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3 O Colóquio Internacional, Ciência nos Trópicos: olhares sobre o passado, perspetivas de futuro, celebra a investigação científica nos Trópicos, a propósito da fundação, em 1936, da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC), um dos organismos antecessores do IICT – Instituto de Investigação Científica Tropical. O encontro ocorre a 5, 6 e 7 de janeiro de 2012, no Arquivo Histórico Ultramarino (IICT), completando-se com uma visita guiada à exposição Viagens e Missões Científicas nos Trópicos, 1883-2010. Transcorridos 75 anos sobre a criação oficial da JMGIC (7 de janeiro de 1936) e volvido um ano sobre a inauguração da exposição Viagens e Missões Científicas nos Trópicos, 1883-2010, urge fazer um primeiro balanço geral sobre a historiografia dedicada à ciência nos Trópicos, realçando a investigação para o desenvolvimento, conduzida na atualidade. Comutando experiências e saberes, esta reunião internacional permite destacar: - o conhecimento reunido por investigadores do IICT sobre a matéria em análise; - o impacte, junto do público, da exposição Viagens e Missões Científicas nos Trópicos, 1883-2010; - o crescente interesse académico pela ciência colonial e póscolonial; - a atenção redobrada sobre a atual investigação científica nos Trópicos; - o aprofundamento da colaboração científica com membros da CPLP; - a urgência do incremento dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio. O Colóquio cruza olhares diferenciados e complementares sobre ciência, política científica e desenvolvimento sustentável, nos seus diferentes quadrantes de atuação, anunciando novos caminhos de investigação e de cooperação institucional, consubstanciados por visões específicas e vontades transversais. O encontro firma ainda pontes entre as ciências humanas, sociais e naturais produzidas nos Trópicos ao longo do século XX, destacando a extensão da importância dos projetos em curso para as comunidades neles envolvidas, numa permanente interação e partilha de conhecimento.

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O Colóquio Internacional, Ciência nos Trópicos: olhares sobre o passado, perspetivas de futuro, celebra a investigação científica nos Trópicos, a propósito da fundação, em 1936, da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC), um dos organismos antecessores do IICT – Instituto de Investigação Científica Tropical. O encontro ocorre a 5, 6 e 7 de janeiro de 2012, no Arquivo Histórico Ultramarino (IICT), completando-se com uma visita guiada à exposição Viagens e Missões Científicas nos Trópicos, 1883-2010. Transcorridos 75 anos sobre a criação oficial da JMGIC (7 de janeiro de 1936) e volvido um ano sobre a inauguração da exposição Viagens e Missões Científicas nos Trópicos, 1883-2010, urge fazer um primeiro balanço geral sobre a historiografia dedicada à ciência nos Trópicos, realçando a investigação para o desenvolvimento, conduzida na atualidade.

Comutando experiências e saberes, esta reunião internacional permite destacar:

- o conhecimento reunido por investigadores do IICT sobre a matéria em análise; - o impacte, junto do público, da exposição Viagens e Missões Científicas nos Trópicos, 1883-2010; - o crescente interesse académico pela ciência colonial e póscolonial; - a atenção redobrada sobre a atual investigação científica nos Trópicos; - o aprofundamento da colaboração científica com membros da CPLP; - a urgência do incremento dos Objetivos do Desenvolvimento do Milénio.

O Colóquio cruza olhares diferenciados e complementares sobre ciência, política científica e desenvolvimento sustentável, nos seus diferentes quadrantes de atuação, anunciando novos caminhos de investigação e de cooperação institucional, consubstanciados por visões específicas e vontades transversais. O encontro firma ainda pontes entre as ciências humanas, sociais e naturais produzidas nos Trópicos ao longo do século XX, destacando a extensão da importância dos projetos em curso para as comunidades neles envolvidas, numa permanente interação e partilha de conhecimento.

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Comissão Científica: - Academia das Ciências de Lisboa: Jorge Braga de Macedo da Classe de Letras e Jean-Pierre Contzen e Rui Malhó da Classe de Ciências - Esperança Costa (Centro de Botânica da Universidade Agostinho Neto) - Fátima Nunes (Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência) - João Carlos Garcia (Faculdade de Letras da Universidade do Porto) - José da Silva Horta (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) - José Curto (York University, Canadá) - Roquinaldo Ferreira (University of Virginia, EUA) - Ana Cristina Martins (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Maria Cristina Duarte (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Maria Otília Carvalho (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Vítor Rodrigues (Instituto de Investigação Científica Tropical)

Comissão Organizadora: - Ana Canas (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Ana Cristina Roque (Instituto de Investigação Científica Tropical) - André Heraclio do Rego (CPLP / Université de Paris Ouest - CRILUS) - Branca Moriés (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Luís Frederico Antunes (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Maria Manuel Torrão (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Teresa Albino (Instituto de Investigação Científica Tropical) Secretariado: - Ana Chin (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Ana Godinho (Instituto de Investigação Científica Tropical) - António Portugal (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Carolina Bastos (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Filomena Rita (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Isabel Lacerda (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Laura Domingues (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Teresa Vilela (Instituto de Investigação Científica Tropical) - Tiago Ribeiro (Instituto de Investigação Científica Tropical)

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Arquivo Histórico Ultramarino Calçada da Boa-Hora, 30 Lisboa

5 janeiro 09h00 - Registo e entrega das pastas 09h30 – Sessão de abertura

- Jorge Braga de Macedo (ACL) - Jean-Pierre Contzen (ACL) - Rui Malhó (ACL) - Secretário de Estado do Ministério dos Negócios Estrangeiros - Secretária de Estado da Ciência - Secretário Executivo da CPLP - Secretário-geral do Conselho Empresarial da CPLP

11h00 – Coffee-break Tema 1 - Os Trópicos na História da Ciência 11h15 - 1.ª Sessão - Coleções históricas e científicas: estratégias para o séc. XXI. I

Moderadores: Ana Cannas e Marta Lourenço

. Técnica e política: do Arquivo Histórico Colonial à informação para o desenvolvimento

Ana Cannas e Maria da Conceição Casanova . As doações régias nas coleções científicas da Universidade de Coimbra Catarina Pires e Gilberto Pereira . A atividade museológica do Instituto de Investigação Científica de Moçambique, 1959-1974 Luís Pequito Antunes . Uma coleção “geo-mineralógica” de Timor José Manuel Brandão

12h15 - Debate 12h40 - Lançamento das Atas do Colóquio Timor: Missões Científicas e Antropologia Colonial, coordenadas por Ana Cristina Roque, Ricardo Roque e Vítor Rosado Marques 13h00 – Almoço 14h30 – 2.ª Sessão - Coleções históricas e científicas: estratégias para o séc. XXI. II

Moderadores: José Horta e Ana Martins . O projeto cartAFRICA e a divulgação da Cartografia dos antigos territórios portugueses em África Sandra Fernandes e Francisco Palma Gomes . O acervo Gago Coutinho no IICT: sua importância para a História da Ciência e para a cooperação atual com a CPLP Ana Cristina Roque, Maria Manuel Torrão e Paula Cristina Santos

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. The development of the Zimbabwe tradition in the Zambezi Valley, Mozambique: c. 1400-1800: an archaeological perspective Solange L. Macamo . As pesquisas arqueológicas do Dungo, Sudoeste de Angola Maria da Piedade de Jesus . Nouvelles données sur la Préhistoire récente angolaise: le gisement de Cabolombo à Benfica revisité Nicolas Valdeyron e Sónia Domingos

15h45 – Debate 16h00 – Coffee-break 16h20 – 3.ª Sessão – Política e cultura científicas. I

Moderadores: André Heraclio do Rego e José Mendes Ferrão . (E)coando a Claridade. Cultura, Ciência e Colonialismo Sérgio Neto . A Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais e a política científica nas colónias Tiago Brandão . Etnohistória e colonização portuguesa: revisitando a historiografia colonial de Moçambique Manuel Lobato . A produção historiográfica colonial no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa (1945-73) Maria João Soares . ‘Official Cartography’ and ‘Litigant Cartography’ in the Tropics: reinterpreting the Molucas’ dispute Antonio Sánchez Martínez . António de Almeida (1900-1984): entre a conceção de hierarquização das raças e a abordagem biocultural na obra antropológica realizada nos Trópicos Vitor Luís Gaspar Rodrigues e Luís Frederico Dias Antunes . Mulheres cientistas e os Trópicos: uma visão preliminar Ana Cristina Martins

17h20 – Debate intercalar 17h35 – Política e cultura Científicas. I (cont.) 18h20 – Debate 18h40 – Lançamento do livro Ética, Crise e Sociedade, coordenado por Michel Renaud e Gonçalo Marcelo, apresentado por Jean-Pierre Contzen

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6 janeiro 09h30 – 4.ª Sessão – Política e cultura científicas. II

Moderadores: Fátima Nunes e Vítor Rosado Marques . Stars, storms and land: astronomy, meteorology and observatories in the Portuguese colonial enterprise Pedro M. P. Raposo . Os edifícios do Instituto de Medicina Tropical e de Investigação Médica de Angola: reflexos da metodologia da investigação em Medicina Tropical na década de cinquenta Mariana de Oliveira Couto . Intervenção médica nas populações coloniais e póscoloniais: continuidade, mudança e a soberania política nacional Ricardo Pereira . Medicina e dieta no início do século XIX: a alimentação dos doentes no Real Hospital da Ilha de Moçambique Eugénia Rodrigues e Anita Correia Lima de Almeida . De-centering Colonial Science: the Angolan Health Service in the Interwar Period Samuël Coghe . Transferindo conhecimento e ideologia: arquitetos portugueses nos Trópicos Madalena Cunha Matos e Tânia Beisl Ramos . A JMGIC e a investigação do património arquitetónico português ultramarino – o caso da viagem de Mário Chicó à Índia Portuguesa Vera Félix Mariz

11h15 - Debate 11h35 – Coffee break Tema 2 - Ciência para o Desenvolvimento Global 11h50 - 1.ª Sessão - Saberes tradicionais e governação local

Moderadores: Jean-Pierre Contzen e Maria das Graças Lins Brandão . A escrita missionária como narrativa etnográfica – em torno da literatura missionária sobre o Kongo e a região mbundu (XV-XVIII) Carlos Almeida . Las primeras exploraciones científicas de Guinea Ecuatorial Enrique Gozalbes Cravioto . A viagem do botânico Júlio Henriques à Ilha de São Tomé (1903) Natacha Catarina Perpétuo, M. Teresa Gonçalves, Jorge Pais de Sousa e António Carmo Gouveia . Natural history of useful plants from America: rediscovering the medicinal plants of Brazil Maria das Graças Lins Brandão

12h50 – Debate 13h10 – Almoço

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14h30 - 2.ª Sessão – Desenvolvimento, crescimento económico e internacionalização Moderadores: Jorge Braga de Macedo e Ana Morgado . Cem anos do «Ensino Agronómico Colonial». Sua contribuição no ensino e na investigação agrária tropicais. Que futuro? José E. Mendes Ferrão . Colaboração interinstitucional para promoção da biotecnologia em Moçambique Ana Ribeiro, Luís F. Goulão, Ana M.P. Melo, Isabel Palos e José C. Ramalho . Os trabalhos das Missões Geodésicas, sua contribuição para o desenvolvimento económico, científico e tecnológico dos respetivos países Paula Cristina Santos .Le rôle du gouvernement dans l’économie sociale et ses politiques de coopération internationale pour le développement régional Abdou Sané e Luiz Alfredo Silveira

15h30 – Debate 15h50/18h30 – Apresentação de posters (sessão paralela) 15h50 – Coffee break 16h10 – 3.ª Sessão - A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental. I

Moderadores: Esperança Costa e Luís Mendes . Estrutura e composição da vegetação lenhosa da barra do Rio Cuanza, Angola Esperança Costa e Luís Catarino . Flora e vegetação da Guiné-Bissau – perspetiva histórica, presente e futuro da contribuição do JBT/IICT Luís Catarino, Maria Adélia Diniz e Eurico S. Martins . Itinerários e contributos da Missão Botânica de Moçambique para o conhecimento da vegetação Rui Figueira, Susana Saraiva, Patrícia Conde, Eurico S. Martins, Maria Romeiras e Maria Cristina Duarte . Effects of society changes in the distribution of Mozambique terrestrial vertebrate’s species Isabel Queirós Neves e Cristiane Bastos-Silveira . Seriação de metodologias destinadas à produção de farinha de trigo biofortificada em Fe e Zn para populações carenciadas de países em vias de desenvolvimento Fernando C. Lidon, António E. Leitão, Luis F. Goulão, Ana Ribeiro e José C. Ramalho . Carta Geológica da Guiné-Bissau: de 1982 a 2011 Paulo H. Alves e Vera Figueiredo . Desde os estudos geológicos e as concessões portuguesas de exploração de minério em Goa nos anos 50 até à atualidade: uma escolha difícil entre uma pretensa espinha dorsal económica e a espinha dorsal real de ecossistema regional Teotónio R. de Souza

17h10 – Debate intercalar 17h25 - A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental. I (cont.) 18h10 – Debate

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7 janeiro 10h00 – 4.ª Sessão - Saber Tropical na era das ómicas

Moderadores: Rui Malhó e Maria do Céu Silva . Forest for the future: the IICT genomic contribuition Jorge A. Pinto Paiva . Better legumes and pastures for drought prone regions Susana Sousa Araújo . A project devoted to international cooperation with more than half a century: the creation of Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC) in Portugal

Vítor Várzea, Pedro Talhinhas, Ana P. Pereira, Leonor Guerra-Guimarães, Helena Gil Azinheira, Andreia Loureiro, Dora Batista e Maria do Céu Silva

10h45 - Debate 11h00 – Coffee-break 11h15 - Mesa redonda – Projectos e testemunhos

Jean-Pierre Contzen, Jorge Braga de Macedo e Rui Malhó 12h15 - Encerramento e conclusão dos trabalhos 13h00 – Almoço livre 14h30 - Visita à exposição Viagens e missões científicas nos Trópicos. 1883-2010

Responsável: Jorge Braga de Macedo

16h00 – Lanche com pastéis de Belém

Instituto de Investigação Científica Tropical

E-mail: [email protected]

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Comunicações orais 5 de janeiro Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 1ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias para o século XXI. I Moderadores: Ana Cannas e Marta Lourenço Técnica e política: do Arquivo Histórico Colonial à informação para o desenvolvimento Ana Cannas1 e Maria da Conceição Casanova2 1. Arquivo Histórico Ultramarino, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical Reconstituem-se aspetos das políticas arquivísticas e de conservação em Portugal, dos anos 20 do séc. XX à atualidade, considerando em particular a trajetória do AHU e do seu acervo, bem como a de outro património documental do IICT e caracterizando as suas diferentes fases. Desenham-se perfis de responsáveis e profissionais ligados à gestão, preservação e tratamento dos arquivos coloniais com variável pendor erudito, político e técnico-científico. Abordam-se as respetivas decisões e práticas procurando contextualizá-las na situação portuguesa, sem deixar de ter em conta dinâmicas externas, numa ótica centralizadora de noção de património cultural. Finalmente, compara-se com a realidade de hoje, decorrente de uma noção mais alargada de património difundida pelas organizações internacionais, as quais entendem a salvaguarda do património como meio essencial ao desenvolvimento sustentável e o acesso ao património arquivístico comum, no caso pelos países da CPLP, como uma necessidade, tendo em conta o interesse das comunidades usufrutuárias, por quem esse património é valorado. A constituição do Arquivo Científico Tropical e de projetos interdisciplinares de investigação, tratamento e acesso à documentação do AHU, datada predominantemente do séc. XX, encontraram aí a sua inspiração. Torna-se oportuno reavaliá-los, não só técnica e cientificamente, mas também em função dos interesses estratégicos e das condições atuais do país. As doações régias nas coleções científicas da Universidade de Coimbra Catarina Pires1 e Gilberto Pereira2 1. Doutoranda em História e Museologia da Universidade de Coimbra 2. Museu da Ciência da Universidade de Coimbra As coleções de História Natural da Universidade de Coimbra oriundas dos Trópicos resultam, em parte, de práticas de incentivo do poder régio. Ilustrativas da ligação do ensino ao poder central, são desde logo as coleções fundadoras da Faculdade de Filosofia, reunidas no Jardim Botânico do Real Palácio da Ajuda por Domingos Vandelli, desde finais da década de 1760, ou aquelas resultantes da bem conhecida viagem filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira ao Brasil, enviadas para Coimbra em 1806. Nesta proposta teremos como principal objetivo apresentar uma análise sobre a contribuição das doações régias para a constituição das coleções científicas da Universidade de Coimbra.

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A atividade museológica do Instituto de Investigação Científica de Moçambique, 1959-1974 Luís Pequito Antunes Doutorando do Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência da Universidade de Évora O estudo agora apresentado examina, a partir de documentação, legislação e relatórios da Junta de Investigações do Ultramar e Fundação Calouste Gulbenkian, a missão museológica do Instituto de Investigação Científica de Moçambique (IICM) entre 1959 e 1974, período em que tutelou o Museu de História Natural Dr. Álvaro de Castro (Lourenço Marques, Moçambique). Criado na segunda metade dos anos cinquenta do século XX, no âmbito da reorganização dos serviços públicos de investigação científica ligados ao ultramar, tinha como objetivo contribuir para o desenvolvimento da ciência e fomentar a cultura das populações moçambicanas, então sob domínio colonial. Para além das atividades desenvolvidas em matéria de investigação científica colonial (agricultura e saúde) o IICM acabou por incorporar na sua estrutura o Museu Dr. Álvaro de Castro, até à data na dependência do Serviço de Instrução Pública de Moçambique. Tratava-se de uma situação não prevista inicialmente à qual o IICM teve que dar resposta. Analisa-se, assim, o modo como o museu orientou as suas ações no sentido de cumprir os objetivos traçados pela nova tutela e o seu desempenho científico e técnico enquanto “museu de história natural”, com particular destaque para a zoologia, cuja perceção pública foi facilitada por uma narrativa centrada num discurso expositivo atualizado capaz de atrair, em média, 100.000 visitantes/ano e pela participação numa rede internacional de circulação do saber com a África do Sul e a Europa a propósito, p.e., da entomologia. Uma coleção “geo-mineralógica” de Timor José Manuel Brandão Centro de Estudos de História e Filosofia da Ciência, Universidade de Évora O acervo colonial do então designado “Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico”, anexo à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, contava com uma pequena representação da longínqua província de Timor, constituída por amostras recolhidas entre 1914 e 1915 em diversos pontos da metade portuguesa da ilha, pelo coronel de Engenharia Heitor Mascarenhas Inglês (1888-1973), e outras oferecidas pelo agrónomo Ruy Cinatti (1915-1986) no final dos anos quarenta. Estas coleções “geo-mineralógicas” foram dispostas na “Sala do Império Colonial Português”, criada no final dos anos trinta pelo então diretor do museu Alfredo A. Machado e Costa, com a colaboração do naturalista António Sousa Torres (1876-1958). Constituíram, durante anos, a única representação da geologia timorense em solo metropolitano. No âmbito da sua habitual cooperação com a Junta das Missões Geográficas do Ultramar, Sousa Torres, em colaboração com o seu colega e amigo José Pires Soares, promoveram o estudo dessa amostragem, ensaiando um bosquejo genérico sobre a geologia de Timor apresentado à 18.a Sessão do Congresso Geológico Internacional reunido em Londres, em 1948. Nos anos seguintes, enquanto investigador da Junta, Sousa Torres receberia ainda, através da administração da antiga colónia portuguesa, novas remessas de amostras cujo estudo, porém, já não chegou a concluir, mantendo-se estas ainda praticamente inéditas. Na presente nota passam-se em revista estas coleções, bem como alguma documentação reunida por Sousa Torres e utilizada na preparação da nota apresentada ao referido Congresso, doada pela família ao Museu Nacional.

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Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 2ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias para o século XXI. II Moderadores: José Horta e Ana Martins O projeto cartAFRICA e a divulgação da Cartografia dos antigos territórios portugueses em África Sandra Fernandes1 e Francisco Palma Gomes2

1. Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, Universidade de Lisboa 2. Instituto Geográfico do Exército O projeto cartAFRICA, que resulta de um contrato de parceria assinado em 2011 pelo Instituto Geográfico do Exército (IGeoE) e pelo Centro de Estudos Geográficos (CEG) do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa (IGOT-UL), tem como objetivo principal o estudo, o tratamento documental e a disponibilização, numa primeira fase, das cartas topográficas dos antigos territórios portugueses em África. O projeto mostra a importância da cooperação entre instituições, com diferentes missões e valências, na concretização de objetivos comuns, estando ambos apostados na crescente qualidade da informação prestada aos utilizadores e na divulgação e preservação do património cartográfico que detêm ou produzem. Com base no balanço das questões que foram surgindo no começo do projeto, umas relacionadas com as características dos documentos ou com o modo como hoje se conseguem reconstituir os trabalhos que lhes deram origem, outras com o contexto histórico em que foram produzidos ou com o papel desempenhado pelos organismos cartográficos nacionais e também pelos das colónias, discute-se a importância do estudo e organização das coleções como pilar do rigor no tratamento documental e garante da qualidade da informação disponibilizada. Defende-se ainda a divulgação de bases de dados bibliográficos e de autoridade alicerçadas na investigação para que deixem de ser meros escaparates informacionais e assumam novas funcionalidades que lhes confiram o reconhecimento como verdadeiras fontes de informação. Traça-se finalmente um esboço dos desafios colocados às duas instituições para contribuir para o conhecimento da importância da Cartografia num período marcante da nossa história recente. O acervo Gago Coutinho no IICT: sua importância para a História da Ciência e para a cooperação atual com a CPLP Ana Cristina Roque1, Maria Manuel Torrão1 e Paula Cristina Santos2

1. Departamento de Ciências Humanas – Programa de Desenvolvimento Global e Centro de História, Instituto de Investigação Científica Tropical

2. Departamento de Ciências Naturais, Centro de Geo-Informação para o Desenvolvimento, Instituto de Investigação Científica Tropical

Procurando responder a dois dos reptos lançados por este Colóquio – a atenção redobrada sobre a atual investigação científica nos Trópicos e o aprofundamento da colaboração científica com os membros da CPLP – esta comunicação pretende salientar a atividade de Gago Coutinho, primeiro presidente da JMGIC. Tendo como base a grande riqueza do património documental, cartográfico, fotográfico e instrumental existente no IICT, pretende-se refletir sobre a ação desta importante figura da História da Ciência em Portugal e sobre as repercussões que os seus trabalhos tiveram não só na época, como atualmente ao nível de vários países membros da CPLP. Na sequência de trabalhos já desenvolvidos pelas autoras desta comunicação sobre a ação de Gago Coutinho na Comissão de Cartografia, tenciona-se, agora, sublinhar a sua atuação como

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Homem da Ciência, projetando os seus resultados para uma época cronológica mais recente, embora sempre com as necessárias remissões a atividades desenvolvidas por Gago Coutinho desde o início da sua carreira de cientista. No seu gabinete do Terreiro do Paço, após o seu último trabalho de campo (levantamento geodésico da Ilha de S. Tomé, 1917-1919), a partir de 1936, Gago Coutinho, assumiu uma nova faceta da sua vida profissional enquanto “geógrafo de gabinete”. A sua experiência no terreno, conhecimento científico e intervenção estratégica foram fundamentais para a formação, evolução e destino da JMGIC constituindo um legado que importa evidenciar no estudo da investigação cientifica nos e com os Trópicos. The development of the Zimbabwe tradition in the Zambezi Valley, Mozambique: c. 1400-1800: An archaeological perspective Solange L. Macamo Department of Archaeology and Anthropology, Eduardo Mondlane University, Maputo This paper aims to provide an introduction to the Zimbabwe Tradition as it is known in Mozambique. In particular, the role exercised by the Zambezi Valley for the later developments of the Zimbabwe Tradition in Mozambique is deal with, from which have derived also cultural interactions. I have chosen to discuss the concept of the Zimbabwe Tradition, as it can provide a point of departure for the understanding of its relevance in Mozambique and help to contextualize the known stone wall sites, or Madzimbabwe, as they are known in the Republic of Zimbabwe. It is further suggested the use of the concept of privileged places, to define the human ability to display natural resources, as exemplified by the stone enclosures of the Zimbabwe Tradition in Mozambique. Most of the Zimbabwe Stone enclosures are preferable located near major river courses, as is the case of Songo in the Zambezi Valley or Niamara in the Highlands of Manica. Manyikeni is relatively near the Indian Ocean and stands as the best example of the most studied stone enclosure of Mozambique. However, it is not clear why it was found in isolation. All we know is that Manyikeni was a probable connecting point between the coast and the hinterland for coastal trade. As the chronology indicates the Zambezi valley is the region where the Zimbabwe Tradition has developed, in Mozambique, between ca 1400-1800. However, the Zimbabwe Tradition is not restricted to stone buildings as commoners lived in sites without such obvious indicators of prestige. The variation of prestige buildings with or without stones was found, particularly, in the Zambezi Valley, forming the cultural history of the country. This is analysed in this paper, using a variety of archaeological evidence combined with the environmental characterization of the Zimbabwe Tradition, focused on the Zambezi Valley. As pesquisas arqueológicas do Dungo, Sudoeste de Angola Maria da Piedade de Jesus Museu Nacional de Arqueologia, Benguela - Ministério da Cultura de Angola Embora a existência de peças líticas pré-históricas em Angola tenha sido mencionada desde o fim do século XIX, a Arqueologia Angolana é muito pouco conhecida, quer por falta de mais publicações quer por falta de uma divulgação mais ampla. Entretanto, o Museu Nacional de Arqueologia de Benguela, a única estrutura arqueológica do país, tem desenvolvido trabalho de pesquisa desde a sua criação em 1976. Embora inicialmente os trabalhos de campo se tenham resumido a prospeções e algumas sondagens, com a colaboração da Universidade de Paris 1 nos princípios dos anos 90, fez-se a introdução de novos

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métodos, passando a se desenvolver escavações com métodos modernos, onde a cronologia e a atribuição cultural dos vestígios arqueológicos são o resultado. Assim, o conjunto de conhecimentos e reflexões associados aos métodos modernos aplicados às escavações feitas nesta região do Dungo (a Sul da Baia-Farta, província de Benguela) a observação minuciosa dos vestígios arqueológicos dentro do seu contexto ou ainda a pluralidade de estudos e análise permitiram pôr em evidência a existência de sítios estratégicos que mostram a longa ocupação desta parte do país. Esta indústria lítica do Dungo figura entre as mais antigas conhecidas hoje em Angola. O estudo cronológico foi obtido através do novo método baseado na idade de enterramento das peças líticas. Este método permitiu determinar que os líticos de Dungo VI foram enterrados durante um longo período datado entre 1 e 2 Milhões de anos. Nouvelles données sur la Préhistoire récente angolaise: le gisement de Cabolombo à Benfica revisité Nicolas Valdeyron1 e Sónia Domingos2

1. Université Toulouse-Lé Mirail 2. Université Agostinho Neto Le choix de ce thème ce relacionne avec l’intérêt que j’ai pour les périodes LSA et l’Age du fer, l’expansion Bantu et la production céramique. Ma préoccupation fondamentale, qui oriente les parties du travail et qui donne un focus spécifique au thème, n'est pas seulement de faire l'étude de la typologie céramique des sites archéologiques du littoral au Sud de Luanda, mais aussi à partir de cet étude, établir un tableau chronologique pour la céramique préhistorique de la région de Luanda, pour tracer des lignes maîtres pour un futur travail de recherche. Celui-ci essaye de savoir quelles étaient les communautés qui ont produit ces séries céramiques, quel était l'impact de la production céramique sur leur économie, afin de comprendre une série de questions liées à ces communautés et, en particulier, d’apprécier le rôle exact des populations de tradition Bantu dans la diffusion et/ou l’adoption de cette production céramique. J’aimerais dégager une identité culturelle à partir des caractéristiques morphologiques et décoratives des tessons archéologiques. Cette étude sera importante dans la mesure où elle contribuera à dynamiser la recherche et donc à augmenter la connaissance de la préhistoire angolaise: en attendant de disposer de suffisamment d’éléments pour pouvoir aborder ce genre de problématique. Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 3ª Sessão – Política e cultura científicas. I Moderadores: André Heraclio do Rego e José Mendes Ferrão (E)coando a Claridade. Cultura, Ciência e Colonialismo Sérgio Neto Doutorando em Altos Estudos Contemporâneos, Universidade de Coimbra A produção literária cabo-verdiana da contemporaneidade, assim como alguns dos primeiros ensaios no âmbito das ciências sociais, conheceu na revista Claridade (1936-1960) um campo fértil. Influenciados por autores portugueses e estrangeiros, mas sobretudo pelo sociólogo brasileiro Gilberto Freyre, os cultores daquela revista procuraram examinar a vida local com recurso a modelos explicativos oriundos das ciências sociais, que punham a tónica na revalorização da africanidade e da mestiçagem. Nesse sentido, se as recolhas de poemas, histórias populares e elementos do cancioneiro insular estiveram em estreito diálogo com a antropologia, a sociologia e a etnografia, é inegável que a investigação em torno destes elementos andou de mãos dadas com inquietações de natureza identitária.

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Partindo destes pressupostos, pretende-se analisar o contributo dos autores de Claridade, a sua relação mais ou menos empírica com as ciências sociais, sem esquecer as implicações da teoria luso-tropical de Gilberto Freyre, em Cabo Verde e em Portugal. A Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais e a política científica nas colónias Tiago Brandão Doutorando do Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas Até há cinquenta anos, a história da ciência e a história do colonialismo viviam em esferas diferentes. A sua relação era incontestável, mas os respetivos tópicos de estudo encontravam-se funcionalmente isolados. Porém, a partir da década de 1960, com o princípio da era do “fim do império” e a progressiva descolonização, emergiu um interesse pelo estudo da ciência e tecnologia como instrumento de desenvolvimento póscolonial. Igualmente, emergiu uma corrente de estudos que se interessou pelos métodos que as potências coloniais europeias, através de séculos, usaram para cultivar e empregar a ciência, tendo em vista vantagens económicas e políticas de controlo (MACLEOD, 2001). No quadro nacional, a abordagem da história da ciência no âmbito do Império e das colónias não revela nem a maturidade nem a sofisticação interpretativa do panorama internacional, nomeadamente no que se refere aos casos das colónias britânicas e francesas. Existe, contudo, um ou outro estudo de referência, mormente sobre as instituições que se criaram durante o período que decorreu entre a Conferência de Berlim e o fim do Império português. Existem de facto alguns estudos sobre instituições como a Sociedade de Geografia de Lisboa (1875) e as comissões de cartografia (1876, 1880, 1883), mais estudadas (SGL, 1950; MENDES, 1982; GUIMARÃES, 1984; SILVA, 1997; VERÍSSIMO, 1999), mas também alguns estudos que carreiam quantidade assinalável de informação à história ainda pouco conhecida da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais – JMGIC (IICT, 1983; CASTELO, 1999), criada em 1936 (no âmbito da reorganização do Ministério das Colónias, pelo Decreto-Lei 26 180) e amplamente reorganizada em 1945 (Decreto-Lei 35 395). Afigura-se que depois de uma fase inicial em que a empresa científica é uma extensão da exploração geográfica, que incluía mesmo a inventariação dos recursos naturais, as décadas de 50 e 60 apontam para uma intensificação e expansão dos trabalhos da JMGIC. Indícios apontam para que nesta “segunda fase de expansão” da chamada “ciência colonial” ter-se-á atingido um mais alto nível de atividade científica, devido ao maior envolvimento, tanto de cientistas como do poder político na empresa científica colonial. Durante o início da segunda fase, a história natural continua a motivar grande interesse científico, mas torna-se evidente que a ciência colonial aumenta os estudos científicos, aumentando-se os trabalhos e as áreas de estudo. É também o momento em que os investigadores se fixam localmente, mais ou menos dependentes da metrópole, pelo menos a partir de 1955, altura em que são criados os Institutos de Investigação Científica e de Investigação Médica de Luanda e Lourenço Marques (Decreto n.º 40 078). Parece evidente, pois, a emergência da ideia de uma política científica ao serviço da valorização das colónias, e que assume determinadas características. É este aspeto que procuraremos seguir para a comunicação que proponho, a partir da história da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais (1936-1974).

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Etnohistória e colonização portuguesa: revisitando a historiografia colonial de Moçambique Manuel Lobato Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical À distância de quase quatro décadas sobre o fim do império africano português, continua a verificar-se uma escassez de estudos sobre o conjunto da historiografia portuguesa produzida durante a época colonial. No caso de Moçambique, verifica-se que, apesar da valorização das diferenças étnicas no discurso emitido pelas autoridades coloniais e da abundância de fontes literárias e arquivísticas, pouco foi feito no campo da etnohistória dos povos de Moçambique durante aquele período. O destaque concedido às formações políticas mais relevantes, como o chamado «império» do Monomotapa, acabaria por convenientemente não ir além do enfoque na presença portuguesa numa região cujo centro político, embora situado fora do território moçambicano, tinha sido alvo de reivindicação portuguesa até ao Ultimato de 1890. Entre esta data e o advento do Estado Novo, a historiografia colonial pouco foi além de um panegírico aos «heróis» das campanhas de ocupação e às figuras ligadas às primeiras realizações da «instalação colonial». Descaracterizadas sob a forma de régulos vencidos, as formações políticas africanas cederam lugar ao fundo indiferenciado dos «indígenas», no qual se diluíram retrospetivamente as suas personalidades histórico-sociais, reconvertidas cientificamente em «primitivos», objeto de estudo da antropologia. Significativamente, aos antropólogos se deve o início do resgate da memória histórica desses povos e o reconhecimento da existência de uma «história pré-colonial de Moçambique», em cujo primeiro esboço os colonizadores se tornam atores de segundo plano. Alguns autores, escolas e instituições, como a Junta de Investigações do Ultramar, que produziram estudos e documentos nas áreas da etnohistória e da história colonial de Moçambique, em maior ou menor articulação com os discursos oficiais, são assim revisitadas e postas em perspetiva, por comparação com o trabalho entretanto iniciado nos meios académicos anglo-saxónicos desde finais dos anos 50. Cabe ainda assinalar que a própria historiografia colonial produzida durante o Estado Novo não esteve, evidentemente, isenta de clivagens internas. Estas correspondem, em parte, à dificuldade em ajustar critérios de exigência e de rigor científico à mensagem oficial de uma suposta vocação imperial propensa a esbater as particularidades históricas, não sendo também alheia a uma diferença de perspetiva dos colonos europeus relativamente à visão dominante emanada da metrópole. A produção historiográfica colonial no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa (1945-73) Maria João Soares Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical A Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, criada em 1936 no âmbito da reforma do Ministério das Colónias, mas que só iniciaria a sua atividade em 1940, visava alargar a ciência colonial a novos domínios a fim de recuperar o atraso português relativamente a outras potências coloniais europeias. Passaria, assim, a contemplar no seu espetro novas «missões científicas» no âmbito das ciências sociais e humanas, especialmente nos campos da antropologia e etnografia, para o que incorporou nos seus quadros especialistas do terreno e académicos. Porém, em 1945, com a aproximação do ciclo de comemorações dos «cinco séculos do império português», a Junta sofreria uma primeira remodelação pela qual, a par da criação das missões antropológicas e etnológicas e, no ano seguinte, do Centro de Estudos de Cartografia e Geografia Colonial, foram também criados núcleos de investigação nas colónias – nomeadamente o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa.

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No caso da «Guiné portuguesa», esta reforma científico-institucional traduziu-se na intensificação dos trabalhos de campo relativos às estruturas tradicionais e etnográficas locais. Sobressaíram neste domínio os trabalhos elaborados por A. Teixeira da Mota, António Carreira, Fernando Rogado Quintino, Manuel Belchior e José Mendes Moreira, entre outros. Daqui resultou a base do conhecimento científico do século XX sobre aquela colónia portuguesa, constituindo-se muitos desses estudos em obras de referência. Do contato direto com a realidade no terreno emergiu a necessidade de melhor conhecer a história da Guiné do ponto de vista político, social e económico, sendo dada particular ênfase à pesquisa de documentação arquivística. Para a divulgação da produção científica do CEGP surgiu, no mesmo ano, pela mão do governador Sarmento Rodrigues, o Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, «órgão de informação e cultura da colónia», que publicaria 111 volumes entre 1946 e 1973, bem como um conjunto de monografias etnográficas e de estudos da história da expansão e de literatura de viagens. O Boletim seria considerado por vários especialistas, entre os quais René Pélissier, como a melhor publicação periódica científica das colónias portuguesas, tal como o CEGP foi reconhecido como instituição científica colonial de excelência, resultando num ciclo de saber que ficaria conhecido como a «geração do boletim cultural». Neste estudo pretende-se destacar os objetivos e o quadro concetual que pautaram o labor dos seus autores, bem como cotejar as temáticas veiculadas no BCGP com alguns exemplos de historiografias congéneres da área da Senegâmbia. ‘Official Cartography’ and ‘Litigant Cartography’ in the Tropics: reinterpreting the Molucas’ dispute Antonio Sánchez Martínez Centro Inter Universitário de História das Ciências e da Tecnologia, Universidade de Lisboa The purpose of this paper has a dual function. On the one hand, I want to emphasize how the State, on the basis of territorial sovereignty, ordered mapping as a hegemonic tool of political power during the reigns of the Catholic Monarchs and Charles V in Spain, and John II, Manuel I and John III in Portugal. After the great ocean voyages of the fifteenth century and the new geographical discoveries, both the modern state as Spanish and Portuguese had glimpsed the importance of creating an "official cartography" for the maintenance of their overseas empires, a science to work only for the state's interests. In short, the new hegemonic powers discovered the need to establish what we might call the institutionalization of the art of making maps. A well known example was the establishment in 1503 of the House of Trade in Seville by Ferdinand and Isabella. On the other hand, as a result of continuous feedback between the state and cartography, geography in general and maps in particular observed in the expansionist policies of the European empires a mine of opportunities for upward discipline was about to build a world ever more in line with reality. The case of the exploitation rights in the Moluccas is a prime example to analyze the inexorable symbiosis between science and power, modern state and mapping. The problem of the demarcation line drawn from the Alexandrine Bulls of 1493 and, therefore, the Treaty of Tordesillas, which was held the following year, predicted a long-running dispute which was more at stake than the exotic eastern islands. The geographical distribution of the world took more years and disadvantages expected. From its origins it was also a mapping issue. Maps either side exerted an influence not only necessary but also essential. If the official cartography hosted by the State worked with it to establish its territorial domains, would be the 'legal cartography', as we called François Dainville in a 1970 article, which attempted, through the evidence, resolve disputes as of the Moluccas. Such was the case of the map made in 1529 by Diego Ribero for Charles V and materialized in the Treaty of Zaragoza in the same year. It put an end to a series of boards (Juntas), such as the Badajoz-Elvas in 1524, aimed at the scientific resolution of the problem by expert committees of both monarchies, in most cases

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experienced cosmographers. Never before has the power of the image had been so decisive in resolving a scientific-diplomatic dispute. António de Almeida (1900-1984): entre a conceção de hierarquização das raçase a abordagem biocultural na obra antropológica realizada nos trópicos Vitor Luís Gaspar Rodrigues e Luís Frederico Dias Antunes

Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical É sabido que a obra do professor António de Almeida, bem como a de outros antropólogos da primeira metade do século passado, foi realizada à luz das teorias, conceitos e metodologias, que à época ainda eram prosseguidas pela Antropologia, ou seja, de acordo sobretudo com as teorias do determinismo biológico e em harmonia com as técnicas e metodologias que tomavam a medida e as características do crânio com o objetivo de classificar e hierarquizar os seres humanos segundo a raça, índole, caráter, inteligência, etc, teorias que se encontravam historicamente associadas à ideia de superioridade do homem branco ocidental. No entanto, a perspetiva antropobiológica na obra de António de Almeida não anulou a vertente cultural que incutiu nas suas missões científicas nos trópicos e nos seus trabalhos de investigação, nomeadamente, a forma como conseguiu perfilhar a perspetiva de que o homem tem que ser estudado no contexto da complexidade antropológica, tendo em atenção não só a intervenção do ecossistema, mas, também, o papel do código e do comportamento genético, da cultura individual e coletiva. A comunicação que nos propomos apresentar preocupa-se, sobretudo, com os aspetos relacionados com a antropologia cultural na obra de António de Almeida. Mulheres cientistas e os Trópicos: uma visão preliminar Ana Cristina Martins K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical O contributo das mulheres para o progresso da ciência em Portugal é tema ainda recente na historiografia portuguesa. Não obstante, tem evidenciado a relevância de alguns nomes para o entendimento holístico da sociedade, da cultura e das mentalidades, da História mais recente do nosso país. Entre a multiplicidade de aspetos a abordar neste âmbito, destaca-se o envolvimento, direto e indireto, de mulheres cientistas no processo de desenvolvimento e afirmação da ciência colonial portuguesa. Configurando uma das áreas ainda menos exploradas neste domínio da História e da Filosofia da Ciência e da Técnica, urge recuperar os seus nomes; analisar o trabalho produzido (entre o campo e o gabinete); escrutinar a sua participação em reuniões científicas (nacionais e internacionais); criticar as suas publicações; reconstituir o seu percurso académico e redes de contatos científicos. Somente assim será verdadeiramente possível conhecer a medida da sua contribuição para o evoluir das diferentes áreas disciplinares, de um modo geral, e da ciência nos Trópicos, em particular, retirando do anonimato mulheres que, por circunstâncias diversas, foram esquecidas ou secundarizadas, pese embora a consequência do trabalho aduzido. Neste sentido, a nossa comunicação procurará lançar um primeiro olhar sobre o tema, como primeiro passo de um projeto de investigação que ambiciona descrever e examinar a produção científica colonial levada a efeito entre nós por mulheres nos primeiros anos da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, com realce para as áreas botânica e geológica.

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6 de janeiro Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 4ª Sessão – Política e cultura científicas. II Moderadores: Fátima Nunes e Vítor Rosado Marques Stars, storms and land: astronomy, meteorology and observatories in the Portuguese colonial enterprise Pedro M. P. Raposo Centro Inter Universitário de História da Ciência e da Tecnologia, Universidade de Lisboa The deployment of science, technology and medicine (STM) as a tool of empire has been stressed in the historiography of the last decades. However, the most recent trends in post-colonial studies have reframed this somewhat unidirectional instrumentality of STM in terms of mutual exchanges and reconfigurations between the knowledge systems and traditions of colonisers and natives. In this paper I develop a complementary perspective, aimed at shedding light on the role of STM in the antagonisms and negotiations raised and enforced by conflicting colonial interests. I shall illustrate it with the foundation and early history of the Campos Rodrigues Observatory (CRO), established in Lourenço Marques (nowadays Maputo) in 1906 as an official timekeeper and a ‘centre of calculation’ for meteorological investigations. This undertaking represented a statement of Portuguese presence and domain in the context of the modus vivendi earnestly developed with England, Portugal’s purportedly oldest ally but its fierce colonial competitor (and, to a considerable extent, overlord) in south-eastern Africa. By recontextualizing and refreshing expertise transferred from metropolitan observatories (Astronomical Observatory of Lisbon, Infante D. Luiz Observatory), the CRO also became an institutional exemplar where timekeeping, meteorology and support to territorial command were articulated in order to suit the Portuguese colonial enterprise. The João Capelo Observatory in Luanda will be discussed as an example of its replication. Os edifícios do Instituto de Medicina Tropical e de Investigação Médica de Angola: reflexos da metodologia da Investigação em Medicina Tropical na década de cinquenta Mariana de Oliveira Couto Doutoranda do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra A Escola de Medicina Tropical surgiu em Portugal em 1902 e, em 1935, passou a denominar-se Instituto de Medicina Tropical (IMT). Este ficou instalado na Cordoaria Nacional até 1958, data de inauguração do atual edifício. A década de cinquenta representou o período áureo desta instituição. Foi sobretudo nesta época que foram criadas Missões Permanentes e Institutos de Investigação Médica, evidências de uma mudança radical na metodologia de investigação do IMT: este dispunha, agora, de infraestruturas nas colónias. Assim, entre 1945 e 1960 surgiram várias instituições que conduziram à diminuição do número de missões periódicas: a Missão Permanente de Estudo e Combate da Doença do Sono da Guiné-Bissau, a Missão de Prospeção de Endemias de Angola, os Institutos de Investigação Médica em Angola (IIMA) e Moçambique e as Missões Permanentes de Estudo e Combate de Endemias de Cabo Verde, de Timor e de S. Tomé e Príncipe. O IMT ficaria com a responsabilidade de orientação das atividades desenvolvidas; no entanto, só o IIMA manteve colaboração científica com o Instituto de Medicina Tropical até à década de 70, razão pela qual se optou pelo seu estudo.

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O presente trabalho expõe, assim, uma análise do edifício do IMT e do IIMA procurando contextualizar missões que contribuíram para o desenvolvimento da medicina tropical e refletir acerca do modo como cada construção articula um programa e uma linguagem que traduz, afinal, as complexidades do pósguerra português. Intervenção médica nas populações coloniais e póscoloniais: continuidade, mudança e a soberania política nacional Ricardo Pereira Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra A recente aplicação em Relações Internacionais das conceptualizações propostas por Michel Foucault (1926-1984) sobre biopolítica, ou ‘governo das populações’ e governamentalidade, ou ‘governo do governo’ na descrição das relações de poder entre financiadores e fazedores de política dos principais programas internacionais, por um lado, e recetores, por outro, aponta para um forte elemento de continuidade neste tipo de intervenção. Enquanto que na época colonial a intervenção médica junto das populações tinha por objetivo a concretização de políticas de segurança dos impérios europeus, legitimação dos governos coloniais e facilitação da evangelização cristã, também atualmente as mesmas lógicas, associadas ou alternadas com discursos liberais de direitos humanos, continuam a constituir as bases políticas para a implementação. Por outras palavras, o caráter imperial das políticas permanece e eventualmente intensifica-se. Partindo da perspetiva de que o instrumentário pós Foucauldiano se revela limitado, nomeadamente no que respeita à questão da autonomia (agency) humana, esta apresentação explora o caráter da emergência da soberania política nacional e sua implicação para o debate sobre continuidade e mudança. Esta exposição argumenta que, antes de mais, um conhecimento mais aproximado da soberania política nacional, em especial na região da África Subsaariana, principal locus dos programas de saúde atuais, obriga à reconversão da lente teórica de análise. Para nós tal implica centralizar a análise na atuação do Estado nacional à luz da questão estrutura-agência desenvolvida por Kenneth Waltz, porém, devidamente adaptada à realidade dos Estados em causa e o impacto histórico-político da estrutura internacional nos mesmos. Medicina e dieta no início do século XIX: a alimentação dos doentes no Real Hospital da Ilha de Moçambique Eugénia Rodrigues1 e Anita Correia Lima de Almeida2

1. Centro de História, Departamento de Ciências Humanas, Instituto de Investigação Científica Tropical

2. Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

O Real Hospital da Ilha de Moçambique desempenhou, desde o século XVI, um papel relevante na construção do império português do Índico, sendo o mais importante desta região a seguir ao de Goa. Nele eram assistidos os soldados e os moradores da colónia portuguesa de Moçambique, mas também os tripulantes e passageiros das naus da Índia, que encontravam na escala da ilha a primeira assistência para as suas enfermidades. Alimentar os numerosos doentes era uma árdua tarefa diária devido à dependência da ilha das importações alimentares do continente africano, das ilhas do Índico e dos portos da Índia. Muitos dos hábitos alimentares aí prevalecentes no final do século XVIII indicam uma forte influência da cozinha do Índico, com interferências africanas e europeias. Nas primeiras décadas do século XIX, a atuação de físicos-mores formados nas universidades europeias tendeu a configurar a alimentação dos doentes de acordo com as teorias médicas neohipocráticas em voga. Através da prescrição dietética das refeições visava-se alimentar os doentes de acordo com os preceitos do discurso médico. Pretende-se, nesta comunicação,

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discutir a importância da alimentação no discurso médico e a sua articulação com as práticas alimentares no Hospital Real da Ilha de Moçambique. Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais portugueses, através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito do projeto HC/0121/2009, Tratado Médico sobre o Clima e Enfermidades de Moçambique, coordenado por Eugénia Rodrigues, no Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa. De-centering Colonial Science: The Angolan Health Service in the Interwar Period Samuël Coghe Max Planck Institute for the History of Science, Berlin Until now, the debate on science in the Third Portuguese Empire has strongly concentrated on scientists and institutions in the metropolis and the research missions they conducted in the colonies. While it remains important for historiography to deal with these long neglected scientific activities, privileging metropolitan actors runs the danger of reiterating a Eurocentric approach to Portuguese colonialism and obscuring knowledge produced within the colonies. Focussing on the Health Services in Angola in the 1920s and early 1930s, I will show that colonial doctors there were not merely applying canonic knowledge produced and taught at the Escola de Medicina Tropical (EMT) in Lisbon. In parallel to the establishment of African health care and aided by Goan doctors, the medical department in Angola stimulated local research on tropical diseases. As the findings were presented at international conferences and in Angola-based medical journals, the Angolan health services challenged the position of a declining EMT. Against the backdrop of persistent depopulation anxieties, doctors also engaged with demographic research on the ‘endangered’ African populations. Although, as doctors, they remained interested in morbidity and mortality statistics, their demographic inquiries increasingly privileged natality related indices. I will argue that this reflected a shift in perception: throughout the first decades of the 20th century, the importance of epidemic and, to a lesser extent, endemic diseases in colonial discourse declined and low birth rates and child mortality came to be seen as the main threat for Angola’s indigenous populations, and hence for the future development of the colony. Transferindo conhecimento e ideologia: arquitetos portugueses nos Trópicos Madalena Cunha Matos e Tânia Beisl Ramos Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design, Faculdade de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa No século XX, sobretudo a partir da década de 20, ocorreu um surto de emigração de arquitetos portugueses para os trópicos, para o que muito contribuíram as escassas oportunidades de trabalho. O processo começou de modo lento e pontual e intensificou-se no segundo pósguerra, atingindo valores elevados durante as décadas de 60 e 70. Sintomaticamente o auge coincidiu com o desencadear das guerras coloniais, tornou-se persistente nos anos subsequentes ao início da luta armada, e cessou em 1974.

Estes arquitetos produziram vastíssima obra na marcação infraestrutural e edificada dos territórios submetidos à soberania portuguesa – nos espaços africanos e, em menor escala, nos mais reduzidos espaços asiáticos. A obra multifacetada que produziram abrangeu o urbanismo e um leque muito diverso em programas funcionais, desde a pequena escala à escala territorial. Essas intervenções referenciaram o espaço geográfico e definiram a armadura urbana do que são ainda hoje as concentrações urbanas definíveis como cidades e funcionando enquanto tal. Foram um poderoso marco de modernidade, embora, tal como é vivido o ethos colonial, de uma profunda desigualdade. Se transportaram conhecimento, transportaram também ideologia -

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conquanto em muitos se distinga a carga da contradição, entre um ideário de liberdade e igualdade e a sua inserção numa pesada malha de práticas sociais.

O estudo trata dos percursos desses arquitetos desde Portugal até aos trópicos e abrange tanto profissionais pouco conhecidos como os considerados notáveis. Incide sobre trajetórias de emigração e processos de fixação. A análise dessa dinâmica permite identificar padrões de relacionamento social e profissional e distinguir traços específicos consubstanciais à análise de redes sociais.

A JMGIC e a investigação do património arquitetónico português ultramarino – o caso da viagem de Mário Chicó à Índia Portuguesa Vera Félix Mariz Doutoranda do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa O Estado Novo (1933-1974), enquanto regime nacionalista e imperialista, entendeu o património arquitetónico ultramarino como um testemunho triunfal da legitimidade portuguesa além-mar. Todavia, o estado de conservação dos monumentos portugueses ultramarinos, consequência do trinómio tempo-desconhecimento-incúria, era trágico, o que fomentou a necessidade de desenvolver uma complexa obra de salvaguarda patrimonial. Quando a Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais (JMGIC) foi criada, em 1936, enquanto organismo de investigação, coordenação e consulta, pretendeu-se, claramente, alargar a investigação a áreas do saber além da cartografia. Assim, numa altura em que as intervenções nos monumentos ultramarinos eram imperativas, aquele património memorialmente eloquente beneficiou, claramente, da criação da JMGIC. Data de 1951 o caso de estudo mais relevante em termos de investigação patrimonial ultramarina apoiada pela JMGIC. Efetivamente, o subsídio de viagem à Índia, concedido ao Professor Mário Chicó (1905-1966) pela JMGIC por sessenta dias, é um marco incontornável para a investigação da História da Arte Portuguesa e, consequentemente, para a salvaguarda do património português de Goa, Damão e Diu. Deste modo, pretendemos analisar a viagem de investigação de Mário Chicó e companheiros, identificando a dinâmica e metodologias de investigação, e demonstrando a importância deste périplo, do qual resultou, como forma de disseminação de conhecimento, a realização de uma exposição, a publicação de livros e artigos e a apresentação de conferências. A apresentação deste estudo irá permitir a divulgação de um aspeto pouco conhecido da atividade da JMGIC, enquanto, também ela, incontornável promotora da salvaguarda patrimonial dos monumentos portugueses ultramarinos durante o Estado Novo.

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Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 1ª Sessão – Saberes tradicionais e governação local Moderadores: Jean-Pierre Contzen e Maria das Graças Lins Brandão A escrita missionaria como narrativa etnográfica – em torno da literatura missionária sobre o Kongo e a região mbundu (XV-XVIII) Carlos Almeida Arquivo Histórico Ultramarino, Instituto de Investigação Científica Tropical

A expansão europeia iniciada, a partir do séc. XV, gerou um movimento de alargamento e multiplicação de saberes e conhecimentos. Até que tais saberes se cristalizassem em campos disciplinares autónomos, dando lugar à afirmação de profissionais investidos de autoridade e metodologias específicas para o aprofundamento desses conhecimentos, foi a Igreja e, em particular, as ordens religiosas, o principal centro de acumulação e produção de saber. Se a missionação católica constituiu um dos vértices fundamentais da empresa colonial, a diversidade de cenários nos quais ela foi empreendida, e a complexidade das relações que aí se entreteceram com as culturas locais deu lugar à produção de um assinalável corpus textual onde, de par com a propaganda da obra e a exaltação do exemplo dos religiosos, se ensaia um esforço de compreensão da diversidade do mundo em áreas diversas e que se acolhem, hoje, em disciplinas tão diversas como a biologia, ou a etnologia. A partir da produção textual de origem jesuíta e capuchinha sobre o chamado antigo reino do Kongo e as formações mbundu, esta comunicação procura debater o alcance e limites dos saberes missionários produzidos entre os séc. XV e XVIII, o modo como eles incorporam, de forma nem sempre pacífica, saberes europeus e das culturas africanas, mas sobretudo, como através deles se enuncia uma visão do mundo e do lugar que nela cabia à Europa nele desempenhar. Las primeras exploraciones científicas de Guinea Ecuatorial Enrique Gozalbes Cravioto Universidad de Castilla-La Mancha Durante mucho tiempo España apenas prestó atención a las tierras guineanas cedidas por parte de Portugal a finales del siglo XVIII. Aunque por lo general la bibliografía centra la atención en Manuel Iradier, como el gran explorador paralelo a Livingstone, con mucha anterioridad al mismo existieron otras expediciones y actuaciones individuales, cuyos testimonios son muy poco conocidos. En los mismos se pasó de una primera observación costera, al reflejo de datos de interés etnográfico, geográfico y de ciencias de la naturaleza, que han sido pasados por alto por parte de la mayor parte de los investigadores. En este sentido, en la aportación analizamos los datos recogidos desde el primer informe del portugués Vicente Gomes Ferreira, la primera descripción del interior de la isla de Fernando Poo (atual Bioco) por parte de José Varela, y el testimonio de Joaquin Primo de Rivera sobre Annobón. Las referencias descriptivas de exploradores y autores sucesivos, como Marcelino Andrés, José de Moros, Guillemard de Aragón, Joaquín Usera,el cónsul inglés Thomas J. Hutchinson, Martínez Sanz, Joaquín Navarro, Julián Pellón, o Muñoz Gaviría. A la luz de sus datos comienza el análisis geográfico y climatológico, pero sobre todo sus observaciones etnográficas resultan de gran interés. Por un lado, reflejan la visión europea sobre los habitantes de la zona. Por el otro, documentan aspetos etnográficos de gran interés. En otro sentido, manifiestan el inicio de la transformación de muchos habitantes en la antigua Clarence (Santa Isabel, Malabo). Pero también ofrecen datos históricos importantes sobre la realidad colonial, en especial, las propias limitaciones que en la época tenía la presencia española.

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A viagem do botânico Júlio Henriques à Ilha de São Tomé (1903) Natacha Catarina Perpétuo1, M. Teresa Gonçalves1, Jorge Pais de Sousa2 e António Carmo Gouveia1

1. Centro de Ecologia Funcional, Departamento de Ciências da Vida, FCT, Universidade de Coimbra 2. Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra “Desde quando o Jardim Botanico da Universidade de Coimbra começou a ter relações com os agricultores da ilha de S. Tomé, enviando-lhe plantas úteis e entre elas principalmente as da quina, para que encetassem novas culturas, nutri desejo de visitar esta ilha para ver e estudar processos agrícolas e para contemplar a esplêndida vegetação tropical.” Como se lê nas palavras de Júlio Henriques, desde que iniciou funções como professor na UC, e especialmente quando foi nomeado diretor do Jardim Botânico, que desejou conhecer a ilha de S. Tomé. Concretizou esse desejo em 1903, quando contava já 65 anos. Partiu de Lisboa, no navio Benguela, e desembarcou em S. Tomé onde foi recebido com entusiasmo pelos administradores/proprietários de várias roças, pois não era comum receber a visita de um ilustre professor, interessado no progresso da agricultura tropical. Iniciou a visita na roça Boa Entrada, percorreu diversas outras roças e regiões da ilha e terminou o percurso na roça Rio do Ouro. Regressou a Lisboa a bordo do Cabo Verde. Regressado a Coimbra, e uma vez que “o tempo passado na ilha foi curto para dela obter conhecimento completo”, Júlio Henriques intensificou os estudos sobre aquela região. O resultado desse intenso trabalho foi publicado, catorze anos depois, no Boletim da Sociedade Broteriana com o título “A Ilha de S. Tomé sob o ponto de vista histórico-natural e agricola”. Nesta comunicação propomo‐nos analisar e divulgar o impacto da viagem de Júlio Henriques na agricultura tropical e no conhecimento da biodiversidade de S. Tomé. Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia no âmbito do projeto «HC/0064/2009 - A História da Botânica na Universidade de Coimbra e a sua expressão no mundo lusófono: de Brotero a Abílio Fernandes». Natural history of useful plants from America: rediscovering the medicinal plants of Brazil Maria das Graças Lins Brandão Museu de História Natural e Jardim Botânico e Laboratório de Farmacognosia, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Minas Gerais

Plants have been used as a food and medicinal sources in the Americas for thousands of years by the Amerindians. The Portuguese and Spanish brought several of these species to Europe at the beginning of the 16th century and Brazilian plant remedies, such as copaiba (Copaifera spp.), ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes) and curares (Chondodendron sp.) have expanded to several parts of the world. Historical research can be very helpful for recovering valuable ethnopharmacological data regarding the use of plants. In Brazil, this is important and necessary due the intense and continuous destruction on native vegetation, since the discovery of the country in 1500. Much of the available information about the use of native medicinal plants in Brazil has been compiled by European naturalists who travelled throughout the country in the 19th century. The data and materials recorded by them, and deposited in European Institutions, served as an important source of information about the use of plants. At that time, the native flora was conserved, and Brazilian vegetal species were predominantly used in a traditional medicine. Since 2003, our researcher group has been recovering data and images of useful plants native of Brazil in historical bibliography and providing this information in a website (www.dataplamt.org.br), in literature produced by the group (including translation of historical books for portuguese language) and in materials for popularization of science. The objective is to contribute to the preservation and better use of the native vegetation of Brazil.

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Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 2ª Sessão – Desenvolvimento, crescimento económico e internacionalização Moderadores: Jorge Braga de Macedo e Ana Morgado Cem anos do «Ensino Agronómico Colonial». Sua contribuição no ensino e na investigação agrária tropicais. Que futuro? José E. Mendes Ferrão Instituto Superior de Agronomia O autor faz uma nota breve de enquadramento da situação política e económica nos finais do século XIX, a Revolução Industrial, a necessidade de matérias primas de origem tropical para o funcionamento das fábricas da Europa, a procura de novos mercados para os produtos manufaturados, a Conferência de Berlim, a Doutrina de Monroe, a divisão de África por interesses de países europeus, a vulnerabilidade de Portugal, ligado a territórios africanos por «direitos históricos», a imposição da «ocupação efetiva», a doutrina de Cecil Rhodes e o «Mapa cor de rosa». A reação portuguesa atrasada e insuficiente, os exploradores e os técnicos da Administração, a contratação de técnicos agrários estrangeiros por não os haver em Portugal (onde o ensino era «totalmente omisso em relação aos assuntos coloniais») habilitados para as funções, os reflexos negativos nos direitos portugueses da ação destes técnicos. A criação da Escola Colonial para preparar funcionários administrativos e o ensino agronómico Colonial cuja lecionação foi entregue ao Instituto de Agronomia e Veterinária. Breve resumo das diferentes fases deste curso (a criação, a preparação de docentes, um Jardim Colonial a especialidade colonial e a licenciatura em Engenheiro agrónomo colonial). O ensino agronómico e as fontes de financiamento para a investigação e formação dos professores. A integração do Jardim Colonial na Burocracia do Ministério das Colónias e seus reflexos negativos. A criação de novas disciplinas para uma melhor eficiência do ensino. A reforma de fevereiro de 1952 e seus reflexos no ensino tropical com a criação do primeiro curso de pósgraduação no Instituto Superior de Agronomia. As tentativas da criação de um ramo de opção no ensino agronómico e florestal sobre agronomia e silvicultura tropicais no Instituto Superior de Agronomia que se veio a concretizar mais tarde e com ele outras disciplinas de índole tropical, A criação do CIAT (IIC/ISA), seus sucessos e dificuldades. O autor, pelos anos de experiência muito vivida, indica vários caminhos de colaboração institucional, aproveitando e valorizando melhor os recursos disponíveis, entre eles a criação de um Instituto Internacional de agronomia tropical com diferentes organismos a trabalhar em «rede» incluindo a criação de estações nos trópicos para uma melhor inserção dos estudos nas ecologias locais. Outras sugestões serão apresentadas como pontos de reflexão. Colaboração interinstitucional para promoção da biotecnologia em Moçambique Ana Ribeiro, Luís F. Goulão, Ana M.P. Melo, Isabel Palos e José C. Ramalho Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica Tropical

A biotecnologia constitui uma poderosa ferramenta com aplicação em várias áreas. De entre as principais aplicações, destacam-se os programas de conservação e caracterização da biodiversidade, a bioremediação, o melhoramento genético, a biosegurança, a biomedicina, entre outros. No entanto, a implementação de programas de biotecnologia é bastante onerosa e requer a disponibilidade de massa crítica devidamente qualificada. Nesta conferência será apresentado um caso de estudo de colaboração interinstitucional, entre o Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal do Instituto de Investigação Científica

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Tropical (Eco-Bio/IICT) e várias instituições de Moçambique, visando a maximização de recursos materiais e humanos, a capacitação institucional e a excelência científica. Este programa desdobra-se em 3 vertentes, designadamente i) investigação, ii) formação e capacitação de recursos humanos e iii) definição de estratégias e assessoria. Presentemente o Eco-Bio participa em vários projetos de investigação aplicada à gestão sustentável de recursos genéticos vegetais, contribuindo com ações de caráter científico, técnico e de capacitação, com destaque para a batata doce e matas de miombo. Para além das atividades de investigação, o Eco-Bio tem estado ativamente envolvido em várias atividades de docência (licenciatura e mestrado), orientação de teses e ações de capacitação. Neste contexto, promoveu a criação da Plataforma de Biotecnologia de Plantas para a CPLP, que congrega várias instituições portuguesas, visando a mobilidade de docentes e estudantes no espaço CPLP. O Eco-Bio integra ainda a comissão instaladora do Programa Nacional de Biotecnologia do Ministério da Ciência e Tecnologia de Moçambique, ao abrigo do qual colaborou na implementação do 1º curso de Mestrado em Biotecnologia de Moçambique, cuja primeira edição teve início em 2011. Os trabalhos das Missões Geodésicas, sua contribuição para o desenvolvimento económico, científico e tecnológico dos respetivos países Paula Cristina Santos Departamento de Ciências Naturais, Centro de Geo-Informação para o Desenvolvimento, Instituto de Investigação Científica Tropical Para tornar possível o fomento e o progresso de um território com a construção de estradas, caminhos de ferro, barragens, pontes, saneamento básico, prospeção geológica, etc., havia que fazer o inventário dos seus recursos em cartas com suficiente exatidão, para o que eram necessários trabalhos de geodesia rigorosos. Estes foram realizados por Missões Geográficas criadas pela JMGIC, sucessora da Comissão de Cartografia que, iniciou a cobertura geodésica de alguns territórios embora a sua atividade se tenha centrado essencialmente na delimitação de fronteiras. As Missões realizaram um notável trabalho, reconhecido nacional e internacionalmente. Os dados, então obtidos, são agora património do Instituto de Investigação Científica Tropical, único organismo a dispor de elementos relativos a tão extensas regiões do globo. Apesar de várias décadas passadas, essas infraestruturas constituídas pelas redes geodésicas (triangulação, nivelamento e gravimetria) e documentação sobre fronteiras, são ainda de uma importância fundamental para os respetivos territórios (o que explica a frequência de solicitação de informações) pois, além de os cobrirem geograficamente, são facilmente convertíveis nos sistemas de coordenadas usados pelos atuais sistemas de posicionamento e navegação por satélite permitindo compatibilizar toda a informação georreferenciada já adquirida com a que se venha a obter, servindo assim de estrutura de apoio aos projetos de planeamento e desenvolvimento desses territórios. Pretende-se com esta comunicação apresentar o património geodésico recolhido por estas Missões e exemplificar a sua necessidade na construção do presente e futuro dos países da CPLP.

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Le rôle du gouvernement dans l’économie sociale et ses politiques de coopération internationale pour le développement régional Abdou Sané e Luiz Alfredo Silveira Centre d’Investigation en Sociologie Économique et des Organisations de l’Institut Supérieur d’Économie et Gestion, Université Technique de Lisbonne ORGAN Cet article constitue une réflexion sur le rôle du gouvernement dans l’Économie Sociale et ses Politiques de Coopération Internationale pour le Développement Régional. Il fait également objet d’une étude exploratoire avec comme objectif, la réflexion sur les raisons par lesquelles les relations internes de la communauté européenne interviennent dans l’État et sa politique de réglementation de ses activités de Coopération Internationale et dans la Communauté Universitaire. La thématique "intégration régionale et développement économique" est d’actualité, en l’occurrence dans les pays qui furent l’objet de processus colonisateurs très importants socialement. Mais aussi, diverses organisations internationales sont préoccupées par la question: c’est le cas, parmi tant d’autres, de l’Organisation internationale de la francophonie, de l’Organisation internationale de l’anglophonie – COMMONWEALTH – ou de la Communauté des pays de langue portugaise (CPLP). Celles-ci sont des organisations qui désirent construire des liens d’union entre divers peuples avec comme programmes, intégration interétatique et développement socioéconomique dans cette ère du processus de globalisation. Les enjeux sont nombreux, car ces pays, dont la plupart ont un niveau de développement très bas, un taux de scolarisation en dessous de la moyenne des pays donneurs, l’accès difficile aux nouvelles technologies et la précarité des infrastructures, rendent fragile l’intégration régionale et le développement économique accéléré. Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 3ª Sessão – A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental Moderadores: Esperança Costa e Luís Mendes Estrutura e composição da vegetação lenhosa da barra do Rio Cuanza, Angola Esperança Costa1 e Luís Catarino2 1. Centro de Botânica, Universidade Agostinho Neto, Angola 2. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical O Rio Cuanza é um dos mais importantes de Angola, quer em extensão, quer em valor ecológico. A beleza natural do estuário do Cuanza e a sua localização a cerca de 70km a sul de Luanda, dotam esta zona de elevado potencial para a implementação de infraestruturas turísticas e residenciais. Neste trabalho caracteriza-se a estrutura e composição dos principais tipos de vegetação lenhosa da Barra do Cuanza e discute-se o respetivo estado de conservação. A vegetação lenhosa da Barra do Cuanza, é composta por dois grandes grupos de comunidades vegetais: mangais e vegetação lenhosa aquática no leito e margens alagadas do rio e savanas arborizadas nas zonas baixas não alagadas e nas zonas de encosta. Os mangais têm uma estrutura com grande desenvolvimento em altura, elevada cobertura total, estrato arbóreo de 20 a 25m e estrato arbustivo 3 a 5m de altura. O estrato arbóreo é composto exclusivamente por Rhizophora racemosa e no estrato arbustivo é dominante Dalbergia ecastaphyllum. Ligeiramente a montante, onde a salinidade da água é menor, ocorre igualmente nas margens e leito do rio vegetação lenhosa com espécies aquáticas e hidrófilas maioritariamente de porte arbustivo, dominada frequentemente pela palmeira Raphia vinifera e por D. ecastaphyllum. Nas zonas baixas não alagadas ocorre savana, regularmente queimada, em que o estrato herbáceo é dominado por gramíneas e o estrato arbóreo é constituído pela palmeira Hyphaene guineensis. Nas encostas sobranceiras ocorre igualmente savana arborizada em que Adansonia

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digitata, Euphorbia conspicua e Sterculia setigera, são dominantes no estrato arbóreo, sendo o estrato arbustivo dominado por plantas espinhosas e o estrato herbáceo por gramíneas e plantas suculentas. O estudo e preservação da vegetação da Barra do Cuanza constituem uma base importante para o desenvolvimento sustentado desta zona estuarina. Flora e vegetação da Guiné-Bissau – perspetiva histórica, presente e futuro da contribuição do JBT/IICT Luís Catarino, Maria Adélia Diniz e Eurico S. Martins Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical Mantendo uma atividade iniciada ainda no século XIX e prosseguida durante todo o século XX, o estudo da flora e vegetação da Guiné-Bissau por investigadores portugueses é atualmente desenvolvido através de projetos de investigação e desenvolvimento executados com a colaboração de parceiros guineenses. Nesta comunicação são discutidos os principais contributos para o avanço do conhecimento nas várias áreas relacionadas com a diversidade vegetal. Referem-se os estudos pioneiros desenvolvidos durante as primeiras décadas do século XX, centrados no reconhecimento da flora e vegetação e sua utilização pelas populações autóctones. A partir de meados desse século foi intensificada a colheita de espécimes botânicos e foram iniciados estudos fitossociológicos e sobre a vegetação florestal, que resultaram em numerosas publicações. Após a independência da Guiné-Bissau o estudo da diversidade vegetal do seu território tem prosseguido sob a forma de projetos de investigação envolvendo instituições locais, quer estatais, quer não governamentais, executados frequentemente também em colaboração com outras entidades nacionais e estrangeiras. De entre as linhas de investigação desenvolvidas atualmente e cuja atividade se perspetiva para o futuro próximo são de referir a ecologia da vegetação, a cartografia e monitorização do coberto do solo, relacionadas com a desflorestação e as consequências das alterações climáticas, e os estudos de etnobotânica, nomeadamente sobre a utilização medicinal das plantas. Itinerários e contributos da Missão Botânica de Moçambique para o conhecimento da vegetação Rui Figueira1,3, Susana Saraiva2, Patrícia Conde2, Eurico S. Martins1, Maria Romeiras1 e Maria Cristina Duarte1

1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical

2. Bolseiras FCT, Instituto de Investigação Científica Tropical 3. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa A Missão Botânica de Moçambique (MBM) foi criada com a finalidade de elaborar estudos e de recolher materiais e elementos indispensáveis para a elaboração da Carta Fitogeográfica para o Atlas de Portugal Ultramarino, conforme o objetivo definido aquando da sua constituição. O reconhecimento do território, e da vegetação, desenvolvido nas três campanhas da MBM, entre 1942 e 1948, em conjunto com o Reconhecimento Fitogeográfico de Moçambique, encomendado a Rocha da Torre (1940-1944), permitiram o esboço da referida Carta, publicada em 1948. Os itinerários das expedições são revisitados no decorrer desta comunicação, percorrendo os trajetos com base na sua representação geográfica, à qual se associa a informação iconográfica do Álbum Fotográfico elaborado durante a própria expedição. As fotografias, situadas no espaço-tempo, permitem a análise e a interpretação das formações vegetais identificadas pelos coletores da MBM. É possível refazer, portanto, o processo de criação da Carta Fitogeográfica, confrontando-o com o maior conhecimento botânico entretanto adquirido para aquele país, e

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com as ferramentas e dados acessíveis no domínio da informática para a biodiversidade, exploradas de modo interativo. Effects of society changes in the distribution of Mozambique terrestrial vertebrate’s species Isabel Queirós Neves1 e Cristiane Bastos-Silveira2 1. Doutoranda do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro 2. Pós-Doutoranda do Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa Mozambique is rich in natural resources. However armed conflicts, people relocations, land-use changes had major effects in the country’s biodiversity. In fact, the long period of internal armed conflicts (1980-1992) lead to species extinction and degradation of important ecosystems. Information on biodiversity during this period is scarce. Consequently, large areas of the country are poorly documented. And even today, there are few assessments of the country’s biodiversity that account for recent global changes at a macro-scale. Natural history collections are repository of the vouchers for the documentation on what species exists and where, what are their habitat requirements, what ecological associations they have with other species. The collections allow the comparison of specimens across space and time, and document patterns of past and present distribution. Hence, we believe that zoological expeditions conducted prior to Mozambique's armed conflicts can notably inform on its potential biodiversity. Furthermore this data can be used to predict the future effects of human population growth and climate change on species ecological niches. We will present the ongoing project which intends to 1)infer on the vertebrates diversity potential of the country, and identify biodiversity losses during war period; 2)model the potential effects on vertebrate biodiversity of global changes; 3)select areas that should be protected (reserves and corridors). The first milestone of the project is to construct a GIS database with vertebrate records for Mozambique biodiversity. We are gathering and updating data from zoological expeditions carried out in Mozambique and kept at Portuguese and European Museums. Seriação de metodologias destinadas à produção de farinha de trigo biofortificada em Fe e Zn para populações carenciadas de países em vias de desenvolvimento Fernando C. Lidon1, António E. Leitão2, Luis F. Goulão2, Ana Ribeiro2 e José C. Ramalho2

1. Departamento de Ciências e Tecnologia da Biomassa, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa

2. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica Tropical

No âmbito de projetos de investigação, que envolvem a colaboração do Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal (Eco-Bio), do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) e o Departamento de Ciências e Tecnologia da Biomassa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (DCTB/FCT/UNL), a ação COST FA0905 “Mineral-improved crop production for healthy food and feed“, patrocinada pela European Science Foundation (ESF), pretende desenvolver estratégias de biofortificação de alimentos base, nomeadamente em Fe e Zn, para populações com baixos recursos financeiros e acentuadas carências nutricionais. Neste projeto atribui-se relevância às acentuadas deficiências alimentares em Fe, que atingem 60-80% da população mundial, com manifesta gravidade em África, assim como às graves carências na ingestão de Zn que se estimam em 25-33% nos países em vias de desenvolvimento. Adotando a perspetiva da ação COST FA0905, esta comunicação centrar-se-á em estudos realizados pelo Eco-Bio/IICT em associação com o DCTB/FCT/UNL, que pretendem

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desenvolver farinha de trigo biofortificada simultaneamente em Fe e Zn e destinada a populações com baixo poder económico, nos países em vias de desenvolvimento. O estudo descriminará estudos de fertilização em ambiente controlado, localização e deposição de macro e microelementos, fatores de mobilização de fotoassimilados e respetiva tradução nutricional em sementes de trigo. Carta Geológica da Guiné-Bissau: de 1982 a 2011 Paulo H. Alves e Vera Figueiredo LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia O IICT desenvolveu trabalhos de geologia nos Trópicos durante os últimos 50 anos, abrangendo sobretudo as antigas colónias portuguesas e, dentro destas, com particular destaque para Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé. Nestes países processou-se cartografia geológica de base sobre quase todo o território, totalizando vários anos de trabalhos de campo que culminaram com a edição de cartas geológicas a escalas entre 1:25.000 e 1:400. 000. De referir ainda, não só a publicação de informação científica vasta, mas também a edição da Carta Geológica de Angola, na escala 1:1.000.000, como síntese do trabalho de muitos autores, coordenada pelo IICT. Centrar-nos-emos no caso da Guiné-Bissau, com a apresentação dos trabalhos que levam à publicação em 2011 da Carta Geológica na escala 1:400.000, a qual se apresenta. O IICT iniciou trabalhos de geologia na Guiné-Bissau na década de 50, que se focaram depois na área da paleontologia na década de 60, mas foi após a independência do país que, entre 1981 e 1989, através de Heitor de Carvalho e com apoio do ICE (atual IPAD), se desenvolveram missões esporádicas de reconhecimento geológico, já com o objetivo de implementar a publicação de uma Carta Geológica, uma vez que apenas existiam levantamentos parciais ou então cartas na escala 1:500.000 de difusão muito reduzida (como era o caso de Teixeira 1968, inserida num livro, ou de Mamedov 1980, disponível apenas em cópia heliográfica). O projeto Cartografia Geológica (IICT-DGGM-IPAD-FCT) teve início em 1991, sendo sujeito a prolongamentos e interrupções diversas até dar lugar à publicação da Carta Geológica da Guiné-Bissau em 2011, beneficiando do apoio institucional do LNEG (2006-2011) e do IPAD. Esta Carta, em formato frente e verso, que inclui o desenho de uma nova base topográfica do país, apresenta a geologia de superfície, bem como as unidades litostratigráficas de subsuperfície e do substrato, com as respetivas profundidades de ocorrência. Correspondendo de certo modo a uma carta de Geodiversidade, engloba ainda informação hidrogeológica, hipsométrica, administrativa e bibliográfica. Corresponde ao culminar de cerca de 30 meses de missões IICT-DGGM no território, com viatura própria, levando à colheita de cerca de 2.500 amostras e à consulta e seleção de dados de entre quase toda a informação existente na Direção Geral de Geologia e Minas e na D.G. dos Recursos Hídricos, entidades que colaboraram de forma ativa com este projeto. Nesta edição foram coligidos dados de muitos outros geólogos que trabalharam no país, como foi o caso de autores francófonos e da ex-URSS, sendo de destacar ainda a colaboração de instituições como o PNUD, UNICEF, Enafur e Embaixada de Portugal. Faz-se uma apresentação da metodologia de trabalho seguida, realçando-se as características particulares da Guiné-Bissau e a interação geologia / população que decorre da necessidade de obter informação objetiva sobre o território, como país muito aplanado, com depósitos de cobertura espessos e parco em afloramentos. Estes aspetos são indissociáveis da sua geologia e condicionam fortemente os trabalhos de campo e a interpretação cartográfica e geodinâmica.

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Desde os estudos geológicos e as concessões portuguesas de exploração de minério em Goa nos anos 50 até à atualidade: uma escolha difícil entre uma pretensa espinha dorsal económica e a espinha dorsal real de ecossistema regional Teotónio R. de Souza Departamento de História, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Na base de estudos elaborados por T.S. Mota, Carrington da Costa, Luis Aires Barros, Mariano Feio, C. Teixeira e outros investigadores da Junta de Investigações do Ultramar, o governo colonial português aprovou por volta de 700 concessões de terrenos para exploração de minas de ferro e manganês nos anos 50. Foi o começo de uma exploração que tem evoluído de uma exportação de 100 toneladas em 1947 para 33 milhões de toneladas em 2010, um aumento motivado em grande parte pela procura chinesa para a construção dos seus estádios olímpicos. As autoridades indianas federais e estatais consideram a exportação do minério um recurso indispensável para a economia nacional e do estado de Goa. Mas as consequências visíveis apontam para uma destruição acelerada da inteira zona florestal do interior de Goa que inclui a região de gates ocidentais, reconhecida como uma das zonas mais ricas de biodiversidade mundial. Este estudo da problemática será baseado em vários relatórios científicos publicados e outros em curso, bem como as conclusões das comissões de investigação nomeadas pelos governos federal e estatal, e outras agências não-governamentais, tais como Goa Foundation, que foi a primeira a pedir a intervenção do Supremo Tribunal da Índia. 7 de janeiro Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 4ª Sessão – Saber Tropical na era das ómicas Moderadores: Rui Malhó e Maria do Céu Silva Forest for the future: the IICT genomic contribution Jorge A. Pinto Paiva Centro das Florestas e dos Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica Tropical Forest trees constitute 82% of the continental biomass and harbour more than 50% of the terrestrial biodiversity (Neale & Kremer, 2011). Forest have an prominent role for economy and ecology, and also represent our cultural and patrimonial heritage. In 2050 it is expected that world population reaches the 9 billion, and the demand for food and for wood and wood products, and energy will be increase dramatically, with consequent competition for land use. Highly productive and low input forest tree plantations are excellent alternatives for wood and forest products sources to circumvent the demand for wood will be met from native forests. Forest genomics can contribute for high productive and healthy forest plantations. Understanding the molecular mechanisms of the formation of wood and other forest products and plant-environment interactions has been the main driving force for the development of genomic resources. Beyond this aspect, genomic tools applied perspective is to support the different breeding programs, conservation, restoration and management of natural forests. The Forest Genomics Laboratory (FGL) at IICT’s Forest and Forest Products Center aims studying the molecular mechanisms of regulation of wood formation and adaptation of tropical and subtropical forests to adverse environmental conditions, in the frame of global climate change. The FGL develops their activity in close collaboration with Plant Cell Biotecnology Lab at ITQB/IBET Institutes (Portugal) and with LRSV (CNRS/UPS, Toulouse, France). The research as being support by several Fundação para a Ciência e a Tecnologia funded projects. FGL is open for cooperation with CPLP Forest Institutes on genomic research and advance formation.

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Better legumes and pastures for drought prone regions Susana Sousa Araújo Centro de Veterinária e Zootecnia do Instituto de Investigação Científica Tropical Legumes belong to a vast family of plants with a role in terms of food (grains) and animal (forage and pasture), economy and sustainable agriculture. Among legumes, common bean (Phaseolus vulgaris L.) is one of the most important grain legume crop with a role as a food source for both human consumption (grain) and as fodder (leaves and stalks) mainly in Latin America and Sub-Saharan Africa, where drought is a major problem. As much of 300 000 T of beans are lost to drought annually in Africa. Quality, culinary and nutritional values of beans are also affected by drought. However, they are described as relatively susceptible to conditions of water deficit and salinity (characteristics of the dry season in tropical regions), being an important aspect to take into account in breeding programs. Our group is interested in developing approaches for functional genomics (transcriptomic, proteomics and metabolomics) that when combined with classical methods of plant physiology to identify and understand the molecular mechanisms underlying the responses of Medicago truncatula legume model and Phaseolus vulgaris to abiotic stresses. The research is being developed in close collaboration with Plant Cell Biotecnology Lab at ITQB/IBET Institutes. The research as being support by several Fundação para a Ciência e a Tecnologia funded projects and constitutes an opportunity for research collaboration with CLPL research Institutes. A project devoted to international cooperation with more than half a century: the creation of Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro (CIFC) in Portugal Vítor Várzea, Pedro Talhinhas, Ana P. Pereira, Leonor Guerra-Guimarães, Helena Gil Azinheira, Andreia Loureiro, Dora Batista e Maria do Céu Silva Centro de Investigação das Ferrugens do Cafeeiro, Instituto de Investigação Científica Tropical The importance of leaf rust, the major coffee disease worldwide, led the Governments of USA and Portugal to found CIFC in 1955. Since then, CIFC played a central role creating an International Research Network of over 40 coffee growing countries (CGC) on coffee leaf rust (CLR) and more recently on coffee berry disease, aiming to assist CGC in developing resistant varieties to these diseases. Based on unique world germplasm collections (plants and pathogens) established at CIFC, research activities enabled the characterization and selection of resistant plants, with particular emphasis on the highly resistant Híbrido de Timor (HDT), which subsequently was used in breeding programs in CGC, generating over 90% of rust resistant varieties cultivated worldwide. However, recently, some of these varieties lost their resistance due the appearance of new rust races. This situation is of great concern and is leading several research institutions from CGC to request CIFC’s support. To meet these requests, CIFC developed an international action plan, including the characterization of the virulence of those new rust races and the identification of coffee plants with broader spectrum of resistance, combining genetics and plant pathology studies with phylogenetic, transcriptomic and proteomic approaches. This plan also involves capacity building and technology transfer to CGC, namely: supply of newly characterized resistant plants; training of technicians/researchers; consultancy to breeding programs in CGC such as Brazil, India, Thailand, China, Angola and Tanzania. This plan will contribute to the development of strategies to achieve durable disease resistance, promoting the development of a sustainable coffee economy.

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Posters Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 1ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias pra o século XXI. I

Herbário do IICT – Valorização do acervo e programação expositiva Rita Guerra, Luís Catarino e Maria Cristina Duarte Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical O herbário do IICT (LISC) é constituído por cerca de 300.000 espécimes, uma grande coleção carpológica e numerosos espécimes conservados em meio liquido. Existe uma vasta documentação associada, incluindo fotografias, desenhos originais, mapas e cadernos de campo, bem como utensílios e equipamento, que complementam o acervo do Herbário. No seguimento da missão do IICT, o herbário tem por objetivos apoiar investigação científica, garantir a preservação e acesso das coleções e também promover o intercâmbio científico entre países da CPLP. A atual investigação científica percorre já várias áreas, como a biossistemática e ecologia tropicais, a etnobotânica e etnofarmacologia, a biogeografia, a conservação da biodiversidade, entre outras. Alguns projetos recentes (e.g. Imbamba, Maerua, LisTypes) têm vindo a ser executados no sentido de informatizar e tornar acessíveis em formato digital as coleções do herbário. No entanto, o acervo do herbário tem ainda um grande interesse histórico-científico, essencial para compreender o contexto da investigação portuguesa nos países tropicais e um elevado potencial expositivo, que devem também ser valorizados. Neste sentido, a divulgação e usufruto do património pela sociedade podem ser promovidos através de uma programação expositiva de qualidade, que requer um conjunto de valências ativas e bem coordenadas entre si: a preservação do espólio, uma forte componente de investigação e o acesso fácil ao acervo. Nesta comunicação propõe-se um alinhamento concetual que conjugue as diferentes valências referidas no sentido de incrementar a função expositiva do herbário. Para tal a coerência narrativa deverá ser articulada com a flexibilidade na exploração de novas temáticas, formatos e espaços expositivos. Digitalização e disponibilização online de espécimes-tipo e cadernos de campo nos Herbários do IICT (LISC) e da UL (LISU) Susana Matos1,2, Ana Isabel Correia2 e Luís Catarino1 1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. Jardim Botânico, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Universidade de Lisboa O projeto LisTypes – Digitising African Types at Lisbon Herbaria teve início em 2004 nos herbários do IICT (LISC) e da Universidade de Lisboa (LISU). Foi financiado pela fundação norte-americana The Andrew W. Mellon Foundation através da African Plants Initiative, agora alargada no seu âmbito e designada por Global Plants Initiative. O projeto Listypes teve três fases em LISC, tendo as duas primeiras como objetivo a digitalização e disponibilização online de imagens de alta resolução dos espécimes-tipo africanos e informação associada. Foram digitalizados cerca de 3150 tipos, a maioria dos quais de Angola e Moçambique (66 %), sendo John Gossweiler, Hans Joachim E. Schlieben, António Rocha da Torre e Georges Le Testu os coletores mais bem representados. Na terceira fase, procedeu-se também à digitalização de 87 cadernos de campo depositados no herbário LISC.

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Em LISU, dentro das coleções africanas destaca-se pela sua dimensão e importância histórica e científica a coleção de F. Welwitsch, com cerca de 9400 exemplares. Assim, neste herbário foi dada prioridade à informatização da sua coleção botânica de Angola colhida durante a expedição Iter Angolense (1853 – 1860). Já estão disponíveis online 2747 tipos desta coleção, prevendo-se a conclusão do projeto em 2013. Os dados obtidos no âmbito deste projeto, juntamente com os das outras instituições que participam na Global Plants Initiative, estão disponíveis em http://plants.jstor.org/. Os dados de LISC estão também disponíveis através da rede internacional Global Biodiversity Information Facility (http://www.gbif.org/), do Arquivo Científico Tropical Digital do IICT (http://actd.iict.pt/) e do Portal de Coleções do JBT (http://maerua.iict.pt/coleccoes/) As Missões Pedológicas em África Madalena Fonseca1 e Inês Pinto2 1. Departamento de Ciências Naturais, Geo-Des, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical O IICT desenvolveu, desde 1946, trabalhos de investigação em Pedologia no meio tropical, sobretudo em Angola, mas também em Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Muitos desses estudos revestiram-se de um caráter pioneiro e tiveram marcada projeção internacional, de tal modo que foi mesmo reconhecida internacionalmente a existência de uma “Escola Portuguesa de Pedologia Tropical”. Caracterizaram-se quanto à morfologia e aspetos físico/químicos e mineralógicos os principais tipos de solos de Angola e definiu-se a sua taxonomia pedológica. Dessa atividade resultou, para além de uma Carta Generalizada de Solos, a publicação de um vasto conjunto de Cartas de Solos de vários distritos/províncias de Angola cujas Memórias Descritivas contêm a caracterização física/química e mineralógica de milhares de amostras. Os cerca de mil pédones publicados integram uma Base de Dados contendo a localização/geo-referenciação, fatores pedogenéticos, classificação (CEP, FAO e WRB) e diversos parâmetros analíticos das amostras estudadas com um papel muito relevante no desenvolvimento de futuros estudos sobre os solos de Angola. Os estudos desenvolvidos conduziram à construção de um Sistema de Classificação dos Solos de Angola que contribuiu de forma marcada para o progresso da taxonomia dos solos tropicais. Durante as missões pedológicas foram recolhidos vários monólitos de solo (perfis representativos em tamanho natural) que formam uma coleção única das principais unidades de solo (de Angola) a qual constitui uma ferramenta fundamental, no ensino da ciência do solo, como alternativa à observação in loco de um perfil de solo típico. Para além da sua utilidade científica e pedagógica, os monólitos, permitem ao público em geral tomar consciência do valor do solo como recurso natural e da importância da sua conservação. Georeferenciação das Coleções Fotográficas do IICT Catarina Mateus e Inês Pinto K- Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical O espólio fotográfico do IICT tem sido alvo de tratamento de conservação, catalogação, digitalização e divulgação online através do Arquivo Científico Tropical Digital. Este espólio é constituído por várias coleções que abarcam um período de entre 1860 e 1974, com diversas proveniências e temáticas, nomeadamente as Missões Cientificas deste instituto. Num trabalho de equipa pluridisciplinar, está atualmente a desenvolver-se uma atividade de georeferenciação, que tem como principal objetivo divulgar simultaneamente as imagens fotográficas do passado e localizá-las geograficamente.

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Apresentam-se duas metodologias diferentes neste processo de georeferenciação aplicadas a casos distintos: no primeiro caso, em que as coordenadas são conhecidas com exatidão, porque o trabalho fotográfico está integrado em contexto da Missão Pedológica de Angola onde já existe uma cartografia de base; e num segundo caso, menos preciso, as fotografias chegaram à atualidade sem informação agregada e apenas como ilustração do trabalho realizado pelas Missões Geodésicas, sendo por isso necessário encontrar formas de chegar às coordenadas através de ferramentas freesource online (Google). Desta forma, pretende dar-se acessibilidade não só à comunidade científica, como a um público alargado, permitindo que a pesquisa das imagens leve a diferentes “viagens” e abordagens dum mesmo local. Repensar a apresentação museológica de objetos etnográficos Maria Manuela de Castro Restivo Faculdade de Letras da Universidade do Porto Devido à sua história colonial, Portugal possui um número considerável de objetos etnográficos extraeuropeus, espalhados por museus e outras instituições. Não raras vezes, essas coleções são apresentadas numa perspetiva histórica, cronológica ou temática, sendo incapazes de suscitar interesse num público alargado. Nesta comunicação pretende-se apresentar algumas possibilidades de exploração dos objetos etnográficos em contextos museológicos que sejam mais condizentes com os desafios da museologia contemporânea. Este trabalho assenta no pressuposto de que o objeto etnográfico, em vez de portador de significados intrínsecos, deve ser visto e explorado nas suas múltiplas potencialidades semânticas (Shelton 2001), ou seja, nas possibilidades de ser continuamente reinterpretado por diferentes agentes em diferentes contextos. Trata-se, portanto, de abrir o objeto etnográfico a interpretações diversas, que surgem quer através da investigação do objeto, quer através do diálogo com diferentes agentes que com ele possam estar relacionados. O poster apresentará a forma como um determinado objeto pode ser lido e interpretado de diferentes maneiras, demonstrando-se simultaneamente a natureza contingente do objeto etnográfico e a impossibilidade de se continuarem a perseguir discursos essencializados sobre o objeto. Através deste método – a exploração de diferentes representações do objeto etnográfico – espera-se simultaneamente incluir o objeto quer em teorias quer em visualidades contemporâneas, ao mesmo tempo em que se pretende alargar as potencialidades de comunicação dos objetos etnográficos com os públicos dos museus. Oficina de Educação Patrimonial “Descobrindo um Objeto”: uma experiência educativa a partir da Exposição “Viagens e Missões Científicas nos Trópicos 1883-2010” Claudia Cristina Cardoso Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG A comunicação tem por objetivo apresentar o resultado prático da realização de uma das atividades integrantes do Serviço Educativo do IICT: a Oficina de Educação Patrimonial “Descobrindo um Objeto”. A Oficina teve como objetivo geral desenvolver uma atividade educativa utilizando como tema e foco central de trabalho a Exposição “Viagens e Missões Científicas nos Trópicos 1883-2010” e o património cultural mostrado na referida mostra, explorando as capacidades dos participantes para a observação, perceção e interpretação dos objetos e espécimes representativos das coleções científicas apresentadas. Atuando como forma auxiliar para a educação não-formal, a atividade visa também estimular e aguçar o olhar do público-alvo para outras exposições e eventos que envolvam temáticas relacionadas à preservação e divulgação do património cultural, natural e científico.

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Teve sua primeira edição em 21 de julho de 2011, como evento integrante da Colónia de Férias do IICT realizada no Jardim Botânico Tropical (Belém), com grupo de 12 crianças de 6 a 12 anos e duração de 2 horas. Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 2ª Sessão – Coleções históricas e científicas: estratégias para o século XXI. II O SIG na Delimitação da Fronteira da Guiné-Bissau Maria do Carmo Nunes e Ana Morgado Departamento de Ciências Naturais, GeoDES, Instituto de Investigação Científica Tropical A fronteira terrestre da Guiné-Bissau, com uma extensão total de aproximadamente 724km, estende-se desde o Cabo Roxo a norte até ao talvegue do Rio Cajete a sul, na costa ocidental de África. A delimitação foi estabelecida em 12 de maio de 1886, numa convenção entre Portugal e França. A falta de demarcação no terreno e o desconhecimento dos limites fronteiriços, levaram a frequentes desentendimentos locais e conduziram à necessidade de se realizarem várias missões de campo, entre 1888 e 1905, para demarcar com precisão a fronteira, estabelecida com a implantação de 184 marcos. De acordo com o programa da Conferência de Ministros dos Assuntos das Fronteiras, realizada em Addis Abeba em 2007, a delimitação e demarcação das fronteiras africanas é uma questão ainda por resolver que deveria estar concluída em 2012. A dificuldade de acesso à informação, devido fundamentalmente à sua dispersão, tem vindo a condicionar a definição efetiva dos limites fronteiriços por parte dos novos países africanos. Por razões históricas, o Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) concentra um acervo vasto e diversificado sobre fronteiras dos países da CPLP, que inclui sobretudo informação geográfica, descrita nos diversos relatórios e cadernetas de campo, esquemas, itinerários, mapas e croquis, assim como tratados histórico-diplomáticos. Esta informação georeferenciável não foi processada numa plataforma geográfica, de forma a constituir um valioso instrumento de apoio à gestão e caracterização do território. O presente estudo pretende apresentar os primeiros resultados da elaboração de um BGIS (Boundary Geographical Information System) para a Guiné-Bissau. Explorações botânicas em Moçambique nas décadas de 1930 e 1940 – contributo para o conhecimento da flora e descrição de novas espécies Susana Saraiva1, Maria Adélia Diniz2, Eurico S. Martins2, Luís Catarino2 e Rui Figueira2,3 1.Bolseira FCT, Instituto de Investigação Científica Tropical 2.Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 3.CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa

Nas três Campanhas da Missão Botânica de Moçambique (MBM), que ocorreram em 1942, 1944-1945 e 1947-1948 foram colhidos cerca de 7600 espécimes botânicos. Os principais intervenientes nestas campanhas foram Francisco Ascensão Mendonça, José Gonçalves Garcia e Luiz Augusto Grandvaux Barbosa. Além destes, António Rocha da Torre, que havia iniciado colheitas no território na década de 1930, foi encarregado do respetivo reconhecimento fitogeográfico entre 1940 e 1944, colhendo um total de cerca de 6800 espécimes e integrou a terceira campanha. As coleções destes exploradores encontram-se no herbário do Instituto de Investigação Cientifica Tropical (LISC), sendo que numerosos duplicados dos espécimes então colhidos foram distribuídos por vários herbários, nomeadamente moçambicanos (e.g. LMA, LMU), de outros países africanos (e.g. EA, LUAI, PRE, SRGH), e de países europeus e americanos (e.g. BM, BR, COI, K, MO, P, WAG).

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Os resultados científicos destas explorações botânicas estão a ser estudados no projeto “MAERUA – Motivações e resultados da Missão Botânica de Moçambique”, verificando-se que muitos dos exemplares coletados deram origem à descrição de espécies novas para a ciência, publicadas nos anos subsequentes, frequentemente com nomes homenageando os coletores. Neste trabalho faz-se uma avaliação da importância das colheitas efetuadas nas décadas de 1930 e 1940 para o conhecimento da flora do território, em particular a partir das espécies novas para a ciência descritas tendo por base estes materiais e para publicações posteriores como a Flora Zambesiaca e a Flora de Moçambique. A missão Botânica de Moçambique (1942-1948): pelos trilhos do arquivo do Instituto de Investigação Científica Tropical Patrícia Conde1 e Ana Cristina Martins2 1. Bolseira FCT, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical Organismo antecessor do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), a Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais (JMGIC) marcou, de forma indelével, o contexto colonial português de meados do século XX, vinculando ciência e agenda política, constituindo-se as diferentes missões como elementos indispensáveis para o progressivo e metódico aproveitamento dos recursos e possibilidades naturais dos territórios do império. É neste paradigma de análise que filiamos a Missão Botânica de Moçambique (MBM). Na extensão do projeto "MAERUA – Motivações e resultados da Missão Botânica de Moçambique", alocado ao IICT e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito da História da Ciência (ref.ª HC/0046/2009), esta comunicação procurará abordar o modo como esta Missão reflete a interseção entre as várias dinâmicas políticas, económicas e científicas que convergiram no programa de edificação colonial. Procurar-se-á interligar os múltiplos contextos que permitiram delinear e concretizar a Missão, desvelando, num mesmo fôlego, sobre o acervo documental do IICT, e em particular sobre as potencialidades das fontes documentais atinentes ao Processo da MBM. Volvidos 75 anos sobre a criação da JMGIC, acolheremos, assim, o 70.º aniversário da criação da MBM (Decreto-Lei 32 021, de 18 de maio de 1942), assinalando, também, os aniversários das mortes de Luiz Wittnich Carrisso (1886-1937) e Francisco de Ascensão Mendonça (1889-1982), figuras de contributo inestimável para o conhecimento da diversidade vegetal dos PALOP, ao mesmo tempo convidando a uma revisão debatida e crítica do que representou a investigação científica conduzida nos trópicos em meados do século XX. Explorações botânicas em Timor-Leste: do conhecimento florístico ao saber etnobotânico Maria Cristina Duarte1 e Maria Manuel Romeiras1,2 1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional (BioFIG), Universidade de Lisboa

O conhecimento científico da diversidade vegetal de Timor iniciou-se no princípio do século XVIII e prolongou-se ao longo dos séculos XIX e XX, em resultado de numerosas expedições científicas realizadas a esta ilha da Insulíndia. Delas destacam-se as explorações realizadas entre 1857 e 1861 por Alfred Russel Wallace, a quem se deve trabalhos preliminares sobre a distribuição das plantas. Embora o seu interesse fosse sobretudo o estudo da fauna, não deixou de notar o aspeto geral da vegetação e os tipos fisionómicos mais característicos, estando a sua coleção depositada no Herbário de Kew em Londres. De referir, ainda, Henry O. Forbes (1882-

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1883) a quem se deve uma das primeiras contribuições para o conhecimento da flora de Timor-Leste. Já em meados do século XX, destaque especial será dado ao português Ruy Cinatti que, entre outros trabalhos, publicou o “Esboço histórico do sândalo no Timor Português” e “Explorações botânicas em Timor”. Com base na sua importante obra “Useful plants in Portugueses Timor. An historical survey” e em trabalhos de outros autores será referido o uso tradicional de algumas espécies de plantas, nomeadamente as usadas na medicina tradicional. Por fim, e tendo em conta que a cultura de Timor-Leste reflete inúmeras influências e uma enorme riqueza em línguas e dialetos, para além do tétum e do português, especial relevo será dado ao trabalho de Ruy Cinatti sobre a utilização do vocabulário indígena no conhecimento da Flora de Timor-Leste. Projeto de Inventário e Catalogação das coleções paleolíticas africanas do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT) Ana Cristina Martins1 e João Pedro Cunha Ribeiro2 K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa Entre 1936 e a década de setenta, as sucessivas Missões Antropológicas organizadas no âmbito da Junta das Missões Geográficas e Investigações Coloniais, e organismos sucessores, incrementaram trabalhos de prospeção e escavação arqueológica em Angola e Moçambique. Neste último país, a construção da barragem de Cabora Bassa levou mesmo à criação, nos anos 70, de uma Brigada de Estudo da Pré-história e Arqueologia do Zambeze, esboçando com algum vanguardismo o desenvolvimento de uma estratégia preventiva de arqueologia de salvamento. As coleções paleolíticas resultantes de recolhas de superfície efetuadas em numerosas jazidas de ar livre dispersas pelo Sudoeste de Angola ou concentradas preferencialmente em torno do vale do rio Zambeze, permanecem na maior parte das situações inéditas. O inventário destas coleções, o estudo adequado dos materiais que as constituem, a reconstituição das condições em que se procedeu à sua recolha, a definição possível dos respetivos contextos, o elenco de seus protagonistas e averiguação de eventuais elos entre programas científicos e agendamentos vários, constituem o âmago do presente projeto. Pretende-se, desta forma, vir a legar às gerações vindouras o conhecimento do passado resultante das investigações que marcaram o fim da presença colonial portuguesa em ambos os países, naturalmente também ele condicionado pelo tempo e pelo modo em que tais trabalhos decorreram. Nas teias da produção científica ultramarina: a arqueologia nas Missões Antropológicas e seus múltiplos atores e objetos Rita Juliana Soares Poloni Doutoranda do Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve O presente trabalho busca analisar do conteúdo arqueológico das Missões Antropológicas, realizadas em Moçambique, Angola, Guiné e Timor, entre a década de 30 e 70, pela Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais. Buscar-se-á perceber de que forma a investigação arqueológica emerge em meio ao projeto estatal das Missões antropológicas, procurando comparar seu lugar nesses projetos oficiais com a prática científica que se efetiva por intermédio de seus atores muitas vezes nos interstícios das relações de poder governamentais. Dessa forma será possível compreender a ciência produzida pelas Missões na circulação de objetos e atores entre o sistema colonial, os universos das próprias ciências e os

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cientistas envolvidos no projeto, perseguindo a forma como esse fenómeno se constrói e se explica no tecido social português. Early Iron Age spread into Northern Mozambique: revising the data from the Mozambique Anthropological Missions (1946) João Carlos Senna-Martinez1, Ana Cristina Martins2, Inês Castelo1 e Bruno M. Evangelista1 1. UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa 2. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical The Mozambique Anthropological Missions of 1946 provided the opportunity for Professor Santos Júnior to excavate two important Early Iron Age archaeological sites in Northern Mozambique: the Riane Rock-Shelter, in Nampula Province, and Malessane in the Gurué mountains of Zambezia Province. Both remained unpublished and unknown till a first reference was made in Conceição Rodrigues PhD dissertation (2005). The importance of both sites for the understanding of Early Iron Age Eastern Stream Bantu migrations is here addressed in comparison with other archaeological sites either from Mozambique or other surrounding countries. Neolithic artifacts from Northern Angola: revising the data on an ancient collection at IICT Daniela de Matos1, João Carlos Senna-Martinez2 e Ana Cristina Martins3 1. Mestranda do Departamento de História, Arqueologia e Património da Universidade do Algarve 2. UNIARQ – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa 3. K - Centro de Atividades de Preservação e Acesso, Instituto de Investigação Científica Tropical This is a presentation of a brief study about a small assemblage of lithic artifacts collected in Northern Angola at the end of the 50’s and currently kept at Instituto de Investigação Científica Tropical (Lisboa). The aim of this study is to associate this find to the more recent archaeological data from the region and evaluate the importance of the assemblage in terms of the archaeohistory of Angola. With the macroscopic analysis of the stone tools it was possible to associate the assemblage to the Ngovo Group, a group of archaeological sites with a distinctive industry of pottery and stone tools identified in Lower Zaire/Northern Angola. Thereby the polished stone tools from S. Salvador do Congo (currentlyM’banza Congo) are unequivocal artifactual markers of the western expansion of the African Neolithic to the southern fringes of the equatorial forest. An archaeological project in Mozambique. The Early and Late farming communities of Central Mozambique: the coastline and the Revué and low Buzi river valleys Victor Filipe Investigador Independente With this presentation it is intended to introduce the project The Early and Late Farming Communities of Central Mozambique: the coastline and the Revué and low Buzi river valleys, recently submitted in an application to the PhD position in African and Comparative Archaeology at the Department of Archaeology and Ancient History of the Uppsala University.

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The aim of the project is to contribute to the knowledge of Farming Communities in the central area of Mozambique (provinces of Sofala and Manica), seeking to fill in the gap in the knowledge of the development and characterization of the settlement patterns in the region during the first and second millennia A.D.. Special emphasis will be given to the influence of Zimbabwe tradition and the existence of stone enclosures, as well as the commercial and cultural relations with the coastal sites and the role of the later. In order to accomplish this, I propose the realization of regional archaeological surveys focused in the coastline and in the Revué and low Buzi rivers valleys, including the area near the border with Zimbabwe, in the highland of Manica. In parallel, one intends to work in strait collaboration with the colleagues of the Departamento de Arqueologia e Antropologia of the Universidade Eduardo Mondlane as well as to contribute to the formation of the students of the archaeology course from that university. Mainly, it is expected that the information recorded in the surveys will shed light into the settlement patterns of Early and Late Farming Communities of Manica and Sofala Provinces, as well as in what regards to the relations between the coast and hinterland populations, and of the former with the Indian Ocean trade systems (among others, Duarte, 1988; Wright, 1993; Insoll, 2003; Mitchell, 2005). Museu Nacional de Arqueologia (MNAB) e as suas atividades desenvolvidas no percurso da sua existência Paulo Valongo Museu Nacional de Arqueologia, Benguela - Ministério da Cultura de Angola O Museu Nacional de Arqueologia foi criado em 1976, é uma instituição vocacionada para gestão do património arqueológico. A sua criação teve como objetivo a recolha de todo o material arqueológico, a nível nacional e também dar sequência aos trabalhos de pesquisa, iniciados nos anos trinta e quarenta, pelos geólogos dos Serviços de Geologia e Minas de Angola, não obstante as primeiras informações sobre os vestígios arqueológicos perdurarem desde os anos de 1800. Após a independência de Angola, a brigada de pesquisa do museu efetuou trabalhos de campo, que se baseavam na recolha de material à superfície em algumas áreas do país culminando com as descobertas de diversas estações arqueológicas. Nesta altura vivia-se um período crítico de guerra em Angola, esta atividade era realizada somente no litoral de Angola, sobretudo em Benguela. A brigada de pesquisa do MNAB, realizou conjuntamente com vários especialistas e instituições internacionais, trabalhos de campo onde foram aplicados métodos mais recentes em arqueologia. Foram descobertas cerca de 50 estações arqueológicas após a independência que acrescidas às 16 do período colonial perfazem 66 estações controladas pelo MNAB. Independentemente dos trabalhos de campo e de laboratório que o MNAB faz, procura transmitir aos seus visitantes conhecimentos sobre os valores histórico-culturais do passado de Angola. Realiza receção diária de visitantes de diversos níveis académicos, e outros interessados, para conhecimentos da realidade das atividades do MNAB. Realiza periodicamente exposições itinerantes em escolas e outras instituições sociais da província. Realiza visitas a estações arqueológicas com a participação de escolas de diversos níveis académicos, unidades militares, e outras instituições sociais.

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Tema 1 – Os Trópicos na História da Ciência 4ª Sessão – Política e cultura científicas. II António Mendes Correia (1888-1960) – um cientista maior Andreia de Almeida Doutoranda do Departamento de História, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa O presente colóquio é uma boa ocasião para lembrar o legado de António Mendes Correia, investigador de renome internacional, com vasta obra publicada na área da Antropologia, Arqueologia e Etnologia. Nascido no Porto a 4 de abril de 1888, este investigador português pertenceu a uma geração de cientistas internacionais que se dedicou ao estudo da Antropologia Física, também denominada de Antropologia Biológica, ramo da Antropologia que procurava compreender a origem, a evolução, as variações e a constituição física do ser humano, entendido como ser biológico. Por tal, foi um dos mais calorosos defensores da implementação de investigações antropológicas nas Províncias do Ultramar, tendo sido diretor da Escola Superior Colonial e presidente da Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais. Mendes Correia foi um dos primeiros cientistas mundiais a colocar a hipótese da penetração de elementos humanos na América do Sul através da Antártida, numa data geológica anterior à que se pensava até então. Licenciado em Medicina, em 1911, pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto, o fundador da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia foi professor catedrático da Faculdade de Ciências e da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e membro de um variado número de organizações nacionais e internacionais, como a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia Portuguesa da História, a Academia Pontifícia de Ciências, a Sociedade de Antropologia de Paris… Foi, ainda, presidente da Câmara Municipal do Porto (1937-1941) e presidente da Sociedade Portuguesa de Geografia (1952-1960).

Arqueología y Etnología en la colonia: la expedición de 1946 (EPAOE) a Guinea Ecuatorial Enrique Gozalbes Cravioto1, Helena Gozalbes García2 e Eduardo G. Gozalbes García2 1. Universidade de Castilla-La Mancha 2. Universidade de Granada El régimen franquista intentó promocionar acciones de propaganda de la actuación española en sus colonias norteafricanas: estudio y promoción del Protectorado de Marruecos, y de forma subsidiaria también en el Sahara. En ambos casos chocaron a nivel personal los responsables de los estudios; en concreto el Seminario de Historia Primitiva del Hombre, que dirigía Martínez Santa-Olalla (máximo responsable de la arqueología en España), realizó iniciativas en Marruecos, rápidamente frenadas, y dirigió al Sahara occidental tres expediciones de recogida de silex tallados en superficie, y de catalogación de arte rupestre que, pese a contar con colaboración oficial, encontró con una actuación opuesta. En 1946 Martínez Santa-Olalla y colaboradores realizaron una expedición arqueológica y etnológica, reconocida con las siglas EPAOE, a Guinea Ecuatorial, que es poco conocida dado que no se publicaron en detalle los resultados. La documentación utilizada permite saber que la expedición contó con escasa colaboración del Gobernador, pero dio como resultados la localización de poblados neolíticos en la isla de Fernando Poo, así como vestigios prehistóricos en la zona continental, en las zonas de Bata e Idolo. Más importante fue el registro etnográfico (se recogieron numerosas piezas), así como una buena serie fotográfica. Pese a la expedición, el grupo de Martínez Santa-Olalla se vio desplazado; si en 1945 había

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representado a España en la Conferencia de Africanistas del Oeste, sin embargo a partir de 1946-1947 estuvo marginado del recién creado Instituto de Estudios Africanos. Martínez Santa-Olalla verá vetada su participación en el Primer Congreso Panafricano de Prehistoria (Nairobi, 1947), y también su grupo será eliminado de la participación en la IV Conferencia de Africanistas del Oeste, reunida precisamente en Guinea Ecuatorial en 1951. "Projeto Ebo"(Angola) – a investigação arqueológica aliada ao desenvolvimento local sustentável Cristina Pombares Martins1 e Luiz Miguel Oosterbeek2 1. Doutoranda em “Quaternário, Materiais e Culturas” da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Bolseira FCT 2. Departamento de Território, Arqueologia e Património, Instituto Politécnico de Tomar A pesquisa arqueológica em Angola conheceu, desde o seu início no séc. XIX, diversas fases, mas nunca obedeceu a um programa contínuo e sistemático. O país reúne, agora, as condições necessárias para impulsionar a pesquisa científica e obter reconhecimento interna e internacionalmente. Nesse sentido, conta com alguns projetos. Um deles é o "Projeto Ebo", numa parceria que engloba instituições portuguesas e angolanas. O objetivo geral do projeto consiste em construir uma dinâmica integrada, num território circunscrito (Ebo), cujo relevante património possibilita associar as dimensões de investigação, conservação e valorização patrimonial, num quadro global de gestão do património integrada numa ótica de desenvolvimento sustentável. Assim, serão constituídas quatro frentes de intervenção: arte rupestre, conservação, arqueologia da paisagem e antropologia cultural. É essencial criar espaço para a afirmação da diversidade cultural das diferentes identidades. A Arqueologia e a Arte Rupestre sublinham essa unidade da diversidade e devolvem a Angola a dignidade de um passado profundo, complexo e crucial para a Humanidade. O "Projeto Ebo" pretende ser um contributo para este grande desígnio. O percurso de Bragança Gil na Medicina Tropical Elisa Maia e Isabel Serra Centro de Filosofia das Ciências, Universidade de Lisboa Uma das primeiras “aplicações pacíficas” da energia nuclear diz respeito à utilização de isótopos radioativos em diversos campos de atividade, em particular na saúde. Os isótopos radioativos começaram a ser largamente usados a seguir à II Guerra Mundial e acabaram por se tornar indispensáveis no diagnóstico e na terapêutica de inúmeras doenças. Fernando Bragança Gil (1927-2009), que dedicou grande parte da vida científica à física nuclear, e se tornou conhecido do público como Diretor do Museu de Ciência da Universidade de Lisboa, começou a sua carreira científica no Laboratório de Radioisótopos da Junta de Investigações do Ultramar, onde trabalhou cerca de dez anos. Durante esse período publicou, a partir de 1956, e durante os dez anos seguintes, nos Anais do Instituto de Medicina Tropical, ou noutras revistas, cerca de vinte trabalhos sobre a aplicação dos radioisótopos à medicina, em particular à medicina tropical. Nesta comunicação será apresentado o percurso daquele investigador e Professor nesta área de investigação aplicada. Analisaremos a questão do ponto de vista social e institucional, em particular o do impacto da utilização das técnicas nucleares na medicina tropical. Abordaremos também os aspetos de desenvolvimento da carreira científica de Bragança Gil em particular, o papel formativo, que tiveram as tecnologias relativas à utilização de isótopos na sua carreira científica posterior.

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Tragédias Tropicais: clima e seca na Obra de Thomaz Pompeu de Souza Brasil

Manoel Fernandes de Sousa Neto Universidade de São Paulo Thomaz Pompeu de Souza Brasil (1818-1877) foi um destacado intelectual (advogado, professor de geografia e história, jornalista, clérigo) e político do Segundo Império do Brasil, tendo sido senador no interregno compreendido entre 1864 e 1877. Escreveu obras sobre a província do Ceará e sobre o Brasil, bebeu em autores como Victor Cousin e Alexandre Von Humboldt, tendo sido fortemente influenciado por este último quanto a necessidade de preservação/conservação dos recursos da natureza. Realizando uma leitura das condições ambientais e sociais a partir do clima, que acabaram por propor serem as secas fenómenos cíclicos que conformavam fortes desdobramentos naturais e sociais e resultavam em tragédias próprias das condições de tropicalidade de certas regiões como os da região Norte do Império do Brasil. Em textos publicados de modo avulso no Jornal liberal O Cearense, arena privilegiada do fazer político provincial de uma sociedade de poucos letrados, teve seus artigos reunidos em livro denominado Memória Sobre Clima e Secas no Ceará, que foi publicado em 1877 ano de sua morte e data de início de uma das secas que matou entre 1877-79 milhares de pessoas nas regiões semiáridas do Brasil. A obra é, em larga medida, aquela que cria bases para que sejam defendidos argumentos técnicos para solução do problema e que vieram a se desdobrar na construção de açudes e na conformação de uma instituição estatal voltada unicamente para o combate das secas cíclicas. Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 1ª Sessão – Saberes tradicionais e governação local Contributo de João da Silva Feijó para o conhecimento da flora das ilhas de Cabo Verde no séc. XVIII Maria Cristina Duarte1, Maria Manuel Torrão2, Lívia Ferrão1 e Maria Manuel Romeiras1,3 1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. Centro de História, Departamento de Ciências Humanas Instituto de Investigação Científica

Tropical 3. Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional (BioFIG), Faculdade de Ciências,

Universidade de Lisboa O conhecimento da flora e da vegetação primitivas do arquipélago de Cabo Verde, constitui um enorme desafio tendo em conta a forte intervenção humana verificada desde a sua colonização até aos nossos dias. As explorações feitas pelos primeiros naturalistas que, no séc. XVIII, aportaram a este arquipélago, podem dar um significativo contributo para este conhecimento. Através de relatos, gravuras e coleções de espécimes que nos deixaram é possível inferir sobre os recursos naturais destas ilhas à época e perspetivar algumas das alterações entretanto ocorridas. Nascido no Brasil em 1760, o naturalista João da Silva Feijó foi um dos primeiros a ter percorrido de forma sistemática o arquipélago, para onde foi enviado com o objetivo de recolher elementos sobre as produções naturais. Tendo permanecido em Cabo Verde de 1783 a 1787, a ele se ficou a dever o primeiro herbário representativo da flora deste arquipélago. Composto por 562 plantas, pertencentes ao Real Museu e Jardim Botânico da Ajuda, este herbário, conjuntamente com outras coleções de plantas, foi levado, em 1808 e por ordem de Junot durante as invasões francesas, pelo naturalista Geoffroy de Saint-Hilaire para o Musée National d'Histoire Naturelle (Paris). Através das coleções e dos escassos documentos de Feijó que chegaram até aos nossos dias pretende-se contribuir para o conhecimento, à época, da flora

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das ilhas e, simultaneamente, avaliar a forma como o papel de charneira de Cabo Verde nas rotas atlânticas terá moldado a diversidade vegetal neste arquipélago. Valorização dos Recursos Vegetais na Guiné-Bissau: Saberes e Práticas na Medicina Tradicional Maria Adélia Diniz1, Eurico S. Martins1, Olga Silva2 e Elsa Gomes2

1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa Nas últimas décadas realizaram-se diversas missões etnobotânicas por toda a Guiné-Bissau, integradas em projetos de cooperação, durante as quais se recolheram informações relativas à utilização de plantas medicinais por Praticantes da Medicina Tradicional de diversos grupos étnicos e à comercialização destas em mercados tradicionais. Simultaneamente foram adquiridos materiais para estudo laboratorial. Estudos botânicos, químicos e farmacológicos realizados em plantas medicinais selecionadas de acordo com as informações obtidas nestas missões, permitiram validar a sua utilização tradicional e o estabelecimento de parâmetros úteis para a sua garantia de qualidade. Cassia sieberiana DC., Cochlospermum tinctorium A. Rich., Cryptolepis sanguinolenta (Lindl.) Schltr., Guiera senegalensis J.F. Gmel., Sarcocephalus latifolius (Sm.) Bruce e Zanthoxylum leprieuri Guill. & Perr. são exemplos de algumas das plantas medicinais estudadas que constam dum Manual Prático elaborado pelos autores sobre as plantas medicinais da Guiné-Bissau. Para cada espécie indica-se nome científico, família, breve descrição, habitat, nomes vernáculos em diversas etnias, partes utilizadas e respetivas utilizações, toxicidade relativa e conservação. As plantas medicinais do Pará e do Maranhão: missões científicas ao Brasil (1998-2010) Isabel Maria Madaleno Unidade de Sociedades no Desenvolvimento, Departamento de Ciências Naturais, Instituto de Investigação Científica Tropical

O saber medicinal tradicional é essencial para resolver problemas de saúde e para mitigar dores, nos países latinoamericanos. Desde 1998 que, no Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), venho pesquisando espécies vegetais usadas pelos cidadãos mais desfavorecidos, assim como por adeptos da fitoterapia. Durante duas missões científicas à capital do estado do Pará realizei amostragens sobre a prática da agricultura urbana no município de Belém, onde verifiquei que as espécies usadas na medicina doméstica eram as mais cultivadas nos quintais, após os frutícolas. Em 2005 organizei outra missão a Belém e a Barcarena do Pará, focalizando-me, dessa vez, em dois outros grupos de informantes: os vendedores de ervas e os fitoterapeutas. Em 2006 e 2007, subindo o rio Amazonas, realizei mais entrevistas sobre esta temática no município de Santarém do Pará, que vieram enriquecer consideravelmente o acervo de espécies exsicadas, preparados e mezinhas da mais diversa procedência (medicina doméstica, curandeiros, vendedores). Finalmente, no ano de 2010, extraí uma amostra na cidade de São Luís, no estado do Maranhão, considerado a porta de entrada da Amazónia brasileira. O principal objetivo do trabalho de campo foi sempre o de estabelecer comparações entre as plantas com poderes curativos usadas pelos informantes brasileiros, entre si, com as utilizadas por outros povos latino-americanos, sob a hipótese de que a sua localização geográfica e a história de colonização explicavam aplicações terapêuticas similares. Os resultados obtidos confirmaram que as espécies nativas da América, seguidas das europeias, dominam as preferências para vasta gama de enfermidades crónicas.

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Da abrangência das febres à prática da profilaxia

Helena Sant’ana Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade Técnica de Lisboa Durante os séculos XVII e XVIII as febres são a doença dos trópicos. Objeto de múltiplas teorias médicas e terapias inspiradas nas plantas medicinas indígenas, vão impulsionar a exploração das propriedades terapêuticas da flora e fauna tropicais. Com o projeto de colonização efetiva das colónias, o aumento da empiria dos médicos e farmacêuticos, a par com a permanência mais acentuada no terreno, modifica gradualmente o olhar sobre as febres, que se dividem em múltiplas patologias tropicais, ao mesmo tempo, que no século XIX se elege a necessidade de prevenção e higienismo. As cartas dos ventos e correntes do Golfo da Guiné António José Duarte Costa Canas Museu de Marinha A meteorologia conheceu um desenvolvimento significativo em meados do século XIX. Para tal, muito contribuiu um jovem oficial da Marinha Americana: Matthew Fontaine Maury. Começou a sua carreira naval realizando diversos embarques oceânicos. Tendo sido vítima de um acidente que o impediu de voltar ao mar, dedicou-se ao estudo da meteorologia. O seu primeiro objetivo era perceber as condições meteorológicas prevalecentes nos diferentes períodos do ano para reduzir a duração das viagens oceânicas. Cedo Maury percebeu que um conhecimento efetivo das condições meteorológicas a nível mundial só era possível se existisse cooperação internacional. Dinamizou a organização de congressos internacionais e sugeriu um sistema mundial de recolha de dados que permitissem o conhecimento da dinâmica atmosférica a nível global. Portugal aderiu cedo a este programa. Um dos primeiros estudiosos a interessar-se pela meteorologia era oficial de Marinha: João Carlos de Brito Capelo, irmão do explorador Hermenegildo Capelo. Prestou serviço no Observatório Infante D. Luís, na Escola Politécnica, tendo sido diretor do mesmo durante vários anos. Além do seu papel como criador de uma estrutura destinada a recolher dados meteorológicos e analisá-los, João Capelo foi também um investigador notável, com obras publicadas sobre diversas áreas do saber, nomeadamente sobre as ciências geofísicas. Entre estas obras destaca-se um conjunto de cartas náuticas que elaborou, nas quais apresenta os ventos e as correntes predominantes no Golfo da Guiné, para diferentes épocas do ano. Essas cartas, assim como o pequeno estudo que acompanha as mesmas, serão o tema central deste nosso trabalho.

Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 2ª Sessão – Desenvolvimento, crescimento económico e internacionalização PIPA – Centro de Proteção Integrada dos Produtos Armazenados António Barbosa, Graça Barros, Maria Otília Carvalho e Ana Magro Centro de Proteção Integrada dos Produtos Armazenados, Instituto de Investigação Científica Tropical A atividade do atual Centro de Proteção Integrada dos Produtos Armazenados (PIPA) está vocacionada para ações de I&D com interesse para países das regiões tropicais, em especial os da CPLP, desde o início da criação da Comissão de Estudos Acerca da Defesa Fitossanitária dos Produtos Agrícolas e Florestais de Origem Ultramarina, na década de 50, para avaliar os prejuízos causados pelos insetos no amendoim armazenado na Guiné.

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Essa atividade tem vindo a evoluir e o Centro PIPA está enfocado em contribuir para a segurança alimentar, a sustentabilidade ambiental e a promoção de uma parceria global para o desenvolvimento, através de intervenções nas seguintes matérias: • Ecossistema do armazenamento; • Engenharia do armazenamento; • Bioecologia dos insetos e fungos; • Métodos de prevenção durante o armazenamento, transporte e transformação; • Meios de proteção alternativos aos meios de luta química menos prejudiciais para o consumidor e ambiente: biológico, biotecnológico, físico (atmosferas controladas e modificadas; desinfestação pelo calor), e extratos de plantas. Também tem vindo a cooperar com o setor privado em Portugal, a fim de tornar acessíveis os benefícios das novas tecnologias sobre a manutenção da qualidade durante o armazenamento de matérias primas alimentares. As ações desenvolvidas com interesse para os países da CPLP, foram-se diversificando gradualmente durante décadas. Foram realizadas prospeções entomológicas na Guiné durante a colheita, transporte e armazenamento do amendoim a fim de determinar as principais fontes de infestação e os processos de combate mais adequados. Na Índia Portuguesa foi estudada a entomofauna de arroz, farinha de trigo, lentilha de grão e lentilha de mug. Em Angola foram efetuadas missões de serviço que permitiram avaliar os aspetos mais importantes relacionados com a produção, indústrias transformadoras, comércio e exportação de produtos agrícolas secos armazenados e as entidades interessadas na sua conservação. Tais produtos incluem o arroz, café, cacau, tabaco, amendoim, coconote, crueira, feijão, gergelim, milho e o rícino, destinados à indústria e à exportação (à exceção do feijão) e um conjunto também importante de produtos, como amendoim, arroz, coconote, couro, feijão, gergelim, milho, rícino e tabaco, que era consumido localmente. Ainda em Angola, foram estudados diversos tipos de armazenamento rural, não só sob o ponto de vista etnográfico mas, ainda, para esclarecer importantes aspetos de ordem técnica, nomeadamente as dificuldades de conservação dos diversos produtos (amendoim, milho, fubas e outros) nas aldeias das várias regiões e a possibilidade de adaptação de práticas tradicionais a processos mais eficientes de conservação. Em Moçambique foi investigada a suscetibilidade de infestação dos produtos-alvo: amendoim, arroz, cevada, copra, feijão, mafurra, mandioca, mapira, milho, tabaco, trigo, gergelim, grão, maxoeira, rícino, tâmaras, café, calumba, castanha de caju, ervilha, flocos de aveia, girassol preto e tremoço branco. Em S. Tomé e Príncipe desenvolveu-se um projeto de regulamento fitossanitário para a importação e exportação de produtos como o cacau. Analisaram-se as condições de armazenamento do cacau e realizaram-se estudos entomológicos e micológicos, assim como recomendações relativas à construção de armazéns próprios ao armazenamento de cacau. e concretizado. Em Cabo Verde, estudou-se a entomofauna, sobretudo densidade e distribuição espacial das principais espécies de insetos nocivos na moagem e na fábrica de cigarros situadas no Mindelo. Foram feitas prospeções entomológicas que permitiram evidenciar a atividade dos insetos em armazéns de produtos alimentares. A equipa da proteção dos produtos armazenados também esteve envolvida num projeto acerca do acastanhamento do milho armazenado no Gana e Zimbabué. Sob proposta de colaboração entre o Natural Resources Institute (UK) e o IICT, colaborou na investigação das possíveis causas do acastanhamento, através de estudos ecológicos sobre as interações entre várias condições de armazenamento do milho, ambientais e biológicas, estas últimas relacionadas com o desenvolvimento de insetos e fungos. No prosseguimento da sua atividade, o PIPA coordenou uma rede Eureka no âmbito da proteção do arroz armazenado, organizou seminários, workshops internacionais, uma Conferencia da OILB e a 10th International Conference on Stored Product Protection, o encontro internacional mais importante da área, realizado em 2010.

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No âmbito das perspetivas futuras destacam-se as ações previstas sobre o desenvolvimento de meios de proteção alternativos à luta química contra insetos e fungos e eventuais parcerias visando a cooperação com países da CPLP. Conceções de pobreza para além da capacidade de consumo: a contribuição das agriculturas urbanas para um diálogo multidisciplinar Juliana Torquato e Leonardo Veronez Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra A pobreza é um tema recorrente na agenda global. Principalmente a partir da década de 80, quando as orientações neoliberais tomam lugar na política internacional, o seu uso, no cenário político, baseia-se na avaliação da capacidade do consumo das famílias. Emerge, então, uma conceção de pobreza que a reduz a um fator económico mensurável. Desde então, esta é abordagem de intervenção utilizada por agências e organismos multilaterais como o Banco Mundial e as Nações Unidas. Já no início do século, embora não seja um fenómeno recente, em especial nas periferias e semiperiferias globais, a agricultura (peri)urbana ganha uma expressão política como instrumento de combate à pobreza. A sua propagação, por meio de políticas públicas e estímulos sociais, acompanha a tendência que faz das agriculturas urbanas um eixo articulador de algumas respostas à pobreza, pela inclusão de temas como educação, saúde e habitação à pauta política. No entanto, pelo estudo de alguns casos, observa-se uma discrepância epistemológica entre a política e a prática: as políticas argumentam com os indicadores económicos; as práticas estabelecem paralelos entre rendimento, qualidade de vida, formas de pertença ao espaço, consumos e sistemas de produção fora do mercado formal. Este estudo tem por objetivo demonstrar as ruturas à lógica economicista de mercado de consumo e de rendimento para a superação da pobreza, bem como apontar para sistemas de produção que vão para além do paradigma da conjuntura produtiva cartesiana do capital. São considerados os espaços empíricos da Grande Lisboa, em Portugal, e Maputo, em Moçambique. A água: um dos paradigmas da sustentabilidade em África no século XXI Fernando Campos e Alexandra Campos Linha de investigação em Estudos Africanos e Pós-Coloniais (UEICTS), Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias A Água é imprescindível ao Homem para as suas atividades enquanto ser vivo, mas também ao desenvolvimento económico (processos industriais, irrigação, energia, navegação) e manutenção dos ecossistemas. O desregulado crescimento industrial, a indiscriminada utilização de produtos químicos na agricultura, a falta de tratamentos adequados das águas residuais, são fatores destabilizadores do ciclo hidrológico. Por outro lado a falta, ou a existência de inadequadas infraestruturas conduzem a uma gestão perniciosa dos recursos hídricos, quer em termos quantitativos como qualitativos. A África apresenta fortes contrastes no domínio hídrico, verificando-se em alguns países períodos significativos de falta de água, provocando dificuldades ao desenvolvimento social e económico. Verifica-se também uma forte incidência de doenças relacionadas com o meio hídrico. Superar a crise da água constitui um dos grandes desafios do desenvolvimento humano no início do século XXI. O século XXI é assim um período de grandes oportunidades para o Mundo, em especial para o Continente Africano.

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A aposta de África na formação de quadros, a boa governação, o combate à pobreza, a gestão de conflitos, o respeito pelos direitos humanos, poderão ser sinais dessas oportunidades. Contudo, convém não esquecer, que muito há a fazer da parte dos africanos e dos não africanos. Este trabalho de equipa é importante, para que as interrogações e as preocupações possam ser mais facilmente superadas. É necessário que a luta pela dignificação das populações continue, com o esforço de todos, “porque isso aproveita à África e aos Africanos” (Vítor Ramalho, “África que futuro?”, p38). Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 3ª Sessão – A Biodiversidade e sustentabilidade ambiental Recovering data from African fauna through Portuguese Natural History Collections Cristiane Bastos-Silveira1 e Isabel Queirós Neves2 1. Pós-Doutoranda no Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa 2. Doutoranda do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) da Universidade de Aveiro. Museu Nacional de História Natural, Universidade de Lisboa From 2006 to 2009, our group coordinated a national project called “Recovering the past, recording the present, and preparing the future of zoological collections in Portugal” (PTDC/BIA-QOR/71492/2006). The main goals of the project were to use newly available technologies along with scientific know-how in a concerted effort to convert the historical patrimony of Portuguese zoological collections into digital and molecular data and to make these data accessible to the general and specialized public. As the technologies of communication have become increasingly accessible, it is now an utmost responsibility of all collection holders, to give full access to the information through the Internet, using international initiatives such as the Global Biodiversity Information Facility. We identified the main institutions holding zoological collections, of species from former Portuguese territories, and digitalized the information. The most valuable collections digitalized were the Mammal and Bird collections housed at Instituto de Investigação Científica Tropical. This institution holds 5604 specimens of birds and 2300 specimens of mammals. The great majority of these vertebrates were collected in former Portuguese territory. Most of the specimens were collected during zoological expeditions between the years 1920-1970. We present the results achieved by the project, aiming to make the scientific community aware of the existence of this valuable data. Since the answers to systematic, phylogenetic, and biogeographical questions can greatly benefit from the effort of obtaining information available in several collections. By continuously providing outputs of science we will have a more informed society, which is essential for progress to take place.

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Whales, dolphins and “other fishes” in the Southeast Atlantic: Data combination to analyze historical cetaceans’ biodiversity in the Gulf of Guinea Cristina Brito1,3, Cristina Picanço2,3 e Inês Carvalho3 1. Centro de História de Além-Mar, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de

Lisboa 2. Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, Faculdade de Ciências,

Universidade de Lisboa 3. Escola de Mar, Edifício ICAT, Campus de Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa Portuguese reports of Atlantic journeys contain information about natural elements and marine megafauna. These descriptions are based on empirical knowledge accumulated in successive maritime routes and indicate species or animal groups’ occurrence. Navigators recorded the presence of typical animals to estimate their localization and whatever seemed new and intriguing. So, in addition to fish and birds, there are other unusual reports to strange marine animals most of them unknown to Europe. In these descriptions for the Southeastern Atlantic Ocean we found 14 detailed accounts of cetaceans, between the 15th and 17th centuries, and identify oceanic dolphins, porpoises, killer whales and baleen whales. Much more recently we also found whaling accounts as well as dolphin captures for some regions in the Gulf of Guinea. For instance, references to the capture of toninhas are part of the 20th century fishing statistics of Angola. Fishing books where consulted and, between 1940 and 1969, an estimation of between 320 and 650 individuals was obtained. Similarly, regular accounts for industrial captures of large whales are available from the end of the 19th century to the middle 20th century. This is a relevant contribution to the knowledge on cetaceans’ historical occurrence and biodiversity in the Gulf of Guinea, but more importantly gives a good perspective of the importance of data combination to assess long term marine biodiversity. Information from past events and biological occurrences may contribute to support and regulate present day human activities, such as whale watching, as well as local marine conservation. Coletores botânicos e esforço de colheita – contribuição para o conhecimento da diversidade vegetal em Angola Maria Manuel Romeiras1,2, Rui Figueira1,3, João Tavares1, Luís Catarino1 e Maria Cristina Duarte1

1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. Centro de Biodiversidade, Genómica Integrativa e Funcional (BioFIG), Universidade de Lisboa,

Faculdade de Ciências 3. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa Angola possui para além de uma grande variedade de habitats, que permitem uma elevada diversidade de ecossistemas desde a floresta de chuva, característica da região de Cabinda, à floresta aberta e savana, ou, mais a sul na zona do Namibe, as formações desérticas e subdesérticas, uma grande riqueza florística, com mais de 5 000 espécies de plantas vasculares. Assim, tendo por base o estudo de uma das maiores coleções de espécimes da Flora de Angola, que se encontra depositada no Herbário LISC (Jardim Botânico Tropical, IICT), complementado pela análise exaustiva de trabalhos sobre a Flora de Angola, pretende-se dar a conhecer os principais coletores botânicos que, desde o final do século XVII, permitiram enriquecer o conhecimento sobre a flora e vegetação do maior país da África Austral. Para além disso, far-se-á referência aos herbários onde se encontram depositados os exemplares botânicos, bem como ao registo dos períodos e locais em que foram realizadas as prospeções botânicas. A georeferenciação desses dados ao nível do município permitirá a produção de mapas de distribuição das colheitas, com a finalidade de analisar e compreender as estratégias de prospeção e a forma como elas condicionaram o atual conhecimento da flora e da vegetação e, consequentemente, as estratégias de conservação.

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A flora de Angola, de Welwitsch às bases de dados digitais Eurico S. Martins1, Luís Catarino1 e Rui Figueira1,2 1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa O reconhecimento da flora de Angola, apesar de algumas prospeções botânicas anteriores ao século XIX, só começou metodicamente em meados deste século com Friedrich Welwitsch. O esforço de Welwitsch foi continuado por Gossweiler que a partir de 1900 levou a efeito uma exploração do território para o conhecimento botânico e fitogeográfico do mesmo, culminando na publicação de uma Carta Fitogeográfica de Angola. A partir de 1937, a Missão Botânica de Angola deu novo impulso a esta exploração, salientando-se a atividade de Carrisso, Mendonça, Exell e Eduardo Mendes. Posteriormente, o Instituto de Investigação Agronómica e o Instituto de Investigação Científica locais desenvolveram grande atividade no reconhecimento botânico sob a orientação de Brito Teixeira e de Azancot de Menezes. Após a independência do país este foi continuado particularmente por botânicos sul-africanos. A maioria dos espécimes coletados encontra-se representada no herbário LISC, do Instituto de Investigação Científica Tropical, por espécimes originais ou por duplicados. O estudo destes materiais e de outros depositados em diversos herbários tem dado origem a numerosas publicações científicas entre as quais se encontra o Conspectus Florae Angolensis, com publicação iniciada em 1936 mas longe ainda da sua conclusão. O acervo das colheitas representadas nos herbários LISC e LISU, da Universidade de Lisboa, está sendo informatizado ao abrigo do projeto IMBAMBA, constituindo uma base de dados digital, livremente acessível à comunidade científica internacional, através do Catálogo Online das coleções do JBT, do ACTD (http://actd.iict.pt), e da organização intergovernamental GBIF (http://www.gbif.org). Magnoliopsida da Flora Angolana no herbário do IICT (LISC) Inês Santos1, Rui Figueira1,2 e Luís Catarino1 1. Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical 2. CERENA, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa O Projeto IMBAMBA (Implementar o Acesso à Informação sobre Biodiversidade e a Gestão de Coleções Botânicas em Angola), executado no Herbário do IICT, tem como objetivo estudar, catalogar em base de dados e dar acesso à informação das coleções angolanas nos Herbários portugueses LISC (Instituto de Investigação Científica Tropical) e LISU (Universidade de Lisboa). A coleção botânica de LISC é provavelmente a maior do mundo sobre a flora de Angola, sendo considerada uma boa representação da flora deste país. A coleção de Magnoliopsida de Angola compreende um total de cerca de 46.000 espécimes, pertencentes a 165 famílias, 1574 géneros e cerca de 3500 espécies. Foi terminado recentemente o tratamento dos espécimes desta classe na coleção da flora angolana de LISC, o que permite obter uma perspetiva global da diversidade vegetal no país, da distribuição no espaço e no tempo do esforço de colheita, e dos principais coletores representados. Alguns dos coletores mais representados no herbário são John Gossweiler, Francisco Mendonça, Eduardo Mendes, Romeu Mendes dos Santos, Brito Teixeira, Artur Exell, bem como Antunes & Dekindt. As colheitas foram efetuadas durante todo o século XX até à independência do país. Atualmente, em resultado do apoio taxonómico a atividades de investigação em curso, estão também a ser incluídas colheitas recentes. O esforço de colheita não foi uniformemente distribuído pelo território angolano, havendo províncias com reduzido número de espécimes colhidos, nomeadamente Zaire, Uíge e Lundas, no norte e nordeste do país.

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Ao longo do projeto os dados obtidos foram disponibilizados online, podendo ser consultados através do portal do GBIF (http://www.gbif.org/), no ACTD (http://actd.iict.pt/) e através do portal de coleções do JBT, atualmente em desenvolvimento. Contribuição das coleções biológicas para a conservação da flora tropical – propagação de plantas raras e ameaçadas Isabel Moura, Maria Cristina Simões-Costa e Maria Cristina Duarte Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical Ao longo das últimas décadas os jardins botânicos têm tido um papel cada vez mais ativo no desenvolvimento de investigação científica para o conhecimento e conservação da fitodiversidade bem como na sensibilização da comunidade civil para o seu respeito e preservação. Neste sentido, o Jardim Botânico Tropical (JBT) tem conduzido estudos visando a conservação da flora tropical e subtropical, em especial de espécies com particular interesse (e.g. conservacionista, económico, ecológico), através do desenvolvimento de protocolos de propagação in vitro. Os herbários são fundamentais para o conhecimento da diversidade vegetal, designadamente nas áreas da sistemática e da ecologia vegetal, e diversos estudos têm demonstrado que as suas coleções, e em particular o germoplasma que nelas se encontra, podem dar um contributo considerável para a recuperação de espécies raras ou ameaçadas e sua eventual reintrodução nos habitats naturais. Um grupo com especial potencial nesta área é o dos pteridófitos (vulgarmente conhecidos por fetos), que inclui espécies típicas em habitats muito específicos e particularmente sensíveis a alterações ambientais. Recentemente, foi principiada no JBT uma área de investigação que tem por objetivo avaliar a capacidade de germinação de esporos de pteridófitos preservados em herbário. Os estudos, iniciados com esporos da espécie Actiniopteris radiata (Sw.) Link (Pteridaceae) colhida em Cabo Verde em 2004 e conservada desde essa data no Herbário do IICT (LISC), confirmaram o potencial germinativo deste material. Esta espécie, distribuída pelas regiões tropicais de África, Ásia e Madagáscar, apresenta populações com distribuição localizada e, contrariamente à maioria dos fetos, particularmente resistentes à secura. A importância da identificação de madeiras na necessidade de garantir a sustentabilidade das florestas tropicais Fernanda Bessa Centro de Florestas e Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica e Tropical A preocupação com a sustentabilidade das florestas, nomeadamente nas regiões tropicais, e a necessidade de respeitar convenções e acordos internacionais, têm contribuído, de maneira decisiva, para a procura de identificação e caracterização de madeiras, tanto mais que se tem verificado a entrada de algumas no mercado, muitas vezes provenientes de abates ilegais. A grande diversidade de madeiras resulta da existência de inúmeras espécies, de grande variabilidade estrutural, com diferentes propriedades e diversas utilizações. Assim, a utilização racional de uma madeira deve basear-se em diversas características que são de grande importância quando se pretende a sua identificação. Na sociedade de informação em que vivemos, importa a utilização das novas tecnologias, daí a criação de uma xiloteca em suporte eletrónico, e-xiloteca, que sistematiza a informação, incluindo aspetos de identificação, caracterização e utilização, e a disponibiliza, permitindo a consulta a diferentes tipos de utilizadores e para fins diversos, ajudando numa melhor utilização destas espécies, contribuindo para a sustentabilidade dos recursos e a economia da exploração das madeiras.

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Este trabalho desenvolveu-se em duas xilotecas do Instituto de Investigação Científica Tropical com as coleções de Moçambique, Timor e Índia num total de 300 amostras. Criou-se assim uma e-xiloteca sistematizando toda a informação sobre nomenclatura, estrutura e anatomia, propriedades físicas, características macroscópicas e potenciais utilizações. Criaram-se consultas-tipo para diversos fins. A aplicação da taxonomia numérica agrupou, por classes de semelhança, madeiras de origens diferentes e características anatómicas e físicas, sugerindo espécies alternativas com características semelhantes preservando assim as espécies protegidas ou sobre exploradas. Técnicas para identificação anatómica de madeiras usadas no comércio: um caso de estudo – Afzelia bipidensis e Intsia bijuga Teresa Quilhó e Fernanda Bessa Centro de Florestas e Produtos Florestais, Instituto de Investigação Científica e Tropical A identificação da madeira está na base dos estudos da sua caracterização e no esclarecimento de dúvidas suscitadas no seu comércio, permitindo os meios necessários para detetar enganos e fraudes nos consumidores, podendo constituir uma medida importante para a preservação de espécies protegidas, biodiversidade e sustentabilidade da floresta. São exemplos de situações que introduzem frequentemente confusão no mercado, algumas espécies comerciais com diferentes proveniências mas com um aspeto praticamente idêntico – são os casos do Doussié (Afzelia bipidensis) e do Merbau (Intsia bijuga) dos continentes africano e asiático respetivamente, do Movingui (Distemonanthus benthamianus) e da Garapa (Apuleia leiocarpa) dos continentes africano e americano ou ainda da Tiama (Entandrophragama angolense) e da Andiroba (Carapa guianensis) também dos continentes africano e americano, respetivamente. Quando comparadas anatomicamente, estas espécies apresentam aspetos estruturais que permitem distingui-las, no entanto apesar destas semelhanças, as suas propriedades físico-mecânicas e o seu comportamento nem sempre permitem usos idênticos. A partir de amostras de madeira da Afzelia bipidensis e da Intsia bijuga, exemplificam-se as técnicas para identificação anatómica por observação macro e microscópica (ex: cortes na secção transversal, tangencial e radial da madeira com o micrótomo, recurso a sistema de análise de imagem, fotomicrografias) útil quando não há disponibilidade de material vegetativo, como acontece nos casos de operações de controlo e fiscalização e que ocorre habitualmente quando as amostras de madeira chegam ao laboratório para análise. A xiloteca e a laminoteca do Centro das Florestas e Produtos Florestais, constituem bases importantes para consulta e estudo comparativo das amostras de madeira. Search for new treatments of tuberculosis Małgorzata Palczewska e Patrick Groves Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa The World Health Organization monitors tuberculosis and has developed a plan to eradicate this disease by 2050. Tuberculosis is virtually eradicated from Europe with a declining number of 8 million cases each year in the world. Tuberculosis is a difficult disease to treat and medication consists of a cocktail of antibiotics delivered over a year. Antibiotic resistant strains of tuberculosis have developed because many patients do not complete their treatments. Drug-resistant tuberculosis is particularly devastating amongst HIV patients in southern African countries. The costs of treating drug-resistant tuberculosis are high yet tuberculosis has the potential to return to the level of being the major killer throughout the world. We collaborate with researchers in Spain and India to identify new tuberculosis targets for drug therapy and to

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determine their 3D structures. The second stage of our project is to identify new drugs from old. To be more exact, we try to fit the structures of known, licensed drugs into our 3D target structures. We believe it is possible that a known drug developed for a different disease might prove useful in the fight against tuberculosis. We are also interested in following an ethno-pharmaceutical route to developing new treatments. We are happy to talk with all researchers with knowledge of local treatments for tuberculosis that have not been tested in the medical literature. This work was supported by the Fundação para a Ciência e Tecnologia through project PEst-OE/EQB/LA0004/2011 to ITQB and SFRH/BPD/65762/2009 to MP. Additional funding was obtained from the ERA NET New INDIGO project. Search for plants to treat cholera Magdalena KomiaŜyk, Małgorzata Palczewska e Patrick Groves Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa The World Health Organization monitors diarrheal diseases caused by Vibrio cholera, Shigella dysenteria and Escherichia coli as a major health concern. These diseases cause 250m cases and 2.5m deaths each year. Oral rehydration therapy (ORT), a solution of sugar and salt, is the main treatment for diarrhea. We are interested in using plant remedies to improve ORT. The potential advantages of plants include the delivery of a range of vitamins and minerals that are absent from ORT, delivery of natural chemicals that are bacteriostatic or bactericidal, and to deliver flavors that will mask the natural taste of ORT. There is much information in the literature, and on the web, that identifies plants used to treat cholera. However, few plants have been subjected to rigorous medical trials. Our project uses lab models to characterize which plants can treat cholera and how they work. We would like to talk with ethnologists on ways to add to our plant lists. Our plant list currently lists common, European plants. We would like to use sustainably obtained plants from other parts of the world - we would like to talk with botanists with such knowledge. We are happy to discuss our work with the general public, to listen to their ideas and our science. This work was supported by the Fundação para a Ciência e Tecnologia through projects PTDC/QUI-BIQ/115298/2009 to PG, PEst-OE/EQB/LA0004/2011 to ITQB and SFRH/BPD/65762/2009 to MP.

Jardim de Macau – espaço de simbolismo e ciência no Jardim Botânico Tropical

Maria Cristina Duarte, Margarida Pinheiro, Graça Machado e Isabel Moura Jardim Botânico Tropical, Instituto de Investigação Científica Tropical O Jardim de Macau ou Jardim Oriental foi começado a construir em 1949, ocupando uma área de cerca de 5 000 m2 do Jardim Botânico Tropical (JBT). Passados 60 anos sobre a sua criação, o Jardim de Macau proporciona uma particular proximidade com a natureza constituindo um local onde se realçam símbolos da cultura chinesa e onde se evocam as ligações históricas e culturais e os laços afetivos entre Portugal e China. Nas últimas décadas, os jardins botânicos sofreram uma autêntica revolução, tendo havido um aumento da sua importância social e um crescente compromisso com a conservação da biodiversidade, com a investigação e com a educação pública para o conhecimento e respeito pela natureza. O Jardim de Macau possibilita o estudo e a preservação de um grande número de espécies orientais e encerra um elevado valor didático, enquanto mostra de alguns grupos taxonómicos

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representativos da região asiática. Acresce o facto de, ao pertencer ao Instituto de Investigação Científica Tropical, instituição vocacionada para a investigação e para o desenvolvimento em zonas tropicais, poder assumir um pólo dinamizador de intercâmbios em diversas áreas de atividade. Pretende-se dar a conhecer o valor deste jardim, no que respeita ao seu arboreto e outro património, que engloba muito do simbolismo oriental, bem como esboçar o seu desenvolvimento desde que foi construído e, assim, contribuir para a sua salvaguarda e para o reconhecimento do seu interesse científico, cultural e histórico. Cartografia Geológica da Guiné-Bissau Paulo H. Alves LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia Descrevem-se métodos de trabalho particulares, adotados para efetuar a nova Carta Geológica do país, face às características próprias do território e a condicionantes nos meios envolvidos no Projeto. Apresentam-se também alguns dos resultados obtidos. A Guiné-Bissau caracteriza-se por ser um país muito aplanado, em que menos de 8 % do território tem cota superior a 100 m, com uma rede hidrográfica muito penetrativa e extensas áreas de aluviões e mangal. Constata-se uma aparente monotonia geológica, com presença de solos avermelhados e lateritos, dispersos numa vegetação densa que apenas se reduz na época seca. A metade Este da Guiné-Bissau é constituída por um substrato paleozóico e precâmbrico, que aflora apenas em cerca de 5% da área devido a coberturas cenozóicas de espessura até 30m; por seu turno na metade Oeste ocorre a Bacia Mesocenozóica, relacionada com a abertura do Atlântico, formada por preenchimento sedimentar em progradação. Os afloramentos são raros e com quase total ausência de barreiras para cortes geológicos, o que dificulta a definição da coluna litostratigráfica e a colheita de amostras. Foram assim desenvolvidos métodos de trabalho apropriados, destacando-se: 1- Implementação gradual de uma técnica de descida em poços artesanais de captação de água, o que permitiu obter amostras representativas e descrever a série litológica atravessada; 2- Acompanhamento de projetos de sondagens para captação de água, com amostragem litológica de níveis mais profundos; 3- Consulta de todos os logs de sondagens e poços efetuados no país, sendo selecionados 1400 para definir e delimitar unidades litostratigráficas; 4- Pesquisa de novos afloramentos e barreiras, recorrendo a inquérito aprofundado na maioria das aldeias, o qual permitiu localizar ocorrências e unidades; 5- Consulta de toda a informação geológica existente nas Direções Gerais de Geologia e Minas, e dos Recursos Hídricos, sendo integrados os estudos empreendidos por outras entidades, com relevo para dados de pesquisa mineira, pesquisa de hidrocarbonetos, hidrogeologia e deteção remota. Características gerais e resultados e: i) A análise sedimentológica permitiu constatar o predomínio do ambiente fluvial, inclusive no Arquipélago dos Bijagós; ii) Através da análise de proveniência dos sedimentos cenozóicos presentes, conclui-se que é de privilegiar o Fouta Djalon (Guiné Conakry) como cadeia montanhosa que terá contribuído de forma primordial como fonte de fornecimento de sedimentos para a Guiné-Bissau; iii) Salienta-se como principal agente de transporte sedimentar a rede hidrográfica do Corubal; iv) A evolução do relevo foi importante no Quaternário, com o desenvolvimento de vastos glacis e encouraçamentos, verificando-se uma hierarquização de patamares com expressão no modelado atual; v) Com uma plataforma continental muito aplanada, de grande extensão e largura e com testemunhos de lateritizações e de antigas linhas de costa a vários níveis, é de considerar que os Bijagós terão constituído um prolongamento do território emerso da Guiné-Bissau, geneticamente relacionado com o transporte sedimentar proveniente das fontes já assinaladas.

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Estudos geológicos em S. Tomé e Príncipe Rita Caldeira LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia. CeGUL – Centro de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa Apresenta-se o avanço do conhecimento referente à geologia do arquipélago, desde os anos 40 até à última década, tendo em perspetiva a realização de estudos geológicos na ilha do Príncipe. Embora a primeira referência sobre a geologia do arquipélago pertença a Springer (1886), um dos primeiros estudos geológicos da ilha de S. Tomé data de 1942 é da autoria de A. C. Mendelshon, inserido na prospeção de petróleo realizada para a Direção-Geral de Fomento Colonial. Este esboço, na escala aproximada de 1:200.000, foi publicado mais tarde por Teixeira (1949), acompanhando uma descrição da geologia geral da ilha. Posteriormente, Neiva (1956a, 1956b) publica esboços geológicos das ilhas de S. Tomé e do Príncipe, também na escala de 1:200.000, após ter realizado trabalhos de reconhecimento geológico naquelas ilhas, sob a égide do atual IICT (antiga JMGIU). Destacam-se ainda estudos petrográficos (Assunção, 1956, 1957; e Neiva, 1954a) e petrogeoquímicos (Neiva, 1954b; e Aires-Barros 1960, 1990). As ilhas de S. Tomé e do Príncipe foram, também, objeto de estudos pontuais, no âmbito de investigações sobre a 'Linha dos Camarões', sendo referidas algumas datações e dados isotópicos (e.g. Halliday et al., 1988 e Lee et al., 1994). O Centro de Geologia do IICT e o Departamento de Geologia da FCUL iniciaram, em 1994, uma ação de cooperação com o Governo Santomense para a elaboração do Mapa Geológico do Arquipélago de S. Tomé e Príncipe na escala de 1:25.000, retomando assim os trabalhos de campo sistemáticos que há muito tinham sido interrompidos naquelas ilhas. Estes levantamentos geológicos, efetuados em S. Tomé de 1994 a 2002, com o apoio do atual IPAD e da DRNE de S. Tomé e Príncipe, bem como a obtenção de análises geocronológicas K-Ar, de rocha total e mineraloquímicas, possibilitaram a definição da sequência litoestratigráfica da ilha e a publicação, em 2006, de 4 folhas da Carta Geológica da ilha de São Tomé, e da respetiva notícia explicativa em 2007. Atualmente, aguarda-se financiamento para e execução da Carta Geológica da ilha do Príncipe cujo projeto foi submetido ao IPAD. Uma visão plural para um contributo geoambiental na área da Grande Beira, Moçambique Ruben Dias1, J. Tomás Oliveira1, Dino Milisse2, Maria João Batista1, Lídia Quental1, Judite Fernandes1 e Elsa Ramalho1 1. LNEG - Laboratório Nacional de Energia e Geologia 2. Direcção Nacional de Geologia de Moçambique O Objetivo 7 de Desenvolvimento do Milénio, preconizado pela ONU no ano 2000 - Garantir a sustentabilidade ambiental e a sua Meta 9 - Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e inverter a atual tendência para a perda de recursos ambientais, foram os princípios orientadores no desenvolvimento de um projeto de cooperação entre LNEG, DNGM e IPAD, para a elaboração da Carta Geoambiental da Região da Grande Beira, em Moçambique. Este documento pretende constituir uma ferramenta de trabalho que incremente a utilização dos recursos ambientais, tendo como perspetiva reduzir a percentagem de população sem acesso permanente a água potável (Meta 10) e melhorar significativamente a vida de habitantes de bairros degradados (Meta 11). A Carta Geoambiental verte-se nas diferentes valências ambientais, desde o conhecimento de base da geologia da zona, da ocupação do solo, ao conhecimento intrínseco das zonas com maior potencialidade de obtenção de água potável, zonas contaminadas e com qualidade dos solos e sedimentos. Para tal, efetuou-se a caraterização das diferentes unidades geológicas, a análise e processamento de imagens de satélite com validação de campo, a execução de perfis de geofísica, a colheita e análise de amostras de águas, solos e sedimentos.

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Por outro lado, sendo a Beira uma cidade portuária, rodeada pelo rio Pungué e pelo oceano Índico, procedeu-se a uma análise multitemporal, com base em mapas e imagens, dos processos da dinâmica litoral, de modo a mitigar impactos ao nível de erosão e acreção sedimentares. Tema 2 – Ciência para o Desenvolvimento Global 4ª Sessão – Saber Tropical na era das ómicas Mecanismos de Aclimatação a Baixas Temperaturas Positivas em Cafeeiro - Contribuição para a Investigação Agrícola para o Desenvolvimento no Contexto de Alterações Ambientais José C. Ramalho1, António E. Leitão1, Ana S. Fortunato1, Luis F. Goulao1, Ana M.P. Melo1, Paula Batista-Santos1, Patrícia Santos1, Elisabete Lopes1, Isabel M. Palos1, Fernando C Lidon2, Paula Scotti-Campos3, Isabel P. Pais3, Ana D. Rodrigues4, Philip Jackson5, António Lopes5, Fábio M. DaMatta6 e Ana Ribeiro1 1. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica

Tropical 2. DCTB, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa 3. URGEMP, Instituto Nacional de Recursos Biológicos 4. Instituto Superior de Agronomia, Universidade Técnica de Lisboa 5. Instituto de Tecnologia Química e Biológica, Universidade Nova de Lisboa 6. Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, Brasil No âmbito da missão do Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), o Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal (Eco-Bio) desenvolve a sua atividade em temáticas como interações planta-ambiente, biodiversidade e segurança alimentar visando contribuir para a resolução de questões de importância agronómica, social, ambiental e industrial. Neste contexto, o Centro tem estabelecido várias parcerias com instituições de países de zonas tropicais, designadamente da CPLP. Os projetos em curso integram a fisiologia, a bioquímica, a biotecnologia, a fitopatologia e a tecnologia pós-colheita e desdobram-se em quatro categorias: i) investigação fundamental e aplicada; ii) desenvolvimento rural; iii) formação e capacitação; iv) sociedade civil. Num contexto de alterações climáticas globais os estudos da relação planta-ambiente em cafeeiro, existentes neste Centro (e nas unidades que o antecederam) há mais de 40 anos, revelam-se mais atuais que nunca. Os estudos sobre mecanismos de tolerância desta planta tropical a stresses abióticos (por exemplo, a baixas temperaturas e défice hídrico) têm revelado a existência de importante variabilidade genética no género Coffea. Tal possibilitará a seleção e melhoramento de genótipos para cultura em zonas com importante ocorrência de baixas temperaturas. Assim, apesar do cafeeiro ser sensível a baixas temperaturas positivas, a presença e reforço de mecanismos de aclimatação permitem à planta fazer ajustes metabólicos e estruturais num ambiente em constante mudança. Conclui-se que, mais que alterações dramáticas de um mecanismo em particular o genótipo menos sensível (C. arabica cv Icatu) apresenta um conjunto de alterações moderadas que permitem a aclimatação a condições de frio (4 ºC), com particular relevo para o reforço do sistema antioxidativo e a alterações na constituição da matriz lipídica do cloroplasto.

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Isotopes as a Tool for Geographic Fingerprinting of Coffee (The IsoGeoCoffee Project) Carla Rodrigues1, Rodrigo Maia1, Marta Pimpão1, Marion Brunner2, Gabriel J. Bowen3, José C. Ramalho4, Loren Gautz5, Thomas Prohaska2 e Cristina Máguas1 1. University of Lisbon, Faculty of Sciences, Center for Environmental Biology, Stable Isotopes and

Instrumental Analysis Facility (SIIAF) 2. University of Natural Resources and Life Sciences (BOKU-UFT) Department of Chemistry Research

group of Analytical Chemistry - VIRIS Laboratory 3. University of Purdue, Department of Earth and Atmospheric Sciences, Purdue Climate Change

Research Center 4. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica

Tropical 5. Department of Molecular Biosciences and Biosystems Engineering In the present work, several spectroscopic techniques were applied for the differentiation of different types of coffee and of their geographical origin. In a first approach, a study on the application of Raman spectroscopy to the differentiation of coffee type (Arabicaversus Robusta) was developed based on the determination of kahweol content. Then, Isotope Ratio Mass Spectrometry (IRMS) was applied for the determination of the isotopic composition of carbon (C), nitrogen (N) and oxygen (O) of the green coffee bean, allowing coffee differentiation at continental level. Subsequently, IRMS was combined with Inductively Coupled Plasma Mass Spectrometry (ICP-MS), to determine the isotopic composition of strontium (Sr) in the coffee bean. The results obtained demonstrated that the isotope ratios of Sr and O were promising for coffee authenticity certification, as these elements reflect the local geology and hydrology. However, in order to expand the understanding of how environmental factors determine the isotopic composition of the different elements on the green coffee bean, it was necessary to study a model region of production, in which Hawai’i was selected. This approach allowed the discrimination of coffee beans from the different islands of Hawai’i. In addition, IRMS was applied to measure the isotopic composition of the caffeine molecule (δ18Ocaff) previously extracted from the green coffee bean. As O isotopes of caffeine molecule originate from the metabolic water of plant tissues, this analytical approach constitutes a complementary tool for studies on the ecophysiology of the coffee plant. Caracterização de diferentes genótipos de cafeeiro e estudo da influência do grau de torra na qualidade do café Natalina C. Bicho1, 2, António E. Leitão2, José C. Ramalho2 e Fernando C. Lidon1 1. DCTB, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa 2. Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica

Tropical No seguimento de estudos sobre café, nomeadamente de Angola, iniciados pela Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar nos anos 60, prosseguidos pelo seu sucessor, o Centro de Estudos de Produção e Tecnologia Agrícolas e mais recentemente pelo Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, todos do Instituto de Investigação Científica Tropical, apresentam-se nesta comunicação os resultados dos estudos de caracterização de cinco genótipos de cafeeiro do Brasil, assim como da influência de diferentes graus de torra na qualidade do grão e da bebida, de um arábica do Brasil e de um robusta da Índia. Do ponto de vista comercial, considerando o tamanho do grão e a homogeneidade comercial, Coffea dewevrei parece ser o melhor produtor dos cinco genótipos estudados. Contudo, tem tendência para formar semente mal granada. Os resultados da análise aos cafés verdes, arábica e robusta, apontam para a existência de diferenças significativas em relação a todos os parâmetros, com exceção dos sólidos solúveis.

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Com a torra as diferenças tendem a diminuir e a tornar-se menores com a extração da bebida. Nas bebidas, a extração revelou tendência para ser ligeiramente superior em Arábica, comparativamente a Robusta. Desde o café verde até à bebida, verificou-se a diminuição da importância de alguns parâmetros de natureza química, na discriminação das amostras. Alguns dos ácidos clorogénicos foram particularmente relevantes para discriminar as amostras pelo grau de torra e a cafeína para a discriminação pela espécie. Outros compostos, assim como o pH, revelaram menor capacidade de separação das amostras. Avaliação e caraterização de genótipos de purgueira Maria José Silva, Maria Manuela Ferreira-Pinto, Ana Fortunato, Luís Goulão, António Eduardo Leitão, Carminda Leitão, Mário Rui Santos, José Cochicho Ramalho e Ana Ribeiro Centro de Ecofisiologia, Bioquímica e Biotecnologia Vegetal, Instituto de Investigação Científica Tropical A cultura da purgueira (Jatropha curcas) para a produção de biodiesel foi alvo, na última década, de grande interesse económico a nível mundial. Paralelamente, porque o conhecimento científico sobre esta cultura era escasso, iniciaram-se muitos trabalhos de investigação. No âmbito do Protocolo entre o Eco-Bio/IICT e a Geocapital Holdings, foi possível obter uma coleção representativa de amostras de purgueira com base na qual se têm realizado diversos trabalhos de investigação. O objetivo geral destes estudos tem sido avaliar as amostras relativamente a características importantes do ponto de vista da exploração económica da cultura. Foi efetuada a caracterização genótipica das amostras por métodos moleculares e a caracterização da variabilidade fenótipica com base em parâmetros morfológicas das plantas e na composição química das sementes (teor em óleo e proporção relativa de ácidos gordos). Iniciou-se a avaliação da resistência a stresses bióticos (doenças) e abióticos (secura e frio), o estudo dos mecanismos moleculares envolvidos nestes processos e a identificação de técnicas culturas que permitam a otimização da cultura (eficácia da utilização de condicionadores de solo na gestão da água). Texto escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico

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Emails dos autores:

Ana Cannas [email protected] Pág. 10 Abdou Sané [email protected] Pág. 27 Alexandra Campos [email protected] Pág. 47

Ana Cristina Martins [email protected] Pág. 18, 37, 38 e 39

Ana Cristina Roque [email protected] Pág. 12 Ana D. Rodrigues Pág. 56 Ana Isabel Correia [email protected] Pág. 33 Ana M. Morgado [email protected] Pág. 36 Ana M.P. Melo [email protected] Pág. 25 e 36 Ana Magro [email protected] Pág. 45 Ana P. Pereira [email protected] Pág. 32 Ana Ribeiro [email protected] Pág. 25, 29 e 56

Ana Sofia Fortunato [email protected]; [email protected] Pág. 56

Andreia de Almeida [email protected] Pág. 41 Andreia Loureiro [email protected] Pág. 32 Anita Correia Lima de Almeida [email protected] Pág. 20 António Barbosa [email protected] Pág. 45 António Carmo Gouveia [email protected] Pág. 24 António E. Leitão [email protected] Pág. 29, 56 e 57 António José Duarte Costa Canas [email protected] Pág. 45 António Lopes Pág. 56 Antonio Martínez [email protected] Pág. 17 Bruno Evangelista [email protected] Pág. 39 Carla Rodrigues [email protected] Pág. 57 Carlos Almeida [email protected] Pág. 23

Catarina Mateus [email protected] ; [email protected]

Pág. 34

Catarina Pires [email protected] Pág. 10 Cláudia Cardoso [email protected] Pág. 35 Conceição Casanova [email protected] Pág. 10 Cristiane Bastos-Silveira [email protected] Pág. 29 e 48 Cristina Brito [email protected] Pág. 49 Cristina Máguas [email protected] Pág. 57 Cristina Picanço [email protected] Pág. 49 Cristina Pombares Martins [email protected] Pág. 42 Daniela Matos [email protected] Pág. 39 Dino Milisse [email protected] Pág. 55 Dora Batista [email protected] Pág. 32 Eduardo Gozalbes García Pág. 41 Elisa Maia [email protected] Pág. 42 Elisabete Lopes Pág. 56 Elsa Gomes [email protected] Pág. 44 Elsa Ramalho [email protected] Pág. 55 Enrique Gozalbes Cravioto [email protected] Pág. 23 e 41 Esperança Costa [email protected] Pág. 27 Eugénia Rodrigues [email protected] Pág. 20

Eurico Sampaio Martins [email protected] Pág. 28, 36, 44 e 50

Fábio M. Da Matta Pág. 56 Fernanda Bessa [email protected] Pág. 51 e 52 Fernando C. Lidon [email protected] Pág. 29, 56 e 57 Fernando Campos [email protected] Pág. 47 Francisco Palma Gomes [email protected] Pág. 12 Gabriel J. Bowen [email protected] Pág. 57 Gilberto Pereira [email protected] Pág. 10 Graça Barros [email protected] Pág. 45

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Graça Machado [email protected] Pág. 53 Helena Gil Azinheira [email protected] Pág. 32 Helena Gozalbes García Pág. 41 Helena Sant’ana [email protected] Pág. 45 Inês Carvalho [email protected] Pág. 49 Inês Castelo [email protected] Pág. 39 Inês Pinto [email protected] Pág. 34

Inês Santos [email protected] Pág. 50 Isabel Maria Madaleno [email protected] Pág. 44

Isabel Moura [email protected] ; [email protected]

Pág. 51 e 53

Isabel P. Pais Pág. 56 Isabel Palos [email protected] Pág. 25 e 56 Isabel Queirós Neves [email protected] Pág. 29 e 48 Isabel Serra [email protected] Pág. 42 J. Tomás Oliveira [email protected] Pág. 55 João Pedro Cunha Ribeiro [email protected] Pág. 38 João Senna-Martínez [email protected] Pág. 39 João Tavares [email protected] Pág. 49 Jorge A. Pinto Paiva [email protected] Pág. 31 Jorge Pais de Sousa [email protected] Pág. 24

José Cochicho Ramalho [email protected] Pág. 25, 29, 56 e 57

José E. Mendes Ferrão [email protected] (Maria Cândida Liberato)

Pág. 25

José Manuel Brandão [email protected] Pág. 11 Judite Fernandes [email protected] Pág. 55 Juliana Torquato [email protected] Pág. 47 Leonardo Veronez [email protected] Pág. 47 Leonor Guerra-Guimarães [email protected] Pág. 32 Lídia Quental [email protected] Pág. 55 Lívia Ferrão [email protected] Pág. 43 Loren Gautz [email protected] Pág. 57 Luís Alfredo Silveira [email protected] Pág. 27

Luís Catarino [email protected] Pág. 27, 28, 33, 36, 49 e 50

Luís F. Goulão [email protected] Pág. 25, 29 e 56 Luís Frederico Antunes [email protected] Pág. 18 Luís Pequito Antunes [email protected] Pág. 11 Luiz Oosterbeek [email protected] Pág. 42 M. Ferreira-Pinto [email protected] Pág. 58 M. Otília Carvalho [email protected] Pág. 45 M. Teresa Gonçalves [email protected] Pág. 24 Mª José Silva [email protected] Pág. 58 Mário Rui Santos [email protected] Pág. 58 Madalena Cunha Matos [email protected] Pág. 21 Madalena Fonseca [email protected] Pág. 34 Magdalena Komiazyk [email protected] Pág. 53 Małgorzata Palczewska [email protected] Pág. 52 e 53 Manoel Fernandes de Sousa Neto [email protected] Pág. 43 Manuel Lobato [email protected] Pág. 16 Margarida Pinheiro [email protected] Pág. 53 Maria Adélia Diniz [email protected] Pág. 28, 36 e 44

Maria Cristina Duarte [email protected] Pág. 28, 33, 37, 43, 49, 51 e 57

Maria Cristina Simões-Costa [email protected] Pág. 51 Maria da Piedade de Jesus [email protected] Pág. 13 Maria das Graças Lins Brandão [email protected] Pág. 24

Maria do Carmo Nunes [email protected]; [email protected]

Pág. 36

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Maria do Céu Silva [email protected] Pág. 32 Maria João Batista [email protected] Pág. 55 Maria João Soares [email protected] Pág. 16

Maria Manuel Romeiras [email protected]; [email protected] Pág. 28, 37, 43 e 49

Maria Manuel Torrão [email protected] Pág. 12 e 43 Maria Manuela de Castro Restivo [email protected] Pág. 35 Mariana de Oliveira Couto [email protected] Pág. 19 Marion Brunner [email protected] Pág. 57 Marta Pimpão [email protected] Pág. 57 Natacha Catarina Perpétuo [email protected] Pág. 24 Natalina C. Bicho [email protected] Pág. 57 Nicolas Valdeyron [email protected] Pág. 14 Olga Silva [email protected]; Pág. 44 Patrícia Conde [email protected] Pág. 28 e 37 Patrícia Santos [email protected] Pág. 56 Patrick Groves [email protected] Pág. 52 e 53 Paula Batista-Santos [email protected] Pág. 56 Paula Cristina Santos [email protected] Pág. 12 e 26 Paula Scotti-Campos Pág. 56 Paulo H. Alves [email protected] Pág. 30 e 54 Paulo Valongo [email protected] Pág. 40 Pedro M. P. Raposo [email protected] Pág. 19 Pedro Talhinhas [email protected] Pág. 32 Philip Jackson Pág. 56 Ricardo Pereira [email protected] Pág. 20 Rita Caldeira [email protected] Pág. 54 Rita Guerra [email protected] Pág. 33 Rita Juliani Poloni [email protected] Pág. 38 Rodrigo Maia [email protected] Pág. 57 Ruben Dias [email protected] Pág. 55

Rui Figueira [email protected] Pág. 28, 36, 49 e 50

Samuël Coghe [email protected] Pág. 21 Sandra Fernandes [email protected] Pág. 12 Sérgio Neto [email protected] Pág. 14 Solange Laura Macamo [email protected] Pág. 13 Sonia Domingos [email protected] Pág. 14 Susana Matos [email protected] Pág. 33 Susana Saraiva [email protected] Pág. 28 e 36 Susana Sousa Araújo [email protected] Pág. 32 Tânia Beisl Ramos [email protected] Pág. 21 Teotónio R. de Souza [email protected] Pág. 31 Teresa Quilhó [email protected] Pág. 52 Thomas Prohaska [email protected] Pág. 57 Tiago Brandão [email protected] Pág. 15 Vera Figueiredo [email protected] Pág. 29 Vera Mariz [email protected] Pág. 22 Victor Filipe [email protected] Pág. 39 Vítor Rodrigues [email protected] Pág. 18 Vítor Várzea [email protected] Pág. 32

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Notas _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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69

Índice Apresentação 3

Programa 5

Comunicações orais 10

Posters 33

Emails dos autores 59

Notas 62