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1 SÉRIE DE DOCUMENTOS DE TRABALHO PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL O PAPEL DA RECREAÇÃO NA PROMOÇÃO DA INCLUSÃO SOCIAL Peter Donnelly Jay Coakley Parceiro / Tradução para português:

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SÉRIE DE DOCUMENTOS DE TRABALHO

PERSPECTIVAS

SOBRE A INCLUSÃO

SOCIAL

O PAPEL DA RECREAÇÃO NA PROMOÇÃO DA INCLUSÃO SOCIAL

Peter Donnelly Jay Coakley

Parceiro / Tradução para português:

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3º Artigo: O PAPEL DA RECREAÇÃO NA PROMOÇÃO DA INCLUSÃO SOCIAL (The role of recreation in promoting social inclusion)

Peter Donnelly

Jay Coakley

Peter Donnelly é professor na Faculdade de Educação Física e Saúde, e Director do Centro de Estudos de Política do Desporto da Universidade de Toronto. Jay Coakley é professor de Sociologia da Universidade do Colorado em Colorado Springs, e desde meados da década de 1970 tem investigado e escrito extensamente sobre as dimensões sociais e culturais do desporto.

Fundação Laidlaw A Fundação Laidlaw é uma fundação privada, de interesse público que utiliza os seus recursos humanos e financeiros de formas inovadoras para fortalecer a participação cívica e a coesão social. A Fundação usa seu capital para melhorar os ambientes e cumprir as capacidades das crianças e jovens, para reforçar oportunidades para o desenvolvimento e criatividade humanas e sustentar comunidades saudáveis e ecossistemas. A Fundação apoia uma grande diversidade de projectos inovadores e frequentemente não convencionais em três áreas do programa: nas artes, no ambiente e melhoria das perspectivas de vida para crianças, jovens e famílias. Trabalhar para a inclusão social é um tema que está na base de muita da actividade da Fundação. As palavras-chave na missão da Fundação - o desenvolvimento humano, de comunidades sustentáveis e ecossistemas - implicam que a sua realização contará com o reforço da capacidade e aptidão. A inclusão social não está só a ser desenvolvida como um fluxo de financiamento emergentes na Fundação Laidlaw mas é parte do seu valor a nível da estruturação e de programação. Nathan Gilbert Diretor Executivo

PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO SOCIAL

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PREFÁCIO:

Perspectivas da Fundação Laidlaw sobre a inclusão social O contexto para a inclusão social Os temas relacionados com as crianças tomaram relevante destaque nas agendas dos governos por diversas vezes ao longo da passada década mas este facto tende a inverter-se sempre que nos deparamos com uma crise económica, um défice orçamental, crises nas relações entre governos e administrações locais ou, mais recentemente, preocupações com o terrorismo e a segurança nacional. Embora se tenham alcançado importantes conquistas na política pública nos passados 5 a 10 anos, não houve um compromisso governamental sustentável para com as crianças nem uma melhora significativa no bem-estar das mesmas e de suas famílias. De facto, em muitas áreas, temas relativos a crianças e suas famílias perderam terreno e a exclusão social começa a emergir como uma questão importante no Canadá. Os exemplos abundam e incluem estes factos: • A sob representação de minorias raciais de famílias e crianças entre aqueles que vivem em situação de pobreza nas grandes cidades, e a negação de acesso a diversos serviços a imigrantes e as famílias dos refugiados; • O aumento de 43% no número de crianças em situação de pobreza no Canadá desde 1989, o aumento de 130% no número de crianças sem habitação em Toronto, assim como uma das mais elevadas taxas de encarceramento de jovens entre países da Commonwealth; • A exclusão de crianças com deficiência dos quadros de políticas públicas (por exemplo, da Agenda Nacional para a Infância), das definições de desenvolvimento considerado "saudável" da criança e, demasiadas vezes, da vida comunitária. Estas situações são do interesse da Fundação Laidlaw na perspectiva da inclusão social. O programa da Agenda da Fundação da Criança começou por explorar a inclusão social em 2000 como uma forma de reenfocar as políticas para a criança e a família por: • Reenquadrar o debate sobre a pobreza, vulnerabilidade e bem-estar das crianças a fim de destacar a dimensão social da pobreza (ou seja, a incapacidade de participar totalmente na comunidade) • Vinculação da pobreza e da vulnerabilidade económica com outras fontes de exclusão como a deficiência, o racismo, a rejeição da diferença e a opressão histórica. • Encontrar um terreno comum entre as preocupações com o bem-estar das famílias com as crianças para ajudar a gerar maior vontade pública e política para agir. A Fundação encomendou uma série de trabalhos de investigação para examinar a inclusão social a partir de várias perspectivas. Embora os autores abordem o tema sob diferentes pontos de partida e enfatizem diferentes aspectos de exclusão e inclusão, existem importantes tópicos e

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conclusões comuns. Os trabalhos em curso chamam a atenção para as novas realidades e entendimentos que devem ser levados a cabo no desenvolvimento da política social e na criação de uma sociedade mais justa e saudável. São eles: • Seja a fonte de exclusão a pobreza, o racismo, o medo das diferenças ou a falta de influência política, as consequências são as mesmas: a falta de reconhecimento e de aceitação, impotência e 'mudez'; vulnerabilidade económica e, experiências de vida diminuídas e perspectivas de vida limitadas. Para a sociedade como um todo, a exclusão social de indivíduos e grupos pode tornar-se uma grande ameaça para a coesão social e prosperidade económica. • Uma abordagem baseada nos direitos é inadequada para abordar a sistemática exclusão de crianças e adultos. As pessoas com deficiência têm, mais dinamicamente, reivindicado abordagens baseadas na inclusão social e no reconhecimento para tentar alcançar o que os direitos humanos só por si não conseguem. • A diversidade e a diferença, seja com base na raça, deficiência, religião, cultura ou sexo, devem ser reconhecidas e valorizadas. A abordagem " o que serve para um serve para todos” deixou de ser aceitável e eficaz na promoção do bem-estar das crianças e famílias. • As políticas públicas devem estar mais estreitamente ligadas às experiências de crianças e famílias, tanto em termos de programas actuais como no processo de construção dessas políticas e programas. Esta é uma das razões para o crescente interesse em cidades e comunidades, como locais onde se opera a inclusão e a exclusão. • Os programas e políticas universais que servem as crianças e famílias geralmente proporcionam uma base mais forte para melhorar o bem-estar que abordagens residuais, orientadas ou segregadas. A investigação e evidência desta afirmação são suportadas por sectores da educação, desenvolvimento infantil e da saúde da população. Compreender a inclusão social O conceito de exclusão social como um importante conceito político emergiu na Europa da década de 1980 como resposta ás crescentes divisoes sociais resultantes de novas condições de mercado de trabalho e da inadequação das politicas sociais existentes às necessidades de mudança das mais diversas populações. A inclusão social não é, no entanto, apenas uma resposta à exclusão. Embora muitos trabalhos usem a exclusão social como ponto de partida para as suas discussões, partilham connosco o conceito de que a inclusão social é valida como processo e objectivo. A inclusão social consiste na certificação de que todas as crianças e os adultos são capazes de participar como membros valorizadas, respeitados e contribuintes da sociedade. É, portanto, um conceito normativo (baseado no valor) - uma forma de elevar a fasquia e entender onde queremos estar e como chegar lá.

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A inclusão social reflecte uma abordagem dinâmica do desenvolvimento humano para o bem-estar que exige mais do que a remoção de barreiras ou riscos. Exige investimentos e medidas para alcançar as condições para a inclusão como nos têm ensinado os movimentos internacionais de desenvolvimento humano e de saúde da população. O reconhecer a importância da diferença e diversidade tornou-se central para as novas compreensões de identidade, tanto a nível nacional como comunitário. A inclusão social vai um pouco mais além: exige a validação e reconhecimento da diversidade, bem como um reconhecimento da comunhão de experiências e aspirações partilhadas entre as pessoas, especialmente evidentes entre famílias com crianças. Isto sugere fortemente que a inclusão social se amplia para além da inserção de 'forasteiros'ou de noções de periferia em relação ao centro. Trata-se do encurtamento das distâncias físicas, sociais e económicas que separam as pessoas, e não apenas da eliminação de fronteiras ou barreiras entre nós e eles. Pilares da inclusão social O procedimento dos trabalhos em curso revelou que a inclusão social é um conceito complexo e desafiador que não pode ser reduzida a uma única dimensão ou significado. O trabalho dos diferentes projectos de investigação, em conjunto com outras iniciativas que a Fundação patrocinou como parte da sua exploração da inclusão social, ajudou-nos a identificar cinco dimensões críticas, ou pilares, da inclusão social: Reconhecimento valorizado -reconhecimento e respeito a indivíduos e grupos. Isto

inclui o reconhecimento das diferenças no desenvolvimento da criança e, portanto, não associar deficiência mental a patologia, apoio a escolas comunitárias que são sensíveis às diferenças de cultura e género; e prorrogamento da noção para o reconhecimento do valor comum através de programas universais tais como cuidados de saúde.

Desenvolvimento humano - Fomentar o talento, habilidades, capacidades e escolhas de crianças e adultos a viver uma vida que valorizem de modo a fazer uma contribuição digna. Os exemplos incluem: aprendizagem e desenvolvimento de oportunidades para todas as crianças e adultos; cuidados comunitários e programas de recreação infantil para crianças cujo crescimento é promovido e estimulado e não programas meramente de custódia.

Envolvimento e compromisso - Ter o direito e apoio necessário para estar envolvido em decisões que o afectam, á família e comunidade, e de estar envolvido na vida da comunidade. Os exemplos incluem: o envolvimento dos jovens e o controlo dos serviços de juventude; envolvimento parental no currículo escolar ou em decisões que afectam suas crianças; participação de cidadãos nas decisões políticas municipais; e participação política.

Proximidade – Partilha de espaços físicos e sociais para proporcionar oportunidades de interacções, se desejadas, e para reduzir as distâncias sociais entre as pessoas. Isso inclui a partilha de espaços públicos, como parques e bibliotecas; bairros com diferentes classes sociais; e escolas e salas de aula integradas.

Bem-estar material – ter os recursos necessários para permitir que as crianças e seus pais participem plenamente na vida da comunidade. Isto incluiu estar adequadamente alojado e ter um rendimento ajustado.

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Passos seguintes: construção de cidades e comunidades abrangentes Nos próximos 3 anos o programa da agenda para a criança da fundação Laidlaw vai centrar-se na construção de cidades e comunidades abrangentes. A importância das cidades e das comunidades tem cada vez mais reconhecimento porque o bem-estar de crianças e famílias está intimamente ligado ao local onde vivem, á qualidade dos seus bairros e cidades, e aos "comuns sociais", onde as pessoas interagem e partilham experiências. Christa Freiler Coordenador do Programa Agenda Criança Fundação Laidlaw A visão da Fundação Laidlaw de uma sociedade socialmente abrangente fundamenta-se num movimento internacional que tem como objectivo o progresso no bem-estar das pessoas pela melhora da saúde nas cidades e comunidades. A percepção desta visão é um projecto a longo prazo para assegurar que todos os membros da sociedade participam igualmente como cidadãos valorizados e respeitados. É uma agenda com base na premissa de que para que a nossa sociedade seja justa, saudável e segura, é necessária a inclusão de todos. Paulo Zarnke Presidente e Ex-Presidente Agenda Criança Comité Consultivo Fundação Laidlaw

O PAPEL DA RECREAÇÃO NA PROMOÇÃO DA INCLUSÃO SOCIAL

INTRODUÇÃO

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A vida das crianças desenvolve-se em três contextos principais sobreponíveis: casa e família, escola, jogos e recreação. Destes três, o último tem recebido muito pouca atenção política sendo pouco investigado. Este é facto surpreendente, dado que as actividades de jogo e diversão são amplamente aceites como fundamentais para a saúde, bem-estar e desenvolvimento social e físico das crianças. Os 'bons' pais, comunidades e escolas garantem oportunidades jogo e recreio para os seus filhos. Quando estes não são tão “bons” podem surgir outros problemas que atingem uma dimensão na vida das crianças que o jogo e a recreação perdem influência. Por exemplo, uma série de conselhos escolares nos Estados Unidos recentemente abandonaram ou estão a considerar abandonar o recreio. Este determinado período de tempo livre para as crianças está a desaparecer porque os administradores estão preocupados com a segurança e as questões de responsabilidade e os professores e alunos enfrentam as exigências de tempo de programas curriculares mais intensivos. Os pais com recursos e conhecimento sobre o desenvolvimento da criança assegurarão aos seus filhos recebam períodos para jogar sendo que, neste caso, mas não existe prova de responsabilidade partilhada.

Ao considerar "o papel da recreação na promoção da inclusão social " os benefícios da participação são um claro ponto de partida. No entanto, esses benefícios não são automáticos, e é necessário delinear as circunstâncias em que a inclusão social pode ser promovida pelos programas de recreação. Parte da seguinte análise é baseada na suposição de que devemos ser sensíveis às barreiras que precedem oportunidades de ser "socialmente incluídos”. O nosso objectivo é definir os termos a ter em consideração; revisão dos vários contextos, incluindo as barreiras à participação em que a relação entre inclusão social e recreação física está sendo considerada; e revisão da pesquisa sobre as condições em que a inclusão social pode ser promovida pela recreação física. Conclui-se com diversas recomendações específicas para o desenvolvimento de programas recreativos para promover a inclusão social.

Significados e definições

Vários significados têm sido associados á inclusão social e a actividades físico-recreativas (jogo, desporto, exercício e dança). A compreensão das políticas destes significados e as formas pelas quais esses significados e valores são desenvolvidos e anexados á inclusão social e á recreação física é uma condição necessária como ponto de partida para um projecto que defenda o papel da recreação física na promoção da inclusão social. Em particular, é necessário compreender como determinados significados e valores podem ser subvertidos e adoptados. A atenção também será dada a esta questão na definição da inclusão social e recreação física assim como à estruturação de recomendações.

Inclusão Social

A noção de inclusão social tem uma longa historia na sociologia. Muito prontamente se centrou no 'encerramento social', um conceito introduzido por Max Weber e posteriormente desenvolvido por Parkin (1979), que identificou uma série de características em que o encerramento social pode ser baseado (por exemplo, género, escolaridade, etnia, religião, etc): As funções do encerramento pelo idêntico mecanismo de exclusão e inclusão .... É baseado no poder de um grupo para negar acesso à recompensa ou oportunidades de vida positivas, para um outro grupo com base em critérios que o primeiro procura justificar ... Processos de encerramento social envolvem marginalização (ou exclusão), por um lado, e incorporação (Inclusão) por outro (Marshall, 1994,60).

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Enquanto os termos de encerramento e exclusão social são conceitualmente claros, o uso de "Inclusão" refere-se aqui à incorporação num grupo exclusivo ao invés do mais democrático sentido de capacidade para participar na comunidade com a qual se destina este projecto. Assim, há uma certa imprecisão na determinação do termo em oposição à exclusão social. Se a exclusão se refere a uma acção realizada por uma maioria ou minoria ou por um grupo dominante ou subordinado, então a inclusão pode ter a mesma implicação - que é qualquer acção realizada por uma maioria para uma minoria ou grupo dominante ou subordinado. Na melhor das hipóteses, pode ter algumas implicações paternalistas; na pior das hipóteses, exclui o grupo em minoria /subordinado da acção - de uma parte na determinação da forma, conteúdo e significados da sua "inclusão". Essa falta de acção pode não ser prevista e as definições podem incluir especificamente a noção de acção - mas está implícito no termo se alguém pergunta "Quem está a incluir quem? ".

Segundo os nossos objectivos a inclusão social é definida como o processo social pelo qual as habilidades, talentos e capacidades das crianças são desenvolvidos e aprimorados para que a todos seja dada a oportunidade de realizar o seu pleno potencial assim como de participar plenamente na corrente principal da vida social e económica. Relacionada com este conceito está a noção de que a inclusão social pressupõe os direitos básicos de cidadania incluindo os direitos humanos individuais, sociais e económicos. No entanto, os programas tradicionais de recreação têm sido conduzidos de uma forma paternalista, muitas vezes, com a finalidade do controlo social. Portanto pode ser necessário distinguir entre esses programas e oportunidades destinados ao controlo social e os que facilitam o desenvolvimento e envolvimento da comunidade (ver próxima secção). Reconhecemos também que programas voltados especificamente para as crianças pobres ou em alto risco podem realmente ter um efeito "de exclusão" e que uma política global de acessibilidade à recreação com base na necessidade (e não na capacidade de financiamento) tem maior probabilidade de ter o efeito de "inclusão social".

Ao destacar esses problemas e formando uma definição precisa de "inclusão social", é possível evitar cair nas tradicionais armadilhas de fornecimento de programas (por exemplo, sistemas descendentes conduzidos por peritos; subversão da progressiva intenção original dos programas, etc.). Por isso sentimos que é importante reconhecer uma dimensão de "poder", em termos de "quem tem o poder de mudar? "para que a inclusão social ocorra. Por exemplo, em termos de programas orientados para o lazer, em que medida podem "especialistas" e "profissionais" abdicar do seu poder para que as crianças e jovens, que são os beneficiários do programa, possam ser envolvidos no seu planeamento, design e execução?

Existem políticas com determinadas orientações associadas com o conceito de inclusão social. É necessário continuamente a questionar o conceito para adaptar, modificar e (re) definir a inclusão social. Por exemplo, a inclusão social pode incluir a criação exclusiva de 'nichos' nos quais os indivíduos se sentem confortáveis1 assim como a criação de um espaço e oportunidades comuns. Em primeiro lugar a inclusão é uma questão de acesso. É necessário que as oportunidades de participação físico-recreativas estejam disponíveis antes que do examine de qualquer das circunstâncias em que a recreação física possa promover a inclusão social. Isto torna importante delinear os termos dessas oportunidades. Como Coakley observou, no que respeita ao desenvolvimento da criança:

Correndo o risco de simplificar demasiado uma impressionante matriz de pesquisa e teoria

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sobre a juventude e desenvolvimento infantil..transições positivas da infância para a adolescência à idade adulta são mais prováveis quando os jovens vivem num contexto em que são: (1) fisicamente seguros; (2), pessoalmente valorizados; (3) socialmente conectados; (4) moral e economicamente apoiados (5), pessoal e politicamente capacitados, e (6) confiantes no futuro. Na medida em que os programas de desporto atendem a estas necessidades podemos esperar que contribuam para o desenvolvimento positivo dos seus participantes (Coakley, 2002, p. 25).

Se a recreação física, deve ser envolvida no processo de inclusão social, estas são exactamente o tipo de características estruturais e culturais que devem ser encontradas em programas de recreação.

Recreação Física

Este trabalho concentra-se principalmente na recreação física e no desporto, em vez de, por exemplo, na música, artes e ofícios (embora também importantes para a inclusão social), pois a nossa experiência reside nessas áreas. A recreação física inclui todas as formas de actividade física de lazer, desde jardinagem a caminhadas, dança e desporto. Também envolve aspectos formais e informais, organizacionais e casuais de participação. No entanto, a maioria das pesquisas lida com os programas estipulados pois as actividades mais informais de lazer são mais difíceis de medir.

A esfera da cultura física que inclui o desporto e a recreação física pode ser pensada como um camaleão ideológico. A natureza socialmente construída destas formas culturais produziu não só uma variedade infinita de formas de movimento, jogo, pratica de exercício e competição mas também uma gama de valores e significados associados a essas actividades. Por exemplo, o desporto e as actividades físicas foram utilizados para apoiar as formas mais regressivas e divisas de nacionalismo e as formas mais humanitárias de internacionalismo. Podem envolver as formas mais reguladas de acção colectiva e mecânica (por exemplo, ginástica de massas e marchas) e as formas mais criativas de acção individual (por exemplo, dança). A capacidade de associar significados e valores tão diversos tem, naturalmente, resultado em usos políticos do desporto e recreação física na educação, militares e da indústria e para fins como a promoção do nacionalismo e identidade nacional.

Actualmente, encontramos uma ampla gama de significados e valores ligados à recreação física nos países desenvolvidos do Ocidente. Talvez o significado mais dominante esteja associado à personalização da saúde, que envolve o imperativo moral para o exercício de forma a estar apto e atraente, a assumir responsabilidade pessoal na saúde e a economizar custos de saúde ao Estado. Da mesma forma os valores liberais democráticos do trabalho em equipa e a competitividade são modelados em desportos colectivos. No entanto, ao longo do século XX verificou-se uma terceira vertente ideológica, particularmente em liberais sociedades democráticas de imigrantes, como a canadiana e a norte americana. Isto envolveu o uso de recreação para crianças e jovens (em conjunto com a educação), no desenvolvimento da cidadania e como um instrumento para a assimilação - ambos, como alegado posteriormente, elementos da inclusão social.

O presente objectivo é indicar que, embora existam benefícios amplamente divulgados da participação na recreação física, a participação não possui consequências automáticas podendo associar-se diversos significados. No caso de crianças e jovens, os participantes podem ser explorados, maltratados, intimidados ou dominados, em muitos aspectos dos programas de

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actividade organizada; podem transmitir-se valores inadequados ou competências perigosas (como produção de lesões), podem conferir sentimentos de alienação, isolamento e humilhação. Porém também por dar-se o inverso. (ver secção seguinte intitulada Benefícios da Participação).

Contexto

Para considerar plenamente as circunstâncias em que a recreação física pode ser utilizada para promover a inclusão social é necessário examinar os diferentes contextos em que tal processo pode ocorrer. O seguinte apartado considera os contextos históricos, actuais (benefícios e barreiras) e os contextos ideológicos em que a inclusão social e recreação física podem estar associadas.

Contexto Histórico: Assimilação e Controlo Social

Na secção anterior definiram-se as formas em que a recreação física se associa a diferentes significados. O desenvolvimento urbano da recreação, em especial no caso de parques infantis e programas de recreação, foi realizado com um conjunto específico de objectivos: assimilação e controlo social. As análises iniciais sugeriram que os reformadores da classe média, da última parte do século XIX, observaram a situação da juventude urbana e iniciaram a construção de parques para recreação. Posteriormente, análises mais críticas (por exemplo, Goodman, 1979), propuseram que essas obras tinham mais interesses envolvidos e que esses espaços necessitavam de regulação e supervisão2- controlo social numa época em que os jovens urbanos foram os primeiros a ser olhados como um problema social. Observações mais recentes (Hardy e Ingham, 1983) sugerem que os pais de classes trabalhadoras esperavam activamente pela prestação de programas recreativos para os seus filhos mas que essa disposição só foi feita quando o benefício para o auto-interesse das classes média e alta se tornou aparente. O controlo social foi o preço nominal que os pais das classes trabalhadoras pagaram - deram aos seus filhos uma faca de dois gumes, recreação racional e supervisão, a fim de alcançar a possibilidade da recreação. Mais provas da recreação física como controle social decorrem do uso específico da actividade física em centros de detenção de jovens e nos esforços das organizações como a liga atlética da polícia nos Estados Unidos da América (cf. Duarte, 1981).

No entanto, como Coakley (2002) observa na sua crítica dos motivos de controlo social: Antes que quem quer que tenha usado o argumento "tirar-crianças-da-rua-e-mantê-las afastadas de situações perigosas- tome a defensiva, deixe-me dizer que percebo a importância de qualquer programa que forneça aos jovens contextos seguros em que podem desenvolver competências e sentir-se membros valiosos na vida comunitária. A minha opinião aqui é que .... este argumento .... associa-se ao sonho de controlo social e redução do défice que muitos [poderosos] têm quando pensam como o desporto pode ser usado para resolver [Problemas sociais] (p. 20).

Da mesma forma, um dos investigadores envolvido numa primeira fase destas revisões (anónimo) - argumentou de forma persuasiva que "é possível que algumas populações de jovens excluídos/ identificáveis (casos de depressão não diagnosticada ou de ADD / ADHD) possam realmente beneficiar significativamente de iniciativas motivadas pelo controlo social mas que nunca tirariam partido delas se estes não fossem introduzidos de uma forma paternalista”. Os programas orientados para o controlo Social não são ideais. Podem ser um ponto de partida necessário para algumas populações e algumas crianças podem beneficiar de uma maneira significativa. Mas não é suficiente, numa exploração da inclusão social e recreação, sugerir que são "melhores que nada " e até mesmo programas que se iniciam com motivos paternalistas e

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motivos controlados devem, idealmente, mudar para uma orientação mais abrangente. Os programas de recreação urbana na América do norte (em conjunto com a educação pública) foram também frequentemente desenvolvidos com a intenção específica de assimilação de filhos de imigrantes (cf., Goodman, 1979; Hardy, 1982; Rosenberg, 2000; Rosenzweig, 1985). Os dois gumes da espada da recreação são também evidentes com a concretização de programas e locais de recreação conquistados com o sacrifício da cultura (um facto que deve ser salientado é que tem sido abraçado por muitos imigrantes, especialmente em gerações anteriores, que queriam que seus filhos fossem "canadianos ou"americanos").

Assim, a recreação física urbana foi proporcionada e concretizou-se à custa de regulações e assimilações externas. Actualmente no Canadá, os custos de assimilação estão bem documentados numa sociedade multicultural (por exemplo, escolas residenciais, perda da língua e cultura, mesmo entre 'nações fundadoras') e os programas de recreação destinados á promoção da inclusão social necessitam ter em consideração os princípios multiculturais (cf., Paraschak, 1982). Da mesma forma, as ideias vigentes de emancipação e autodeterminação sugerem que os participantes se envolveram na concepção dos seus programas e os programas concebidos para o controlo social estão a tornar-se reconhecidos a curto prazo como soluções parciais para graves problemas sociais estruturais (Cf. Pitter, & Andrews, 1997).

Contexto actual: Benefícios da Participação

As descrições dos benefícios da participação no desporto e recreação física têm sido exaustivamente catalogados (livro canadiano dos benefícios da associação e parques recreativos). Uma revisão recente da literatura (Donnelly, McCloy, Petherick e Safai, 2000) indica a consistência de resultados, em diferentes culturas, dos benefícios nas áreas da saúde na infância e ao longo da vida, nas áreas de aprendizagem e realização académica; nas áreas de cidadania e democracia e nas áreas de liderança e motivação. Por exemplo, em actividades de recreação física as crianças podem adquirir importantes capacidades relacionadas com a qualidade de vida: comunicações intra e inter-pessoais, determinação, perseverança, confiança, liderança, cidadania, orientação por metas, motivação e satisfação pessoais3. Também foi dada á participação uma racionalidade económica nos últimos anos: numa recente apresentação na cimeira mundial de educação física, Kidd (1999) observou que "a lacuna em proporcionar educação física foi mais significativamente custosa para a sociedade e governos, que o seu fornecimento " e apontou a ideia errada de não fornecer essas oportunidades. Na verdade, os serviços de saúde do Canadá estimam que por cada dólar investido em actividade física se poupa a largo prazo 11 dólares em custos de saúde.

Os benefícios são particularmente importantes para as crianças pois a recreação física é fundamental para o desenvolvimento físico, motor, social e emocional. Na verdade, Offord, Hanna e Hoult (1992) notam que as crianças mostram atraso no desenvolvimento físico e motor dificilmente revertem a níveis normais de crescimento. A investigação muito raramente se centra em populações socialmente excluídas embora haja razões para suspeitar que as crianças podem beneficiar da participação. Assim, a relação entre recreação e inclusão social deve ser implícita. Por exemplo, Ross e Roberts (1999) observam que a “participação em actividades de lazer pode ...contribuir para melhorar a qualidade de vida. A participação em desportos, a associação em clubes ou grupos, música, dança ou arte são exemplos de maneiras em que os jovens podem participar nas suas comunidades, adquirir novas capacidades e socializar fora do seu ambiente familiar (citado pelo Conselho Canadiano para o Desenvolvimento Social

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(CCDS), 2001) ”. Da mesma forma, Ewing, Seefeldt e Brown (1996) notam que: "as primeiras experiências de jogos com os pais, por exemplo, transmitem competências sociais e de capacidades e controlo físico. O apoio de um treinador ou supervisor num ambiente de recreação pode fornecer às crianças similares vantagens no desenvolvimento de habilidades, competências e auto-estima (citado por CCSD, 2001). (A secção posterior vai analisar em pormenor as pesquisas sobre a relação entre recreação física e inclusão social).

Contexto actual: obstáculos estruturais para a participação4

Donnelly e Harvey (1996) fornecem uma análise indicativa e aprofundada dos obstáculos estruturais à participação na recreação física no Canadá. Um modelo foi desenvolvido reconhecendo três tipos de barreiras: infra-estruturais, super-estruturais e processuais, e dois tipos de acesso – participativo e representativo. Este modelo tem a vantagem de facilmente identificar acções concretas a serem tomadas para superar barreiras sistemáticas para aceder á recreação física (um número destes estão descritos nas recomendações na conclusão deste trabalho). No entanto, tal modelo tende a dar a impressão de que cada uma das acções propostas tem igual importância. Assim, Donnelly e Harvey enfatizam dois aspectos em relação a barreiras estruturais a aceder.

Em primeiro lugar, em todos os principais segmentos da população (classe social, deficiência, património étnico cultural, idade e sexo) a classe social parece ser a principal variável a ter em conta - tanto como segmento distinto como em relação a todos os outros segmentos populacionais. O modelo identifica a classe social como principal determinante socioeconómico que cria desigualdades substanciais. Este ponto é consistente com a pesquisa sobre a saúde da população (por exemplo, Evans, 1994). Portanto, a crescente desigualdade na distribuição da riqueza entre os canadianos - particularmente durante a última década - pode constituir a exclusiva e mais importante barreira para o acesso à recreação física sendo que pode fragilizar a maioria das iniciativas propostas para ultrapassar outras barreiras.

A evidência que apoia este ponto é esmagadora e suporta uma consistente conclusão na sociologia do desporto referente á relação linear entre rendimentos e participação. Por exemplo, as análises da investigação longitudinal de crianças e jovens de estatísticas nacionais do Canadá (1994 e 1996) do CCDS de 2001, observaram as participações na recreação de crianças em intervalos superiores ou inferiores de baixos rendimentos (LICO) e por rendimento familiar. Por exemplo:

• Participação em desportos com um treinador, uma ou mais vezes por semana – acima de LICO (59,1%); abaixo de LICO (37,1%).

• Participação em dança / ginástica, uma ou mais vezes por semana – acima de LICO (31,5%); abaixo de LICO (21,1%).

• Participação em acampamentos nocturnos – acima de LICO (22,8%); abaixo de LICO (17,6%) e diários – acima de LICO (34,5%); abaixo de LICO (21,8%).

Por rendimento familiar:

• Participação em desportos com treinador, uma ou mais vezes por semana - menor (36%), 1 quarto (45,8%), média (52,3%), segunda (59%), a mais alta (71,5%).

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• Participação em dança / ginástica, uma ou mais vezes por semana - menor (20,8%), mais alta (37,1%).

• Participação em acampamentos nocturnos - mais baixa (16,4%), a mais alta (29,2%); e diários menor (20,6%), maior (44,1%).

Análises preliminares do ELNEJ 1998 (Estatísticas do Canada, 2001) não apresentam alterações significativas desses resultados:

• Crianças no quartil mais baixo de rendimentos apresentavam três vezes mais probabilidade de nunca ter participado em actividades organizadas (desporto, música, artes ou clubes) que crianças no quartil mais elevado;

• Crianças cujos pais tinham menos que o ensino médio tinham mais do dobro da probabilidade de nunca ter participado de actividades organizadas.

Estes resultados gerais são também confirmados por estudos mais concentrados na comunidade (por exemplo, Hughes & Griffiths, 1992; Offord, Lipman & Duku, 1998). Quando medidas simples de rendimentos e educação são combinadas com questões como constrangimentos organizacionais e familiares ou combinados com outras categorias de exclusão social (de género, património étnico cultural, etc), o impacto sobre a participação torna-se ainda mais significativo.

Em segundo lugar, Donnelly e Harvey, notam que para conseguir o acesso à recreação física, muitas iniciativas cujo impacto é mais amplo que a recreação física, têm de ser adoptadas por si só. Ball assinalou recentemente que os cuidados de saúde são apenas parte da resposta na melhoria da saúde e bem-estar dos Canadianos.

Existe uma forte e crescente evidência de que muito mais poderia ser alcançado se um maior esforço fosse investido na melhoria de outros factores que têm um impacto importante na saúde da população tais como as condições de vida e de trabalho. Em suma, a saúde dos Canadianos melhoraria significativamente se mais atenção fosse dispensada a factores subjacentes que afectam a saúde e o bem-estar mais que apenas o tratamento da doença "(1995, p. 5).

É claro que a recreação física está entre estes factores subjacentes, mas iniciativas que tendem a aumentar o acesso à recreação física sem terem em conta as condições gerais de vida e de trabalho da população alvo não são susceptíveis de serem bem sucedidas. A necessidade para tais iniciativas de base ampla está a ser reconhecida em várias áreas. Por exemplo, em relação aos jovens em risco, John Hagan observa que, os problemas "sociais - pobreza, racismo e bairros desfavorecidos - são aspectos inter-relacionados. Os órgãos sociais devem concentrar-se não em problemas e programas individuais mas sim na combinação dos seus esforços e experiência. São necessárias abordagens abrangentes e integradas para reduzir a exposição de crianças e adolescentes a contextos de alto risco "(citado por Cusack, de 1995, 17).

A pesquisa de Donnelly e Harvey foi conduzida pela Agência de Fitness da Saúde do Canadá, com a preocupação do uso da recreação física em iniciativas de saúde da população. Se, como argumentado neste artigo a inclusão é, em primeira instância, uma questão de acesso, existem claras implicações para a promoção da inclusão social por recreação física.

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Contexto Ideológico: O Direito de Participar

A segunda metade do século XX foi caracterizada pela preocupação com os direitos humanos, e as primeiras declarações para o acesso ao desporto e actividade física como um direito humano foram desenvolvidas como "o direito de participar" na década de 1970. Os países europeus foram particularmente influenciados pela Carta do Desporto Europeu de 1975 5(Www.culture.coe. Fr / txt InfoCentre / eng/> Espchart2.html), o primeiro artigo em que se afirmou que: Cada indivíduo tem o direito a participar no desporto. Isto foi rapidamente seguido pelo Carta Internacional de Educação Física e do Desporto, adoptada pela UNESCO em Novembro 1978 (www.unesco.org / juventude /> charter.htm). O primeiro artigo estabelece que: a prática de educação física e desporto é um direito fundamental de todos.

As cartas específicas das Nações Unidas também começaram a defender o direito de participar. Por exemplo, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979) aborda explicitamente o desporto e a actividade física, assim como a Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança(1989)6.

Mais recentemente, Jean Harvey (2000) caracterizou o direito de participar na recreação física como um dos direitos da cidadania completa e usou esse argumento para o caso Canadiano de Desporto para Todos. No entanto, por um lado tem-se um clima ideológico em que existe uma preocupação generalizada pelos direitos do ser humano e em que o Canadá é signatário de documentos internacionais proclamando o direito à participação na actividade física e por outro, um clima ideológico caracterizado por taxas de utilização, privatização e redução das oportunidades de recreação física nas comunidades e no desporto escolar e educação física. Kidd e Donnelly (2000) alegaram a necessidade de controlar e desafiar o cumprimento do Canadá como signatário das cartas da ONU apologistas do direito de participar. Se a inclusão começa como um problema de acesso este é bom ponto de partida.

Inclusão Social e Recreação: Uma Revisão da Literatura

Nesta secção, consideramos uma série de estudos e recomendações de políticas que aclaram a relação entre inclusão social e recreação física e as circunstâncias em que a recreação física pode promover a inclusão social. Em termos gerais, os benefícios de desportos socialmente abrangentes e de programas recreativos são maximizados se forem organizados para fornecer aos participantes o seguinte:

1. Um ambiente seguro. Isto é especialmente importante entre os participantes que sofrem ameaças diárias ao seu bem-estar social por afastamento do ambiente social ou por utilização violência defensiva. Isto também evidencia a necessidade de programas para enfatizar uma filosofia de não-violência mesmo quando se trata de desportos de contacto físico.

3. Oportunidades para desenvolver e mostrar competência. Isto é especialmente importante entre os participantes que são membros de grupos que experimentam marginalização social e cultural pela sociedade em geral. De destacar a necessidade de programas a serem implementados na comunidade em formas que permitam aos participantes converter auto-estima, num contexto atlético ou recreativo, num sentido de valor moral na comunidade em geral.

4. As redes sociais. Isto é especialmente importante entre os participantes que regularmente enfrentam conflitos e adversidades no dia-a-dia. Isto também evidencia a necessidade de

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programas para facilitar afinidades com os seus pares, cultivar e fortalecer amizades e promover capacidade de comunicação e resolução de conflitos.

5. Apoio moral e económico. Este é importante entre participantes privados da convivência com adultos. Isto também destaca a necessidade de programas que ultrapassem as necessidades de modelos tradicionais e de fornecer apoio directo e orientação aos participantes á medida que estes tomam decisões morais e económicas nas suas vidas quotidianas.

6. Autonomia e controle nas estruturas em que ocorrem as suas experiências. Esta é especialmente importante entre os participantes que têm poucas experiências mostrando-lhes que podem controlar as suas vidas e os contextos em que vivem. Isto também destaca a necessidade de programas que incluam oportunidades sistemáticas para que os participantes se envolvam na tomada de decisões (ver abaixo).

7. Confiança no futuro. Isto é especialmente importante entre os participantes que têm um sentido restrito de possibilidades porque raramente, ou nunca, observaram adultos com capacidade de auto-subsistência e sucesso para com os desafios nas suas vidas. Isto salienta a necessidade de programas que intencionalmente expõem os participantes a uma ampla gama de possibilidades e visões para as suas vidas.

Naturalmente, estas são conclusões gerais baseadas numa série de estudos sobre o desenvolvimento social e esta é uma lista imensa para qualquer um que considere a criação de um programa de recreação física. No entanto, se os programas de recreação física devem ter um impacto positivo na vida dos jovens, especialmente aqueles que vivem em comunidades caracterizadas por necessidades económicas e problemas sociais,” a menos que estas necessidades possam ser atendidas, [recreação] os programas nunca serão forma viáveis de intervenção social"(Coakley, 2002, 28).

Não foi encontrado qualquer estudo que teste a capacidade da recreação para promover a inclusão social ou que analise projectos que supostamente tenham este objectivo. No caso da decorrente experiência britânica na erradicação da exclusão social, existe um claro cepticismo (descrito abaixo) sobre a possibilidade de tal relação se tornar um elemento fundamental da política, pelo menos no caso do desporto de competição.O nosso ponto de partida é a medida em que os participantes estão envolvidos nos processos de tomada de decisão, certamente, um elemento-chave nas socialmente abrangentes actividades.

Frisby Crawford, e Dorer (1997) conduziram um estudo que caracterizava a actividade dos participantes e a necessidade de considerar as circunstâncias da vida dos participantes. Este projecto modificado com sentido ascendente na British Columbia enfocou-se nas "mulheres que viviam abaixo da linha da pobreza e que estavam interessadas em aumentar as suas oportunidades de participação na actividade física "(19). Designa-se modificado pois os membros da população alvo estavam em parceria com um grande grupo de indivíduos e instituições de classe média (por exemplo, investigadores universitários, departamento de parques e recreação, serviços familiares, unidades de saúde, etc.). Há medida que o programa de actividade física ia sendo desenvolvido pela parceria, o grupo alvo, que se identificava como "mulheres de baixos rendimentos ", imediatamente ampliou o grupo de actividade para incluir os seus filhos."Não separaram as suas necessidades imediatas das das suas famílias [e] declaram que «os seus filhos vêm em primeiro lugar ' e sacrificariam o seu envolvimento nos mesmos para garantir que as necessidades dos filhos eram atendidas "(19).

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As mulheres sentiram-se habilitadas a não só nomearem-se, mas também a alterar o projecto para atender às suas necessidades e ás dos seus filhos. Sem a sua intervenção, o design do programa orientado somente para as mulheres (ou seja, que não teve em consideração toda a sua situação de vida que incluía as crianças) teria sido um fracasso. Os investigadores e provedores de programa tinham-se centrado numa população específica, sem ter em conta a incapacidade dos indivíduos para pagar serviços de acolhimento para os seus dependentes. Sem a parceria os "especialistas" teriam provavelmente atribuído o desaproveitamento das oportunidades proporcionadas à intransigência das vítimas. Mesmo com a sua participação, os investigadores perceberam que as mulheres auto-seleccionavam: "eram brancos, com filhos em idade pré-escolar e estavam dispostos a reduzir o isolamento social em que estavam " (20). Entre outras "mulheres que viviam abaixo da linha de pobreza " falharam " em alcançar as mulheres de baixos rendimentos mais marginalizadas da comunidade (por exemplo, de minorias visíveis, isoladas por abuso e mulheres mais velhas com baixos rendimentos) "(20). O projecto tomou medidas para ultrapassar as barreiras à participação que foram apontadas pelas mulheres envolvidas por estabelecimento de uma actividade física paralela e programas de cuidados infantis. Aproximadamente 70 mulheres e 150 crianças participaram regularmente. Como Frisby et al observa que, "as mulheres sentiram afinidade pelos programas, porque tiveram a liberdade de escolher o envolvimento e as suas vozes foram ouvidas durante o projecto "(1997, p. 20).

O projecto descrito por Frisby et al centrou-se na exclusão e respectiva descendência de mulheres adultas. A actividade para as crianças é o conceito mais difícil e reside na raiz das condições e preocupações básicas relativos à inclusão social de crianças e jovens. Pode confiar-se às crianças os poderes de decisão quando todos os sistemas estão definidos em termos de "provisão" (por adultos e / ou especialistas, para as crianças)? O trabalho de Voyle's (1989) sobre a "administração adolescente de um centro de recreação ", também apresenta um modelo de sucesso de actividade participante. Esta investigadora estudou uma "comissão predominantemente adolescente que fundou e actualmente gere um centro de recreação da comunidade "(31) na Nova Zelândia a fim de abordar questões como: O que motiva os adolescentes a participar em organizações comunitárias? O que ajuda a manter a sua participação? Que vantagens e / ou desvantagens existem na partilha de poder entre adultos e adolescentes na organização? Voyle problematiza um elemento-chave no estilo de liderança autoritário em muitas organizações desportivas: " O monopólio do poder nos adultos deixa aos adolescentes a escolha entre duas alternativas: cumprir autoridade dos adultos ou optar por não participar "(31).

Como Chalip (1980) observa: " as instituições desportivas existentes podem, na pior das hipóteses, excluir os atletas que acabariam por ser a mais bem sucedidos ... "(80). No caso descrito com êxito por Voyle, pode observar-se uma receita para o sucesso (33):

Estar dispostos a partilhar o poder com os adolescentes Maximizar as oportunidades para os adolescentes assumirem papéis importantes Prever as necessidades sociais dos adolescentes Ter expectativas realistas

Como Voyle observa: "O que mais importa aos adolescentes é ser permitida a oportunidade de fazer algo por si mesmos. Os adultos podem ajudar oferecendo apoio, orientação e acesso aos recursos "(34).

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Coakley e White (1992) identificaram similares preocupações com a actividade no seu estudo mostrando como os adolescentes, na maioria da classe trabalhadora jovem em Inglaterra, tomavam decisões sobre a participação. O estudo descreveu uma série de barreiras à participação de classe e género e concluiu que as decisões sobre a participação em actividades físicas de lazer foram baseadas nas preocupações em se tornarem adultos e nas competências pessoais e reflectiu:

• Restrições relacionadas com dinheiro, pais e amigos do sexo oposto • Apoio e incentivo de pessoas com influencia importante nas duas vidas • Experiências passadas no desporto escolar e aulas de educação física

Em casos como os descritos aqui, onde a recreação física deixou de ser significativa para os adolescentes do sexo feminino que começaram a definir-se como adultos, a introdução de programas que não envolvam os participantes e que não têm essas preocupações em conta, será provavelmente mal sucedida.

Em dois relatórios adicionais do seu estudo em adolescentes Ingleses, Coakley e White (1994) criticaram uma campanha de marketing social ("Alguma vez pensou em praticar desporto?") pelas suas suposições e por não ter em conta a realidade dos jovens e dos seus contextos sociais; no seu relatório global (White & Coakley, 1986) forneceram mais de 30 recomendações para supervisores de centros de recreação. A execução das suas recomendações permitiria um avanço no longo caminho em direcção á realização de uma maior participação dos jovens na recreação física e na promoção da inclusão social.

A maioria dos projectos analisados centrou-se na recreação da juventude "em risco", com o intuito de avaliar o efeito positivo no comportamento. A nossa hipótese decorrente da análise desses estudos é a de que, embora haja pouca evidência da actividade ou partilha da decisão, o comportamento “desviante” e de abandono é mais susceptível de conduzir a exclusão social. McKay, Tremblay, Reid e Pelletier (1996) e Reid, Tremblay, Pelletier e McKay (1994), observaram relação entre "o tédio pelo lazer” e uma série de comportamentos negativos. Estas actividades de recreação podem ter um impacto na relação com a família, com os companheiros e questões relacionadas com a escola e influenciar significativamente o desenvolvimento social de crianças e jovens e a transição para a vida adulta "(citado por CCSD, 2001). Da mesma forma Mahoney, e Cairns (1997) encontraram uma relação negativa entre participação recreativa e taxa de abandono escolar defendendo a participação na recreação como meio para desenvolver uma conexão positiva com a escola.

Dois dos estudos mais conhecidos no Canadá (Offord & Jones, 1983; Browne Byrne, Roberts e Gafni, 1998) também foram orientados no sentido de reduzir "problemas de comportamento”. O estudo de Offord Ottawa foi desenhado para dar às crianças de baixos rendimentos uma qualidade de vida semelhante às crianças de classe média e envolveu apoios na participação em actividades recreativas. Um programa de um ano de desenvolvimento de competências extra-escolares envolveu todas as crianças com idades entre os 5-15 em habitação pública. O aparente efeito da participação na recreação/ desenvolvimento de competências na melhoria do rendimento escolar e comportamento em casa foi marginal. No entanto, os níveis globais de desenvolvimento de habilidades e auto-estima melhoraram e houve um claro efeito na redução do comportamento anti-social. De facto, em termos de custo eficácia, o custo do vandalismo, de episódios com necessidade de envolvimento das autoridades policiais e envolvendo pirómano

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eram muito mais elevados que o custo do programa. O trabalho de Offord neste projecto levou-o a iniciar o projecto Christie Lake para crianças em Hamilton.

Também na área de Hamilton, Gina Browne liderou uma equipa de pesquisa que criou um grupo experimental de crianças com pais solteiros. Durante dois anos foram fornecidos uma gama de serviços de saúde e social e as crianças receberam cuidados infantis e de recreação subsidiados de qualidade. O comportamento global das crianças melhorou em comparação com um grupo de controlo e aquelas crianças a que tinham sido diagnosticados transtornos de comportamento anteriores á experiencia alcançaram um nível de competência semelhante às crianças sem distúrbios de comportamento7. Em ambos estudos existem razões para a preocupação com os efeitos duradouros das intervenções. De facto, Offord sugere que os benefícios não duraram mais de um ano8.

Nos Estados Unidos da América, Witt, e Crompton (1996a, 1996b) reviram uma série de estudos que avaliavam programas de recreação física para "Jovens em risco». Como se lê na sua introdução: "O debate público em 1994 sobre a impulsão do controlo da [dos EUA] criminalidade violenta e aplicação da lei expôs graves divisões entre políticos, legisladores e advogados sobre estratégias eficazes para lidar com a ascensão da delinquência juvenil na América "(1996b, 1). Tal como acontece com os anteriormente referidos estudos canadianos, a maioria dos estudos revistos associa-se com controlo social assim como uma série de estudos na edição especial da Quest (1997) sobre o tema "Servir a jovens carentes por meio de actividade física". Os estudos destes programas são frequentemente orientados psicologicamente e metodologicamente têm lacunas. São muitas vezes definidos por instituições com um interesse particular na descoberta de benefícios da recreação física para resolver os problemas sociais.

Por exemplo, acredita-se que nos círculos amplamente recreativos nos Estados Unidos da América uma das maneiras mais fáceis de arrecadar dinheiro para a recreação é iniciar um programa para "jovens em risco (por exemplo, basquetebol). As razões residem no facto de que é muito mais fácil e barato ocupar o tempo dos jovens identificados como "em risco" do que lidar com os problemas reais da pobreza, bairros pobres, falta de modelos de comportamento, educação e outras questões. Estes programas são financiados porque são pouco dispendiosos e talvez porque as classes médias não conseguem suportar economicamente condomínios fechados para poder dormir melhor à noite sabendo que a população "perigosa" está a jogar basquete (cf., Pitter e Andrews 1997; Coakley, 2002).

Porém têm havido alguns programas criativos que não estão totalmente isentos de benefícios. Como observado anteriormente, consideramos os programas recreação motivados pelo controlo social como uma espécie de espada de dois gumes. Enquanto a ausência de um programa lúdico-recreativo tenha pouca probabilidade de criar capacidade de inclusão, vale a pena lembrar Voyle (1989) que adverte que "o monopólio do poder do adulto deixa aos jovens duas alternativas: a de respeitar a autoridade dos adultos ou optar por não participar "(31).

Nem todos os programas dos EUA caem no modelo de controlo social. Na verdade, Martinek e HELLISON, realizaram uma série de estudos que começam a transformar os programas de educação física universitária dos EUA. Estes descrevem como programas de recreação física podem ser envolvidos no desenvolvimento individual e comunitário (por exemplo, Martinek & HELLISON, 1997), e na forma pela qual os programas de recreação parecem promover a resiliência em jovens de bairros urbanos pobres. Tal resiliência é evidente quando crianças e

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jovens desenvolvem autonomia, optimismo, habilidades positivas, competência social e confiança.

Também nos EUA, Lawson e Anderson Butcher (2000) adoptaram uma abordagem nova orientada politicamente para questões da acessibilidade da recreação física e para o seu potencial em promover a inclusão social na sua defesa de um modelo de trabalho social para a prestação de desporto e recreação. Observam que: O trabalho social do desporto é de fundamental importância no mundo actual. [desenhamos o nosso] sentido [a partir da] do trabalho social, especialmente das suas teorias de acção e dos seus firmes compromissos de servir os oprimidos e as populações marginalizadas, em especial principal das crianças, jovens e famílias vulneráveis. Argumentamos que os líderes dos desportos têm muito a ganhar com a compreensão e incorporação das perspectivas da profissão social e das teorias da acção; e que os dirigentes do desporto precisam colaborar mais efectivamente com os assistentes sociais (1-2).

Existe pelo menos um caso, no Reino Unido, de uma política deste tipo em que um governo combinou as ideias de controlo social com trabalho social e construção da comunidade nas suas recentes iniciativas políticas.

A linguagem e a filosofia da inclusão social tornaram-se elementos-chave para a nova administração do trabalho de Tony Blair no Reino Unido, um compromisso que se estende á recreação física. White e Rowe notam (2000): [A] o compromisso do governo para com o desporto como meio de alcançar mais objectivos de politicas sociais nunca foi tão focado e recebeu um perfil tão elevado ... [A] Política Acção em equipa no desporto e nas artes ...concluiu que: "A participação nas artes e no desporto tem um impacto social benéfico. As artes e o desporto são abrangentes [com enfase] e podem contribuir para a renovação da vizinhança. Podem construir confiança e incentivar fortes grupos da comunidade ... e fazer a diferença para a saúde, criminalidade, emprego e educação em comunidades marginalizadas ". O resultado ... é um plano de acção para ... assegurar que o desporto e as artes maximizam a sua contribuição para a redução da exclusão social e contribuir para a renovação da vizinhança .... Todas as iniciativas são socialmente abrangentes e visam corrigir actuais desigualdades na participação em desportos (6-7).

No entanto, não há nenhum plano definido para trabalhar explicitamente sobre a inclusão social. A inclusão é vista apenas como uma questão de acesso - o acesso á não discriminação, acessibilidade por cadeira de rodas, etc. A inclusão é assumida da participação.

Investigadores envolvidos especificamente em questões políticas do desporto estão profundamente desconfiados do potencial do desporto organizado (ao contrário de outras formas de recreação física) para promover a inclusão social. Estes observaram a escassa evidência para apoiar a ideia de que o desporto é uma solução ideal para a exclusão social, embora a maioria poderia apontar alguns programas organizados numa base abrangente. Observam que o desporto organizado, pela sua natureza, envolve competição e que a maioria dos desportos organizados ocorre em estruturas hierárquicas e competitivas (por exemplo, campeonatos). O ênfase no sucesso competitivo, conformidade com as normas de ética desportiva como base para a reafirmação de identidade, a movimentação do indivíduo em sentido ascendente para o próximo nível, etc, combinam para tornar a exclusão e a marginalização como parte normativa da experiência desportiva. Além disso, o desporto confronta dois grupos e existem numerosos exemplos de grupos que se formarem por afiliações

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(por exemplo, afiliações étnico culturais), que não podem promover a inclusão social. É importante ter em conta estes aspectos tradicionais de programas de desporto organizado aquando do estabelecimento de actividades para a promoção da inclusão social.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Donnelly (1993) observou que: " temos apreendido há já muito tempo, embora com poucas provas, que a participação desportiva tem a capacidade de transformar o carácter dos indivíduos "(428).

Quando os indivíduos são capazes de se envolverem na criação e transformação do significado das suas actividades físicas, os efeitos transformativos podem ir além de questões de saúde e qualidade de vida: "É possível que a luta para alcançar um desporto e recreação totalmente democratizados [ no qual os participantes determinam a forma, condições e significado ] possa resultar na capacidade de transformar as comunidades. Os membros poderiam aprender a ter iniciativa, esforço da comunidade, colectivo em vez de individual, autodeterminação, etc, que poderiam permitir-lhes comandar as suas vidas e as das comunidades "(Donnelly, 1993, p. 428). Frisby et al (1997) constatou que o Projecto de Acção das Mulheres tomou medidas nesse sentido: " [O projecto] demonstrou como o processo pode resultar num sistema mais abrangente do desporto local e, ao mesmo tempo, fornecer um óptimo conjunto para a análise da dinâmica organizacional incluindo parcerias comunitárias no processo decisório colaborativo, desequilíbrios de poder, controlo de recursos, resistência à mudança, e estruturas não hierárquicas "(8).

Os pontos seguintes são oferecidos em conclusão:

1. Definir e medir a inclusão social: Inclusão social continua a ser um conceito elusivo na análise da pesquisa da recreação física. É evidente que a recreação física tem o potencial de lutar contra a exclusão social, mas demasiadas vezes a inclusão é assumida como uma consequência da participação. O ênfase neste trabalho foi o: (a) restrição no acesso, sem o qual o trabalho abrangente da recreação não poderia ocorrer, e (b) as condições estruturais e culturais dos programas de recreação física que podem promover a inclusão social. Neste momento, a nossa compreensão do primeiro - as barreiras ao acesso à recreação física (ver (3) abaixo) – é mais completa que o nosso entendimento do processo de inclusão social.

Este processo suscita várias questões:

• Como podemos medir a inclusão e quando ocorre? Está limitada a inclusão ao período de participação? Demasiados programas de grande sucesso na recreação física (por exemplo, Browne et al.; Offord, et al.) têm sido organizados como parte dos projectos de investigação baseados em pouco financiamento a longo prazo e sem capacidade de avaliações anteriores e posteriores a longo prazo e rastreamento. Tais estudos de longa duração e avaliações são necessários para determinar os efeitos sobre os indivíduos e comunidades e auxiliariam no desenvolvimento de ferramentas de avaliação adequadas e fiáveis para a medição da inclusão social. A definição de inclusão social deve ser continuamente revista e á luz de tal investigação.

- Até que ponto a inclusão ocorre em programas de controlo social orientados para a recreação? Será que eles já estabeleceram uma forma de exclusão social com códigos impostos de conduta? Como podemos observar na nossa análise, os programas de controlo social já podem ter alguns elementos exclusivos. No entanto, existem circunstâncias em que tais exclusões e controlos

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podem ser necessários para promover a meta de longo prazo para a inclusão. E, dada a liderança apropriada (ver (2) abaixo) e certas condições estruturais e culturais podem ter benefícios reais decorrentes até mesmo de programas controlo social.

• Em que medida pode a inclusão ocorrer em programas de desporto competitivo que parecem por sua própria natureza, praticar a exclusão social? Novamente, existem benefícios potenciais de tais programas uma vez que a liderança e as condições estruturais, como regulamentos (e sua aplicação) irá determinar se tais programas são, por exemplo, orientados pelo produto ou por processos.

2. Liderança: os benefícios reais da participação na recreação física parecem derivar das potencialidades manifestadas em crianças e jovens com "boa" liderança, educação e sinceridade. Parece que qualquer tipo de programa bem-intencionado funciona com as pessoas mais adequadas ao cargo. Assim, além de saber o que funciona é necessário saber como encontrar, ou educar, essas pessoas. Podemos precisar de treinar um corpo de jovens idealistas (cf., Katimavik) que estão preparados para desenvolver programas socialmente abrangentes de recreação física. Os corpos de liderança no desporto canadianos Bruce Kidd e o programa de ajuda Olímpica"treinador-a-treinador" em campos de refugiados são passos nessa direcção. Ajudar a resolver a actual situação de crianças Innu em Labrador, através do desenvolvimento bem planeado (pela comunidade e pelos participantes bem como dos líderes de recreação) e sustentado de programas de recreação física seria um ponto de partida ideal.

3. Obstáculos estruturais: Uma vez que a inclusão é, em primeiro lugar, uma questão de acesso, vale a pena considerar como o acesso pode ser alcançado pela superação estrutural / sistemática de barreiras que impedem a participação. Donnelly e Harvey (1996) desenvolveram uma série de recomendações para a superação de obstáculos estruturais e processuais e de infra-estruturas e super-estruturas para envolver na recreação física, sendo que as principais recomendações são reiteradas aqui:

Infra-estrutura:

Acessível, se não livre de encargos como transporte acessível e barato: A maioria dos grupos de risco geralmente apresenta menores rendimentos.

Calendário e agendamento: Eventos, actividades e programas devem ter em conta as limitações de tempo e disponibilidade das populações alvo, numa base diária, semanal, mensal e anual.

Instalações: devem ser acolhedoras, com respeito aos seus aspectos físicos (rampas, corredores espaçosos e casas de banho, interruptores acessíveis, contadores, portas automáticas, etc), e no que diz respeito à atmosfera (música, decoração, hospedagem que é sensível a situações e necessidades específicas).

Super estrutura:

Políticas em relação à violência, equidade e assédio têm de ser projectadas, implementadas e respeitadas.

Natureza das actividades: devem ser concebidas adequadamente de forma a envolver, acomodar e convidar as populações alvo e devem respeitar os costumes culturais.

Líderes (profissional ou voluntário): têm de ter uma consciência social adequada, sensibilidade cultural, desenvolvimento infantil e formação técnica; devem

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desempenhar um papel fundamental na defesa do desenvolvimento de políticas e programas que reduzam as barreiras ao acesso.

Maximização da igualdade de oportunidades através do diálogo: membros individuais e respectivos grupos e comunidades devem dar voz assídua a preocupações, ser ouvidos e agir em consonância para conjuntamente superar os obstáculos.

Procedimentos: • As estruturas hierárquicas devem dar lugar a amplas consultas, representação paritária, acção positiva e baseada na comunidade, capacitando as pessoas para fazer as suas próprias escolhas e manter o controlo dos programas. • O apoio social deve ser fornecido ou facilitado a grupos isolados ou indivíduos que necessitem de ajuda para poder participar. • As populações alvo devem ser informadas dos seus direitos, bem como dos recursos que podem ser colocados à sua disposição. Nunca podemos enfatizar demasiado que estas recomendações terão maior impacto positivo se forem implementadas em conjunto com uma ampla abordagem populacional com determinantes de desigualdade e a exclusão social. 4. Actividade: Temos de reconhecer as circunstâncias em que os programas de recreação física reconhecem a actividade dos participantes - em que os participantes são capazes de determinar (dentro de orientações de segurança e desenvolvimento adequado) "as formas, circunstâncias, e os significados da sua participação "(Donnelly, 1993). Tal participação democratizada parece provável que seja mais adequada para promover o desenvolvimento da cidadania e inclusão social. O principal apoio na inclusão de processos é encontrado em cenários onde os jovens são parte de uma estrutura de clube que é não hierárquica e onde as actividades não são exclusivamente baseadas em modelos de poder e desempenho [desportos competitivos] (Coakley, 2001), onde desportos de lazer e participação são as principais actividades e onde a integração da idade (em oposição à segregação da idade) é comum. O resumo da pesquisa de Coakley de 2002 com respeito ao desenvolvimento da juventude em recreação física é especialmente relevante para a promoção da inclusão social e vale a pena repetir aqui:

Correndo o risco de simplificar demasiado uma impressionante matriz de pesquisa e teoria sobre a juventude e desenvolvimento infantil..transições positivas da infância para a adolescência à idade adulta são mais prováveis quando os jovens vivem num contexto em que são: (1) fisicamente seguros; (2), pessoalmente valorizados; (3) socialmente conectados; (4) moral e economicamente apoiados (5), pessoal e politicamente capacitados, e (6) confiantes no futuro.

Na medida em que os programas de desporto [e a recreação] atendem a estas necessidades, podemos esperar que contribuam para o desenvolvimento positivo dos participantes (p. 25). A inclusão social está implícita nos programas que são executados ao longo destas linhas, não só porque se destinam a todos, mas também porque os objectivos da inclusão são evidentes em todas as seis necessidades. Tal é a profundidade da necessidade em muitas comunidades - "uma

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perigosa mistura de desnutrição, assistência médica inadequada, condições precárias de habitação, escolas sub financiadas, desalojamento, HIV, ambientes perigosos e contaminados, uso de drogas, gravidez na adolescência, brutalidade policial, gangs, assaltos, assassinatos, e desemprego parental"(Coakley, 2002, p. 25) – qualquer programa de recreação bem-intencionado é melhor do que nenhum. No entanto, esses programas só devem ser vistos para preservar vidas como um passo na progressão para programas que abordem os seis necessidades acima descritas e que tenham maiores probabilidades de resultar na transformação da comunidade baseada na inclusão social.

Notas finais

1. Como vários programas de "integração" têm concluído, uma dimensão não se adequa necessariamente a todos. No caso de certas deficiências ou tradições étnico culturais e religiosas, as disposições especiais precisam ser determinadas de modo a garantir um nível de conforto na participação ou mesmo que a participação é possível (por exemplo, o caso de certas mulheres muçulmanas que devem se realizar actividade física sem observação de homens).

2. Uma história em Hamilton, Ontário (que pode ser apócrifa) capta a essência da preocupação pelo controlo social e fiscalização levou à criação de recreação urbana. Na viragem do século passado, um grupo de crianças das classes trabalhadoras que jogavam em terrenos baldios recriou um assassinato particularmente horrível que ocorrida recentemente em Hamilton. Um grupo de mulheres da classe média que estavam de passagem ficou tão horrorizada com esta forma de jogar que posteriormente formou a Associação de recreios de Hamilton para arrecadar fundos para o primeiro recreio da cidade.

3. As evidências que apoiam tais descobertas são impressionante assim como os dados da investigação. No entanto, embora os dados da pesquisa mostrem relações consistentes entre a participação em actividade física e os resultados positivos não foi possível realizar estudos subsequentes, especialmente no que diz respeito aos efeitos não biológicos que determinam se a participação causou esses resultados. [Na verdade, uma das únicas formas verdadeiramente precisa para determinar se tal causalidade seria carente de ética interessou os estudantes da participação.] Assim, não é possível, com completa certeza, excluir um efeito de selecção pelo qual os participantes já têm o potencial para resultados positivos. No entanto, o peso esmagador das evidências de uma série de estudos e culturas, complementado pelo peso da evidência, sugere que existe a probabilidade de que esses resultados sejam positivos como resultado da participação. Assim, os dados que comprovam os benefícios de investir na recreação física infantil fornecem fortes evidências em aspectos educacionais, sociais, educacionais e de saúde melhorados pela participação.

4. Nas apresentações e nos documentos de síntese, uma série de autores de projectos de inclusão social Laidlaw observaram barreiras como a referência específica á recreação física - por exemplo, Phipps & Curtis, Goldberg & Kerstetter; Jenson & Stroick e Hoy, Matthews & Garcia.

5. Na maioria das declarações de "desporto como um direito", "desporto", é um termo previsto, no seu sentido mais amplo possível para incluir todas as formas de actividade física de lazer.

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6. Instituições como a ajuda Olímpica a crianças e o Grupo de Trabalho Internacional sobre a Mulher e o desporto usam a Convenção das Nações Unidas como ponto de partida para suas actividades.

7. As circunstâncias de saúde e económicas dos pais melhoraram e observou-se uma redução mensurável na despesa em serviços sociais e de saúde.

8. Donnelly (1981) construiu um argumento semelhante no que diz respeito às pretensões de " alteração de vida " dos que tinham frequentado cursos de Outward Bound.