4 Aconselhamento Psicológico

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Aconselhamento Psicológico

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Aconselhamento Psicológico

O que é o ser humano?

Nossa discussão construtiva deve começar aqui, pois a eficiência do aconselhamento a seres humanos depende de nossa capacidade de compreender o que os seres humanos realmente são.

Um homem é mais que seu corpo, mais que seu emprego, mais que sua posição social. E uma mulher é mais que   uma mãe, mais que seu encanto, ou mais que seu trabalho.

Estes são apenas aspectos através dos quais eles se expressam.

A totalidade desta expressão é o reflexo exterior daquela estrutura interna que chamamos, um tanto vagamente, de “personalidade”.

A personalidade é determinada?

Liberdade A liberdade é um princípio básico, uma

condição sine qua non da personalidade. É por essa característica que separamos os

seres humanos dos animais, uma vez que o ser humano tem a capacidade de quebrar as fortes cadeias do estímulo-resposta que escravizam os animais.

A mente sã é capaz de ter impulsos diferentes num estado de equilíbrio indeciso e, finalmente, tomar a decisão pela qual um dos impulsos prevalece.

O primeiro pressuposto da personalidade humana é a posse dessas possibilidades criativas, que são sinônimas de liberdade.

É possível crescer na liberdade. Quanto mais saudável mentalmente a pessoa se tornar,

tanto mais será ela capaz de moldar criativamente os materiais da vida e, por conseguinte, mais senhora será de seu potencial de liberdade.

Por isso, quando o aconselhador ajuda um aconselhando a superar seu problema de personalidade, na verdade ajuda-o a tornar-se mais livre. Podemos resumir, sob a forma de um guia de aconselhamento, nosso primeiro princípio da personalidade, ou seja, a liberdade:

É função do aconselhador levar o aconselhando a aceitar a responsabilidade pela direção e pelos resultados de sua vida.

O aconselhador deve mostrar-lhe como são profundas as raízes da decisão e como toda a experiência passada e as forças do inconsciente devem ser levadas em conta. Mas, ao final de tudo, deve ajudar o aconselhando a apropriar-se de suas possibilidades de liberdade e usá-las.

À PROCURA DO SI-MESMO

Existe bom fundamento, portanto, para o conselho tão popularizado: “Seja você mesmo”.

Todavia, pouco adianta dizer simplesmente à pessoa que “seja ela mesma”, pois o problema é precisamente ela não saber quem realmente é.

O aconselhador percebe muitas vezes uma série de “si-mesmos” em conflito. Logo, dizer-lhe simplesmente que seja ela mesma, é piorar ainda mais a cofusão. Ela precisa em primeiro lugar achar a si mesma. E é aqui que entra o aconselhador.

A função do aconselhador é ajudar o aconselhando a encontrar o que Aristóteles chama de “enteléquia”, o elemento singular existente dentro da semente do carvalho, que a destina a tornar-se um carvalho.

Jung diz:“Cada um de nós traz em si sua constituição específica de vida, uma constituição indeterminável que não pode ser substituída por outra”.

Esta constituição de vida, o verdadeiro si-mesmo, alcança profundamente no indivíduo muito maiores do que a mera consciência. A consciência pode até mesmo apresentar um reflexo distorcido dela.

O indivíduo encontra-se a si mesmo ao unir seu si-mesmo consciente a vários níveis de seu inconsciente.

É função do aconselhador auxiliar o aconselhando a achar o seu si-mesmo verdadeiro e então ajudá-lo a ter a coragem de ser esse si-mesmo.

A personalidade não pode ser entendida fora de seu contexto social.

Uma característica da personalidade saudável é a integração social. Pois é necessário que a pessoa se mova dentro de um mundo constituído de outras pessoas.

Uma das principais características da pessoa neurótica é sua incapacidade de lidar com outras pessoas. Desconfia demais dos outros, acha que a sociedade é uma inimiga e atravessa a vida como se estivesse dentro de um carro blindado.

A personalidade

Opondo-se ao conceito da libido sexual de Freud, Adler vê a força dinâmica do indivíduo como a procura do poder. Existe um impulso dentro do indivíduo (no centro do si-mesmo, que denominamos “ego”) de alcançar uma superioridade sobre seus semelhantes e de obter uma posição de segurança que não possa ser ameaçada. Esse conceito é semelhante, mas não idêntico aos conceitos de “vontade de poder” de filósofos como Nietzsche e Schopenhauer. A “vontade” de Adler é mais uma “vontade de prestígio”. É aquele impulso básico do indivíduo que faz com que ele tenda a romper a teia de interdependência social e, por ambição competitiva e vaidade, colocar-se acima de seus semelhantes.

Isso nos leva à mais famosa contribuição da psicologia adleriana ao pensamento moderno: o conceito de inferioridade. O sentimento de inferioridade é universal (Não devemos chamá-lo de “complexo”, enquanto não se tornar definitivamente neurótico). Todo indivíduo o possui como parte de sua condição de ser humano.

Esse sentimento de inferioridade universal tem suas raízes na verdadeira inferioridade da criança, que vê os adultos exercer uma força que ela não possui. Podemos também identificá-lo em parte no sentimento de inferioridade do homem primitivo em sua luta contra os animais ferozes.

um sentimento de inferioridade exagerado conduz a um comportamento neurótico, pois o egopassa1a buscar o poder com um empenho anormalmente forte. Quanto mais “por baixo” ou menor o indivíduo se considera, tanto mais desesperadamente lutará no sentido de colocar-se “por cima”.

Por sentir-se inferior, o ego assume uma fachada especial de superioridade e faz questão de mostrá-la a todos.

Neste esquema de esforço por prestígio, a depreciação das outras pessoas é proporcional à elevação do próprio indivíduo, pois à medida em que elas descem, automaticamente o indivíduo adquire maior superioridade. Isso explica o prazer que as pessoas encontram na maledicência . Todos já sentiram essa tendência de depreciar os outros, para elevar seu próprio prestígio.

O indivíduo normal mantém essa tendência sob controle e procura orientar esses esforços para interesses sociais. Mas o neurótico orienta esses esforços numa linha anti-social e tenta subir,usando as outras pessoas como degraus de uma escada. Dessa forma, ele move uma guerra contra a própria estrutura à qual deve sua existência. Contra suas próprias raízes o que traz, inevitavelmente, a doença mental.

É função do aconselhador auxiliar o aconselhando a aceitar com alegria sua responsabilidade social, dar-lhe a necessária coragem para livrá-lo da com pulsão de seu sentimento de inferioridade e ajudá-lo a dirigir seus esforços para fins socialmente construtivos.

A falta de ajustamento da personalidade pode manifestar-se sob todo tipo de sintomas como: embaraço,timidez, excessivo acanhamento, preocupação e ansiedade constantes, medo de relacionar-se com as pessoas, medo especial de fracasso no trabalho e incapacidade de concentração.

A EMPATIA: CHAVE PARA O PROCESSO DOACONSELHAMENTO

A resposta se encontra no conceito de empatia, termo geral para expressar contato, influência e interação das personalidades.

É derivada do grego pathos, que quer dizer um sentimento forte e profundo, semelhante ao sofrimento e tendo como prefixo a preposição iri.

O segredo do sucesso nas relações pessoais é o uso da empatia de forma construtiva, positiva, amistosa e revigorante.

aconselhador e aconselhando podem aceitar proveitosamente como possível a ocorrência dessa transferência mental e, por conseguinte, só haverá lugar para a honestidade. Isso significa que cada qual pressentirá o que o outro está pensando; assim, de nada adiantará perder tempo tentando enganar um ao outro. Eles podem aceitar a possibilidade de que suas mentes e corações estejam tão visíveis como se estivessem colocados sobre a mesa diante deles. Esta suposição significa um rompimento de barreiras.

O aconselhamento evita, destarte, fazer qualquer jogo falso com o aconselhando, e este compreenderá que nada vai conseguir lançando mão de semelhantes artifícios. Esse é o significado verdadeiro da honestidade,

uma demolição de barreiras, até que uma pessoa aceite a outra como ela realmente é.

Bibliografia

  RolLo May. A ARTE DO A ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO

Tradução de Waine Tobelen dos Santos, Hipálito Martendal. Tradução da edição revista Reinaldo Endlich Orth

1Y Edição EDITORAVOZES, 1989.