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33º ENCONTRO ANUAL DA APHES “Economia, sociedade e mercados num mundo global” Intenções urgentes x passos lentos: um confronto entre políticas econômicas da Primeira República e a rotina produtiva da fronteira agrícola no Estado de São Paulo – Brasil (1889-1930). Lélio Luiz de Oliveira Departamento de Economia FEA-RP - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto USP – Universidade de São Paulo BRASIL [email protected] Com a proclamação da república e os encantos oriundos do movimento político pregava-se a dissolução da velha ordem imperial. Esta vista, naquela altura, como um marasmo da economia. Era preciso esquecer o escravismo e disseminar com maior vigor o trabalho assalariado, notadamente através da mão de obra imigrante. (BRITO, 2004). Segundo boa parte dos integrantes do movimento republicano o Brasil precisava participar da ordem econômica internacional vigente à época, beneficiar-se da circulação de capitais, absorver novas tecnologias e industrializar-se. (BARBOSA, 1892) As políticas a serem adotadas originavam-se de ideias econômicas que seriam parte do comportamento integrante da modernidade. Entretanto, no Brasil, permaneciam as controvérsias entre valorização e estabilidade da moeda versus câmbio flutuante. Este era o centro do debate sobre os entraves para o desenvolvimento. Na prática, em 1890, transcorria a desregrada ampliação do crédito e das emissões de moeda. Tudo aos solavancos. Às decisões intempestivas do novo governo, geradoras de especulações financeiras, somavam-se as crises cíclicas internacionais. Em 1891, diante da piora do contexto econômico internacional, o capital estrangeiro antes fluente tornou-se escasso nas praças brasileiras. “A brusca redução das entradas de capitais no Brasil está bem documentada e seus efeitos sobre a crise cambial de 1891 parecem indiscutíveis, de modo que é legítima a dúvida se o país viu-se

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33º ENCONTRO ANUAL DA APHES “Economia, sociedade e mercados num mundo global” Intenções urgentes x passos lentos: um confronto entre políticas econômicas da Primeira República e a rotina produtiva da fronteira agrícola no Estado de São Paulo – Brasil (1889-1930).

Lélio Luiz de Oliveira Departamento de Economia

FEA-RP - Faculdade de Economia, Administração e

Contabilidade de Ribeirão Preto USP – Universidade de São Paulo

BRASIL [email protected]

Com a proclamação da república e os encantos oriundos do movimento político

pregava-se a dissolução da velha ordem imperial. Esta vista, naquela altura, como um

marasmo da economia. Era preciso esquecer o escravismo e disseminar com maior

vigor o trabalho assalariado, notadamente através da mão de obra imigrante. (BRITO,

2004). Segundo boa parte dos integrantes do movimento republicano o Brasil precisava

participar da ordem econômica internacional vigente à época, beneficiar-se da

circulação de capitais, absorver novas tecnologias e industrializar-se. (BARBOSA,

1892)

As políticas a serem adotadas originavam-se de ideias econômicas que seriam

parte do comportamento integrante da modernidade. Entretanto, no Brasil, permaneciam

as controvérsias entre valorização e estabilidade da moeda versus câmbio flutuante. Este

era o centro do debate sobre os entraves para o desenvolvimento. Na prática, em 1890,

transcorria a desregrada ampliação do crédito e das emissões de moeda. Tudo aos

solavancos. Às decisões intempestivas do novo governo, geradoras de especulações

financeiras, somavam-se as crises cíclicas internacionais. Em 1891, diante da piora do

contexto econômico internacional, o capital estrangeiro antes fluente tornou-se escasso

nas praças brasileiras.

“A brusca redução das entradas de capitais no Brasil está bem

documentada e seus efeitos sobre a crise cambial de 1891 parecem

indiscutíveis, de modo que é legítima a dúvida se o país viu-se

abandonado por volúveis capitais estrangeiros assustados com eventos

ocorridos em outros países (...) ou se a crise foi exclusivamente

causada por seus próprios excessos.” (FRANCO, 2012:183)

As políticas econômicas adotadas na primeira década da jovem república

resultaram em um imbróglio composto de tudo um pouco: emissões desenfreadas da

moeda, crédito frouxo, inflação, mexidas no câmbio, quebradeiras e salvamento de

empresas e bancos, agravamento fiscal (TAUNAY, 1971), empréstimos internacionais

(Fundig loan) e, mais adiante na virada do século, tentativas de adoção da ortodoxia

econômica. Tudo parecia muito complexo no círculo do poder, na cúpula da oligarquia

cafeicultora e mais ainda nos livros contábeis. Um país que pretendia ser moderno

continuava dependente da exportação de produtos primários, notadamente o café,

evidenciando o frágil controle da balança comercial. (FURTADO, 1985) O dito

“marasmo” e as possíveis “certezas” das ações econômicas do Império tinham mesmo

ficado para trás, o tempo parecia correr com agilidade num zigue-zague contínuo, sobre

o qual frutificavam as críticas apuradas nos periódicos do Rio de Janeiro. (FRANCO,

2008)

Por outro lado, nas fronteiras agrícolas da região sudeste, o cotidiano econômico

do interior do país era regido – ao mesmo tempo – pelas atividades de subsistência, de

abastecimento dos mercados internos e de produtos tropicais de exportação. Um

exemplo é o município de Franca, situado no nordeste do Estado de São Paulo, ao norte

do rio Sapucaí, muito próximo das fronteiras de Minas Gerais (Figura 1), cujo ritmo

econômico parcialmente destoava dos centros de decisão do país.

A região de Franca, durante boa parte do século XIX sustentada na produção de

alimentos para o mercado interno, era tida como fronteira e às vezes aceiro aos avanços

da cafeicultura. No município francano, a chegada da ferrovia – Companhia Mogiana –,

em 1887, impulsionou os proprietários de terras a plantarem lavouras de café em escala

maior do que até então era comum. Alguns produtores, daí em diante, formaram suas

lavouras não somente para atender o consumo da população local, mas direcionavam os

excedentes à exportação. (TOSI, 2003) No nordeste paulista, nos últimos anos do

império aos primeiros da república a cafeicultura vai além do gasto da população –

como era dito – e passou a ocupar os vagões da ferrovia a caminho da exportação. A

dinâmica da cafeicultura ligou a região ao mercado externo, e, ao mesmo tempo,

promoveu a retroalimentação dos setores destinados ao abastecimento interno, como a

pecuária e a agricultura de alimentos. (OLIVEIRA, 2006)

O ingresso gradativo do município de Franca ao complexo cafeeiro deveu-se,

entre outros fatores, aos preços crescentes da rubiácea no mercado internacional nos

primeiros anos da república (DELFIM NETO, 2009), aos custos menores do transporte

(MATOS, 1974; MILLIET, 1941), somados à disponibilidade de terras. Além disso,

deve-se levar em conta o crescimento vegetativo da população (basicamente rural) e a

agregação de estrangeiros. (OLIVEIRA, 2006:172-214; FALEIROS, 2009)

Foi somente a partir de 1870 que as notícias sobre o café ganharam espaço nos

jornais da cidade (LIMA, 1973), bem como as anotações nos inventários post-mortem.

Na década de 1880, os maiores proprietários de terras ainda não tinham se aventurado a

plantar grandes lavouras de café, mantendo a pecuária como atividade principal

(somando-se os derivados e a agricultura).

Os fazendeiros francanos preservavam, em boa medida, o perfil tradicional das

propriedades. A habitual auto-suficiência das fazendas, que trazia segurança aos

proprietários, teria sido importante fator da manutenção das práticas econômicas

arraigadas. Houve resistência dos fazendeiros em fazer investimentos vultosos em uma

nova lavoura – o café -, cujos resultados dependiam: das oscilações dos preços

internacionais, das políticas governamentais (incluindo as manipulações do câmbio) e

das espertezas dos atacadistas e comissários. Assim sendo, foram miúdos os passos

dados em direção à cafeicultura, se comparado ao município vizinho de Ribeirão Preto

(MARCONDES, 2007; LOPES, 2008).

Nos inventários post-mortem do município de Franca, entre 1890-1900, foram

quantificados de 188.199 pés de café, o que resulta em uma média de 8.179 pés por

inventário (moda e mediana: 4.000 pés) (Tabela 1). Caso típico é o de Ana Ludovina da

Assunção. Em 1897, consta no seu inventário 9.700 pés de café, que representava 10%

do valor de seus bens, enquanto os animais (bovinos, equinos e suínos) correspondiam a

7,72% e as terras e benfeitorias constituíam a parte mais representativa da riqueza

(82,28%, totalizando 155:089$000 (cento e cinquenta e cinco contos e oitenta e nove

réis).1

A Tabela 2 demonstra os principais cafeicultores da última década do século

XIX (1890-1890). Uma grande lavoura – considerando a região – somava 210.000 pés

de café, o que certamente era uma exceção. As demais variavam em torno da média

acima citada. Percebe-se que os investimentos seguiram crescendo, haja vista as

quantidades de arrobas embarcadas na ferrovia2 (Tabela 7). Mas, os passos eram dados

com certa parcimônia, diante da conjuntura propícia os preços da exportação e da

disponibilidade de créditos. Isso tudo sem prejuízo da saída – também via ferrovia – dos

produtos destinados ao mercado interno (alimentos, animais, toucinho, fumo: ver

Tabelas 8, 9, 10 e 11).

Na virada do século XIX para o XX eram paupáveis os danos (e os bônus

menos visíveis) decorrentes das estripulias implementadas pelos republicanos. “O

panorama econômico do novo regime, especialmente em vista dos sonhos e promessas

que havia produzido, parecia trazer apenas perplexidade e desalento”. (FRANCO,

2012:182)

“... a situação geral da economia não era nada boa, sobretudo em

São Paulo (...): o excesso de crescimento no plantio de café expandia

demasiadamente a oferta e fazia cair os preços, com isso depreciando

ainda mais o câmbio e fazendo crescer a inflação. A produção de café

tinha aumentado de uma média de cerca de 2,8 milhões de sacas em

1890-1896 para 6 milhões entre 1897 e 1900, deixando evidente que

havia um desequilíbrio ‘estrutural’ no mercado de café, com uma

tendência à superprodução apenas agravada pela depreciação

progressiva do mil-réis.” (FRANCO, 2012:183)

Havia um desequilíbrio entre a crescente oferta do café brasileiro e a capacidade

de absorção do mercando internacional. Somado a isso a adoção de políticas

governamentais (influenciadas pela miopia da elite cafeeira), entre elas as depreciações

1 AHMF – INV. – Inventariado: Ana Ludovina da Assunção. Inventariante: João Diogo Garcia Martins. Processo 68, 1º Ofício, 1897. 2 Os dados referentes aos carregamentos da ferrovia – Companhia Mogiana – foram gentilmente cedidos pelo Prof. Dr. Pedro Geraldo Tosi, docente da UNESP-Universidade Estadual Paulista.

exageradas do câmbio, visando a manutenção das exportações. Na prática incentivava

novos investimentos no complexo cafeeiro.

“A coincidência de uma queda mais rápida do câmbio do que dos

preços do café criou condições para a expansão da cultura cafeeira

quando o mercado já não podia absorver a quantidade de café

produzida a não ser a níveis ínfimos de preços. (...) Se tomarmos a

média da produção entre as safras de 1900-01 e 1903-04, quando

todo o cafezal se tornou adulto, encontraremos 12,7 milhões de sacas.

A elevação dos preços havia, portanto, dobrado a produção brasileira

em menos de 10 anos.” (DELFIM NETO, 2009:35)

Era preciso um ajuste no sistema bancário, no controle inflação (vista aqui como

o aumento dos preços dos importados decorrentes das desvalorizações do mil-réis), do

problema fiscal, tudo somado à superprodução cafeeira que derrubava os preços deste

importante produto de exportação. Resultado: adoção de uma política deflacionária e

saneamento das finanças pelos ministros da Fazenda Rodrigues Alves e Joaquim

Murtinho, a partir dos diagnósticos:

“(...) conforme trechos clássicos de relatórios da Fazenda [de

Joaquim Murtinho], [os problemas] tinham a ver com o ‘excesso de

emissões’, que produziu ‘uma pseudoabandância de capitais’ e, como

resultado disso, o ‘estabelecimento de indústrias artificiais e a

organização agrícola para a produção exagerada de café.”(LUZ,

1980:21 apud FRANCO, 2012:190)

As possíveis soluções viriam do chamado “darwinismo econômico”:

“tratava-se de deixar perecer essas indústrias e de operar uma

redução na produção de café, de modo a promover ‘a concorrência

entre os diversos lavradores, produzindo por meio de liquidações a

seleção natural, manifestada pelo desaparecimento dos inferiores e

pela permanência dos superiores.” (LUZ, 1980:21 apud FRANCO,

2012:190)

Juntamente com os ajustes parcialmente alcançados com a política recessiva

calhou a melhora do contexto internacional entre 1902-1906 – Rodrigues Alves

presidente e Leopoldo Bulhões ministro da fazenda – facilitando a captação de

empréstimos e investimentos externos. Mas, ampliavam os desafios da cafeicultura,

resultando no famoso Convênio de Taubaté (1906) – “política de aquisição financiada

e retenção de estoques excedentes de café, visando a sustentação dos preços”.

(FRANCO, 2012:194) Flagrante contradição entre a política ortodoxa do governo e o

poder dos cafeicultores. Destarte as polêmicas e análises econômicas e históricas sobre

o Convênio, fato é que até 1913 os preços do café exportado foram crescentes.

As grandes negociatas que visavam a proteção da cafeicultura, nas duas décadas

iniciais do século XX – 1900-1920 -, influenciaram de forma parcial os investimentos

na fronteira agrícola. No município de Franca, os investimentos continuaram gradativos

(e não desenfreados), sendo que os principais cafeicultores não faziam frente aos

grandes produtores de outros municípios do estado, como Ribeirão Preto, Sertãozinho

(ver Tabela 6) e Casa Branca (FONTANARI, 2012).

Em Franca, na década de 1901-1910, constatava-se 340.858 cafeeiros

registrados em inventários post-mortem. Nesse período, a média de pós por inventário,

passou para 13.109 unidades (lembrando que na década de 1890-1900 a média era de

8.179 pés) (Tabela 1). Maria Baldasari era uma cafeicultura de padrão médio nos anos

1901-1910. Possuía 14.000 pés de café, avaliados em 3:500$000, que correspondia a

18,45% do total de seus bens. O restante era composto de imóveis (13:863$000),

benfeitorias (400$000), estoques de café e cereais (1:099$470) e objetos pessoais

(100$000).3

Na outra década -1911-1920 – o total de pés de café registrados nos inventários

aumentou para 1.870.270 unidades. No entanto, a média de pés de café por inventário

passou a ser de 30.165.

Um produtor com lavoura corresponde à média, entre 1911-1920, era Theodoro

Martinês Tristão que possuía 31.423 cafeeiros, avaliados em 35:000$000. Além da

lavoura possuía em suas propriedades 50 bovinos e 2 equinos (5:475$000). Contudo, o

valor dos seus bens concentrava-se em imóveis rurais e urbanos, que somavam

3 AHMF – INV. – Inventariada: Maria Baldassari. Proc. 779, 2º Ofício, 1908.

127:900$000. O proprietário também possuía 12:100$000 em dinheiro. Os cafezais

tinham o peso de 19,33% no total da riqueza.4

Há que se considerar havia alguns poucos proprietários rurais concentravam boa

parte das lavouras o que certamente destorce os valores médios. A realidade era que a

predominância das lavouras – cálculo da moda – ficava em torno de 4.000 pés, e a

mediana 4.500 (Tabela 1). Conforme a Tabela 5, no período 1890-1920 a maioria dos

proprietários (53,12%) eram pequenos plantadores de café, que possuíam até 5.000 pés.

Em contrapartida, alguns poucos produtores concentravam as grandes lavouras: 5,4%

tinham entre 100.000 e 400.000 pés. Percebe-se, então, uma pulverização não equitativa

do número de pés de café entre pequenos, médios e grandes proprietários. E mesmo

entre os grandes donos de terras os investimentos não eram focados somente na

rubiácea. Ou seja, a continuidade da produção de alimentos para o mercado interno

permaneceu frequente, conforme os dados da ferrovia até 1918 (Tabelas 7 a 11).

Ao retornar à conjuntura, após o fim da Primeira Guerra a economia brasileira

sofreu um vai-e-vem de situações entre expectativas favoráveis e necessidades de

ajustes frente o novo panorama internacional que visava a estabilização e a

modernização dos setores financeiros e produtivos. Ora a prioridade era a continuidade

da proteção da cafeicultura mesmo diante de safras cada vez maiores, o que tornava um

círculo vicioso: novos empréstimos internacionais para financiar estoques e a chegada

de safras volumosas que requeriam a ampliação desta política. Ora “empreender

soluções possíveis na ausência de apoio externo [como] uma violenta contração de

crédito, especialmente durante 1925 e 1926, apenas comparável à empreendida por

Joaquim Murtinho na virada do século.” (FRANCO, 2012:216)

Conforme as estatísticas do governo do estado de São Paulo sobre o número de

cafeeiros produzindo na década de 1920 (Tabela 6) – comparando-se com outros

municípios – no caso de Franca o crescimento foi gradativo a exemplo das décadas

anteriores. Muito provavelmente grande parte das lavouras de café já estavam formadas

e os novos investimentos não teriam sido muito vultosos, mesmo ainda havendo terras

disponíveis. A “concorrência” com os investimentos tradicionais e o comedimento dos

proprietários fazia da região um aceiro à expansão desregrada da cafeicultura paulista

4 AHMF – INV. – Inventariado: Theodoro Martinês Tristão. Inventariante: Maris Christina de Jesus. Proc. 969, 2º Ofício, 1919.

(infelizmente aqui faltam comparações com estudos sobre o lado mineiro da fronteira –

Minas Gerais).

Pelo exposto, é notório que, durante o período tratado 1889-1930, a cafeicultura

ganhou importância considerável no município de Franca. Mas, os proprietários

continuaram a partilhar suas terras em investimentos diferenciados, como sempre

fizeram desde longa data. Os negócios com o gado bovino, ramo mais tradicional ao

norte do rio Sapucaí (Município de Franca e arredores), servia como uma atividade mais

segura diante dos possíveis reveses do mercado. A produção de cereais abastecia as

famílias dos proprietários, dos empregados (agregados, colonos) e gerava lucros com os

excedentes. O café servia como uma atividade rentável, porém, sensível às variações de

preços e de produção decorrentes do clima como as geadas. Dois exemplos típicos

podem dar boa noção sobre as estratégias adotadas pelos proprietários de terras.

O primeiro exemplo, a fazenda Sapucahy (Tabela 12), que em 1916, pertencia a

Dominiciano José da Silva e dona Maria Hipólita Nogueira, localizada no município de

Patrocínio Paulista (divisa com Franca), à oeste da Serra da Cubiça – Latitude 20º e

Longitude 47º - era uma vasta extensão de terras, sendo 160 alqueires de cultura e 1ª

sorte, 1.284 alqueires de 2ª sorte, 210 alqueires de 3ª sorte, e, mais 300 alqueires de

serrado (4.781.92.00 hectares). Tudo somava 141:530$000.

Conforme as técnicas de plantio da época, 1.000 pés de café ocupava 1.00.00

(um) hectare de terra. Entre um pé de café e outro a distância seria de 3 metros. Entre as

leiras 4 metros (mais ou menos). Assim, Domiciano José da Silva que tinha uma

lavoura considerada grande para a região – 197.000 pés – ocupava consequentemente

197.00.00 hectares, ou, apenas 4,12% das terras em cafezais. Ao realizar o cálculo

somente sobre as terras de 1ª sorte – 441.40.00 hectares – a utilização era de 44,67%

destas.

A lavoura estava em fase crescimento. Os investimentos não eram feitos de uma

só vez. Em torno de 90.000 pés de café já estavam formados e em produção (45,68%).

A outra parte, composta de 66.000 pés (54,32%) estava em formação, entre 1 ano e

meio e 2 anos.

O mesmo proprietário investia em gado de criar, de corte e de “lida” (trabalho).

O rebanho era composto por 250 vacas criadeiras, 190 bezerros, 440 garrotes de 2 a 3

anos, 60 bois de carro, 40 burros e 4 poltros em amançamento (estes animais novos).

Boa parte da dinâmica da fazenda estava na produção de queijos e criação de animais

para o corte.

O segundo exemplo, seria o proprietário Joaquim Garcia Lopes da Silva dono

das fazendas Santa Amélia, Jaguarão e Buritys (Tabela 13), no município de Franca Na

primeira – Santa Amélia – localizavam-se as lavouras de café, num total de 193.000

pés. Ou seja, dos 295.24.00 hectares 65,42% era ocupado pela cafeicultura. As demais

áreas desta fazenda (34,58%), como das demais fazendas – Jaguarão e Buritys –

destinavam-se ao gado de criar e de corte. O mesmo proprietário, em 1911, tinha em

estoque: café, milho, arroz e feijão.

Ao conhecer os dados sobre as fazendas espalhadas pelo município de Franca e

arredores (Tabelas 14 e 15) percebe-se a convivência de grandes e pequenas

propriedades que conjugavam pequenas plantações de café e a criação de poucos

animais.

Para os donos das menores partes de terras (conforme Tabelas 14 e 15) a decisão

de permancer somente na pecuária e na produção de alimentos ou ampliar as atividades

com a cafeicultura não resultava propriamente da qualidade do solo que possuía. Para

estes as práticas tradicionais de subsistência ou destinadas ao mercado interno garantia a

sobrevivência básica. As moitas de café ou pequenas lavouras resultavam, ao fim e ao

cabo, da somatória das atividades econômicas. Ou seja, havia as rendas regulares e as

esporádicas e variáveis. Estas vinham da cafeicultura, que demandavam o uso da mão

de obra familiar, da troca de dias de trabalho entre vizinhos, das parcerias com

arrendatários ou meeiros. Os roceiros utilizavam o solo que tinham, sem muitas opções,

a necessidade falava mais alto. Derrubavam o mato, a capoeira ou o serrado, ou seja, a

terra disponível e virgem para as pequenas plantações. Os maiores produtores de café,

além de possuírem terras em maior quantidade – ou de melhor qualidade – dispunham

de recursos financeiros próprios oriundos dos ganhos da criação de gado de corte (por

exemplo), de créditos disponíveis no mercado e controle da mão de obra via colonado.

Como não havia grandes diferenças brutais da qualidade do solo e das demais

condições geográficas, os proprietários utilizavam suas terras ao norte do rio Sapucaí

priorizando a sobrevivência e as práticas tradicionais de longa data empreendidas na

região (especialmente a pecuária e a produção de alimentos), dando passos gradativos

em direção à cafeicultura, sem serem atraídos pela monocultura. Boa parte dos solos

férteis permaneceram “reservados” ou serviam de pasto para o gado.

Enfim, a adoção das políticas econômicas adotadas pelo governo brasileiro (boa

parte influenciadas pelo contexto internacional) vis à vis à rotina econômica da região

de Franca mostraram-se em boa parte desconexas. Os ritmos temporais dos incentivos

e/ou intervenções sofreram um misto de aceitações e resistências quanto aos

investimentos na cafeicultura (economia de exportação), nas conveniências em sustentar

a produção para o mercado interno, na permanência de pequenas e médias propriedades

rurais paralelas aos latifúndios, além dos investimentos comedidos com integração

parcial ao complexo cafeeiro implantado no sudeste brasileiro.

ANEXOS

Tabela 1 Número total, média, mediana, moda e taxas de crescimento -

pés de café nos inventários post-mortem - 1890-1920 Total Tx.

Cresc/to Média Tx.

Cresc/to Mediana Tx.

Cresc/to Moda Tx.

Cresc/to 1890-1900 188.119 100,00 8.179 100,00 4.000 100,00 4.000 100,00 1901-1910 340.858 181,13 13.109 160,28 4.500 112,50 3.000 75,00 1911-1920 1.870.270 993,84 30.165 368,82 7.000 175,01 2.000 50,00 1890-1920 2.399.227 - 21.614 - 5.000 - 2.000 -

Fonte: AHMF - Arquivo Histórico Municipal de Franca HMF – Inventários post-mortem.

Tabela 2 - Maiores cafeicultores de Franca (1890-1900) Ano Proprietário Valor das

propriedades rurais

Nº de cafeeiros

Valor dos cafezais

1893 Manoel Claudiano Ferreira Martins 771:678$000 210.113 130:583$000 1898 José Guerner de Almeida 60:500$000 160.000 80:800$000 1897 Joaquim Valim de Melo 50:000$000 45.000 73:800$000 1898 João Alexandre Dias 120:000$000 80.000 69:933$000 1897 Joaquim Correa Leite 1:850$000 65.625 45:800$000 1898 Álvaro de Lima Guimarães Garcia 19:500$000 87.000 45:800$000 1899 Pacífico da Silva Diniz 24:700$000 47.000 44:000$000 1893 Saturnino Dias Telles de Castro 98:200$000 61.000 43:275$000 1896 Amélia Augusta Garcia Lopes 111:650$000 60.000 42:000$000 1895 José Gil Pedroso da Silva 15:170$000 ? 22:280$000 1896 Anna Rosa de Jesus 1:355$680 9.700 19:400$000 1896 Joaquim Alves da Fé 33:800$000 1.500 14:500$000 1897 Ezequiel Cláudio Moreira 20:000$000 4.500 12:000$000 1896 Vicenzo Sgarbi 11:500$000 23.800 11:690$000 1898 Flausina Custódio da Conceição 12:000$000 10.000 10:000$000 1897 Anna Ludovina da Assumpção 100:000$000 9.700 8:000$000 Fonte: FALEIROS (2008) – Inventários 1º e 2º Ofício Cível, 1890-1900.

Tabela 3 Maiores produtores de café – Franca(SP) - 1901

Ordem Cafeicultor Pés de café 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28

João de Faria (Dr.) Cândido Cyrino de Oliveira Hygino de Oliveira Caleiro Brandão & Irmão João T. Pinto de Carvalho Affonso de Lima Guimarães José Alves Guimarães Júnior (Dr.) João M. Alves Nepomuceno Leopoldo Pilares Martiniano Francisco da Costa Manuel Dias do Prado Vicente de Carvalho (Dr.) Gastão de Souza Mesquita (Dr.) André Martins & Andrade Vilella Antonio Flávio Martins Ferreira Francisco Ultramar Vallim Joaquim Garcia Lopes da Silva José Pereira Leite da Silva Antônio da Costa Valle Andrade Silva & Cia. Aristides da Silva Belém Candido Ramos Ferreira de Abreu Elias Antonio Elizeu Moreira Francisco Gomes dos Reis Gabriel A. Costa & Irmão Luciano Vieira Santiago José Christiano Barreto José Diniz de Medeiros

185.000 170.000 130.000 100.000

90.000 80.000 80.000 70.000 70.000 70.000 70.000 70.000 65.000 60.000 60.000 60.000 60.000 52.000 52.000 50.000 50.000 50.000 50.000 50.000 50.000 50.000 50.000 50.000

Total 2.044.000 Fonte: M. Franco (org.). Almanach da Franca (1902). p. 177-84.

Tabela 4 Maiores produtores de café de Ribeirão Preto(SP) - 1914

Ordem Cafeicultor Pés de café Arrobas 1 Cel. Francisco Schimidt(*) 6.075.500 405.700 2 Cia. Agrícola Dumont(*) 3.999.990 301.000 3 Dr. Martinho Prado Júnior (herdeiros) 2.112.700 160.000 4 D. Francisca do Val 977.000 60.000 5 Cel. Manoel Maximiano Junqueira 696.000 50.000 6 D. Iria Alves Ferreira 693.000 48.000 7 Cel. Joaquim da Cunha Diniz Junqueira 650.000 50.000 8 Cel. Joaquim Firmino Diniz Junqueira 634.400 50.000 9 Cel. Francisco Maximiano Junqueira 624.859 43.000 10 Macedo & Cia. 600.000 42.000 11 Uchôa & Irmão 500.000 40.000

Total 17.563.449 1.258.700 (*) inclui Sertãozinho. Fonte: Almanach Ilustrado de Ribeirão Preto. Ribeirão Preto: Sá Manaia & Cia, 1914 apud Luciana Suarez Galvão Pinto. Ribeirão Preto: a dinâmica da economia cafeeira de 1870 a 1930, p.84.

Tabela 5 Distribuição do número de pés de café por inventário

1890-1920 Pés de café Número de inventários % de inventários 30 - 1.000 17 15,31

1.001 a 2.000 17 15,31 2.001 a 3.000 09 8,10 3.001 a 4.000 07 6,30 4.001 a 5.000 09 8,10 5.001 a 10.000 19 17,11

10.001 a 15.000 10 9,00 15.001 a 20.000 03 2,70 20.001 a 30.000 05 4,50 30.001 a 40.000 03 2,70 40.001 a 50.000 02 1,80

50.001 a 100.000 04 3,60 100.001 a 200.000 04 3,60 200.001 a 300.000 01 0,90 300.001 a 400.000 01 0,90

Totais 111 100,00 Fonte: AHMF - Arquivo Histórico Municipal de Franca HMF – Inventários post-mortem.

Tabela 6 Número de cafeeiros produzindo –

Nordeste do Estado de São Paulo - 1909-1930

Anos/Municípios Franca Patrocínio Pta. Batatais Ribeirão Preto Sertãozinho

1919-1920 11.727.800 2.502.000 9.737.200 31.394.365 15.620.000 1920-1921 11.730.000 2.502.000 9.737.200 31.394.365 15.620.000 1921-1922 11.730.000 2.500.000 7.243.000 31.395.000 15.620.000 1922-1923 9.438.200 2.500.000 7.243.000 31.395.000 15.620.000 1923-1924 12.000.000 2.500.000 6.831.000 31.395.000 15.620.000 1924-1925 12.000.000 2.500.000 6.831.000 31.395.000 15.620.000 1925-1926 12.364.000 2.500.000 6.831.000 29.427.000 17.674.000 1926-1927 14.895.000 2.690.350 7.500.000 29.427.000 17.674.000 1927-1928 14.895.000 2.690.350 7.800.000 29.427.000 17.674.000

1928-1929 15.265.400 2.392.250 9.253.360 31.202.345 15.260.500 FONTE: SECRETARIA DA AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMMÉRCIO DO ESTADO DE SÃO PAULO. DIRECTORIA DE INDÚSTRIA E COMMÉRCIO. O CAFÉ. ESTATÍSTICA DE PRODUÇÃO E COMÉRCIO, 1929. SÃO PAULO: Escolas Profissionais do Lyceu Corações de Jesus, 1930.

Tabela 7 Taxa de crescimento – Café embarcado na Mogiana (Estação Franca) – Ton.

1890-1917 – (Ano 1890 = base 100) Período Tonelada % Tx. Crescimento

1890 285,31 285,31 100 1891 780,26 173,48 273,48 1892 654,55 -16,11 229,42 1893 842,35 28,69 295,24 1894 912,31 8,31 319,77 1895 2238,96 145,42 784,78 1896 3772,49 68,49 1322,28 1897 4998,92 32,51 1752,15 1898 4784,91 -4,28 1677,16 1899 4784,91 0 1677,16 1900 7284,55 52,24 2553,31 1901 8565,03 17,58 3002,18 1902 9755,31 13,9 3419,48 1903 8389,06 -14,01 2940,41 1904 6923,3 -17,47 2426,72 1905 5490,61 -20,69 1924,63 1906 8469,1 54,25 2968,74 1907 11007,52 29,97 3858,47 1908 6625,63 -39,81 2322,41 1909 9663,6 45,85 3387,23 1910 5297,32 -45,18 1856,88 1911 5692,22 7,45 1995,22 1912 5935,37 4,27 2080,42 1913 7188,41 21,11 2519,6 1914 5873,35 -18,29 2058,77 1915 8745,98 48,91 3065,71 1916 4852,44 -44,52 1700,86 1917 6315,16 30,14 2213,5

Fonte: RCM – Relatórios da Diretoria da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro.

Tabela 8

Taxa de crescimento – Alimentos embarcados na Mogiana (Estação Franca) – Ton. 1890-1917 – (Ano 1890 = base 100)

Período Tonelada % Tx. Crescimento 1900 2.149,94 2.149,94 100,00 1901 2.433,95 13,21 113,21 1902 1.987,06 -18,36 92,42 1903 1.981,02 -0,30 92,14 1904 2.062,99 4,14 95,95 1905 2.604,45 26,25 121,14 1906 1.786,72 -31,40 83,10 1907 2.911,94 62,98 135,44 1908 3.455,57 18,67 160,73 1909 2.939,67 -14,93 136,73 1910 1.448,38 -50,73 67,37 1911 1.578,18 8,96 73,41 1912 1.622,74 2,82 75,48 1913 2.520,66 55,33 117,24 1914 2.270,99 -9,90 105,63 1915 2.501,39 10,15 116,35 1916 3.347,75 33,84 155,72 1917 2.999,15 -10,41 139,51

Fonte: RCM – Relatórios da Diretoria da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro.

Tabela 9 Taxa de crescimento – Animais embarcados na Mogiana

(Estação Franca) – Ton. 1890-1917 – (Ano 1890 = base 100) Período Tonelada % Tx. Crescimento

1890 2556 2556 100 1891 3174 24,18 124,18 1892 3179 0,16 124,38 1893 8933 181 349,51 1894 4731 -47,04 185,1 1895 3659 -22,66 143,16 1896 696 -80,98 27,23 1897 1285 84,63 50,27 1898 483 -62,41 18,9 1899 483 0 18,9 1900 1141 136,23 44,65 1901 817 -28,4 31,97 1902 2190 168,05 85,7 1903 6931 216,48 271,22 1904 4400 -36,52 172,17 1905 6527 48,34 255,4 1906 5541 -15,11 216,81 1907 5235 -5,52 204,84 1908 3564 -31,92 139,46 1909 1875 -47,39 73,37 1910 2405 28,27 94,11 1911 2299 -4,41 89,96 1912 6923 201,13 270,9 1913 3452 -50,14 135,07 1914 3781 9,53 147,94 1915 2887 -23,64 112,97 1916 1598 -44,65 62,53 1917 1057 -33,85 41,36

Fonte: RCM – Relatórios da Diretoria da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro.

Tabela 10 Taxa de crescimento – Toucinho embarcado na Mogiana

(Estação Franca) – Ton. 1890-1917 – (Ano 1890 = base 100) Período Tonelada % Tx. Crescimento

1890 135,47 135,47 100 1891 37,96 -71,98 28,02 1892 90,16 137,51 66,55 1893 127,71 41,65 94,27 1894 82,99 -35,02 61,26 1895 10,89 -86,88 8,04 1896 73,18 571,99 54,03 1897 38,02 -48,05 28,07 1898 16,03 -57,84 11,83 1899 16,03 0 11,83 1900 60,18 275,42 44,41 1901 28,17 -53,19 20,79 1902 44,206 56,93 32,63 1903 30,25 -31,57 22,33 1904 21,18 -29,98 15,64 1905 26,9 27,01 19,86 1906 68,57 154,91 50,63 1907 87,29 27,3 64,45 1908 58,03 -33,52 42,85 1909 30,53 -47,39 22,54 1910 29,43 -3,6 21,73 1911 33,25 12,98 24,55 1912 63,2 90,08 46,66 1913 120,51 90,68 88,97 1914 43,88 -63,59 32,39 1915 48,35 10,19 35,69 1916 19,8 -59,05 14,62 1917 28,32 43,03 20,91

Fonte: RCM – Relatórios da Diretoria da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro.

Tabela 11 Taxa de crescimento – Fumo embarcado na Mogiana

(Estação Franca) – Ton. 1890-1917 – (Ano 1890 = base 100) Período Tonelada % Tx. Crescimento

1890 13,52 13,52 100 1891 7,58 -43,93 56,07 1892 2,18 -71,24 16,13 1893 11,49 427,06 85,01 1894 4,11 -64,23 30,41 1895 8,27 101,22 61,19 1896 10,82 30,83 80,05 1897 15,94 47,32 117,93 1898 14,74 -7,53 109,05 1899 14,74 0 109,05 1900 5,92 -59,84 43,79 1901 6,91 16,72 51,11 1902 9,44 36,61 69,82 1903 23,45 148,41 173,44 1904 18,95 -19,19 140,16 1905 12,54 -33,83 92,74 1906 16,98 35,41 125,58 1907 33,25 95,82 245,91 1908 39,72 19,46 293,76 1909 15,54 -60,88 114,92 1910 15,99 2,9 118,25 1911 24,18 51,22 178,82 1912 31,39 29,82 232,14 1913 54,7 74,26 404,53 1914 31,5 -42,41 232,97 1915 35,4 12,38 261,81 1916 37,28 5,31 275,71 1917 44,48 19,31 328,95

Fonte: RCM – Relatórios da Diretoria da Companhia Mogyana de Estradas de Ferro.

Tabela 12 Fazenda Sapucay (Cubiça) – 1916

Alqueires Hectares Qualidade da terra Valor (1.000 réis) 170 441.40.00 Cultura de 1ª sorte 51:600$000

1.284 3.107.28.00 Terras de 2ª sorte 60:480$000 210 508.20.00 Terras de 3ª sorte 16:800$000 300 726.00.00 Serrado 9:000$000

6 14.52.00 ? 450$000 3 7.26.00 Terras de campo 200$000 ? ? Uma gleba de terras 3:000$000

Nº de pés de café Condições do cafezal Valor (em 1.000 réis) 41.000 Pés de café de 2 anos 16:800$000 40.000 Pés de café formados 32:000$000 66.000 Pés de café de 1 ano e meio 17:200$000 50.000 Pés de café formados em bom estado 40:000$000

Gado 60 Bois de carro 4:800$000

250 Vacas criadeiras 12:000$000 190 Bezerros 3:040$000 440 Garrotes de 2 a 3 anos 17:600$000

45 Burros 5:400$000 4 Poltros (em amansamento) 320$000

Fonte: AHMF – INV.

Tabela 13 FAZENDAS Santa Amélia, Jaguarão e Buritys

Fazendas Sta. Amélia 30 72.60.00 Terras de cultura 6:000$000 Sta. Amélia 2 4.84.00 Terra de cultura (arados) 500$000 Sta. Amélia 7,5 19.36.00 Terras emparelhadas 1:125$000 Sta. Amélia 18 43.56.00 Terras de cultura em pasto 1:440$000 Sta. Amélia 44 106.48.00 Terras de campo (em campim

gordura) 2:200$000

Sta. Amélia 20 48.40.00 Terras de campo (em capim gordura)

500$000

Jaguarão 155 193.60.00 Terras de cultura 21:550$000 Jaguarão 80 193.60.00 Terras de campo 4:000$000 Jaguarão 3 7.26.00 Terras c/benfeitorias 3:500$000 Buritys 50 121.00.00 Terras de cultura 4:500$000 Buritys

350 847.00.00 Terras de campo 11:250$000

760 1.839.20.00 56:565$000 Fazenda Nº pés de café Condições do cafezal Valor (1.000 réis) Faz. Sta. Amélia 95.000 Pés de café 85:500$000 Faz. Sta. Amélia 19.000 Pés de café com 2 anos 3.800$000 Faz. Sta. Amélia 60.000 Pés de café c/terreno 42:000$000 Faz. Sta. Amélia 19.000 Pés de café c/ terreno 2:850$000

GADO 68 Bois de carro 6:120$000 15 Bois velhos 1:050$000 2 Touros 140$000

59 Vacas 3:235$000 20 Bezerras 315$000 96 Bezerros 5:280$000 39 Garrotes 780$000 55 Novilhas 1:920$000 28 Burros 3:680$000 4 Bestas 500$000 1 Jumento 350$000 6 Cavalos 500$000 4 Poltros 200$000 9 Éguas 390$000

42 Porcos 975$000 ESTOQUES

70 Carros de milho 1:920$000 500 Sacos de arroz em casca 5:500$000 100 Sacos de feijão 200$000

12.000 Arrobas de café 60:000$000 Fonte: AHMF – INV.

Tabela 14

Fazendas produtoras de café e gado (Cartório 1º Ofício) Proc. 1º

Ofício

Ano Nome da Fazenda Café Gado

63 1891 Ribeirão da Pinguela 3 112 1894 Capão Comprido 9 297 1891 Ribeirão Corrente 4 411 1896 Tamboril 14.000 39 466 1897 Fazenda Salgado 8 569 1890 Casa Seca Moita de café 19 572 1891 Matta do Jacob 52 574 1891 Bom Jardim 18 580 1892 Ribeirão Corrente 14 582 1892 Fazenda Alegria 10 586 1893 Boa Vista 17 588 1893 Fazenda dos Christaes Café

empreitado 261

705 1904 Fazenda Retiro 5.000 28 754 1895 Fazenda Matta 200 5 760 1908 Canta Galo 20 787 1908 Fazenda Chapadão 49 799 1909 Pouso Alto 10.000 35 805 1910 Faz. Jm. Camilo Leite Cafés velhos 7 811 1911 Borda da Mata 22 813 1911 Ressaquinha 17 823 1911 Pouso Alegre 3.000 20 849 1913 Faz. das Goiabas 800 850 1912 Faz. Pitangueiras (margem direita

do córrego Buritys 110

856 1912 Capão do Açude Cafezal 290 861 1914 Córrego da Onça 13.000 283 875 1915 Faz. Salgado 6.000 24 887 1916 Faz. dosChristaes Vários pés de

café 44

926 1916 Fazenda Macahúbas 3.800 957 1919 Lageado 2.000 969 1919 Sítio Bom Jardim 26 969 1919 São Roque 54.000 52 970 1920 Mata da Palestina Lavouras de

café 62

1158 1916 Paraíso / Barra 95 1192 1920 Corrego Fundo 11.000 8 1195 1920 Vaca Morta 5.000

Fonte: AHMF – Inventários post-mortem – 1890-1920.

Tabela 15 Fazendas produtoras de café e gado (Cartório 2º Ofício)

Proc. 2º Ofício

Ano Nomes das Fazendas Café Gado

83 1900 Brejo Grande Cafezal Velho 21 90 1916 Cachoeira 40.000 17 19 1900 Capão Comprido Estoque de

café 21

66 1918 Matinha / Queiroz 25.000 12 79 1912 Bordas da Mata 15.000 70

100 1909 Cotia 2.000 3 103 1917 São Tomé 7.000 2 107 1917 Pitangueiras 26 108 1891 Chapadão 190 116 1896 Buritys 1.500 131 1896 Monjolo 1.000 137 1918 Alto da Palestina 74 148 1918 Fazenda das Almas 55 150 1920 Cabeiceira do Salgado 14.000 8 166 1914 Córrego das Almas 7.000 20 178 1892 Córrego D’água Cafezal 43 186 1899 Mamão 4.000 6 207 1919 Pitangueiras 12.000 221 1892 Quilombos 50 262 1910 Cabeceira dos Coqueiros 27 295 1911 Bela Vista 7.000 37 321 1904 Potreiro Cafezal 40 323 1916 Taquaral 118.000 368 1916 Córrego da Onça 4.750 32

Fonte: AHMF – Inventários post-mortem – 1890-1920.

FONTES MANUSCRITAS

AHMF - Arquivo Histórico Municipal de Franca Capitão Hypólito Antônio Pinheiro

- 750 Inventários – INV. (Partilhas) post-mortem – 1º e 2º Ofício Cível

FONTES IMPRESSAS

SECRETARIA DA AGRICULTURA, INDÚSTRIA E COMMÉRCIO DO ESTADO DE SÃO PAULO.

DIRECTORIA DE INDÚSTRIA E COMMÉRCIO. O CAFÉ. ESTATÍSTICA DE PRODUÇÃO E

COMÉRCIO, 1929. SÃO PAULO: Escolas Profissionais do Lyceu Corações de Jesus, 1930.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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