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A HEGEMONIZAÇÃO DA COAMO NO CAMPO E NA CIDADE
Naiane Rosa, (IC, Bolsa Fecilcam), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]
Gisele Ramos Onofre, (OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected] João Marcos Borges Avelar, (CO-OR), Unespar – Câmpus de Campo Mourão, [email protected]
RESUMO: No âmbito acadêmico, a pesquisa é fundamental, por meio da qual compreendemos que as relações que se desenvolvem na economia capitalista, são fruto do contexto histórico que fundamentam a organização e atuação da maior cooperativa da América Latina: a Coamo Agroindustrial Ltda. Portanto, considerando essa realidade tivemos como objetivo analisar teoricamente os conceitos geográficos que representam em termos de uma perspectiva crítica, uma discussão dos princípios ideológicos que norteiam a lógica tanto do movimento cooperativista como do agronegócio paranaense. Assim, essa análise, consistiu inicialmente por meio de uma reflexão que se estruturou embasada nas problemáticas conceituais, de tal modo, possibilitando a compreensão genérica da sociedade cooperativa e seus reflexos no espaço geográfico, no qual se desenvolve a interação e conexão campo x cidade. Enfim, foram os dados bibliográficos juntamente com os dados geo-históricos levantados e organizados por meio da pesquisa de campo que contribuíram na constituição analítica de um mosaico estruturante da caracterização da atuação dessa cooperativa, demonstrando os fatores hegemônicos do modo de produção capitalista e suas contradições representadas na nova moldagem do cooperativismo. Palavras-chave: Geografia Agrária. Conceitos geográficos. Agronegócio. INTRODUÇÃO
No estudo das cooperativas, com base no seu ideário e trajetória de criação inicial, analisamos
que estas estruturas, possuíam inicialmente uma composição social nas quais, objetivavam a
distribuição de bens e rendas de forma igualitária. Portanto, a totalidade no decorrer do processo
produtivo seria beneficiada, contribuindo para a redução da precarização do mercado do trabalho.
Todavia, no decorrer do contexto geo-histórico, a dinâmica do Cooperativismo foi se
modificando, ganhando novas formas e concepções, se estruturando e se moldando ao modo de
produção capitalista. Na análise dessas transformações, foi possível entender o processo de
dependência do campo e cidade, na produção da agricultura capitalista. Portanto, cumpre considerar
esses fatores para o desenvolvimento da pesquisa que teve como objetivo analisar a produção de novos
territórios capitalistas, assim como entender a conexão campo x cidade visualizada por meio da
atuação da Coamo - Agroindustrial Ltda.
Para tanto, a caracterização geográfica, possibilitou a apreciação da trajetória dessa
cooperativa, assim como de sua apropriação em termos estruturantes que passou a atender as
necessidades de reprodução, acumulação e circulação do capital. Também, a leitura, discussão em
grupo e fichamento de diversos referenciais como Oliveira (1987, 1991, 1994, 1999, 2002, 2007)
Ávila (2002), Costa (1997), Fleury (1983), Lakatos (1995) entre outros, contribuíram para indicar
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quais são os principais fatores hegemônicos que determinam a atuação da Coamo. Com base nesses
referenciais teóricos, tivemos a compreensão da temática, sendo possível analisar o movimento
cooperativista e suas distintas relações de desenvolvimento e atuação no âmbito do capitalismo.
Conseqüentemente, verificamos que na problematização da produção territorial dessa
cooperativa, os fatores organizativos foram responsáveis pela estruturação do campo e produção
agrícola, sendo a organização institucionalizada por meio de legislação específica (LEI Nº 5.764, de
16 de dezembro de 1971). Na adequação a lei, a Coamo conseguiu se definir como maior cooperativa
em termos de capital da América Latina.
Cumpre considerar que além de desenvolver o estudo bibliográfico, também realizamos a pesquisa
de campo e coleta de dados por meio de entrevistas que foram aplicados aos agricultores e cooperados.
Assim clarificamos os conceitos teóricos, representados categoricamente pela própria atuação
cooperativista. O objetivo da seleção de entrevistados, e manipulação de variáveis independentes, teve
a finalidade de controlar ao máximo os fatores pertinentes, para a compreensão de aspectos da
sociedade. Portanto, a objetividade das entrevistas com os agricultores e cooperados foi alcançada,
pelas quais obtivemos informações sobre os fatores que envolvem o processo de formação da
cooperativa e o relacionamento desta com seus cooperados.
Além das entrevistas, dados que caracterizam a dinâmica da atividade agrícola foram
levantados e analisados, incluindo os dos recenseamentos do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, dos arquivos das prefeituras dos municípios que formam a área em estudo, do INCRA –
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, e de outros órgãos públicos e privados.
Levantamento cartográfico, análise de tabelas e gráficos foram instrumentos auxiliares utilizados para
retratar a dinâmica social, temporal e espacial da cooperativa.
Com base nessa estrutura, estaremos abordando ao longo deste trabalho a discussão do
Cooperativismo, em termos de estrutura, geração de rendas, de desenvolvimento e produção espacial,
enfatizando as desigualdades e contradições que o capitalismo abarca quando tratamos das questões de
produção agropecuária. Também, buscamos compreender o posicionamento de seus sócios e
cooperados quanto ao entendimento dessa cooperativa em termos de ajuda técnica e suporte, de
auxilio a produção.
Enfim, esse estudo segue a lógica de compreensão do movimento cooperativista e sua
organização no sistema capitalista, representando um alicerce para o entendimento categórico que
envolve as definições de campo x cidade no pensamento dos autores de Geografia Agrária. Logo, a
hegemonização da Coamo no campo e na cidade explica a tríade capital/trabalho/cooperativismo de
entendimento do próprio movimento do capitalismo e da intensificação do capital no campo.
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O CONTEXTO DE ORGANIZAÇÃO SOCIO ESPACIAL DA COOPERATIVA COAMO
A Contextualização da Coamo se insere no palco de desenvolvimento do modelo do
capitalismo e sua apropriação do cooperativismo, assim como em todas as escalas geográficas
(internacional, nacional, estadual, regional e local). Em particular, no estado do Paraná, o
cooperativismo teve suas origens nas comunidades de imigrantes europeus, que buscavam estabelecer
suas estruturas de compra e venda em comum, além de suprir as ausências de educação e lazer, por
meio de sociedades cooperativistas. Segundo as informações verificadas na Coamo (2014):
Um dos primeiros movimentos marcados pela cooperação surgiu no ano de 1829, com a chegada do primeiro grupo de 248 imigrantes alemães que fundaram a Colônia Rio Negro, hoje município. Diversos movimentos embasados no espírito da cooperação surgiram até 1911, entre alguns dos mais de cem grupos de imigrantes aqui chegados. Todavia, o mais importante movimento pré-cooperativista ocorreu entre os franceses que, em 1847 fundaram a Colônia Thereza Cristina às margens do Rio Ivaí, hoje município de Cândido de Abreu. Os imigrantes liderados por Jean Maurice Faivre desencadearam um movimento cooperativista sob inspiração do médico Benoit Joseph Mure, fundador da Vila da Glória em Santa Catarina. (COAMO, 2014)
Após a década de 1930, a imigração aumenta no Paraná criando novas organizações
cooperativas para prover a falta de infraestrutura e a falta de apoio governamental às colônias na
região de Campos Gerais. Nesse sentido, em acordo com as informações do Ipardes1 (1974, p.II/8):
As cooperativas tiveram, efetivamente, um papel de destaque desde a implantação das colônias, assumindo, inclusive, parte significativa das incumbências do poder público. Atuaram como intermediárias entre os agricultores imigrantes, as autoridades e os estabelecimentos de crédito. Colaboraram no planejamento e organização das colônias, na criação de, assistência técnica à produção, promoção do ensino, assistência médica e hospitalar. (IPARDES, 1974, p. II/8).
Embora o Paraná tenha relatos de experiências com cooperativas agrícolas antes de 1950,
Ricken (2009, p.49) diz que “o crescimento e consolidação das organizações cooperativas está
intimamente ligado aos fluxos migratórios e às experiências que grupos de imigrantes tiveram em seus
países de origem, mais tarde aplicadas aqui”. Esse autor considera ainda que a história das
cooperativas paranaenses foi construída ao longo dos diversos ciclos econômicos do estado do Paraná:
madeira, erva-mate, café, algodão, trigo-soja, leite, e mais recentemente carnes, agroindústria e
exportação. Nesse sentido, de avaliação migratória, de acordo com Setti (2006):
No início, embora algumas cooperativas, notadamente as que tiveram origem em grupos de imigrantes, fossem sólidas, muitas eram incipientes. Pequenas
1 Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.
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cooperativas muitas vezes, atuando em áreas comuns com outras, formavam um ambiente de competição e hostil no final dos anos 60 e início dos anos 70. (SETTI, 2006, p. 69).
Pelo pensamento de Setti (2006) verificamos que, assim, o cooperativismo foi se consolidando
no Paraná, sendo que o seu mérito veio do fato de ser um movimento comunitário de base, calcado nos
dons inatos do homem, de solidariedade, fraternidade e respeito recíproco. No caso da região de
Campo Mourão, essa contou com o auxílio dessa cooperativa para a implementação do capital no
campo, ou seja, adesão ao modelo produtivo de soja, trigo e milho.
Em entrevista com agricultores regionais, percebemos que todos consideram a importância da
Coamo, apesar de argumentarem sobre o distanciamento dessa organização dos princípios do
cooperativismo2. Todavia, todos os entrevistados consideram que o cooperativismo possui uma
formação democraticamente em sociedades, que buscam satisfazer necessidades comuns, por meio da
cooperação e da mutualidade, procurando o aperfeiçoamento social.
Diante das informações averiguadas, consideramos que conhecer as transformações que se
estabelecem e influenciam na dinâmica social da cooperativa Coamo e na vida dos agricultores e
cooperados, na formação de novos territórios no contexto do Capitalismo é fundamental para nós
estudiosos. Assim, compreendemos um pouco desse contexto que esta a nossa volta, e que por
consequência, influencia na estrutura social da cidade e de seus habitantes.
A COAMO EM SUA FORMAÇÃO TERRITORIAL
Logo, definido, a Coamo como objeto, as categorias analíticas tempo e espaço embasam o
conhecimento e delimitação da problemática. Para tanto apresentaremos a história da Coamo.
A Coamo foi denominada a princípio de Cooperativa Agropecuária Mourãoense Ltda. Teve
sua fundação no dia 28 de novembro de 1970, por 79 agricultores, sendo que a partir de 2003, a
denominação social passou para Coamo Agroindustrial Cooperativa.(COAMO, 2014). Sua sede está
instalada na cidade de Campo Mourão, atuando no acompanhamento da produção dos seus
cooperados, na prestação de assistência técnica e no oferecimento de suporte desde o planejamento do
plantio até a comercialização da safra, além de oferecer cursos, treinamentos e encontros para os
cooperados, conforme podemos visualizar sua fachada na imagem 01.
2Foram entrevistados em torno de 30 agricultores: sendo 10 agricultores entrevistados para cada categoria produtiva (pequena, média e grande)
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Imagem 01 – Atual sede da COAMO, localizada na cidade de Campo Mourão/PR. Fonte: COAMO, 2014.
Com base nos dados financeiros e econômicos da Coamo Agroindustrial Cooperativa, essa obteve
uma receita global recorde de R$ 8,175 bilhões em 2013, 14,3% maior que a de 2012. Dessa forma, a
cooperativa com sede em Campo Mourão distribuiu entre os 26.276 associados às sobras de R$ 519,7
milhões. (JORNAL DA COAMO, 2014)
Essa cooperativa ocupou o 33º lugar entre as exportadoras brasileiras em 2013. Foram embarcadas
ao exterior 2,56 milhões de toneladas de produtos agrícolas industrializados e in natura, o equivalente a US$
1,21 bilhão. Neste mesmo período, a cooperativa processou 1,53 milhões de toneladas de soja, 58,77 mil
toneladas de trigo, 2,86 mil toneladas de café beneficiado e 10,03 mil toneladas de algodão em pluma.
(COAMO, 2014)
Os investimentos em recebimento, armazenagem e atendimento aos cooperados somaram US$
318,86 milhões no ano passado. Enquanto que as despesas com impostos, taxas e recolhimentos atingiram
R$ 269,25 milhões, números esses que indicam um resultado positivo em 2013, no qual se alcançaram bons
preços e ritmo nas vendas. (COAMO, 2014). Com
recebimento de 6,80 milhões de toneladas de produtos agrícolas, a Coamo respondeu, em 2013, por
3,6% da produção brasileira de grãos e fibras, demonstrando sua importância estratégica na produção
de alimentos tanto no âmbito nacional como no internacional. (COAMO, 2014).
Por ser considerada uma das maiores cooperativas, tem influenciado de maneira significativa
os agricultores e o desenvolvimento do setor econômico da região de Campo Mourão, gerando
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emprego e renda. Cabe salientar que apesar de sua infraestrutura, segundo Ávila (2002, p. 100), a
Coamo:
No transcorrer de sua evolução histórica, acompanhando todas as vicissitudes da política econômica do país e do exterior [...] estruturou-se como uma mega empresa capitalista distanciando-se do dogma do cooperativismo. Como empresa capitalista o seu principal objetivo é obter lucro em seus empreendimentos, proporcionando uma boa remuneração para a produção de seus associados.
Percebemos na análise de Ávila, que a Coamo tem se distanciado dos ideais do
Cooperativismo propostos ao longo da história. Fato esse que se refere a organização da sociedade que
esta centrada nos moldes capitalistas, e que de forma geral é o norte para a ampliação e concentração
de capitais no seio das cooperativas. Por fim, consideramos na analise dessa cooperativa, a lógica de
compreensão do movimento cooperativista e sua organização no sistema capitalista. Dessa maneira,
essa pesquisa representa um alicerce para o entendimento categórico que envolve as definições de
campo x cidade no pensamento dos autores de Geografia Agrária.
A GEOGRAFIA AGRÁRIA E O ESTUDO DA COAMO NO MOVIMENTO DO COOPERATIVISMO RURAL
A hegemonização da Coamo no campo e na cidade explica a tríade
capital/trabalho/cooperativismo de entendimento do próprio movimento do capitalismo e da
intensificação do capital no campo, assim como, do movimento do cooperativismo e sua inserção no
capitalismo.
Alguns pressupostos se mostraram centrais para o desenvolvimento da pesquisa, dessa
maneira, e com referência ao tema escolhido percebemos sua estrita relação com o conteúdo específico
da Geografia Agrária. Além disso, esse tema apresenta grande importância para a organização do
espaço geográfico nacional, bem como a formação de territórios e redes, se estendendo pela produção
de conhecimentos e o crescimento intelectual do pesquisador.
Para tanto, nessa discussão apresentamos o eixo da materialidade concreta do objeto
científico, ou seja, da existência infra estrutural da Coamo, que possui uma área de atuação em três
Estados brasileiros (Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul). Sua área espacial está em constante
desenvolvimento, interferindo direta ou indiretamente nesses estados, por meio, sobretudo da difusão
de seus produtos em todo território brasileiro e internacional. Segundo dados do
jornal Coamo (2014), a Cooperativa está presente em 60 municípios do Paraná, Santa Catarina e Mato
Grosso do Sul e beneficia mais de 100 mil pessoas entre cooperados, familiares e a comunidade.
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Assim como podemos observar na figura ilustrativa, que demonstra sua dimensão espacial e área de
atuação. (JORNAL DA COAMO, 2014).
Imagem 02–A representação apresenta os estados de atuação da cooperativa COAMO. Fonte: COAMO, 2014.
Além disso, os interesses da Coamo estão voltados para o crescimento econômico, produzindo
uma hegemonização no espaço geográfico. Essa hegemonização faz com que o campo e a cidade se
tornem cada vez mais vinculados entre si. Logo, esse trabalho auxilia na compreensão sobre o
movimento do cooperativismo, bem como, no que diz respeito à intensificação do Capital nas
unidades de Cooperativas, especificamente na organização estrutural da Coamo.
Também na obtenção de informações para o conhecimento científico dessas particularidades,
verificamos a complexidade produzida pelo modo de produção capitalista na estrutura hegemônica da
Coamo, por meio da associação cooperativa. Assim, percebemos que a incorporação na sociedade
cooperativista, inseriu no decorrer do tempo a necessidade de acumulação, reprodução e circulação de
mercadorias, sendo um elemento dominante que produz mudanças nas relações do espaço geográfico
e, que, consequentemente modificaram a dinâmica estrutural existente até então do modelo
cooperativista.
A partir dessas premissas, que se expressam na incorporação capitalista da Coamo, do campo
em interação com a cidade, foram produzidos novos espaços. Nessa nova realidade, verificamos uma
estrutura que se desenvolveu no decorrer da história da Coamo, que se constituiu como a maior
representação agrícola cooperativista da América Latina. Diante desse fato, de mudança dos ideais
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cooperativos, nos deparamos com alguns problemas que merecem atenção e estudos mais
aprofundados.
Deste modo, essa análise sobre a hegemonização da Coamo, agrupou novas definições aos
elementos categóricos da organização cooperativista. Consequentemente os conceitos de campo e
cidade foram analisados a partir da faceta capitalista de transformação das relações organizativas, que
conduziu a uma transformação do cooperativismo que passou de um movimento voltado a resolução
de problemas sociais para se tornar em agente dinamizador da intensificação, acumulação e
reprodução do capital no campo.
Nesse sentido, analisamos que no caso específico a organização, estruturação e
hegemonização do espaço geográfico pela Coamo é um campo de observação e análise de estrutura
complexa por causa de suas contradições, entre princípios, ideologia e materialidade. Segundo Milton
Santos (2002), a geografia vem estabelecendo e desenvolvendo seu conhecimento, baseado em
relações espaciais construídas e organizadas pelo e para o próprio homem. Entretanto, o homem,
atualmente esta priorizando a reprodução do capital em detrimento das necessidades sociais.
Os fatores relacionados ao desenvolvimento capitalista no seio das atividades cooperativistas
denotam que esse estudo por agregar uma análise geográfica pautada, sobretudo, nas relações sociais,
significa um rompimento dos padrões tradicionais de estudos sobre o cooperativismo rural. Dos
estudos, o que verificamos foi que justamente a maior parte, não possui a objetividade de contribuir na
organização espacial da sociedade.
Contudo, de um modo geral, buscamos uma compreensão dos fatores hegemônicos que no
transcorrer do tempo determinam a complexidade e a realidade contraditória criada pelo capital. Fato,
averiguado em toda a estrutura socioeconômica e política do campo brasileiro, porque a cooperativa é
parte integrante do processo produtivo, que é regido pelo modo de produção Capitalista.
DEFINIÇÕES CONCEITUAIS GEOGRÁFICAS PARA O ENTENDIMENTO DO COOPERATIVISMO
Discutir os conceitos de espaço geográfico, território e territorialização a partir dos dados geo-
históricos do movimento cooperativista, sobretudo, embasados na análise materialista verificada na
organização da Coamo, se faz primordial para a compreensão do desenvolvimento socioeconômico,
bem como para a contextualização e caracterização geográfica do movimento cooperativista. Com
base nessa discussão, analisamos o movimento contínuo e interagente entre o campo e a cidade,
especificamente no que tange as relações desencadeadas no âmbito do agronegócio paranaense.
Assim, analisamos alguns dados básicos pertinentes a sua organização, bem como sua estrutura
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vigente, revelando uma atuação em moldes de crescimento e desenvolvimento da produtividade e do
capital.
Na análise dos elementos que envolvem a caracterização geográfica da Coamo, foi importante
a escolha do método. Para tanto, seguimos a Perspectiva Dialética Materialista Histórica, porque a
dialética permite pensar a realidade cooperativista, viabilizando no cerne do pensamento uma análise
das múltiplas faces subjetivas e objetivas da materialidade do objeto.
Em Marx (1971), o conceito de método é uma visão inovadora, entendida como um
instrumento de mediação entre o homem que quer conhecer e o objeto desconhecido, como parte do
real a ser investigado. O conhecimento é o resultado da construção efetuada pelo pensamento e suas
operações, que consiste na representação mental do concreto, da parcela real, exterior ao pensamento
conhecedor. Esta representação mental é elaborada a partir da percepção e intuição, transposição de
algo da realidade para o pensamento. O significado dessa concepção está justamente na apreensão de
algo exterior ao intelecto ou pensamento, o que é apreendido e incorporado ao pensamento, se faz o
conhecimento. Deste modo, a escolha do método foi fundamental, uma vez que este abarca vários
fatores que revelam um entendimento totalizante do objeto em estudo, servindo como principio de
ligação entre o entendimento prévio que o pesquisador tinha sobre sua pesquisa, e para que esse possa
identificar novos fatores e questionamentos em sua investigação.
Posteriormente, esse passa a analisar os vários elementos que integram a dinâmica social,
obtendo resultados concretos que auxiliam no conhecimento de seus estudos, assim como em
contribuições para a sociedade. Para tanto, no entendimento do cooperativismo, seguindo o
emaranhamento das informações que se expressam nas relações do capitalismo e, que são
contraditórias ao seu desenvolvimento, como seria o caso do cooperativismo, a análise crítica deve ter
como base para o entendimento geográfico as artimanhas que se vinculam ao modelo do agronegócio
brasileiro e sua influencia na comercialização das cooperativas.
Segundo Oliveira (1999) “o agronegócio tomou conta e transformou uma série de relações de
comercialização entre campo x cidade num negócio rentável para a agricultura”. Portanto, o
pensamento de Oliveira sobre o Agronegócio, expressa que alguns fatores servem como reflexão sobre
as transformações averiguadas no movimento cooperativista, consequentemente, auxilia no
levantamento das contradições existentes nas relações produtivas e evidenciando os interesses
econômicos, sociais e ideológicos presentes entre movimento cooperativista/
cooperativas/agronegócio.
Nessa tríade conceitual se verifica a própria dinâmica do espaço geográfico, demonstrando a
mobilidade das relações campo x cidade. Todavia, mesmo que a tríade analítica parta de conceitos
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pré-estipulados historicamente, a primeira fase, da análise do presente estudo foi desenvolvida a partir
da realidade, do concreto.
Nesse processo, consideramos a realidade concreta como uma síntese das múltiplas
determinações existentes independentemente do pensamento. Assim, com base nessas premissas,
analisamos o contexto histórico da cooperativa a partir das relações sociais que esta vem
estabelecendo ao longo do tempo, além de suas sucessivas transformações por causa do contexto do
capitalismo, no qual permeiam os ideais de industrialização e comercialização de mercadorias.
Portanto, consideramos o entendimento articulado das relações em abordagem a partir da
definição dos conceitos de espaço geográfico, território e territorialização. Enfim, afirmamos que esses
conceitos permitem pensar e entender a hegemonização dessa cooperativa, nas diferentes fases que
sucedem no decorrer de sua organização espacial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na pesquisa analisamos a dinâmica estrutural da hegemonização da Coamo, assim como sua
organização, e sua relação com os agricultores e cooperados. Para tanto, evidenciamos que essa
dinâmica se concentra na interação campo/cidade no contexto do Capitalismo, levando em conta as
diversas transformações na qual estão inseridos os agricultores e sociedade.
Diante desses fatos, consideramos que o processo de transformação do cooperativismo é
resultante das transformações e dos padrões que o capitalismo impõe sobre a face do desenvolvimento
e crescimento econômico do agropecuarismo, que assim constantemente se transforma.
Nesse viés avaliamos como fatores relevantes para a compreensão geográfica da realidade, a
produção de novos territórios a partir da acumulação de capital agregado pela Coamo. Essa associação
representa um agente dinamizador econômico, que se expande tanto verticalmente como
horizontalmente - que gera uma grande dependência e interação do campo com a cidade. Portanto, a
Coamo, tem como necessidade de estar constantemente intensificando sua produção, estabelecendo
como fonte geradora de rendas, que tem grande influência na sociedade.
Essa empresa contribuiu para a expansão da cidade, assim como contribui na industrialização,
comercialização e circulação de mercadorias. No entanto, quando se trata de agricultura camponesa,
todos os agricultores são considerados como iguais em competitividade de mercado. E, já se tratando
do modo de produção capitalista, o mercado domina a vida social e seu comportamento em
comunidade cooperativa, consequentemente, os agricultores têm que obedecer aos padrões impostos
pelo poder. Destarte, destacamos nesse particular que os camponeses perdem sua autonomia, e seus
objetivos se centram agora na organização na qual estão inseridos. Nesse sentido, a própria da história
do capitalismo e sua apropriação em termos da atividade cooperativa que busca seu desenvolvimento,
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se estabelecem como fatores que retratam a dinâmica da agricultura, onde é visível a modernização
dessa estrutura. Sabemos que esta tem suas bases estabelecidas no uso de maquinários modernos,
insumos e implementos agrícolas.
Esses recursos consolidaram a aplicação e uso de técnicas inovadoras a uma produção com
mais qualidade e rentabilidade. De tal modo, expressamos que os pequenos agricultores são
desprovidos dos meios de produção, buscando nas cooperativas o apoio técnico que supra os novos
rumos de sua produção, bem como sua necessidade de se organizar. Além disso, observamos que a
produção esta voltada aos parâmetros de dinamismo econômico do capitalismo. Assim, no contexto
das cooperativas, os pequenos agricultores buscam acompanhar esse segmento em sua organização
social, tendo que obedecer aos preços impostos pelo mercado produtivo. Em muitos casos estes
acabam se endividando, uma vez que sua produção esta relacionado aos investimentos por eles
realizados. Também, constatamos em outros casos que aconteceram perdas na safra por causa das
alterações climáticas, ou mesmo crises econômicas que alteram o preço desses alimentos, fator esse
que influenciou, sobretudo, na economia do pequeno agricultor. Logo, esses fatores evidenciaram a
realidade de apropriação das cooperativas em termos do detrimento social e produção de rendas.
Todavia, destacamos a grande discrepância em questões de capital e de recursos que viabilizam a
produção de novos territórios, interação e dependência da cidade e do campo. Cumpre considerar,
portanto, que o contexto vivido pelo pequeno agricultor, sobretudo no seu posicionamento no
mercado, passa por dificuldades, em particular, levando em conta sua expressão na produção
alimentícia dentro do mercado consumidor, assim como sua representação no cooperativismo.
Não obstante, aos fatores relatados, evidenciamos que a interação cooperativista pelos
agricultores se constitui como uma contradição imposta pelo contexto do Capitalismo. Dessa maneira,
repensamos a atuação dos agricultores cooperados no cenário de transformações por quais se sucedem
a produção de alimentos e produtos que chegam a nossa mesa, uma vez que a estrutura social é um
constante dinamismo entre os vários setores que se relacionam e regulam o sistema econômico
mundial e sua influencia no espaço agrário.
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