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DIGA S MULHERES QUE A GENTE J VAI

RAYMOND CARVER

(1938-1988 - Estados Unidos)

Bill Jamison sempre se deu muito bem com JerryRoberts. Os dois cresceram na zona sul, perto do velhoparque de exposies, freqentaram juntos o primeiro eo segundo graus no colgio, e depois tambm naEisenhower, onde sempre que possvel escolhiam os

mesmos professores, usavam as camisas, os suteres eas calas surradas um do outro, namoravam epaqueravam as mesmas garotas - na verdade, qualqueruma que aparecesse pela frente.

Nos veres trabalhavam juntos - podando ospessegueiros, colhendo cerejas, amarrando feixes de

lpulo, qualquer coisa que pudessem fazer para ganharum dinheirinho e no tivesse um chefe por pertoenchendo o saco. E ento compraram um carro juntos.No vero anterior ao seu ltimo ano, juntaram odinheiro que tinham e compraram um Plymouth 54,vermelho, por 325 dlares.

Dividiram o carro. Deu certo.

Mas Jerry se casou antes do final do primeiro

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semestre e abandonou a faculdade para trabalhar asrio na Loja Robby.

Quanto a Bill, ele tambm tinha namorado a moa.Ela se chamava Carol e se dava muito bem com Jerry, eBill ia visit-los sempre que podia. Ter amigos casadosfazia com que se sentisse mais velho. Ia l almoar ou

jantar, e ouviam discos de Elvis ou de Bill Haley e seusCometas.

Mas s vezes Carol e Jerry comeavam a se agarrarcom Bill ainda l, e ele tinha que se levantar, pedirdesculpas e sair para dar uma chegada no posto degasolina Derzon e tomar uma Coca-Cola, porque shavia uma cama no apartamento, uma cama embutidaque descia da parede da sala de estar. Ou ento svezes Carol e Jerry iam juntos para o banheiro, e Bill

tinha que ir para a cozinha e fingir que estavainteressado no guarda-louas e na geladeira e tentavano ouvir nada.

Assim ele foi parando de ir l com a mesmafreqncia; e em junho se formou, arrumou umemprego na fbrica Darigold e alistou-se na Guarda

Nacional. Em um ano, Bill seguiu pelo mesmo caminhode seus amigos, e estava de namoro firme com Linda.Desse modo, Bill e Linda iam visitar Jerry e Carol,tomavam cerveja e ouviam discos.

Carol e Linda se davam bem, e Bill ficou orgulhosoquando Carol lhe disse, de modo confidencial, que Lindaera "uma pessoa fora do comum.

Jerry tambm gostava de Linda. - Ela tima - dizia

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Jerry.

Quando Bill e Linda se casaram, Jerry foi opadrinho. A recepo, claro, foi no Hotel Donnelly,Jerry e Bill fizeram palhaadas juntos, danando debraos dados, bebendo copos de ponche reforado comlcool. Mas uma vez, no meio de toda essa felicidade,Bill olhou para Jerry e pensou como Jerry parecia velho,bem mais velho do que vinte e um anos. Mas Jerry j

tinha tido dois filhos, havia sido promovido para auxiliarde gerente, e Carol j tinha mais um filho no forno.

Eles se encontravam todo sbado e domingo, svezes com um intervalo menor, se houvesse um feriado.Caso o tempo estivesse bom, iam at a casa de Jerryfazer cachorros-quentes na churrasqueira e deixar ascrianas brincando na piscina de encher que Jerry tinha

comprado quase de graa, como tantas coisas quecomprava na loja onde trabalhava.

Jerry tinha uma boa casa. Ficava no alto de ummorro que dava para o Naches.

Havia outras casas nas redondezas, mas noficavam coladas. Jerry estava bem de vida. Quando Bill,

Linda, Jerry e Carol se encontravam, era sempre nacasa de Jerry porque l tinha a churrasqueira, os discose muitas crianas fazendo baguna.

Era um domingo, na casa de Jerry, quandoaconteceu.

As mulheres estavam na cozinha pondo as coisas

em ordem. As garotas de Jerry estavam no quintal,brincando na piscina com uma bola de plstico,

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gritando, e espirrando gua para os lados.

Jerry e Bill estavam sentados nas cadeirasreclinveis no ptio, tomando cerveja e relaxando.

Era Bill quem falava mais - coisas sobre pessoasque tinham conhecido, sobre Darigold, sobre o PontiacCatalina de quatro portas que estava pensando emcomprar.

Jerry estava olhando para a corda de secar roupa,

ou para o cup Chevy 68 que estava na garagem. Billpensava em como Jerry andava pensativo, no jeito queficava olhando muito tempo para as coisas e quase semdizer nada.

Bill se virou na cadeira e acendeu um cigarro.

- Alguma coisa errada? - perguntou. - Quero dizer,

voc entende, no ? Jerry terminou sua cerveja edepois amassou a lata. Encolheu os ombros. - Sabecomo - disse.

Bill fez que sim com a cabea. Ento Jerry falou:

- Que tal a gente dar uma volta?

- Para mim, est timo - respondeu Bill. - Vouavisar s mulheres que a gente vai dar uma sada.

Seguiram a estrada do rio Naches at Gleed, Jerryia dirigindo. O dia estava ensolarado e quente, e ovento corria por dentro do carro.

- Para onde a gente vai? - perguntou Bill.

- Vamos jogar uma sinuca.

- Por mim, tudo bem - disse Bill. Sentia-se muito

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melhor assim, vendo Jerry mais alegre.

- Um homem precisa dar umas sadas de vez emquando - comentou Jerry. Olhou para Bill. - Vocentende o que estou dizendo, no ?

Bill entendia. Gostava de sair com os colegas dafbrica na sexta-feira noite para jogar boliche.Gostava de ir duas vezes por semana, depois dotrabalho, tomar umas cervejas com Jack Sroderick.

Sabia que um homem precisa dar umas sadas de vezem quando.

- Ainda estamos na ativa - disse Jerry, quando ocarro rodou sobre o cascalho, em frente ao Rec Center.

Entraram. Bill segurando a porta para Jerry, Jerrydando um soco de leve na barriga de Bill, quando

passou por ele. - Ei!Era Riley.

- Ei, como que vo vocs?

Era Riley vindo de trs do balco, sorrindo. Era umsujeito pesado. Vestia uma camisa havaiana de mangacurta, solta, por fora da cala jeans. Riley falou:

- E a, o que que vocs contam?- Ah, chega de conversa e v se arranja para a

gente dois copos bem cheios - disse Jerry, piscando oolho para Bill. - E a, como que voc vai, Riley?

- Mas e vocs, o que que contam, hem? -perguntou Riley. - Onde que se meteram? Ser que

esto preparando mais uma cria? A ltima vez que vivoc, Jerry, sua esposa estava grvida de seis meses.

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Jerry ficou parado um instante e piscou os olhos. - Eas nossas bebidas, vm ou no vm? Ocuparam bancos

perto da janela. Jerry disse:- Que tipo de lugar este, Riley, que no tem uma

s garota numa tarde de domingo?

Riley riu. E disse:

- Acho que esto todas na igreja rezando para virlogo para c.

Cada um tomou cinco latas de cerveja, e levaramduas horas para terminarem duas partidas de bilhar eduas de sinuca, Riley sentado num banco, vendo os dois

jogarem, Bill sempre olhando para o relgio e depoisolhando para Jerry.

Bill disse:

- E ento, o que voc acha, Jerry? Quer dizer, o quevoc acha, hem?

Jerry esvaziou sua lata, amassou-a, depois ficou dep um tempo, virando a lata na mo.

De volta estrada, Jerry acelerou - pequenasarrancadas de cento e vinte e cento e trinta quilmetrospor hora. Tinham acabado de ultrapassar umacaminhonete cheia de moblia quando viram as duasgarotas.

- Olhe s! - disse Jerry, reduzindo. - Eu at quepodia pegar uma delas.

Jerry avanou por mais dois quilmetros e depois

encostou ao lado da estrada. - Vamos voltar - propsJerry. - Vamos fazer uma tentativa.

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- Meu Deus - exclamou Bill. - No sei.

- Eu at que podia pegar uma delas.

- sim - respondeu Bill. - Mas eu no sei.

- Ah, meu Deus - exclamou Jerry.

Bill olhou seu relgio e depois deu uma olhada emvolta. Respondeu: - Voc fala com elas. Eu estouenferrujado.

Jerry soltou um urro enquanto fazia o carro dar avolta na estrada.

Reduziu a velocidade quando passou ao lado dasgarotas. Ps o Chevy atravessado no acostamento daestrada. As garotas passaram direto nas suas bicicletas,mas olharam uma para a outra e riram. A que ia pordentro era morena e esguia. A outra tinha cabelo claroe era mais baixa. As duas usavam calo e blusas quedeixavam as costas de fora.

- Piranhas - resmungou Jerry. Esperou que os carrospassassem para que pudesse fazer a curva em U.

- Vou pegar a moreninha - disse ele. - A mida ficapara voc.

Bill se remexeu no banco e tocou os dedos na hastedos culos escuros. - Elas no vo querer nada com agente.

- Elas agora vo ficar a do seu lado da janela -disse Jerry.

Deu a volta para o lado da estrada e foi em frente.- Prepare-se - disse Jerry.

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- Oi - falou Bill, quando as garotas passaram debicicleta. - Meu nome Bill.

- Bonito nome - disse a morena.- Para onde vocs esto indo? - Bill perguntou .

As garotas no responderam. A menor deu umarisadinha. Continuaram a pedalar, e Jerry continuou adirigir o carro para adiante.

- Ah, deixem disso, para onde esto indo? - insistiuBill.

- Lugar nenhum - respondeu a menor.

- Onde fica lugar nenhum? - brincou Bill.

- Voc no ia gostar de saber - respondeu a menor.

- Eu disse o meu nome. Qual o nome de vocs?

Meu amigo se chama Jerry.As garotas olharam uma para a outra e riram.

Um carro veio por trs. O motorista tocou a buzina.- Passa por cima! - gritou Jerry.

Encostou um pouco o carro e deixou o outro passar.Depois voltou para o lado das garotas. Bill falou:

- A gente vai dar uma carona para vocs. Vamoslevar vocs aonde quiserem ir. uma promessa. Devemestar cansadas de pedalar essas bicicletas. Parecemcansadas. Exercicio demais no bom para a sade.Sobretudo para moas.

As garotas riram.

- Est vendo? - disse Bill. - Agora digam para a

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gente como vocs se chamam.

- Eu sou Barbara, ela Sharon - respondeu amenor.

- Muito bem! - festejou Jerry. - Agora descubra paraonde esto indo.

- E aonde esto indo vocs duas? Hem, Barb ? -perguntou Bill.

Ela riu.- Lugar nenhum - respondeu. - Estamos s andandopela estrada.

- Andando para onde?

- Voc quer contar a eles? - ela perguntou outragarota.

- Para mim tanto faz - a outra respondeu. - No fazdiferena alguma. Eu no vou mesmo com ningumpara lugar nenhum - disse a moa chamada Sharon. -Aonde esto indo? - perguntou Bill. - Vo para PictureRock?

As garotas riram.

- para l que esto indo, sim - disse Jerry.Acelerou o Chevy e foi parar mais frente, no

acostamento, de tal modo que as garotas tinham quepassar pela janela do seu lado.

- No sejam assim - disse Jerry. - Vamos l. Jfomos apresentados. As garotas apenas passaram

pedalando.- No vou morder vocs! - gritou Jerry.

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A morena olhou para trs. Jerry achou que elaestava olhando do jeito certo. Mas com essas garotas

nunca d para saber direito.Jerry disparou de volta para estrada, poeira e

pedrinhas voando debaixo dos pneus. - A gente se v! -acenou Bill quando passaram correndo por elas.

- Est no papo - disse Jerry. - Viu o jeito da sem-vergonha olhar para mim?

- No sei - respondeu Bill. - Talvez a gente devesseir logo para casa.

- A gente j fez a cama, agora s deitar! - disseJerry.

Encostou o carro ao lado da estrada, sob algumasrvores. A estrada principal ali em Picture Rock se

bifurcava, uma estrada seguia para Yakima, a outrapara Naches, Enumclaw, Chinook Pass, Seattle.

A noventa metros da estrada havia uma pedreiraalta, escarpada, preta, que fazia parte de uma serrabaixa, esburacada por trilhas e pequenas cavernas, compinturas indgenas aqui e ali nas paredes das cavernas.

A face escarpada da pedreira dava para a estrada e emtoda sua superfcie se viam coisas como: NACHES 67 -FERAS DE GLEED JESUS SALVA - SELVAGENS DEYAKIMA - ARREPENDAM-SE HOJE.

Ficaram sentados no carro, fumando cigarros.Vieram uns mosquitos e tentaram picar suas mos.

- Quem dera a gente tivesse uma cervejinha agora -disse Jerry. - Dava tudo por uma cerveja.

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- Eu tambm - disse Bill, e olhou para o relgio.

Quando avistaram as garotas, Jerry e Bill saram docarro. Recostaram-se no pra-choque da frente.

- Lembre-se - disse Jerry, afastando-se do carro -, amorena minha. Voc fica com a outra.

As garotas saltaram das bicicletas e seguiram poruma das trilhas. Sumiram por trs de uma curva ereapareceram, um pouco mais acima. Ficaram ali de p,

olhando para baixo.- Por que vocs esto seguindo a gente? - gritou a

morena. Jerry seguiu pela mesma trilha.

As garotas deram a volta e sumiram de novo,correndo.

Jerry e Bill continuaram a subir em passos normais.Bill fumava um cigarro, parando toda hora para daruma boa tragada. Quando o caminho fez uma curva, eleolhou para trs e viu o carro l embaixo.

- Vamos! - disse Jerry.

- Estou indo - respondeu Bill.

Continuaram a subir. Mas depois Bill teve que tomarflego. Agora j no podia ver o carro. Tambm nodava para ver a estrada. Do lado esquerdo e para baixo,podia ver um trecho do rio Naches como uma folha dealumnio.

- Voc vai para a direita e eu vou em frente - disseJerry. - Vamos cortar o caminho das duas piranha-

zinhas.

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Bill fez que sim com a cabea. Estava to semflego que no dava para falar. Subiu um pouco mais e

depois o caminho comeou a descer, virando na direodo vale. Ele olhou e viu as garotas. Viu que estavam deccoras atrs de um mato. Talvez estivessem sorrindo.

Bill pegou um cigarro. Mas no conseguiu acender.Em seguida Jerry apareceu.

Agora o cigarro no tinha mais importncia.

Bill s queria dar uma trepada. Ou pelo menos veras garotas nuas. Por outro lado, estaria tudo bem seno desse certo.

Ele nunca ficou sabendo o que Jerry queria. Mascomeou e terminou com uma pedra. Jerry usou amesma pedra em ambas as garotas, primeiro na que se

chamava Sharon, e depois na outra, que era para ser ado Bill.

Traduo de Rubens Figueiredo