6_perfil biográfico cruzeiro seixas março 2010
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Biografia
Em 1920, na Amadora, nasce Artur Manuel
Rodrigues do Cruzeiro Seixas que afirma não ser um pintor
mas um “homem que pinta”. Pintor, escultor, ilustrador,
poeta que adora dizer poemas “de cor”, é um dos maiores
vultos do surrealismo português.
Estuda na Escola de Arte António Arroio,
onde conhece Mário Cesariny, Júlio Pomar, Marcelino
Vespeira e Fernando Azevedo, entre outros. Depois de
um curto período expressionista-neo-realista, liga-se
definitivamente ao surrealismo, integrando o grupo “Os
Surrealistas”, liderado por Mário Cesariny. Organiza e
participa nas duas exposições colectivas do grupo em
Lisboa, em 1949 e 1950, onde também escreve
manifestos e participa em conferências.
Na década de 50, alista-se na Marinha
Mercante, viaja até à Índia e Extremo Oriente,
acabando por se fixar, por mais de uma década, em
Angola, onde contacta com a arte dita “primitiva”,
tornando-se coleccionador de variados objectos
etnográficos. Em 1953, em Luanda, realiza a sua
primeira exposição individual, 48 desenhos
subordinados à evocação de Aimé Cesaire¹, que foi alvo
de grande controvérsia e escândalo.
Em 1960, começa a trabalhar no Museu
de Angola, onde organiza exposições em moldes
____________________________
¹ Poeta e político francês da Martinica, foi, juntamente com o Presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, o ideólogo do conceito de negritude e a sua obra é marcada pela defesa das suas raízes africanas contra o colonialismo.
absolutamente novos no país e põe a funcionar um
salão de pintura permanente. Data desse tempo o início
da sua produção poética, a par do desenho, da pintura e
das colagens, dotando a sua obra de uma intensa
literariedade e simbolismo.
Em 1964, com o crescendo da Guerra
Colonial, regressa a Portugal onde participa em
inúmeras exposições e se torna consultor artístico/
programador da Galeria de S. Mamede, tendo
organizado exposições com grandes nomes da pintura e
contribuído para a promoção de artistas emergentes,
como Raul Perez e Mário Botas.
Em 1969, participa na XII Exposição
Surrealista de S. Paulo (Brasil), inaugura com Mário
Cesariny a Exposição Pintura Surrealista, na Galeria
Divulgação (Porto) e integra a Exposição Internacional
Surrealista, organizada por Laurens Vancrevel
(Holanda). Ainda neste ano, é organizada a primeira
retrospectiva de Cruzeiro Seixas na Galeria Buchholz
(Lisboa).
Em 1970, edita com Cesariny “Reimpressos Cinco
Textos Surrealistas em Portugal”, “Aforismos de Teixeira de
Pascoaes” e “Contribuição ao registo de nascimento, existência e
extinção do Grupo Surrealista Português”, entre outros
escritos.
Ainda na década de 70 participa em inúmeras
exposições colectivas do movimento surrealista
internacional, sobretudo ligadas ao Grupo Phases
(liderado pelo poeta e ensaísta Édouard Jaguer), ao qual
tinha aderido.
Destacam-se nesta década as seguintes
exposições: “Maias para o 25 de Abril ”, que pretendia
mostrar as obras proibidas pelo fascismo (1974),
exposição de Cadavres-Exquis e pinturas colectivas por
ocasião dos 50 anos do Surrealismo (Galeria Ottolini,
1975), exposição de homenagem a Conroy Maddox-
Surrealism Unlimited (Londres, 1978) e “Presencia viva de
Wolfgang Paalen ”, (México, 1979).
Na década de oitenta dá continuidade ao
trabalho de programador nas galerias da Junta de
Turismo da Costa do Sol e Vilamoura e ganha o
Prémio de Artista do Ano (1989), instituído pelo
Centro de Arte SOCTIP, com a exposição individual
“Desaforismos”, na Galeria Soctip.
Em 1999 doa a totalidade da sua colecção à
Fundação Cupertino de Miranda (Vila Nova de
Famalicão), com o intuito de constituir um Centro de
Estudos e um Museu do Surrealismo, instituição que,
no ano seguinte e, homenageando os 80 anos do artista,
organiza uma retrospectiva da sua obra.
Em 2001 expõe com Eugénio Granell, na
Galeria Sacramento (Aveiro). Nesse mesmo ano, a
Fundação Eugénio Granell (Santiago de Compostela)
organiza uma grande exposição retrospectiva de
Cruzeiro Seixas e lança o livro biográfico “Cruzeiro
Seixas”.
Em 2005 são expostos 60 trabalhos de
Cruzeiro Seixas em Santo Tirso, numa iniciativa “A
Poesia está na Rua”, onde o artista apresentou ainda o
terceiro volume da sua Obra Poética. Em Outubro desse
ano, esteve patente na Livraria Alfarrabista Miguel de
Carvalho (Coimbra) a exposição “Naufrágio de
Ilustraletrações” onde foram expostos trabalhos de
Cruzeiro Seixas, bem como uma série de cartas escritas
por este autor a diversas personalidades europeias.
Artista versátil explorou as inúmeras vertentes
do surrealismo, destacando-se ainda como ilustrador,
nas revistas surrealistas Brumes Blondes (Holandesa);
Phases (Francesa) e Lá Turtue-Lièvre (Canadiana).
Ainda nesta área, destacam-se as suas ilustrações em
parceria com Cesariny e o trabalho que realizou para a
Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (dos
Cancioneiros Medievais à Actualidade), de Natália
Correia que originou um processo por “abuso de
liberdade de imprensa”. A sua veia artística estende-se
ainda à execução de cenários para as companhias de
bailado nacionais.
A sua obra pictórica encontra-se espalhada por
diversos museus e centros de arte em Portugal e na
Galiza.. Actualmente vive e trabalha em Lisboa.
Sites consultados
http://www.perve.org.pt/Surrealistas/CruzeiroSeixas_Biografia.html http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt/p_mundo/index.asp?op=5&p=104
Gaiola em madeira e búzio Título: “O Mar Português”(1952)
Técnica mista s/ papel, 1981
Mão, 1960
escultura
[F 16 – Março de 2010]
«As aparências são uma doença contagiosa que devora toda a luz.»