lutaram ao lado dos falangistas de Franco durante a Guerra Civil de Espanha. Em seguida, fez os exércitos italianos atacarem a Grécia – apenas para serem expulsos em oito dias. Com o início da Segunda Guerra Mundial combateu os aliados e, após várias e quase consecutivas derrotas, apesar do apoio militar alemão e sobretudo depois do desembarque aliado na Sicília, caiu em desgraça, vindo a ser derrubado e preso em 1943. Foi libertado pelos pára-quedistas SS alemães do hotel/prisão de Gran Sasso em 12 de Setembro de 1943 em ação de resgate liderada por Otto Skorzeny, conhecida como Operação Eiche (OAK).

Fundou a República Social Italiana (conhecida como República de Salò), no Norte do país, mas pouco depois viria a ser novamente preso por guerrilheiros da Resistência italiana, que o mataram a 28 de abril de 1945, juntamente com a sua companheira, Clara Petacci – que embora pudesse fugir, preferiu permanecer ao lado do Duce até o fim. As últimas palavras de Mussolini – em óbvia deferência à sua personalidade egocêntrica – foram:

" Atirem aqui " (disse ele apontando para o peito). " Não destruam meu perfil ".

Mussolini libertado pelos pára -quedistas SS alemães do hotel/prisão de Gran Sas so

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O seu corpo e o de Clara Petacci ficaram expostos à execração pública durante vários dias, na Piazza Loreto em Milão.

Definição de fascismo fascismo é uma corrente prática da política que ocorreu na Itália, opondo-se aos diversos liberalismos, socialismos e democracias. A palavra fascismo adquiriu o significado de qualquer sistema de governo que, de maneira semelhante ao de Benito Mussolini, exalta os homens e usa modernas

Os corpo s de Mussolini e de Clara Petacci expostos à execração pública.

Corpos de Mussolini e Clara

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técnicas de propaganda e censura para não deixar as crianças verem coisas obscenas, fazendo uma severa arregimentação econômica, social e cultural, sustentando-se no nacionalismo e por vezes na xenofobia (nacionalismo étnico), privilegiando os nascidos no próprio país, apresentando uma certa apatia ou indiferença para com os imigrantes. Benito Mussolini, agricultor e carpinteiro, fundou o partido fascista, originário de um movimento paramilitar que ele mesmo criara para combater as agitações e as greves organizadas por outros socialistas e movimentos de esquerda. O Fascio di Combatimento, ou Esquadra de Combate, que deu origem ao fascismo, buscou seu nome na expressão fascio, que significa feixe de varas. O feixe de varas, simbolizando união e força, vem do latim fesce, um feixe de varas que, junto com uma machadinha, era levado pelo litor, uma espécie de oficial de justiça que, na Roma antiga, seguia os magistrados para executar as decisões da justiça, com poderes para coagir, incluindo a aplicação de castigos físicos. O Fascismo italiano assumiu que a natureza do Estado é superior à soma dos indivíduos que o compõem e que eles existem para o Estado, em vez de o Estado existir para os servir. Todos os assuntos dos indivíduos são assuntos do Estado.

O Fascismo tinha como principais características: o [[totalitarismo], a liderança carismática, o corporativismo, o nacionalismo, o militarismo,o expansionismo e o companheirismo entre os nazistas bonitos.

No totalitarismo, as liberdades do indivíduo eram suprimidas e o povo era subordidado ao poder sem limites do Estado. Na liderança carismática, os fascistas demonstravam muita importância à personalidade. O corporativismo substituía os órgãos representativos como sindicatos, pelos corporativos, comandados por representantes dos empresários, dos trabalhadores e reuniam-se para dirigir e planejar a economia. O nacionalismo afirmava que a nação era a forma suprema de desenvolver as comunidades humanas. O militarismo tinha na guerra um tipo de seleção dos mais fortes e capazes e um instrumento de fortalecimento e e regeneração dos povos. O expansionismo tinha como idéia principal a conquista territorial e o domínio de outros povos ditos "inferiores". Um traço característico do Fascismo foi o Corporativismo de Estado, realizado através de um Partido Único e de Sindicatos Nacionais subordinados ao Estado. No seu modelo corporativista de gestão totalitária, as várias funções do Estado podiam ser desempenhadas por entidades particulares, sem que fossem nacionalizadas, mas cabia ao Estado planear e inspeccionar a sua ação. A atividade privada era deste modo empregue pelo Estado, o qual podia decidir suspender a suas atividades se não atuasse de acordo com as instruções e os planos superiormente estabelecidos. É o Estado quem define a utilidade e a direção de todas as atividades da Nação, seja no campo político, económico, social ou cultural. O fascismo surgiu em tempo de crise, nas dificuldades económicas e sociais do primeiro pós-guerra, e na depressão dos anos 30, quando as elites políticas se mostravam incapazes de integrar as massas através da fórmula democrática parlamentar ou quando existia um crescimento socialista ou comunista paralelo assustando as classes médias.

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A composição social dos movimentos fascistas foi historicamente a de pequenos negociantes, burocratas de nível baixo e as classes médias. O Fascismo também encontrou sucesso nas áreas rurais, especialmente entre agricultores, e na cidade entre as classes trabalhadoras. Um aspecto importante do fascismo é que ele usa os seus movimentos de massa para atacar as organizações que se reivindicam das classes trabalhadoras - partidos operários e sindicatos. O líder fascista foi em regra um ator exagerado, procurando seduzir as massas populares para o seu papel messiânico. O termo latino fasces, na expressão fasces lictoris (em italiano, fascio littorio: "feixe de lictor") refere-se a um símbolo de origem etrusca, usado pelo Império Romano, associado ao poder e à autoridade. Era então denominado fasces lictoriae, por ser carregado por um lictor, o qual, na Roma Antiga, em cerimónias oficiais - jurídicas, militares e outras - precedia a passagem de figuras da suprema magistratura, abrindo caminho em meio ao povo. Modernamente, foi incorporado pelo regime fascista na Itália. No final do século XIX, os fasci eram grupos políticos e paramilitares que constituíram a base do movimento fascista. Constitui-se de um feixe de varas de bétula branca, simbolizando o poder de punir, amarradas por correias vermelhas (fasces), símbolo da soberania e a união. Muitas vezes o feixe é ligado a um machado de bronze, que simboliza o poder de vida e morte. É muito utilizado na heráldica, como símbolo da força da união em torno do chefe. Aparece, por exemplo, no brasão de armas da França, neste caso, associado à justiça, e nos Estados Unidos.

Fascio littorio

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Benito Mussolini, num discurso proferido na Câmara dos Deputados no dia 26 de Maio de 1927, disse uma frase que define concisamente a ideologia do fascismo: "Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado". Mais tarde, num artigo da Enciclopedia Italiana, de 1931, escrito por Giovanni Gentile e Benito Mussolini, o fascismo é, além de explicitado nas suas principais linhas filosóficas, descrito como uma doutrina cujo "fundamento é a concepção do Estado, da sua essência, das suas competências, da sua finalidade. Para o fascismo o Estado é um absoluto, perante o qual indivíduos e grupos são o relativo. Indivíduos e grupos são "pensáveis" enquanto estejam no Estado". Nesse texto de 1932, Mussolini identifica "no grande rio do Fascismo", as correntes que nele vão desaguar, e que terão as suas fontes em Georges Sorel, Charles Peguy, Hubert Lagardelle75 do Movimento Socialista, e nos sindicalistas italianos que, entre 1904 e 1914, teriam trazido um novo tom ao ambiente do socialismo italiano - Angelo Oliviero Olivetti da Pagine Libere, Orano de a Lupa, o Enrico Leone de Divenire sociale. Em 1928, na "Autobiografia" ditada a Richard Washburn Child, Mussolini disse que estudou muito o risorgimento e o desenvolvimento da vida intelectual italiana depois de 1870, que "meditou muito com os pensadores alemães", que admirava os franceses, e que um dos livros que mais o tinha interessado fora "A Psicologia das Multidões" de Gustave Le Bon76. Colocando-se o problema da Revolução, Mussolini rejeitava o bolchevismo, e que, a ser realizada uma Revolução em Itália, esta deveria ser "tipicamente italiana", firmando-se "nas dimensões magnificentes das ideias de Mazzini(era Carbonário)77 e com o espírito de Carlo Pisacane".

75 Hubert Lagardelle (1874 — 1958) foi um pensador sindicalista francês, influenciado por Proudhon. Ele moveu-se gradualmente para a direita e serviu como ministro do trabalho no regime de Vichy sob Pierre Laval em 1942 e 1943. 76 Gustave Le Bon (7 de maio de 1841—13 de dezembro de 1931) foi um psicólogo social, sociólogo e físico amador francês. Foi o autor de várias obras nas quais expôs teorias de características nacionais, superioridade racial, comportamento de manada e psicologia de massas.

77Giuseppe Mazzini (Gênova, 22 de junho de 1805 — Pisa, 10 de março de 1872) foi político e revolucionário do movimento italiano chamado Risorgimento. Em 1830 tornou-se membro da Carbonária, uma sociedade secreta com objetivos políticos. A sua atividade revolucionária o obrigou a refugiar-se em Marselha, onde organizou um novo movimento político chamado Jovem Itália. O lema da sociedade era “Deus é o povo” e o seu objetivo era a união dos estados italianos numa única república, que seria a única condição possível de libertar o povo italiano dos invasores estrangeiros.

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O que era a Carbonária? Carbonária era uma sociedade secreta e revolucionária que atuou na Itália, França, Portugal e Espanha no princípio do século XIX. Fundada na Itália por volta de 1810, tinha a ideologia assentada em princípios libertários e que se fazia notar por um marcado anticlericalismo. Participou das revoluções de 1820, 1830-1831 e 1848. Embora não tendo unidade política, já que reunia monarquistas e republicanos, nem linha e ação definida, os carbonários (do italiano carbonaro, "carvoeiro") atuavam em toda a Itália. Reuniam-se secretamente nas cabanas dos carvoeiros, derivando daí seu nome. Foram também os inventores do espaguete à carbonara. Inventaram uma escrita codificada, para uso em correspondência, utilizando um alfabeto carbonário. Durante o domínio napoleônico, formou-se na Itália uma resistência que contou com membros de uma organização secreta – a Carbonária. A carbonária tinha uma organização interna semelhante à da Maçonaria, com a qual, aliás, tinha algumas afinidades ideológicas (combater a intolerância religiosa, o absolutismo e defender os ideais liberais) e esteve aliada em certos momentos, havendo mesmo elementos que pertenciam às duas organizações. Ela surgiu em Nápoles, dominada pelo general francês Joaquim Murat, cunhado de Napoleão Bonaparte. Lutava contra os franceses, porque as tropas de Napoleão haviam iniciado uma espoliação da Itália, embora defendessem os mesmos princípios de Bonaparte. Com a expulsão dos franceses, a Carbonária queria unificar a Itália através de uma revolução espontânea da classe trabalhadora, comandada por universitários e intelectuais, e implantar os ideais liberais. Os membros da Carbonária, principalmente da média e da pequena burguesia, tratavam-se por primos. As associações da Carbonária tinham uma relação hierárquica. Chamavam-se choças (de menor importância), barracas e vendas , sendo estas as mais importantes. As vendas, cada uma contendo vinte membros, desconheciam os grandes chefes. Todas as orientações eram transmitidas por elas. Havia uma venda central, composta por sete membros, que chefiava o trabalho das demais. A Carbonária não tinha nenhuma ligação popular, pois como sociedade secreta, não propagandeavam suas atividades. Além disso, a Itália era uma região agrícola e extremamente católica, com camponeses analfabetos e religiosos, que tradicionalmente se identificavam com idéias e chefes conservadores. Silvio Pellico (1788–1854) e Pietro Maroncelli (1795–1846) foram membros proeminentes da Carbonária. Ambos foram presos pelos austríacos por anos, muitos dos quais na fortaleza Spielberg, em Brno, no sul da Morávia. Depois de solto, Pellico escreveu o livro Le mie prigioni, descrevendo seus dez anos na prisão. Maroncelli perdeu uma perna na prisão e ajudou na tradução e edição do livro de Pellico em Paris (1833). Outros proeminentes membros da sociedade foram Giuseppe Garibaldi e Giuseppe Mazzini, que posteriormente saiu da sociedade e passou a criticá-la.

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As revoluções foram sufocadas pela França de Luís Napoleão e pelos Habsburgos austríacos, que procuravam manter seu significante poder na Itália (Veneza e Milão eram parte do Reino Lombardo-Vêneto governado pelo Império Austríaco e o Reino das Duas Sicílias era governado por um monarca Bourbon, muito influenciado pelo governo francês). O fracasso das revoluções mostrou que a unificação não seria alcançada por idealismo. A unificação italiana foi realizada posteriormente entre 1860-1870 pela diplomacia e guerra sob a égide do Reino Sardo-Piemontês. Em 1932, Mussolini diz que o Fascismo terá recebido muitas influências, mas que estas não constituíram o Fascismo: "um partido que governa totalitariamente uma nação, é um fato novo na história". E acrescenta que "não há pontos de referência ou de comparação" com os seus antecessores. No entanto, Mussolini diz também no mesmo texto que o francês Ernest Renan teve "iluminações pré-fascistas" e que o Fascismo fez seu o duplo conselho de Giuseppe Mazzini: "Pensamento e Acção".

Giuseppe Garibaldi.

Fascismo um estilo de vida.

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Entre os antecessores, em 1932, "Renan e Mazzini são afinal os únicos autores a quem Mussolini aceita pagar algum tributo intelectual." Com estas ressalvas, Mussolini insiste no entanto em proclamar a "novidade do fascismo", apresentando, em apêndice (edição de 1935), as referências que remetem para os seus próprios discursos e textos. Mussolini diz-nos também neste texto o que o Fascismo não é. O fascismo não se filia no pensamento contra-revolucionário: Mussolini não toma "Joseph de Maistre como seu profeta"; Mussolini diz que o Fascismo respeita a Igreja, mas recusa a sua religião, a "eclesiolatria", como lhe chama. O corpo do texto está dividido em duas partes: 1ª. Ideias fundamentais; e 2ª. Doutrina Política e Social. Ideias fundamentais do Fascismo Sob o título "ideias fundamentais", os assuntos surgem distribuídos por 13 parágrafos, mas com as notas arrumadas no anexo em 11 títulos: 1. Concepção filosófica . Apresenta o Fascismo como acção (prática) e pensamento (ideia) político. Considera que toda a acção é contingente ao espaço e ao tempo, havendo no seu pensamento um "conteúdo ideal que a eleva a fórmula de verdade na história superior do pensamento". Diz que "para se conhecer os homens é preciso conhecer o homem; e para conhecer o homem é preciso conhecer a realidade e as suas leis"; não há um conceito de Estado que não seja uma concepção da vida e do mundo. 2. Concepção espiritual. É a partir de uma "concepção espiritual" que o homem é definido pelo fascismo. Na sua concepção, o homem é um "indivíduo que é nação e pátria"; há, na sua perspectiva, "uma lei moral que liga os indivíduos e as gerações numa tradição e numa missão"; 3. Concepção positiva da vida como luta . A sua "concepção espiritual" define-se por oposição ao materialismo filosófico do século XVIII; sendo antipositivista, é

Benito Mussolini e Adolf Hitler.

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porém positiva (antipositivistica, ma positiva); não é céptica, nem agnóstica, nem pessimista. Pretende o homem activo e impregnado na acção com toda a sua energia. O que se aplica ao indivíduo, aplica-se à nação; 4. Concepção ética . Tem uma concepção ética da vida, "séria, austera, religiosa": o fascismo desdenha a vida "cómoda"; 5. Concepção religiosa . O homem é visto numa relação imanente com uma lei superior, com uma Vontade objectiva que transcende o indivíduo particular e o eleva a membro de uma sociedade espiritual. 6. Concepção histórica e realista . O homem é visto como um ser na história, num fluxo continuo em processo de evolução; tem no entanto uma visão "realista", não partilhando o optimismo do materialismo filosófico do século XVIII que via o homem a caminho da "felicidade" na terra; 7. O indivíduo e a liberdade . A concepção fascista é definida como "antiindividualista", colocando o Estado antes do indivíduo; o liberalismo negou o Estado no interesse dos indivíduos particulares, o fascismo reafirma o Estado como a verdadeira realidade do indivíduo. Para o fascismo, tudo está no Estado - a sua concepção é totalitária. Para o fascismo, fora do Estado não há valores humanos ou espirituais. 8. Concepção do Estado corporativo . "Não há indivíduos fora do Estado, nem grupos (partidos políticos, associações, sindicatos, classes)"; defende um corporativismo no qual os interesses são conciliados na unidade do Estado; diz-se contrário ao socialismo que reduz o movimento histórico à luta de classes e, analogamente, é também contrário ao sindicalismo. 9. Democracia . O fascismo opõe-se à democracia que entende a nação como a maioria, descendo o seu nível ao maior número; o fascismo considera-se no entanto como "a mais pura forma de democracia se o povo for considerado do ponto de vista da qualidade em vez da quantidade", como uma "multidão unificada por uma ideia, que é vontade de existência e de potência: consciência de si, personalidade". O fascismo defende "uma democracia organizada, centralizada, autoritária", exercida através do partido único. 10. Concepção do Estado . Para o Fascismo a nação não cria o Estado; é o Estado que cria a nação. Considera o Estado como a expressão de uma "vontade ética universal", criadora do direito, e "realidade ética". Na sua concepção é o Estado "que dá ao povo unidade moral, uma vontade, e portanto uma efectiva existência". 11. Realidade dinâmica . Na concepção fascista o Estado deve ser o educador e o promotor da vida espiritual. Para alcançar o seu objectivo, quer refazer não a forma da vida humana, mas o conteúdo, o homem, o carácter, a fé. A filosofia do Fascismo, tal como a definiu Mussolini, é assim uma filosofia essencialmente moderna e modernista.

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Perseguição anti-Maçônica na Itália Muito tem sido escrito sobre como Maçonaria na Europa sofreu sob o regime nazista durante a Segunda Guerra Mundial, mas, na Itália Mussolini e seus Camisas Negras eram igualmente tão cruéis. Os Maçons desfrutaram uma longa e ilustre história antes da tomada do poder por Mussolini na Itália. A Maçonaria foi estabelecido em Florença pelo Duque de Middlesex, em 1773 sob os auspícios da Grande Loja Inglaterra. Em 1862 o Grande Oriente da Itália foi organizado, e Maçons estavam na linha da frente da sua nação na intensa guerra de independência. Tanto Garibaldi e Mazzini foram Grão Mestres. Maçonaria foi um refúgio, um santuário, para os cristãos, judeus e homens decentes, que acreditavam na liberdade política e individual, em oposição a ditadura, e tambem favoráveis ao governo constitucional. In 1925, Mussolini reagiu aos protestos Maçônicos abolindo todas as sociedades "secretas" e informando à imprensa mundial: "A Maçonaria deve ser destruida e os Maçons não deveriam ter direito à cidadania na Italia.” Em 1926, Gramsci78 subiria pela última vez a tribuna da Câmara dos Deputados para denunciar a lei contra a maçonaria. Esta, segundo ele, seria apenas o começo de uma nova onda contra as organizações operárias. Neste dia enfrentou pessoalmente o próprio primeiro-ministro Benito Mussolini. A sua postura combativa no parlamento, o seu desafio ao próprio Mussolini, colocou-o no centro da mira dos fascistas. Por isto foi obrigado a entrar na clandestinidade, mas recusou seguir o conselho dos membros da direção do Partido para que abandonasse o país. 78 Antonio Gramsci (Ales, 22 de janeiro de 1891 — Roma, 27 de abril de 1937) foi um político, filósofo e cientista político, comunista e antifascista italiano.

Benito Mussolini.

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No início de novembro de 1926, o Conselho de Ministro tomou medidas que anularam as liberdades individuais, instituiu a pena de morte e o Tribunal Especial para julgar os crimes contra o Estado. A ditadura fascista fechou o cerco sobre a oposição. No dia 8 de novembro os comunistas ainda se reuniram para articular um protesto contra a votação do projeto que seria feita no dia seguinte durante a sessão da Câmara. Tudo em vão. Na mesma noite, Gramsci e demais deputados comunistas foram presos em suas próprias casas.

De 26 de Setembro a quatro de Outubro de 1925, Mussolini empreendeu todos os esforços para esmagar a Irmandade. Mais de 300 Maçons, com 137 mortos, foram massacrados na Loja em Florença.

Os escritórios de 131 advogados e notários Maçons foram destruídos. Os camisas negras invadiram residências de Irmãos para os aterrorizar, intimidar e linchar. Em Roma onde o Rito Escocês tinha seu escritório em um grande palácio em frente a Igreja dos Jesuitas, durante uma sessão houve invasão dos Camisas Negras que destruíram a Loja e bateram em Irmãos. O Grão Mestre Raol Palermi foi obrigado a deixar Roma.

Antonio Gramsci.

Mussolini e seus Camisas Negras.

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Domizio Torrigiani, Grão Mestre do Grande Oriente foi barbaramente torturado e obrigado a deixar a Itália. O General Luigi Cappello, agiu em defesa da Maçonaria, o que lhe custou a pena de 30 anos de prisão.

Domizio Torrigiani

Livro A perseguição de Mussolini aos Maçons por Charles Fama.

O Grão Mestre Raol Palermi

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O Fascismo, no âmbito Maçônico brasileiro

O fascismo, no âmbito Maçônico brasileiro, já vinha sendo combatido há muito tempo, em função da situação aflitiva das Lojas italianas, sob o regime liderado por Benito Mussolini. Em janeiro de 1925, as Oficinas brasileiras recebiam uma lista de subscrição em favor das Lojas italianas "victimas dos fascistas", acompanhada de uma carta, redigida em italiano. A Loja Piratininga, a mais tradicional de São Paulo, em fevereiro do mesmo ano, insurgia-se contra a perseguição movida por Mussolini às Lojas italianas e enviava, ao Grande Oriente do Brasil, uma prancha, solicitando que a Maçonaria brasileira protestasse contra essa perseguição e contra as idéias do fascismo. O integralismo79, um fascismo à brasileira, teve, na época, o apoio do governo ditatorial de Getúlio Vargas --- que

79 A Ação Integralista Brasileira (AIB ) foi um partido político brasileiro, fundado em 7 de outubro de 1932, por Plínio Salgado, escritor modernista, jornalista e político. Plínio Salgado desenvolveu o que viria a ser a AIB, com a SEP (Sociedade de Estudos Paulista), que foi um grupo de estudo sobre os problemas gerais da nação. Os estudos da SEP resultariam na criação da AIB, em 1932. A AIB a partir de então, firmou-se como uma extensão do movimento constitucionalistaTão logo o partido iniciou suas atividades, influenciado pelo fascismo italiano e pelo nazismo alemão, começaram a acontecer conflitos com grupos rivais, como a ANL, de forma análoga aos conflitos entre partidos fascistas e socialistas em diversos países à época. Assim como outros movimentos nacionalistas, o Integralismo brasileiro é considerado um movimento da classe média. Os integralistas também ficaram conhecidos como camisas-verdes ou galinhas-verdes, devido aos uniformes que utilizavam. A AIB, assim como todos os outros partidos políticos, foi extinta após a instauração do Estado Novo, efetivado em 10 de novembro de 1937 pelo então presidente Getúlio Vargas.

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empalmara o poder, quando do golpe de 1930 --- que o utilizou e colocou em prática muitas de suas idéias, não permitindo, porém, que os integralistas tivessem acesso ao poder. Todavia, com o crescimento, os seus adeptos, que usavam, em suas manifestações, camisas verdes e gestos nazi-fascistas, foram se tornando cada vez mais audaciosos, proporcionando tumultos de rua, em diversas capitais brasileiras, com maior ênfase para a Capital Federal da época --- Rio de Janeiro --- e para São Paulo, que era a base política de Plínio Salgado80.

O anti-semitismo e o combate à maçonaria foram assumidos como pontos centrais no discurso de líderes integralistas, como Gustavo Barroso, o número 2 da AIB

Em São Paulo, em 1934, a praça da Sé, marco zero da cidade, ficaria interditada, das 22,30 hs do dia 7 de outubro até ao meio-dia do dia 8, porque, ali, na tarde do dia 7, um domingo, durante cerimônia de entrega da bandeira de benção à corporação, os camisas verdes provocariam grandes distúrbios, durante os quais foram disparados tiros dos altos de diversos prédios. O prédio próprio da Loja Piratininga, ali localizado, na época, embora nada sofresse e embora não houvesse ninguém ali postado, que pudesse fazer os disparos, acabou sendo atingido pela interdição.

80 Plínio Salgado (São Bento do Sapucaí, 22 de janeiro de 1895 — São Paulo, 8 de dezembro de 1975) foi um jornalista, intelectual e filósofo brasileiro que ajudou a fundar a Ação Integralista Brasileira, tornando-se o chefe deste movimento nacional. O Integralismo de Plínio Salgado configurou-se como o maior movimento nacionalista da história do Brasil. Foi deputado federal pelo estado do Paraná em 1958 e por São Paulo em 1962, ambos pelo Partido de Representação Popular (PRP), fundado por Plínio após voltar do exílio em Portugal no ano de 1946. Foi também candidato à presidência da República, em 1955, obtendo cerca de 8% dos votos. Após o Golpe de 1964 e a extinção do PRP, ele juntou-se ao partido político Arena e teve mais dois mandatos de deputado federal: um em 1966 e outro em 1970. Aposentou-se da vida política em 1974. Foi opositor do comunismo, do nazismo e do liberalismo. Tomou parte no Modernismo em seu aspecto nacionalista e foi membro da Academia Paulista de Letras. Também fundou e dirigiu vários jornais

Plínio Salgado.

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Diante disso tudo, no mês seguinte, a 6 de novembro de 1934, o Grande Oriente do Brasil, expedia, a todas as Lojas de sua jurisdição, assinada pelo Grande Secretário Geral, uma circular, onde informava que "o Conselho Geral da Ordem, em resolução referente a consultas de diversas Officinas, em relação a respectiva attitude em face do partido integralista, approvou o parecer da Comissão de Justiça seguinte: o integralismo e a maçonaria são instituições que se reppelem ; não deve a maçonaria admittir integralistas em seu seio, o que motiva em considerações que expõe ; os maçons integralistas renegam os principios liberaes maçonicos, prova já dada pelo respectivo procedimento na Italia, em Portugal e na Allemanha ; faz notar que ás Lojas compete deliberar sobre a conveniencia de conservar ou eliminar dos seus quadros os maçons que agem contra os principios maçonicos" . Portugal está aí incluído porque, a partir da Constituição de 1933, o país passava a ser uma república unitária e corporativa, sob a égide de Antônio de Oliveira Salazar, que, em 1928, fora convidado, pelo presidente Oscar Carmona, para ser ministro das Finanças. Não se tem notícia de que tivesse havido exclusão de obreiros dos quadros das Lojas, pois algumas alegaram que não havia integralistas em seu seio, enquanto outras afirmavam que os que existiam em seus quadros haviam deixado o partido, por fidelidade à Maçonaria. Na realidade, porém, muitos dos maçons "camisas verdes", fanatizados pelas idéias integralistas, haviam deixado, espontaneamente, as Lojas e a instituição, passando, inclusive, a combatê-las. Quando ocorreu o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, com a implantação da ditadura férrea do Estado Novo, a Ação Integralista, como todos os demais partidos, foi dissolvida. Todavia, em maio de 1938, os integralistas tentaram um contragolpe, malogrado, com assalto ao Palácio Guanabara, onde residia Getúlio Vargas. Quando da queda do ditador, em 1945, e a reorganização dos partidos, o integralismo voltou sob o nome de Partido de Representação Popular, mas já sem nenhuma expressão e nem repercussão, vindo a desaparecer, posteriormente.

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Referencias bibliográficas http://pt.wikipedia.org/wiki/Benito_Mussolini http://pt.wikipedia.org/wiki/Benito_Ju%C3%A1rez http://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche http://pt.wikipedia.org/wiki/Georges_Sorel http://pt.wikipedia.org/wiki/Fascismo http://pt.wikipedia.org/wiki/Pl%C3%ADnio_Salgado http://www.renato.burity.com.br/t-amaconariabrasileira.htm