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    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    FACULDADE DE ADMINISTRAO, CINCIAS CONTABIS E TURISMO

    CURSO DE TURISMO

    KAMILA SOUZA E SILVA

    TURISMO CINEMATOGRFICO EM NOVA YORK: A INFLUNCIA DOS FILMES

    NA IMAGEM TURSTICA DA CIDADE

    NITERI

    2012

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    KAMILA SOUZA E SILVA

    TURISMO CINEMATOGRFICO EM NOVA YORK: A INFLUNCIA DOS FILMES

    NA IMAGEM TURSTICA DA CIDADE

    Trabalho de Concluso de Cursoapresentada ao Curso de Graduao emTurismo da Universidade FederalFluminense como requisito parcial deavaliao para a obteno do grau deBacharel em Turismo.

    Prof. M.Sc. Ari da Silva Fonseca FilhoOrientador

    NITERI

    2012

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    S586 Silva, Kamila Souza eTurismo cinematogrfico em Nova York: a influncia

    dos filmes na imagem turstica da cidade / KamilaSouza e Silva -- Niteri: UFF, 2012.

    104p.

    Monografia ( Graduao em Turismo )

    Orientador: Ari da Silva Fonseca Filho , M.Sc.

    1. Turismo 2. Cinema 3. Nova York

    CDD. 338.4791

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    TURISMO CINEMATOGRFICO EM NOVA YORK: A INFLUNCIA DOS FILMES

    NA IMAGEM TURSTICA DA CIDADE

    Por

    KAMILA SOUZA E SILVA

    Trabalho de Concluso de Curso aprovadapara obteno do grau de Bacharel em

    Turismo, pela Banca examinadora formadapor:

    _________________________________________________Presidente: Prof. M.Sc. Ari da Silva Fonseca FilhoOrientador, UFF

    _________________________________________________Membro: Prof. M.Sc. Bernardo Lazary Cheibub, UFF

    _________________________________________________

    Membro: Prof. Dr. Ana Paula Spolon, UFF

    Niteri, 17 de maio de 2012.

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    AGRADECIMENTOS

    minha me Sandra, que apesar de no ter visto nenhum desses filmes

    comigo, sempre me apoiou, torceu, brigou e me ensinou de tudo um pouco. E acima

    de tudo por ser a melhor me do mundo. E um exemplo de mulher!

    minha irm Livy, acima de tudo amiga e parceira para todas as horas, por

    ter sado do computador e da internet nas horas em que eu mais precisei e

    desesperadamente pedi.

    Aos meus avs! Minha V Maria, pelos puxes de orelha, por no ter brigado

    tanto comigo quando faltei incontveis almoos de domingo e por sempre me

    lembrar da importncia dos estudos. E meu V Armnio, pelos conselhos e

    ensinamentos sobre a grande jogada da vida.

    minha enorme famlia, tios, tias, primas e primos, pela constante torcida.

    Ao meu orientador, prof. Ari, por compartilhar o mesmo entusiasmo pelo

    cinema e pela pacincia em meus momentos de desespero.

    Ao prof. Bernardo, por me indicar esses diretores e tantos outros que no

    foram utilizados neste trabalho.

    E finalmente, mas no menos importante, aos meus amigos dentro e fora da

    UFF. Em especial, Ana Beatriz e Marjorie, por todos os momentos loucos

    compartilhados, pelos filmes e livros emprestados e por me escutarem nos

    momentos em que a nica coisa que fiz foi falar, falar e falar de filmes e de Martin

    Scorsese, Woody Allen e Spike Lee.

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    Filmes so as memrias de nossa vida.Precisamos mant-los vivos.

    Martin Scorsese

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    RESUMO

    A relao entre o turismo e o cinema, ambos intensamente ligados questo dosimaginrios, torna-se mais evidente com os diversos estudos referentes aosegmento conhecido por turismo cinematogrfico. Inmeras aes so observadasem diferentes pases com o intuito de desenvolver e capitalizar com esse especficotipo de turismo. Nova York referncia para os dois campos, portanto foi utilizadacomo principal exemplo. A cidade um dos destinos tursticos mais visitados eprocurados no mundo, alm de possuir uma importante indstria cinematogrfica eum cenrio constantemente utilizado em produes audiovisuais variadas. A fim deobservar a influncia do cinema e da mdia no desenvolvimento do imaginrio e dasimagens tursticas foi analisado um conjunto de filmes de um grupo de trs diretoresnova-iorquinos: Martin Scorsese, Woody Allen e Spike Lee. Buscou-se observar

    como a cidade de Nova York retratada e representada pelas suas respectivasobras e as possveis interaes e associaes desses filmes com o turismo.

    Palavras-Chaves: turismo cinematogrfico, cineturismo, imagem, imaginrio, NovaYork.

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    ABSTRACT

    The relationship between tourism and film, both strongly linked to the issue of the

    imaginary, becomes more evident with the various studies related to the segmentknown as screentourism. Numerous actions are observed in different countries inorder to develop and capitalize on this specific type of tourism. New York is areference for the both fields, so it was used as the main example. The city is one ofthe most visited and sought tourist destinations in the world, as well as having animportant film industry and a scenario constantly used in different audiovisualproductions. In order to observe the influence of film and media in the developmentof tourist imaginary and images were analyzed an amount of films of three NewYorkers directors: Martin Scorsese, Woody Allen and Spike Lee. We tried to observehow the city of New York is portrayed and represented by their works and thepossible interactions and associations of these films with tourism.

    Key words: screentourism, cineturismo,image, imaginary, New York.

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    SUMRIO

    INTRODUO ............................................................................................................... 10

    1 O SEGMENTO CONHECIDO POR TURISMO CINEMATOGRFICO ............ 15

    1.1 O AUDIOVISUAL E O CINEMA ........................................................................ 15

    1.1.1 O audiovisual e o cinema brasileiro .................................................................. 18

    1.2 CINEMA E REALIDADE: REPRESENTANDO E FILMANDO OS LUGARES .. 21

    1.3 TURISMO CINEMATOGRFICO: A UNIO DO AUDIOVISUAL E DO

    TURISMO ......................................................................................................... 23

    1.4 FILM INDUCED TOURISM............................................................................... 29

    1.4.1 On location........................................................................................................ 301.4.2 Off location........................................................................................................ 31

    1.5 TURISMO CINEMATOGRFICO PELO MUNDO: OS EXEMPLOS DE

    NOVA ZELNDIA, INGLATERRA E AUSTRLIA ............................................ 32

    1.6 CONSIDERAES INICIAIS SOBRE O CINEMA NOVA-IORQUINO ............. 36

    2 IMAGENS DAS CIDADES NA MDIA: UTILIZANDO O EXEMPLO DA

    CIDADE DE NOVA YORK ................................................................................40

    2.1 IMAGENS E IMAGINRIOS NO CINEMA E NO TURISMO. ............................ 402.1.1 Imagens, imaginrios e o turismo na cidade de Nova York .............................. 43

    2.2 A IMAGEM NO MARKETING E A MARCA TURSTICA DA CIDADE DE

    NOVA YORK ..................................................................................................... 46

    2.2.1 City Marketing................................................................................................... 48

    2.2.2 Imagens x Marcas no turismo ........................................................................... 49

    2.2.3 A marca I LOVE NY!....................................................................................... 51

    2.3 AS CIDADES E O CINEMA: O EXEMPLO DE NOVA YORK ........................... 532.3.1 Cenas de Nova York e o turismo cinematogrfico na cidade............................ 55

    3 A CIDADE DE NOVA YORK PELOS DIRETORES ANLISE DAS

    PRODUES CINEMATOGRFICAS E INTERFACES COM O TURISMO..64

    3.1 A NOVA YORK POR MARTIN SCORSESE CAMINHOS PERIGOSOS

    (1973), TAXIDRIVER(1976) E CONTOSDENOVAYORK(1989) ................ 65

    3.1.1 O estilo de direo e a representao da cidade pelos seus filmes ................. 67

    3.1.2 As locaes e os pontos tursticos .................................................................... 69

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    3.2 A NOVA YORK POR WOODY ALLEN MANHATTAN (1979), TODOS

    DIZEM EU TEAMO (1996), CONTOS DE NOVA YORK (1989) E TUDO

    PODE DARCERTO(2009) .............................................................................. 72

    3.2.1 O estilo de direo e a representao da cidade pelos seus filmes ................. 74

    3.2.2 As locaes e os pontos turstico: Woody Allen aquecendo a indstria do

    turismo internacional ......................................................................................... 77

    3.3 A NOVA YORK POR SPIKE LEE - FAA A COISA CERTA (1989),

    MALCOLMX(1992) E CROOKLYN(1994) .................................................... 83

    3.3.1 O estilo de direo e a representao da cidade pelos seus filmes ................. 84

    3.3.2 As locaes e os pontos tursticos .................................................................... 87

    CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................... 90REFERNCIAS .............................................................................................................. 93

    APNDICE A - FILMOGRAFIA DE MARTIN SCORSESE................................................99

    APNDICE B - FILMOGRAFIA DE WOODY ALLEN.......................................................100

    APNDICE C - FILMOGRAFIA DE SPIKE LEE................................................................102

    ANEXO A - NEW YORK STATE GOVERNORS OFFICE FOR MOTION PICTURE

    AND TELEVISION....................................................................................................................103

    ANEXO B - THE CITY OF NEW YORK MAYORS OFFICE OF FILM, THEATREAND BROADCASTING...........................................................................................................104

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    INTRODUO

    Os motivos que influenciam os turistas so diversos e a essa crescente listadeve-se tambm acrescentar os filmes. Essa relao entre turismo e cinema, apesar

    de no ser to recente no sentido do cinema motivar viagens, originou um novo

    segmento conhecido como Turismo Cinematogrfico uma segmentao de

    mercado apoiada e proposta pelo Ministrio do Turismo. Este segmento vem

    despertando grande interesse de pesquisadores da rea do turismo e caminha para

    a consolidao da temtica como rea de estudo, por meio de uma crescente

    produo de trabalhos acadmicos.O Turismo Cinematogrfico configura-se tambm como uma alternativa

    interessante para atrair no s os turistas, mas tambm investimentos para a

    localidade, tornando assim importante o estudo desse segmento e suas

    particularidades. Para uma melhor compreenso do estudo e a fim de facilitar o

    trabalho a ser executado, decidiu-se focar em uma localidade a cidade de Nova

    York e como o turismo cinematogrfico se desenvolveu, bem como utilizado como

    um elemento que diversifica e ressignifica os atrativos locais j consolidados.A escolha de Nova York no foi ao acaso. Mesmo uma pessoa que nunca a

    visitou, possui alguma memria da cidade, devido em grande parte ao universo de

    imagens. O cinema um perfeito exemplo desse universo. Ou seja, conhecemos a

    cidade vista em um filme, mesmo sem nunca ter de fato a visitado.

    A cidade possui grande expressividade no contexto cinematogrfico

    americano e mundial. uma das localidades mais representadas em seriados,

    novelas, videoclipes, documentrios e especialmente em filmes. Alm de concentrar

    dois importantes escritrios destinados a promoo de filmes, o New York State

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    Governor's Office for Motion Picture and Television Development1e o Mayors Office

    of Film, Theatre & Broadcasting2, que estimam que em mdia 250 filmes por ano so

    rodados na cidade e no estado de Nova York. Aliado a isso, ela ainda um dos

    principais destinos visitados por turistas internacionais e domsticos.

    Sendo assim, a imagem que Nova York possui aos olhos do turista e para o

    resto do mundo em geral, est ligada tambm ao modo como ela representada

    nos filmes e na televiso.

    O objetivo geral do trabalho relacionar o estudo do cinema com o turismo,

    utilizando a cidade de Nova York como principal exemplo de destino turstico que

    explora a imagem da cidade por meio de filmes. Para tanto, analisaremos algumas

    produes de trs diretores que fazem parte de um grupo reconhecidointernacionalmente como cineastas nova-yorkinos, so eles: Martin Scorsese,

    Woody Allen e Spike Lee. importante destacar que a pesquisa utilizar somente os

    filmes, produzidos principalmente nas dcadas de 1970, 1980 e 1990, apesar da

    grande quantidade de meios de audiovisual que utilizam a cidade como cenrio. Em

    sua grande maioria, os filmes selecionados so considerados algumas das obras de

    maior destaque dos respectivos diretores.

    Assim, os objetivos especficos, descritos da seguinte forma, consistem emprimeiro, estudar o turismo cinematogrfico no mundo, a fim de apresentar e

    conceituar a terminologia especfica da rea. E, segundo, observar a construo da

    imagem turstica da cidade pelos filmes e diretores, explorando as diferentes vises

    de uma mesma localidade, a fim de demonstrar que apesar de existir somente uma

    Nova York, cada um a percebe de um diferente modo.

    A mdia representa uma grande influncia na vida cotidiana e o grande

    destaque se encontra no cinema. Por meio das telas do cinema possvel conhecerlocalidades e cenrios, novas histrias e diferentes personagens, envolvendo as

    pessoas e atuando fortemente em seu imaginrio e, portanto, instigando os turistas

    a conhecer de fato as famosas paisagens que os encantaram.

    Essa relao entre turismo e cinema configurou um novo segmento, que

    Nascimento (2009) aponta como Cineturismo. Por ser considerado um campo de

    1New York State Governor's Office for Motion Picture and Television Development. Disponvel em:

    . Ver anexo A, p. 103.

    2Mayors Office of Film, Theatre & Broadcasting. Disponvel em: . Veranexo B, p. 104.

    http://www.nylovesfilm.com/http://www.nylovesfilm.com/
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    estudo ainda recente, novas informaes so constantemente adicionadas e

    diferentes termos e nomenclaturas so constantemente utilizados. Beeton (2005)

    utiliza a expresso film-induced tourism (turismo induzido pelos filmes), a fim de

    abranger tambm televiso e DVDs, alm de somente o cinema, buscando no focar

    na forma como o filme visto, mas no filme em si e em suas influncias sobre o

    turista. No Brasil, alm do cineturismo, um termo utilizado simplesmente Turismo

    Cinematogrfico, adotado pelo Ministrio do Turismo (2007). Neste trabalho tambm

    ser adotada a nomenclatura proposta pelo Ministrio do Turismo.

    As diferentes nomenclaturas para um mesmo segmento, apesar de haver

    uma variao, so todas aceitas e, mais importante, possuem o mesmo objetivo. Ou

    seja, buscar compreender a relao entre turismo e cinema e a influncia que filmesexercem sobre os turistas.

    O caso mais famoso desse segmento ainda a Nova Zelndia e a trilogia do O

    Senhor dos Anis. O pas teve seu turismo impulsionado pela exposio obtida

    atravs da exibio dos filmes. interessante observar tambm a questo das

    polticas pblicas associadas ao cinema. Percebendo uma grande oportunidade com

    o anncio de que as filmagens seriam na localidade, o governo apontou um Ministro

    dos Anis que ficou encarregado no s da questo do turismo cinematogrfico emsi, mas em buscar promover empregos gerados pelas filmagens. (BEETON, 2005).

    Ao redor do mundo os exemplos de turismo cinematogrfico so diversos. A

    prpria cidade de Nova York - objeto deste estudo - possui uma filmografia

    incrivelmente extensa e talvez seja um dos destinos mais representados no cinema.

    E a imagem da Nova York cinematogrfica que muitos turistas procuram. Sendo

    assim, os filmes ajudam a divulgar e a criar novos destinos, alm de trazerem para

    destinos j consolidados novos olhares.Durante o decorrer do trabalho ser realizada uma pesquisa bibliogrfica

    sobre o tema para realizar um levantamento sobre os contedos e assuntos mais

    pertinentes e importantes para o estudo.

    No que diz respeito aos filmes e aos diretores analisados, os diretores fazem

    parte de um grupo reconhecido internacionalmente como cineastas nova-yorkinos,

    em sua grande maioria nascidos e/ou criados na cidade e que quase sempre a

    utilizam como pano de fundo para seus trabalhos. Dentro desse grupo os seguintes

    diretores foram selecionados: Martin Scorsese, Woody Allen e Spike Lee. Foram

    selecionadas dez (10) produes cinematogrficas, entre longas e curtas metragens,

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    dos trs diretores a serem avaliados. Dentre suas extensas filmografias, buscou-se

    aproximadamente trs produes de cada um dos diretores, tendo a preocupao

    de escolher os filmes que mais exploram a cidade em sua trama.

    O presente estudo, de acordo com a classificao proposta por Severino

    (2007), possui uma abordagem qualitativa, j que seus dados no podem ser

    quantificados atravs de nmeros, mas analisados de forma indutiva. Desde o

    primeiro momento da pesquisa, fez-se necessrio o levantamento bibliogrfico para

    composio da pesquisa bibliogrfica, tendo como base livros e artigos nacionais e

    internacionais, previamente selecionados, para elucidao do tema.

    Ao realizar esse levantamento, foi concludo que a produo bibliogrfica

    acerca do tema ainda restrita. Portanto houve tambm uma pesquisa virtual paraidentificar nos sites oficiais da administrao pblica do municpio, bem como de

    rgos envolvidos para a promoo da temtica como os dois j citados

    anteriormente.

    A seleo de diretores e de seus respectivos filmes foi realizada tendo as

    produes como referenciais para uma observao sistematizada, a fim de

    identificar a atividade turstica e atrativos que so apresentados pelos filmes. Foi

    realizada tambm uma anlise individual dos diretores e respectivos filmes paracompor a discusso da induo do turismo pelos filmes.

    Desta forma, a presente monografia est estruturada em uma introduo, trs

    captulos e uma concluso. O primeiro captulo, intitulado O segmento conhecido

    por turismo cinematogrfico, apresenta um panorama da indstria cinematogrfica e

    sua relao com a indstria do turismo, apresentando os principais pontos do

    segmento de turismo cinematogrfico, alm de exemplos de localidades que j

    desenvolvem diversas aes relacionadas a esse segmento. Sero utilizados comofonte de referencial terico, autores como Flvio Martins e Nascimento, Sue Beeton

    e o Estudo de Sinergia e Desenvolvimento entre as indstrias do turismo e

    audiovisual brasileira, elaborado pelo Ministrio do Turismo.

    O segundo captulo,Imagens das cidades na mdia: utilizando o exemplo da

    cidade de Nova York apresenta a relao das imagens com o turismo e o

    marketing. Focando na influncia dos imaginrios na formao de uma imagem para

    uma determinada localidade, alm da presena da mdia dessa relao. Buscando

    tambm demonstrar as diferentes formas que a cidade de Nova York vista nos

    filmes, sries e programas de TV em geral.

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    E finalmente, no terceiro capitulo intitulado A cidade de Nova York pelosdiretores anlise das produes cinematogrficas e interfaces com o turismo,

    realizou-se uma anlise dos filmes a partir da imagem que a cidade possui pelas

    narrativas construdas pelos diretores citados previamente.

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    1 O SEGMENTO CONHECIDO POR TURISMO CINEMATOGRFICO

    Antes de definir o segmento de turismo cinematogrfico propriamente dito,

    preciso contextualizar a questo do audiovisual e um pouco da histria do cinema,

    alm de sua relao com a atividade turstica. Para tanto, sero apresentadas as

    principais leituras feitas para composio de um breve panorama da histria do

    cinema e uma discusso referente ao material sobre o estudo de sinergia e

    desenvolvimento entre as indstrias do turismo e audiovisual brasileiras, elaborado

    pelo Ministrio do Turismo em 2007.

    1.1 O AUDIOVISUAL E O CINEMA

    O audiovisual , inicialmente, uma forma de se comunicar, agregando sons e

    imagens. O seu produto est relacionado transmisso e veiculao dessas

    imagens em movimento, a fim de difundir uma determinada mensagem ou

    informao ao pblico. Destacam-se diferentes tipos de audiovisuais, aqueles quese referem ao cinema, foco deste trabalho, como os filmes de fico, no fico e

    documentrios, de longa ou curta durao, clipes musicais, programas televisivos

    como sries, seriados de TV e reality shows, alm das novas mdias - a exemplo da

    internet- e filmes e vdeos para fins publicitrios. (BRASIL, 2007).

    O cinema, juntamente com a televiso e a internet, ainda um dos meios de

    comunicao e produtos audiovisuais mais populares atualmente. O cinema

    configura-se como um importante instrumento de lazer, mas ele tambm se

    apresenta como um importante campo/objeto de estudo.

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    O cinema detm suas origens nos anos de 1890, marcado por muitas

    inovaes, descobertas, experimentos e tentativas e at mesmo por competies

    acerca de suas exibies. Esses primeiros anos do cinema so conhecidos como o

    primeiro cinema. difcil imaginar que muito tempo depois o cinema se tornaria

    aquilo que conhecemos hoje. COSTA (2006, p. 18) destaca que

    No existiu um nico descobridor do cinema, e os aparatos que a invenoenvolve no surgiram repentinamente num nico lugar. Uma conjuno decircunstncias tcnicas aconteceu quando, no final do sculo XIX, vriosinventores passaram a mostrar os resultados de suas pesquisas na buscada projeo de imagens em movimento.

    Mas certamente dois nomes se destacam nesse perodo inicial, quecorresponde aproximadamente aos primeiros 20 anos da histria cinematogrfica,

    Thomas Edison nos EUA, mais precisamente Nova York e os irmos Louis e

    Auguste Lumire, na Frana. As origens das montion pictures - fotografias em

    movimento, remetem a Edison, que patenteou, tambm nos 1890, o quinetoscpio.

    O aparelho possua um visor individual atravs do qual se podia assistir, mediante a

    insero de uma moeda, exibio de uma pequena tira de filme em looping, na

    qual apareciam imagens em movimento (COSTA, 2006, p. 19). O prprio Edisonfilmava e produzia essas imagens, geralmente de danarinas, artistas e animais de

    circo.

    Enquanto isso, na Frana, os irmos Lumire se tornariam os responsveis

    pela mais famosa exibio de um filme de todos os tempos. A exibio, j bem

    discutida e descrita pelos estudiosos de cinema, no Grand Caf, ocorreu em

    dezembro de 1895. O interessante desse acontecimento, alm da exibio em si e

    consequente reao das pessoas presentes, o fato de seu sucesso estar aliado ampla divulgao feita, pelos irmos, de seu produto. Costa (2006, p. 19) atesta que

    eles eram de fato negociantes experientes, que souberam tornar seu invento

    conhecido no mundo todo e fazer do cinema uma atividade lucrativa, vendendo

    cmeras e filmes. O autor tambm destaca as diferenas entre os produtos de

    ambos os inventores, referindo-se ao dos Lumire como leve e funcional, alm de

    mais gil que o de Edison (COSTA, 2006, p. 19).

    Em seguida, a partir dos meados de 1910, pode-se perceber o cinema

    assumindo as caractersticas de uma indstria de fato. Durante esse perodo, ocorre

    o aprimoramento de etapas de produo e exibio. Para Costa (2006, p. 37) a partir

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    disso que se percebe o cinema como a primeira mdia de massa da histria. Com

    essas novas etapas, o trabalho e as funes passam a ser divididas, exigindo uma

    especializao por parte dos profissionais, destacam-se cargos como os diretores,

    roteiristas, os responsveis pela iluminao, as encarregadas do vesturio, os

    cengrafos, maquiadores (COSTA, 2006, p. 40), todos com necessidade de

    observao e acompanhamento, que exercida na figura do produtor. Pouco a

    pouco percebemos o cinema caminhar para alguns dos moldes conhecidos

    atualmente.

    A grande demanda e interesse pelo cinema acarretou a mudana na sua

    forma de exibio. A partir deste momento, as exibies que antes eram

    itinerantespassam a ser realizadas em lugares permanentes, com endereo fixo,esses locais podem at ser entendidos como as primeiras salas de exibio. Essa

    popularidade do cinema chamou ateno tambm para questes como as

    linguagens utilizadas nos filmes da poca e os assuntos que seriam abordados por

    eles. Para Costa (2006, p. 38), as empresas produtoras procuram satisfazer

    tambm as presses do Estado (...) estabelecendo processos de autocensura e

    moralizao na elaborao de enredos e formatos.

    A Europa especialmente Itlia e Frana possua grande destaque naproduo de filmes, a grande maioria das empresas produtoras estavam

    estabelecidas nessas localidades. J as empresas produtoras dos Estados Unidos,

    apesar do destaque e crescimento interno, passaram a ganhar maior destaque

    internacionalmente aps Primeira Guerra Mundial.

    Os primeiros filmes deste perodo indicado como primeiro cinema possuam

    caractersticas de serem compostos por uma nica tomada e pouco integrados a

    uma eventual cadeia narrativa (COSTA, 2006, p.20). Porm ainda na dcada de1910, que a grande inovao e destaque do cinema apareceria com o surgimento de

    longas-metragens, essenciais para a indstria cinematogrfica, especialmente a que

    conhecemos atualmente. poca,

    [...] a maioria dos estdios norte-americanos j se localizava em Hollywoode a durao dos filmes tinha aumentado de um rolo para 60 ou 90 minutos.Eram os chamados longas - metragens (feature films). Os cineastas j

    conseguiam dominar as convenes formais que haviam sidoexperimentadas no perodo anterior. A transio para os longas foi graduale liderada pelos filmes europeus de mltiplos rolos - principalmente ospicos italianos (...). Foram o lucro e a popularidade desses espetaculares

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    filmes de poca europeus que convenceram a indstria norte-americana afazer filmes mais longos. (...) os cineastas no demoraram a perceber que adurao mais longa dos feature films permitia que inclussem maispersonagens e mais acontecimentos relacionados ao enredo principal.(COSTA, 2006, p. 49-50).

    Com a firmao geogrfica dos estdios em Hollywood, os novos longa-

    metragens e a figura do produtor como pea-chave para o desenvolvimento de um

    filme, a indstria cinematogrfica americana, especialmente a hollywoodiana,

    comea a ganhar destaque e se torna a potncia que conhecemos.

    1.1.1 O audiovisual e o cinema brasileiro

    Apesar do audiovisual e o cinema brasileiro no serem o foco do presente

    trabalho, importante contextualizar resumidamente um pouco de ambos,

    pontuando dois dos movimentos mais importantes do cinema brasileiro moderno o

    Cinema Novo (anos 1960) e a Retomada (a partir dos anos de 1990).

    No contexto brasileiro, o audiovisual ainda percebido e ligado cultura, sem

    a explorao do lado comercial e as vantagens que isso possa trazer ao pas,especialmente se comparamos a indstria do audiovisual brasileira com as

    indstrias estrangeiras, principalmente a norte-americana. Mesmo assim, diversas

    medidas e aes que foram tomadas na tentativa de reverter essa situao e melhor

    posicionar a indstria audiovisual brasileira. Um dos destaques a atuao da

    Agncia Nacional do Cinema ANCINEna [...]regulamentao e instaurao de

    mecanismos de fiscalizao e controle do mercado e na busca da uniformizao dos

    procedimentos para a realizao de produes audiovisuais (BRASIL, 2007, p.7).

    Em outras palavras,

    [...] a atividade tem se mostrado vigorosa, com mais de 120 milhes dereais carreados para a atividade anualmente, resultando na produo de 50a 60 novos filmes por ano Se levarmos em conta que, no incio da dcadade 90, o Festival de Braslia do Cinema Brasileiro no teve nenhum filmeinscrito por no haver nenhum filme produzido ou em produo, a evoluofoi notvel. [...] (BRASIL, 2007, p. 7).

    Outras aes como facilitao na obteno de linhas de crdito e incentivosfiscais para essa indstria contribuem para fomentar ainda mais atividade no pas e

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    promover oportunidades para os profissionais iniciantes, mantendo tambm o

    mercado de trabalho ativo e renovado.

    Mais especificamente em relao aos movimentos cinematogrficos,

    iniciamos com o perodo conhecido por Cinema Novo durante os anos de 1960.

    Para Carvalho (2006, p. 289) os cineastas que integravam esse movimento foram

    desenvolvidos por meio das sesses dos cineclubes e crtica cinematogrfica

    produzida nas pginas de cultura dos jornais. E foram fortemente influenciados

    pelos acontecimentos e o cenrio do pas durante aquela poca.

    Estes cineastas buscavam exatamente o que a nomenclatura do movimento

    prope, algo novo, uma nova forma de fazer filmes, algo a que o pblico brasileiro

    tambm no estava acostumado ver. Inspirados por dois movimentos estrangeirosem particular - Neo-realismo italiano3e a Nouvelle Vaguefrancesa4- a novidade ia

    alm s do contedo de seus filmes, cinema [...] deveria ser novo no contedo e

    na forma, pois seus novos temas exigiriam tambm um novo modo de filmar

    (CARVALHO, 2006, p. 289).

    Esses dois estilos que influenciaram o Cinema Novo priorizavam captao de

    imagens externas atravs de propostas experimentais. Com isso, o prprio estilo do

    Cinema Novo se relaciona com o estilo desses movimentos, principalmente pelo seulema, uma cmera na mo e uma idia na cabea (CARVALHO, 2006, p.290).

    Portanto, os filmes desse perodo eram caracterizados por refletirem um

    cinema barato e fcil de ser realizado, com filmes de qualidades tcnicas simples, e

    para muitos at mesmo baixa, com uma linguagem de fcil compreenso e temas

    que se relacionassem com a realidade e o contexto poltico, econmico e social

    observado no pas durante a respectiva poca.

    Os principais nomes deste movimento destacaram-se a partir dos anos de1950 e deram continuidade aos seus trabalhos nos anos de 1960, so eles: Glauber

    Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Paulo Csar Saraceni, Leon Hirszman, Carlos

    Diegues e David Neves. (CARVALHO, 2006). A soluo para o to buscado modo

    novo de se fazer cinema foi se voltar para o passado e para a histria brasileira na

    3 O Neo-realismo italiano, que data do final da Segunda Guerra Mundial tem como sua principalcaracterstica a utilizao de elementos da realidade aliados fico, buscando representar arealidade social e econmica do pas naquela poca.

    4A Nouvelle Vaguefoi um movimento do cinema francs na dcada de 1960, os primeiros filmes domovimento eram caractersticos de jovens autores e diretores que buscavam dialogar com um cinemamais moderno e comercial.

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    procura para as temticas de seus filmes. As principais temticas observadas nos

    filmes envolviam assuntos como a escravido, o misticismo religioso, a violncia

    predominante na regio nordeste e a modernizao de grandes centros urbanos

    (CARVALHO, 2006).

    importante destacar tambm o efeito do Golpe de 1964 no Cinema Novo,

    devido ao fato de que ocorreu uma grande paralisao na produo cinematogrfica

    desses cineastas, pois muitos deles foram perseguidos e optaram pelo exlio. Alguns

    ainda continuaram a produzir suas obras, mesmo fora do pas, mesmo assim o pas

    ainda passou por um grande perodo de uma produo escassa, algo que s seria

    revertido com o prximo movimento do cinema nacional a ser analisado.

    J com relao chamada Retomada do cinema brasileiro, o nmero deprodues brasileiras se intensifica e importante ressaltar que, aps um momento

    de hiato na histria cinematogrfica brasileira, a qualidade do material tambm

    prevalece. Frana (2006, p. 408-409) aponta o cinema brasileiro atual como um

    momentoextremamente frutfero, muitas produes, diferentes linguagens, estilos,

    um pblico que vem dando legitimidade aos novos filmes. Oautor acrescenta que

    A transio para o governo de Lula trouxe consigo uma reavaliao noapenas do papel do Estado no desenvolvimento do setor, mas tambm dopapel de uma poltica audiovisual para a cultura, a arte e a cidadania. Todoum caminho foi percorrido desde a chamada "retomada" maisespecificamente aps o fenmeno Carlota Joaquina, de Carla Camurati, quesignificou na poca a convergncia das empresas produtoras cominvestidores do setor privado, a articulao do mercado financeiro pelosmecanismos de renncia fiscal, por meio das leis de incentivo cultura.(FRANA, 2006, p. 408-409)

    A Retomada tambm marcada por nomes e filmes como, todos de temas

    mais recentes, Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles e Carandiru (2003),de Hector Babenco. Alm de sucesso nacional, os filmes obtiveram grande xito

    internacional, a exemplo de Fernando Meirelles, que recebeu uma indicao ao

    Oscar de Melhor Diretor pelo seu trabalho. Os irmos Bruno e Fbio Barreto e Jos

    Padilha tambm podem ser apontados como destaque.

    Durante o perodo de estagnao do cinema nacional muitas produes

    estrangeiras, em especial as norte-americanas, penetraram e se fixaram nos

    cinemas brasileiros, enquanto poucas produes realmente brasileiras eramrealizadas. Com a constante exposio do grande pblico a esse cinema, resultou

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    em sua valorizao em detrimento das produes nacionais, os filmes brasileiros

    foram desvalorizados, despertando o pouco interesse das plateias.

    1.2 CINEMA E REALIDADE: REPRESENTANDO E FILMANDO OS LUGARES

    No cinema, inicialmente, foram considerados dois tipos especficos de filmes,

    o filme ficcional e o filme no-ficcional, independente de sua durao curta ou

    longa metragem. A grande diferena entre ambos seria o compromisso em retratar a

    realidade, tendncia caracterstica dos documentrios, principais representantes do

    cinema de no-fico. Teixeira (2006, p. 253) aponta que a obra de no - fico tem

    [...] o sentido de um documento histrico que se quer veraz, comprobatriodaquilo que "de fato" ocorreu num tempo e espao dados. Aplicada aocinema por razes pragmticas de mobilizao de verbas, ela desde entodisputou com a palavra fico essa prerrogativa de representao darealidade e, consequentemente, de revelao da verdade. [...]

    Teixeira (2006) ainda atenta para o fato de que os documentrios ficaram

    muito tempo relacionados naturalidade e simplicidade, tanto no campo tcnico,

    com equipamentos e tecnologia que seriam utilizados para film-los tanto como em

    questes referentes ao enredo e histria.

    Essa tendncia em retratar situaes e utilizar tcnicas que fossem

    consideradas simples, daria a impresso que os documentrios revelariam a

    verdade sobre as situaes e que por isso seria mais fcil em confiar naquilo que

    fosse abordado por eles. Sobre isso Teixeira (2006, p. 256) acrescenta que com isso

    os documentrios utilizariam [...] elementos que supostamente sustentariam uma

    captao mais verdica, direta, da realidade, da vida como ela era e no como eraimaginada.

    Enquanto o cinema de fico remeteria ao oposto dessas caractersticas. E

    Scorsese e Wilson (2004) complementam essas diferenas afirmando que os

    cineastas, em especial, os norte-americanos, apreciam bem mais trazer e produzir

    algo novo, que se relaciona fico, para as telas, ao oposto de mostrar a realidade.

    Para os autores, [...] desde cedo o gnero documentrio foi descartado ou relegado

    a uma condio marginal [...] (SCORSESE; WILSON, 2004, p. 33).

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    Mas a questo da realidade e do cinema vai muito alm de um tipo de filme

    especfico. Na indstria atual existem tantas situaes que ao mesmo tempo

    remetem fantasia e fico, entretanto no perdem um senso da realidade. So

    adaptaes, histrias baseadas em fatos reias e outros, dificultando identificar at se

    o que se passa nas telas realmente uma representao da realidade. Para isso

    Bernardet (2006, p. 13) afirma que [...] no cinema fantasia ou no, a realidade de

    impe com toda a fora. Isso implica que, como observado anteriormente, no

    necessrio isolar os dois gneros em lados opostos. E esse apelo e debate de

    realidade ou no interessante para o cinema e tambm essencial para o turismo e

    os imaginrios que os cercam. Bernadet (2006, p. 12-13) destaca que

    Essa iluso de verdade, que se chama impresso da realidade, foiprovavelmente a base do grande sucesso do cinema. O cinema d aimpresso de que a prpria vida que vemos na tela, brigas verdadeiras,amores verdadeiros. Mesmo quando se trata de algo que sabemos no serverdade, como o Sitio do Pica-pau Amarelo ou O Mgico de OZ, ou umfilme de fico cientfica como 2001 ou Contatos Imediatos do TerceiroGrau, a imagem cinematogrfica permite-nos assistir a essas fantasiascomo se fossem verdadeiras; ela confere realidade a essas fantasias.

    O debate entre realidade e fico ainda mais importante quando se

    relaciona ao turismo, em especial representao dos lugares. Desde o incio, o

    cinema buscou capturar as diferentes localidades e suas caractersticas e

    especificidades. Bergan (2010) atenta que no incio da atividade cinematogrfica, os

    prprios irmos Lumier mandavam funcionrios a diversas partes do mundo, em

    especial ao oriente, sendo este considerado extremamente extico, para filmar e

    captar as cenas das cidades. Consideradas assim, as primeiras filmagens em

    locaes, ou seja, o lugar onde o enredo do filme desenvolvido, seja esse local,

    um pas ou uma cidade, ou at mesmo um simples bairro o local em que de fato as

    filmagens so realizadas.

    J com o surgimento dos grandes estdios, predominantemente localizados

    em Hollywood, as filmagens nas locaes foram substitudas pelas filmagens em

    estdios, em especial recriando os cenrios em sets. Assim, Bergan (2010, p. 50)

    afirma que qualquer pas da Terra poderia ser construdo no terreno dos fundos

    dos estdios. Os departamentos de arte passaram, assim, a criar sets que eram

    mais chineses que Pequim, mais japoneses do que Tquio, mais rabes do que

    Bagd.

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    Espera-se que essas filmagens nas locaes confiram um tom mais prximo

    da realidade da localidade. Por isso muitos se apoiam nos documentrios, que

    inicialmente tm esse compromisso em retratar o real e o verdadeiro, mas

    importante ressaltar que, fico ou no, filmado na locao ou no, qualquer filme

    est sujeito a utilizar esteretipos clssicos em suas filmagens. Beeton (2005, p.

    174) aponta que as filmagens [...] no local no so necessariamente autnticas, na

    medida em que muitos lugares so filmados de tal maneira que eles aparecem

    bastante diferentes da vida real [...]. Ou simplesmente podem ser filmados em uma

    localidade, porm o enredo do filme se desenvolve em outro local. E Prysthon (2006,

    p. 261) tambm confirma ao se referir s imagens que so capitadas das cidades de

    fato como fantasias da cidade que remetem ao esteretipo e clich. Umexemplo pertinente o Rio de Janeiro, com diversas produes filmadas na

    localidade e outras em estdios representando a cidade, mas a imagem ainda

    vinculada nos filmes o clich do carnaval, sol, praia ou a vida e o cotidiano nas

    favelas.

    1.3 TURISMO CINEMATOGRFICO: A UNIO DO AUDIOVISUAL E DO

    TURISMO

    A motivao e quais fatores influenciam a escolha de quais destinos e

    localidades que o turista ir conhecer so diversos e variados, mas no se pode

    negar a influncia da mdia. Ela uma fora a ser reconhecida como influenciadora

    dessa escolha, j que muitos dos lugares selecionados para as viagens tambm

    possuem uma grande exposio na mdia, naquele determinado momento.

    Tendo em isto em mente, Urry (2001, p. 8) afirma que:

    Os locais so escolhidos para serem contemplados porque existe umaexpectativa, sobre atravs dos devaneios e da fantasia, em relao aprazeres intensos, seja em escala diferente, seja envolvendo sentidosdiferentes daqueles com que habitualmente nos deparamos. Tal expectativa construda e mantida por uma variedade de prticas no-tursticas, taiscomo o cinema, a televiso, a literatura, as revistas, os discos e os vdeos,que constroem e reforam o olhar.

    Destaca-se o cinema como influenciador. Semelhante ao turismo, o cinema

    nos apresenta ao novo. Possibilita conhecer um novo local, uma nova cultura e uma

    nova histria. Tudo isso sem o deslocamento fsico ser realizado de fato. Um intenso

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    envolvimento com o local pode ser gerado a partir dos filmes, seja pela identificao

    com um personagem e seus dilemas, com o enredo e especialmente o impacto com

    a beleza dos cenrios e paisagens utilizadas, instigando as pessoas a conhecer

    essas localidades. Para o Ministrio do Turismo (BRASIL, 2007, p. 8). O cinema,

    portanto, funciona como reforo de poderosos smbolos que podem influenciar a

    escolha do destino de turistasindividual ou coletivamente.

    Dois pontos de convergncia entre a indstria audiovisual e o setor de turismo

    so apontados pelo Ministrio do Turismo (2007). O primeiro, tangvel e de impacto

    direto (BRASIL, 2007, p.10), se relaciona ao deslocamento das equipes e tcnicos

    de filmagens para as locaes e destinos. J o segundo indireto e intangvel -

    est ligado questo do deslocamento do turista em si e possibilidade deinfluncia dos filmes na escolha do destino para esses deslocamentos (BRASIL,

    2007, p. 10).

    Este primeiro ponto de convergncia est ligado, principalmente, relao

    entre a comunidade receptora das filmagens e a equipe cinematogrfica que se

    desloca para uma determinada localidade, em especial por conta da questo da

    gerao de empregos.

    Com este propsito, no Brasil, por exemplo, o prprio Ministrio desenvolveua cartilha de Turismo Cinematogrfico Brasileiro. O principal objetivo dessa cartilha

    fornecer o embasamento necessrio para que o tradeturstico possa compreender

    as peculiaridades desse tipo especifico de turismo. Alm de auxiliar o destino ou

    localidade, seus representantes pblicos e em especial a comunidade local a

    preparar-se da melhor forma possvel para receber as filmagens, e eventualmente

    ajudar o trabalho da equipe de filmagens durante o decorrer do tempo previsto.

    A gerao de emprego e renda para a comunidade da localidade que estrecebendo as filmagens tambm se caracteriza como um ponto importante.

    comum grandes produes cinematogrficas no confiarem e acreditarem na

    populao local, especialmente quando a locao extremamente distante do local

    de origem da produo. Nesse caso, as viagens so geralmente feitas com a equipe

    j completa, e nenhuma espcie de benefcios conferido, de fato, localidade.

    Podem-se citar diversos casos, como o exemplo das filmagens deAmanhecer

    - Parte1, penltimo filme da Saga Crepsculo, no bairro carioca da Lapa, um dos

    locais mais procurados pelos turistas que vm ao Rio de Janeiro. Partes das ruas

    foram fechadas somente para a equipe, os atores e figurantes, e o acesso aos

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    prprios residentes foi impossibilitado e dificultado. A passagem s era permitida

    com alguma comprovao de residncia, porm nada foi notificado aos moradores5.

    Outro exemplo pertinente ocorreu durante as filmagens de Velozes e Furiosos

    5Operao Rio, com o enredo que se passava no Rio de Janeiro, as filmagens na

    cidade duraram somente trs dias durante novembro de 2010, com o restante das

    filmagens concludas em locaes como Porto Rico6. Destacam-se as filmagens

    reas e o uso de cpias dos uniformes e carros da polcia brasileira, que

    contriburam para aumentar a iluso de que o cenrio utilizado pela histria era no

    Rio de Janeiro.

    Portanto, percebe-se a importncia de um preparo adequado, j que uma

    produo de audiovisual emprega diretamente uma mdia de 75 pessoas (tcnicos,atores e figurantes) e cerca de 500 indiretamente(BRASIL, 2007, p. 6), estima-se

    tambm que 40% a 60% dos custos so gastos com a contratao de profissionais e

    servios locais. Os postos de empregos presentes durante uma filmagem esto

    representados na Figura 01.

    5Fonte: Moradores da Lapa se revoltam com filmagem de 'Amanhecer'. GazetaWeb, Rio de Janeiro,07 dez de 2010. Disponvel em: . Acesso em: 18mar. 2012

    6

    Fonte: VELOZES E FURIOSOS 5 faz retrato violento do Rio de Janeiro. G1, Rio de Janeiro, 13abril de 2011. Disponvel em:. Acesso em: 18 mar. 2012.

    http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/04/velozes-e-furiosos-5-faz-retrato-violento-do-rio-de-janeiro.htmlhttp://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/04/velozes-e-furiosos-5-faz-retrato-violento-do-rio-de-janeiro.htmlhttp://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/04/velozes-e-furiosos-5-faz-retrato-violento-do-rio-de-janeiro.htmlhttp://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/04/velozes-e-furiosos-5-faz-retrato-violento-do-rio-de-janeiro.html
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    Figura 01 - A equipe cinematogrficaFonte: BRASIL, 2007, p. 24

    A comunidade local normalmente empregada em postos below the line,

    ocupando vagas na locao, nos transportes, na construo e na alimentao,

    geralmente exercendo funes de seguranas, figurantes, carpinteiros, costureiras,

    cozinheiros, motoristas e outros. O ideal que com mais preparo e entendimento

    sobre o tema, os postos de trabalhos possam ser elevados.

    Outro ponto importante so as film commissions, pois facilitam a relao da

    comunidade receptora com as equipes de filmagens e atuam em conjunto com os

    rgos de turismo locais, alm de fornecer auxilio na escolha das localidades que

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    melhor se adequam e complementam o enredo e a histria. Podem tambm em

    conjunto, desenvolver tticas para beneficiar atividade turstica local. Sua principal

    funo atrair filmes e produes audiovisuais para um determinado local, para

    acumular benefcios com a contratao de servios e equipamentos locais.

    Nascimento (2009, p. 30) aponta que

    A atuao das Film Commissions vai alm. Alm de facilitadoras nasuperao das burocracias locais e do gerenciamento logstico na hora dafilmagem, tambm atuam como promotoras de suas regies antecipando-seem prospectar projetos de filmagem em fase de pr-produo,apresentando as vantagens de suas locaes e servios locais (...). Emtermos de marketing e promoo turstica, as estratgias so inmeras ebastante distintas, podem utilizar recursos cinematogrficos para promove

    novos destinos, criar e lanar novos produtos ou mesmo reforar o apelo dedestinos j consagrados.

    Enquanto o segundo ponto de convergncia se relaciona, de certa forma, ao

    segmento de turismo cinematogrfico propriamente dito, j que est ligado [...]

    exportao de cenrios e valores culturais e histricos das locaes ao mundo todo,

    atravs das telas de cinema, televiso, computadores e novas mdias, que tendem a

    atrair turistas s locaes dos pases expostos [...] (BRASIL, 2007, p.10).

    Deste modo, o turismo cinematogrfico definido pelos deslocamentos

    motivados para a visitao a locais ou atraes que tiveram apario no cinema ou

    na TV (BRASIL, 2010, p. 22). Este tipo de turismo classificado tambm como uma

    modalidade pertencente ao segmento de Turismo Cultural, que por sua vez envolve

    as atividades tursticas relacionadas vivncia do conjunto de elementos

    significativos do patrimnio histrico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e

    promovendo os bens materiais e imateriais da cultura (BRASIL, 2010, p. 13).

    O cinema e a televiso so importantes ferramentas para a divulgao dosdestinos, especialmente ao se apropriar de locais com grande expresso cultural

    para tornarem cenrios de suas filmagens, contribuindo para despertar o interesse e

    desejo de turistas em visit-los. Portanto, reside nessa ligao a base para

    classificao do turismo cinematogrfico como tambm uma forma de turismo

    cultural.

    Alm da expresso turismo cinematogrfico, diferentes nomenclaturas so

    utilizadas e aceitas para o segmento. Cineturismo tambm outro termoamplamente conhecido, Nascimento (2009, p. 12) define que:

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    O cineturismo, como foi cunhado pelos italianos movie tourism para osamericanos ou ainda screentourism, como usam os ingleses, nada mais,

    nada menos que uma forma de turismo que se baseia na visitao aslocaes onde foram produzidos filmes e sries televisivas ecinematogrficas.

    Macionis (2004, p. 87) resume bem ao denominar esse tema como universal

    e uma experincia ps-moderna de um lugar que tem sido retratada em alguma

    forma de representao da mdia. E apesar do tema amplo e geral, essa

    experincia nica e extremamente individual, pois depende da interpretao de

    cada indivduo com relao s imagens projetadas pelos filmes e pela mdia em

    geral. Portanto, dentro de um mesmo segmento observam-se diversos turistas que

    buscam as localidades influenciados pelos filmes, mas seus objetivos so variados.

    Nascimento (2009, p. 15) denominada estes turistas como set jetters, afirmando

    que so fs de filmes e programas de TV, assim como livros famosos [...].

    Enquanto Macionis (2004) vai alm e prope uma classificao que especifique mais

    cada tipo de turista que possa ser atrado por este segmento. A autora prope a

    seguinte classificao:

    a) Turistas Cinematogrficos Inesperados7: aqueles que somente esto em um

    destino retratado nos filmes;

    b) Turistas Cinematogrficos Gerais8: aqueles que no so especificamente

    atrados a uma locao de filme, mas que participam em atividades

    relacionadas ao turismo cinematogrfico enquanto no destino;

    c) Turistas Cinematogrficos Especficos9: aqueles que realmente procuram

    lugares vistos em filmes.

    O interessante desta classificao que podemos perceber esses trs tipos

    de turistas em uma mesma localidade. Todos podem desejar visitar ou conhecer um

    mesmo local, mas participando de atividades completamente diferentes, sejam elas

    relacionadas ou no aos filmes. A seguir observaremos mais especificamente as

    propostas da autora Sue Beeton, que se refere ao segmento como Film Induced

    Tourism.

    7 O termo original utilizada pela autora para a expresso Serendipitous Film Tourist.

    8O termo original utilizada pela autora para a expresso General Film Tourist.

    9O termo original utilizada pela autora para a expresso Specific Film Tourist.

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    1.4 FILM INDUCED TOURISM10

    Beeton (2005) busca, com a utilizao do termo film induced tourism incluir

    tambm televiso, vdeos e DVDs, alm de somente o cinema. A inteno no

    focar no modo de exibio, mas na produo que de fato exibida, seja ela em sua

    prpria casa ou nos cinemas com amigos.

    Apesar de o presente trabalho focar somente nos filmes, devido expanso

    possibilitada pelo termo, as sries de televiso ou simplesmente seriados,

    recebem tambm grande destaque. Os filmes so considerados experincias

    limitadas, ou seja, so vistos geralmente poucas vezes, enquanto os seriados

    possuem uma maior durao de tempo e mais repeties, possibilitando uma maiorfixao e empatia por parte do pblico. O mesmo pode ser observado com relao

    equipe de filmagem: enquanto em um filme a equipe geralmente permanece na

    localidade por um curto perodo de tempo, nos seriadosespecialmente aqueles de

    longa durao a equipe necessita passar bem mais tempo na locao (BEETON,

    2005).

    importante ressaltar que atualmente observa-se uma grande migrao entre

    as telas do cinema e da televiso. Diversos seriados esto originando filmes, como o caso da franquia Sex and the city11, bem como alguns filmes acabam gerando

    sries e seriados, como o caso do filme Alice no mora mais aqui12 (1974) que

    mais tarde se tornou um seriado. Nesse caso, isso reafirma a visibilidade conferida a

    uma localidade, refora o interesse dos fs j existentes e ajuda a cativar novos fs

    e potenciais turistas.

    A diviso de film induced tourism proposta por Beeton (2005) abrange duas

    formas de turismo: on locationna traduo, algo como na locao e off location,ou seja, fora da locao.

    10A traduo do termo turismo induzido por filmes.

    11 Sex and the City um seriado norte americano que durou seis temporadas, exibido de 1998 a2004. Mais tarde, gerou dois filmes: Sex and the city- o filme (2008) e Sex and the city 2(2010).

    12Alice no mora mais aqui um filme norte americano de 1974 dirigido por Martin Scorsese, queoriginou o seriado Alice de nove temporadas, exibido de 1976 a 1985, criado por Robert Getchell roteirista do filme original.

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    1.4.1 On location13

    Beeton (2005, p. 43) define film induced tourism on locationcomo locais onde

    cenas particulares ou elementos de filmes e sries de TV so filmados. Este tipo

    refere-se especificamente aos locais e destinos tursticos visitados e mostrados de

    fato nos filmes, que podem variar desde pases inteiros at pequenas ruas de um

    determinado bairro.

    Alm da visitao em si, outras questes importantes tambm so

    consideradas como os efeitos do turismo na comunidade receptora e seu

    planejamento. O exemplo mais importante e tambm o mais utilizado por todos os

    pesquisadores da rea o caso o impacto da trilogia Senhor dos Anis na NovaZelndia. Talvez seja um dos casos mais citados devido ao sucesso que a parceria

    entre turismo e cinema trouxe ao pas, que, por sua vez, soube se preparar para

    receber as filmagens e gerar benefcios para a localidade.

    O impacto econmico foi to grande que foi apelidado de a Economia Frodo:

    [...] o pas recebeu 1,5 milho de visitantes em 1999. Depois da trilogia, j em 2004,

    as cifras apontavam 2,2 milhes de visitantes, ou seja, praticamente 50% de

    aumento no nmero de turistas em cinco anos (NASCIMENTO, 2009, p. 39). E ogoverno neozelands foi alm, apontando tambm um Ministro dos Anis, cuja

    principal funo era maximizar os benefcios da trilogia para todo o pas, tanto em

    termos de emprego na indstria cinematogrfica e o turismo cinematogrfico

    (BEETON, 2005, p. 81).

    Diversos pacotes tursticos foram criados para os fs da saga e outros que

    eventualmente se interessaram pelo pas devido aos filmes, que tinham como

    principal objetivo conhecer as locaes das filmagens. Um das locaes maisfamosas o Condado dos Hobbits, representado na figura 02, que foi construdo

    especialmente para os filmes e at hoje permanece como uma importante atrao

    turstica para o pas.

    13 A traduo do termo na locao.

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    Figura 02Setdo Condado dos HobbitsFonte: Hobbit on tours, 2012.

    1.4.2 Off location14

    O film induced tourism off locationest relacionado aos estdios de produo

    cinematogrfica para olhar para o turismo induzido por filmes em termos dos

    prprios estdios (fora da locao) (BEETON, 2005, p.173). Este tipo refere-se s

    atividades que ocorrem alm das filmagens em si, como eventos envolvendo os

    filmesfestivais de cinema e estreias de filmese os parques temticos.

    Enquanto o termo on location est voltado para as locaes naturais, off-

    location relaciona-se a locaes artificiais, ou seja, grandes sets e estdios de

    filmagens construdos para assemelharem-se aos naturais. A figura 03, abaixo,

    atenta para as diferenas entre os dois tipos.

    14A traduo do termo fora da locao.

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    On-Locat ion Off-Location

    Des c rio Exemplo Des crio Exemplo

    Prdios existentes Castelos, casas,hotis.

    Setsconstrudos Estdios de somfechados para filmes.

    Paisagens

    construdas

    Ruas principais Separado a partir da

    configurao de

    ocorrncia natural do

    filme, tais como os

    conjuntos de rua

    genricos em

    estdios de cinema.

    Fachadas externas

    construdas em um

    local de estdio

    (muitas vezes

    representando uma

    rua principal)

    Paisagens naturais Montanhas, campos,

    lagos, oceanos.

    Representao de

    paisagens naturais

    atravs de

    computador de

    imagens,

    modelagem, etc.

    Vistas como parede

    Paramount Studio

    cu azul (em um

    parque de

    estacionamento)

    Figura 03 - Elementos de na locao e fora da locaoFonte: Beeton, 2005, p. 174

    importante olhar para esta outra parte do mesmo segmento, pois filme

    um grande motivador, no s para o turismo, mas tambm para o consumo

    comercial adicional, que no pode necessariamente ser diretamente relacionado

    com o filme em si (BEETON, 2005, p.173).

    1.5 TURISMO CINEMATOGRFICO PELO MUNDO: OS EXEMPLOS DE NOVA

    ZELNDIA, INGLATERRA E AUSTRLIA

    Os exemplos da influncia que os filmes exercem sobre o turismo no cenrio

    internacional so variados e percebem-se diversas aes por parte dos destinos

    com o objetivo de capitalizar de diferentes formas com o segmento de turismo

    cinematogrfico. A seguir, se observam trs exemplos de destinos Nova Zelndia,

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    Inglaterra e Austrlia - que perceberam a importncia dos filmes na promoo do

    turismo.

    J foram abordadas previamente algumas das aes tomadas na Nova

    Zelndia a fim de utilizar da melhor forma possvel para a comunidade receptora das

    filmagens o impacto e a visibilidade que a trilogia O Senhor dos Anis, de Peter

    Jackson conferiu ao pas. Talvez seja esse o exemplo mais comentado e discutido

    por estudiosos deste campo, pois considerado um exemplo de sucesso a ser

    seguido, [...] a indstria do cinema contribuiu com cerca de 3,1 bilhes de libras

    esterlinas (R$ 13 bilhes) ao PIB do Pas (BRASIL, 2007, p. 30), especialmente

    aps o sucesso dos filmes.

    Porm percebe-se que a localidade ainda demonstra interesse em continuara explorar este tipo de turismo, com o anncio das filmagens de mais dois longa-

    metragens de Peter Jackson, baseados tambm nas obras literrias de J.R.R.

    Tolkien, O Hobbit - Uma Jornada Inesperada, (no original The Hobbit: An

    Unexpected Journey) com estreia prevista ainda para o ano de 2012 e The Hobbit -

    There and Back Again (ainda sem ttulo oficial em portugus), com estreia prevista

    para 2013. As mesmas prticas envolvendo e incentivando a atividade turstica que

    foram utilizadas anteriormente devero ser mantidas, especialmente a permannciade setsde filmagens e cenrios construdos especificamente para os filmes, com o

    intuito de proporcionar a visitao e tourspara os turistas e fs dos filmes e livros.

    Espera-se que os filmes voltem a conferir visibilidade Nova Zelndia, conquistando

    novos fs, cativando fs antigos e atraindo turistas para a localidade. Alm da

    gerao de empregos e rendas durante o perodo das filmagens.

    Outro bom exemplo a Inglaterra, que j explora a ligao dos filmes e

    turismo h algum tempo, com a criao do VisitBritain, uma agncia nacionalresponsvel por promover e desenvolver a atividade turstica, produzindo diversos

    produtos que trabalham com essa ligao e focando em filmes como Harry Potter,

    Quatro Casamentos e um Funeral (1994), Rei Arthur (2004) e outros

    (NASCIMENTO, 2009).

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    Porm ao utilizar a conhecida franquia de filmes de Harry Potter15 - que

    consiste em oito filmes no total - como exemplo, percebe - se claramente tanto os

    aspectos on locationcomo os aspectos off locationcitados anteriormente.

    Referindo-se primeiramente questo on location,percebe-se a busca dos

    turistas por locaes que foram de fato utilizadas nas filmagens, mas ao mesmo

    tempo no foram construdas para atender a esse propsito, como a Estao Kings

    Cross, famosa nos filmes pela sua plataforma 9 , de onde parte o Expresso de

    Hogwarts, ou o Leadenhall Market, utilizado para representar a rea prxima ao

    Beco Diagonal e a entrada do Caldeiro Furado e por ltimo o Castelo de Alnwick,

    cujo exterior foi usado para as filmagens na escola deHogwarts,locaes utilizadas

    especialmente durante os primeiros filmes da srie.J quanto aos aspectos off locaion, as aes so ainda maiores, como a

    inaugurao em 2010 do parque temtico The Wizarding World of Harry Potter,em

    Orlando, Flrida, buscando recriar todo o universo e cenrios dos filmes e livros.

    Outro projeto similar tambm foi anunciado: a criao de um parque semelhante no

    Universal Studios, em Hollywood, com previso de abertura entre 2014 e 2016. E

    finalmente a abertura para visitao, em 2012, dos estdios da Warner Bros. de

    Londres, onde foi gravada a srie de filmes. As locaes e cenrios construdosespecificamente para os longas, esto localizados nos estdios de gravao de

    Watford, ao norte de Londres, em uma rea total de 14 mil metros quadrados. Com

    as visitas, os fs e turistas podero ver tambm objetos, figurinos e efeitos especiais

    utilizados nos filmes, alm de cenrios como os quartos dos personagens, as

    diferentes salas de aula da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, que tambm

    permanecero disponveis para visitao.

    15 Os filmes so baseados nas obras literrias da escritora inglesa J.K. Rowling. Foram lanados, naseguinte ordem, seguindo tambm a ordem cronolgica dos livros: Harry Potter e a Pedra Filosofal

    (2001), Harry Potter e a Cmara Secreta (2002), Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (2004),Harry Potter e o Clice de Fogo (2005), Harry Potter e a Ordem da Fnix (2007), Harry Potter e oPrncipe Mestio (2009), Harry Potter e as Relquias da Morte Parte 1(2010)e Harry Potter e asRelquias da MorteParte 2 (2011).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Hogwartshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Hogwarts
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    Figura 04The Wizarding World of Harry PotterFonte: RCA Turismo, 201216.

    E por ltimo, temos o caso da Austrlia, que considerado um dos pases

    mais avanados no desenvolvimento do turismo cinematogrfico. Os incentivos

    fiscais chegam a totalizar 100% para os gastos locais, especialmente para

    produes audiovisuais maiores (BRASIL, 2007, p. 21).

    Um timo exemplo da unio de filme e turismo foi o lanamento do filme

    Austrlia em 2008. O longa-metragem, rodado em locao e idealizado pelo diretor

    australiano Baz Luhrmann, protagonizado por dois atores australianos de fama

    internacional Nicole Kidman e Hugh Jackman foi imediatamente reconhecido

    como uma grande oportunidade para o turismo local. O filme acabou se tornando a

    segunda maior bilheteria australiana de todos os tempos.

    O Tourism Australia, rgo responsvel pelo marketingturstico e promoo

    da localidade, reconhecendo sua importncia, lanou em 2008, a campanha Come

    Walkabout, em parceira com o diretor Baz Luhrmann. O projeto foi concebido para

    ser destinado a viajantes nacionais e internacionais e teve como principal objetivo

    espelhar temas do filme e aproveitar de seu impulso e publicidade (Relatrio Anual

    da Austrlia, 2008-2009)17.

    16 Disponvel em: Acesso em: 19 mar. 2012.

    17 Disponvel em: . Acesso em: 20 mar. 2012

    http://www.rcaturismo.com.br/rca/orlandoflexticket/islands-of-adventure/wizarding-world-of-harry-potter.asphttp://www.rcaturismo.com.br/rca/orlandoflexticket/islands-of-adventure/wizarding-world-of-harry-potter.asphttp://www.tourism.australia.com/en-au/documents/Corporate%20-%20About%20Us/Annual_Report_2008_2009.pdfhttp://www.tourism.australia.com/en-au/documents/Corporate%20-%20About%20Us/Annual_Report_2008_2009.pdfhttp://www.tourism.australia.com/en-au/documents/Corporate%20-%20About%20Us/Annual_Report_2008_2009.pdfhttp://www.tourism.australia.com/en-au/documents/Corporate%20-%20About%20Us/Annual_Report_2008_2009.pdfhttp://www.rcaturismo.com.br/rca/orlandoflexticket/islands-of-adventure/wizarding-world-of-harry-potter.asphttp://www.rcaturismo.com.br/rca/orlandoflexticket/islands-of-adventure/wizarding-world-of-harry-potter.asp
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    1.6 CONSIDERAES INICIAIS SOBRE O CINEMA NOVA-IORQUINO

    A indstria audiovisual norte-americana uma das mais importantes do pas.

    Alm dos diversos impactos positivos economicamente, como a gerao de

    empregos, o audiovisual nos Estados Unidos vende ao mundo a cultura norte -

    americana, seus destinos tursticos e seus produtos. (BRASIL, 2007, p. 6). E

    definitivamente, o cinema se destaca como um dos principais agentes de promoo

    dessa cultura. A indstria cinematogrfica norte-americana uma das indstrias de

    entretenimento mais famosas e lucrativas, atualmente.

    Enquanto a primeira referncia que se tem em mente quando se aborda o

    cinema dos Estados Unidos a indstria de Hollywood, o cinema de Nova Yorkainda possui grande destaque, considerado o segundo mais importante do pas,

    atrs exatamente de Hollywood, que por sua vez associado aos imensos estdios

    e suas grandes produes cinematogrficas, j o cinema nova-iorquino atualmente

    mais associado a filmes e cineastas independentes.

    Como j foi mencionado anteriormente, o incio da atividade cinematogrfica

    nos Estados Unidos, no sculo XIX, remete a Nova York, com as invenes e

    experimentos de Thomas Edison na localidade, alm de outros nomes de destaque,muitos concorrentes do prprio Edison. Costa (2006, p. 21) destaca que

    A Biograph e a Vitagraph eram os dois maiores concorrentes de Edisonnesses primeiros anos. Em 1898, dois empresrios de Vaudevile, JamesStuart Backton e Albert Smith, fundaram a Vitagraph Company of America,para produzir filmes que pudessem ser exibidos em sua rede. Seus filmeseram feitos de modo inicialmente improvisado, em seu estdio no telhadode um edifcio em Nova York.

    Atualmente, a cidade de Nova York um dos principais plos criativos no s

    dos Estados Unidos, como de todo o mundo. Segundo dados do Mayors Office of

    Film, Theatre and Broadcasting18, em 2006 a localidade foi a sede do maior nmero

    de filmagens de toda sua histria, incluindo filmes, programas para televiso, vdeos

    musicais e anncios em geral. Os mesmos dados apontam que essa uma indstria

    extremamente importante para a cidade, empregando em torno de 100 mil nova-

    iorquinos e contribuindo com US $ 5 bilhes para a economia local.

    18 Fonte: NEW YORK city sets record in 2006 for highest number of film production days ever.Disponvel em: . Acesso em:24 out. 201.

    http://www.nyc.gov/html/film/html/news/020107_nyc_sets_record.shtmlhttp://www.nyc.gov/html/film/html/news/020107_nyc_sets_record.shtml
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    Alm da indstria cinematogrfica em si, e os diferentes benefcios

    econmicos que ela possa conferir cidade. Nova York tambm se mostrou

    importante em um dos principais movimentos do cinema norte-americano, que

    provocou diversas mudanas na sua indstria, o movimento conhecido por Nova

    Hollywood. Foi nesse momento que surgiram diferentes diretores, roteiristas e at

    mesmo atores que ajudaram a consagrar essa localidade nas telas do cinema e se

    tornaram reconhecidos pelos seus feitos. Por isso uma importante parte da histria

    do cinema.

    Considerado um dos principais movimentos do cinema moderno americano, a

    Nova Hollywood ou New Hollywood durou um pouco mais de uma dcada,

    estendendo-se do fim da dcada de 1960 e inicio da dcada 1970 at o inicio dosanos de 1980, com os filmes Bonnie & Clyde - uma rajada de balas(1967) e Portal

    do Paraso(1980) de Michael Cimino e Touro Indomvel(1980) de Martin Scorsese,

    considerados respectivamente o primeiro e os ltimos filmes desse movimento. O

    movimento apresentou a indstria cinematogrfica uma nova leva de diretores,

    muitos novos cineastas que se afastavam do clssico para dialogar com o

    modernismo europeu (MASCARELLO, 2006, p. 336) e ao mesmo tempo com fortes

    laos com a cidade e o cenrio do cinema nova-iorquino.Nomes que ainda possuem grande destaque atualmente compem esse

    grupo, outros tiveram seus trabalhos mais famosos produzidos nesta poca e

    perderam um pouco de notoriedade no cenrio atual. Assim, dois grupos se

    destacam dentro da Nova Hollywood, a primeira gerao trazia homens brancos

    nascidos do meio para o fim da dcada de 30 (...) e inclua Peter Bogdanovich,

    Francis Coppola, Warren Beatty, Stanley Kubrick, Dennis Hopper, Mike Nichols,

    Woody Allen, Bob Fosse [...]. (BISKIND, 2009, p.13). J o segundo grupo eraformado pelos primeiros baby boomers19 e inclua Scorsese, Spielberg, George

    Lucas, John Milius, Paul Schrader, Brian De Palma e Terrence Malick. (Ibid.)

    A grande ambio deste movimento era a liberdade dos grandes estdios e

    seus donos, que tinham todo o poder de deciso na indstria cinematogrfica de

    Hollywood. Esse sistema de estdios da indstria hollywoodiana era caracterstico

    da chamada Era Clssica de Hollywood. Esse perodo foi marcado pelo domnio de

    19Os baby boomersso pessoas nascidas nos Estados Unidos no perodo correspondente aos anosde 1946 a 1964. A Guerra do Vietn considerado como o evento que definiu essa gerao.Destacam-se dois grupos distintos: os primeiros baby boomers, nascidos entre 1946 e 1954 e osboomersposteriores, nascidos entre 1955 e 1964.

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    grandes estdios, com destaque para os cinco majors (MGM, Warner Bros.,

    Paramount, RKO e Fox) (SCORSESE; WILSON, 2004, p. 26). Todos os

    profissionais, dos atores e diretores at figurinista eram mantidos em contratos de

    trabalhos, ou seja, s podiam realizar produes que fosse autorizadas e indicadas

    pelos estdios e seus contratantes. Com as produes centradas nos estdios

    citados, percebe-se tambm que cada um deles buscava definir um estilo que o

    diferenciasse dos outros, e os profissionais presos a contratos deveriam seguir

    esses filmes e realizar obras que se encaixassem nos padres dos estdios.

    Scorsese e Wilson (2004, p. 26) afirmam que o trabalho nessa poca, em especial

    os dos diretores, ocorriam da seguinte forma, se voc trabalhasse na MGM, teria de

    se adaptar ao estilo MGM, o que era totalmente diferente do estilo da Warner ou doestilo da Paramount. Se no se amoldassem cara dos estdios, os rebeldes eram

    cortados. Porm se o estilo do estdio tambm fosse compatvel com o estilo das

    obras dos diretores, o seu trabalho no era prejudicado, produzindo filmes

    interessantes e de boa qualidade.

    Por isso os diretores que surgiram nessa gerao queriam ser eles os

    responsveis pelas decises e pelo rumo a ser tomado nos filmes, desejavam o

    manto do artista, o conceito de autor (BISKIND, 2009, p.14), almejavam fazerfilmes pessoais, produes que se relacionavam a eles. Na Hollywood Clssica, a

    produo de filmes visava, acima de tudo, o lado comercial. Era realizada uma

    grande quantidade de filmes, a inteno era que os bem sucedidos compensassem

    financeiramente aqueles que no atingiam bons resultados. Enquanto, o movimento

    da Nova Hollywood se preocupava em trazer artistas talentosos que pudessem

    realizar seus trabalhos sem restries, por isso queriam o controle e autonomia nas

    produes. Assim como aponta Biskind (2009, p.16):

    Alm disso, o sonho da Nova Hollywood transcendia a individualidade decada filme. Em seu aspecto mais ambicioso, a Nova Hollywood era ummovimento determinado a libertar o cinema de seu irmo gmeo do mal, ocomrcio (...). Os cineastas dos anos 70 pretendiam derrubar os estdios,ou pelo menos torn-los irrelevantes, por meio da democratizao doprocesso de fazer filmes, colocando-o nas mos de qualquer um comtalento e determinao.

    A influncia de Nova York no movimento se fez presente no trabalho de

    diferentes diretores e roteiristas, mas tambm no trabalho de atores como Robert De

    Niro e Jack Nicholson, treinados e oriundos das escolas dramticas nova-iorquinas

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    (BISKIND, 2009). Quanto aos diretores, foi nessa poca que se destacaram nomes

    como Allen, Scorsese ambos avaliados neste trabalho Coppola, Cassavetes,

    Pakula, Mazursky e outros, todos com alguma ligao com a cidade, seja por terem

    nascido, crescido e/ou at mesmo estudado na localidade. Eventualmente os trs

    primeiros, especialmente Allen e Scorsese, passariam a ser referenciados como

    diretores responsveis por consagrar Nova York no cinema.

    Coppola tambm merece destaque tendo retratado a cidade em filmes como

    Agora Voc um Homem (1966), Cotton Club (1984) e a aclamada trilogia de O

    Poderoso Chefo(1972, 1974 e 1990). Biskind (2009, p. 15) resume essa influncia,

    na verdade muita da energia que impulsionava a Nova Hollywood vinha de Nova

    York; os 70 foram dcada em que Nova York engoliu Hollywood, em queHollywood foi Gothamizada.

    O final desse movimento foi marcado pelo surgimento dos grandes

    blockbusters20, impulsionados pelo sucesso estrondoso de filmes como Tubaro

    (1975) e a trilogia original de Guerras nas Estrelas (1977, 1980 e 1983), marca

    reconhecida da indstria atual, alm do retorno do poder na indstria

    cinematogrfica para mos dos produtores, em especial os produtores executivos.

    Biskind (2009, p. 434) aponta que [...] os novos megaprodutores no queriam usaros veteranos da Nova Hollywood porque esses diretores eram poderosos,

    independentes e caros demais [...]. Para o autor, esses novos produtores eram

    agora os cineastas, e o que prevalecia no eram os filmes em si e seu contedo,

    mas o dinheiro que eles geravam. Por fim, iniciou-se a dcada de 1980, considerada

    o fim no s de alguns diretores, como o trmino do movimento em si.

    Mas tambm importante destacar que aps o fim desse movimento e o

    eventual surgimento de novos profissionais na indstria cinematogrfica no decorrerdos anos, outros diretores tambm se destacaram ao representar e escolher a

    cidade de Nova York para os cenrios em seus filmes, como caso do ator e diretor

    Edwards Burns, nascido e criado na cidade, que possui de uma filmografia de

    aproximadamente dez (10) filmes como diretor, cinco filmes que se passam na

    localidade e Spike Lee, o terceiro diretor a ser avaliado neste trabalho.

    20Blockbusters so produes de cinema de muito sucesso com o pblico, geralmente possuem umgrande oramento e rendem bilheteiras que superam esse oramento.

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    2 IMAGENS DAS CIDADES NA MDIA: UTILIZANDO O EXEMPLO DA CIDADE

    DE NOVA YORK

    Mencionar a atividade turstica, e ainda associando-a ao cinema, sem

    destacar os diversos imaginrios e imagens que cercam os destinos, as cidades e

    atividade em si praticamente impossvel. Quando se pensa em alguma localidade,

    rapidamente uma srie de imagens surge na mente do turista, pois mesmo sem

    conhecer fisicamente esse local, sonha-se com ele. Expectativas so criadas para

    encontrar, ver e sentir tudo aquilo que imaginamos acontecer assim que se chega aodestino. As imagens da mdia em especial o cinema - tambm so importantes

    para retratar as diferentes localidades, em uma larga escala, pois um grande nmero

    de pessoas tem acesso a elas, alm de alimentarem tambm o imaginrio de muitos

    turistas.

    2.1 IMAGENS E IMAGINRIOS NO CINEMA E NO TURISMO

    De certa forma o turismo e os imaginrios se complementam. Gastal (2005)

    ressalta que o desconhecido e o novo provocam sentimentos, [...] que sero

    materializados de diferentes maneiras [...] (GASTAL, 2005, p. 57) e uma maneira de

    satisfazer esses sentimentos o deslocamento, por meio das viagens, tendo o

    enfoque na busca da satisfao desse desejo pelo novo, pelo diferente, algo que

    para muitos o prprio turismo proporciona, em especial o turismo de massa, cuja

    principal propaganda envolve a sada da rotina e a oportunidade de viver uma

    experincia.

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    Gastal (2005, p.13) relaciona imagens, imaginrios e turismo da seguinte

    forma:

    Imagens porque, na prpria cidade ou no estrangeiro, antes de sedeslocarem para um novo lugar, as pessoas j tero entrado em contatocom ele visualmente, por meio de fotos em jornais, folhetos, cenas defilmes, pginas na Internet ou mesmo por intermdio dos velhos e queridoscartes-postais. Imaginrios porque as pessoas tero sentimentos,alimentados por amplas e diversificadas redes de informaes, que levaroa achar um local romntico, outro perigoso, outro bonito, outrocivilizado. A esses sentimentos construdos em relao a locais e objetos(e, por que no, a pessoas?) temos chamado de imaginrios.

    As imagens so importantes, no s para o turismo, como tambm para apropaganda e o marketing, pela sua eficincia de fixao, ou seja, pela facilidade de

    lembrar e relembrar de diferentes imagens, pela forma como elas so simplesmente

    armazenadas na mente. Carvalho (2007, p. 36) explica que a imagem sempre foi o

    produto da viso, o sentido mais explorado e valorizado na comunicao humana,

    (...) nos faz ver o mundo identificando seus objetos e nos guia. O autor ainda

    argumenta que, em sua grande maioria, o entendimento das imagens no

    complicado, pelo contrrio, bastante claro.Imagens e imaginrios so conceitos que esto aliados e at mesmo se

    complementam, porm no devem ser tratados como sinnimos, j que existem

    diferenas fundamentais entre ambos. Para Gastal (2005) as imagens esto

    relacionadas ao que de fato vemos, no s necessariamente itens como fotos,

    figuras e paisagens, destacam-se tambm fatos e eventos, ou seja, qualquer item ou

    situao que acessamos como imagens. Esto includas tambm as chamadas

    imagens mentais, que esto relacionadas aos sonhos e memria. (GASTAL.

    2005, p. 55). J Maffesoli21 aponta que as imagens seriam o resultado de um

    imaginrio e no o contrrio, elas s existem porque existe tambm o imaginrio.

    Enquanto a imagem mais relacionada a uma percepo individual, pode-

    se ver ou ter a mesma imagem, mas a percepo e os sentimentos que ela gera so

    diferentes para cada pessoa. Os imaginrios remetem ao coletivo, a um grupo.

    Maffesoli22 assim afirma que pode-se falar em meu ou teu imaginrio, mas,

    21Entrevista concedida a Juremir Machado da Silva, na Revista FAMECOS em 2011.22Trecho da Entrevista concedida a Juremir Machado da Silva, na Revista FAMECOS, em 2011.

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    quando se examina a situao (...) v-se que o seu imaginrio corresponde ao

    imaginrio de um grupo no qual se encontra inserido. (SILVA, 2011, p. 76)

    Por isso a relao dos imaginrios com a cultura tambm forte, ambos

    relacionam-se a um conjunto e um coletivo, mas Maffesoli (2011) atenta que um no

    reduzido pelo outro, embora a cultura englobe parte do imaginrio e o contrrio, o

    imaginrio englobando a cultura, tambm ocorra. Enquanto a cultura apresenta

    aspectos e elementos que podem ser tangveis e poupveis, o imaginrio remete ao

    misterioso, ao impondervel. Para isso o autor utiliza um exemplo para o melhor

    entendimento dessa relao: enquanto uma pintura remeteria ao que existe de

    material na culturacomposta tambm de elementos imateriais, os sentimentos que

    a envolvem representariam os imaginrios, [...] uma espcie de algo mais, umaultrapassagem, uma superao da cultura 23.

    Mas isso no significaria que os imaginrios tambm remeteriam a algo falso

    e irreal, esto sim sujeitos aos esteretipos, em especial no turismo. Mas no

    remetem a falsidade, especialmente se envolvem sentimentos, j que estes so

    nicos a cada indivduo. Por isso Gastal (2005, p. 76) afirma que h a cada

    momento e cada situao leituras pessoais ou coletivas de fatos ou objetos que

    correspondem viso de algum ou de um grupoe sob esse enfoque sentimentosso e imaginrios so. Assim temos tambm a percepo individual dentro desse

    conceito de imaginrio, mas prevalecendo ainda a questo do coletivo, de um grupo.

    E como os imaginrios remetem ao coletivo, eles so especialmente

    importantes para o turismo. Ao contemplar determinadas localidades observa-se que

    o que percebido dela o mesmo, ainda mais apoiado na propaganda e no

    marketing turstico. Ou seja, ao pensar em Paris, automaticamente imagina-se a

    Cidade do Amore a Cidade-Luz, j Las Vegas a Cidade do pecado e do jogo,repleta de cassinos, festas e extravagncias. E Nova York a Big Apple, a grande

    metrpole do mundo. Isso caracteriza-se como um imaginrio comum, ao mencionar

    essas cidades so essas as imagens - e quase sempre as mesmas imagens - que

    so projetadas para qualquer pessoa ou qualquer grupo. Antes mesmo da chegada

    localidade, a exposio a diferentes imagens constante, em especial devido ao

    papel da mdia em geral, destacando, claro, o cinema.

    23Trecho da Entrevista concedida a Juremir Machado da Silva, na Revista FAMECOS, p.75

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    Por isso, o imaginrio comum , em grande parte, resultado da influncia da

    mdia. Se imaginrio e turismo andam juntos, importante acrescentar tambm a

    questo da mdia. Os lugares que esto na moda, os destinos mais visitados do

    momento so aqueles que aparecem constantemente na mdia, em especial a

    televiso e tambm o cinema. Para isso Gastal (2005, p. 78) afirma que o

    entendimento dos imaginrios pode ocorrer a partir do momento que o indivduo fica

    atento ao seu cotidiano: os imaginrios contemporneos esto presentes no

    cinema, na literatura e na msica. A autora vai alm, propondo que a conexo com

    esses imaginrios surge atravs da prtica dessas atividades simples.

    Carvalho (2007, p. 38) destaca a influncia da televiso na vida do homem

    moderno, pois alm de alcanar uma grande parcela da populao, apresenta umasrie de imagens rpidas que so constantemente repetidas, fixando-se na mente

    dos indivduos. J Nascimento (2009) vai alm ao afirmar que se trata de um grande

    conjunto alm da televiso. Msicas, esportes, livros e cinema trabalham associado