7 QUINTA-FEIRA

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SUPER ESPORTES ESTADO DE MINAS Q U I N T A - F E I R A , 4 D E A B R I L D E 2 0 1 3 4 RUMO À PRIMEIRA MORTE REPORTAGEM ESPECIAL arginha – Tricampeão brasileiro por Santos (2002 e 2004) e Fluminense (2010), André Luís chegou ao Boa no mês passado com o objetivo de reconstruir a carreira e pôr a ca- beça no lugar. Aos 33 anos, o zagueiro esta- va desempregado havia seis meses, tempo suficiente para repensar a profissão. “Fiquei procurando trabalho. Meu empresário ten- tou me empregar em vários times, mas es- tava difícil. Fiquei esse tempo todo sem jo- gar. Bate a preocupação, pois todo jogador quer estar na ativa”, conta o jogador, em mais um capítulo da série de reportagens sobre jogadores perto da aposentadoria. A carreira do defensor de 1,92m ficou marcada mais pelas polêmicas do que pe- los títulos. Em 2008, defendendo o Botafo- go, teve decretada voz de prisão depois de ser expulso contra o Náutico, nos Aflitos. Ele havia sido expulso e, inconformado, chutou uma garrafa em direção à arquiban- cada, acertando uma torcedora. Perseguido por policiais, foi detido por desacato. Em no- vembro do mesmo ano, tirou o cartão ama- relo da mão do árbitro Carlos Chandía ao ser expulso contra o Estudiantes, pela Copa Sul- Americana. “Hoje sou um cara mais tran- quilo. Aprendi muito com as duas passa- gens. Penso que não fiz nada de errado. A única coisa é que chutei a garrafa na tela e ela acertou a torcida. No Rio, fui apartar a briga com o Carlos Alberto e o juiz veio me expulsando. Fiquei nervoso, mas exagerei. Entendo que exagerei. No futebol, se não tem a cabeça no lugar, você só se prejudica.” VOLTAR À ELITE O gaúcho nunca havia ou- vido falar de Varginha. Segundo ele, parece um pouco Bagé, a cidade natal. Conhece pouco do Boa, apesar de ter jogado com o atual técnico, Sidney Moraes, no Fluminen- se, e com Marcelinho Paraíba no São Paulo. “Cidade tranquila, não tem zoeira, não tem festa. Bom para trabalhar. Gosto de sair. Sou solteiro, não vou esconder, saio bastan- te. Sou um cara que não bebe muito, bebo pouco. Mas, quando estou em atividade, procuro me cuidar melhor”, garante. Fora de campo, apesar de já ter passado dos 30, André Luís não se dedica a outra ati- vidade. “Até agora, não trabalhei com nada. Estou bem tranquilo, não tenho com o que me preocupar. A gente sabe que depois que o jogador para é difícil, mas nunca me preo- cupei. Por enquanto, não tenho nenhum projeto. Vamos ver... Quem sabe, de repen- te, eu vire um treinador?” ‘VIVEU A VIDA INTENSAMENTE’ ANDRÉ LUÍS ANDRÉ LUÍS GARCIA 33 ANOS Nascimento: 31/7/1979, em Bagé-RS Altura e peso: 1,92m e 88kg Posição: zagueiro Clubes: Santos, Fluminense, Benfica, Olympique de Marselha (FRA), Cruzeiro, Botafogo, Barueri, São Paulo, Fluminense, Portuguesa e Boa RENAN DAMASCENO Enviado especial LORRANE MELO Brasília – Ainda não tem da- ta exata. Mas é certo que será es- te ano. O local também não foi confirmado. É comum saber pouca coisa sobre o fim. Ele quer os pais por lá, assim como os três filhos – segurando-os nas mãos – e os amigos que o ajuda- ram durante os 23 anos de fute- bol. Vai que o acaso o proteja en- quanto andar distraído. Por isso, Dimba não planeja muito. É que, ao decidir se aposentar há sete anos, quando defendia o São Caetano, desistiu antes mes- mo de entrar em campo. Uma frase lhe martelou a cabeça: “Foi o futebol quem me deu tudo”. Talvez por isso, aos 39 anos, ele se emocione tanto ao falar sobre o fim da carreira. Desta vez será para valer, mesmo jurando estar em dia com a forma física e balançando as redes. O segundo maior arti- lheiro brasileiro em atividade também não buscará o milési- mo gol. Dimba só quer mais um título. Desde que adiou a apo- sentadoria, está mais leve, mais simples. Joga por prazer, como gosta de dizer. “Eu me divirto, sem a preocupação de vencer sempre. Não tem mais um peso na hora de entrar em campo.” Afinal, “já deu tudo certo”. O que o preocupa são todas as coisas de que abdicou pelo esporte. Victor Hugo (de 16 anos), Diam (7) e Enzo (3) encabeçam a lista. Dimba não pôde ser como ou- tros paizões. Não tem fim de se- mana nem sempre está em casa à noite para ajudar nas lições. Mas já ensinou muito aos garo- tos, principalmente em matéria de matemática financeira. Tudo que o futebol lhe deu foi revertido em mais lucro – para não precisar comer a gra- ma do Maracanã de novo, como fez em 1997 ao comemorar o gol do título carioca do Botafo- go em cima do Vasco. Guar- dou, aplicou, investiu na cons- trução civil, em uma produto- ra, e se abriu ao mercado que- rendo realizar sonhos – já que o dele virou realidade. “Procu- ro novas ideias. Se você chegar em mim e disser que quer fa- zer um negócio, vou estudar e tentar ajudá-lo”, explica, dando um prazo curto para resolver as pendências nessa área. É que, depois de parar, Dimba tem outro plano. “Realizado”, agora quer ser normal. “Viveu a vida intensamente” será seu epitáfio, como na música dos Titãs: a cada um cabem ale- grias. E a tristeza que vier. V FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS DIMBA EDITÁCIO VIEIRA DE ANDRADE, 39 ANOS Nascimento: 30/12/1973, em Sobradinho-DF Altura e peso: 1,74m e 75kg Posição: atacante Clubes: Sobradinho, Brasília, Gama, Botafogo, América, Portuguesa, Bahia, Leça (POR), Goiás, Al Ittihad (ARA), Flamengo, São Caetano, Brasiliense, Legião-DF e Ceilândia-DF GUSTAVO MORENO/CB/D.A PRESS ‘NÃO TENHO PROJETO’ AMANHÃ: ALOÍSIO CHULAPA, ATACANTE, SÓ NÃO QUER DECEPCIONAR A MÃE

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SUPERESPORTES

E S T A D O D E M I N A S ● Q U I N T A - F E I R A , 4 D E A B R I L D E 2 0 1 3

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

arginha – Tricampeão brasileiro por Santos(2002 e 2004) e Fluminense (2010), AndréLuís chegou ao Boa no mês passado com oobjetivo de reconstruir a carreira e pôr a ca-beça no lugar. Aos 33 anos, o zagueiro esta-va desempregado havia seis meses, temposuficiente para repensar a profissão. “Fiqueiprocurando trabalho. Meu empresário ten-tou me empregar em vários times, mas es-tava difícil. Fiquei esse tempo todo sem jo-gar. Bate a preocupação, pois todo jogadorquer estar na ativa”, conta o jogador, emmais um capítulo da série de reportagenssobre jogadores perto da aposentadoria.

A carreira do defensor de 1,92m ficoumarcada mais pelas polêmicas do que pe-los títulos. Em 2008, defendendo o Botafo-go, teve decretada voz de prisão depois deser expulso contra o Náutico, nos Aflitos.

Ele havia sido expulso e, inconformado,chutou uma garrafa em direção à arquiban-cada, acertando uma torcedora. Perseguidopor policiais, foi detido por desacato. Em no-vembro do mesmo ano, tirou o cartão ama-relo da mão do árbitro Carlos Chandía ao serexpulso contra o Estudiantes, pela Copa Sul-Americana. “Hoje sou um cara mais tran-quilo. Aprendi muito com as duas passa-gens. Penso que não fiz nada de errado. Aúnica coisa é que chutei a garrafa na tela eela acertou a torcida. No Rio, fui apartar abriga com o Carlos Alberto e o juiz veio meexpulsando. Fiquei nervoso, mas exagerei.Entendo que exagerei. No futebol, se nãotem a cabeça no lugar, você só se prejudica.”

VOLTAR À ELITE O gaúcho nunca havia ou-vido falar de Varginha. Segundo ele, parece

um pouco Bagé, a cidade natal. Conhecepouco do Boa, apesar de ter jogado com oatual técnico, Sidney Moraes, no Fluminen-se, e com Marcelinho Paraíba no São Paulo.“Cidade tranquila, não tem zoeira, não temfesta. Bom para trabalhar. Gosto de sair.Sou solteiro, não vou esconder, saio bastan-te. Sou um cara que não bebe muito, bebopouco. Mas, quando estou em atividade,procuro me cuidar melhor”, garante.

Fora de campo, apesar de já ter passadodos 30, André Luís não se dedica a outra ati-vidade. “Até agora, não trabalhei com nada.Estou bem tranquilo, não tenho com o queme preocupar. A gente sabe que depois queo jogador para é difícil, mas nunca me preo-cupei. Por enquanto, não tenho nenhumprojeto. Vamos ver... Quem sabe, de repen-te, eu vire um treinador?”

‘VIVEU A VIDAINTENSAMENTE’

ANDRÉ LUÍSANDRÉ LUÍS GARCIA

33 ANOS

●● Nascimento: 31/7/1979, em Bagé-RS ●● Altura e peso: 1,92m e 88kg ●● Posição: zagueiro●● Clubes: Santos, Fluminense, Benfica, Olympique de Marselha (FRA), Cruzeiro, Botafogo,

Barueri, São Paulo, Fluminense, Portuguesa e Boa

RENAN DAMASCENO

Enviado especial

LORRANE MELO

Brasília – Ainda não tem da-ta exata. Mas é certo que será es-te ano. O local também não foiconfirmado. É comum saberpouca coisa sobre o fim. Ele queros pais por lá, assim como ostrês filhos – segurando-os nasmãos – e os amigos que o ajuda-ram durante os 23 anos de fute-bol. Vai que o acaso o proteja en-quanto andar distraído. Por isso,Dimba não planeja muito. Éque, ao decidir se aposentar hásete anos, quando defendia o

São Caetano, desistiu antes mes-mo de entrar em campo. Umafrase lhe martelou a cabeça: “Foio futebol quem me deu tudo”.Talvez por isso, aos 39 anos, elese emocione tanto ao falar sobreo fim da carreira.

Desta vez será para valer,mesmo jurando estar em diacom a forma física e balançandoas redes. O segundo maior arti-lheiro brasileiro em atividadetambém não buscará o milési-mo gol. Dimba só quer mais umtítulo. Desde que adiou a apo-sentadoria, está mais leve, mais

simples. Joga por prazer, comogosta de dizer. “Eu me divirto,sem a preocupação de vencersempre. Não tem mais um pesona hora de entrar em campo.”Afinal, “já deu tudo certo”. O queo preocupa são todas as coisasde que abdicou pelo esporte.Victor Hugo (de 16 anos), Diam(7) e Enzo (3) encabeçam a lista.Dimba não pôde ser como ou-tros paizões. Não tem fim de se-mana nem sempre está em casaà noite para ajudar nas lições.Mas já ensinou muito aos garo-tos, principalmente em matériade matemática financeira.

Tudo que o futebol lhe deufoi revertido em mais lucro –para não precisar comer a gra-ma do Maracanã de novo, como

fez em 1997 ao comemorar ogol do título carioca do Botafo-go em cima do Vasco. Guar-dou, aplicou, investiu na cons-trução civil, em uma produto-ra, e se abriu ao mercado que-rendo realizar sonhos – já queo dele virou realidade. “Procu-ro novas ideias. Se você chegarem mim e disser que quer fa-zer um negócio, vou estudar etentar ajudá-lo”, explica, dandoum prazo curto para resolveras pendências nessa área. Éque, depois de parar, Dimbatem outro plano. “Realizado”,agora quer ser normal. “Viveua vida intensamente” será seuepitáfio, como na música dosTitãs: a cada um cabem ale-grias. E a tristeza que vier.

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FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

DIMBAEDITÁCIO VIEIRA DE ANDRADE, 39 ANOS● Nascimento: 30/12/1973, em Sobradinho-DF● Altura e peso: 1,74m e 75kg ● Posição: atacante● Clubes: Sobradinho, Brasília, Gama, Botafogo, América,Portuguesa, Bahia, Leça (POR), Goiás, Al Ittihad (ARA),Flamengo, São Caetano, Brasiliense, Legião-DF e Ceilândia-DF

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‘NÃO TENHO PROJETO’

AMANHÃ: ALOÍSIO CHULAPA, ATACANTE,SÓ NÃO QUER DECEPCIONAR A MÃE