33 estrategias de guerra

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  1. 1. 3 3 e s t r at g i a s D e g U e r r a
  2. 2. rOBert greeNe 3 3 e s t r at g i a s D e g U e r r a Aprenda com as batalhas da histria e vena os desafios cotidianos PrODU O De JOOst eLFFers traduo Talita M. Rodrigues
  3. 3. ttulo original tHe 33 strategies OF War Copyright robert greene e Joost elffers, 2006 todos os direitos reservados. Direitos para a lngua portuguesa reservados com exclusividade para o Brasil eDitOra rOCCO LtDa. av. Presidente Wilson, 231 8o andar 20030-021 rio de Janeiro rJ tel.: (21) 3525-2000 Fax: (21) 3525-2001 [email protected] www.rocco.com.br Printed in Brazil /impresso no Brasil preparao de originais Danielle Vidigal diagramao Fatima agra Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmi- tida por qualquer forma ou meio eletrnico ou mecnico, inclusivefotocpia,gravaoousistemadearmazenagemere- cuperao de informao, sem a permisso escrita do editor. CiP-Brasil. Catalogao na fonte. sindicato Nacional dos editores de Livros, rJ. g831t greene, robert 33 estratgias de guerra: aprenda com as batalhas da histria e vena os desafios cotidianos/robert greene; tradu- o de talita M. rodrigues; produo de Joost elffers. rio de Janeiro: rocco, 2011. 17 x 24 cm traduo de: the 33 strategies of war isBN 978-85-325-2655-7 978-85-325-2607-6 1. Conduta. 2. tcnicas de autoajuda. i. elffers, Joost. ii. ttulo: 33 estratgias de guerra. 11-2138 CDD 170 CDU 17
  4. 4. A Napoleo, Sun Tzu, a deusa Atena e meu gato, BRUTUS
  5. 5. sUMriO 7 s U M r i O PreFCiO pgina 15 Parte i gUerra aUtODirigiDapgina 23 1 pgina 25 DeCLare gUerra a seUs iNiMigOs: a estratgia Da POLariDaDe A vida um sem-fim de batalhas e conflitos, e voc no pode lutar com eficincia se no puder identificar seus inimigos. Aprenda a desmascar-los, a localiz-los pelos sinais e padres que revelam sua hostilidade. E, ento, com eles vista, declare interiormente guerra. Seus inimigos podem encher voc de propsito e direo. 2 pgina 37 NO COMBata a gUerra QUe J PassOU: a estratgia Da gUerriLHa MeNtaL Aquilo que com mais frequncia o desanima e o deixa infeliz o passado. Voc deve travar conscientemente uma guerra contra o passado e fazer um esforo para reagir ao momento presente. Seja implacvel com voc mesmo; no repita os mesmos mtodos esgotados. Trave uma guerrilha mentalmente, no aceitando linhas estticas de defesa torne tudo fluido e mvel. 3 pgina 50 eM MeiO aO tUrBiLHO De aCONteCiMeNtOs, NO PerCa a PreseNa De esPritO: a estratgia DO CONtraPesO No calor da batalha, a mente tende a perder o equilbrio. vital conservar a presena de esprito, mantendo seus poderes mentais, sejam quais forem as circunstncias. Fortalea sua mente ainda mais, expondo-a a adversidades. Aprenda a se desprender do caos do campo de batalha. 4 pgina 65 Crie UMa seNsaO De UrgNCia e DesesPerO: a estratgia Da ZONa De MOrte Voc seu pior inimigo. Voc perde um tempo precioso sonhando com o futuro em vez de se envolver com o presente. Corte seus laos com o passado; entre no territrio desconhecido. Coloque-se na zona de morte, na qual suas costas esto contra a parede e voc tem de lutar como um louco para sair vivo dali.
  6. 6. sUMriO8 Parte ii gUerra OrgaNiZaCiONaL (De eQUiPe) pgina 79 5 pgina 81 eVite as arMaDiLHas DO PeNsaMeNtO eM grUPO: a estratgia De COMaNDO-e-CONtrOLe O problema da liderana de qualquer grupo que as pessoas inevitavelmente tm as prprias prioridades. Voc precisa criar uma cadeia de comando na qual elas no se sintam constrangidas por sua influncia, mas sigam sua liderana. Crie um sentido de participao, mas no caia no pensamento de grupo a irracionalidade da tomada de deciso coletiva. 6 pgina 95 segMeNte sUas FOras: a estratgia DO CaOs CONtrOLaDO Os elementos crticos na guerra so rapidez e capacidade de adaptao o talento para se mover e tomar decises mais depressa do que o inimigo. Divida suas foras em grupos independentes que possam operar por si prprios. Torne suas foras difceis de capturar e mais soltas infundindo nelas o esprito de campanha, dando-lhes uma misso e, a, deixando-as funcionar. 7 pgina 105 traNsFOrMe sUa gUerra eM UMa CrUZaDa: estratgias Para LeVaNtar O MOraL O segredo de motivar as pessoas e manter seu bom astral fazer com que pensem menos nelas mesmas e mais no grupo. Envolva-as em uma causa, uma cruzada contra um inimigo odiado. Faa com que vejam a prpria sobrevivncia como associada ao sucesso do exrcito como um todo. Parte iii gUerra DeFeNsiVa pgina 123 8 pgina 125 esCOLHa sUas BataLHas COM CUiDaDO: a estratgia Da eCONOMia PerFeita Todos ns temos limitaes nossas energias e habilidades nos levam somente at certo ponto. Voc precisa conhecer seus limites e escolher suas batalhas com muito cuidado. Considere os riscos ocultos de uma guerra: perda de tempo, desperdcio da boa vontade poltica, um inimigo irritado querendo vingana. s vezes melhor esperar, minar as bases de seus inimigos veladamente, em vez de agredi-los de frente.
  7. 7. sUMriO 9 9 pgina 139 Vire a Mesa: a estratgia DO CONtra-ataQUe Fazer o primeiro movimento iniciando o ataque com frequncia o colocar em desvantagem: voc est expondo sua estratgia e limitando suas opes. Em vez disso, descubra o poder de se conter e deixar que o outro lado mova-se primeiro, dando a voc a flexibilidade para contra-atacar de qualquer ngulo. Se seus adversrios so agressivos, atraia-os para um ataque surpresa que os deixar em uma posio fraca. 10 pgina 153 Crie UMa PreseNa aMeaaDOra: estratgias De DissUasO A melhor maneira de combater agressores impedi-los de atacar voc primeiro. Construa uma reputao: voc meio maluco. Combat-lo no vale a pena. Incerteza s vezes melhor do que ameaa declarada: se seus adversrios nunca tm certeza do que vai lhes custar meter-se com voc, no vo querer descobrir. 11 pgina 167 trOQUe esPaO POr teMPO: a estratgia DO NO COMPrOMissO Recuar diante de um inimigo forte no sinal de fraqueza, mas de fora. Ao resistir tentao de reagir a um agressor, voc arruma um tempo precioso para si mesmo tempo para se recuperar, pensar e ganhar perspectiva. s vezes voc consegue mais se no fizer nada. Parte iV gUerra OFeNsiVa pgina 175 12 pgina 177 PerCa BataLHas, Mas gaNHe a gUerra: a graNDe estratgia A grande estratgia a arte de ver o que vai acontecer depois da batalha e calcular com antecedncia. Ela requer que voc se concentre em seu objetivo principal e planeje como alcan-lo. Deixe que os outros fiquem presos nas voltas e reviravoltas da batalha curtindo suas pequenas vitrias. A grande estratgia lhe dar o maior prmio: rir por ltimo. 13 pgina 197 CONHea seU iNiMigO: a estratgia Da iNteLigNCia O alvo de sua estratgia deve ser no tanto o inimigo que voc enfrenta, mas a mente da pessoa que o co- manda. Se voc compreende como essa mente funciona, voc tem a chave para iludi-la e control-la. Apren- da a entender as pessoas, captando os sinais que elas inconscientemente enviam sobre seus pensamentos e intenes mais ntimos.
  8. 8. sUMriO10 14 pgina 212 VeNa a resistNCia COM MOViMeNtOs VeLOZes e iMPreVisVeis: a estratgia Da BLITZKRIEG Em um mundo onde muitas pessoas so indecisas e cautelosas em excesso, o uso da velocidade vai lhe dar um poder extraordinrio. Atacar primeiro, antes que seus adversrios tenham tempo para pensar ou se preparar, os deixar emotivos, desequilibrados e propensos ao erro. 15 pgina 220 CONtrOLe a DiNMiCa: FOraNDO estratgias As pessoas esto constantemente lutando para controlar voc. A nica maneira de se impor tornar seu jogo pelo controle mais inteligente e insidioso. Em vez de tentar dominar todos os movimentos do adversrio, tra- balhe para definir a natureza do relacionamento em si. Manobre para controlar a mente de seus adversrios, mexendo com suas emoes e forando-os a cometer erros. 16 pgina 237 atiNJa-Os ONDe Di: a estratgia DO CeNtrO De graViDaDe Todo mundo tem uma fonte de poder da qual depende. Ao olhar para seus rivais, procure sob a superfcie essa fonte, o centro de gravidade que mantm unida toda a estrutura. Atingi-los ali causar uma dor imen- sa. Descubra aquilo que o adversrio trata com mais carinho e protege ali que voc deve atacar. 17 pgina 247 DerrOte-Os eM DetaLHes: a estratgia DO DiViDir-e-CONQUistar Nunca se intimide com a aparncia de seu inimigo. Em vez disso, examine as partes que compem o todo. Ao separ-las, semeando divergncia e diviso, voc pode derrubar at o inimigo mais formidvel. Ao enfrentar aborrecimentos ou inimigos, divida um grande problema em partes pequenas, eminentemente derrotveis. 18 pgina 263 eXPONHa e ataQUe O LaDO FrgiL De seUs aDVersriOs: a estratgia CrUCiaL Quando voc ataca as pessoas diretamente, enrijece a resistncia delas e dificulta muito sua tarefa. H um jeito melhor: distrair a ateno de seus adversrios para a frente de batalha, em seguida atac-los pela lateral, por onde menos esperam. Atraia as pessoas para uma situao difcil, expondo seus pontos fracos, em seguida atire pela lateral. 19 pgina 276 CerQUe O iNiMigO: a estratgia Da aNiQUiLaO As pessoas usaro qualquer tipo de brecha em suas defesas para atacar voc. Ento no as oferea. O segredo cercar seus adversrios criar implacvel presso sobre eles de todos os lados e fechar o acesso ao mundo exterior. Ao sentir que esto ficando indecisos, esmague sua fora de vontade apertando o lao.
  9. 9. sUMriO 11 20 pgina 287 MaNOBre-Os eM DireO FraQUeZa: a estratgia DO aMaDUreCiMeNtO-Para-a-FOiCe Por mais forte que voc seja, travar batalhas interminveis com as pessoas exaustivo, caro e sem imagina- o. Estrategistas hbeis preferem a arte de manobrar: antes mesmo de comear a batalha, eles encontram meios de colocar seus adversrios em posio de tamanha fragilidade que a vitria fcil e rpida. Crie dilemas: imagine manobras que lhes deem uma variedade de modos para reagir todos ruins. 21 pgina 306 NegOCie eNQUaNtO aVaNa: a estratgia Da gUerra DiPLOMtiCa Antes e durante as negociaes, voc precisa continuar avanando, criando implacvel presso e forando o outro lado a aceitar seus termos. Quanto mais voc tira, mais voc pode devolver em concesses inexpres- sivas. Crie fama de ser firme e intransigente, para que as pessoas fiquem perplexas antes mesmo de conhecer voc. 22 pgina 319 saiBa COMO terMiNar as COisas: a estratgia Da saDa Neste mundo voc julgado pelo modo como termina as coisas. Uma concluso confusa ou incompleta pode reverberar por muitos anos no futuro. A arte de terminar as coisas bem saber quando parar. A suprema sabe- doria estratgica evitar todos os conflitos e emaranhamentos para os quais no h sadas reais. Parte V gUerra (sUJa) NO CONVeNCiONaL pgina 333 23 pgina 335 tea UMa MesCLa iMPerCePtVeL De FatO e FiCO: estratgias De PerCePes erraDas Visto que nenhuma criatura sobrevive se no puder ver ou sentir o que est acontecendo ao redor, dificulte para seus inimigos saber o que est em volta deles, inclusive o que voc est fazendo. Alimente suas expec- tativas, produza uma realidade que combine com os desejos delas, e elas se iludiro. Controle as percepes que as pessoas tm da realidade e voc as controlar. 24 pgina 349 aDOte a LiNHa DO MNiMO De eXPeCtatiVas: a estratgia DO OrDiNriO-eXtraOrDiNriO As pessoas esperam que seu comportamento se encaixe em padres e convenes conhecidos. Sua tarefa como estrategista abalar as expectativas delas. Primeiro, faa qualquer coisa comum e convencional para fixar a imagem que elas tm de voc, depois atinja-as com o extraordinrio. O terror maior por ser to sbito. s vezes, o ordinrio extraordinrio por ser inesperado.
  10. 10. sUMriO12 25 pgina 369 OCUPe O terreNO eLeVaDO Da MOraL: a estratgia JUsta Em um mundo poltico, a causa pela qual voc est lutando deve parecer mais justa do que a do inimigo. Ao questionar os motivos de seus adversrios e faz-los parecer perversos, voc pode estreitar suas bases de apoio e espao de manobra. Quando voc mesmo sofrer ataques morais de um inimigo esperto, no se lamente ou se zangue; combata fogo com fogo. 26 pgina 381 NegUe-LHes aLVOs: a estratgia DO VaZiO A sensao de vazio ou vcuo silncio, isolamento, no comprometimento com os outros intolervel para a maioria das pessoas. No d a seus inimigos um alvo para atacar, seja perigoso mas esquivo, em seguida observe como eles o caam no vazio. Em vez de batalhas frontais, desfeche ataques laterais irritantes, mas prejudiciais, e alfinetadas. 27 pgina 394 Faa De CONta QUe est traBaLHaNDO PeLOs iNteresses aLHeiOs eNQUaNtO PrOMOVe Os seUs: a estratgia Da aLiaNa A melhor maneira de promover sua causa com o mnimo de esforo e derramamento de sangue criando uma rede de alianas que mudam constantemente, conseguindo que os outros compensem suas deficincias, faam o trabalho sujo, combatam suas guerras. Ao mesmo tempo, trabalhe para semear dissidncias nas alianas dos outros, enfraquecendo seus inimigos ao isol-los. 28 pgina 409 D a seUs iNiMigOs COrDa Para se eNFOrCareM: a estratgia De MaNOBra Para gaNHar VaNtageM O maior perigo na vida no costuma ser o inimigo externo, mas nossos supostos colegas e amigos que preten- dem trabalhar pela causa comum enquanto se esforam para nos sabotar. Trabalhe para instilar dvidas e inseguranas nesses rivais, fazendo-os pensar demais e agir na defensiva. Faa com que se enforquem com suas prprias tendncias autodestrutivas, deixando voc sem culpa e limpo. 29 pgina 424 MOrDa aOs BOCaDiNHOs: a estratgia DO FAIT ACCOMPLI Tomadas de poder excessivas ou ascenses agudas ao topo so perigosas, gerando inveja, desconfiana e sus- peita. Muitas vezes a melhor soluo morder aos poucos, engolir pequenos territrios, jogar com a ateno relativamente curta das pessoas. Antes que percebam, voc acumulou um imprio. 30 pgina 433 PeNetre eM sUas MeNtes: estratgias De COMUNiCaO A comunicao um tipo de guerra; seu campo de batalha, as mentes resistentes e defensivas das pessoas a quem voc quer influenciar. O objetivo penetrar em suas defesas e ocupar suas mentes. Aprenda a infiltrar suas ideias por trs das linhas inimigas, enviando mensagens por meio de pequenos detalhes, seduzindo as pessoas para que cheguem s concluses que voc deseja e pensem que fizeram isso sozinhas.
  11. 11. sUMriO 13 31 pgina 447 DestrUa De DeNtrO Para FOra: a estratgia DO FrONte-iNteriOr Ao se infiltrar nas fileiras de seus adversrios, trabalhando de dentro para fora para derrub-los, voc no lhes d nada para ver ou a que reagir a suprema vantagem. Para pegar aquilo que voc quer, no lute contra quem o tem, mas junte-se a eles depois, lentamente, tome posse dessa coisa ou espere pelo momento de encenar um coup dtat. 32 pgina 460 DOMiNe eNQUaNtO PareCe se sUBMeter: a estratgia Da agressO PassiVa Em um mundo onde as consideraes polticas so soberanas, a forma mais eficaz de agresso a que me- lhor se oculta: agresso por trs de uma aparncia complacente, at amorosa. Para seguir esta estratgia passivo-agressiva, voc deve parecer estar de acordo com as pessoas sem oferecer resistncia. Mas na verdade voc domina a situao. Apenas certifique-se de disfarar bem sua agresso para poder negar que ela existe. 33 pgina 476 seMeie iNCerteZa e PNiCO COM atOs De terrOr: a estratgia Da reaO eM CaDeia O terror a melhor maneira de paralisar a vontade de resistir e tornar a pessoa incapaz de planejar uma reao estratgica. O objetivo em uma campanha de terror no sair vencedor no campo de batalha, mas causar o mximo de caos e provocar o outro lado para uma reao exagerada de desespero. Para tramarem a contraestratgia mais eficaz, as vtimas do terror devem permanecer equilibradas. A racionalidade de uma pessoa a ltima linha de defesa. BiBLiOgraFia pgina 491
  12. 12. PreFCiO 15 Vivemos em uma cultura que promove valores democrticos de justia para com todos, a importncia de se encaixar em um grupo e saber coo- perar com outras pessoas. aprendemos cedo na vida que aqueles que so visivelmente combativos e agressivos pagam um preo social: impopula- ridade e isolamento. estes valores de harmonia e cooperao so perpe- tuados de modo sutil e no to sutil por meio de livros sobre como ter sucesso na vida; com as aparncias agradveis e pacficas que aqueles que avanaram no mundo apresentam aos outros em geral; com noes de correo que saturam o espao pblico. O nosso problema que fomos treinados e preparados para a paz, e no estamos nem um pouco prontos para o que nos confronta no mundo real guerra. esta guerra existe em vrios nveis. Mais obviamente, temos nossos rivais do outro lado. O mundo se torna cada vez mais competitivo e desa- gradvel. Na poltica, nos negcios, at nas artes, enfrentamos adversrios que faro quase de tudo para ganhar uma vantagem. Mais perturbadoras e complexas, entretanto, so as batalhas que enfrentamos com aqueles que supostamente esto do nosso lado. H aqueles que, visivelmente, fa- zem o trabalho em equipe, que agem de forma muito amistosa e agrad- vel, mas que nos sabotam nos bastidores, que usam o grupo para promo- ver as prprias prioridades. Outros, mais difceis de se identificar, fazem o jogo sutil da agresso passiva, oferecendo ajuda que no vem nunca, instilando culpa como uma arma secreta. superficialmente tudo parece bastante pacfico, mas, por baixo, cada homem e mulher por si prprio, esta dinmica infectando at famlias e relacionamentos. a cultura pode negar esta realidade e promover um quadro mais gentil, mas sabemos e sentimos isto em nossas cicatrizes de batalha. No que ns e nossos colegas sejamos criaturas ignbeis que no esto altura dos ideais de paz e altrusmo, mas que no podemos dei- xar de ser como somos. temos impulsos agressivos que so impossveis de ignorar ou reprimir. No passado, indivduos podiam esperar que um grupo o estado, uma famlia ampliada, uma empresa cuidassem deles, mas isto no acontece mais, e nesse mundo desamparado temos que pen- sar, antes de tudo, em ns mesmos e em nossos interesses. O que precisa- mos no de ideais impossveis e desumanos de paz e cooperao para realizar, e da confuso que eles nos causam, mas sim de conhecimento prtico sobre como lidar com os conflitos e as batalhas dirias que en- frentamos. e este conhecimento no sobre como ser mais enrgico para P r e F C i O A vida do homem na terra uma guerra. J 7:1 Qui desiderat pacem, praeparet bellum (se queres a paz, prepara-te para a guerra) Vegetius, sculo iV d.C. .
  13. 13. PreFCiO16 conseguir o que queremos ou para nos defender, mas sim sobre como ser mais racional e estratgico na hora do conflito, canalizando nossos impulsos agressivos em vez de negar ou reprimi-los. se existe um ideal a ser alcanado, deve ser o do guerreiro estratgico, o homem ou a mulher que administra situaes difceis e pessoas por meio de manobras hbeis e inteligentes. Muitos psiclogos e socilogos tm argumentado que atravs do conflito que problemas so, com frequncia, solucionados e diferenas reais, reconciliadas. Nossos sucessos e fracassos na vida podem ter suas origens na boa ou m forma de lidar com os conflitos inevitveis com quais nos deparamos na sociedade. as maneiras como as pessoas costu- mam lidar com eles tentando evitar todos os conflitos, emocionando-se e vociferando, com dissimulaes e manipulao so todas contrapro- ducentes no longo prazo, porque no esto sob controle consciente ou racional e, muitas vezes, pioram a situao. guerreiros estratgicos ope- ram de forma bem diferente. eles pensam com antecedncia em suas metas de longo prazo, decidem que lutas evitar e quais so as inevitveis, sabem como controlar e canalizar suas emoes. Quando obrigados a lu- tar, eles o fazem com manobras indiretas e sutis, tornando difcil perceber suas manipulaes. Deste modo, eles podem manter o exterior pacfico to acalentado nestes tempos polticos. este ideal de combate racional nos vem da guerra organizada, em que a arte da estratgia foi inventada e refinada. No incio, a guerra no era nada estratgica. Batalhas entre tribos eram travadas de um modo brutal, uma espcie de ritual de violncia no qual indivduos podiam exi- bir seu herosmo. Mas conforme as tribos se expandiram e evoluram para estados, tornou-se bem evidente que a guerra tinha muitos custos ocultos, que trav-la s cegas muitas vezes levava exausto e autodestruio, mes- mo para o vencedor. De algum modo as guerras precisavam ser combati- das de uma forma mais racional. a palavra estratgia vem do grego antigo strategos, significando lite- ralmente o lder do exrcito. estratgia neste sentido era a arte de ser general, de comandar todo o esforo de guerra, decidir que formaes utilizar, em que terreno lutar, que manobras usar para ganhar uma van- tagem. e conforme progredia este conhecimento, lderes militares desco- briam que quanto mais pensassem e planejassem com antecedncia, mais possibilidades tinham de sucesso. Novas estratgias podiam lhes permitir derrotar exrcitos muito maiores, como alexandre, o grande fez em suas vitrias sobre os persas. ao enfrentar adversrios astutos que tambm es- tavam usando estratgia, desenvolvia-se uma presso de baixo para cima: para ganhar vantagem, um general tinha de ser ainda mais estratgico, mais indireto e esperto do que o outro lado. Com o tempo, as artes do co- mando foram ficando cada vez mais sofisticadas, conforme se inventavam mais estratgias. embora a palavra estratgia em si seja de origem grega, o conceito aparece em todas as culturas, em todos os perodos. Princpios slidos [Estratgia] mais do que uma cincia: a aplicao de conhecimentos vida prtica, o desenvolvimento de pensamentos capazes de modificar a ideia original e orientadora luz de situaes sempre em mudana; a arte de agir sob a presso das mais difceis condies. Helmuth von Moltke, 1800-1891
  14. 14. PreFCiO 17 sobre como lidar com os acidentes inevitveis da guerra, como traar o melhor plano, como melhor organizar o exrcito tudo isto pode ser encontrado em manuais de guerra desde a China antiga at a europa moderna. O contra-ataque, a manobra de atacar pelo flanco ou cercar e as artes da dissimulao so comuns aos exrcitos de genghis Khan, Napoleo e o shaka Zulu. Como um todo, estes princpios e estratgias indicam uma espcie de sabedoria militar universal, um conjunto de pa- dres adaptveis que podem aumentar as chances de vitria. talvez o maior estrategista de todos tenha sido sun tzu, autor do antigo clssico chins A arte da guerra. Nesse livro, escrito provavelmen- te no sculo iV antes de Cristo, encontram-se traos de quase todos os padres e princpios estratgicos desenvolvidos mais tarde ao longo dos sculos. Mas a conexo entre eles, o que de fato constitui a arte da guerra em si aos olhos de sun tzu, o ideal de vencer sem derramamento de sangue. ao jogar com as fraquezas psicolgicas do adversrio, ao ma- nobrar para coloc-lo em posies precrias, ao induzir sentimentos de frustrao e confuso, um estrategista pode fazer com que o outro lado sucumba mentalmente antes de se render fisicamente. Deste modo, a vitria pode ser obtida por um custo bem menor. e o estado que ven- ce guerras com poucas perdas de vida e desperdcio de recursos o que pode prosperar por perodos mais longos de tempo. Certamente a maioria das guerras no so travadas de forma to racional, mas aquelas campanhas na histria que seguiram este princpio (Cipio, o africa- no, na espanha; Napoleo em Ulm; t.e. Lawrence nas campanhas no deserto da Primeira guerra Mundial) distinguem-se do resto e servem como o ideal. guerra no um reino distinto divorciado do resto da sociedade. uma arena eminentemente humana, repleta do que h de melhor e pior de nossa natureza. guerra tambm reflete tendncias na sociedade. a evoluo para estratgias menos convencionais, sujas guerrilha, ter- rorismo , espelha uma evoluo similar na sociedade, na qual vale quase tudo. as estratgias que tiveram sucesso na guerra, sejam elas conven- cionais ou no, baseiam-se na psicologia atemporal, e grandes fracassos militares tm muito a nos ensinar sobre a estupidez humana e os limites da fora em qualquer arena. O ideal estratgico na guerra ser extrema- mente racional e emocionalmente equilibrado, esforando-se para ven- cer com o mnimo de derramamento de sangue e perda de recursos tem infinitas aplicaes e relevncia para nossas batalhas dirias. inculcados com os valores de nossos tempos, muitos argumentaro que a guerra organizada inerentemente brbara uma relquia do pas- sado violento do homem e algo a ser superado de uma vez por todas. Promover as artes da guerra em um ambiente social, essas pessoas diro, bloquear o progresso e encorajar o conflito e a dissenso. J no existe o suficiente disso no mundo? este argumento muito sedutor, mas nem um pouco razovel. sempre haver, na sociedade e no mundo em geral, E, ento, meu garoto, desenvolva a sua estratgia Para que prmios em jogos no lhe escapem das mos. Estratgia mais til ao lenhador do que fora. Estratgia mantm o navio do piloto em seu curso Quando ventos contrrios sopram sobre o mar azul arroxeado. E a estratgia vence corridas para os condutores de bigas. Um tipo de condutor confia em seus cavalos e em seu carro E muda de direo para l e para c despreocupado, Durante todo o curso, sem controlar seus cavalos. Mas um homem que sabe como vencer com cavalos inferiores Mantm seus olhos no poste E faz a curva fechada, E desde o incio conserva a tenso das rdeas Com mo firme enquanto observa o lder. Ilada, Homero, C. sculo iX a.C.
  15. 15. PreFCiO18 gente mais agressiva do que ns somos, que encontra um jeito de conse- guir o que quer, por bem ou por mal. temos de estar vigilantes e saber como nos defender desses tipos. No se promovem valores civilizados se somos obrigados a nos render aos ardilosos e fortes. Na verdade, o pacifis- mo diante desses lobos fonte de interminveis tragdias. Mahatma gandhi, que elevou a no violncia ao posto de grande arma para mudanas sociais, teve um simples objetivo mais tarde em sua vida: livrar a ndia dos suseranos britnicos que a haviam aleijado durante tantos sculos. Os britnicos eram governantes espertos. gandhi compre- endeu que, para a no violncia funcionar, ela precisava ser extremamen- te estratgica, exigindo muito pensar e planejar. ele chegou ao ponto de chamar a no violncia de um novo modo de fazer guerra. Para promover qualquer valor, at a paz e o pacifismo, voc deve estar disposto a lutar por ele e ter em mira resultados no simplesmente o bom e confortvel sentimento que a expresso dessas ideias poderia lhe trazer. No momento em que voc visar a resultados, voc est no reino da estratgia. guerra e estratgia tm uma lgica inexorvel; se voc quer ou deseja alguma coisa, deve estar pronto e capaz de lutar por ela. Outros argumentaro que guerra e estratgia so basicamente ques- tes que se referem a homens, particularmente queles que so agressivos e pertencem elite de poder. O estudo de guerra e estratgia, diro, uma busca masculina, elitista e repressora, um meio para a perpetuao do poder. esse argumento um absurdo perigoso. No incio, a estratgia realmente era domnio de uns poucos escolhidos um general, sua equi- pe, o rei, um punhado de cortesos. soldados no aprendiam estratgia, porque isso no lhes serviria de nada no campo de batalha. alm disso, no era sensato armar os prprios soldados com um tipo de conhecimen- to prtico que poderia ajud-los a organizarem um motim ou rebelio. a era do colonialismo levou este princpio ainda mais longe: os povos ind- genas das colnias europeias eram recrutados para os exrcitos ocidentais e faziam grande parte do trabalho de polcia, mas mesmo aqueles que subiam de posto na hierarquia eram rigorosamente mantidos na igno- rncia da cincia da estratgia, que se considerava perigosa demais para que soubessem. Manter a estratgia e as artes da guerra como um ramo de conhecimento especializado , na verdade, fazer o jogo das elites e dos poderes repressores, que gostam de dividir e conquistar. se a estratgia a arte de conseguir resultados, de colocar ideias em prtica, ento ela deve ser divulgada amplamente, em especial entre aqueles que tm sido tradicionalmente mantidos em sua ignorncia, inclusive as mulheres. Nas mitologias de quase todas as culturas, as grandes divindades eram femini- nas, entre elas atena, da grcia antiga. a falta de interesse das mulheres por estratgia e guerra no biolgica, mas social e talvez poltica. em vez de resistir atrao da estratgia e s virtudes da guerra ra- cional ou imaginar que so indignas de voc, bem melhor enfrentar sua necessidade. Dominar a arte s tornar sua vida mais pacfica e produtiva O eu o amigo do homem que se domina atravs do eu, mas para o homem sem autodomnio, o eu como um inimigo em guerra. Bhagavad gIta, ndia, C. sculo i d.C.
  16. 16. PreFCiO 19 a longo prazo, pois voc saber como fazer o jogo e vencer sem violncia. ignor-la conduzir a uma vida de confuses e derrotas sem fim. O que voc ver a seguir so seis ideais fundamentais que voc deve ter como objetivo para se transformar em guerreiro estratgico no dia a dia. Veja as coisas como elas so, e no com o colorido que suas emoes lhes do. Na estratgia, voc deve ver suas reaes emocionais ao que acontece como uma espcie de doena que precisa ser curada. O medo o far supe- restimar o inimigo e agir de uma forma muito defensiva. ira e impacin- cia o levaro a atitudes precipitadas e que reduziro suas opes. excesso de confiana, particularmente como resultado de um sucesso, far voc ir longe demais. amor e afeto o deixaro cego para as traioeiras manobras daqueles que aparentemente esto a seu lado. Mesmo as gradaes mais sutis destas emoes podem colorir o modo como voc v os aconteci- mentos. O nico remdio ter conscincia de que a atrao das emoes inevitvel, notar quando ela est acontecendo e equilibr-la. Quando voc tiver sucesso, esteja ainda mais atento. se estiver zangado, no faa nada. Com medo, saiba que vai exagerar os perigos que enfrenta. a guer- ra exige o mximo de realismo, ver as coisas como elas so. Quanto mais voc puder limitar ou equilibrar suas reaes emocionais, mais perto che- gar deste ideal. Julgue as pessoas por suas aes. a genialidade da guerra que no h eloquncia ou falatrio que possa explicar um fracasso no campo de ba- talha. Um general levou suas tropas derrota, vidas foram desperdiadas e assim que a histria o julgar. Voc deve se empenhar para aplicar este padro cruel em sua vida diria, julgando as pessoas pelos resultados de suas aes, pelos feitos que se podem ver e medir, pelas manobras que elas usaram para ganhar o poder. O que as pessoas dizem sobre si mesmas no importa; elas diro qualquer coisa. Veja o que elas fizeram; feitos no mentem. Voc tambm deve aplicar esta lgica a si mesmo. ao examinar uma derrota, voc deve identificar o que poderia ter feito diferente. a culpa de seus fracassos de suas ms estratgias, no do adversrio de- sonesto. Voc responsvel pelo que h de bom e de ruim em sua vida. Como corolrio, olhe para tudo que as outras pessoas fazem como uma manobra estratgica, uma tentativa de vencer. as pessoas que o acusam de ser injusto, por exemplo, que tentam fazer voc se sentir culpado, que falam de justia e moral, esto tentando ganhar uma vantagem no tabu- leiro de xadrez. Dependa das prprias armas. em busca de sucesso na vida, as pessoas tendem a confiar em coisas que parecem simples e fceis ou que j funcio- naram. isto poderia significar o acmulo de riqueza, recursos, um grande nmero de aliados ou a tecnologia mais recente e a vantagem que ela traz. isto ser materialista e mecnico. Mas a verdadeira estratgia psi- Embora uma deusa da guerra, [Atena] no sente prazer na batalha... mas na soluo de disputas, e na preservao das leis por meios pacficos. Ela no porta armas em tempos de paz e, se precisa delas, em geral as pede emprestadas a Zeus. Sua misericrdia grande... No entanto, uma vez envolvida na batalha, ela jamais perde seu dia, mesmo contra o prprio Ares, sendo mais fundamentada em tticas e estratgias do que ele; e capites sensatos sempre procuram os seus conselhos. the greek Myths vol. 1, robert graves, 1955
  17. 17. PreFCiO20 colgica uma questo de inteligncia, no de fora material. tudo na vida pode ser tirado de voc e, geralmente, o ser em algum momento. sua fortuna desaparece, a engenhoca mais recente de uma hora para outra fica ultrapassada, seus aliados o desertam. Mas se sua mente estiver armada com a arte da guerra, no h poder que possa tir-la. em meio a uma crise, sua mente encontrar o caminho para a soluo correta. ter estratgias superiores nas pontas dos dedos dar as suas manobras uma fora irresistvel. Como diz sun tzu, Depende de voc ser imbatvel. adore atena, no ares. Na mitologia da grcia antiga, o imortal mais es- perto de todos era a deusa Metis. Para impedir que ela fosse mais astucio- sa do que ele e o destrusse, Zeus casou-se com ela, em seguida engoliu-a inteira, esperando absorver com isso a sua sabedoria. Metis, entretanto, estava esperando um filho de Zeus, a deusa atena, que em seguida nasceu de sua testa. Como condizia a sua linhagem, ela foi abenoada com a es- perteza de Metis e a mentalidade guerreira de Zeus. ela era considerada pelos gregos como a deusa da guerra estratgica. seu mortal preferido e aclito era o engenhoso Ulisses. ares era o deus da guerra em sua forma direta e brutal. Os gregos desprezavam ares e adoravam atena, que sem- pre lutou com suprema inteligncia e sutileza. seu interesse na guerra no a violncia, a brutalidade, o desperdcio de vidas e de recursos, mas a racionalidade e o pragmatismo que ela nos impe e o ideal de vencer sem derramamento de sangue. Usando a sabedoria de atena, seu objetivo o de transformar a violncia e a agresso desses tipos contra eles, fazen- do com que sua brutalidade seja a causa de sua runa. Como atena, voc est sempre um passo frente, fazendo com que seus passos sejam mais indiretos. sua meta mesclar filosofia e guerra, sabedoria e batalha, em uma mistura imbatvel. eleve-se acima do campo de batalha. Na guerra, a estratgia a arte de comandar por inteiro a operao militar. ttica, por outro lado, a ha- bilidade de compor o exrcito para a batalha em si e lidar com as neces- sidades imediatas do campo de batalha. Ns, na grande maioria, somos tticos na vida, no estrategistas. Ficamos to envolvidos nos conflitos que enfrentamos que s conseguimos pensar em como obter o que queremos na batalha que temos pela frente no momento. Pensar estrategicamente difcil e pouco natural. Voc talvez imagine que est sendo estratgico, mas deve estar apenas sendo ttico. Para ter o poder que s a estrat- gia confere, voc precisa ser capaz de estar acima do campo de batalha, concentrar-se em seus objetivos de longo prazo, armar uma campanha inteira, sair do modo reativo em que tantas batalhas na vida o trancaram. Mantendo em mente todos os seus objetivos, fica muito mais fcil decidir quando lutar e quando se afastar. isso torna as decises tticas do cotidia- no bem mais simples e mais racionais. Pessoas tticas so pesadas e presas no cho; estrategistas tm os ps mais leves e so capazes de ver mais lon- ge e de uma forma mais ampla. E Atena, de olhos cinza como os da coruja: Diomedes, filho de Tideu... No precisas temer Ares ou qualquer outro dos imortais. Veja o que est aqui a seu lado. Dirija seus cavalos diretamente para Ares. E quando estiver no seu alcance, ataque. No se aterrorize com Ares. Ele nada mais do que um estpido matreiro... E quando Diomedes atacou em seguida, ela dirigiu a lana dele para a boca do estmago de Ares, onde a tnica plissada cobria... [Ares] rapidamente escalou as alturas do Olimpo, sentou-se amuado ao lado de Zeus Cronion, mostrou- lhe o sangue imortal escorrendo de sua ferida e queixou-se com estas palavras aladas: Pai Zeus, isso no o enfurece, ver esta violncia? Ns, deuses, recebemos o pior uns dos outros sempre que tentamos ajudar os homens... E Zeus, por baixo de suas sobrancelhas trovejantes: Estpido matreiro. No fique aqui sentado a meu lado se lamentando. Voc o deus mais odioso no Olimpo. Voc realmente gosta de lutas e de guerras. Puxou a sua me cabea-dura, Hera. Eu tambm mal consigo control-la... Seja como for, eu no posso tolerar que esteja sofrendo... E chamou Paieon para cuidar da ferida dele... Depois, de volta ao palcio do grande Zeus, chegou a Argiva Hera e Atena a protetora, tendo impedido o brutal Ares de cometer uma chacina contra os homens. Ilada, Homero, C. sculo iX, a.C.
  18. 18. PreFCiO 21 espiritualize sua guerra. Voc enfrenta batalhas todos os dias essa a realidade para todas as criaturas em sua luta pela sobrevivncia. Mas a maior batalha de todas com voc mesmo suas fraquezas, suas emo- es, sua falta de deciso em compreender as coisas at o final. Voc deve declarar guerra incessante contra voc mesmo. Como um guerreiro na vida, voc deve aceitar o combate e o conflito como modos de provar quem voc , de melhorar suas habilidades, de ganhar coragem, confian- a e experincia. em vez de reprimir suas dvidas e temores, voc deve derrub-los de frente, lutar contra eles. Voc precisa de mais desafios, e voc convida a mais guerra. Voc est forjando o esprito do guerreiro, e somente a prtica constante o levar at l. 33 estratgias de guerra uma destilao da sabedoria eterna contida nas lies e nos princpios da guerra. O livro projetado para armar voc com conhecimentos prticos que lhe daro infinitas opes e vantagens ao lidar com os guerreiros impalpveis que o atacam na batalha diria. Cada captulo uma estratgia voltada para a soluo de um proble- ma em particular que voc encontrar com frequncia. esses problemas incluem lutar com um exrcito desmotivado atrs de voc; desperdiar energia combatendo em muitas frentes; sentir-se massacrado por atritos, pela discrepncia entre planos e realidade; entrar em situaes das quais no consegue sair. Voc pode ler os captulos que se aplicam ao problema particular atual. Melhor ainda, voc pode ler todas as estratgias, assimi- lando-as, permitindo que se tornem parte de seu arsenal mental. Mesmo quando voc est tentando evitar uma guerra, e no combatendo uma, muitas destas estratgias merecem ser conhecidas por propsitos defen- sivos e para voc ter conscincia do que o outro lado pode estar apron- tando. De qualquer maneira, eles no foram escritos como doutrina ou frmulas para serem repetidas, mas como auxiliares do julgamento no ca- lor da batalha, sementes que se enraizaro em voc e o ajudaro a pensar por si mesmo, desenvolvendo seu estrategista interior latente. as prprias estratgias so selecionadas dos escritos e das prticas dos maiores generais da histria (alexandre, o grande; anbal; genghis Khan; Napoleo Bonaparte; shaka Zulu; William techumseh sherman; erwin rommel, Vo Nguyen giap) bem como dos maiores estrategistas (sun tzu; Miyamoto Musashi; Carl von Clausewitz; ardant du Picq; t. e. Lawrence; coronel John Boyd). elas variam desde as estratgias bsicas da guerra clssica s estratgias sujas, no convencionais, dos tempos moder- nos. O livro est dividido em cinco partes: guerra autodirigida (como pre- parar sua mente e esprito para a batalha); guerra organizacional (como estruturar e motivar seu exrcito); guerra defensiva; guerra ofensiva; e guerra no convencional (suja). Cada captulo ilustrado com exemplos histricos, no s da guerra em si, mas da poltica (Margaret thatcher), da cultura (alfred Hitchcock), dos esportes (Muhammad ali), dos neg- cios (John D. rockefeller), que mostram a ntima conexo entre o militar e o social. estas estratgias podem se aplicar a lutas em todas as escalas: Contra a guerra pode-se dizer: faz do vitorioso um estpido, do derrotado um malicioso. A favor da guerra: com a produo desses dois efeitos ela barbariza e, portanto, torna mais natural; o inverno ou o tempo de hibernao da cultura, a humanidade dela emerge mais forte para o bem ou para o mal. Friedrich Nietzsche, 1844-1900 Sem guerra os seres humanos ficam estagnados no conforto e na riqueza e perdem a capacidade de grandes ideias e sentimentos, eles se tornam cnicos e caem no barbarismo. Fyodor Dostoivski, 1821-1881
  19. 19. PreFCiO22 guerra organizada, batalhas nos negcios, a poltica de um grupo e at relacionamentos pessoais. Finalmente, a estratgia uma arte que requer no s um modo di- verso de pensar, mas uma abordagem totalmente diferente de ver a vida em si. Com muita frequncia existe um abismo entre nossas ideias e co- nhecimentos de um lado e nossa experincia real do outro. absorvemos trivialidades e informaes que nos tomam espao mental, mas no nos levam a parte alguma. Lemos livros que nos divertem, mas tm pouca relevncia para nossas vidas dirias. temos ideias sublimes que no co- locamos em prtica. temos experincias to ricas que no analisamos o suficiente, que no nos inspiram ideias, cujas lies ignoramos. e estra- tgia requer um contato constante entre os dois reinos. conhecimento prtico em sua forma mais elevada. Os acontecimentos na vida nada sig- nificam se voc no refletir a respeito deles profundamente, e ideias ad- quiridas em livros so inteis se no tiverem aplicao na vida como voc vive. Na estratgia, tudo na vida um jogo que voc est jogando. este jogo excitante, mas tambm exige profunda e sria ateno. as apostas so altas. O que voc sabe precisa ser traduzido em ao, e ao precisa ser traduzida em conhecimento. Deste modo, estratgia passa a ser um desafio para a vida inteira e fonte de constante prazer na superao de dificuldades e soluo de problemas. Neste mundo, onde se joga com dados chumbados, um homem precisa ter um temperamento de ferro, com armadura prova dos golpes do destino, e armas para enfrentar homens. A vida uma longa batalha; temos de combat-la a cada passo; e Voltaire com toda a razo diz que, se temos sucesso, ponta da espada, e que morremos com a arma na mo. Arthur Schopenhauer, Conselhos e mximas, 1851 A natureza decidiu que o que no pode se defender sozinho no ser defendido. ralph Waldo emerson, 1803-1882
  20. 20. Pa r t e i gUerra aUtODirigiDa a guerra (ou qualquer tipo de conflito) travada e vencida com estratgia. Pense em estratgia como uma srie de linhas e setas direcionadas para um ob- jetivo: levar voc a um certo ponto no mundo, ajud- lo a atacar um problema em seu caminho, imaginar como cercar e destruir seu inimigo. antes de direcio- nar estas setas para seus inimigos, entretanto, voc deve primeiro apont-las para si mesmo. sua mente o ponto de partida de todas as guer- ras e estratgias. Uma mente que seja dominada com muita facilidade por emoes, que esteja enraizada no passado e no no presente, que no possa ver o mundo com clareza e urgncia criar estratgias que sempre erraro o alvo. Para se tornar um verdadeiro estrategista, voc deve dar trs passos. Primeiro, tomar conscincia das fraquezas e doenas que possam se apoderar da men- te, deformando seus poderes estratgicos. segundo, declarar uma espcie de guerra contra si mesmo para
  21. 21. se fazer andar para frente. terceiro, trave uma cruel e contnua batalha contra os inimigos dentro de voc aplicando certas estratgias. Os quatro captulos a seguir so projetados para chamar sua ateno para os distrbios que esto pro- vavelmente se desenvolvendo em sua mente agora mesmo e armar voc com estratgias especficas para elimin-los. estes captulos so setas cujo alvo voc. Uma vez tendo-as assimilado por meio de pensamen- tos e prtica, elas serviro como um expediente auto- corretivo em todas as suas futuras batalhas, liberando o grande estrategista que existe dentro de voc.
  22. 22. 1 DeCLare gUerra a seUs iNiMigOs a estratgia Da POLariDaDe A vida um sem-fim de batalhas e conflitos, e voc no pode lutar com eficincia se no puder identificar seus inimigos. As pessoas so sutis e evasivas, disfarando suas intenes, fin- gindo estar a seu lado. Voc precisa de clareza. Aprenda a des- mascarar seus inimigos, a localiz-los pelos sinais e padres que revelam sua hostilidade. E, ento, com eles vista, declare interiormente guerra. Como os polos opostos de um m criam movimento, seus inimigos seus opostos podem encher voc de propsito e direo. Como pessoas que ficam em seu cami- nho, que representam o que voc abomina, pessoas s quais reagir so uma fonte de energia. No seja ingnuo: com alguns inimigos no pode haver concesses, no existe meio-termo.
  23. 23. estratgia 126 O iNiMigO iNteriOr Na primavera de 401 a.C., Xenofonte, senhor rural de trinta anos e que vivia nos arredores de atenas, recebeu um intrigante convite: um ami- go estava recrutando soldados gregos para lutarem como mercenrios por Ciro, irmo do rei persa, artaxerxes, e o chamava para ir junto. O pedido era um tanto inusitado: havia muito tempo que gregos e persas eram inimigos figadais. Por volta de oitenta anos antes, de fato, a Prsia havia tentado conquistar a grcia. Mas os gregos, renomados guerreiros, tinham comeado a oferecer seus servios a quem pagasse mais, e dentro do imprio persa havia cidades rebeldes que Ciro queria punir. Mercen- rios gregos seriam os reforos perfeitos em seu grande exrcito. Xenofonte no era um soldado. Na verdade, ele levava uma vida cal- ma, criando cachorros e cavalos, viajando para atenas para conversar so- bre filosofia com seu bom amigo scrates, vivendo de sua herana. Mas ele queria aventura, e esta era uma chance de conhecer o grande Ciro, aprender sobre guerra, ver a Prsia. talvez quando tudo tivesse termi- nado, ele escrevesse um livro. ele no iria como mercenrio (era rico demais para isso) mas como filsofo e historiador. Depois de consultar o orculo de Delfos, ele aceitou o convite. Por volta de 10 mil soldados gregos uniram-se expedio punitiva de Ciro. Os mercenrios eram um bando misto de toda a grcia, que estavam ali pelo dinheiro e a aventura. eles se divertiram por uns tempos, mas depois de alguns meses de atividade, aps lider-los at o interior da Prsia, Ciro admitiu seu verdadeiro propsito: estava marchando sobre a Babilnia, armando uma guerra civil para derrubar seu irmo e se fazer rei. Descontentes por terem sido enganados, os gregos argumentaram e se queixaram, mas Ciro lhes ofereceu mais dinheiro, e isso os acalmou. Os exrcitos de Ciro e artaxerxes encontraram-se nas plancies de Cunaxa, no muito longe da Babilnia. Logo no incio da batalha, Ciro foi morto, colocando um rpido ponto final guerra. agora a situao dos gregos de repente era precria: tendo combatido do lado errado de uma guerra civil, eles estavam longe de casa e cercados por persas hostis. Ficaram logo sabendo, entretanto, que artaxerxes no estava zangado com eles. s queria que sassem da Prsia o mais rpido possvel. ele at lhes enviou um emissrio, o comandante tissaphernes, para lhes oferecer provises e escolt-los de volta para a grcia. e, assim, guiados por tissa- phernes e o exrcito persa, os mercenrios iniciaram a longa viagem de volta para casa uns 2.400 quilmetros. Dias depois de iniciada a marcha, os gregos tiveram novos temores: os suprimentos que tinham recebido dos persas eram insuficientes, e o ca- minho escolhido por tissaphernes para eles, problemtico. eles podiam confiar nos persas? Comearam a discutir entre eles. O comandante grego Clearchus expressou as preocupaes de seus soldados para tissaphernes, que foi solidrio: Clearchus deveria levar seus capites para um encontro em um local neutro, os gregos manifesta- Ento [Xenofonte] levantou-se, e convocou primeiro os suboficiais de Proxenus. Quando eles se reuniram, ele disse: Senhores, no posso dormir e penso que os senhores tambm no; e no posso ficar parado aqui quando vejo em que apuros nos encontramos. claro que o inimigo no nos declarar guerra aberta at pensar que tem tudo bem preparado; e nenhum de ns se esfora para fazer a melhor resistncia possvel. Mas se cedermos e cairmos em poder do rei, que destino esperamos que seja o nosso? Quando seu prprio irmo morreu, o homem cortou sua cabea e cortou sua mo e as espetou em um mastro. No temos ningum para nos defender, e marchamos at aqui para fazer do rei um escravo ou mat-lo se pudssemos, e qual pensam que ser nosso destino? Ele no chegar a todos os extremos da tortura para que o mundo inteiro tema entrar em guerra contra ele? Ora, devemos fazer tudo para escapar de seu poder! Enquanto durou a trgua, eu nunca deixei de sentir pena de ns, nunca deixei de congratular o rei e seu Exrcito. Que vasto pas eu via, to grande, que interminveis provises, que multides de servos, quanto gado e ovelhas, quanto ouro, que roupas! Mas quando pensei nestes nossos soldados no tivemos nenhuma parte em todas estas coisas boas, a no
  24. 24. estratgia 1 27 riam suas tristezas e os dois lados chegariam a um entendimento. Clear- chus concordou e apareceu no dia seguinte com seus oficiais na hora e no lugar combinados onde, entretanto, um grande contingente de persas os cercou e prendeu. Foram decapitados no mesmo dia. Um homem conseguiu escapar e avisou os gregos da traio persa. Naquela noite o acampamento grego era um lugar desolado. alguns homens discutiam e acusavam, outros caam bbados no cho. Uns pou- cos pensaram em fugir, mas com seus lderes mortos eles se sentiram condenados. Naquela noite, Xenofonte, que tinha permanecido a maior parte do tempo nos bastidores durante a expedio, teve um sonho: um raio de Zeus incendiou a casa de seu pai. ele acordou suando. De repente perce- beu: a morte estava olhando na cara dos gregos, mas eles estavam ali cho- ramingando, desesperados e discutindo. O problema estava sobre suas cabeas. Lutando por dinheiro e no por um propsito ou causa, incapa- zes de distinguir entre amigo e inimigo, eles haviam se perdido. a barrei- ra entre eles e seu lar no eram rios e montanhas ou o exrcito persa, mas o prprio estado de esprito confuso. Xenofonte no queria morrer deste modo desgraado. No era um militar, mas conhecia filosofia e como os homens pensam, e acreditava que se os gregos se concentrassem nos ini- migos que queriam mat-los, ficariam alertas e criativos. se focalizassem a vil traio dos persas, ficariam zangados, e sua ira os motivaria. tinham de parar de ser mercenrios confusos e voltar a ser gregos, o extremo oposto dos infiis persas. O que eles precisavam era de clareza e direo. Xenofonte decidiu ser o raio de Zeus, despertando os homens e ilu- minando seu caminho. Convocou uma reunio com todos os oficiais sobreviventes e exps seu plano: ns declararemos guerra sem nego- ciao aos persas nada mais de ideias de barganhas ou debates. No vamos mais perder tempo com argumentos ou acusaes entre ns mes- mos; cada grama de nossa energia ser gasto com os persas. seremos to inventivos e inspirados como nossos ancestrais em Maratona, que combateram vencendo um exrcito persa bem maior. Vamos queimar nossas carroas, viver da terra, mover rpido. Nem por um segundo va- mos baixar os braos ou esquecer o perigo a nossa volta. somos ns ou eles, vida ou morte, bem ou mal. se algum homem tentar nos confundir com conversa mole e com vagas ideias de conciliao, vamos declar-lo idiota e covarde demais para estar do nosso lado e vamos afast-lo. Que os persas nos tornem impiedosos. Devemos estar consumidos por uma ideia: voltar vivos para casa. Os oficiais sabiam que Xenofonte estava certo. No dia seguinte um oficial persa veio v-los, oferecendo-se para atuar como embaixador entre eles e ataxerxes; seguindo o conselho de Xenofonte, ele foi rpida e ru- demente mandado embora. agora era guerra e nada mais. incentivados a agir, os gregos elegeram lderes, Xenofonte entre eles, e comearam a marcha para casa. Forados a depender de seu bom-senso, ser comprando-as, e a poucos restava alguma coisa com que compr- las; e obter alguma coisa sem comprar estava proibido por nossos juramentos. Enquanto raciocinava assim, eu s vezes temia a trgua mais do que a guerra agora. Entretanto, agora eles quebraram a trgua, existe um fim tanto para a insolncia deles como para nossas suspeitas. Ali esto todas estas coisas boas diante de ns, prmios para o lado que provar ter os melhores homens; os deuses so os juzes da prova, e estaro conosco, naturalmente... Quando tiverem nomeado tantos comandantes quantos necessrios, renam todos os outros soldados e os encorajem; isso ser exatamente o que eles querem agora. Talvez tenham notado como estavam desanimados quando entraram em campo, como estavam abatidos quando faziam guarda; nesse estado no sei o que podero fazer com eles... Mas se algum conseguir fazer com que parem de pensar no que vai lhes acontecer, e pensem no que podem fazer, ficaro muito mais animados. Os senhores sabem, tenho certeza, que no so nmeros ou fora que do origem vitria na guerra; o exrcito que entrar na batalha com esprito forte, seus inimigos em geral no lhes podem resistir. anaBasIs: the March Up coUntry, Xenofonte, 430?-355? a.C.
  25. 25. estratgia 128 eles logo aprenderam a se adaptar ao terreno, evitar a batalha, mover-se de noite. Conseguiram iludir os persas, derrotando-os at uma passagem na montanha chave e atravessando-a antes que pudessem ser apanhados. embora muitas tribos inimigas ainda estivessem entre eles e a grcia, o temido exrcito persa agora tinha ficado para trs. Levou muitos anos, mas quase todos voltaram vivos para a grcia. interpretao a vida batalha e lutas, e voc se ver constantemente diante de situa- es ruins, relacionamentos destrutivos, compromissos perigosos. Como voc enfrenta estas dificuldades vai determinar seu destino. Como disse Xenofonte, seus obstculos no so rios ou montanhas ou outras pessoas; seu obstculo voc mesmo. se voc se sente perdido e confuso, se voc perde seu senso de direo, se voc no sabe a diferena entre amigo e inimigo, voc s tem a si mesmo para culpar. Pense em voc mesmo como sempre prestes a entrar em uma bata- lha. tudo depende de seu estado de esprito e de como voc v o mundo. Uma mudana de perspectiva pode transformar voc de um mercenrio passivo e confuso em um guerreiro motivado e criativo. somos definidos por nosso relacionamento com as outras pessoas. Quando crianas desenvolvemos uma identidade ao nos diferenciarmos dos outros, at o ponto de empurr-los para longe, rejeit-los, com rebel- dia. Quanto mais claramente voc reconhecer quem voc no quer ser, ento, mais ntido o seu sentido de identidade e propsito ser. sem uma noo dessa polaridade, sem um inimigo contra o qual reagir, voc est to perdido quanto os mercenrios gregos. Ludibriado pela traio dos outros, voc hesita no momento fatal e passa a se lamentar e argumentar. Concentre-se no inimigo. Pode ser algum que bloqueie seu caminho ou sabote voc, seja sutil ou obviamente; pode ser algum que o magoou ou que combateu voc injustamente; pode ser um valor ou uma ideia que voc abomina e que voc v em um indivduo ou grupo. Pode ser uma abstrao: estupidez, presuno, materialismo vulgar. No d ouvidos s pessoas que dizem que a distino entre amigo e inimigo primitiva e antiquada. elas esto apenas disfarando o medo que sentem de conflitos por trs de uma fachada de falsa cordialidade. esto tentando for-lo a sair de seu caminho, contamin-lo com a incerteza que os aflige. Uma vez sentindo-se claro e motivado, voc ter espao para a verdadeira amizade e o verdadeiro compromisso. seu inimigo a estrela polar que o guia. Dada esta direo, voc pode entrar na batalha. Quem no est comigo, est contra mim. Lucas 11.23 O pensamento poltico e o instinto poltico se provam terica e praticamente na habilidade para distinguir entre amigo e inimigo. Os pontos altos da poltica so simultaneamente os momentos em que o inimigo , em concreta clareza, reconhecido como inimigo. Carl schmitt, 1888-1985
  26. 26. estratgia 1 29 O iNiMigO eXterNO No incio da dcada de 1970, o sistema poltico britnico havia se acomo- dado a um padro confortvel: o Partido trabalhista venceria uma eleio e a, na eleio seguinte, os Conservadores venceriam. De l para c o poder seguia, tudo razoavelmente polido e civilizado. Na verdade, um partido j estava se parecendo com o outro. Mas quando os Conservado- res perderam em 1974, alguns deles deram um basta. Querendo sacudir as coisas, eles sugeriram Margaret thatcher como sua lder. O partido se dividiu naquele ano, thatcher tirou vantagem da diviso e venceu a indicao. Ningum jamais tinha visto um poltico como thatcher. Uma mu- lher em um mundo governado por homens, ela tambm se orgulhava de ser de classe mdia filha de um dono de mercearia no tradicional par- tido da aristocracia. suas roupas eram caretas, mais como as de uma dona de casa do que uma poltica. ela no tinha sido uma participante ativa no Partido Conservador; na verdade, ela estava na periferia da ala de direita. O mais surpreendente de tudo era seu estilo: enquanto os outros polticos eram afveis e conciliadores, ela enfrentava seus adversrios atacando-os diretamente. ela possua o apetite pela batalha. a maioria dos polticos viram a eleio de thatcher como um feliz acaso e no esperavam que ela durasse. e nos primeiros anos em que liderou o partido, quando os trabalhistas estiveram no poder, ela pouco fez para mudar a opinio deles. ela vociferava contra o sistema socialis- ta, que em sua mente havia sufocado todas as iniciativas e era em grande parte responsvel pelo declnio da economia britnica. ela criticou a Unio sovitica em uma poca em que as tenses estavam se relaxando. e a, no inverno de 1978-79, vrios sindicatos do setor pblico resol- veram entrar em greve. thatcher partiu para a guerra, associando as greves ao Partido trabalhista e ao primeiro-ministro James Callaghan. este foi um discurso ousado, divisor, bom para os noticirios do fim da tarde mas no para ganhar um eleio. Voc precisa ser gentil com os eleitores, tranquiliz-los, no amedront-los. Pelo menos, essa era a sabedoria convencional. em 1979, o Partido trabalhista convocou uma eleio geral. tha- tcher continuou no ataque, classificando a eleio como uma cruzada contra o socialismo e a ltima chance de modernizao para a gr- Bretanha. Callaghan era a sntese do poltico corts, mas thatcher o irritava. ele no sentia outra coisa que no desdm por esta dona de casa arremedo de poltico e devolveu fogo: ele concordava que a elei- o era um divisor de guas, mas se thatcher vencesse colocaria em choque a economia. a estratgia pareceu funcionar em parte; thatcher assustou muitos eleitores, e as pesquisas que sondavam a popularida- de pessoal mostravam que seus nmeros haviam cado bem abaixo dos de Callaghan. ao mesmo tempo, entretanto, sua retrica e a reao de gallaghan a ela polarizavam o eleitorado, que pde finalmente ver uma ntida diferena entre os partidos. Dividindo o pblico em esquerda e Sou por natureza belicoso. Atacar um de meus instintos. Ser capaz de ser um inimigo, ser um inimigo isso pressupe uma natureza forte, em qualquer situao uma condio de natureza muito forte. Ela precisa de resistncias, consequentemente busca resistncias... A fora de quem ataca tem na oposio de que necessita um tipo de medida; cada crescimento revela-se na busca de um poderoso adversrio ou problema: pois um filsofo que belicoso tambm desafia problemas para um duelo. O empreendimento dominar, no qualquer resistncia que por acaso se apresente, mas aquelas contra as quais a pessoa tem de reunir todas as suas foras, flexibilidade e domnio de armas para dominar adversrios iguais. Friedrich Nietzsche, 1844-1900
  27. 27. estratgia 130 direita, ela atacou na fenda, absorvendo as atenes e atraindo os inde- cisos. ela teve uma vitria de bom tamanho. thatcher havia convencido os eleitores, mas agora, como primeira- ministra, ela teria de moderar seu tom, sarar as feridas segundo as pes- quisas de opinio, de qualquer modo, era isso que o pblico queria. Mas thatcher, como sempre, fez o contrrio, decretando cortes de oramentos que iam ainda mais fundo do que ela havia proposto durante a campanha. Conforme suas polticas foram levadas a efeito, a economia realmente en- trou em choque, como Callaghan dissera, e a taxa de desemprego subiu vertiginosamente. Os homens de seu prprio partido, muitos dos quais na- quela altura dos acontecimentos, havia anos, se ressentiam do tratamento que ela lhes dava, comearam publicamente a questionar sua capacidade. estes homens, a quem ela chamava de wets, eram os membros mais res- peitados do Partido Conservador e estavam em pnico: ela estava levando o pas a um desastre econmico que eles temiam ter de pagar com suas carreiras. a reao de thatcher foi expuls-los de seu gabinete. ela pare- cia inclinada a afastar todo mundo; sua legio de inimigos crescia, seus nmeros nas pesquisas de opinio pblica caam ainda mais. Certamente a prxima eleio seria a sua ltima. ento, em 1982, do outro lado do atlntico, a junta militar que gover- nava a argentina, precisando de uma causa para distrair o pas de seus mui- tos problemas, invadiu as ilhas Falklands, uma possesso britnica qual, entretanto, a argentina tinha um direito histrico. Os oficiais da junta estavam certos de que os britnicos abandonariam as ilhas, ridas e remo- tas. Mas thatcher no hesitou: apesar da distncia 12.874 quilmetros ela enviou uma fora-tarefa naval pra as Falklands. Lderes trabalhistas a atacaram por esta guerra sem sentido e cara. Muitos de seu partido fi- caram aterrorizados; se a tentativa de retomar as ilhas falhasse, o partido estaria arruinado. thatcher estava mais sozinha do que nunca. Mas uma boa parte do pblico agora via suas qualidades que tinham parecido to irritantes sob uma nova luz: sua obstinao tornou-se coragem, nobreza. Comparada com os homens confusos, efeminados, carreiristas a sua volta, thatcher parecia resoluta e confiante. Os ingleses recuperaram com sucesso as Falklands, e thatcher er- gueu-se mais alta do que nunca. De repente, os problemas econmicos e sociais do pas foram esquecidos. thatcher agora dominava o cenrio, e nas duas eleies seguintes esmagou o Partido trabalhista. interpretao Margareth thatcher chegou ao poder como uma estranha no ninho; uma mulher de classe mdia, uma radical de direita. O primeiro instin- to da maioria das pessoas de fora que alcanam o poder o de se tornar ntimas a vida do lado de fora dura mas com isso elas perdem sua identidade, sua diferena, a coisa que as faz se distinguirem aos olhos do pblico. se thatcher tivesse se tornado como os homens a sua volta, teria simplesmente sido substituda por mais um homem. seu instinto [Salvador Dal] no tinha tempo para aqueles que no concordavam com os seus princpios, e levava a guerra para o campo inimigo ao escrever cartas ofensivas a muitos dos amigos que havia feito na Residencia, chamando- os de porcos. Ele gostava de se comparar a um touro esperto evitando os vaqueiros e em geral se divertia muito atiando e escandalizando quase todos os intelectuais catales merecedores do nome. Dal estava comeando a queimar suas pontes com o zelo de um incendirio... Ns [Dal e o cineasta Luis Buuel] tnhamos resolvido enviar uma carta manuscrita venenosa a uma das grandes celebridades da Espanha, Dal mais tarde contou a seu bigrafo Alain Bosquet. Nosso objetivo era pura subverso... Os dois estvamos fortemente influenciados por Nietzsche... Ns achamos dois nomes: Manuel de Falla, o compositor, e Juan Ramn Jimnez, o poeta. Jogamos no palitinho e Jimnez ganhou... Ento compomos uma carta frentica e desagradvel de incomparvel violncia e a endereamos a Juan Ramn Jimnez. Ela dizia: Nosso distinto amigo: acreditamos ser nosso dever inform-lo desinteressadamente que seu trabalho nos profundamente repugnante devido a sua imoralidade,
  28. 28. estratgia 1 31 foi o de continuar do lado de fora. De fato, ela insistiu nisso o mais que pde: ela se colocou como uma mulher contra um exrcito de homens. a cada etapa do caminho, para lhe dar o contraste de que precisava, thatcher escolhia um adversrio como alvo: os socialistas, os wets, os ar- gentinos. estes inimigos ajudaram a definir sua imagem de pessoa deter- minada, poderosa, capaz de sacrifcios pessoais. thatcher no se deixou seduzir pela popularidade, que efmera e superficial. Os especialistas podem ficar obcecados com os nmeros da popularidade, mas na mente do eleitor que, para um poltico, o campo de batalha uma presena dominante mais atraente do que a simpatia. Que uma parte do pblico deteste voc; impossvel agradar a todos. seus inimigos, aqueles que se colocam nitidamente contra voc, o ajudaro a forjar uma base de apoio que no o desertar. No se aglomere no centro, onde est todo mundo; no h espao para lutar em uma aglomerao. Polarize as pessoas, afaste algumas delas e crie um espao para batalha. tudo na vida conspira para empurrar voc para o centro, e no ape- nas politicamente. O centro o reino do compromisso. Dar-se bem com outras pessoas uma habilidade importante, mas tem riscos: ao buscar sempre o caminho da menor resistncia, da conciliao, voc esquece quem , voc mergulha no centro com todo mundo. em vez disso veja a si mesmo como um combatente, um estranho cercado de inimigos. a bata- lha constante o manter forte e alerta. ela ajudar voc a definir em que acredita, tanto para si mesmo como para os outros. No se preocupe por estar antagonizando as pessoas; sem antagonismo no h batalha; e sem batalha, no h chances de vitria. No se deixe seduzir pela necessidade de que gostem de voc: melhor ser respeitado, temido at. a vitria sobre seus inimigos lhe dar uma popularidade mais duradoura. No dependa do no aparecimento do inimigo; dependa, sim, de estar pronto para ele. Sun Tzu, a arte da guerra (sculo IV a.C.) CHaVes Para a gUerra Vivemos em uma era em que raro as pessoas serem diretamente hostis. as regras das relaes sociais, polticas, militares mudaram, e o mesmo deve acontecer com sua noo de um inimigo. Um inimigo visvel raro hoje em dia e , na verdade, uma bno. as pessoas dificilmente o ata- cam abertamente como antes, mostrando suas intenes, seu desejo de destruir voc; em vez disso elas so polticas e indiretas. embora o mundo esteja mais competitivo do que nunca, a agresso aparente desencora- jada, de modo que as pessoas aprenderam a agir em segredo, a atacar de forma imprevisvel e ardilosa. Muitas usam a amizade como um meio de mascarar desejos agressivos: elas se aproximam de voc para causar um dano maior. (Um amigo sabe melhor como magoar voc.) Ou sem na ver- dade serem amigas, elas oferecem assistncia e aliana: podem at pare- sua histeria, sua qualidade arbitrria... Ela causou um grande sofrimento a Jimnez ... the persIstence of MeMory: a BIography of dal, Meredith etherington-smith, 1992 A oposio de um membro a um associado no um fator social puramente negativo, no mnimo porque essa oposio com frequncia o nico meio de tornar a vida com pessoas, que na verdade so insuportveis, pelo menos possvel. Se no temos nem mesmo o poder e o direito de nos rebelarmos contra tirania, arbitrariedade, mau humor, falta de tato, no poderamos suportar ter qualquer relao com pessoas cujos carteres nos fazem assim sofrer. Nos sentiramos forados a dar passos desesperados e estes, na verdade, terminariam a relao mas no, talvez, constituiriam um conflito. No s pelo fato de que... a opresso em geral aumenta se suportada com calma e sem protestos, mas tambm porque a oposio nos d ntima satisfao, distrao, alvio... Nossa oposio nos faz sentir que no somos totalmente vtimas das circunstncias. georg simmel, 1858-1918
  29. 29. estratgia 132 cer que o apoiam, mas no final esto promovendo os prprios interesses s suas custas. e h aqueles que dominam a guerra moral, colocando-se como vtimas, fazendo voc se sentir culpado por algo inespecfico que voc fez. O campo de batalha est repleto desses guerreiros, escorrega- dios, evasivos e espertos. Compreenda: a palavra inimigo do latim inimicus, no amigo tem sido demonizada e politizada. sua primeira tarefa como um es- trategista ampliar seu conceito de inimigo, para incluir nesse grupo aqueles que esto trabalhando contra voc, frustrando voc, ainda que sutilmente. (s vezes a indiferena e a negligncia so armas mais eficien- tes do que a agresso, porque voc no pode ver a hostilidade que ocul- tam.) sem paranoia, voc precisa perceber que existem pessoas que lhe desejam o mal e operam indiretamente. identifique-as e de repente voc ter espao para manobrar. Voc pode recuar e esperar para ver ou agir, seja de forma agressiva ou apenas evasiva, para evitar o pior. Voc pode at trabalhar para fazer deste inimigo um amigo. Mas seja l o que voc fizer, no seja a vtima ingnua. No se veja constantemente recuando, reagindo s manobras de seus inimigos. arme-se de prudncia, e jamais deponha suas armas, nem mesmo para os amigos. as pessoas em geral escondem muito bem sua hostilidade, mas com frequncia do inconscientemente sinais de que nem tudo o que pare- ce. Um dos melhores amigos e conselheiros do lder do Partido Comunis- ta Chins, Mao ts-tung, era Lin Biao, um alto membro do Politburo e possvel sucessor do presidente. No final da dcada de 1960 e incio dos anos 1970, entretanto, Mao percebeu uma mudana em Lin: ele havia se tornado efusivamente amistoso. todos elogiavam Mao, mas os elogios de Lin eram constrangedoramente entusisticos. Para Mao isto significava que alguma coisa estava errada. ele observou Lin atentamente e decidiu que o homem estava tramando uma derrubada de poder ou, pelo menos, se preparava para o posto mais alto. e Mao estava certo: Lin estava tra- mando ativamente. a questo no desconfiar de todos os gestos amigos, mas not-los. registrar qualquer mudana na temperatura emocional: uma intimidade fora do comum, um novo desejo de trocar confidncias, elogios excessivos a seu respeito para terceiros, o desejo de uma aliana que talvez faa mais sentido para a outra pessoa do que para voc. Confie em seus instintos: se o comportamento de algum lhe parecer suspeito, provavelmente . Pode se revelar benigno no final, mas enquanto isso melhor ficar atento. Voc pode se recostar e ler os sinais ou trabalhar ativamente para des- mascarar seus inimigos soque a grama para surpreender as serpentes, como dizem os chineses. Na Bblia lemos sobre as suspeitas de Davi de que seu sogro, o rei saul, secretamente o queria morto. Como Davi podia descobrir? ele confessou sua desconfiana ao filho de saul, Jonatas, seu melhor amigo. Jonatas recusou-se a acreditar, ento Davi sugeriu um teste. ele era esperado na corte para um banquete. No iria; Jonatas, sim, e transmitiria as desculpas de Davi, que seriam adequadas mas no Quando se sobe um dos grandes rios [de Bornu], encontram-se tribos que so sucessivamente mais belicosas. Nas regies costeiras esto comunidades pacficas que jamais lutam a no ser em autodefesa, e, mesmo assim, com pouco xito; enquanto nas regies centrais, onde nascem os rios, esto vrias tribos extremamente belicosas cujos ataques tm sido uma constante fonte de terror para as comunidades estabelecidas nas partes mais baixas...Pode-se supor que os povos pacficos das costas seriam superiores em qualidades morais a seus vizinhos guerreiros, mas o contrrio. Em quase todos os aspectos, a vantagem est com as tribos guerreiras. Suas casas so mais bem construdas, maiores, e mais limpas; sua moral domstica superior; eles so fisicamente mais fortes, mais corajosos, fsica e mentalmente mais ativos e, em geral, mais confiveis. Mas, acima de tudo, sua organizao social mais firme e mais eficiente porque respeitam e obedecem mais a seus chefes e so muito mais leais a sua comunidade; cada homem se identifica com toda a comunidade, aceita e fielmente cumpre os deveres sociais que lhe competem. William Mcdougall, 1871-1938
  30. 30. estratgia 1 33 urgentes. sem dvida alguma, a desculpa enraiveceu saul, que excla- mou, Mande busc-lo imediatamente e traga-o at mim ele merece morrer! O teste de Davi funcionou porque era ambguo. a sua desculpa para faltar ao banquete podia ser entendida de mais de uma maneira: se saul estivesse com boas intenes com relao a Davi, teria visto a ausncia do genro apenas como uma atitude egosta, na pior das hipteses, mas porque secretamente odiava Davi, ele a viu como uma afronta e se des- controlou. siga o exemplo de Davi: diga ou faa alguma coisa que possa ser entendida de mais de uma forma, que possa ser suficientemente poli- da, mas que tambm um amigo possa ficar intrigado mas deixar passar. O inimigo secreto, entretanto, vai reagir com raiva. Qualquer emoo forte e voc saber que tem algo fervendo sob a superfcie. Muitas vezes a melhor maneira de fazer com que as pessoas se reve- lem provocando tenso e argumentos. O produtor de Hollywood Harry Cohn, presidente da Universal Pictures, usava com frequncia esta estra- tgia para deixar clara a verdadeira posio das pessoas no estdio que se recusavam a mostrar de que lado estavam: ele de repente atacava o trabalho delas ou assumia uma posio extrema, at ofensiva, em uma dis- cusso. ele provocava diretores e escritores que abandonavam suas usuais cautelas e mostravam suas verdadeiras crenas. Compreenda: as pessoas tendem a ser vagas e escorregadias porque mais seguro do que comprometer-se com alguma coisa abertamente. se voc o chefe, elas imitaro suas ideias. a concordncia delas muitas vezes pura bajulao. Faa-as ficar emotivas; as pessoas em geral so since- ras quando discutem. se voc escolher uma discusso com algum e essa pessoa continuar copiando suas ideias, voc talvez esteja lidando com um camaleo, um tipo particularmente perigoso. Cuidado com pessoas que se escondem por trs de uma fachada de vaga abstrao e imparcialidade: ningum imparcial. Uma pergunta expressa com rispidez, uma opinio destinada a ofender, far com que reajam e tomem uma posio. s vezes melhor adotar uma abordagem menos direta com seus inimigos em potencial ser to sutil e conivente quanto eles. em 1519, Hernn Corts chegou ao Mxico com seu bando de aventureiros. en- tre estes quinhentos homens estavam alguns cuja lealdade era duvidosa. Durante toda a expedio, sempre que um dos soldados de Corts fazia alguma coisa que ele via como suspeita, ele jamais se zangava ou adotava uma atitude acusadora. em vez disso, fingia concordar com ele, aceitando e aprovando o que tinham feito. Pensando que Corts era fraco ou que estava do lado deles, davam mais um passo. agora ele tinha o que queria: um sinal claro, para si mesmo e os outros, de que eram traidores. agora ele podia isol-los e destru-los. adote o mtodo de Corts: se amigos ou seguidores de quem voc suspeita de ter outros motivos sugerem algo su- tilmente hostil, ou contra seus interesses, ou simplesmente estranho, fuja tentao de reagir, de dizer no, de se zangar ou at de fazer perguntas. Concorde ou parea fazer vista grossa: seus inimigos em breve se adianta- O homem existe desde que lhe faam oposio. georg Hegel, 1770-1831
  31. 31. estratgia 134 ro mais um pouco, mostrando melhor suas intenes. agora voc os tm vista e pode atacar. Um inimigo muitas vezes grande e difcil de distinguir uma orga- nizao ou uma pessoa oculta por trs de alguma rede complicada. O que voc precisa fazer mirar uma parte do grupo um lder, um porta-voz, um membro importante do crculo interno. era assim que o ativista saul alinsky atacava corporaes e burocracias. em sua campanha da dcada de 1960, para acabar com a segregao no sistema de escolas pblicas de Chicago, ele se concentrou no superintendente das escolas, sabendo muito bem que este homem tentaria transferir a culpa para os nveis su- periores. ao golpear repetidas vezes o superintendente, ele conseguiu tornar pblico seu esforo e ficou impossvel para o homem esconder-se. No final, aqueles que estavam por trs dele tiveram de vir em seu auxlio, expondo-se nesse processo. Como alinsky, jamais mire um inimigo vago, abstrato. difcil convocar as emoes para combater uma batalha to livre do derramamento de sangue, que de qualquer forma deixa seu ini- migo invisvel. Personalize a luta, olho no olho. O perigo est por toda a parte. H sempre pessoas hostis e relaciona- mentos destrutivos. a nica maneira de sair de uma dinmica negativa enfrent-la. reprimir sua raiva, evitar a pessoa que o ameaa, sempre pro- curando conciliaes estas estratgias comuns significam a runa. evitar conflitos se torna um hbito, e voc perde o gosto pela batalha. sentir culpa no faz sentido; a culpa no sua se voc tem inimigos. sentir-se enganado ou na posio de vtima igualmente intil. em ambos os casos voc est olhando para dentro, concentrando-se em si mesmo e em seus sentimentos. em vez de internalizar uma situao ruim, externalize-a e enfrente seu inimigo. a nica sada. O psiclogo infantil Jean Piaget via o conflito como uma parte crtica do desenvolvimento mental. Por meio de batalhas com colegas e depois pais, as crianas aprendem a se adaptar ao mundo e desenvolver estrat- gias para lidar com problemas. as crianas que buscam evitar conflitos a qualquer custo ou aquelas com pais superprotetores acabam incapazes social e mentalmente. O mesmo vale para os adultos: atravs de suas ba- talhas com os outros que voc aprende o que funciona, o que no funcio- na e a se proteger. em vez de se encolher diante da ideia de ter inimigos, ento, aceite-os. Conflitos so teraputicos. inimigos trazem muitas ddivas. Por exemplo, eles o motivam e colo- cam em foco as suas crenas. O artista salvador Dal descobriu desde cedo que existiam muitas qualidades que ele no podia suportar nas pessoas: conformidade, romantismo, piedade. a cada estgio de sua vida, ele en- contrava algum que achava personificar estes anti-ideais um inimigo nos quais desabafar. Primeiro foi o poeta Federico garca Lorca, que es- crevia poesias romnticas; depois foi andr Breton, o lder abrutalhado do movimento surrealista. ter tais inimigos contra quem se rebelar fez com que Dal se sentisse seguro e inspirado. inimigos tambm lhe do um padro segundo o qual julgar a si mesmo, pessoal e socialmente. O samurai do Japo no tinha como afe- Escutar com frequncia minha senhora ler a Bblia pois ela costumava ler em voz alta na ausncia do marido logo despertou minha curiosidade por este mistrio da leitura e fez surgir em mim o desejo de aprender. No sentindo nenhum temor por minha boa senhora diante de meus olhos, (ela no me havia dado razo para temer) eu francamente lhe pedi para me ensinar a ler; e, sem hesitar, a querida mulher iniciou a tarefa, e no demorou muito, com sua ajuda, dominei o alfabeto e pude pronunciar palavras de trs ou quatro letras... Mestre Hugh ficou pasmo com a simplicidade de sua esposa e, provavelmente pela primeira vez, revelou-lhe a verdadeira filosofia da escravatura, e as regras peculiares que era necessrio que senhores e senhoras observassem na administrao de seus escravos. O senhor Auld prontamente proibiu o prosseguimento de sua instruo [de leitura], dizendo-lhe, em primeiro lugar, que a coisa em si era ilegal; que tambm no era seguro, e que s poderia levar a coisas ruins... A senhora Auld evidentemente sentiu a fora de suas observaes; e, como uma esposa obediente, comeou a moldar seu curso na direo indicada pelo marido. O efeito das palavras dele, em mim, no foi nem leve nem transitrio. Suas frases inflexveis frias e duras calaram
  32. 32. estratgia 1 35 rir sua excelncia a no ser combatendo os melhores espadachins; foi preciso Joe Frazier para fazer de Muhammad ali um verdadeiro grande lutador. Um adversrio difcil extrair de voc o que h de melhor. e quanto maior o adversrio, maior sua recompensa, mesmo na derrota. melhor perder para um adversrio de valor do que esmagar um ini- migo inofensivo qualquer. Voc conquistar simpatia e respeito, aumen- tando o apoio para sua prxima luta. ser atacado um sinal de que voc importante o suficiente para ser um alvo. Voc deveria sentir prazer na ateno e na chance de provar quem . todos ns temos impulsos agressivos que somos obrigados a reprimir; um inimigo lhe d uma vlvula de escape para estes impulsos. Finalmente voc tem algum sobre quem liberar sua agresso sem sentir culpa. Os lderes sempre acharam til ter um inimigo s portas em pocas de agitao, distraindo o pblico de suas dificuldades. ao usar seus ini- migos para organizar suas tropas, polarize-os at onde for possvel: eles combatero com mais ferocidade quando se sentirem um pouco odiados. Portanto exagere as diferenas entre voc e o inimigo trace as linhas claramente. Xenofonte no fez nenhum esforo para ser justo; ele no disse que os persas no eram realmente um bando to ruim e que tinham feito muito pelo progresso da civilizao. ele os chamava de brbaros, a anttese dos gregos. ele descrevia sua recente traio e dizia que eram uma cultura nociva que no tinha a simpatia dos deuses. e o mesmo acontece com voc: a vitria sua meta, no a justia e o equilbrio. Use a retrica da guerra para aumentar o interesse e estimular os nimos. O que voc precisa na guerra espao de manobra. Cantos aperta- dos significam morte. ter inimigos lhe d opes. Voc pode coloc-los uns contra os outros, fazer um amigo como uma forma de atacar o outro, repetidas vezes. sem inimigos, voc no saber como ou onde manobrar e perder a noo de seus limites, de at onde pode ir. Desde o incio, Jlio Csar identificou Pompeu como seu inimigo. Medindo suas aes e calculando cuidadosamente, ele fazia s o que o colocasse em uma sli- da posio em relao a Pompeu. Quando a guerra finalmente explodiu entre os dois, Csar estava em sua melhor forma. Mas depois de derrotar Pompeu e no ter mais rivais, ele perdeu toda a noo de medida na verdade, ele se imaginava um deus. Derrotar Pompeu foi seu erro. seus inimigos lhe impem uma noo de realismo e humildade. Lembre-se: h sempre pessoas ali que so mais agressivas, mais trai- oeiras, mais cruis do que voc, e inevitvel que algumas delas cruzem seu caminho. Voc ter uma tendncia a querer conciliar e se compro- meter com elas. a razo que esses tipos so com frequncia brilhantes impostores que veem o valor estratgico do charme e da aparncia de lhe permitirem bastante espao, mas na verdade os desejos deles no tm limites, e eles esto simplesmente tentando desarm-lo. Com certas pessoas voc tem de ser mais duro, reconhecer que no existe meio-ter- mo, nenhuma esperana de conciliao. Para seu adversrio, seu desejo de fazer concesses uma arma a ser usada contra voc. Conhea estes fundo em meu corao, e atiaram no apenas meus sentimentos em uma espcie de rebelio, mas despertaram dentro de mim uma srie de ideias vitais adormecidas. Foi uma nova e especial revelao, disseminando um mistrio doloroso, contra o qual minha jovial compreenso havia lutado, e lutado em vo, para perceber: o poder do homem branco de perpetuar a escravido do homem negro. Muito bem, pensei; o conhecimento incapacita uma criana para ser escrava. Instintivamente concordei com a proposio; e a partir daquele momento compreendi o caminho direto da escravido para a liberdade. Isso era exatamente o que eu precisava; e recebi a tempo, e de uma fonte, de onde menos esperava... Sbio como era, o senhor Auld evidentemente subestimou minha compreenso, e no teve ideia do uso que eu era capaz de fazer da importante lio que estava dando a sua mulher... Aquilo que ele mais amava eu mais odiava; e a prpria determinao que ele expressava para me manter na ignorncia apenas me tornava mais decidido a buscar a inteligncia. My Bondage and My freedoM, Frederick Douglass, 1818-1895
  33. 33. estratgia 136 perigosos inimigos pelo passado deles: procure achar rpidas tomadas de poder, sbitos aumentos de sorte, atos prvios de traio. assim que desconfiar que est lidando com um Napoleo, no deponha suas armas ou as confie a outra pessoa. Voc a ltima linha de sua prpria defesa. Autoridade: se voc conta com a segurana e no pensa no perigo, se voc no sabe o suficiente para estar atento quando chegarem os inimigos, como o pardal fazendo ninho em uma tenda, um peixe nadando em um caldeiro no duram um dia. Chuko Liang (181-234 d.C.) iNVersO sempre mantenha a busca e o uso de inimigos sob controle. de clareza que voc precisa, e no de paranoia. a decadncia de muitos tiranos ver em todos um inimigo. eles perdem a noo de realidade e se tornam irremediavelmente envoltos nas emoes que a paranoia deles agitam. De olho nos possveis inimigos, voc est simplesmente sendo prudente e cauteloso. guarde suas suspeitas para si mesmo, de modo que, se estiver errado, ningum fique sabendo. tambm, cuidado para no polarizar as pessoas to completamente que no possa recuar. Margaret thatcher, em geral brilhante no jogo de polarizao, acabou perdendo o controle: ela fez inimigos demais e continuou repetindo a mesma ttica, at em situaes que pediam recuo. Franklin Delano roosevelt foi um mestre polarizador, sempre procurando traar um limite entre ele mesmo e seus inimigos. Mas assim que deixava essa linha clara, ele recuava, o que o fazia parecer um conciliador, um homem de paz que ocasionalmente entrava em guerra. Mesmo que essa impresso fosse falsa, cri-la foi o auge da sabedoria. Imagem: a terra. O inimigo o cho sob seus ps. ele tem uma gravidade que o segura no lugar, uma fora de resistncia. Lance razes profundas nesta terra para conquistar firmeza e fora. sem um inimigo para pisar, sobre o qual caminhar, voc se desorienta e perde todo o senso de proporo.
  34. 34. 2 NO COMBata a gUerra QUe J PassOU a estratgia Da gUerriLHa MeNtaL Aquilo que com mais frequncia o desanima e o deixa in- feliz o passado, na forma de apegos desnecessrios, repe- ties de frmulas desgastadas e a lembrana de antigas vitrias e derrotas. Voc deve travar conscientemente uma batalha contra o passado e fazer um esforo para reagir ao momento presente. Seja implacvel com voc mesmo; no repita os mesmos mtodos esgotados. s vezes voc precisa se obrigar a partir em novas direes, mesmo se elas envolve- rem riscos. O que voc talvez perca em conforto e segurana, ganhar em surpresa, deixando seus inimigos sem saber o que voc vai fazer. Trave uma guerrilha mentalmente, no aceitando linhas estticas de defesa, nenhuma cidadela exposta torne tudo fluido e mvel.
  35. 35. estratgia 238 a LtiMa gUerra Ningum subiu ao poder mais rpido do que Napoleo Bonaparte (1769- 1821). em 1793, ele foi de capito no exrcito revolucionrio francs a general de brigada. em 1796, tornou-se lder da fora francesa na itlia combatendo os austracos, a quem esmagou naquele ano e de novo trs anos depois. ele foi o primeiro cnsul da Frana em 1801, imperador em 1804. em 1805, humilhou os exrcitos austraco e russo na Batalha de austerlitz. Para muitos, Napoleo foi mais do que um grande general; foi um gnio, um deus da guerra. Nem todos se impressionaram, entretanto: houve generais prussianos que pensavam que ele tinha tido sorte, apenas. Quando Napoleo era duro e agressivo, eles acreditavam, seus adversrios tinham sido tmidos e fracos. se tivesse enfrentado os prussianos, teria se revelado uma grande fraude. entre estes generais prussianos, estava Friedrich Ludwig, prncipe de Hohenlohe-ingelfingen (1746-1818). Hohenlohe era de uma das famlias aristocratas mais antigas da alemanha, com um ilustre registro militar. ele havia comeado sua carreira cedo, servindo sob Frederico, o grande (1712-86), o homem que havia sozinho transformado a Prssia em uma grande potncia. Hohenlohe subira na hierarquia, tornando-se general aos cinquenta anos jovem pelos padres prussianos. Para Hohenlohe, o sucesso na guerra dependia de organizao, disciplina e do uso de estratgias superiores desenvolvidas por mentes militares treinadas. Os prussianos eram exemplo de todas estas virtudes. Os soldados prussianos exercitavam-se incansavelmente at poderem executar manobras complicadas com a preciso de uma mquina. Os generais prussianos estudavam intensamente as vitrias de Frederico, o grande; guerra para eles era uma questo matemtica, a aplicao de princpios eternos. Para os generais, Napoleo era um corso de cabea quente liderando um exrcito de cidados indisciplinados. superiores em conhecimento e habilidade, eles o superariam em estratgia. Os fran- ceses entrariam em pnico e se desmontariam diante dos disciplinados prussianos; o mito napolenico estaria arruinado, e a europa voltaria a seus velhos modos. em agosto de 1806, Hohenlohe e seus companheiros generais final- mente tiveram o que queriam: o rei Frederico guilherme iii, da Prssia, cansado das promessas no cumpridas de Napoleo, decidiu declarar guerra em seis semanas. Nesse meio-tempo, ele pediu que os generais armassem um plano para esmagar os franceses. Hohenlohe ficou extasiado. esta campanha seria o clmax de sua carreira. Havia anos que ele pensava em uma forma de derrotar Napo- leo e apresentou seu plano na primeira sesso de estratgia dos gene- rais: marchas precisas colocariam o exrcito no ngulo perfeito de onde atacar os franceses quando avanassem pelo sul da Prssia. Um ataque em formao oblqua a ttica preferida de Frederico, o grande des- A teoria no pode equipar voc com frmulas para solucionar problemas, nem pode marcar o estreito caminho no qual a nica soluo deve ser mentir plantando uma barreira de princpios dos dois lados. Mas ela pode dar mente uma percepo para a grande quantidade de fenmenos e de seus relacionamentos, ento deixe-a livre para alar- se s esferas superiores de ao. Ali a mente pode usar seus talentos inatos ao mximo, combinando-os todos de modo a compreender o que certo e verdadeiro como se esta fosse a nica ideia formada por sua presso concentrada como se fosse uma reao ao desafio imediato em vez de um produto do pensamento. da gUerra, Carl von Clausewitz, 1780-1831
  36. 36. estratgia 2 39 carregaria um golpe devastador. Os outros generais, todos com seus ses- senta e setenta anos, apresentaram seus prprios planos, mas estes no passavam de variantes das tticas de Frederico, o grande. a discusso virou debate; vrias semanas se passaram. Finalmente o rei teve de in- tervir e criar uma estratgia conciliadora que deixaria satisfeitos todos os seus generais. Uma sensao de exuberncia tomou conta do pas, que em breve re- viveria os anos gloriosos de Frederico, o grande. Os generais perceberam que Napoleo sabia de seus planos ele tinha excelentes espies mas os prussianos estavam em vantagem, e assim que sua mquina de guerra comeasse a se mover, nada poderia par-la. em 5 de outubro, dias antes de o rei declarar guerra, notcias per- turbadoras chegaram at os generais. Uma misso de reconhecimento revelara que divises do exrcito de Napoleo, que eles tinham acredi- tado estar disperso, haviam marchado para o leste, fundindo-se