36 O JOVEM [Dezembro2010]

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[3] [8] [20] Para não fugir à regra, Dezembro foi um mês de grande actividade para a concelhia. Reunimos brinquedos e roupas para quem mais necessita, seguimos a nossa “Volta ao Concelho” e discutimos a gestão local em dois debates. Reconciliar a economia e a sociedade. Este princípio como slogan da economia social está em voga e, com a crise financeira em que mergulhamos, é hoje mais frequentemente lembrado como resposta. Fica a saber a opinião dos nossos militantes sobre temas que marcaram a actualidade política durante o ano qe está prestes a acabar. Nesta edição contamos com textos da autoria de Carlos Pinto e Manuel Oliveira. [11 e 14] Este mês registam-se os 30 anos do desastre de Camarate que vitimou Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. O Jovem faz a homenagem a duas figuras ímpares da história da nossa democracia, através da evocação da memória de ambos, bem como do relato de tudo o que Portugal terá perdido quando ambos perderam a vida.

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O Jovem, jornal oficial da Juventude Popular da Maia. www.jpmaia.org

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[3] [8] [20]

Para não fugir à regra, Dezembro foi um mês de grande actividade para a concelhia. Reunimos brinquedos e roupas para quem mais necessita, seguimos a nossa “Volta ao Concelho” e discutimos a gestão local em dois debates.

Reconciliar a economia e a sociedade. Este princípio como slogan da economia social está em voga e, com a crise financeira em que mergulhamos, é hoje mais frequentemente lembrado como resposta.

Fica a saber a opinião dos nossos militantes sobre temas que marcaram a actualidade política durante o ano qe está prestes a acabar. Nesta edição contamos com textos da autoria de Carlos Pinto e Manuel Oliveira.

[11 e 14]

Este mês registam-se os 30 anos do desastre de Camarate que vitimou

Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa. O Jovem faz a

homenagem a duas figuras ímpares da história da nossa democracia,

através da evocação da memória de ambos, bem como do relato de

tudo o que Portugal terá perdido quando ambos perderam a vida.

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Todos os anos a cena se repete: toca a escolher os melhores, os piores, os mais isto, os menos aquilo, enfim, as figuras que marcaram o ano. E que figura mais importante e mais falada, qual novidade na ponta da língua de cada português, senão "os mercados"? A esquerda, ávida de alibis para a sua propensão de nos colocar no rumo da implosão acelerada, promoveu "os mercados" a explicação caída do céu para desculpar a sua acção sem mácula. Que "os mercados" nos querem explorar, que "os mercados" nos querem subjugar ao seu poder ditatorial e que "os mercados" são a culpa da fome e da miséria dos pobrezinhos. Acordem. "Os mercados" são a figura, pelo menos, dos últimos 25 anos portugueses. São "eles" que têm sustentado o país que temos. São "eles" que dão de comer àqueles que agora cospem no prato que "os mercados" começam a deixar mais vazio, porque não são parvos. E preparem-se. Os anos passam, as décadas sucedem-se, mas o essencial fica: "os mercados" serão figura incontornável dos próximos anos. Nem que seja só para nos apresentar a factura da figura que fizemos.

Ao contrário do que muitos querem fazer supor, o aumento do valor do salário mínimo não conduz a um aumento automático nos salários. Esse aumento conduz, isso sim, à extinção dos postos de trabalho que, entre o valor de partida e o valor resultante desse aumento por decreto, percam viabilidade. Juntando-se, assim, a todos os postos de trabalho abortados à partida por já não cumprirem o limiar mínimo que a lei exige. Os salários podem ser aumentados por decreto mas a produtividade não. Por isso, o salário mínimo causa desemprego. E cada subida do seu valor aumenta-o. Deviam saber os paladinos da bondade solidária arranjada por decreto que o salário mínimo é coisa que não existe em países como a Áustria, a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega. Que mais têm esses países em comum? Três coisas: têm mercados de trabalho mais flexíveis do que o nosso, apresentam menos desigualdades sociais do que o nosso e, como consequência, desmontam as falácias e as demagogias dos nossos medíocres do poder político e sindical.

salários. Esse aumento conduz, isso sim, à extinção dos postos de trabalho que, entre o valor de partida e o valor resultante desse aumento por decreto, percam viabilidade. Juntando-se, assim, a todos os postos de trabalho abortados à partida por já não cumprirem o limiar mínimo que a lei exige. Os salários podem ser aumentados por decreto mas a produtividade não. Por isso, o salário mínimo causa desemprego. E cada subida do seu valor aumenta-o. Deviam saber os paladinos da bondade solidária arranjada por decreto que o salário mínimo é coisa que não existe em países como a Áustria, a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega. Que mais têm esses países em comum? Três coisas: têm mercados de trabalho mais flexíveis do que o nosso, apresentam menos desigualdades sociais do que o nosso e, como consequência, desmontam as falácias e as demagogias dos nossos medíocres do poder político e sindical.

De doze edições, quase 200 páginas, centenas de leitores e uma qualidade crescente, se fez mais um ano d’O Jovem, para quem 2010 foi um ano particulatmente risonho. No ano em que comemoramos a passagem dos 25 anos sobre a primeira edição e o terceiro ano de publicação consecutiva, só temos motivos para estar orgulhosos. O ano que aí vem não será, certamente, muito diferente. Bom 2011 para todos!

Para aqueles que me (nos) acusam de praticar a modalidade da crítica negativa sem fundamento, cometo aqui um acto de loucura e confesso que fiquei francamente satisfeito com o resultado do último Conselho Municipal da Juventude. Tal como defendi, em nome da Juventude Popular da Maia, e ao contrário de outras opiniões mais à esquerda, entendo que o orçamento do pelouro da juventude deve ser reduzido, ou no mínimo, consciente da difícil realidade económica e social do país. E por reduzido não se entenda que perca qualidade e sentido objectivo. Espaços como a “Feira das Oportunidades” devem

por reduzido não se entenda que perca qualidade e sentido objectivo. Espaços como a “Feira das Oportunidades” devem claramente ser prioritários face a um festival de música, sem dúvida alguma. A aposta na ajuda ao empreendedorismo jovem, que crie emprego e projecte inovação, deve ser a bandeira. E com estes pequenos-grandes casos fico mais (ligeiramente, vá!) aliviado perante um cenário dantesco de futuro e acredito num investimento público consciente e optimizador do melhor que a Maia tem e que, pelo menos, aparenta retorno palpável. Isto sim, é respeitar o futuro de uma geração condenada até porque um orçamento “{ la esquerda”, ou { grande e

palpável. Isto sim, é respeitar o futuro de uma geração condenada até porque um orçamento “{ la esquerda”, ou { grande e à francesa, seria um contra-senso com o público para o qual o pelouro justifica a sua existência. São estes exemplos que os jovens procuram: um travão num sentimento diário de injustiças e atropelos ao digno e aceitável. É exactamente por aí! Finalmente, um bom exemplo (e, para quem só agora reparou, uma crítica positiva!)…

Muito pouco tempo antes de ser oficial o que todos já prevíamos – que PS e PSD concordavam no tamanho e nas feições da gamela que se habituaram a partilhar –

Lidador Por terras de

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Já no passado dia 27 de Dezembro, o tema foi “O papel da Freguesia” tendo sido convidados como oradores o presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova da Telha, na Maia, Floriano de Pinho Gonçalves e o vice-presidente da Juventude Popular e deputado à Assembleia de Freguesia de Cedofeita, no Porto, João Ribeirinho Soares. Tendo em consideração os tamanhos das juntas de freguesia que representam, ambos os oradores falaram sobre o papel que as juntas de freguesia têm hoje em dia para os cidadãos, como por exemplo na vida dos jovens. Também se falou sobre o facto dos orçamentos de junta serem muito afectados com custos fixos como por exemplo renumerações, e sobre as potencialidades das juntas a prestar serviços aos seus cidadãos. Alem disso discutiu-se ainda as diferenças no que toca a necessidade de existência das juntas de freguesias nas aldeias e nas grandes cidades.

Em mais uma etapa da nossa “Volta ao

Concelho”, a 10 de Dezembro estivemos

na freguesia de Silva Escura à conversa

com o Presidente do executivo local, José

Sousa Dias. Num espírito informal e

descontraído foram abordadas as

principais características da freguesia e a

já tradicional contenção no investimento

público como justificação da lacuna na

concretização de alguns projectos para a

dinamização e desenvolvimento da

freguesia. Numa zona em que se regista

um sentido empobrecimento das famílias

é de importante registo o esforço do

executivo para minimizar alguns dos

problemas nomeadamente com os

idosos, em que existe uma boa relação

com o Centro de Dia que é actualmente

explorado pela Santa Casa da

Misericórdia. Sendo a construção do

Centro Cívico a obra que o responsável

definiu como prioritária para a freguesia,

ainda houve tempo para falar no curioso

projecto de um campo de golfe

projectado para a zona de Silva Escura.

Na abertura de uma nova ronda de tertúlias sobres assuntos pertinentes para a vida política local e nacional, a Juventude Popular da Maia organizou no dia 6 de Dezembro uma tertúlia subordinada ao tema “Gest~o Aut|rquica” tendo convidado para oradores o Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, Álvaro Castello-Branco; e os professores da Faculdade de Economia do Porto, José da Silva Costa e Manuel Luís da Costa. O debate foi muito participado tendo sido discutido temas como os orçamentos das câmaras municipais, regionalização, reforma da administração local e transferências de competências do estado central para as autarquias. Os oradores foram também desafiados pela audiência com algumas ideias e experiencias de interacção com as Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais e as diferentes realidades das autarquias de pequena, média e grande dimensão Já no passado dia 27 de Dezembro, o tema foi “O papel da Freguesia” tendo sido convidados como oradores o presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova da Telha, na Maia, Floriano de Pinho Gonçalves e o vice-presidente da Juventude Popular e deputado à Assembleia de Freguesia de Cedofeita, no Porto, João Ribeirinho Soares. Tendo em consideração os tamanhos das juntas de freguesia que representam, ambos os oradores falaram sobre o papel que as juntas de freguesia tem hoje em dia para os cidadãos, como por exemplo na vida dos jovens. Também se falou sobre o facto dos orçamentos de junta serem muito afectados com custos fixos como por exemplo renumerações, e sobre as potencialidades das juntas a prestar serviços aos seus cidadãos. Alem disso discutiu-se ainda as diferenças no que toca a necessidade de existência das juntas de freguesias nas aldeias e nas grandes cidades.

causa, substitui-lo, é de lamentar que a burocracia e a total ausência de apoios financeiros do Governo Central e até da Autarquia se façam sentir. Por tudo isto, ficamos satisfeitos por termos escolhido a Enigma para receber este ano a recolha de brinquedos e roupa que anualmente promovemos juntos dos militantes e simpatizantes da nossa estrutura. Um gesto insignificante perante os exemplos de coragem e esforço que tal instituição nos transmitiu.

No passado dia 21 de Dezembro a estrutura da Juventude Popular da Maia conheceu a Enigma, uma instituição de cariz social e OTL situada na freguesia da Maia. Numa conversa mais do que interessante mantida com os responsáveis, foi possível perceber os objectivos, debilidades e principais preocupações desta instituição que lida de perto com crianças com o Síndrome de Down, por exemplo. Num país em que o Estado pouco apoia quem voluntariamente ousa, por amor a uma

de lamentar que a burocracia e a total

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Um ano em imagens! Regionalização: Perspectivas e Desafios

No dia 22 de Janeiro, JP Maia promoveu um debate subordinado ao tema da regionalização, tendo como convidados António Tavares, Garcia Pereira e João Almeida.

Visita à “A Causa da Criança”

Na sequência da entrega da recolha de roupas e brinquedos recolhidos na edição de 2009 da

campanha “Juntos Por 1 :)”, a JP Maia visitou a IPSS maiata “A Causa da Criança”.

Debate sobre Eutanásia

Março foi o mês dedicado ao tema da saúde e, em consequência disso, a JP Maia realizou mais um debate, desta vez sobre a eutanásia. João Moreira Pinto, Laura Santos, Jorge Teixeira Cunha e Rui Nunes foram os intervenientes num debate moderado por Fernando Moreira de Sá.

Campanhas nas

escolas

Ao longo de todo o ano, a JP Maia marcou presença frequente nas escolas secundárias do concelho, distribuindo “flyers” aos jovens maiatos e escutando as suas preocupações e propostas.

Visita ao Centro de Saúde

de Águas Santas

Ainda na sequência do mês dedicado ao tema da saúde, a JP Maia foi conhecer a realidade dos equipamentos e serviços de saúde prestados na Maia.

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Volta ao Concelho

A JP Maia foi conhecer o concelho ao milímetro. A “Volta ao Concelho” passou por freguesias como Vila Nova da Telha, Barca, Pedrouços, Milheirós.

Feira das Oportunidades

Cumprindo a tradição, a JP Maia marcou presença em mais uma edição da Feira das Oportunidades, onde deu a conhecer

a sua mensagens aos jovens que passaram pelo seu stand. Muitos foram os que se identificaram e quiseram fazer parte

da família JP Maia.

A Direita Democrática em Portugal

No dia 5 de Junho, perto do fecho do ano político, a JP Maia, em parceria com o CDS Maia, promoveu uma iniciativa de dimensão pouco vista. Durante uma tarde e uma noite, passaram pela Maia figuras como Michael Seufert, Ribeiro e Castro, João Almeida, Rui Moreira, Nuno Melo e Domingos Silva.

Presença na

Rentrée

Como habitualmente, a JP Maia fez-se notar na rentrée do CDS

e da JP em Aveiro. Tomada de Posse

Depois das eleições de final de Julho, que reconduziu Manuel Oliveira na liderança da concelhia, os novos orgãos eleitos da JP Maia tomaram posse num jantar recheado de amigos, no dia 17 de Setembro.

Debates sobre

Gestão Local

Já bem perto do final do ano, nos dias 6 e 27 de Dezembro, a JP Maia

realizou, na sua sede concelhia, dois debates sobre gestão autárquica.

Álvaro Castello-Branco, José da Silva Costa, Manuel Luís Costa, Floriano de

Pinho Gonçalves e João Ribeirinho Soares foram os convidados.

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exemplo, eleger os novos senadores e

representantes, incluindo o novo

Presidente.

Também em Abril, o ano foi marcado

pela tragédia. A morte do Presidente

polaco e de grande parte do staff militar

e presidencial morreram na Rússia na

queda do avião que levava a comitiva do

presidente Lech Kaczynski para a

cerimónia de aniversário do massacre de

Katyn na Rússia. A Polónia perdeu o seu

processo de ratificação do New

START, o acordo bilateral que tem

como objectivo continuar os passos

uma senda de terramotos que teve, no

Haiti, o expoente máximo. A pequena

ilha caribenha foi, se bem se lembram,

devastada por um terramoto mortífero

que transformou um pais já muito

debilitado num inferno na Terra.

Recuperar de uma tragédia destas não

é fácil e a comunidade internacional

não funciona tão depressa como se

deseja, embora o país já tenha dado

passos importante como, por

exemplo, eleger os novos senadores e

representantes, incluindo o novo

Presidente.

Manda a tradição que, no último mês do

ano, se faça uma retrospectiva do que de

importante se passou. Este vosso não

foge à tradição. 2010 não foi,

propriamente, um ano calmo. Vários

eventos marcaram a agenda

internacional, ora bons ora mau. Escolho

alguns para relembrar ao estimado leitor.

O ano começou mal com

uma senda de terramotos que teve, no

Haiti, o expoente máximo. A pequena

ilha caribenha foi, se bem se lembram,

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chefe de Estado, a União Europeia um

dos seus grandes intervenientes e o

mundo, um estadista.

O raide israelita aos navios que furavam o

bloqueio de Gaza a 31 de Maio esteve na

boca do mundo durante largas semanas.

As relações Israel-Turquia tremeram com

a marinha israelita a parar os barcos

turcos que seguiam pata Gaza,

levantando grandes problemas sobre o

modus operandi dos israelitas ao parar os

barcos, e a trazer de novo Gaza para a

cena internacional.

Do outro lado do mundo, no Mar

Amarelo, as relações das Coreias estão

cada vez piores no seguimento do

bombardeamento das ilhas Yeonpyeong

que são governadas pela sul, e desejadas

pelo Norte. Este é um livro que

continuará a ser escrito no ano de 2011

com o Sul a escalar as suas manobras de

treino para a defesa e o Norte a desejar,

novamente, marcar passo no conflito

eterno do domínio das Coreias.

Importante também escrever umas

linhas ao leitor sobre a Costa do Marfim.

Depois de umas eleições onde o chefe de

Estado perdeu para a oposição o cargo

presidencial, internacionalmente

reconhecido, Laurent Gbagbo não quer

deixar a presidência do pais para

Alassane Ouattara e a Costa do Marfim o

caminha para um aumento dos actos de

guerra civil que tem assolado o pais nas

ultimas décadas. As manifestações,

principalmente em França, antigo

colonizador, aumentam com

partidários de ambas as facções e a

comunidade internacional tenta

convencer Gbagbo a sair pelo seu pé da

presidência e não mergulhar o pais em

mais mortes.

A noticia do ano será provavelmente as

revelações da Wikileaks sobre a

diplomacia internacional, com grande

foque na dos EUA. Um escândalo que

tem tanto de mediático como de ilegal

está a fazer as delicias dos anarquistas

e da esquerda revolucionaria por esse

mundo fora, Portugal incluindo. Aqui o

autor continua a recusar-se comentar e

pactuar com actos ilegais e portanto

não há comentário ao conteúdo das

revelações.

A marcar o ano esteve também o novo

acordo EUA-Rússia no que toca a

armamento nuclear. A Cimeira nuclear

de 2010 em Washington foi o primeiro

passo para a redução de armamento

onde a Rússia e os EUA deram um

passo gigante, embora sozinhos, com

o processo de ratificação do New

START, o acordo bilateral que tem

como objectivo continuar os passos

o processo de ratificação do New

START, o acordo bilateral que tem

como objectivo continuar os passos

dados pelas “Administrações Bush" pai

e filho com START I e II para a redução

de armamento. Assinado em Praga em

Abril, viu este mês de Dezembro o

processo aprovado e ratificado pelo

Senado Norte americano.

Alem disso, Lisboa foi palco de um dos

momentos mais marcantes do ano e da

década, a Cimeira NATO para aprovar o

plano de retirada do Afeganistão de

entrega do país aos afegãos, e o novo

conceito estratégico da organização. O

sucesso foi evidente e a organização

portuguesa está de parabéns pelo

trabalho efectuado, especialmente o

MNE e a Comissão Portuguesa do

Atlântico.

Para terminar, este mês de Dezembro

marcou o primeiro ano do Tratado de

Lisboa como carta fundamental da União

Europeia, que já se fala em ser alterado

devido à crise económica da Europa e o

ataque ao Euro. Fica a cargo do leitor

tirar as suas elações sobre as virtudes

deste documento na vida europeia.

Um bom 2011 a todos!

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Economia Social

Uma nova extensão do capitalismo?

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suscitam vocações.

Os responsáveis políticos que, durante

muito tempo ignoraram, desprezaram ou

subvalorizaram o papel dessas empresas,

relegando-as para segundo plano, são

hoje quase obrigados a chamá-las para

desempenharem um papel

preponderante, nomeadamente no

campo do desenvolvimento sustentável e

da solidariedade. Sinal deste tempo é a

crescente inauguração de escolas de

empreendedorismo em economia social,

em vários pontos da Europa.

A uma outra escala, o próprio caderno de

encargos do Presidente americano,

Barack Obama, previa investimentos

importantes para favorecer a criação

deste tipo de empresas. Ainda no início

deste ano, o Parlamento Europeu

adoptou, por larguíssima maioria uma

importantes para favorecer a criação

deste tipo de empresas. Ainda no início

deste ano, o Parlamento Europeu

adoptou, por larguíssima maioria uma

resolução evidenciando o papel

importante da economia social face à

crise. Este constatava que o

“reconhecimento dos estatutos europeus

para as associações, cooperativas e

fundações é necessário para garantir a

equidade de tratamento das empresas de

economia social nas regras de mercado

interno”.

Mas o que é a economia social? A

Comiss~o Europeia fala num “terceiro

sistema”. Alguns utilizam o termo de

“sector com objectivo n~o lucrativo”.

Inclui uma multiplicidade de agentes:

associações, fundações, cooperativas,

etc, em que se afastam teoricamente

de uma lógica capitalista. O proveito

não é o objectivo dessas entidades, o

que não quer com isto dizer que estas

não devam realizar benefícios,

ferramenta essencial para assegurar a

sua estabilidade financeira e assim a

sustentabilidade da estrutura.

Que se tratem das “charities”

(instituições de beneficência à inglesa),

das “Netz” (instituições

autosustentáveis numa versão alemã),

das “comunidades” no Brasil ou das

“SCOP” (sociedades cooperativas de

produção) em França, a economia social

é animada por princípios democráticos.

Regem-se por princípios que implicam a

ofuscação do individualismo, a

independência face ao Estado, valores

colectivos de solidariedade e gestão

equitativa.

Duas tendências marcam a economia

social. De um lado, a Europeia que

desenvolve uma visão de

empreendedorismo colectivo. Do outro

lado, a Americana mais ligada aos

serviços e a uma actuação individualista.

Capital e dividendos limitados

As novas legislações incitam a incluir o

campo das cooperativas num grupo mais

Um banco social, a Shore Bank, que

aspira a mudar o mundo permitindo o

acesso ao crédito às populações

desfavorecidas de Chicago, Detroit ou

Cleveland. Uma sociedade cooperativa,

Autocool, que propõe um serviço de

partilha de veículos, acessíveis vinte e

quatro horas por dia, todos os dias,

mediante a existência de uma rede de

estações urbanas de proximidade. Uma

colectividade local que cria uma

cooperativa para acompanhar os

projectos de criação de um banco

alimentar em três concelhos de uma

aglomeraç~o francesa… Sem dúvida, as

empresas de índole social e solidária

suscitam vocações.

Os responsáveis políticos que, durante

muito tempo ignoraram, desprezaram ou

subvalorizaram o papel dessas empresas,

Reconciliar a economia e a sociedade…

Este princípio como slogan da economia

social está em voga. Com a crise

financeira em que mergulhamos, fruto

de uma ausência de fiscalização na

regulação de mercados e as dúvidas

acerca das políticas em prol do

individualismo e do curto prazo, o

espírito associativista, mutualista e

cooperativista é hoje mais

frequentemente lembrado. Este modelo

existente em inúmeras empresas coloca

à luz do dia os paradoxos de um modelo

onde coexistem pescadores solidários

com instituições financeiras, onde há

experimentação e reformulação do

capitalismo.

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A economia social continuará a ser

marginalizada ou será que é chamada a

tornar-se num pilar da economia

sustentável?

No Brasil, por exemplo, uma boa parte da

reforma agrária insuficiente passa pela

economia social. O MST, (Movimento

dos Sem-Terra) permitiu uma melhoria

na gestão da produção, na

transformação e comercialização de

produtos. Facilitou igualmente a difusão

de serviços básicos em meios rurais (no

campo da saúde e educação,

principalmente), a revalorização

cultural, a agricultura biológica, a

protecção das sementes e das espécies

locais.

Já na OCDE, o reequilíbrio da vertente

social e económica constitui um desafio

essencial. Será preciso, no entanto, que

este modelo adquira uma credibilidade

razoável sem perder de vista a finalidade

As novas legislações incitam a incluir o

campo das cooperativas num grupo mais

amplo mas menos distintivo do modelo

económico dominante: as empresas

sociais. A diferença resume-se ao facto

de estas incluírem o conceito de lucro. De

notar que estas empresas sociais

inspiram-se nos mesmos valores que

outras instituições de índole social. Em

alguns países, beneficiam desse estatuto

na condição de perseguir objectivos de

interesse geral e a melhoria do bem-estar

individual e colectivo. É o caso no Reino-

Unido com as “Community Interest

Companies”, orientadas na satisfaç~o das

necessidades a nível local. O conceito de

capital é limitado e os dividendos

também.

Frequentemente, essas empresas têm

como propósito descentralizar o poder,

de inventar novas formas de trabalho e

de privilegiar o capital social em

detrimento do capital financeiro.

Exemplo disso é Better World Telecom

(BWT), um fornecedor de serviços de

acesso à internet. A BWT consagra um

milhão de dólares por ano ao

financiamento da sua fundação até 2010

e 3%% dos seus rendimentos destinam-

se, sob a forma de donativos, a

instituições de cariz educativo ou

ambiental. Estas empresas, inovadoras

no seu modo de actuar, inscrevem-se

numa lógica de evolução natural da

economia social, traduzindo-se num

sistema intermédio de “capitalismo

social” que permite configurar uma nova

dimensão na ética proporcionada pelo

capitalismo.

A economia social continuará a ser

marginalizada ou será que é chamada a

tornar-se num pilar da economia

sustentável?

No Brasil, por exemplo, uma boa parte da

reforma agrária insuficiente passa pela

economia social. O MST, (Movimento

dos Sem-Terra) permitiu uma melhoria

na gestão da produção, na transformação

e comercialização de produtos. Facilitou

igualmente a difusão de serviços básicos

do mesmo. Esta economia tem a

necessidade de, constantemente, fazer

uma introspectiva para melhor se

projectar no futuro e reafirmar

claramente o seu papel de alternativa.

Constitui-se não apenas por uma miríade

de empresas no mundo mas como um

possível modelo estruturante de algumas

sociedades.

A economia social não se afirma como

alternativa ao capitalismo. Pelo

contrário, poderão se complementar

numa mesma sociedade, cada qual com

um campo de acção e escala de actuação

bem diferenciada. É de notar que a

implementação de um modelo de

economia social não eliminará a dívida

dos Estados. Também não resolverá as

crises repetidas das reservas

internacionais. No entanto, poderá

desempenhar um papel preponderante,

constituindo-se como uma extensão ao

lado inacessível por parte do capitalismo.

A Comissão Europeia fala num “terceiro sistema”. Alguns utilizam o termo de “sector com objectivo não lucrativo”.

Inclui uma multiplicidade de agentes para os quais o proveito não é o objectivo, o que não quer dizer que estas não devam

realizar benefícios, essenciais para assegurar a sua estabilidade financeira e assim a sustentabilidade da estrutura.

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Foi precisamente há 30 anos que

desapareceram, num trágico acidente de

aviação em Camarate, duas das

personalidades mais importantes da política

portuguesa do pós-25 de Abril. Figuras

incontornáveis de um dos mais interessantes

fenómenos políticos do nosso país, a Aliança

Democrática, os então Primeiro-Ministro e

Ministro da Defesa, Francisco Sá Carneiro e

Adelino Amaro da Costa respectivamente,

abriram um vazio que, ainda hoje, muitos

vislumbram como impossível de preencher.

abriram um vazio que, ainda hoje, muitos

consideram impossível de preencher.

Para marcar mais um aniversário da sua

morte, O Jovem decidiu chamar a si a

obrigação de participar na perpetuação da

memória de ambos, colaborando no acto

de justiça que é relembrar os seus feitos e

ajudando na tentativa devota de construir o

mito que só os portadores de tamanha

grandeza de espírito merecem ser.

As vidas que Camarate levou por Luis Pedro Mateus e Tiago Loureiro

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A vitória das Causas Existem pessoas singulares. Pessoas que, por uma qualquer razão que teima fugir à lógica explicação das coisas, transportam uma certa aura e carisma que não deixam ninguém indiferente. Uma dessas pessoas foi, indubitavelmente, Francisco Sá Carneiro. Sá Carneiro continua a fascinar o imaginário das pessoas, ainda mais hoje do que na altura da sua morte trágica. Porque será? Porque será que um homem que, como é reconhecido, não tinha uma estatura ou porte de assinalável reputação ou qualquer dom extraordinário de discurso apaixonante, tenha mantido esta aura de saudade e de exemplo do que um homem melhor poderá fazer em política? Existe, como alguns apontam, o factor trágico do seu desaparecimento como um possível potenciador de sebastianismos modernos, mas não me parece que resida aí, totalmente, a causa da contínua emulação de Sá Carneiro (que governou apenas 2 anos) como exemplo. Sá Carneiro era um homem de percurso, de projecto, de convicção. De vontade irredutível naquilo que o movia. Some-se a isto a um desprendimento da lógica do "Poder pelo Poder" e temos a mistura explosiva que emanava Sá Carneiro. Todos sabemos, a isto fomos habituados, que na política, pela manutenção do Poder, fazem-se acordos, volta-se atrás com a palavra dada aos eleitores, cumprem-se os mínimos, tenta-se agradar a gregos e troianos. Sá Carneiro não coabitava com esta lógica. Ainda na Ala Liberal, líder duma revisão constitucional que visava aproximar o Estado Novo das Democracias Ocidentais, face ao chumbo dessa mesma revisão, decide renunciar ao mandato de deputado. Começa cedo a evidenciar um traço que o torna particular: o desprendimento dos "cargos". Sem qualquer garantia que o regime viesse a mudar, Sá Carneiro, com esta decisão, rasga qualquer possibilidade dum futuro político no Estado Novo. É o preço das suas convicções, um preço que Sá Carneiro nunca se importou de pagar. Nunca se importou de o pagar, já líder dum PPD sempre em reboliço (já vem de longe), nas suas famosas retiradas, sem qualquer garantia de regresso à liderança, quando discordava do caminho do partido. A ele, a Sá Carneiro, a independência, a força das suas ideias eram superiores a tudo. Se não o entendiam, se não estavam com ele, saía. Tão simples quanto isso. Não estava na política para se servir, mas para servir os outros. Se os outros não o queriam, não partilhavam da sua visão, tudo perdia sentido. Mas Sá Carneiro não era um desistente. Sá Carneiro voltava, e sempre mais forte. A tal aura e carisma, a seriedade intocável e a certeza por parte de quem o ouvia e conhecia que apenas o movia uma causa - Portugal - sempre foram o motor dos seus "regressos" memoráveis. Que garantia teria Sá Carneiro, depois da mais que provável renúncia sua ao cargo de Primeiro-

simples quanto isso. Não estava na política para se servir, mas para servir os outros. Se os outros não o queriam, não partilhavam da sua visão, tudo perdia sentido. Mas Sá Carneiro não era um desistente. Sá Carneiro voltava, e sempre mais forte. A tal aura e carisma, a seriedade intocável e a certeza por parte de quem o ouvia e conhecia que apenas o movia uma causa - Portugal - sempre foram o motor dos seus "regressos" memoráveis. Que garantia teria Sá Carneiro, depois da mais que provável renúncia sua ao cargo de Primeiro-Ministro face à derrota da AD nas Presidenciais, de voltar a governar Portugal? Que regresso, que luta, que projecto - fatalmente interrompido - nos teria ele reservado? Que rumo teria ele impresso, e os que com ele estavam - Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Gonçalo Ribeiro-Teles, Pinto Balsemão - no Portugal pós-revolucionário? Aquele desprendimento de cargos e do partido até, aquela certeza nas suas ideias, a fé absoluta no seu projecto (e daqueles que o rodeavam) para Portugal, o não ceder um milímetro que seja no rumo que traçava ajudaram a criar este romantismo, esta aura de delfim da política, profundamente envolta na sua figura. Não é coincidência que numa altura em que Portugal parece carecer dum projecto, duma visão de futuro, que a personalidade de Sá Carneiro aparece ainda mais fascinante que antes. É sempre no conhecimento do passado que se compreende melhor o presente e se pavimenta um melhor futuro. O povo reconhece a batalha pela irredutibilidade dos compromissos assumidos por um político. Reconhece o caminho duro e penoso que pode ser o desprendimento e a independência, a honestidade moral. Esse caminho político - o das convicções, o da honestidade, o da defesa irredutível do mandato obtido pelo povo e dos valores nele expresso - não é o mais fácil, não é o mais certo, não é o mais comum. É, isso sim, o mais puro, o mais certo, o mais ético. E o povo reconhece-o. Reconheceu-o em Sá Carneiro, na tal mistura explosiva que dele emanava. É, talvez, esse o maior legado que Sá Carneiro deixa: a prova de que é possível lutar-se, de forma irredutível, pelas convicções, pelo amor ao país, por um futuro que não pode ser alienado, sem meios termos, com honestidade intelectual... E vencer.

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À espera de um lugar na História Há figuras que quase têm de pedir um favor à História para fazer parte dela. Ainda que, algumas delas tivessem o direito de obrigar a história a colocá-las num lugar de destaque. A História ainda não fez justiça a Adelino Amaro da Costa. Ainda não lhe concedeu um lugar com a importância que merece. Nomeadamente, porque aqueles que o utilizam como suposto modelo político ou para arrancar aplausos em discursos, não têm outra preocupação em relação à sua figura senão essa, escusando-se ao esforço de acrescentar pelo menos uma linha de informação útil no livro da vida de Amaro da Costa, para o tornar um relato completo e imortal. A esses, cada vez mais, interessa apenas um nome, uma frase e, tão somente, um momento: o da sua morte, há precisamente 30 anos, em Camarate. Esquecendo que, até esse momento, Amaro da Costa vivera 37 anos, vários deles repletos de importantes contributos para a vida pública, política e partidária, que valiam bem mais a pena serem conhecidos ou lembrados. Quem conheceu Amaro da Costa lembra-se da sua boa disposição, da sua grande capacidade retórica que fazia as delícias daqueles que se sentavam nas cadeiras da Assembleia da República, fazendo discursos com uma modaz ironia e uma invulgar inteligência que o levava a cultivar a admiração dos seus opositores ao invés da sua antipatias. Da direita à esquerda a opinião sobre a sua opinião sobre a sua inteligência, a sua nobreza e a sua rectidão sempre foram visíveis e, ainda hoje, permanecem como a sua melhor memória. Defeitos, apontam-lhe poucos e muito triviais: passeava-se sempre de cigarro na boca e chegava sempre atrasado… fosse com o Papa, fosse com o pai.

inteligência, a sua nobreza e a sua rectidão sempre foram visíveis e, ainda hoje, permanecem como a sua melhor memória. Defeitos, apontam-lhe poucos e muito triviais: passeava-se sempre de cigarro na boca e chegava sempre atrasado… fosse com o Papa, fosse com o pai. Trave mestra e viga de maior sustento na construção do CDS, Amaro da Costa foi essencial na existência daquele que, no frenesim pós-revolucionário, se assumiu como partido mais à direita. A sua combatividade e determinação cunharam a marca de um partido que, ainda hojem, vinca muita da sua génese na persecussão de convicções inabaláveis. Na política como na vida, nem sempre quem se coloca em bicos de pés e à frente das luzes da ribalta merece a justiça de que a perenidade da memória o guarde em bom lugar. É por isso que quem se contentar em servir sem se servir pode sofrer um esquecimento tão grande como a sua eventual grandeza. A História não gosta do"número dois" e deixá-lo-à sempre em segundo. Mesmo quando a sua discrição de "segundo" tem uma importância maior do que a imagem do "primeiro”. Amaro da Costa, figura incontornável da construção da democracia em Portugal, vive na sombra da História, onde passa um ténue feixe de luz no início de cada frio Dezembro, deixando à vista muito pouco de alguém incomensuravelmente grande.

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Um rosto bem conhecido perturba o que

teria sido um jantar normal para a maioria

dos portugueses. Freitas do Amaral, Vice-

Primeiro-Ministro e Fundador do CDS

anuncia o falecimento de Francisco Sá

Carneiro, de Adelino Amaro da Costa,

respectivas esposas e acompanhantes no

que à época foi tido como um desastre de

aviação. Dos seus partidários, muitos dos

quais o aguardavam no Porto para mais

uma intervenção crua, directa e intensa,

fica o vazio de um líder que nunca foi

reposto. Nos seus adversários ainda queda

o vazio de um opositor imprevisível e

persistente. Mas o maior legado de Sá

Carneiro e de Amaro da Costa não foi o seu

curto mas marcante percurso político

cumprido, mas sim o ambicioso sonho que

faleceu com ambos.

O futuro teria sido diferente sem Camarate,

dizem muitos. Mas o carisma do fundador

do PSD não chegaria para adiar uma

inevitável derrota contra Ramalho Eanes.

Contra o General, feito herói nos meses que

se seguiram ao 25 de Novembro, a Aliança

Democrática jogou tudo. Mas em

democracia quem aposta também pode

sofrer pesadas derrotas. Soares Carneiro,

com ou sem dois dos seus maiores

apoiantes, acabaria por sair perdedor.

A Aliança Democrática surgiu como um

projecto entre o centro-esquerda e a

direita, uma alternativa não-socialista num

Portugal ainda a respirar o fumo do PREC.

Para os líderes da AD o grande obstáculo ao

seu projecto e à prosperidade do país era a

Constituição de 76. A institucionalização do

MFA no regime político e a irreversibilidade

das reformas socializantes deveriam ser

apagadas. Mas para tal, aperceberam-se

mais tarde, era vital retirar Eanes do

terreno pela sua insistência na manutenção

da tutela militar sobre o país.

Marcelo Rebelo de Sousa, próximo de Sá

Carneiro e Freitas do Amaral, afirmara por

mais que uma vez que o Primeiro-Ministro

cumpriria o que ele próprio havia anunciado

dias antes da sua morte e se demitiria. Sem

ele e Freitas do Amaral a queda do governo

é uma certeza. Haveria, sem dúvidas, duas

hipóteses na mesa para as eleições

seguintes. Reeditar a AD, retornando com

mais força e aplicando de vez as reformas

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hipóteses na mesa para as eleições

seguintes. Reeditar a AD, retornando com

mais força e aplicando de vez as reformas

previstas. Ou a criação de um Bloco

Central, onde um Sá Carneiro PM e um

Soares como Chefe de Estado decidiriam o

destino do país por longos anos. Dado o

feitio do primeiro e a ambição do segundo

não o considero a via mais provável.

Com a AD de volta ao governo e assim

reforçada, as reformas seriam aplicadas,

pelo menos a maior parte delas e não

existem dúvidas de que algumas das

questões que ainda hoje se discutem e que

para muitos não deixaram de ser tabus, já

estivessem há muito aplicadas. A tímida

Revisão Constitucional que tivemos deixa

em aberto a questão de até que ponto é

que o governo conseguiria modificar o

documento fundamental. Seria o suficiente

para já não se debater uma revisão em

2010? Provavelmente. Não teria tocado,

por vontade de Mário Soares, em pontos

como o sistema de governo, apesar de

ambos os líderes da coligação parecerem,

nos seus escritos e declarações, favoráveis

a uma vertente presidencialista. Mas teria,

por exemplo, permitido a flexibilização do

mercado de trabalho, mais um factor

necessário para um crescimento económico

que ainda aguardamos. Da mesma forma

que ainda é aguardada e com razão uma

reforma estrutural do sistema fiscal, em

detrimento do monstro burocrático criado

no período cavaquista. Não seria uma flat

tax, nem a própria carga fiscal baixaria

demasiado. Mas a sua simplicidade estaria

patente e o seu aumento gradual seria

impedido.

Não é raro ouvir-se comentar que com a

permanência da AD no poder muitos dos

que hoje são figuras conhecidas (das quais

nem todas são reconhecidas) não teriam

brilhado. Mas o mais provável é que a

descentralização administrativa e a

edificação de governos regionais ofereceria

a muitos oportunidades ainda mais

alargadas. Desde 79 e como se pode

verificar nos dois programas eleitorais, que

existiu um honesto empenho em

Regionalizar o país. Uma reforma estrutural

das divisões do país, quer ao nível municipal

Dos seus partidários, muitos dos quais o aguardavam no Porto para mais uma intervenção crua, directa e intensa, fica o vazio de um líder que nunca foi reposto. Nos seus adversários ainda queda o vazio de um opositor imprevisível e persistente. Mas o maior legado de Sá Carneiro e de Amaro da Costa não foi o seu curto mas marcante percurso político cumprido, mas sim o ambicioso sonho que faleceu com ambos.

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A Aliança Democrática e o seu projecto faleceram cedo demais. Mas o seu legado não concretizado sobrevive no dia-a-dia do debate político, nas propostas que pouco a pouco alguns começam a ter coragem de voltar a lançar e na seriedade e elevação que apesar de raras, ainda estão patentes em no que em bom português são “poucos mas bons”.

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participação na vida política e a actividade

fora da mesma culminariam num país mais

rico e mais coerente e consequentemente

numa classe política mais séria e eficiente.

Desde a consciência ecológica, a

desestatização e a responsabilização da

sociedade, este projecto esteve anos à

frente não só do caminho que a política

portuguesa veio a seguir, mas também do

que o espectro político europeu ou mesmo

ocidental alcançou.

Cavaco Silva não teria liderado o partido,

pelo menos na década de 80. Seria hoje

reconhecido como o hábil ministro das

finanças que liderou a reforma do Estado

promovida pelo governo. Balsemão teria

provavelmente abandonado o governo no

segundo mandato para fundar a SIC após a

liberalização da comunicação social.

Pessoas como Lucas Pires ou Ângelo

Correia teriam talvez um papel maior que o

que viriam a ter e a outras figuras como

Pedro Santana Lopes, muito próximo de Sá

Carneiro, o destino reservaria um percurso

menos conturbado. Se uma fusão

aconteceria, nunca se saberá. Marcelo

Rebelo de Sousa disse-me ainda este ano

que esforços para o efeito não faltaram,

mas que as oposições dentro do PSD

especialmente eram imensas.

Futuro

É uma tarefa árdua essa de tentar adivinhar

especialmente eram imensas.

É uma tarefa árdua essa de tentar adivinhar

o que poderiam ter sido os últimos trinta

anos com o Dr. Sá Carneiro e o Eng. Amaro

da Costa ao leme do país. Mas fácil é a

previsão de que seriam francamente

melhores. A prosperidade não é para os

povos, um dado adquirido com a criação

de riqueza. Certo é que o dinheiro não

compra a felicidade, mas ajuda. Mas a

liberdade, na sua pureza, não se

concebe apenas na liberdade económica

pela qual ainda lutamos ou pela

liberdade social ou política que

erroneamente costumamos dar como

certa e permanente. Uma sociedade civil

livre do condicionamento estatal, longe

do asfixiamento que este tende a

proporcionar, é condição essencial para

a manutenção de uma democracia

saudável. A Aliança Democrática e o seu

projecto faleceram cedo demais. Mas o seu

legado não concretizado sobrevive no dia-

a-dia do debate político, nas propostas que

pouco a pouco alguns começam a ter

coragem de voltar a lançar e na seriedade e

elevação que apesar de raras, ainda estão

patentes em no que em bom português são

“poucos mas bons”.

existiu um honesto empenho em

regionalizar o país. Uma reforma estrutural

das divisões do país, quer ao nível municipal

quer a nível regional estaria talvez

terminada antes mesmo da adesão à CEE. E

porventura o desfasamento das pequenas

localidades em comparação com os

grandes centros urbanos não se teria

tornado tão abismal.

Nos dias que correm deparámo-nos com

um Estado Social falido por uma sucessão

de políticas fracassadas. A gratuitidade do

acesso à saúde passou de tabu a discussão

corrente e a subsídio-dependência é um

problema geral. Mas sendo os portugueses

um povo de efémera memória, poucos se

recordarão que estas propostas já estavam

inscritas no programa eleitoral da AD, o que

significa por certo que a reforma do SNS

que ainda hoje se discute já há muito

estaria aplicada e a sua sustentabilidade

seria hoje indiscutível. A Instituto Nacional

do Seguro–Saúde permitiria um

financiamento responsável dos serviços de

saúde e quiçá até chegar perto de um

modelo de escolha (voucher) nesta área. O

próprio rendimento mínimo, previsto no

mesmo programa, estaria em jogo décadas

antes de Guterres e concretiza com uma

melhor fiscalização que a que tem ocorrido.

No caso do Ensino, a descentralização que

todos os dias se evoca de canto a canto do

país já estaria feita e refeito e acções teriam

sido tomadas para “facultar a todos o

acesso a escola da sua preferência”.

Acomodamo-nos de tal modo com a

penúria em que vivemos que nos pode

parecer demasiadamente complexa ou

distante a ideia um sistema de ensino mais

justo, mais transparente, onde um manual

escolar (ou a ausência de meios para o

obter) ou uma longa distância não

impediriam alguém de prosseguir os seus

estudos com tranquilidade. Mas este é um

cenário em que seríamos agora actores

tivesse o Cessna aterrado em Pedras

Rubras.

Deste embrião que foi a AD, nasceria uma

sociedade civil forte e instruída, cuja

participação na vida política e a actividade

fora da mesma culminariam num país mais

rico e mais coerente e consequentemente

numa classe política mais séria e eficiente.

É uma tarefa árdua essa de tentar adivinhar o que poderiam ter sido os últimos trinta anos com Sá Carneiro e Amaro da Costa ao leme do país. Mas fácil é a previsão de que seriam francamente melhores.

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Nesta edição que encerra a corrente década, revela-se interessante

olhar para trás para poder projectar o futuro. Ponto de partida, os

dias anteriores ao ano 2000, quando se exprimia o receio da

derrapagem tecnológica face ao embalamento da internet e

quando pairava a ameaça da clonagem humana. Esse pessimismo

era de imediato temperado pelo nascimento do Euro, o

alargamento e aprofundamento de relações da EU como projecto

colectivo para esta região do globo. Situávamo-nos numa grande

indefinição quanto ao futuro próximo do Médio-Oriente, os

acordos de Oslo não estavam ainda definitivamente selados e o

Iraque, mesmo sujeito a embargo e o Afeganistão, vítima dos

talibãs, não se descreviam como zonas de combate entre o

martelo do Ocidente e a bigorna do fundamentalismo islâmico. A

China descolava economicamente, embora estivesse ainda longe

de co-dominar o mundo com os EUA. O protocolo de Kyoto

representava ainda uma bandeira de esperança para todos aqueles

que já estimavam que o aquecimento climático se tornaria numa

das questões nucleares do século vindouro.

Dez anos depois, passamos do optimismo fundamentado ao

pessimismo lúcido. O 11 de Setembro 2001, nove meses após o

início da década, sentenciou as ilusões dos que, depois da queda do

muro de Berlim e do desaparecimento da então URSS, nos

sussurravam a falsa promessa do “fim da História”.

Algumas centenas de milhares de cifrões permitiram a um

pugnado de homens provocar uma das mais profundas crises da

história dos EUA, única super-potência após a Guerra Fria.

Decidindo vingar-se ao invés de exigir justiça, mergulhou o globo

terrestre numa guerra de civilizações que transformou os

muçulmanos em cúmplices de Bin Laden e movimentou as suas

tropas rumo à invasão do Afeganistão e do Iraque, sustentadas por

pactos arenosos e encabeçados por agentes

corrompidos como o Presidentes afegão Karzaï.

Vãs ilusões, estas guerras arrastaram-se sem

resultados aparentes para a população em geral,

fomentando ou relançando guerras civis, religiosas,

étnicas e políticas, culminando estas em massacres

e crimes contra a humanidade nestes países mais

do que nunca destabilizados. Não só os EUA não

ganharam nada (se desprezarmos a variável

chamada petróleo) como perderam moral e honra

desde Guantánamo a Abou Grahib.

Ao metamorfosear o mundo árabo-muçulmano

num novo inimigo ocidental, o 11 de Setembro

permitiu ao Pentágono relançar a corrida ao

armamento que tão bem lhe serviu para desfazer a

URSS. Com alvo primordial o Irão, o complexo

militar-industrial tornou-se, mais do que nunca, o coração da

política unipolar imperial. O mundo virava num Império do caos

mais do que a uma democracia mundial tão sonhada pelos

corredores do poder em Washington. Estes preferiam teorizar

numa guerra preventiva sem fim, acompanhada por bons negócios

como os do então vice-presidente Dick Cheney. Bin Laden, morto

ou vivo, tornara-se a referência incontornável para todos aqueles

que não queriam admitir que, neste início de século XXI, o

Ocidente tinha visto perder o seu lugar dominante incontestado.

Cada nova bomba em Bali, Madrid ou Londres, permitia o reforço

do imaginário colectivo ocidental de uma confrontação entre uma

força maléfica representada pelo terrorismo islâmico e outra

benéfica encenada por George W. Bush. Se este “storytelling”

permitiu o “Patriot Act” e as medidas isl}mofóbicas

implementadas em cascata na Europa para apaziguar a população,

na verdade não passou de um engodo. A partida desenrolava-se

noutro prisma, aos níveis económicos, sociais, financeiros e

ambientais.

O único ponto de contacto entre as guerras neocoloniais do

Afeganistão e do Iraque prendia-se com o controlo dos recursos

petrolíferos e gasíferos. O choque petrolífero não se resumia

apenas a uma quimera de profetas ambientais mas a uma

realidade que transformava a económica mundial. Depois do

Katrina, a Luisiana via neste ano 2010 as consequências desta

corrida frenética rumo à busca do petróleo perdido, simbolizado

pelo acidente da plataforma Deepwater. A exploração nos oceanos

tornara-se mais cara, as “major compagnies” tomavam todos os

riscos para continuar a fornecer os seus produtos aos

consumidores finais. O “mal” que atacava o sistema capitalista e

produtivista ocidental não se encontrava em Jerusalém, Teerão ou

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Bagdad mas em Pequim, Nova Deli, São Paulo ou Seoul. Este

“mal” alimentava-se do crescimento dos países emergentes que

não se satisfaziam mais pela subsidiação anual cada vez mais

reduzida por parte da caridade da Ajuda Pública ao

desenvolvimento. Classes médias apareciam em todos os

continentes, acedendo ao modelo consumista em vigor no

Ocidente. Estes “convidados”, n~o previstos no programa das

festas, beneficiavam ainda por cima do patrocínio de empresas

multinacionais que aproveitavam para deslocalizar as suas

empresas para esses locais, onde os salários pareciam meras

esmolas e as normas sociais e ambientais simplesmente não

existiam. Os excluídos desta reconfiguração económica mundial,

isto é, os pobres de África, da Ásia e da América Latina afluíam às

fronteiras do primeiro mundo e, assim, as migrações Sul-Sul, Sul-

Norte, Este-Oeste tornaram-se num problema geopolítico

mundial, incluindo para os EUA.

Um dos países do “eixo do mal”, a Líbia, seria novamente lembrada

e frequentável pela graça de ministros europeus que lhe pediam

para organizar campos de retenção para o tecido migrante da

África central e do Magrebe, enquanto os seguidores do anti-

terrorismo encontravam em Khadafi virtudes na sua maneira de

gerir a estabilidade de um país com recursos petrolíferos e minerais

inexplorados.

Mas foi no domínio do aquecimento global e da crise ecológica que

se atingiu o pico da hipocrisia. Mais o desenvolvimento

sustentável, a Agenda 21 e as cimeiras sobre o Clima se tornavam

na nova moda na actualidade internacional, mais aguçada se

tornava também a recusa em tomar decisões globais estratégicas à

altura do desafio que se apresentava no horizonte das gerações

futuras e no imediato das catástrofes naturais que se

multiplicavam. O proveito financeiro era regra e levava tudo à sua

frente. Desbloqueavam-se milhares de euros em dias para salvar

instituições financeiras, chave de um sistema em decomposição,

mas procurava-se em vão alguns subsídios para reparar os danos

provocados pelo produtivismo que colocavam alegadamente em

perigo o planeta e a nossa espécie.

A década 2000-2010 ficará nas memórias como o caos mental que

assolou o Ocidente, um pouco como aquele nos anos precedendo a

Primeira Grande Guerra. Nesse tempo também, os ricos da “bela

época” levavam uma vida incomport|vel e dançavam acima do

vulcão, enquanto abaixo se preparavam as condições para o

primeiro grande conflito mundial, que empurraria o século em

revoluções, guerras, genocídios arménios, judeus e rwandês. Será

também o destino das décadas que balizam o futuro de um século,

em entrar nessas lógicas mortíferas que não têm nome? Não sei,

mas deve ser seguramente objecto de meditação não só para os

filósofos mas também para os agentes políticos que certamente

n~o querer~o ficar na História como vendedores de ilusões…

Em 1914, havia muitos Sócrates e os poucos que ousassem adoptar

uma postura honesta e frontal seriam certamente condicionados

fisicamente pela barreira da comunicação social da época. Hoje, já

não se mata e a barreira tecnológica foi logicamente ultrapassada.

No entanto, as vozes que incomodam continuam a ser silenciadas,

de uma forma mais pós-modernista. Assim, o tabuleiro da

democracia é virado pelo jogo da ilusão, descredibilizando alguns

agentes do poder. Um pouco como terá acontecido há um século

atrás!

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O ano de 2010 foi a consagração absoluta da incompetência e

imbecilidade de quem nos governa e quer vir a governar? Claro que

sabe. E, porque o sente todos os dias na pele, vamos a alguns dos

factos mais importantes: em Novembro último, a taxa de

desemprego em Portugal bateu o seu máximo histórico situando-

se nos 11,1% tendo ainda o Eurostat avisado que este valor

possivelmente chegará aos 12% em 2012 dado aos poucos sinais

que a economia portuguesa está a dar para que se reverta esta

situação; ainda no desemprego, sabemos que mais de um quinto

dos jovens em Portugal, cerca de 314 mil, não têm emprego e, com

o ritmo frenético em que avança a destruição do

mesmo, é provável que a tendência seja para

aumentar havendo já previsões de que um em

cada cinco jovens estará desempregado em

2012. Animador? Não é tudo.

Há poucos dias, o (des)Governo de José

Sócrates congratulou-se pelos indicadores que

davam uma redução do défice orçamental do

subsector Estado. No meio de mais um daqueles

discursos que exortam toda uma competência

em guerra aberta e que fariam da Batalha de

Aljubarrota uma brincadeira de crianças, o

Governo aparentemente esqueceu-se de

agradecer aos portugueses que ainda trabalham

oito horas por dia e aturam esta aberrante

situação (compreenda-se a quase extinta classe

média) todos os impostos directos e indirectos que estes pagam e

que são fielmente colocados à disposição de Teixeira dos Santos. O

Governo esqueceu-se de agradecer a estes portugueses a subida

de 9% na cobrança de impostos como o IVA e de pedir desculpas

pelo incrível agravamento da despesa pública, entre Janeiro e

Novembro, na ordem dos 2,6%. E isto, apesar de todos sabermos

do que nos espera no dia 1 de Janeiro de 2011, quer dizer muito.

Senão vejamos: um Estado em obesidade mórbida como o nosso,

que procura sempre a solução mais fácil que é o aumento das

receitas em detrimento da redução da despesa, não vai parar de

exigir mais e mais impostos para combater um fogo descontrolado

e isto tornado numa bola de neve autêntica que nunca mais vai

parar num sistema altamente viciado. Por isso, não tenhamos

ilusões porque o apetite fiscal do Estado português não vai ficar

pelos 23% de IVA. Todos os portugueses serão espremidos até ao

último sobrevivente para pagar casos de polícia como o BPN, os

desperdícios do Serviço Nacional de Saúde, a má gestão do

ensino público e a sua fraca competitividade, buracos chamados

RTP, frotas automóvel de alta cilindrada imprescindíveis para a

competente execução de um cargo público ou os ordenados

escandalosos que são pagos em empresas públicas por este país

fora. E o pior é que eles sabem que o português serve como

nenhum outro para alimentar estas barbaridades: é calado, não

exige muito e com o pouco que tem julga-se sempre o maior. Não

poderia haver melhor sociedade mais harmoniosa para quem a

conduz.

Por muito que eu queira ter um discurso diferente da maioria dos

opinion makers desta área, a verdade é que um dos principais

problemas, senão o principal, do nosso país é mesmo o nosso

sistema fiscal. É este assassino que mata diariamente as empresas

e o emprego e que já conseguiu colocar os patrões a suplicar pela

misericórdia deste em detrimento

da outra besta chamada de

legislação laboral. É um sistema

fiscal impiedoso para as famílias e

para quem almeja um projecto de

vida assente no seu esforço e na

legitimidade de mais tarde

apreciar tudo aquilo que construiu.

É um sistema fiscal que repele

quem quer investir, criar valor e

promover inovação e

desenvolvimento. À custa deste

inúmeras empresas estrangeiras

batem o pé todos os anos ao nosso

país e quem for na conversa da

justificação com o custo da mão-

de-obra está a ser redondamente enganado. O sistema fiscal de

um país é o primeiro a ser analisado pelo investidor e é por este que

ele decide o nível de risco.

O problema estrutural é mesmo este e, embora custe a admitir a

quem nos Governa, a carga fiscal continuará a subir sempre como

se fosse aquele remédio de última hora quando já todos

percebemos que é, de facto, o único remédio. Mas tudo vai alegre,

tudo vai aparentemente nobre. E como o português parece querer

continuar a não dar cavaco, eu, perante isto, e porque me apetece

ser demagógico, espero que o leitor vote, mais ou menos daqui a

meio ano, PS(D). Bom 2011!