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A HEGEMONIZAÇÃO DA COAMO NO CAMPO E NA CIDADE Naiane Rosa, (IC, Bolsa Fecilcam), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] Gisele Ramos Onofre, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] João Marcos Borges Avelar, (CO-OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] RESUMO: No âmbito acadêmico, a pesquisa é fundamental, por meio da qual compreendemos que as relações que se desenvolvem na economia capitalista, são fruto do contexto histórico que fundamentam a organização e atuação da maior cooperativa da América Latina: a Coamo Agroindustrial Ltda. Portanto, considerando essa realidade tivemos como objetivo analisar teoricamente os conceitos geográficos que representam em termos de uma perspectiva crítica, uma discussão dos princípios ideológicos que norteiam a lógica tanto do movimento cooperativista como do agronegócio paranaense. Assim, essa análise, consistiu inicialmente por meio de uma reflexão que se estruturou embasada nas problemáticas conceituais, de tal modo, possibilitando a compreensão genérica da sociedade cooperativa e seus reflexos no espaço geográfico, no qual se desenvolve a interação e conexão campo x cidade. Enfim, foram os dados bibliográficos juntamente com os dados geo-históricos levantados e organizados por meio da pesquisa de campo que contribuíram na constituição analítica de um mosaico estruturante da caracterização da atuação dessa cooperativa, demonstrando os fatores hegemônicos do modo de produção capitalista e suas contradições representadas na nova moldagem do cooperativismo. Palavras-chave: Geografia Agrária. Conceitos geográficos. Agronegócio. INTRODUÇÃO No estudo das cooperativas, com base no seu ideário e trajetória de criação inicial, analisamos que estas estruturas, possuíam inicialmente uma composição social nas quais, objetivavam a distribuição de bens e rendas de forma igualitária. Portanto, a totalidade no decorrer do processo produtivo seria beneficiada, contribuindo para a redução da precarização do mercado do trabalho. Todavia, no decorrer do contexto geo-histórico, a dinâmica do Cooperativismo foi se modificando, ganhando novas formas e concepções, se estruturando e se moldando ao modo de produção capitalista. Na análise dessas transformações, foi possível entender o processo de dependência do campo e cidade, na produção da agricultura capitalista. Portanto, cumpre considerar esses fatores para o desenvolvimento da pesquisa que teve como objetivo analisar a produção de novos territórios capitalistas, assim como entender a conexão campo x cidade visualizada por meio da atuação da Coamo - Agroindustrial Ltda. Para tanto, a caracterização geográfica, possibilitou a apreciação da trajetória dessa cooperativa, assim como de sua apropriação em termos estruturantes que passou a atender as necessidades de reprodução, acumulação e circulação do capital. Também, a leitura, discussão em grupo e fichamento de diversos referenciais como Oliveira (1987, 1991, 1994, 1999, 2002, 2007) Ávila (2002), Costa (1997), Fleury (1983), Lakatos (1995) entre outros, contribuíram para indicar

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A HEGEMONIZAÇÃO DA COAMO NO CAMPO E NA CIDADE

Naiane Rosa, (IC, Bolsa Fecilcam), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]

Gisele Ramos Onofre, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] João Marcos Borges Avelar, (CO-OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]

RESUMO: No âmbito acadêmico, a pesquisa é fundamental, por meio da qual compreendemos que as relações que se desenvolvem na economia capitalista, são fruto do contexto histórico que fundamentam a organização e atuação da maior cooperativa da América Latina: a Coamo Agroindustrial Ltda. Portanto, considerando essa realidade tivemos como objetivo analisar teoricamente os conceitos geográficos que representam em termos de uma perspectiva crítica, uma discussão dos princípios ideológicos que norteiam a lógica tanto do movimento cooperativista como do agronegócio paranaense. Assim, essa análise, consistiu inicialmente por meio de uma reflexão que se estruturou embasada nas problemáticas conceituais, de tal modo, possibilitando a compreensão genérica da sociedade cooperativa e seus reflexos no espaço geográfico, no qual se desenvolve a interação e conexão campo x cidade. Enfim, foram os dados bibliográficos juntamente com os dados geo-históricos levantados e organizados por meio da pesquisa de campo que contribuíram na constituição analítica de um mosaico estruturante da caracterização da atuação dessa cooperativa, demonstrando os fatores hegemônicos do modo de produção capitalista e suas contradições representadas na nova moldagem do cooperativismo. Palavras-chave: Geografia Agrária. Conceitos geográficos. Agronegócio. INTRODUÇÃO

No estudo das cooperativas, com base no seu ideário e trajetória de criação inicial, analisamos

que estas estruturas, possuíam inicialmente uma composição social nas quais, objetivavam a

distribuição de bens e rendas de forma igualitária. Portanto, a totalidade no decorrer do processo

produtivo seria beneficiada, contribuindo para a redução da precarização do mercado do trabalho.

Todavia, no decorrer do contexto geo-histórico, a dinâmica do Cooperativismo foi se

modificando, ganhando novas formas e concepções, se estruturando e se moldando ao modo de

produção capitalista. Na análise dessas transformações, foi possível entender o processo de

dependência do campo e cidade, na produção da agricultura capitalista. Portanto, cumpre considerar

esses fatores para o desenvolvimento da pesquisa que teve como objetivo analisar a produção de novos

territórios capitalistas, assim como entender a conexão campo x cidade visualizada por meio da

atuação da Coamo - Agroindustrial Ltda.

Para tanto, a caracterização geográfica, possibilitou a apreciação da trajetória dessa

cooperativa, assim como de sua apropriação em termos estruturantes que passou a atender as

necessidades de reprodução, acumulação e circulação do capital. Também, a leitura, discussão em

grupo e fichamento de diversos referenciais como Oliveira (1987, 1991, 1994, 1999, 2002, 2007)

Ávila (2002), Costa (1997), Fleury (1983), Lakatos (1995) entre outros, contribuíram para indicar

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quais são os principais fatores hegemônicos que determinam a atuação da Coamo. Com base nesses

referenciais teóricos, tivemos a compreensão da temática, sendo possível analisar o movimento

cooperativista e suas distintas relações de desenvolvimento e atuação no âmbito do capitalismo.

Conseqüentemente, verificamos que na problematização da produção territorial dessa

cooperativa, os fatores organizativos foram responsáveis pela estruturação do campo e produção

agrícola, sendo a organização institucionalizada por meio de legislação específica (LEI Nº 5.764, de

16 de dezembro de 1971). Na adequação a lei, a Coamo conseguiu se definir como maior cooperativa

em termos de capital da América Latina.

Cumpre considerar que além de desenvolver o estudo bibliográfico, também realizamos a pesquisa

de campo e coleta de dados por meio de entrevistas que foram aplicados aos agricultores e cooperados.

Assim clarificamos os conceitos teóricos, representados categoricamente pela própria atuação

cooperativista. O objetivo da seleção de entrevistados, e manipulação de variáveis independentes, teve

a finalidade de controlar ao máximo os fatores pertinentes, para a compreensão de aspectos da

sociedade. Portanto, a objetividade das entrevistas com os agricultores e cooperados foi alcançada,

pelas quais obtivemos informações sobre os fatores que envolvem o processo de formação da

cooperativa e o relacionamento desta com seus cooperados.

Além das entrevistas, dados que caracterizam a dinâmica da atividade agrícola foram

levantados e analisados, incluindo os dos recenseamentos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística, dos arquivos das prefeituras dos municípios que formam a área em estudo, do INCRA –

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, e de outros órgãos públicos e privados.

Levantamento cartográfico, análise de tabelas e gráficos foram instrumentos auxiliares utilizados para

retratar a dinâmica social, temporal e espacial da cooperativa.

Com base nessa estrutura, estaremos abordando ao longo deste trabalho a discussão do

Cooperativismo, em termos de estrutura, geração de rendas, de desenvolvimento e produção espacial,

enfatizando as desigualdades e contradições que o capitalismo abarca quando tratamos das questões de

produção agropecuária. Também, buscamos compreender o posicionamento de seus sócios e

cooperados quanto ao entendimento dessa cooperativa em termos de ajuda técnica e suporte, de

auxilio a produção.

Enfim, esse estudo segue a lógica de compreensão do movimento cooperativista e sua

organização no sistema capitalista, representando um alicerce para o entendimento categórico que

envolve as definições de campo x cidade no pensamento dos autores de Geografia Agrária. Logo, a

hegemonização da Coamo no campo e na cidade explica a tríade capital/trabalho/cooperativismo de

entendimento do próprio movimento do capitalismo e da intensificação do capital no campo.

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O CONTEXTO DE ORGANIZAÇÃO SOCIO ESPACIAL DA COOPERATIVA COAMO

A Contextualização da Coamo se insere no palco de desenvolvimento do modelo do

capitalismo e sua apropriação do cooperativismo, assim como em todas as escalas geográficas

(internacional, nacional, estadual, regional e local). Em particular, no estado do Paraná, o

cooperativismo teve suas origens nas comunidades de imigrantes europeus, que buscavam estabelecer

suas estruturas de compra e venda em comum, além de suprir as ausências de educação e lazer, por

meio de sociedades cooperativistas. Segundo as informações verificadas na Coamo (2014):

Um dos primeiros movimentos marcados pela cooperação surgiu no ano de 1829, com a chegada do primeiro grupo de 248 imigrantes alemães que fundaram a Colônia Rio Negro, hoje município. Diversos movimentos embasados no espírito da cooperação surgiram até 1911, entre alguns dos mais de cem grupos de imigrantes aqui chegados. Todavia, o mais importante movimento pré-cooperativista ocorreu entre os franceses que, em 1847 fundaram a Colônia Thereza Cristina às margens do Rio Ivaí, hoje município de Cândido de Abreu. Os imigrantes liderados por Jean Maurice Faivre desencadearam um movimento cooperativista sob inspiração do médico Benoit Joseph Mure, fundador da Vila da Glória em Santa Catarina. (COAMO, 2014)

Após a década de 1930, a imigração aumenta no Paraná criando novas organizações

cooperativas para prover a falta de infraestrutura e a falta de apoio governamental às colônias na

região de Campos Gerais. Nesse sentido, em acordo com as informações do Ipardes1 (1974, p.II/8):

As cooperativas tiveram, efetivamente, um papel de destaque desde a implantação das colônias, assumindo, inclusive, parte significativa das incumbências do poder público. Atuaram como intermediárias entre os agricultores imigrantes, as autoridades e os estabelecimentos de crédito. Colaboraram no planejamento e organização das colônias, na criação de, assistência técnica à produção, promoção do ensino, assistência médica e hospitalar. (IPARDES, 1974, p. II/8).

Embora o Paraná tenha relatos de experiências com cooperativas agrícolas antes de 1950,

Ricken (2009, p.49) diz que “o crescimento e consolidação das organizações cooperativas está

intimamente ligado aos fluxos migratórios e às experiências que grupos de imigrantes tiveram em seus

países de origem, mais tarde aplicadas aqui”. Esse autor considera ainda que a história das

cooperativas paranaenses foi construída ao longo dos diversos ciclos econômicos do estado do Paraná:

madeira, erva-mate, café, algodão, trigo-soja, leite, e mais recentemente carnes, agroindústria e

exportação. Nesse sentido, de avaliação migratória, de acordo com Setti (2006):

No início, embora algumas cooperativas, notadamente as que tiveram origem em grupos de imigrantes, fossem sólidas, muitas eram incipientes. Pequenas

1 Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.

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cooperativas muitas vezes, atuando em áreas comuns com outras, formavam um ambiente de competição e hostil no final dos anos 60 e início dos anos 70. (SETTI, 2006, p. 69).

Pelo pensamento de Setti (2006) verificamos que, assim, o cooperativismo foi se consolidando

no Paraná, sendo que o seu mérito veio do fato de ser um movimento comunitário de base, calcado nos

dons inatos do homem, de solidariedade, fraternidade e respeito recíproco. No caso da região de

Campo Mourão, essa contou com o auxílio dessa cooperativa para a implementação do capital no

campo, ou seja, adesão ao modelo produtivo de soja, trigo e milho.

Em entrevista com agricultores regionais, percebemos que todos consideram a importância da

Coamo, apesar de argumentarem sobre o distanciamento dessa organização dos princípios do

cooperativismo2. Todavia, todos os entrevistados consideram que o cooperativismo possui uma

formação democraticamente em sociedades, que buscam satisfazer necessidades comuns, por meio da

cooperação e da mutualidade, procurando o aperfeiçoamento social.

Diante das informações averiguadas, consideramos que conhecer as transformações que se

estabelecem e influenciam na dinâmica social da cooperativa Coamo e na vida dos agricultores e

cooperados, na formação de novos territórios no contexto do Capitalismo é fundamental para nós

estudiosos. Assim, compreendemos um pouco desse contexto que esta a nossa volta, e que por

consequência, influencia na estrutura social da cidade e de seus habitantes.

A COAMO EM SUA FORMAÇÃO TERRITORIAL

Logo, definido, a Coamo como objeto, as categorias analíticas tempo e espaço embasam o

conhecimento e delimitação da problemática. Para tanto apresentaremos a história da Coamo.

A Coamo foi denominada a princípio de Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda. Teve

sua fundação no dia 28 de novembro de 1970, por 79 agricultores, sendo que a partir de 2003, a

denominação social passou para Coamo Agroindustrial Cooperativa.(COAMO, 2014). Sua sede está

instalada na cidade de Campo Mourão, atuando no acompanhamento da produção dos seus

cooperados, na prestação de assistência técnica e no oferecimento de suporte desde o planejamento do

plantio até a comercialização da safra, além de oferecer cursos, treinamentos e encontros para os

cooperados, conforme podemos visualizar sua fachada na imagem 01.

2Foram entrevistados em torno de 30 agricultores: sendo 10 agricultores entrevistados para cada categoria produtiva (pequena, média e grande)

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Imagem 01 – Atual sede da COAMO, localizada na cidade de Campo Mourão/PR. Fonte: COAMO, 2014.

Com base nos dados financeiros e econômicos da Coamo Agroindustrial Cooperativa, essa obteve

uma receita global recorde de R$ 8,175 bilhões em 2013, 14,3% maior que a de 2012. Dessa forma, a

cooperativa com sede em Campo Mourão distribuiu entre os 26.276 associados às sobras de R$ 519,7

milhões. (JORNAL DA COAMO, 2014)

Essa cooperativa ocupou o 33º lugar entre as exportadoras brasileiras em 2013. Foram embarcadas

ao exterior 2,56 milhões de toneladas de produtos agrícolas industrializados e in natura, o equivalente a US$

1,21 bilhão. Neste mesmo período, a cooperativa processou 1,53 milhões de toneladas de soja, 58,77 mil

toneladas de trigo, 2,86 mil toneladas de café beneficiado e 10,03 mil toneladas de algodão em pluma.

(COAMO, 2014)

Os investimentos em recebimento, armazenagem e atendimento aos cooperados somaram US$

318,86 milhões no ano passado. Enquanto que as despesas com impostos, taxas e recolhimentos atingiram

R$ 269,25 milhões, números esses que indicam um resultado positivo em 2013, no qual se alcançaram bons

preços e ritmo nas vendas. (COAMO, 2014). Com

recebimento de 6,80 milhões de toneladas de produtos agrícolas, a Coamo respondeu, em 2013, por

3,6% da produção brasileira de grãos e fibras, demonstrando sua importância estratégica na produção

de alimentos tanto no âmbito nacional como no internacional. (COAMO, 2014).

Por ser considerada uma das maiores cooperativas, tem influenciado de maneira significativa

os agricultores e o desenvolvimento do setor econômico da região de Campo Mourão, gerando

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emprego e renda. Cabe salientar que apesar de sua infraestrutura, segundo Ávila (2002, p. 100), a

Coamo:

No transcorrer de sua evolução histórica, acompanhando todas as vicissitudes da política econômica do país e do exterior [...] estruturou-se como uma mega empresa capitalista distanciando-se do dogma do cooperativismo. Como empresa capitalista o seu principal objetivo é obter lucro em seus empreendimentos, proporcionando uma boa remuneração para a produção de seus associados.

Percebemos na análise de Ávila, que a Coamo tem se distanciado dos ideais do

Cooperativismo propostos ao longo da história. Fato esse que se refere a organização da sociedade que

esta centrada nos moldes capitalistas, e que de forma geral é o norte para a ampliação e concentração

de capitais no seio das cooperativas. Por fim, consideramos na analise dessa cooperativa, a lógica de

compreensão do movimento cooperativista e sua organização no sistema capitalista. Dessa maneira,

essa pesquisa representa um alicerce para o entendimento categórico que envolve as definições de

campo x cidade no pensamento dos autores de Geografia Agrária.

A GEOGRAFIA AGRÁRIA E O ESTUDO DA COAMO NO MOVIMENTO DO COOPERATIVISMO RURAL

A hegemonização da Coamo no campo e na cidade explica a tríade

capital/trabalho/cooperativismo de entendimento do próprio movimento do capitalismo e da

intensificação do capital no campo, assim como, do movimento do cooperativismo e sua inserção no

capitalismo.

Alguns pressupostos se mostraram centrais para o desenvolvimento da pesquisa, dessa

maneira, e com referência ao tema escolhido percebemos sua estrita relação com o conteúdo específico

da Geografia Agrária. Além disso, esse tema apresenta grande importância para a organização do

espaço geográfico nacional, bem como a formação de territórios e redes, se estendendo pela produção

de conhecimentos e o crescimento intelectual do pesquisador.

Para tanto, nessa discussão apresentamos o eixo da materialidade concreta do objeto

científico, ou seja, da existência infra estrutural da Coamo, que possui uma área de atuação em três

Estados brasileiros (Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul). Sua área espacial está em constante

desenvolvimento, interferindo direta ou indiretamente nesses estados, por meio, sobretudo da difusão

de seus produtos em todo território brasileiro e internacional. Segundo dados do

jornal Coamo (2014), a Cooperativa está presente em 60 municípios do Paraná, Santa Catarina e Mato

Grosso do Sul e beneficia mais de 100 mil pessoas entre cooperados, familiares e a comunidade.

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Assim como podemos observar na figura ilustrativa, que demonstra sua dimensão espacial e área de

atuação. (JORNAL DA COAMO, 2014).

Imagem 02–A representação apresenta os estados de atuação da cooperativa COAMO. Fonte: COAMO, 2014.

Além disso, os interesses da Coamo estão voltados para o crescimento econômico, produzindo

uma hegemonização no espaço geográfico. Essa hegemonização faz com que o campo e a cidade se

tornem cada vez mais vinculados entre si. Logo, esse trabalho auxilia na compreensão sobre o

movimento do cooperativismo, bem como, no que diz respeito à intensificação do Capital nas

unidades de Cooperativas, especificamente na organização estrutural da Coamo.

Também na obtenção de informações para o conhecimento científico dessas particularidades,

verificamos a complexidade produzida pelo modo de produção capitalista na estrutura hegemônica da

Coamo, por meio da associação cooperativa. Assim, percebemos que a incorporação na sociedade

cooperativista, inseriu no decorrer do tempo a necessidade de acumulação, reprodução e circulação de

mercadorias, sendo um elemento dominante que produz mudanças nas relações do espaço geográfico

e, que, consequentemente modificaram a dinâmica estrutural existente até então do modelo

cooperativista.

A partir dessas premissas, que se expressam na incorporação capitalista da Coamo, do campo

em interação com a cidade, foram produzidos novos espaços. Nessa nova realidade, verificamos uma

estrutura que se desenvolveu no decorrer da história da Coamo, que se constituiu como a maior

representação agrícola cooperativista da América Latina. Diante desse fato, de mudança dos ideais

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cooperativos, nos deparamos com alguns problemas que merecem atenção e estudos mais

aprofundados.

Deste modo, essa análise sobre a hegemonização da Coamo, agrupou novas definições aos

elementos categóricos da organização cooperativista. Consequentemente os conceitos de campo e

cidade foram analisados a partir da faceta capitalista de transformação das relações organizativas, que

conduziu a uma transformação do cooperativismo que passou de um movimento voltado a resolução

de problemas sociais para se tornar em agente dinamizador da intensificação, acumulação e

reprodução do capital no campo.

Nesse sentido, analisamos que no caso específico a organização, estruturação e

hegemonização do espaço geográfico pela Coamo é um campo de observação e análise de estrutura

complexa por causa de suas contradições, entre princípios, ideologia e materialidade. Segundo Milton

Santos (2002), a geografia vem estabelecendo e desenvolvendo seu conhecimento, baseado em

relações espaciais construídas e organizadas pelo e para o próprio homem. Entretanto, o homem,

atualmente esta priorizando a reprodução do capital em detrimento das necessidades sociais.

Os fatores relacionados ao desenvolvimento capitalista no seio das atividades cooperativistas

denotam que esse estudo por agregar uma análise geográfica pautada, sobretudo, nas relações sociais,

significa um rompimento dos padrões tradicionais de estudos sobre o cooperativismo rural. Dos

estudos, o que verificamos foi que justamente a maior parte, não possui a objetividade de contribuir na

organização espacial da sociedade.

Contudo, de um modo geral, buscamos uma compreensão dos fatores hegemônicos que no

transcorrer do tempo determinam a complexidade e a realidade contraditória criada pelo capital. Fato,

averiguado em toda a estrutura socioeconômica e política do campo brasileiro, porque a cooperativa é

parte integrante do processo produtivo, que é regido pelo modo de produção Capitalista.

DEFINIÇÕES CONCEITUAIS GEOGRÁFICAS PARA O ENTENDIMENTO DO COOPERATIVISMO

Discutir os conceitos de espaço geográfico, território e territorialização a partir dos dados geo-

históricos do movimento cooperativista, sobretudo, embasados na análise materialista verificada na

organização da Coamo, se faz primordial para a compreensão do desenvolvimento socioeconômico,

bem como para a contextualização e caracterização geográfica do movimento cooperativista. Com

base nessa discussão, analisamos o movimento contínuo e interagente entre o campo e a cidade,

especificamente no que tange as relações desencadeadas no âmbito do agronegócio paranaense.

Assim, analisamos alguns dados básicos pertinentes a sua organização, bem como sua estrutura

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vigente, revelando uma atuação em moldes de crescimento e desenvolvimento da produtividade e do

capital.

Na análise dos elementos que envolvem a caracterização geográfica da Coamo, foi importante

a escolha do método. Para tanto, seguimos a Perspectiva Dialética Materialista Histórica, porque a

dialética permite pensar a realidade cooperativista, viabilizando no cerne do pensamento uma análise

das múltiplas faces subjetivas e objetivas da materialidade do objeto.

Em Marx (1971), o conceito de método é uma visão inovadora, entendida como um

instrumento de mediação entre o homem que quer conhecer e o objeto desconhecido, como parte do

real a ser investigado. O conhecimento é o resultado da construção efetuada pelo pensamento e suas

operações, que consiste na representação mental do concreto, da parcela real, exterior ao pensamento

conhecedor. Esta representação mental é elaborada a partir da percepção e intuição, transposição de

algo da realidade para o pensamento. O significado dessa concepção está justamente na apreensão de

algo exterior ao intelecto ou pensamento, o que é apreendido e incorporado ao pensamento, se faz o

conhecimento. Deste modo, a escolha do método foi fundamental, uma vez que este abarca vários

fatores que revelam um entendimento totalizante do objeto em estudo, servindo como principio de

ligação entre o entendimento prévio que o pesquisador tinha sobre sua pesquisa, e para que esse possa

identificar novos fatores e questionamentos em sua investigação.

Posteriormente, esse passa a analisar os vários elementos que integram a dinâmica social,

obtendo resultados concretos que auxiliam no conhecimento de seus estudos, assim como em

contribuições para a sociedade. Para tanto, no entendimento do cooperativismo, seguindo o

emaranhamento das informações que se expressam nas relações do capitalismo e, que são

contraditórias ao seu desenvolvimento, como seria o caso do cooperativismo, a análise crítica deve ter

como base para o entendimento geográfico as artimanhas que se vinculam ao modelo do agronegócio

brasileiro e sua influencia na comercialização das cooperativas.

Segundo Oliveira (1999) “o agronegócio tomou conta e transformou uma série de relações de

comercialização entre campo x cidade num negócio rentável para a agricultura”. Portanto, o

pensamento de Oliveira sobre o Agronegócio, expressa que alguns fatores servem como reflexão sobre

as transformações averiguadas no movimento cooperativista, consequentemente, auxilia no

levantamento das contradições existentes nas relações produtivas e evidenciando os interesses

econômicos, sociais e ideológicos presentes entre movimento cooperativista/

cooperativas/agronegócio.

Nessa tríade conceitual se verifica a própria dinâmica do espaço geográfico, demonstrando a

mobilidade das relações campo x cidade. Todavia, mesmo que a tríade analítica parta de conceitos

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pré-estipulados historicamente, a primeira fase, da análise do presente estudo foi desenvolvida a partir

da realidade, do concreto.

Nesse processo, consideramos a realidade concreta como uma síntese das múltiplas

determinações existentes independentemente do pensamento. Assim, com base nessas premissas,

analisamos o contexto histórico da cooperativa a partir das relações sociais que esta vem

estabelecendo ao longo do tempo, além de suas sucessivas transformações por causa do contexto do

capitalismo, no qual permeiam os ideais de industrialização e comercialização de mercadorias.

Portanto, consideramos o entendimento articulado das relações em abordagem a partir da

definição dos conceitos de espaço geográfico, território e territorialização. Enfim, afirmamos que esses

conceitos permitem pensar e entender a hegemonização dessa cooperativa, nas diferentes fases que

sucedem no decorrer de sua organização espacial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na pesquisa analisamos a dinâmica estrutural da hegemonização da Coamo, assim como sua

organização, e sua relação com os agricultores e cooperados. Para tanto, evidenciamos que essa

dinâmica se concentra na interação campo/cidade no contexto do Capitalismo, levando em conta as

diversas transformações na qual estão inseridos os agricultores e sociedade.

Diante desses fatos, consideramos que o processo de transformação do cooperativismo é

resultante das transformações e dos padrões que o capitalismo impõe sobre a face do desenvolvimento

e crescimento econômico do agropecuarismo, que assim constantemente se transforma.

Nesse viés avaliamos como fatores relevantes para a compreensão geográfica da realidade, a

produção de novos territórios a partir da acumulação de capital agregado pela Coamo. Essa associação

representa um agente dinamizador econômico, que se expande tanto verticalmente como

horizontalmente - que gera uma grande dependência e interação do campo com a cidade. Portanto, a

Coamo, tem como necessidade de estar constantemente intensificando sua produção, estabelecendo

como fonte geradora de rendas, que tem grande influência na sociedade.

Essa empresa contribuiu para a expansão da cidade, assim como contribui na industrialização,

comercialização e circulação de mercadorias. No entanto, quando se trata de agricultura camponesa,

todos os agricultores são considerados como iguais em competitividade de mercado. E, já se tratando

do modo de produção capitalista, o mercado domina a vida social e seu comportamento em

comunidade cooperativa, consequentemente, os agricultores têm que obedecer aos padrões impostos

pelo poder. Destarte, destacamos nesse particular que os camponeses perdem sua autonomia, e seus

objetivos se centram agora na organização na qual estão inseridos. Nesse sentido, a própria da história

do capitalismo e sua apropriação em termos da atividade cooperativa que busca seu desenvolvimento,

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se estabelecem como fatores que retratam a dinâmica da agricultura, onde é visível a modernização

dessa estrutura. Sabemos que esta tem suas bases estabelecidas no uso de maquinários modernos,

insumos e implementos agrícolas.

Esses recursos consolidaram a aplicação e uso de técnicas inovadoras a uma produção com

mais qualidade e rentabilidade. De tal modo, expressamos que os pequenos agricultores são

desprovidos dos meios de produção, buscando nas cooperativas o apoio técnico que supra os novos

rumos de sua produção, bem como sua necessidade de se organizar. Além disso, observamos que a

produção esta voltada aos parâmetros de dinamismo econômico do capitalismo. Assim, no contexto

das cooperativas, os pequenos agricultores buscam acompanhar esse segmento em sua organização

social, tendo que obedecer aos preços impostos pelo mercado produtivo. Em muitos casos estes

acabam se endividando, uma vez que sua produção esta relacionado aos investimentos por eles

realizados. Também, constatamos em outros casos que aconteceram perdas na safra por causa das

alterações climáticas, ou mesmo crises econômicas que alteram o preço desses alimentos, fator esse

que influenciou, sobretudo, na economia do pequeno agricultor. Logo, esses fatores evidenciaram a

realidade de apropriação das cooperativas em termos do detrimento social e produção de rendas.

Todavia, destacamos a grande discrepância em questões de capital e de recursos que viabilizam a

produção de novos territórios, interação e dependência da cidade e do campo. Cumpre considerar,

portanto, que o contexto vivido pelo pequeno agricultor, sobretudo no seu posicionamento no

mercado, passa por dificuldades, em particular, levando em conta sua expressão na produção

alimentícia dentro do mercado consumidor, assim como sua representação no cooperativismo.

Não obstante, aos fatores relatados, evidenciamos que a interação cooperativista pelos

agricultores se constitui como uma contradição imposta pelo contexto do Capitalismo. Dessa maneira,

repensamos a atuação dos agricultores cooperados no cenário de transformações por quais se sucedem

a produção de alimentos e produtos que chegam a nossa mesa, uma vez que a estrutura social é um

constante dinamismo entre os vários setores que se relacionam e regulam o sistema econômico

mundial e sua influencia no espaço agrário.

REFERÊNCIAS:

ÁVILA, Jader Libório de. A COAMO e o desenvolvimento geoeconômico da região de Campo Mourão. 2002. 215 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-graduação em Geografia, UEM. Maringá: UEM/DGR, 2002.

COAMO - Agroindustrial Cooperativa. Disponível em: http://www.coamo.com.br. Acesso: Julho, 2014.

COSTA, Wanderley Messias da; MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia Crítica: a valorização do espaço. 2. ed. São Paulo: Hucitec,1987.

IX EPCT – Encontro de Produção Científica e Tecnológica Campo Mourão, 27 a 31 de Outubro de 2014

ISSN 1981-6480

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