6 PESQUISA RIO DE JANEIRO SEGUNDA-FEIRA 3 DE OUTUBRO DE...

1
CYAN MAGENTA AMARELO PRETO CMYK pág-06 v1 6 PESQUISA RIO DE JANEIRO SEGUNDA-FEIRA 3 DE OUTUBRO DE 2005 Rio e o Pan 2007 MARINA LEMLE C om o lobby do presidente dos Estados Unidos, a cidade de San Antonio, no Texas, figurava como favorita na dis- puta para sediar os Jogos Pan-Ameri- canos de 2007. À cidade faltava, entretanto, um laboratório para controle de doping - as amos- tras teriam que ser enviadas a Los Angeles pa- ra análise. A falta texana foi vantagem decisiva para o Rio de Janeiro: fica logo ali, no Instituto de Química (IQ) da UFRJ, na Ilha do Fundão, o primeiro laboratório para o controle de dopa- gem no esporte credenciado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) na América Lati- na e Caribe, há exatos três anos. O Laboratório de Controle de Dopagem (Labdop), hoje também credenciado pela Agência Mundial Antidopagem (World Anti-do- ping Agency, WADA), é o braço com vocação pa- ra a análise de materiais biológicos do Labora- tório de Apoio ao desenvolvimento Tecnológi- co (Ladetec) do Instituto de Química da UFRJ. O Labdop já firmou compromisso com a orga- nização do Pan 2007 de fazer o controle de do- pagem dos atletas que participarão das provas. À frente do Ladetec, cuja estrutura reúne, além do Labdop, outros cinco laboratórios quí- micos especializados do IQ-UFRJ, está o pro- fessor Francisco Radler de Aquino Neto. O pesquisador é apoiado pela Faperj através do programa Cientista do Nosso Estado desde 1998. Seu projeto “Química: da Academia para a Sociedade” tem como objetivo contribuir pa- ra que o conhecimento atual da química possa beneficiar a sociedade, em particular a brasi- leira. Segundo o diretor-presidente da Faperj, Pedricto Rocha Filho, o laboratório é um exemplo da forte vocação que o Rio de Janeiro tem para o esporte. “Essa vocação motiva o apoio a outros projetos na área como o Insti- tuto Virtual do Esporte, mantido pela funda- ção”, disse Rocha Filho. Para ele, o incentivo da Faperj ao laboratório comandado por Ra- dler faz parte de uma visão estratégica. “O in- tuito é contribuir para o fortalecimento e o de- senvolvimento da economia fluminense, que será beneficiada com a realização do Pan 2007”, observou. O Ladetec utiliza tecnologias avançadas pa- ra fazer análises de fluidos e tecidos biológi- cos, produtos naturais, amostras ambientais de água, sedimentos e ar, prospecção geoquí- mica de petróleo, química fina, matéria prima, produtos, intermediários e cinética de pro- cessos, controle e tratamento de efluentes, rejeitos e emissões. Com suas análises orgâ- nicas de misturas complexas a partir de matri- zes diversas, os laboratórios associados aten- dem à demanda científica de diversos grupos de pesquisa, além de servir aos setores indus- trial, comercial e de serviços no Brasil e na América Latina. Entre as tecnologias em uso no Ladetec estão a Cromatografia Gasosa de Alta Resolução (CGAR) e suas modalidades de alta temperatura, quiral e acoplamentos à Es- pectrometria de Massas quadrupolar por cap- tura de íons (ITD) e de alta resolução; e a Cro- matografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) e seu acoplamento a Detector de Arranjo de Diodos (DAD) e Espectrometria de Massas em Tandem. Dentre os laboratórios do Ladetec, o Lab- dop vem se destacando pelo importante papel que desempenhará nos jogos de 2007. Em con- vênio com a UFRJ, o Ministério do Esporte es- tá investindo no laboratório. Dez novos equi- pamentos já estão no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, aguardando li- beração. Eles irão substituir equipamentos obsoletos e permitir que análises ainda não realizadas no Brasil sejam implementadas até o Pan 2007, como por exemplo a espectrome- tria de massas por razão isotópica de compos- tos individuais (CG/C/EMRI), a cromatografia gasosa bidimensional compreensiva acoplada a espectrometria de massas de alta resolução por tempo de vôo (CGxCG-TOFMS) e a detec- ção de eritropoietina (EPO). Os serviços são de alto conteúdo tecnológico, já que as frau- des são cada vez mais sofisticadas e inovado- ras, o que exige a contínua pesquisa por parte dos laboratórios de controle envolvidos”, afir- ma Radler. O pesquisador acrescenta que os laborató- rios são um núcleo de desenvolvimento de co- nhecimento em química analítica orgânica avan- çado, com formação de pessoal em todos os ní- veis, e fazem do Estado do Rio de Janeiro um centro de excelência em metodologias atuais de análise química de ponta e prestação de ser- viços ao estado e ao país em áreas de análises químicas. “A qualidade, diversidade e evolução das análises realizadas em função da demanda só se mantêm com base em pesquisas de ponta, o que confere à atividade uma utilidade prática imediata, além de produção científica contínua e referendada pela publicação de resultados em periódicos indexados nacionais e interna- cionais, além de participações com artigos em congressos especializados”, destaca Radler. Laboratório de controle de dopagem da UFRJ foi decisivo para escolha da cidade como sede dos jogos LABORATÓRIO DA UFRJ (acima) credenciado pelo COI vai analisar as amostras dos exames antidoping dos atletas do Pan 2007. O pesquisador Francisco Radler (abaixo) recebeu apoio da Faperj para desenvolver os estudos Estudo indica possíveis jazidas de petróleo DÉBORA THOMÉ Um vulcão existente em Nova Iguaçu, inativo há 72 milhões de anos, poderá ajudar a Petrobras a identificar novas jazidas de pe- tróleo no Estado do Rio de Janei- ro. Uma equipe de pesquisado- res da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), coor- denada pelo geólogo Mauro Ge- raldes, vem realizando estudos a partir do vulcão que podem re- sultar numa importante desco- berta para o setor petrolífero. “Partindo da Baixada Flumi- nense, estamos mapeando pon- tos vulcânicos até Poços de Cal- das, passando por Tinguá, Re- sende, Tanguá, Campos e Morro de São João”, explica o pesquisa- dor. Além do trabalho de campo, com a coleta de rochas em todos esses locais, os pesquisadores passam um bom tempo num la- boratório novinho em folha, na Uerj. “Foram dois anos e meio montando infra-estrutura e equipando o laboratório de data- ção, cujos investimentos já ultra- passam US$ 1 milhão”, revela Geraldes. Os custos foram co- bertos por financiamentos da Fi- nep, do CNPq, da própria Uerj e da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa (Faperj). O projeto recebeu recente- mente da Faperj R$ 35 mil. Com o dinheiro estão sendo adquiridos os últimos equipamentos neces- sários para equipar o laboratório e criar uma rede de pesquisa nos setores de mineração e petró- leo. Um dos primeiros clientes do laboratório é a Petrobras, que já mostrou interesse pelo ma- peamento geológico e pelos es- tudos petrográficos que vêm sendo desenvolvidos por Geral- des e sua equipe. “No laborató- rio, podemos identificar a pre- sença de microorganismos nas rochas, o magmatismo e a matu- ração de petróleo, apontando uma série de características que criam um perfil das áreas favorá- veis para a existência de jazidas.” Mas não é só à exploração mi- neral que o trabalho do laborató- rio interessa. A pesquisa finan- ciada pelo governo do estado tem mais três vertentes. “Além da datação das rochas, que tem um fundo mais acadêmico, e da identificação de maturação de petróleo, nosso trabalho tam- bém tem uma diretriz econômica e outra educacional”, destaca Geraldes. Ele explica que o vul- cão de Nova Iguaçu já vem sendo explorado economicamente pe- las pedreiras localizadas em seu entorno. “De lá, é extraído o tra- quito, uma rocha vulcânica trans- formada em pedra-de-brita, mui- to usada pela construção civil. A Ponte Rio-Niterói foi feita com rochas do vulcão de Nova Iguaçu, que, por não ter quartzo, reduz a zero a reação com componentes do cimento, aumentando a dura- bilidade da construção.” A outra vertente, educacional, resultou no primeiro geoparque brasileiro. Pela sua singularida- de, o vulcão de Nova Iguaçu e seu entorno, uma área de 1.100 hec- tares, aproximadamente, no Ma- ciço do Mendanha, tem um as- pecto educativo muito forte na área de Geologia. Estudantes da graduação e do mestrado estão auxiliando no trabalho de levan- tamento geológico da área e na confecção de placas de identifi- cação das rochas, que estão sen- do afixadas em toda a região. VULCÃO EM NOVA IGUAÇU UMA EQUIPE de pesquisadores da Uerj está realizando estudos no vulcão que podem resultar em importante descoberta para o setor petrolífero

Transcript of 6 PESQUISA RIO DE JANEIRO SEGUNDA-FEIRA 3 DE OUTUBRO DE...

Page 1: 6 PESQUISA RIO DE JANEIRO SEGUNDA-FEIRA 3 DE OUTUBRO DE ...caruso/secti/publicacoes/jornais/ed_2/ed_2_saber6.pdf · de água, sedimentos e ar, prospecção geoquí-mica de petróleo,

CYAN MAGENTA AMARELO PRETO

CMYKppáágg--0066 vv11

6 PESQUISARIO DE JANEIRO SEGUNDA-FEIRA3 DE OUTUBRO

DE 2005

Rio e o Pan 2007MMAARRIINNAA LLEEMMLLEE

Com o lobby do presidente dos EstadosUnidos, a cidade de San Antonio, noTexas, figurava como favorita na dis-puta para sediar os Jogos Pan-Ameri-

canos de 2007. À cidade faltava, entretanto, umlaboratório para controle de doping - as amos-tras teriam que ser enviadas a Los Angeles pa-ra análise. A falta texana foi vantagem decisivapara o Rio de Janeiro: fica logo ali, no Institutode Química (IQ) da UFRJ, na Ilha do Fundão, oprimeiro laboratório para o controle de dopa-gem no esporte credenciado pelo ComitêOlímpico Internacional (COI) na América Lati-na e Caribe, há exatos três anos.

O Laboratório de Controle de Dopagem(Labdop), hoje também credenciado pelaAgência Mundial Antidopagem (World Anti-do-ping Agency, WADA), é o braço com vocação pa-ra a análise de materiais biológicos do Labora-tório de Apoio ao desenvolvimento Tecnológi-co (Ladetec) do Instituto de Química da UFRJ.O Labdop já firmou compromisso com a orga-nização do Pan 2007 de fazer o controle de do-pagem dos atletas que participarão das provas.

À frente do Ladetec, cuja estrutura reúne,além do Labdop, outros cinco laboratórios quí-micos especializados do IQ-UFRJ, está o pro-fessor Francisco Radler de Aquino Neto. Opesquisador é apoiado pela Faperj através doprograma Cientista do Nosso Estado desde1998. Seu projeto “Química: da Academia paraa Sociedade” tem como objetivo contribuir pa-ra que o conhecimento atual da química possabeneficiar a sociedade, em particular a brasi-leira.

Segundo o diretor-presidente da Faperj,Pedricto Rocha Filho, o laboratório é umexemplo da forte vocação que o Rio de Janeirotem para o esporte. “Essa vocação motiva oapoio a outros projetos na área como o Insti-tuto Virtual do Esporte, mantido pela funda-ção”, disse Rocha Filho. Para ele, o incentivoda Faperj ao laboratório comandado por Ra-dler faz parte de uma visão estratégica. “O in-tuito é contribuir para o fortalecimento e o de-senvolvimento da economia fluminense, queserá beneficiada com a realização do Pan2007”, observou.

O Ladetec utiliza tecnologias avançadas pa-ra fazer análises de fluidos e tecidos biológi-cos, produtos naturais, amostras ambientaisde água, sedimentos e ar, prospecção geoquí-mica de petróleo, química fina, matéria prima,produtos, intermediários e cinética de pro-

cessos, controle e tratamento de efluentes,rejeitos e emissões. Com suas análises orgâ-nicas de misturas complexas a partir de matri-zes diversas, os laboratórios associados aten-dem à demanda científica de diversos gruposde pesquisa, além de servir aos setores indus-trial, comercial e de serviços no Brasil e naAmérica Latina. Entre as tecnologias em usono Ladetec estão a Cromatografia Gasosa deAlta Resolução (CGAR) e suas modalidades dealta temperatura, quiral e acoplamentos à Es-pectrometria de Massas quadrupolar por cap-tura de íons (ITD) e de alta resolução; e a Cro-matografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) eseu acoplamento a Detector de Arranjo deDiodos (DAD) e Espectrometria de Massasem Tandem.

Dentre os laboratórios do Ladetec, o Lab-dop vem se destacando pelo importante papelque desempenhará nos jogos de 2007. Em con-vênio com a UFRJ, o Ministério do Esporte es-tá investindo no laboratório. Dez novos equi-pamentos já estão no Aeroporto InternacionalTom Jobim, no Rio de Janeiro, aguardando li-beração. Eles irão substituir equipamentosobsoletos e permitir que análises ainda nãorealizadas no Brasil sejam implementadas atéo Pan 2007, como por exemplo a espectrome-tria de massas por razão isotópica de compos-tos individuais (CG/C/EMRI), a cromatografiagasosa bidimensional compreensiva acopladaa espectrometria de massas de alta resoluçãopor tempo de vôo (CGxCG-TOFMS) e a detec-ção de eritropoietina (EPO). Os serviços sãode alto conteúdo tecnológico, já que as frau-des são cada vez mais sofisticadas e inovado-ras, o que exige a contínua pesquisa por partedos laboratórios de controle envolvidos”, afir-ma Radler.

O pesquisador acrescenta que os laborató-rios são um núcleo de desenvolvimento de co-nhecimento em química analítica orgânica avan-çado, com formação de pessoal em todos os ní-veis, e fazem do Estado do Rio de Janeiro umcentro de excelência em metodologias atuaisde análise química de ponta e prestação de ser-viços ao estado e ao país em áreas de análisesquímicas. “A qualidade, diversidade e evoluçãodas análises realizadas em função da demandasó se mantêm com base em pesquisas de ponta,o que confere à atividade uma utilidade práticaimediata, além de produção científica contínuae referendada pela publicação de resultadosem periódicos indexados nacionais e interna-cionais, além de participações com artigos emcongressos especializados”, destaca Radler.

Laboratório de controle de dopagem da UFRJ foi decisivo para escolha da cidade como sede dos jogos

LLAABBOORRAATTÓÓRRIIOO DDAA UUFFRRJJ (acima) credenciado pelo COI vai analisar as amostras dos exames antidoping dos atletasdo Pan 2007. O pesquisador Francisco Radler (abaixo) recebeu apoio da Faperj para desenvolver os estudos

Estudo indica possíveis jazidas de petróleo DDÉÉBBOORRAA TTHHOOMMÉÉ

Um vulcão existente em NovaIguaçu, inativo há 72 milhões deanos, poderá ajudar a Petrobrasa identificar novas jazidas de pe-tróleo no Estado do Rio de Janei-ro. Uma equipe de pesquisado-res da Universidade do Estadodo Rio de Janeiro (Uerj), coor-denada pelo geólogo Mauro Ge-raldes, vem realizando estudos apartir do vulcão que podem re-sultar numa importante desco-berta para o setor petrolífero.

“Partindo da Baixada Flumi-nense, estamos mapeando pon-tos vulcânicos até Poços de Cal-das, passando por Tinguá, Re-sende, Tanguá, Campos e Morrode São João”, explica o pesquisa-dor.

Além do trabalho de campo,com a coleta de rochas em todosesses locais, os pesquisadorespassam um bom tempo num la-boratório novinho em folha, naUerj. “Foram dois anos e meiomontando infra-estrutura eequipando o laboratório de data-ção, cujos investimentos já ultra-passam US$ 1 milhão”, revelaGeraldes. Os custos foram co-bertos por financiamentos da Fi-nep, do CNPq, da própria Uerj eda Fundação Carlos Chagas Filhode Amparo à Pesquisa (Faperj).

O projeto recebeu recente-mente da Faperj R$ 35 mil. Com o

dinheiro estão sendo adquiridosos últimos equipamentos neces-sários para equipar o laboratórioe criar uma rede de pesquisa nossetores de mineração e petró-leo. Um dos primeiros clientesdo laboratório é a Petrobras, quejá mostrou interesse pelo ma-peamento geológico e pelos es-tudos petrográficos que vêmsendo desenvolvidos por Geral-des e sua equipe. “No laborató-rio, podemos identificar a pre-sença de microorganismos nasrochas, o magmatismo e a matu-ração de petróleo, apontandouma série de características quecriam um perfil das áreas favorá-veis para a existência de jazidas.”

Mas não é só à exploração mi-neral que o trabalho do laborató-rio interessa. A pesquisa finan-ciada pelo governo do estadotem mais três vertentes. “Alémda datação das rochas, que temum fundo mais acadêmico, e daidentificação de maturação depetróleo, nosso trabalho tam-bém tem uma diretriz econômicae outra educacional”, destacaGeraldes. Ele explica que o vul-cão de Nova Iguaçu já vem sendoexplorado economicamente pe-las pedreiras localizadas em seuentorno. “De lá, é extraído o tra-quito, uma rocha vulcânica trans-formada em pedra-de-brita, mui-to usada pela construção civil. APonte Rio-Niterói foi feita com

rochas do vulcão de Nova Iguaçu,que, por não ter quartzo, reduz azero a reação com componentesdo cimento, aumentando a dura-bilidade da construção.”

A outra vertente, educacional,resultou no primeiro geoparquebrasileiro. Pela sua singularida-de, o vulcão de Nova Iguaçu e seuentorno, uma área de 1.100 hec-

tares, aproximadamente, no Ma-ciço do Mendanha, tem um as-pecto educativo muito forte naárea de Geologia. Estudantes dagraduação e do mestrado estão

auxiliando no trabalho de levan-tamento geológico da área e naconfecção de placas de identifi-cação das rochas, que estão sen-do afixadas em toda a região.

VULCÃO EM NOVA IGUAÇU

UUMMAA EEQQUUIIPPEE de pesquisadores da Uerj está realizando estudos no vulcão que podem resultar em importante descoberta para o setor petrolífero