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    A IMPORTNCIA DO CONTROLE DE ESTOQUES PARA AS EMPRESAS

    INDUSTRIAIS BRASILEIRAS DE GRANDE PORTE

    Evandro Jos Strottmann1

    Oscar Luiz da Silveira Scherer2

    RESUMO

    Este artigo trata da importncia do controle de estoques para as empresas

    industriais brasileiras de grande porte, sendo verificados os aspectos contbeis,tributrios e societrios e analisados os aspectos gerenciais e seus indicadores. Apesquisa qualitativa bibliogrfica exploratria teve como base para anlise a leiturada bibliografia e legislao pertinentes ao tema, contando ainda com um roteiro deentrevistas direcionado a um contador, a um administrador e a um advogado, deempresas industriais brasileiras de grande porte, oportunidade em que elesrelataram suas vises acerca do assunto em epgrafe. Os resultados demonstramque o controle de estoques de suma importncia para que as empresas evitemperdas financeiras, devendo-se atentar para a forma correta de valorizao emensurao dos estoques, fazendo com que os custos e os tributos sejamcalculados da maneira adequada a fim que a empresa no tenha passivos fiscais,

    possa ter competitividade e os scios ou investidores identifiquem, com facilidade, oseu real valor.

    Palavras-chave: Estoque. Controle. Contbil. Tributrio. Gerencial.

    ABSTRACT

    This article discusses the importance of inventory control for large Brazilian

    industrial companies, verifying the accounting, tributary and corporate aspects andanalyzing the managerial aspects and indicators. The qualitative, exploratory andbibliographic research was based for analysis on the reading of a bibliography andlegislation pertinent to the topic, including also an interview script directed to anaccountant, to an administrator and to a lawyer, of large Brazilian industrialcompanies, opportunity in which they reported their views on the above subject. Theresults show that inventory control is extremely important for companies to avoidfinancial losses, paying attention to the correct form of valorization and measurementof inventories, so that the costs and taxes are calculated as appropriate for that

    1Acadmico do Curso de Cincias Contbeis das Faculdades Integradas de Taquara Faccat. E-

    mail: [email protected] Professor dos Cursos de Cincias Contbeis e Administrao das Faculdades Integradas deTaquara Faccat e professor da Faculdade SENAC de Porto Alegre. Mestre em Administrao pelaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. E-mail: [email protected]

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    company has no tax liabilities, may have competitiveness and the partners orinvestors to easily identify its real value.

    Keywords: Inventory. Control. Accounting. Tributary. Managerial.

    1. Introduo

    As exigncias impostas pelas autoridades fiscais so cada vez maiores,

    obrigando as empresas a ficarem atentas s constantes mudanas legais. Aliada a

    essa premissa, a acuracidade dos estoques necessria para obter informaes

    gerenciais confiveis e evitar perdas. As demandas relacionadas a este ativo, que

    essencial para o sucesso do negcio, remetem seguinte indagao: Qual a

    importncia do controle de estoques para as empresas industriais brasileiras de

    grande porte?

    O capital normalmente investido nos estoques e a utilidade que este ativo tem

    para a maioria das empresas fazem com que o estoque seja digno de apreo,

    sugerindo a necessidade de controles internos adequados de forma que seja

    possvel definir quando e quanto comprar, qual o fluxo de entrada e sada dos

    materiais, assim como a utilizao de critrios de avaliao e mensurao corretos

    para que os procedimentos contbeis e fiscais estejam adequados s normas

    vigentes, pois a inobservncia desses aspectos pode afetar a apurao do resultado

    e consequentemente dos tributos.

    Inexistindo a observncia correta da legislao tributria e havendo erros na

    apropriao dos custos dos estoques, este ativo pode-se tornar um passivo para

    organizao, portanto a falta de cumprimento das normas tributrias e contbeis

    sujeita a pesadas multas aplicadas pela Receita Federal do Brasil.Ao longo do tempo, tem-se observado a dificuldade de algumas empresas em

    manter um controle de estoques eficaz ao ponto de evitar desvios, dar segurana

    aos gestores na hora de definir as polticas de manuteno dos estoques, garantir

    aos proprietrios que o custo dos seus produtos est sendo apurado de forma

    correta e que o valor da conta estoques espelha a realidade. Soma-se a isso a

    dificuldade de encontrar um sistema informatizado que atenda aos requisitos

    gerenciais e legais de forma plena.Sendo assim, os estoques merecem ateno especial para que se evitem

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    reveses financeiros e se possa buscar um diferencial competitivo no mercado,

    razes que motivaram a elaborao deste artigo, que tem como objetivo verificar a

    importncia do controle de estoques para as empresas industriais brasileiras de

    grande porte, analisando sua importncia sob aspectos gerenciais, verificando

    aspectos contbeis, tributrios e societrios, analisando ainda seus indicadores de

    controle. Salienta-se que os aspectos gerenciais tambm so aplicveis e, s vezes,

    fundamentais para as empresas de pequeno e mdio porte.

    Esta pesquisa qualitativa bibliogrfica exploratria, alm da utilizao de

    literatura tcnica e legal, contou com a participao de trs profissionais de

    indstrias caladistas brasileiras de grande porte do Vale do Paranhana, um

    contador, um administrador e um advogado, que deram suas importantescontribuies ao responderem ao roteiro de entrevista. Aps a elaborao da

    fundamentao terica e anlise dos dados, buscou-se evidenciar os aspectos

    relevantes do controle de estoques, proporcionando ao leitor um entendimento mais

    amplo do tema.

    2. Fundamentao terica

    2.1 A importncia do controle de estoques

    Os estoques tm papel importante nas empresas, pois funcionam como

    reguladores do fluxo dos negcios, como enfatizam Martins e Alt (2009). Os autores

    destacam que a necessidade de reposio dos estoques est relacionada

    velocidade entre a entrada e a sada dos itens, ou seja, quanto maior o nvel de

    sada, maior ser a necessidade de entrada e quanto menor o nvel de sada, menorser a necessidade do nvel de entrada. Conseguir manter um nvel constante entre

    a entrada e a sada de itens pode ser uma vantagem competitiva, pois, com isso, os

    estoques podem ser considerados praticamente nulos (filosofiajust-in-time3).

    Segundo Martins (2008), quando comprar, quanto comprar, fixar lotes

    econmicos de aquisio e definir estoques mnimos de segurana so decises

    que podem afetar os resultados de uma organizao. Para Chopra e Meindl (2003),

    se a empresa no tiver o produto ou mercadoria para oferecer ao cliente, poder

    3Produto certo na hora certa, conceito de estoque zero.

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    obter um lucro menor, assim como, se mantiver estoques altos, correr o risco de

    vend-los com descontos e ter prejuzos.

    Conforme Beulke e Bert (2001), os estoques das empresas industriais

    costumam se apresentar sob trs formas:

    a) Materiais adquiridos e ainda no utilizados;

    b) Produtos em fase de elaborao;

    c) Produtos prontos.

    J para Martins e Alt (2009), os estoques so normalmente divididos em cinco

    grandes grupos:

    a) Estoques de materiais so os materiais utilizados no processo de

    transformao dos produtos acabados, mais conhecidos como matria-prima;

    b) Estoques de produtos prontos em processo so as matrias-primas que

    esto no processo produtivo, mas ainda no se transformaram em

    produtos acabados;

    c) Estoques de produtos acabados so os produtos prontos para

    comercializao;

    d) Estoques em trnsito so os itens que esto em trnsito entre asunidades fabris e ainda no chegaram a seu destino final;

    e) Estoques em consignao so os materiais ou produtos que ainda

    pertencem ao fornecedor at que sejam consumidos ou vendidos.

    Martins e Alt(2009) afirmam que a necessidade de as empresas se tornarem

    mais enxutas faz com que a participao da matria-prima no custo dos produtos

    seja cada vez maior. Isso tambm faz com que a relao cliente-fornecedor seja

    uma relao de parceria, em que um ajuda o outro para que ambos tenham xitonos seus negcios. Os autores ainda destacam que altos nveis de estoque podem

    ser importantes para a rea comercial devido s questes como a flexibilidade na

    hora de vender e atender os clientes de forma imediata, porm trabalhar com

    estoques muito acima do ideal pode ser prejudicial para os negcios.

    Na viso de Beulke e Bert (2001), o acompanhamento do fluxo de entrada,

    estocagem e consumo/sada dos estoques algo bsico e de suma importncia,

    pois a falta desse controle pode ocasionar ociosidade dos estoques, desperdcios,

    maus usos, desvios, etc. Consequentemente isso se reflete em prejuzos para a

    organizao, tais como o desembolso desnecessrio de recursos financeiros para

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    manuteno dos estoques, assim como possvel perda de competitividade no

    mercado devido influncia direta nos custos dos produtos e mercadorias.

    Segundo Ballou (2006), os crticos consideram um desperdcio os estoques

    absorverem capital que poderia ter melhor utilizao, se aplicado no incremento da

    produo e da competitividade.

    Da mesma forma, Martins e Alt (2009) entendem que os estoques so uma

    forma de desperdcio, devendo ser eliminados ou reduzidos ao estritamente

    necessrio. O uso de metodologias como a do 5 Ss4 pode auxiliar, ensinando a

    manter o local de trabalho organizado. Alm disso, reduo dos prazos de

    reaprovisionamento por parte dos fornecedores, aumento da produtividade de todos

    os setores, eliminao de atividades que no agreguem valores aos produtos,estabelecimento de estoques de segurana mnimos e realistas, introduo do

    gerenciamento por atividade e balanceamento entre ser um bom fornecedor para

    seu cliente e um gerador de lucros para sua empresa so outras medidas que

    podem auxiliar.

    2.2 Controle fsico

    Para Martins e Alt (2009), manter altos nveis de estoque pode ser sinnimo

    de custos desnecessrios, seja pelo custo de seu manuseio, produo ou

    administrao. Por isso importante que o administrador tenha um controle de

    gesto dos estoques eficaz para que possa verificar a correta utilizao dos

    estoques, se so bem manuseados e controlados.

    Segundo Oliveira et al. (2009), o inventrio dos estoques deve ser efetuado

    atravs de contagem fsica dos itens para posterior confrontao com os controlesdisponveis na empresa. Realizados os levantamentos, verificam-se as diferenas

    entre a contagem fsica e os controles. Esse procedimento possibilita a identificao

    de possveis falhas nos registros contbeis e dos controles internos, alm de permitir

    a identificao de desvios ou outras irregularidades. Martins e Alt (2009) afirmam

    que, se constatando divergncias entre o controle fsico e o inventrio, devero ser

    realizados os ajustes conforme as normas contbeis e legais. Para Oliveira et al.

    4 Programa de qualidade criado pelos japoneses que visa a melhorar a produtividade e odesempenho atravs de melhorias no ambiente de trabalho. No Brasil tambm conhecido porDOlho na Qualidade (Descarte, Organizao, Limpeza, Higiene e Ordem Mantida).

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    (2009) e Martins e Alt (2009), o controle fsico ou inventrio fsico ocorre de maneira

    peridica ou rotativa (permanente). O controle peridico acontece normalmente no

    encerramento do exerccio fiscal, quando se contam todos os itens do estoque. J o

    controle rotativo costuma ocorrer de forma permanente, pois, neste sistema,

    comum montar um programa de trabalho de forma que at o final do perodo fiscal

    sejam contados todos os itens.

    De acordo com Iudcibus et al.(2010), manter controles analticos em dia e ter

    um bom sistema de controles internos importante para fins contbeis, assim como

    para fins gerenciais. Os autores enfatizam, ainda, que fundamental as quantidades

    fsicas estarem corretas na data do balano, pois de nada adiantar as empresas

    possurem critrios de avaliao e de custos corretos, se as quantidades norefletirem a realidade.

    2.3 Valorizao dos estoques

    Segundo Martins (2008), o mtodo mais utilizado no Brasil o preo mdio

    ponderado. No critrio do preo mdio ponderado, o valor atualizado a cada nova

    aquisio, sendo este o critrio de uso da grande maioria das empresas. No critrioPEPS (Primeiro a Entrar, Primeiro a Sair), o custeio dos materiais ocorre pelos

    preos mais antigos.

    Para facilitar o entendimento, utilizam-se os dados do quadro abaixo para

    demonstrar os critrios do Custo Mdio e do PEPS.

    Compras ConsumoDia Qtde. Vlr.Unitrio Valor Total2 500 1,0000 500,005 3009 700 1,2000 840,0015 85018 300 1,4200 426,00

    Quadro 1 Ficha de estoqueFonte: Martins (2008, p. 118), adaptado pelo autor

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    Custo MdioDia Entrada Sada Saldo Valor

    UnitrioValor Total Saldo R$ Preo

    Mdio2 500 500 1,0000 500,00 500,00 1,00005 (300) 200 1,0000 (300,00) 200,00 1,00009 700 900 1,2000 840,00 1.040,00 1,1556

    15 (850) 50 1,1556 (982,22) 57,78 1,155618 300 350 1,4200 426,00 483,78 1,3822

    Quadro 2 Planilha Custo MdioFonte: Fries (2002, p. 90), adaptado pelo autor

    PEPSDia Entrada Vlr.Unit. Vlr. Total Sada Vlr.Unit. Vlr. Total Saldo Vlr.Unit. Vlr. Total2 500 1,00 500,00 500 1,00 500,005 (300) 1,00 (300,00) 200 1,00 200,00

    9 700 1,20 840,00 900 1,20 1.040,0015 (200) 1,00 (200,00) 700 1,20 840,0015 (650) 1,20 (780,00) 50 1,20 60,0018 300 1,42 426,00 350 1,42 486,00

    Quadro 3 Planilha PEPSFonte: Fries (2002, p. 90-91), desenvolvido pelo autor

    O Comit de Pronunciamentos Contbeis (CPC) estabeleceu, atravs do

    Pronunciamento Tcnico CPC 16, o tratamento contbil para os estoques. Esse

    pronunciamento define que os critrios de valorizao dos estoques so o custo

    mdio ponderado e o PEPS, salvo excees. Deve ser usado o mesmo critrio de

    custeio para todos os estoques de natureza e uso semelhantes para a empresa.

    Para estoques com outra natureza ou uso justificam-se diferentes critrios de

    valorao.

    Complementando ainda, conforme o Pronunciamento Tcnico CPC 16, os

    estoques devem ser mensurados pelo valor de custo ou valor realizvel lquido, dos

    dois o menor. O valor realizvel lquido o preo de venda estimado diminudo dos

    custos necessrios para a realizao da venda.

    2.4 Controle contbil e tributrio

    Neste captulo, destaca-se a importncia do controle contbil e tributrio dos

    estoques, pois, em tempos passados, antes da Lei 6.404/76 e do Decreto-lei

    1.598/77, os administradores e contadores no estavam obrigados observncia de

    normas contbeis e fiscais no que tange elaborao das demonstraes contbeis

    e financeiras.

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    Com a entrada do Sistema Pblico de Escriturao Digital (SPED) em vigor,

    foi instituda a Escriturao Fiscal Digital (EFD), que, alm de substituir outros livros

    fiscais normalmente impressos por sistema eletrnico de processamento de dados,

    substituiu o livro registro de inventrio, fazendo com que passe a ser apresentado

    atravs dos registros do bloco H5da EFD.

    2.5 Controle gerencial dos estoques

    Para Simchi-Levi et al.(2003), a Tecnologia da Informao (TI) ferramenta

    indispensvel na cadeia de suprimentos, proporcionando vantagem competitiva para

    muitas empresas. preciso coletar, acessar e analisar a informao para que sepossa utiliz-la. Segundo os autores, vincular o ponto de produo com o ponto de

    entrega, de forma natural, consiste na principal meta da TI na cadeia de

    suprimentos. Mapear a informao em relao ao produto fsico possibilita sua

    rastreabilidade, o planejamento e a estimativa dos tempos de atendimento com base

    em dados reais. importante que qualquer parte interessada seja capaz de acessar

    a informao relativa ao paradeiro do produto.

    Os sistemas de controle de estoques processam dados que refletemmudanas nos itens em estoque, como enfatiza OBrien (2004). Aps o

    processamento dos dados dos pedidos realizados pelos clientes, o sistema de

    controle de estoques registra as alteraes nos nveis de estoques e prepara os

    documentos de expedio. Na sequncia, o sistema de controle de estoques pode

    notificar os setores responsveis sobre os itens que precisam ser adquiridos

    novamente e fornecer relatrios sobre a situao do estoque.

    Para Beulke e Bert (2001), manter um fluxo eficiente de entrada, estocageme consumo de materiais algo bsico para se obter um controle de estoque. Avaliar

    a evoluo dos consumos e insumos de materiais por classe, por grupos e por itens

    especficos para identificar os materiais que sofreram maior oscilao de consumo

    faz parte de outro controle importante, na viso dos autores.

    5Bloco H Este bloco destina-se a informar o inventrio fsico do estabelecimento.

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    2.6 Indicadores de controle de estoque

    De acordo com Ballou (2006), gerenciar estoques tambm equilibrar a

    disponibilidade dos produtos com os custos de abastecimento necessrios para um

    determinado grau de disponibilidade. O autor enfatiza, ainda, que a alta

    administrao costuma ter maior interesse pelo investimento total em estoques e em

    nveis de servios para mais grupos de itens do que pelo controle separado de itens.

    Com isso, mtodos capazes de controlar grupos de itens coletivamente ganham

    espao entre os procedimentos de controle de estoques, como, por exemplo, giro de

    estoques, classificao ABC6e agregao de riscos.

    Segundo Martins e Alt (2009), o inventrio fsico tambm um importanteindicador, tendo sido abordado no tpico 2.2 deste artigo. Os autores afirmam que,

    aps a concluso do inventrio fsico, possvel calcular a acurcia dos controles, o

    que possibilita analisar quantidade ou valor, verificando-se a porcentagem de itens

    corretos. O clculo da acuracidade realizado atravs da diviso entre o nmero (ou

    valor) de itens com registros corretos e o nmero (ou valor) total de itens, conforme

    exemplo:

    AcurciaItens com registros corretos: 98 = 98%

    Itens inventariados: 100Quadro 4 Acurcia do estoqueFonte: Martins e Alt (2009, p. 201), adaptado pelo autor

    Para Ballou (2006), o giro de estoques o resultado da diviso das vendas

    anuais ao custo de estoque pelo investimento mdio em estoque, levando-se em

    conta o mesmo perodo das vendas. J para Dias (2009), a rotatividade ou giro do

    estoque a relao entre o consumo anual e o estoque mdio do produto, ou seja, arotatividade igual ao consumo mdio anual dividido pelo estoque mdio, conforme

    quadro 5. Dessa forma, possvel verificar quantas vezes o estoque se renovou no

    perodo em anlise. Dias (2009) destaca que o ndice de rotatividade do estoque

    representa um parmetro fcil para a comparao de estoques entre empresas com

    ramo de atividade idntico e entre classes de material do estoque.

    6 Segundo Arnold (1999), a classificao ABC est baseada na observao de que um nmero

    pequeno de itens costuma dominar os resultados atingidos. O primeiro a fazer essa observao foi oeconomista italiano Vilfredo Pareto, motivo pelo qual se chama de lei de Pareto.

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    RotatividadeConsumo mdio anual: 2000 = 20 vezes/ano

    Estoque mdio: 100Quadro 5 Rotatividade do estoqueFonte: Dias (2009, p. 74), adaptado pelo autor

    Conforme Dias (2009), a taxa de cobertura outro ndice de anlise de

    estoque que pode ser bastante til, sendo a taxa de cobertura igual ao estoque

    mdio dividido pelo consumo. Segundo Martins e Alt (2009), a cobertura de

    estoques indica o nmero de unidades de tempo (dias, meses, etc) em que o

    estoque mdio ir cobrir a demanda mdia, sendo que, para esses autores, a

    cobertura de estoques igual ao nmero de unidades de tempo dividido pelo giro de

    estoques, conforme exemplo:

    Taxa de coberturaN de dias do perodo: 360 = 18 dias

    Giro: 20Quadro 6 Taxa de cobertura do estoqueFonte: Martins e Alt (2009, p. 204-205), adaptado pelo autor

    A anlise da curva ABC permite identificar itens que demandam maior

    ateno e tratamento adequado quanto a sua administrao, fazendo com isso que

    este seja um importante instrumento para o administrador, segundo Dias (2009). O

    autor observa, ainda, que a curva ABC tem sido utilizada para administrao de

    estoques, definio de polticas de venda, estabelecimento de prioridades para a

    programao da produo, alm de uma srie de atividades usuais na empresa.

    Aps a ordenao dos itens pelas suas importncias relativas, as classes da curva

    ABC podem ser tratadas assim:

    a) Classe A: itens mais importantes, que merecem uma ateno especial da

    administrao;

    b) Classe B: itens em situao intermediria entre as classes A e C;

    c) Classe C: itens menos importantes, justificando menor ateno da

    administrao.

    De acordo com Arnold (1999), atravs do sistema de classificao ABC de

    estoques, pode-se determinar a importncia dos itens, possibilitando diferentes

    nveis de controle de acordo com a relevncia de cada um. A manuteno de um

    grande nmero de produtos em estoque torna til a classificao em relao a sua

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    importncia, que normalmente feita atravs de valores monetrios, podendo-se

    utilizar outros critrios. Geralmente a relao percentual segue um padro:

    a) Aproximadamente 20% dos itens representam 80% dos valores

    monetrios;

    b) Aproximadamente 30% dos itens representam 15% dos valores

    monetrios;

    c) Aproximadamente 50% dos itens representam 5% dos valores monetrios.

    Curva ABCClasse Itens Valor R$

    A 100 800.000,00B 350 150.000,00C 550 50.000,00

    Totais 1.000 1.000.000,00Quadro 7 Curva ABCFonte: Desenvolvido pelo autor

    Na viso de Martins e Alt (2009), uma anlise exclusiva da relao entre as

    classes A, B ou C pode ocasionar distores preocupantes, pois ela no considera a

    operao do sistema como um todo. Um item de baixo custo ou consumo adquirido

    em pequenas quantidades, por isso enquadrado na classe C, pode afetar a

    produo, caso venha a faltar. Para resolver esse problema, deve-se utilizar acriticidade de itens de estoque, que consiste numa avaliao do impacto que a falta

    dos itens causar na empresa em suas operaes, seja em sua imagem perante

    clientes ou at mesmo na facilidade de sua substituio por outro item. Dentro desse

    conceito, os itens podem ser classificados da seguinte forma:

    a) Classe A: itens cuja falta causa a interrupo da produo e cuja

    substituio difcil e sem fornecedor alternativo;

    b) Classe B: itens cuja falta no causa efeitos na produo no curto prazo;c) Classe C: o restante dos itens.

    3 METODOLOGIA

    A presente pesquisa se caracteriza como qualitativa exploratria, pois, de

    acordo com Silva (2003), este tipo de pesquisa tem por objetivo trazer ao

    pesquisador maior familiaridade com o problema, tornando-o mais claro. O autorexplica, ainda, que, na maioria dos casos, este tipo de pesquisa costuma envolver

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    levantamento bibliogrfico e consulta a pessoas que tm relao com o problema

    pesquisado, podendo ainda assumir a forma de pesquisa bibliogrfica. Dessa forma,

    a mesma acaba caracterizando-se como qualitativa bibliogrfica e exploratria.

    Esta pesquisa foi realizada atravs da leitura de livros e da legislao acerca

    do tema, tendo ainda sido consultadas outras obras como artigos, publicaes em

    revistas e peridicos, alm de materiais de cursos e outros que puderam agregar

    valor ao estudo, que visa a responder sobre qual a importncia do controle de

    estoques para as empresas industriais brasileiras de grande porte.

    Por fundamentar-se em uma pesquisa qualitativa bibliogrfica e exploratria,

    o estudo teve como tcnica de obteno dos dados o roteiro de entrevista

    semiestruturada aberta direcionada a trs entrevistados.A primeira entrevista foi realizada com um administrador, a segunda com um

    contador e a terceira com um advogado, do ramo caladista de empresas industriais

    brasileiras de grande porte do Vale do Paranhana. O administrador respondeu a

    perguntas relacionadas a aspectos gerenciais e indicadores de controle de

    estoques, o advogado respondeu a perguntas relacionadas a aspectos contbeis,

    tributrios e societrios e o contador respondeu a todas as perguntas. As respostas

    dos entrevistados foram registradas, em meio digital, atravs de editor de texto, peloautor.

    Os dados foram analisados atravs do mtodo indutivo e, conforme SILVA

    (2003, p. 39-40),

    a induo parte de registros menos gerais para enunciados mais gerais.Podemos tomar como exemplo a Classificao da Contabilidade comocincia social. [...] O que relatamos comum no uso do raciocnio indutivo.De acordo com a observao de alguns fatos, a mente humana tende a tirarconcluses gerais. O argumento indutivo fundamenta-se em premissas.

    De posse das respostas dos entrevistados, os dados foram organizados, em

    meio digital, atravs de editor de texto, pelo autor, sendo comparados e analisados

    com os objetivos e a fundamentao terica, visando-se anlise dos dados e

    concluso da pesquisa.

    4 ANLISE DOS DADOS

    Com o objetivo de verificar a importncia do controle de estoques para as

    empresas industriais brasileiras de grande porte, foram feitos aos entrevistados os

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    seguintes questionamentos:

    a) Qual o tipo de inventrio fsico indicado para acompanhar a acuracidade

    dos estoques?

    O contador e o administrador convergem: para maior acuracidade dos

    estoques o controle rotativo mais adequado que o controle peridico, pois o

    inventrio ocorre em perodos mais curtos. Na viso do contador, o controle rotativo

    facilita a verificao de erros com maior facilidade, assim como a minimizao dos

    efeitos negativos causados por erros de processo ou de avaliao. J o

    administrador entende que, alm de melhorar a acuracidade, possvel verificar avalidade dos produtos, evitando ainda a paralisao de toda a estrutura da empresa

    para efetuar a contagem.

    Analisando os dados, o controle rotativo o mais adequado, pois, alm de

    possibilitar o acompanhamento do estoque em perodos menores, fica mais fcil

    identificar erros ou desvios sem a necessidade de grandes paralisaes e, por

    consequncia, com menores gastos com pessoal.

    b) Qual a importncia do estoque de segurana?

    Coadunam-se os pensamentos do administrador e do contador: estabelecer

    nveis de estoque de segurana algo importante. Para o administrador, nveis de

    estoque elevados podem ocasionar problemas financeiros como um grande nmero

    de produtos obsoletos com baixo valor de mercado. Complementa o contador,

    dizendo que estoque em excesso pode gerar custos desnecessrios comarmazenamento e capital de giro parado. Por outro lado, o subdimensionamento do

    estoque de segurana pode ocasionar atraso na entrega dos pedidos e perdas de

    vendas.

    O administrador acrescenta, ressaltando que baixos nveis de estoque podem

    levar ruptura constante, ocasionando paradas de produo e, por consequncia,

    ruptura no fornecimento a seus clientes. Ele afirma que o mais importante

    administrar os nveis definidos para a segurana de toda operao, haja vista que o

    estoque de segurana deve funcionar apenas como um pequeno amortecedor para

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    minimizar os efeitos da variao da demanda assim como do tempo de reposio de

    um produto.

    Diante disso, pode-se perceber que o estoque de segurana tem a finalidade

    de proporcionar segurana ao negcio, evitando ruptura nos nveis de servio. O

    importante estabelecer nveis bem-definidos, fazendo-se as adequaes sempre

    que necessrio, pois estoque alto sinnimo de desperdcio de capital, j estoque

    baixo possibilidade de cliente insatisfeito ou de perda de cliente. Outra questo

    importante na definio do estoque de segurana que ele pode variar de um

    perodo para outro para determinados itens, ou seja, questes como o clima e a

    sazonalidade do mercado devem ser consideradas.

    c) Quais os mecanismos de controle de estoques?

    Para o contador, definir os mecanismos de controle de estoques mais

    indicados um tanto subjetivo, pois mecanismos importantes para uma empresa

    podem no ser para outra. Ele entende que o importante que a movimentao dos

    materiais possua processos bem-definidos, que as pessoas estejam bem-

    treinadas e que se tenha um bom sistema de informtica. J o administradorentende que muito importante a utilizao de ferramentas flexveis que permitam a

    empresa implantar diferentes estratgias de controle de acordo com a caracterstica

    de cada tipo de produto, destacando as seguintes modalidades:

    a) Just-in-time;

    b) Kanban: reposio de estoque por nvel de estoque atravs de cartes de

    identificao;

    c) Entrega programada: produtos com consumo regular e de fcil reposio;d) Previso de consumo ao fornecedor;

    e) Controle da acuracidade do estoque;

    f) Inventrio fsico;

    g) Controle PEPS.

    Observa-se que preciso haver processos bem-definidos e que estes sejam

    de fcil utilizao e verificao, assim como importante a flexibilizao dos

    controles, pois h itens que podem demandar controles diferenciados. Atravs dos

    controles possvel identificar a validade dos itens, otimizar os investimentos e

    evitar perdas e desvios.

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    d) Existe atendimento das demandas gerenciais pelos sistemas de

    informtica?

    Administrador e contador concordam que os sistemas de informtica no

    atendem s demandas gerenciais a contento. O administrador entende que a

    maioria dos sistemas apresenta ferramentas para atender s demandas bsicas,

    pois os conceitos de gesto e suas ferramentas de trabalho so amplamente

    divulgados e dominados pelas organizaes em geral. Porm, a simples utilizao

    de um sistema informatizado no basta, pois a maior parte do investimento em uma

    implementao no deveria ser no recurso tecnolgico, mas, sim, em um amplo

    mapeamento cultural, poltico e social da organizao.A percepo do contador que os sistemas informatizados devem moldar-se

    s empresas e no o inverso, pois sua impresso que os ERPs7 so

    desenvolvidos cada vez mais para atender ao fisco e menos s empresas. Isso

    ocorre devido s regras fiscais, tributrias e contbeis, que acabam limitando o

    desenvolvimento de ferramentas para fins gerenciais, razo pela qual entende que

    os sistemas em geral no atendem s demandas gerenciais, salvo os sistemas

    desenvolvidos internamente que possibilitam maior aderncia do ERP ao cotidianoda empresa.

    Com base nos retornos dos entrevistados, verifica-se que o atendimento das

    demandas gerenciais no pleno. Os sistemas em geral costumam atender ao

    bsico, mas, s vezes, deixam a desejar devido a problemas de conceitos

    distorcidos ou falta de foco no negcio do cliente.

    e) Qual a importncia do controle de estoques para a tomada de decises?

    O contador e o administrador so unnimes quanto importncia do controle

    de estoques para a tomada de decises. No entendimento do administrador, um

    controle de estoque eficaz fundamental para que uma empresa possa minimizar o

    capital investido no negcio, assim como maximizar seu lucro ao mesmo tempo, e

    possa utilizar, de uma forma racional, o seu espao fsico. Na viso do contador,

    7ERP (Enterprise Resource Planning) significa Planejamento de Recursos Empresariais. ERPs so

    sistemas (softwares) desenvolvidos para controle de vrios departamentos e processos de umaorganizao.

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    estoques distorcidos podem ocasionar anlise equivocada da situao da empresa,

    desperdcio de recursos financeiros, ocultao de passivos tributrios, atrasos na

    entrega, vendas perdidas, etc.

    Destaca-se, assim, que o controle de estoques extremamente importante

    para que a empresa possa aplicar os recursos fsicos e financeiros de maneira

    adequada, impedindo desperdcios e perda de competitividade, alm de evitar

    possveis passivos tributrios por conta de controles inadequados.

    f) Quais os critrios de avaliao e mensurao dos estoques e sua

    importncia sob os aspectos contbeis e tributrios?

    Esta pergunta e a seguinte foram respondidas somente pelo contador.

    Os critrios de avaliao e mensurao dos estoques so os definidos nos

    artigos 293 a 296 do Regulamento do Imposto de Renda (RIR) e no CPC 16

    Estoques. Ressalta-se que tais critrios foram objeto de estudo do tpico 2.4 deste

    artigo. O contador alerta que a utilizao desses critrios importante para que a

    empresa no corra riscos de ter seu resultado arbitrado pelo fisco.

    Ao analisar o tpico 2.4 e os comentrios do contador, percebe-se que oscritrios de avaliao dos estoques so importantes para que a empresa oferea

    tributao o valor correto, evitando nus tributrios, e apresente as peas contbeis

    conforme as normas contbeis.

    Objetivando o planejamento tributrio, as empresas que verificarem custos

    superiores aos percentuais definidos pelo fisco para arbitrar a valorizao dos

    estoques podero utilizar os percentuais definidos na legislao para mensurar os

    estoques, reduzido assim a carga tributria.

    g) Complementando a pergunta anterior, qual a sua importncia sob os

    aspectos societrios?

    O contador considera o critrio societrio de avaliao dos estoques (CPC 16)

    mais correto, pois objetiva espelhar, de fato, o valor do ativo para a empresa.

    Segundo ele, a principal importncia deste critrio de avaliao se d atravs da

    apresentao de ndices mais realistas na anlise econmico-financeira das

    empresas.

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    Assim, entende-se que as definies do CPC 16 para mensurar os estoques

    so mais reais, ao ponto que possibilitam demonstrar tanto aos scios quanto aos

    investidores o verdadeiro valor de mercado deste ativo.

    h) Existe legislao que trate da tributao dos estoques? Qual sua

    sistemtica de clculo?

    Advogado e contador concordam que no h tributao sobre os estoques. O

    advogado refere que o resultado da sua venda que sofre tributao, ou seja, o

    faturamento.

    De acordo com o contador, apesar de os estoques no serem tributados, oscritrios de avaliao refletem-se na apurao dos resultados das empresas e, por

    tal motivo, influenciam a tributao do Imposto de Renda da Pessoa Jurdica (IRPJ)

    e a Contribuio Social sobre o Lucro Lquido (CSLL) calculados com base no lucro

    real. Tais critrios de avaliao esto determinados pelo RIR, mais especificamente

    nos seus artigos 292 a 298, tendo sido tratados nos tpicos 2.2 e 2.4 os termos dos

    artigos 292 a 296. J os artigos 297 e 298 tratam de produtos rurais e das vedaes

    respectivamente.Analisando os dados, possvel verificar que os estoques no so tributados,

    porm a sua forma de avaliao tem reflexo no resultado, pois, de acordo com o

    critrio utilizado, o valor transferido para o custo pode ser maior.

    i) Qual a importncia do inventrio fsico para fins tributrios e contbeis?

    Segundo o contador, alm de sua importncia em nvel gerencial (validaode processos internos), o inventrio fsico fundamental para atestar que os valores

    dos estoques contabilizados espelham a realidade. Diferenas entre estoque real e

    estoque contabilizado distorcem o resultado e, em consequncia, a anlise dos

    indicadores da empresa e da base de tributao. Como as empresas de grande

    porte apuram o IRPJ e a CSLL com base no Lucro Real, as diferenas de estoques

    podem ocultar passivos relevantes.

    J para o advogado, a importncia para fins tributrios est na possibilidade

    de a empresa sofrer alguma autuao no caso de o estoque fsico ser menor que o

    contabilizado, o que pode caracterizar venda sem emisso de nota fiscal.

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    Com base na fundamentao terica e nas respostas do contador e do

    advogado, verifica-se que divergncias entre os registros contbeis e as fichas de

    controle so inevitveis e atravs do inventrio fsico que se torna possvel

    conciliar os controles e certificar-se de que as quantidades e os valores esto

    corretos. Havendo divergncias, existe a possibilidade de erros nas apuraes de

    resultado e de tributos.

    j) Existem passivos tributrios devido a erros na valorizao dos estoques?

    Para o contador, erros na valorizao dos estoques podem ocasionar

    diferenas de IRPJ e CSLL a pagar nas empresas de grande porte, que sotributadas pelo Lucro Real, ocasionando assim passivos tributrios conforme

    previsto no artigo 273 do RIR.

    O advogado no visualiza implicao direta na seara tributria. Para ele, o

    que pode ocorrer a valorizao dos estoques de forma artificial no intuito de

    majorar o custo e assim reduzir o lucro. Assim, poderia a empresa ser lanada por

    reduzir de forma indevida o resultado.

    Analisando as posies do contador e do advogado e a legislao citada,percebe-se a existncia de passivos tributrios, pois, da mesma forma que a

    superavaliao dos estoques enseja o pagamento a maior de tributos devido

    antecipao do lucro, a subavaliao dos estoques enseja a postergao do

    pagamento de tributos.

    Tais erros podem levar o fisco a desclassificar a escriturao contbil devido

    dificuldade de determinao do Lucro Real. Como consequncia, haver o

    arbitramento do lucro conforme determina o artigo 530 do RIR.

    k) Qual a importncia da anlise da curva ABC na tomada de decises?

    A anlise da curva ABC uma excelente ferramenta de apoio para os

    administradores de estoque, nas opinies do administrador e do contador. Para o

    administrador, este indicador proporciona um melhor controle sobre suas atividades

    e analisa, com mais preciso e foco, a condio dos itens em estoque. Como a

    anlise ABC leva em conta informaes sobre o consumo e o investimento

    empregado no estoque, com o resultado da anlise, a empresa pode obter uma

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    srie de melhorias como reduo no investimento de estoques, melhora no nvel de

    servio, reduo de gastos com movimentaes e at reduo de espao

    necessrio para o armazenamento.

    Para o contador, atravs deste indicador, so evidenciados os itens de

    estoque de valor mais relevante para as organizaes. Dessa forma, mesmo com

    recursos escassos, um bom controle sobre esses itens principais pode garantir s

    empresas a reduo de riscos e a otimizao dos recursos financeiros.

    Como destacaram os entrevistados, o uso deste indicador possibilita verificar

    os itens mais significativos tanto em termos financeiros quanto em termos fsicos.

    Com base nessa anlise, possvel definir as polticas internas para a manuteno

    dos estoques, provisionar a necessidade de investimentos, prever a demanda decapital ou destin-lo para outros investimentos. importante destacar que este

    indicador tambm pode ser utilizado para medir a criticidade, como a falta de um

    item de pequeno valor pode causar para o negcio, conforme tratado no tpico 2.6

    deste artigo.

    l) A rotatividade dos estoques pode trazer um diferencial competitivo?

    Contador e administrador corroboram que a rotatividade dos estoques pode

    representar um diferencial competitivo em uma organizao. O contador alega que

    os responsveis financeiros das empresas afirmam que estoque sinnimo de

    desperdcio de capital. Alm disso, os estoques geram diversas despesas para sua

    manuteno (espao, recursos humanos, seguros, etc). Finaliza, informando que,

    quanto menores os nveis de estoques necessrios para empresa operar, maior ser

    sua competitividade.O administrador julga importante entender primeiramente a estratgia adotada

    pela empresa no que diz respeito distribuio do seu produto final. Por exemplo,

    uma empresa que produz conforme a demanda de pedidos tende a possuir um alto

    giro de estoque de seus produtos, j em uma empresa que produz para pronta

    entrega, a dificuldade em manter um bom giro de estoque aumenta, pois as

    incertezas de demandas futuras podem refletir em nveis altos de estoque, que

    devem ser minimizados com estratgias de aproximao do cliente, objetivando a

    reduo de prazos de entrega e reconhecimento das demandas reais no ponto de

    venda.

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    Nesses casos, quando a empresa consegue uma alta rotatividade em seus

    produtos, esse fato por si s se apresenta como um diferencial competitivo, pois a

    rotatividade da indstria se torna um argumento de marketing e vendas, auxiliando

    inclusive seus clientes na determinao da compra de produtos que apresentam

    uma melhor aceitao no mercado consumidor.

    Analisando a viso dos entrevistados, destacam-se como fatores importantes

    a reduo dos nveis de estoque (reduo do capital investido) e a melhora da

    estratgia comercial, possibilitando argumentos para incremento de vendas dos

    clientes, tendo como consequncia maior giro no estoque.

    m) Qual a importncia da acuracidade dos estoques e o percentual aceito?

    Outro indicador importante a acuracidade dos estoques, que, na viso do

    administrador, possui um percentual utilizado como aceitvel entre 95% e 99%. J o

    contador entende que no h um percentual padro, mas, quanto mais prximo de

    100%, melhor. Ambos concordam que cabe a cada empresa determinar o nvel de

    aceitao, levando em conta sempre o grau de importncia e o impacto dos

    estoques em relao ao seu negcio.As empresas procuram trabalhar com menores custos operacionais e, com

    isso, os estoques so administrados de forma a ficarem cada vez mais enxutos, ou

    seja, para uma mesma demanda ou at maior manter nveis de estoques cada vez

    mais baixos uma tendncia necessria, relata o administrador sobre a importncia

    deste indicador. Com isso, a acuracidade determinante para evitar possveis riscos

    de faltas ou sobras de estoque, que acabam gerando compras desnecessrias ou

    desperdcio de produtos.Sob os aspectos tributrios, o contador indica que as quebras de estoques

    passveis de deduo do IRPJ e da CSLL esto definidas no artigo 291 do RIR.

    Percebe-se, assim, que, atravs do acompanhamento da acuracidade,

    possvel certificar-se de que a necessidade de compra de um determinado item

    real, evitando faltas de estoque ou investimentos desnecessrios. Alm disso, esse

    acompanhamento pode auxiliar na verificao de possveis desvios.

    n) Quais os indicadores imprescindveis na avaliao dos estoques?

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    Os indicadores imprescindveis na avaliao dos estoques so:

    Na viso do contador Na viso do administradorAcuracidade do estoque Inventrio fsico x contbilRotatividade do estoque Acuracidade do estoquePercentual de utilizao de capacidade Rotatividade do estoquendice de faltas de estoque Estoque mdio (anlise de valores monetrios)Quebras e perdas de estoque Classificao/Anlise ABC

    Nvel de ruptura do estoqueQuadro 7 Quadro comparativo dos indicadores de controle de estoquesFonte: Desenvolvido pelo autor

    Entende-se que os indicadores citados no quadro acima possibilitam um

    excelente acompanhamento da situao dos estoques, facilitando a administrao

    deste ativo.

    5 CONSIDERAES FINAIS

    Com base na legislao fiscal, societria e nas referncias bibliogrficas

    consultadas, conclui-se que as empresas industriais brasileiras de grande porte que

    tm um bom controle de estoque podem obter um bom planejamento tributrio e

    operacional, reduzindo a carga tributria e os investimentos na manuteno dosestoques, melhorando o nvel de atendimento aos clientes quanto disponibilidade

    dos produtos. Alm disso, podem ter a certeza de que as suas demonstraes

    contbeis esto adequadas devido ao nvel de qualidade do controle e

    acompanhamento gerencial das mesmas.

    Em razo de sua importncia na atividade industrial, os estoques so

    merecedores de anlise minuciosa. Os controles adequados e os indicadores da

    situao dos estoques so ferramentas indispensveis para que os administradores

    faam boa gesto deste ativo e consigam obter vantagem competitiva.

    Com o inventrio fsico possvel identificar erros, desperdcios, desvios, a

    validade de produtos e a acuracidade dos estoques. Assim, o mesmo tem papel

    fundamental dentre os diversos indicadores disposio dos administradores, alm

    de atestar que os valores contabilizados espelham a realidade.

    As empresas que possuem bons controles internos na rea de estoques

    podem ter uma melhor viso do momento de compra dos produtos e uma definio

    adequada do nvel do estoque de segurana necessrio. Destaca-se que a

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    manuteno de nveis baixos envolve menor investimento de capital nos estoques e

    possvel melhora nos lucros, tendo tambm uma melhora na sua rotatividade.

    A utilizao de um sistema de informtica adequado a sua realidade pode

    contribuir para a obteno de controles internos eficazes e de informaes

    gerenciais que auxiliem nas tomadas de decises, apesar de os programas

    disponveis no mercado no atenderem s demandas de forma plena.

    Analisando-se os aspectos societrios, contbeis e tributrios, evidencia-se

    que a determinao correta dos mtodos de avaliao e mensurao dos estoques

    indispensvel, tendo em vista seu reflexo no resultado da empresa e na apurao

    do IRPJ e da CSLL. Verificou-se que eventuais erros nos critrios de avaliao e

    custos incorretos podem ensejar passivos tributrios para empresa. importanteobservar que a valorizao dos estoques pelo arbitramento pode proporcionar

    melhores resultados para a empresa e reduo na tributao.

    Portanto, a importncia do controle dos estoques para as empresas

    industriais brasileiras de grande porte est relacionada ao bom desempenho do

    negcio, sendo seu papel fundamental para a prosperidade dessas organizaes.

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