3º CICLO DE ESTUDOS ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO: Nutrição ... · A média do total de ingestão de...
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Título EXCESSO DE PESO, SÍNDROME METABÓLICA, INGESTÃO NUTRICIONAL E ATIVIDADE
FÍSICA NUMA AMOSTRA DE POPULAÇÃO PRISIONAL
Autor Carla Alexandra Gomes Afonso
D 2019
3º CICLO DE ESTUDOS
ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO: Nutrição Clínica
EXCESSO DE PESO, SÍNDROME METABÓLICA, INGESTÃO NUTRICIONAL E ATIVIDADE FÍSICA NUMA
AMOSTRA DE POPULAÇÃO PRISIONAL
Carla Alexandra Gomes Afonso
Tese de Doutoramento apresentada à
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Programa Doutoral em Nutrição Clínica
2019
EXCESSO DE PESO, SÍNDROME METABÓLICA, INGESTÃO NUTRICIONAL E ATIVIDADE FÍSICA NUMA
AMOSTRA DE POPULAÇÃO PRISIONAL
OVERWEIGHT, METABOLIC SYNDROME, NUTRITIONAL INTAKE AND PHYSICAL ACTIVITY IN A
PRISON POPULATION
Carla Alexandra Gomes Afonso
Mestre em Saúde Pública
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
Orientador
Professora Doutora Carla Alexandra Vieira da Silva Pedrosa
Centro Hospitalar do Baixo Vouga EPE
Coorientador
Professor Doutor José Carlos Rodrigues Dias Ribeiro
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
III Ciclo de Estudos em Nutrição Clínica
Programa Doutoral em Nutrição Clínica
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
2019
Encostados ás grades da prisão,
Olham o céo os palidos captivos.
Já com raios obliquos, fugitivos,
Despede o sol um ultimo clarão.
Entre sombras, no longe, vagamente,
Morrem as vozes na extensão saudosa.
Cae do espaço, pesada, silenciosa,
A tristeza das cousas, lentamente.
E os captivos suspiram. Bandos de aves
Passam velozes, passam apressados,
Como absortos em intimos cuidados,
Como absortos em pensamentos graves.
E dizem os captivos: Na amplidão
Jamais se extingue a eterna claridade...
A ave tem o vôo e a liberdade...
O homem tem os muros da prisão!
Antero de Quental, in 'Sonetos
Aos meus pais,
Ao meu marido,
A todos os que tornaram possível este trabalho,
AGRADECIMENTOS
A todos os que contribuíram para a concretização desta tese, e que de alguma forma estiveram comigo
neste percurso:
À Professora Doutora Carla Pedrosa agradeço a sincera amizade, a orientação, as sábias palavras de
ajuda, a disponibilidade, a presença, as sugestões sempre construtivas e tão importantes!
Ao Professor Doutor José Ribeiro agradeço a orientação, a valiosa ajuda e paciência, a dedicação e o
tempo que me dispensou!
Ao Professor Doutor Bruno Oliveira, que me conduziu no tortuoso caminho da estatística, pelos seus
contributos indispensáveis!
A todos os reclusos que aceitaram participar no estudo. Sem eles este trabalho não seria possível!
Aos meus pais que sempre me apoiaram e incentivaram na conclusão desta etapa!
Ao meu marido, por estar sempre ao meu lado, em todos os momentos!
ÍNDICE
RESUMO .......................................................................................................................................... 8
ABSTRACT ..................................................................................................................................... 11
Lista de Abreviaturas ..................................................................................................................... 14
ÍNDICE DE TABELAS ....................................................................................................................... 16
ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................... 17
1. Introdução .............................................................................................................................. 18
1.1. Saúde e sistema prisional ............................................................................................................. 18
1.2. Alimentação em meio prisional .................................................................................................... 22
1.3. Síndrome metabólica em meio prisional ...................................................................................... 25
1.4. Atividade física em meio prisional ................................................................................................ 27
2. Objetivos ................................................................................................................................ 30
2.1. Objetivo geral .............................................................................................................................. 30
2.2. Objetivos específicos .................................................................................................................... 30
3. Material e Métodos ................................................................................................................ 31
3.1. Participantes ................................................................................................................................ 31
3.2. Dados sociodemográficos e de estilo de vida ................................................................................ 31
3.3. Avaliação antropométrica ............................................................................................................ 31
3.4. Avaliação da ingestão alimentar ................................................................................................... 32
3.5. Avaliação dos parâmetros clínicos ................................................................................................ 32
3.6. Avaliação da atividade física ......................................................................................................... 33
3.7. Análise estatística ........................................................................................................................ 33
4. RESULTADOS .......................................................................................................................... 35
4.1. Caracterização sociodemográfica ................................................................................................. 35
4.2. Caracterização antropométrica .................................................................................................... 36
4.3. Caracterização dos parâmetros clínicos ........................................................................................ 37
4.4. Caracterização da ingestão nutricional ......................................................................................... 39
4.5. Caracterização da atividade física ................................................................................................. 44
5. DISCUSSÃO ............................................................................................................................. 46
6. CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................................... 59
Carla Alexandra Gomes Afonso 8
RESUMO
Introdução:
Os hábitos alimentares inadequados e o sedentarismo são considerados as principais causas de
doenças crónicas não transmissíveis, entre as quais se incluem a obesidade, a diabetes mellitus tipo 2
(DM2), as doenças cardiovasculares (DCV), a hipertensão arterial (HTA) e vários tipos de cancro. A
obesidade é um problema de saúde pública, com sérios impactos sociais e económicos. A Organização
Mundial de Saúde (OMS), considerando a importância que esta patologia tem na saúde mundial,
desenvolveu uma estratégia global onde a alimentação e atividade física (AF) têm papel principal. É,
portanto, essencial o contributo de uma alimentação saudável e equilibrada, assim como a prática
regular de AF, sendo estes fatores essenciais para a prevenção destas patologias. Apesar dos inúmeros
estudos desenvolvidos sobre estas temáticas, existem em Portugal vários grupos populacionais cuja
avaliação urge fazer. A população reclusa é um grupo vulnerável, com um risco aumentado de
malnutrição, consequência da sua fraca condição de saúde e de outros fatores sociais. Neste estudo
procuramos caraterizar uma amostra de reclusos portugueses, relativamente à prevalência de excesso
de peso em meio prisional, síndrome metabólica (SM), ingestão nutricional e AF.
Métodos:
Convidamos a participar no estudo todos os homens de 3 estabelecimentos prisionais (EP) do norte do
país. Aceitaram participar 362 (30% do total de indivíduos convidados). Recolhemos dados sócio
demográficos e de estilo de vida (idade, habilitações literárias, situação jurídico penal, trabalho no EP,
hábitos tabágicos). Recolhemos também dados antropométricos (peso, altura e perímetro da cintura).
O índice de massa corporal (IMC) foi calculado e categorizado de acordo com a classificação de IMC da
OMS. Os homens com pré-obesidade e obesidade foram agrupados numa só categoria (definida como
excesso de peso) para análise comparativa com o grupo sem excesso de peso.
Para avaliação da ingestão nutricional foi utilizado um questionário de frequência de consumo
alimentar (QFA), validado para a população portuguesa, e foi determinada a prevalência de
inadequação nutricional com base nas recomendações da OMS e do Food and Nutrition Board. A
avaliação dos parâmetros clínicos (pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD),
concentração plasmática de glicose, colesterol HDL (HDL) e triglicerídeos (TG) foi realizada através da
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recolha dos dados no processo clínico individual interno de cada recluso. A AF foi avaliada utilizando a
versão curta do International Physical Activity Questionnaire (IPAQ).
Resultados:
Obtivemos dados válidos em 362 indivíduos, com uma média de idades de 37,4 anos (dp=11,6). O grau
de escolaridade predominante é o 2º ciclo (33,1%). No que diz respeito à situação jurídico-penal, 67%
dos reclusos são condenados, não se registando variações significativas entre os dois grupos de
homens considerados (com e sem excesso de peso). Quanto ao trabalho, verificamos que a maioria
dos homens não desempenham uma atividade laboral dentro do EP (53%).
Da totalidade dos reclusos que participaram no estudo, 8% têm baixo peso, 47,5% são
normoponderais, 34% têm pré-obesidade e 10,5% são obesos.
Quando analisamos os parâmetros clínicos, verificamos que são os homens com excesso de peso que
apresentam valores mais elevados de PAS (média=158,1 dp=14,6 vs. média=119,1, dp=11,8 mmHg),
PAD (média=102,6, dp=13,2 vs. média=78,9, dp=12,1 mmHg) e glicose plasmática (média=108,2,
dp=9,5 vs. média=96,7, dp=12,6 mg/dl), sendo as diferenças estatisticamente significativas, entre os
dois grupos estudados (p<0,001).
Relativamente à prevalência de SM, verificamos que 20,2% dos reclusos cumprem os critérios de SM,
e são os indivíduos com excesso de peso os que mais contribuem para este valor (32,3% vs. 10,4%,
p<0,001).
A média do total de ingestão de energia é de 2473 Kcal (dp=724), e são os indivíduos com excesso de
peso os que ingerem mais calorias, embora não se registando diferenças estatisticamente significativas
entre os 2 grupos estudados. A análise da ingestão média de colesterol, fibra e micronutrientes não
revela quaisquer diferenças significativas entre os dois grupos de reclusos avaliados, com exceção do
cálcio, que apresenta uma ingestão significativamente superior nos reclusos com excesso de peso.
Observamos elevadas prevalências de inadequação para vitamina K e molibdénio (100%), vitamina E
(94,5%), fibra (92,3%), magnésio (89,2%), folato (86,7%), iodo (69,9%), cálcio (57,2%) e vitamina D
(53,9%).
Quando analisamos os reclusos quanto à AF, verificamos que, com exceção da AFVigorosa (AFV), os
homens sem excesso de peso têm valores médios mais elevados de AF, comparativamente com os
homens com excesso de peso (IPAQ_AFWalking média=458,6, dp=68,8 vs. média=451,3, dp=63,4,
p=0,416; IPAQ_AFModerada (AFM) média=124,8, dp=16,3 vs. média=60,8, dp=6,6, p<0,001). Os
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homens com excesso de peso são mais inativos do que os homens sem excesso de peso, porém sem
diferenças estatisticamente significativas. Verificamos igualmente que a totalidade da nossa população
não é suficientemente ativa, já que não realizou AFM, numa semana, igual ou superior a 150 minutos,
nem AFV igual ou superior a 60 min/sem.
Conclusões:
A maioria dos nossos reclusos é normoponderal, mas a percentagem de indivíduos com excesso de
peso é elevada (44%). 20,2% dos reclusos apresentam SM.
Todos os indivíduos apresentam ingestões inferiores ao recomendado para vitamina K, molibdénio,
vitamina E, fibra, magnésio, folato, iodo, cálcio e vitamina D. A população estudada não é
suficientemente ativa, apresentando valores de AFM e AFV inferiores aos recomendados.
Como consequência da falta de estudos nesta área em particular, estes resultados devem ser
observados como um ponto de partida para futuras investigações nesta população específica.
Palavras chave: ingestão nutricional; síndrome metabólica; atividade física; reclusos; prisão.
Carla Alexandra Gomes Afonso 11
ABSTRACT
Background:
Inadequate eating habits and sedentary lifestyle are considered the major causes of chronic
noncommunicable diseases, including obesity, non-insulin dependent diabetes mellitus (DM2),
coronary heart disease (CHD), high blood pressure (HBP) and various types of cancer. Obesity, a public
health problem, has serious social and economic impacts. The World Health Organization (WHO),
considering the importance of this pathology in world health, has developed a global strategy where
food and physical activity (PA) plays a major role. It is therefore essential to contribute to a healthy and
balanced diet, as well as to a regular practice of PA, both essential factors for the prevention of these
pathologies. Despite of the numerous studies developed, there are several population groups in
Portugal whose evaluation must be done. The inmate population is a vulnerable group, with an
increased risk of malnutrition, consequence of poor health status and other social factors. In this study,
we aim to characterize a sample of Portuguese inmates, regarding overweight prevalence in prison
environment, metabolic syndrome (MS), nutritional intake and PA.
Methods:
All men from 3 prisons in the north of the country were invited to participate in the study. Accepted to
participate 362 (30% from the total of inmates invited). Socio demographic and lifestyle data (age,
literacy, criminal legal status, prison work, smoking habits) were collected. Anthropometric data
(weight, height and waist circumference) were also collected. The body mass index (BMI) was
calculated and categorized according to the WHO BMI classification. The pre-obese and obese men
were grouped into one category (defined as overweight) for comparative analysis with the non-
overweight group.
A food frequency questionnaire (FFQ), validated for the Portuguese population, was used to assess
nutritional intake. The prevalence of nutritional inadequacy was determined based on the
recommendations of the WHO and the Food and Nutrition Board. The evaluation of the clinical
parameters (systolic blood pressure (SBP), diastolic blood pressure (DBP), plasmatic concentration of
glucose, cholesterol HDL (HDL) and triglycerides (TG) was performed by collecting data in the internal
Carla Alexandra Gomes Afonso 12
clinical process of each inmate. PA was evaluated using the short version of the International Physical
Activity Questionnaire (IPAQ).
Results:
We obtained valid data in 362 individuals, and the mean age was 37.4 years (sd=11.6). The
predominant level of education is the second degree (33.1%). Regarding the legal-penal situation, 67%
of inmates are convicted, with no significant variation between the two groups of men considered
(with and without overweight). Regarding the work at prison, we found that most men do not perform
a labor activity within the prison (53%). Of the 362 inmates who participated in the study, 8% are
underweight, 47.5% are normal, 34% are pre-obese, and 10.5% are obese.
When analyzing the clinical parameters, we found that overweight men are those who have
significantly higher SBP values (average=158.1, sd=14.6 vs. average=119.1, sd=11.8 mmHg), DBP
(average =102.6, sd=13.2 vs. average =78.9, sd=12.1 mmHg) and plasmatic glucose (average=108.2,
sd=9.5 vs. average=96.7, sd=12.7 mmHg), between the two studied groups (p <0,001).
Regarding the prevalence of MS, we found that 20.2% of prisoners meet the criteria of MS, and that
the overweight individuals are the ones who contribute most to this value (32.3% vs. 10.4 %, p <0.001).
The mean total energy intake is 2473 Kcal (sd=724), being the overweight individuals who ingest more
calories, however there are no statistically significant differences between the 2 groups studied. The
analysis of average cholesterol, fiber and micronutrient intake did not reveal any statistically significant
differences between the two groups of inmates evaluated, except for calcium, which has a significantly
higher intake in overweight inmates. We observed higher inadequacy prevalence for vitamin K and
molybdenum (100%), vitamin E (94.5%), fiber (92.3%), magnesium (89.2%), folate (86.7%), iodine
(69.9%), calcium (57.2%), and vitamin D (53.9%).
When we analyze PA, we found that, except for Vigorous PA (VPA), overweight men have higher
average PA values compared to overweight men (IPAQ_PAWalking average= 458.6, sd = 68.8 vs.
average= 451.3, sd = 63.4, p = 0.416, IPAQ_Moderate (MPA) average= 124.8, sd = 16.3 vs. average=
60.8, sd = 6.6, p < 0.001). Overweight men are more inactive than those without overweight, although
there was no statistical difference observed. We also found that our entire population is not enough
active, since they do not engage MPA, weekly, equal or greater than 150 minutes, or VPA equal or
greater than 60 minutes per week.
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Conclusions:
Most of our inmates have normal weight, however the prevalence of overweight individuals is high
(44%). 20.2% of inmates have MS.
All inmates have less than the recommended intake for vitamin K, molybdenum, vitamin E, fiber,
magnesium, folate, iodine, calcium and vitamin D. The studied population is not sufficiently active,
presenting lower MPA and VPA values than those recommended.
Due to the lack of studies in this specific area our findings should be viewed as a starter to better study
this specific population.
Keywords: nutritional intake; metabolic syndrome; physical activity; inmates; prison.
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Lista de Abreviaturas
AF – Atividade Física
AFM - Atividade Física Moderada
AFMV – Atividade Física Moderada e Vigorosa
AFV - Atividade Física Vigorosa
AFWalking – Atividade Física Caminhar
AG – Ácidos gordos
AGMI - Ácidos gordos monoinsaturados
AGPI - Ácidos gordos polinsaturados
AGS – Ácidos gordos saturados
AHA - American Heart Association
DCNT - Doenças Crónicas Não Transmissíveis
DCV – Doença Cardiovascular
DHAD - Direito Humano à Alimentação Adequada
DMed – Dieta Mediterrânea
DM2 – Diabetes Mellitus tipo 2
DP – Desvio Padrão
DRI – Dietary Reference Intakes
EP - Estabelecimento Prisional
EUA – Estados Unidos da América
HC – Hidratos de carbono
HDL – High Density Lipoproteins
HTA – Hipertensão Arterial
IDF – International Diabetes Federation
IMC – Índice de Massa Corporal
IPAQ – International Physical Activity Questionnaire
LDL – Low Density Lipoproteins
Min/sem - minutos por semana
NHLBI - National Heart, Lung, and Blood Institute
OMS – Organização Mundial de Saúde
PA/Alt – Quociente entre o perímetro abdominal e a altura
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PAD – Pressão arterial diastólica
PAS – Pressão arterial sistólica
QFA – Questionário de frequência de consumo alimentar
SM – Síndrome Metabólica
TG - Triglicerídeos
UE – União Europeia
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
VET – Valor Energético Total
VIH/SIDA – Vírus Imunodeficiência Adquirida /Síndrome Imunodeficiência Adquirida
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ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Características sociodemográficas de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso ..... 35
Tabela 2. Caracterização antropométrica de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso ......... 36
Tabela 3. Caracterização dos Parâmetros clínicos de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
................................................................................................................................................................... 37
Tabela 4. Relação entre os parâmetros de diagnóstico de SM de acordo com a presença ou ausência de excesso
de peso ....................................................................................................................................................... 38
Tabela 5. Prevalência de SM de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso ............................ 38
Tabela 6. Ingestão energética e de macronutrientes de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
................................................................................................................................................................... 39
Tabela 7. Ingestão energética e de macronutrientes segundo o diagnóstico de SM ..................................... 40
Tabela 8. Prevalência de inadequação da ingestão de macronutrientes ....................................................... 41
Tabela 9. Ingestão de colesterol, fibra e micronutrientes de acordo com a presença ou ausência de excesso de
peso ............................................................................................................................................................ 42
Tabela 10. Prevalência de inadequação da ingestão de colesterol, fibra e micronutrientes .......................... 43
Tabela 11. Caracterização da atividade física (minutos por semana) de acordo com a presença ou ausência de
excesso de peso .......................................................................................................................................... 44
Tabela 12. Classificação da atividade física (minutos por semana) de acordo com a presença ou ausência de
excesso de peso .......................................................................................................................................... 44
Carla Alexandra Gomes Afonso 17
ÍNDICE DE FIGURAS
Gráfico 1. Distribuição da amostra, em percentagem, de acordo com as categorias de IMC ......................... 37
Carla Alexandra Gomes Afonso 18
1. Introdução
1.1. Saúde e sistema prisional
As prisões são organizações muito complexas e restritas, sobre as quais recai a um ritmo cada vez mais
elevado, em resultado do aumento da população prisional, a imperiosa responsabilidade de assegurar
uma adequada prestação e acesso a cuidados de saúde de indivíduos bastante vulneráveis(1). A
reclusão é um importante evento de vida, com consequências sociais e psicológicas indubitáveis(2). De
facto, a sobrevivência emocional e psicológica do indivíduo em ambiente prisional, imbuída de valores,
regras e rituais é bastante complexa(3). Os relatórios demonstram que a população prisional global
cresceu exponencialmente em todos os cinco continentes, tendo atualmente ascendido a um total de
11 milhões de indivíduos recluídos. Destes, anualmente cerca de seis milhões de homens e mulheres
estão na Europa(4) e 2,3 milhões estão nos Estados Unidos da América (EUA), considerado o país com
o maior número de população reclusa, numa proporção de 756 reclusos por cada 100.000 indivíduos,
em comparação com uma média de 145 reclusos por cada 100.000 indivíduos no resto do mundo(5).
Em Portugal, tínhamos em 2012 um total de 13.490 reclusos, e na atualidade a população prisional
aumentou para um total de 13.734 indivíduos(6). Por esta razão, a Organização Mundial de Saúde
(OMS)(4) recomenda com especial relevo que a saúde pública da população em geral deve estar
intimamente ligada com a saúde da população recluída. O bem-estar pessoal e a manutenção de níveis
adequados de saúde destes indivíduos são a chave para a sua adequada reabilitação e reintegração
sociais; em contrapartida, e para que lhes seja possível alcançar estas mesmas condições, deverá o
ambiente prisional ser propiciador para a obtenção das mesmas(4). Esta é uma questão importante e é
também uma grande responsabilidade(7).
A taxa de mortalidade entre a população prisional é 50% maior do que a da população em geral.
Estudos efetuados(8, 9) sugerem uma maior mortalidade entre a população reclusa após a sua libertação
comparativamente com a população em geral. Essa desigualdade estende-se a outras questões nas
áreas da saúde e acarreta também outros problemas, entre os quais se destacam a saúde mental, o
défice de atividade física (AF) e o abuso de substâncias estupefacientes, que em combinação com a
pobreza e a falta de habitação, contribuem para as múltiplas e complexas necessidades desta
população(10). Por outro lado, o crime, e principalmente o crime violento, é claramente um problema
de saúde pública(11). Alguns autores(11, 12) sugerem ainda que existe uma associação entre a falta de
Carla Alexandra Gomes Afonso 19
saúde e a probabilidade de cometer crimes. A redução das desigualdades pode, portanto, melhorar as
condições de saúde e as condições sociais, que a longo prazo podem contribuir para uma maior
segurança pública e redução da criminalidade(10).
A experiência internacional demonstra cada vez mais a importância da saúde em meio prisional.
Verifica-se, de facto, que muitos dos indivíduos recluídos sofrem de condições de saúde precárias,
resultado de estilos de vida e/ou ambientes inadequados. Vários estudos (13-15) indicam que a
população prisional tem maior risco de contrair certas doenças e uma maior taxa de doença mental do
que a população em geral. Por outro lado, existem estudos que demonstram que o tempo de prisão
efetiva está associado a mudanças na saúde física e mental(16, 17).
Os estabelecimentos prisionais (EP) podem ser lugares muito insalubres, tanto para os reclusos como
para os trabalhadores nelas afetos. A existência de um elevado número de pessoas com dependências
(como o consumo do álcool e o consumo de substâncias estupefacientes), bem como a existência de
comportamentos de risco, são problemas de saúde que podem levar à transmissão de doenças graves.
Por outro lado, existe, infelizmente, um grande número de indivíduos com doenças mentais que
deviam estar ao cuidado de instituições de saúde civis, mas que permanecem em meio prisional. As
taxas de suicídio e automutilação nas prisões de alguns países são muito altas e a violência pode ser
uma ocorrência diária. Ao mesmo tempo, os EP proporcionam uma oportunidade para tratar dos vários
problemas de saúde da população reclusa(18), e cujo acesso, de acordo com as Nações Unidas(19), deve
ser equivalente aos cuidados de saúde disponíveis para toda a restante população. A provisão de
cuidados de saúde em EP suscita também questões de direitos humanos, e pode ocasionalmente
exercer uma pressão considerável sobre o pessoal das equipas de saúde, que no exercício da sua
atividade têm, obrigatoriamente, de atuar com independência profissional diante dos valores
institucionais desses locais. Um relatório elaborado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos(20)
descreve inúmeros casos que demostram respostas clínicas inadequadas, sendo que muitos
consubstanciam em violações da Convenção Europeia dos Direitos Humanos(21), como por exemplo a
alimentação forçada a indivíduos em greve de fome usando como pretexto argumentos clínicos falsos.
Em comum com todos os outros seres humanos, assiste aos indivíduos recluídos o direito ao "mais alto
padrão possível de saúde física e mental" (Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e
Culturais, artigo 12(22)). No entanto, os cuidados de saúde em meio prisional não conseguem, muitas
vezes, atingir esses padrões. Os relatórios do Comité Europeu para a Prevenção da Tortura e os
Tratamentos ou Punições Inumanas ou Degradantes sobre visitas a prisões nos 45 Estados membros
do Conselho da Europa sublinharam graves deficiências em alguns países(23).
Carla Alexandra Gomes Afonso 20
A saúde em meio prisional tem um significado muito mais amplo do que apenas o cuidado de pessoas
individuais detidas(18). Segundo Keppler et al(24), “Public Health is Prison Health”. É indubitável a
importância assumida pela saúde em meio prisional para a saúde pública. Existe um claro interesse de
saúde pública na saúde prisional, já que estes estão intimamente ligados ao serviço nacional de saúde.
O surgimento de patologias de rápida disseminação, de que são exemplos o Vírus da Imunodeficiência
Adquirida /Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (VIH/SIDA) e as hepatites, o ressurgimento de
outras doenças contagiosas graves, como a tuberculose e, como já mencionadas, o crescente
reconhecimento de que as prisões são recetáculos inadequados para pessoas com dependências e
problemas de saúde mental, colocaram a saúde em meio prisional na agenda da saúde pública. Como
todas as sociedades que tentam lidar com esses sérios problemas de saúde, ficou claro que qualquer
estratégia nacional para controlá-los exige o desenvolvimento e a inclusão de políticas penitenciárias,
uma vez que as prisões contêm, em qualquer momento, um número desproporcional de pessoas que
necessitam de cuidados de saúde(4).
Boas condições de saúde prisionais criam benefícios consideráveis. Desta forma, é possível prevenir a
disseminação de doenças e promover o bem-estar populacional, devendo os indivíduos ser
devidamente informados sobre de que forma podem contribuir e ajudar a manter a própria saúde e a
saúde dos outros. Por outro lado, a saúde da população recluída pode ajudar a melhorar o estado de
saúde das comunidades onde estes reclusos se encontram inseridos, contribuindo desta forma para a
saúde de todos os indivíduos das mesmas(4). Outro aspeto igualmente relevante é uma melhor
reinserção social(25). A grande maioria dos reclusos regressará, um dia, à sociedade civil, e muitas vezes
às comunidades de onde vieram, pelo que urge contribuir para uma adequada reintegração(18).
Já referimos a existência de fracas condições de saúde em populações prisionais, nomeadamente
devido à grande representatividade de grupos com baixos indicadores de saúde e com
comportamentos de risco elevados, que incluem o consumo de drogas, álcool e tabaco(4, 26). Por esta
razão, a avaliação epidemiológica afigura-se essencial, permitindo a monitorização adequada das
condições de saúde prisional. Esta mesma avaliação revela que muitas doenças e patologias crónicas
estão sobre representadas na população prisional, demonstrando que este grupo populacional
apresenta inúmeros condicionalismos na área da saúde(4). Como a população reclusa não é geralmente
incluída nos Inquéritos Nacionais de Saúde(27), desconhece-se em concreto o seu estado de saúde.
Admite-se, no entanto, que esta população representa um potencial fardo para o sistema de saúde
quando estes indivíduos, que padecem de doenças crónicas não tratadas e/ou não controladas, se
reinserem posteriormente na sociedade(28). De facto, pessoas com patologias crónicas não
Carla Alexandra Gomes Afonso 21
transmissíveis estão mais expostos a mudanças na qualidade e disponibilidade de cuidados de saúde
em meio prisional(29). A entrada em ambiente prisional ou a transição entre vários EP, promove, de
certa forma, descontinuidade na prestação dos cuidados de saúde, nomeadamente no que ao
tratamento farmacológico diz respeito(28).
Carla Alexandra Gomes Afonso 22
1.2. Alimentação em meio prisional
Os tratados internacionais de direitos humanos incluem duas dimensões indivisíveis do Direito
Humano à Alimentação Adequada (DHAD): o direito de não ter fome e o direito de consumir uma
alimentação de boa qualidade. As necessidades alimentares dos seres humanos envolvem muito mais
do que simplesmente a satisfação das necessidades energéticas, sendo essencial que a alimentação
seja nutricionalmente equilibrada e culturalmente aceitável(30).
Uma dieta adequada em termos de quantidade, qualidade e segurança é essencial para que o
organismo obtenha a energia e os nutrientes necessários, capazes de manter um bom estado de saúde.
O cumprimento do DHAD é crucial para o desenvolvimento nutricional, e evidências empíricas apoiam
uma relação direta entre o padrão inadequado de consumo de alimentos e a ocorrência de deficiências
nutricionais, excesso de peso e obesidade e doenças crónicas não transmissíveis (DCNT)(31, 32). A
alimentação não saudável é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento de DCNT(33-35).
De acordo com a OMS(4), uma alimentação adequada constitui um dos fatores de interação primordial
na prevenção e tratamento de patologias em meio prisional. A OMS(4) afirma igualmente que “a
qualidade e a quantidade de alimentos disponíveis numa prisão têm grande influência na qualidade de
vida do recluso”. Segundo Meek R.(36), há três aspetos que têm de ser considerados dentro de um EP.
O primeiro é a alimentação. Criminologistas e sociólogos demonstraram que a alimentação
desempenha vários papéis dentro do contexto prisional. Os alimentos têm um poder simbólico e são
um meio de comunicação num ambiente altamente controlado(37-39). Na prisão, as refeições são o
ponto mais importante do dia(40), já que quebram a monotonia da vida quotidiana em reclusão e
proporcionam oportunidades de associação com outras pessoas(41).
A alimentação no sistema prisional é, desde sempre, um tema sensível e de especial importância. É
também uma parte recorrente e necessária da sobrevivência que se torna um elemento-chave da
rotina regular de uma prisão. Além disso, devido ao poder simbólico que a comida possui, é uma forma
de comunicação através da qual expressões de dominação e resistência podem ser feitas(38). Existe
indubitavelmente uma forte relação afetiva com os alimentos, que vai muito para além da própria
necessidade humana de subsistência através dos mesmos. São disso exemplo os alimentos que os
familiares e amigos trazem durante as suas visitas ao EP, que reforçam os laços afetivos, e muitas vezes
alegram e transformam um pouco a privação da liberdade a que os indivíduos recluídos estão sujeitos.
Existe uma enorme ênfase dada à morbilidade fisiológica e psiquiátrica, enquanto outros aspetos da
condição do recluso permanecem por avaliar. O estado nutricional da população prisional é um deles.
Carla Alexandra Gomes Afonso 23
As consequências da má nutrição são bastante significativas e importantes, variando entre
recuperações lentas a uma maior taxa de mortalidade(42).
Como resultado das necessárias e importantes medidas de segurança em EP, existe controle absoluto
sobre todos os alimentos com origem no exterior (nomeadamente dos que provêm de familiares e
amigos) e que são posteriormente disponibilizados à população reclusa. Devido à grande limitação dos
alimentos que podem ser fornecidos, a falta de variedade destes irá inevitavelmente ter impacto no
regime alimentar do recluso a longo prazo, podendo estar diretamente ligado ao desenvolvimento de
patologias relacionadas com o regime alimentar(43).
Estudos indicam que a própria estrutura dos EP, desenhada para controlar a liberdade de movimento
dos reclusos, contribui para o ganho de peso(27, 44, 45). Por outro lado, a ingestão alimentar em EP não
inclui em quantidade suficiente frutas frescas, vegetais ou opções com baixo teor de gordura e baixo
teor de sódio. Apesar de ser indubitável a importância da alimentação dentro de um EP, não é fácil
torná-la uma prioridade; todas as necessidades são urgentes em meio prisional(36, 39).
Alguns estudos sugerem que o ambiente social e a estrutura das prisões contribui para a obesidade,
para o agravamento de patologias crónicas, e que estes são obstáculos para a manutenção ou melhoria
do estado de saúde dos reclusos(27, 44-46). Os riscos para os indivíduos com excesso de peso ou obesidade
são evidentes. De facto, estes indivíduos apresentam um risco muito mais elevado de desenvolvimento
de doenças como a hipertensão arterial (HTA), a diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e o enfarte agudo do
miocárdio, assim como também doenças mentais, como a depressão, quando os comparamos com os
seus pares que apresentam peso normal(27, 47). Está comprovado que as deficiências nutricionais podem
afetar não só a saúde física como também a saúde mental, tendo sido relacionadas, por exemplo, com
a agressão(48).
A qualidade e a quantidade de alimentos disponíveis em EP têm uma grande influência sobre a
qualidade da vida do indivíduo. A disponibilidade de alimentos seguros e saudáveis revela-se essencial
para manter e melhorar a saúde da população reclusa. Assegurar o fornecimento de uma alimentação
equilibrada em meio prisional, assim como a promoção de estilos de vida saudáveis, ajudará a prevenir
patologias relacionadas com regimes alimentares deficientes e inadequados, promovendo-se, desta
forma, uma melhor saúde para todos os indivíduos. Uma nutrição adequada deve ser considerada
como um dos direitos humanos básicos dos indivíduos recluídos, especialmente porque muitos têm
uma saúde bastante precária. Além disso, grupos populacionais vulneráveis nas prisões - como
mulheres grávidas e lactantes, indivíduos com hábitos de consumo de substâncias estupefacientes e
idosos - têm necessidades alimentares e nutricionais específicas(4).
Carla Alexandra Gomes Afonso 24
É, pois, indispensável o aumento do consumo de alimentos protetores, de que são exemplos as frutas,
os vegetais e os cereais integrais, que, aliados à redução de ingestão de sódio e de açúcar nas refeições,
contribuem para melhorar a alimentação desta população, tornando-a mais saudável e equilibrada,
diminuindo desta forma a incidência de doenças crónicas. Pode igualmente ajudar a reduzir custos com
despesas médicas, o que acarreta enormes benefícios a todos os contribuintes(49).
Carla Alexandra Gomes Afonso 25
1.3. Síndrome metabólica em meio prisional
Paralelamente com o aumento da prevalência da diabetes e da obesidade, a prevalência da síndrome
metabólica (SM) tem aumentado a nível mundial, sendo considerada também como um grave
problema de saúde pública(50, 51).
A SM foi descrita pela primeira vez em 1923 pelo médico sueco Eskil Kylin, que a definiu como uma
associação entre hipertensão, aumento dos níveis de glicose no sangue e a presença de gota. A SM
caracteriza-se por um conjunto de diversos fatores, entre os quais a resistência à insulina, a obesidade,
a dislipidemia e a HTA(52-54). Tem sido sugerido por vários autores que a SM não se limita aos fatores
acima mencionados, incluindo disfunção endotelial, hipercoagulação, stress crónico e processos
inflamatórios, todos sujeitos a interações genéticas e a fatores ambientais (22, 53, 54).
A SM contribui para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DCV) e de DM2. Além disso,
aumenta o risco de morte prematura, nefropatologia, neuropatologia e de cancro(55). A obesidade é
uma característica fundamental da SM e está associada a uma alta morbilidade e mortalidade
cardiovascular, estando igualmente relacionada com a disfunção endotelial, que é determinante em
pacientes com DCV(56).
Apesar das várias definições e conjuntos de critérios de classificação desde a sua descrição inicial(57),
especialmente em relação às duas principais categorias etiológicas, obesidade e resistência à insulina,
todas as definições propostas concordam como sendo os componentes nucleares da SM a obesidade
abdominal, a resistência à insulina, a dislipidemia e a HTA(58).
Os critérios adotados para o diagnóstico da SM por diferentes organizações são inúmeros. Muitas
definições de SM têm sido utilizadas em todo o mundo, sendo classificadas de acordo com dois
principais tipos de critérios. A definição da International Diabetes Federation (IDF)(59) representa um
tipo de critério, enquanto a definição conjunta da American Heart Association (AHA) e do National
Heart, Lung, and Blood Institute (NHLBI)(60) conhecida como ATP III representa um outro tipo. A
principal diferença entre essas definições é que, segundo a IDF, a obesidade abdominal é considerada
como uma componente essencial da SM, enquanto que segundo o ATP III todos os fatores de risco
contribuem de igual forma para a definição de SM, e esta se define como a presença de três
componentes desses cinco. Outros autores indicam também existir uma forte dependência da idade e
do género na prevalência da SM, assim como uma ampla variação geográfica na sua frequência(61).
Carla Alexandra Gomes Afonso 26
Devido ao acentuado aumento do risco cardiovascular, a SM é na atualidade, uma patologia
importante, associada a um conjunto de fatores de risco. A SM afeta cerca de 25% da população
mundial, sendo responsável por 7% da mortalidade global e por 17% dos óbitos ligados às DCV(62).
Em Portugal, e de acordo com a Fundação Portuguesa de Cardiologia, a SM afeta mais de um terço da
população portuguesa adulta(63). A literatura ressalva ainda que pessoas com SM tem duas vezes mais
probabilidade de morte súbita, independentemente da causa; são três vezes mais propensas a
sofrerem um enfarte do miocárdio e/ou acidente vascular cerebral e possuem cinco vezes mais risco
de desenvolverem DM2(64, 65). Considerando as taxas cada vez maiores de excesso de peso e de
obesidade, assim como o impacto relevante da SM na saúde pública(66), nomeadamente na evolução
da DCV, importa desenvolver estudos capazes de analisar e compreender a SM(51, 67). Alguns autores(43,
68) verificam que a presença de risco de doenças crónicas (entre as quais DCV, DM2, HTA) estão
relacionadas com o regime alimentar, e referem igualmente a prevalência de SM na população
reclusa(43).
De acordo com as recomendações europeias de 2012 sobre prevenção de DCV na prática clínica, uma
alimentação saudável e a prática de AF revelam-se como essenciais para a prevenção da SM(69). Vários
estudos epidemiológicos e ensaios clínicos realizados destacam os efeitos benéficos da dieta
mediterrânica (DMed) e da prática de AF, principalmente pelo seu efeito predominantemente
cardioprotetor(69-71). Por outro lado, Lutsey et al.(72) referem que um padrão alimentar ocidental,
caracterizado pelo consumo de carne e alimentos fritos promove a incidência de SM.
Durante as últimas duas décadas, inúmeros estudos relacionaram padrões alimentares equilibrados,
como o mediterrânico, com taxas de mortalidade mais baixas, diminuição da prevalência de alguns
distúrbios metabólicos (como a obesidade e a HTA), bem como menor incidência de DCV e vários tipos
de cancro. Alguns autores(43, 68) verificam que a presença de risco de doenças crónicas (entre as quais
DCV, DM2, HTA) estão relacionadas com o regime alimentar, e referem igualmente a prevalência de
SM na população reclusa.
A intervenção alimentar e nutricional num grupo populacional tão específico é complexa, e deve
permitir explorar de forma mais aprofundada o regime alimentar da população reclusa.
Carla Alexandra Gomes Afonso 27
1.4. Atividade física em meio prisional
Desde 2600 aC que os médicos, incluindo Hipócrates em 400 aC, acreditavam na importância da AF
para a saúde(73). O professor Jeremiah Morris foi um dos pioneiros na investigação dos benefícios da
AF, cujo trabalho ajudou a modificar as opiniões populares da época. Foi ele o responsável pela
realização dos primeiros estudos epidemiológicos (realizados em trabalhadores londrinos dos
transportes públicos rodoviários (BUS) e dos correios ), que investigaram a inatividade física e o risco
de doença crónica, publicados em 1953(74).
Define-se AF como sendo qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que
requer gasto de energia(75). Já o exercício físico(76) compreende toda a prática consciente de AF,
realizada com um objetivo específico (por exemplo de melhorar a saúde) e bem delineada no tempo,
com ou sem prescrição. É geralmente uma prática planeada.
Num mundo cada vez mais sedentário, a AF parece assumir-se como uma parte importante da solução
para o combate às doenças da civilização, incluindo proteção contra doenças cardiovasculares,
diabetes, cancro e outras principais causas de morte em países desenvolvidos(77, 78). Os benefícios da
prática regular de AF para a saúde estão bem estudados(79-81) e a AF é reconhecida pela sua importante
contribuição para o bem-estar e qualidade de vida de pessoas de todas as idades. A AF tem benefícios
na promoção da saúde e prevenção de doenças(13). Pessoas fisicamente ativas são mais saudáveis,
capazes de prevenir a obesidade e têm maior esperança média de vida, sofrem menos de patologias
como a ansiedade e a depressão, assim como é menor a probabilidade de desenvolvimento de
patologias crónicas(82). A prática regular de exercício físico reduz as causas da mortalidade e promove
resultados benéficos para a saúde. Além disso, a sua regularidade contribui também para uma melhor
qualidade de vida(83-85).
Segundo Varguese et al.(86) a AF é um fator de risco independente e protetor associado à redução da
morbidade e mortalidade cardiovascular. No entanto, muitos atletas e praticantes de AF têm hábitos
alimentares típicos de um padrão alimentar ocidental, caracterizado por ingestões elevadas de
açúcares de absorção rápida e gorduras saturadas e trans, e ainda por uma baixa ingestão de legumes
e frutas(87, 88). Estes hábitos alimentares, prejudiciais para a saúde do indivíduo, têm sido associados a
um aumento do risco de muitas patologias crónicas, contrariando os benefícios da AF para a saúde (89-
92). Além disso, muitos aspetos do padrão alimentar ocidental aumentam a síndrome da resposta
inflamatória sistémica (89, 90, 93) e têm outros efeitos nefastos, que podem prejudicar a capacidade
individual de prática de AF(94-96). Portanto, do ponto de vista da saúde e da performance física, os
Carla Alexandra Gomes Afonso 28
atletas e os indivíduos fisicamente ativos podem beneficiar da adoção de um padrão alimentar mais
equilibrado, de que é exemplo o padrão alimentar mediterrâneo(97), cujo efeito protetor está bem
documentado(97, 98).
O aumento da AF é uma das medidas com um elevado impacto positivo na saúde de uma população.
Se todos fossemos fisicamente ativos diariamente, a saúde da população mundial melhoraria
consideravelmente e o custo dos cuidados de saúde cairia drasticamente(13). Lee et al.(73) realizaram
um estudo para quantificar qual o impacto da inatividade física nas principais doenças não
transmissíveis a nível mundial, estimando o quanto essas doenças poderiam ser evitadas na população
se os indivíduos fisicamente inativos se tornassem ativos, bem como o aumento na esperança média
de vida.
A OMS reconhece que a inatividade física é o quarto fator de risco mundial para a mortalidade, sendo
igualmente um dos maiores fatores de risco para as doenças crónicas não transmissíveis, como as DCV,
a diabetes e o cancro(99). Outros autores(7, 83, 100, 101) referem também que a falta de atividade física é
responsável pela alteração de fatores de risco cardiovasculares como a HTA , o aumento dos valores
de colesterol LDL e de marcadores inflamatórios. Estudos epidemiológicos enfatizaram a importância
da prática regular de AF na manutenção de uma boa condição de saúde e na promoção de uma melhor
qualidade de vida(102, 103). Apesar das evidências científicas, grande parte da população mundial
permanece fisicamente inativa, principalmente devido às modificações dos estilos de vida(104).
Na população reclusa, em resultado das drásticas mudanças no seu padrão de vida habitual, a saúde
dos indivíduos recluídos fica bastante vulnerável, já que devido ao novo ambiente onde se encontram
inseridos a AF é baixa ou inexistente. A reclusão é caracterizada por um estilo de vida sedentário(105-
109). O ambiente prisional, indubitavelmente caracterizado pelo isolamento, impõe limites aos
movimentos dos indivíduos e contribui para a inatividade, o que resulta em padrões de vida
modificados. A condição de reclusão prejudica o livre movimento do indivíduo, obrigando-o a um estilo
de vida sedentário, situação esta que predispõe a uma ampla gama de patologias infeciosas e a
contração de doenças não transmissíveis como a obesidade, a DM2, as DCV e patologias do foro mental
como stress, depressão ou ansiedade(13, 83). Muitos indivíduos recluídos não cumprem com as
recomendações de 30 minutos de Atividade física Moderada (AFM) por dia, e um estudo realizado no
Reino Unido(106) concluiu que os estes estão geralmente sentados ou deitados nas suas camas mais de
9 horas por dia. A reclusão tem igualmente inerente uma diminuição da autonomia, já que muitas
decisões e responsabilidades são transferidas para o pessoal que trabalha em EP(110), e de isolamento
social, já que os indivíduos recluídos são em grande parte isolados dos seus próprios meios sociais(111).
Carla Alexandra Gomes Afonso 29
Num EP, o tempo de encarceramento está indubitavelmente associado a uma redução significativa da
prática de AF(112), e por este motivo, a prática de AF supervisionada pode melhorar a saúde dos
reclusos(113). A grande maioria das patologias de elevada prevalência entre a população recluída pode
ser evitada pela AF e, portanto, deve ser uma medida essencial a ter em consideração em programas
desenvolvidos para este grupo de população específico(114). Assim sendo, a possibilidade de realizar AF
no interior de um EP desempenha um importante papel em regime de reclusão, já que contribui não
só para o bem estar físico dos indivíduos, como também coadjuva o seu bem estar social e mental.(115)
Estudos efetuados em ambiente prisional demonstraram benefícios no planeamento e implementação
de programas promotores da AF, evidenciando uma efetiva melhoria na qualidade de vida dos reclusos,
e permitindo-lhes uma melhor integração social no final do cumprimento da medida privativa de
liberdade(116, 117). A escolha do programa de exercício físico deve responder às exigências particulares
da condição de reclusão. Programas com equipamentos leves e fáceis são adequados para indivíduos
que demonstrem comportamentos antissociais (por exemplo, indivíduos com dificuldade em controlar
a violência). A realização de AF regular aumenta o bem-estar e qualidade de vida, e foi descrito que o
treino supervisionado pode melhorar estas condições debilitantes, assim como a aptidão física geral
de pessoas recluídas(112, 113).
Apesar da existência de alguns estudos em EP(112, 118), muito ainda permanece por avaliar, o que nos
compele a investigar ainda mais esta temática.
Carla Alexandra Gomes Afonso 30
2. Objetivos
A presente dissertação teve como objetivos:
2.1. Objetivo geral
- Investigar a prevalência de excesso de peso e SM, e sua associação com a ingestão nutricional e AF
numa amostra de população prisional.
2.2. Objetivos específicos
- Avaliar a prevalência de pré-obesidade e obesidade numa amostra de população prisional.
- Avaliar a prevalência de SM numa amostra de população prisional.
- Caracterizar a ingestão nutricional numa amostra de população prisional.
- Avaliar a prevalência de inadequação nutricional numa amostra de população prisional.
- Caracterizar a AF numa amostra de população prisional.
Carla Alexandra Gomes Afonso 31
3. Material e Métodos
3.1. Participantes
Todos os reclusos (n=1200) de 3 prisões do norte de Portugal foram convidados a participar no estudo.
Foi-lhes explicado oralmente o objetivo deste estudo, e após obtermos consentimento informado,
aceitaram participar 362 (30,2%).
Este estudo foi previamente aprovado pela Comissão de Ética da Universidade do Porto.
3.2. Dados sociodemográficos e de estilo de vida
Recolhemos os seguintes dados sociodemográficos e de estilo de vida: idade, escolaridade (sabe ler e
escrever, 1º ciclo, 2º ciclo, 3º ciclo, ensino universitário), situação jurídico-penal
(preventivo/condenado), atividades laborais dentro do EP (trabalha/não trabalha), e hábitos tabágicos
(se fuma, e número de cigarros por dia).
3.3. Avaliação antropométrica
Recolhemos as seguintes medidas antropométricas: peso e estatura, segundo metodologia
internacional(119). Para a recolha do peso, solicitamos aos participantes que permanecessem com o
mínimo de roupa possível. Utilizamos uma balança com estadiómetro, de marca SECA, modelo 207®
(Hamburg, Germany). O peso e a altura foram determinados com um erro de 0,1 quilogramas e 0,5
centímetros, respetivamente. O IMC foi calculado através do quociente entre o peso (em kg) e o
quadrado da altura (em m2). Utilizamos a classificação da OMS para o IMC(120), para definir baixo peso
(IMC<18,5 kg/ m2), peso normal (IMC [18,5;25[ kg/ m2), pré-obesidade (IMC [25; 30[ kg/ m2) e
obesidade (IMC≥30 kg/ m2).
Os homens foram agrupados em 2 grupos, com excesso de peso (IMC ≥ 25 kg/ m2) e sem excesso de
peso (IMC <25 kg/ m2).
Também avaliamos o perímetro abdominal, e para tal utilizamos uma fita métrica, com erro de
medição de 0,1 cm, medido no ponto médio entre a crista ilíaca e a borda inferior das costelas, no final
de uma expiração normal(121).
Carla Alexandra Gomes Afonso 32
3.4. Avaliação da ingestão alimentar
A avaliação da ingestão alimentar foi obtida através de um questionário semi-quantitativo de
frequência alimentar (QFA), de administração indireta, validado para portugueses adultos(122).
O QFA é constituído por 86 itens, que permitem avaliar a ingestão alimentar durante os 12 meses
anteriores, incluindo grupos de alimentos e bebidas. Para a obtenção do consumo alimentar, a
frequência referida para cada item foi multiplicada pela respetiva porção média padrão, em grama (g),
e por um fator de variação sazonal para alimentos consumidos em épocas específicas. A conversão de
alimentos em nutrientes foi efetuada utilizando como base o programa informático Food Processor
Plus® (ESHA Research, Salem, Oregon), com informação nutricional proveniente de tabelas de
composição de alimentos do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, adaptada
a alimentos tipicamente Portugueses.
Foram analisados os seguintes parâmetros nutricionais: ingestão energética total, proteínas, hidratos
de carbono totais, açúcares simples, açúcares livres, gordura total, ácidos gordos saturados (AGS),
ácidos gordos monoinsaturados (AGMI), ácidos gordos polinsaturados totais (AGPI), ácidos gordos
polinsaturados ómega 3 (AGPI n-3), ácidos gordos ácidos gordos polinsaturados ómega 6 (AGPI n-6),
ácidos gordos trans, colesterol, fibra alimentar, vitaminas (A, D, E, K, B1, B2, C, B6, B12, PP, folato, ácido
pantoténico), cálcio, ferro, fósforo, iodo, magnésio, molibdénio, selénio e zinco.
Para determinar a prevalência de ingestão inadequada de macronutrientes energéticos, fibra e
micronutrientes utilizamos as Dietary Reference Intakes (DRI)(123), excetuando para os açúcares livres
e os ácidos gordos trans, onde utilizamos as recomendações da OMS(124). Com esses dados, podemos
comparar a ingestão nutricional dos reclusos com as recomendações acima, para estabelecer a
percentagem de inadequação nutricional para os nutrientes estudados.
3.5. Avaliação dos parâmetros clínicos
A avaliação dos parâmetros clínicos foi realizada através de recolha de dados no processo clínico
individual interno de cada recluso. Recolhemos os seguintes parâmetros: pressão arterial sistólica
(PAS), pressão arterial diastólica (PAD), concentração plasmática de glicose, colesterol HDL (HDL) e
triglicerídeos (TG).
Carla Alexandra Gomes Afonso 33
Para determinar a prevalência de SM utilizamos a definição da IDF(59): Perímetro abdominal ≥94 cm
(homens Europids) (ou IMC>30 kg/m2) e simultaneamente mais 2 fatores: TG ≥ 150 mg/dl, HDL < 40
mg/dl, PAS ≥ 130 mm Hg ou PAD ≥ 85 mm Hg.
3.6. Avaliação da atividade física
A AF foi avaliada usando a versão curta do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ)(125).
Os dados de validade e a fiabilidade de 12 países (incluindo Portugal) mostraram que o IPAQ tem
validade e fiabilidade comparáveis com outros métodos de avaliação da AF(126). De acordo com as
recomendações para o processamento e análise de dados do IPAQ(125), a AF total foi expressa em
equivalentes metabólicos (MET) min/semana, através do registo dos minutos reportados por semana,
em cada categoria de atividade, pelo equivalente metabólico específico de cada atividade (AF Total
=3.3 MET*minutos a caminhar*dias a caminhar+4.0 MET* minutos de atividade de intensidade
moderada* dias de atividade de intensidade moderada+8.0 MET* minutos de atividade de intensidade
vigorosa* dias de atividade de intensidade vigorosa).
A AF foi categorizada em AF Caminhar (IPAQ_Walking), AF Moderada (IPAQ_AFM), AF Vigorosa
(IPAQ_AFV), somatório de AF Moderada e AF Vigorosa (IPAQ_AFMV) e somatório de AF Caminhar, AF
Moderada e AF Vigorosa, (IPAQ_ Walking + IPAQ_AFM + IPAQ_AFV), de acordo com o preconizado no
IPAQ(125).
A AF total foi expressa em minutos por semana (min/sem), e obtida através da soma do tempo
despendido em AFM e AFV, para determinar a porção da amostra que cumpre com os critérios
estabelecidos pelas recomendações de AF da American College of Sports Medicine (ACSM) e da
American Heart Association (AHA) para adultos(102). Os participantes do estudo foram classificados em
2 categorias, de acordo com o seu nível de AF em min/sem: suficientemente ativos (indivíduos que
reportaram 150 min/sem ou mais de AFM ou 60 min/sem ou mais de AFV) e insuficientemente ativos
(indivíduos que reportaram menos de 150 min/sem de AFM ou menos de 60 min/sem de AFV).
3.7. Análise estatística
Os programas utilizados na análise dos dados foram o Food Processor Plus® (ESHA Research, Salem,
Oregon), o Microsoft Excel Office 365 e o IBM SPSS Statistics versão 25 para MAC.
Carla Alexandra Gomes Afonso 34
Realizou-se o estudo exploratório dos dados de forma a avaliar os pressupostos estatísticos
fundamentais. A média, mediana, desvio padrão (dp) e percentil 25 e 75 foram calculados para a
estatística descritiva. O nível de significância foi estabelecido em 5% (p ≤ 0,05).
Numa primeira fase, para conhecer a possibilidade dum tratamento estatístico paramétrico foi feita a
análise da normalidade de distribuição para cada variável, recorrendo-se à análise dos coeficientes de
assimetria e achatamento (curtose), considerando distribuição próxima da normalidade quando o
valor absoluto de ambos os coeficientes foi <2(127).
Para a verificação das diferenças entre médias de duas variáveis contínuas, efetuamos o teste t de
Student para duas amostras independentes quando havia a possibilidade de aplicação dos testes
paramétricos, optando pelo teste de Mann-Whitney U para comparar ordens médias quando os
pressupostos não permitiam a utilização de testes paramétricos.
Utilizamos o teste de Qui-quadrado para avaliar a independência entre variáveis nominais. Considerou-
se um nível de significância de 0,05.
Carla Alexandra Gomes Afonso 35
4. RESULTADOS
4.1. Caracterização sociodemográfica
A amostra é constituída por 362 elementos do sexo masculino, com uma média de idades de 37,4 anos
(dp=11,6). O grau de escolaridade predominante é o 2º ciclo (33,1%), embora a percentagem de
homens com o grau de escolaridade do 3º ciclo seja próxima (27,9%). (Tabela 1.).
No que diz respeito à situação jurídico-penal, 67% dos reclusos são condenados, e estes tinham maior
probabilidade de ter excesso de peso (p=0,05).
Verificamos que a maioria dos homens não desempenham uma atividade laboral dentro do EP (53%).
A maioria dos homens é fumador (63,3%), e são os indivíduos sem excesso de peso que fumam mais,
embora esta diferença não seja significativa (p=0,399). O nº de cigarros consumidos, em média, é de
9,9 por dia.
Tabela 1. Características sociodemográficas de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total Com excesso peso Sem excesso peso
p Média
(dp) Mediana
[P25; P75] Média
(dp) Mediana Média
(dp) Mediana
[P25; P75] [P25; P75]
Idade (anos) 37,4 36,0 37,7 (12,1)
35,0 37,2 36,0 (11,6) (28,0;44,0) (28,0;48,0) (11,2) (29,0;44,0)
N.º de cigarros/dia 9,9 (9,1)
10,0 9,0 8,0 10,7 12,0 0,054* (0;20,0) (9,0) (0;15,0) (9,1) (0;20,0)
Total Com excesso peso Sem excesso peso p n (%) n (%) n (%)
Habilitações literárias sabe ler e escrever 18 (5,0) 3 (1,9) 15 (7,5) 1º ciclo 95 (26,2) 49 (30,4) 46 (22,9) 2º ciclo 120 (33,1) 57 (35,4) 63 (31,3) 3º ciclo 101 (27,9) 40 (24,8) 61 (30,3) ensino secundário 22 (6,1) 9 (5,6) 13 (6,5) ensino universitário 6 (1,7) 3 (1,9) 3 (1,5) 0,102° Situação jurídica Condenados 244 (67,4) 121 (75,2) 123 (61,2) Preventivos 118 (32,6) 40 (24,8) 78(38,8) 0,005° Trabalho no EP Não 193 (53,3) 91 (56,5) 102 (50,7) Sim 169 (46,7) 70 (43,5) 99 (49,3) 0,274° Hábitos tabágicos Não fumadores 133 (36,7) 63 (39,1) 70 (34,8) Fumadores 229 (63,3) 98 (60,9) 131 (65,2) 0,399°
*Mann-Whitney
°Qui-quadrado
Carla Alexandra Gomes Afonso 36
4.2. Caracterização antropométrica
Relativamente aos parâmetros antropométricos avaliados, verificou-se um peso médio de 75,7 kg
(dp=15,2), uma altura média de 1,75 m (dp=0,07), um IMC médio de 24,8 (dp=4,4) e um perímetro
abdominal de 88 cm (dp=12). O peso, o IMC, o perímetro abdominal e o quociente entre o perímetro
abdominal e a altura (PA/Alt) são significativamente superiores no grupo com excesso de peso
(p<0,001). (Tabela 2.)
Tabela 2. Caracterização antropométrica de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total Com excesso peso
Sem excesso peso
p Média
(dp) Mediana
[P25; P75] Média
(dp) Mediana Média
(dp) Mediana
[P25; P75] [P25; P75]
Peso (kg) 75,7 (15,2)
74,0 (64,8;83,0)
88,0 (13,8)
83,4 (77,5;100,1)
65,8 (6,9)
65,0 (60,5;71,1) <0,001*
Altura (m) 1,75 (0,07)
1,75 (1,69;1,78)
1,75 (0,08)
1,75 (1,68;1,79)
1,75 (0,05)
1,75 (1,71;1,77) 0,958*
IMC (kg/m2) 24,8 (4,4)
24,3 (21,9;27,5)
28,7 (3,3)
27,5 (26,5;29,9)
21,6 (2,1)
22,0 (20,1;23,5) <0,001*
Perímetro abdominal (cm) 88 (12)
86 (81;92)
93 (12)
91 (85;102)
83 (10)
83 (75;90) <0,001*
Perímetro abdominal(cm)/ Altura (m)
0,50 (0,07)
0,49 (0,45;0,53)
0,50 (0,10)
0,51 (0,47;0,61)
0,50 (0,10)
0,48 (0,43;0,51) <0,001*
*Mann-Whitney
Dos 362 reclusos que participaram no estudo, 8% têm baixo peso, 48% são normoponderais, 34% têm pré-
obesidade e 10% são obesos. (Gráfico 1.)
Carla Alexandra Gomes Afonso 37
Gráfico 1. Distribuição da amostra, em percentagem, de acordo com as categorias de IMC
4.3. Caracterização dos parâmetros clínicos
Para a PAS e PAD, verificamos que, em média, os homens com excesso de peso apresentam valores
mais elevados comparativamente com os homens sem excesso de peso, verificando-se diferenças
estatisticamente significativas entre os dois grupos (p<0,001). Relativamente aos parâmetros
bioquímicos, verifica-se uma concentração plasmática média de glicose mais elevada no grupo com
excesso de peso sendo esta diferença estatisticamente significativa (p<0,001). Quanto ao HDL e aos
TG, verificamos que, em média, os grupos em comparação apresentam valores semelhantes. (Tabela
3.)
Tabela 3. Caracterização dos Parâmetros clínicos de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total Com excesso peso
Sem excesso peso
Média (dp)
Mediana [P25; P75]
Média (dp)
Mediana Média (dp)
Mediana p [P25; P75] [P25; P75]
PAS (mmHg) 136,4 (23,4)
130,0 (120,0;160,0)
158,1 (14,6)
160,0 (150,0;170,0)
119,1 (11,8)
120,0 (110,0;122,5)
<0,001*
PAD (mmHg) 89,5 (17,2)
90,0 (80,0;100,0)
102,6 (13,2)
100,0 (92,5;110,0)
78,9 (12,1)
80,0 (70,0;89,5)
<0,001*
Glicose (mg/dl) 101,8 (12,7)
103,0 (91,0;111,0)
108,2 (9,5)
109,0 (102,5;114,5)
96,7 (12,6)
93,0 (87,0;107,0)
<0,001*
HDL (mg/dl) 39,0 (8,0)
37,0 (33,0;41,0)
39,6 (8,3)
37,0 (34,0;41,0)
38,5 (7,8)
37,0 (33,0;41,5)
0,204*
TG (mg/dl) 168,3 (25,5)
173,0 (157,0;186,0)
170,5 (23,2)
173,0 (158,0;184,0)
166,5 (27,1)
172,0 (154,0;188,0)
0,22*
*Mann-Whitney
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
<18,5 kg/ m2baixo peso ou
magreza
[18,5;25[normoponderal
[25; 30[ pré-obesidade
[30-34,9[obesidade grau I
[35-39,9[obesidade grau II
≥40 obesidade grau III
(obesidade mórbida)
8,0
47,5
34,0
8,3
1,1 1,1
Carla Alexandra Gomes Afonso 38
Considerando os pontos de corte da IDF para a definição de SM, verificamos uma prevalência superior
a 50% de valores tensionais elevados (53,9% PAS e de 60,8% PAD), constatando-se uma maior
contribuição dos reclusos com excesso de peso (respetivamente de 96,9% e de 95,7%), sendo as
diferenças estatisticamente significativas em relação ao grupo sem excesso de peso (p<0,001). Quanto
à glicose, registamos uma prevalência de 63,8% da amostra com glicemia ≥ 100mg/dl, com uma maior
contribuição dos reclusos com excesso de peso (94,4%) (p<0,001). Para o HDL e TG, verificamos uma
prevalência, respetivamente, de 26,5% e de 81,8% acima dos pontos de corte, com uma maior
contribuição dos reclusos com excesso de peso (72,7% para o HDL e 87% para os TG), sendo que para
estas duas variáveis apenas se registaram diferenças estatisticamente significativas para os TG
(p=0,028). (Tabela 4.)
Tabela 4. Relação entre os parâmetros de diagnóstico de SM de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total n (%)
Com excesso peso n (%)
Sem excesso peso n (%) p
PAS (mmHg) ≥130 mmHg 195 (53,9) 156 (96,9) 39 (19,4) < 130 mmHg 167 (46,1) 5 (3,1) 162 (80,6) <0,001° PAD (mmHg) ≥ 85 mmHg 220 (60,8) 154 (95,7) 66 (32,8) < 85 mmHg 142 (39,2) 7 (4,3) 135 (67,2) <0,001° Glicose (mg/dl) ≥ 100 mg/dl 231 (63,8) 152 (94,4) 79 (39,3) <100 mg/dl 131 (36,2) 9 (5,6) 122 (60,7) <0,001° HDL (mg/dl) ≥ 40 mg/dl 96 (26,5) 44 (27,3) 52 (25,9) <40 mg/dl 266 (73,5) 117 (72,7) 149 (74,1) 0,811° TG (mg/dl) ≥ 150 mg/dl 296 (81,8) 140 (87,0) 156 (76,6) <150 mg/dl 66 (18,2) 21 (13,0) 45 (22,4) 0,028°
°Qui-quadrado
Avaliamos a prevalência de SM na nossa amostra entre os grupos com e sem excesso de peso
estudados. Verificamos que a maioria dos homens não têm SM (79,8%), e são os indivíduos sem
excesso de peso os que mais contribuem para este valor (89,6%). Apenas 20,2% dos reclusos têm SM,
e são os indivíduos com excesso de peso os que mais contribuem para este valor (32,3%). (Tabela 5.)
Tabela 5. Prevalência de SM de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total n (%)
Com excesso peso n (%)
Sem excesso peso n (%) p
Com SM, n (%) 73 (20,2) 52 (32,3) 21 (10,4) Sem SM, n (%) 289 (79,8) 109 (67,7) 180 (89,6) <0,001°
°Qui-quadrado
Carla Alexandra Gomes Afonso 39
4.4. Caracterização da ingestão nutricional
A ingestão energética média é de 2473 kcal/dia (dp=724), 2461 kcal/dia (dp=739) nos homens sem
excesso de peso e 2487 kcal/dia (dp=708) nos homens com excesso de peso, sem diferença
estatisticamente significativa.
Os contributos médios para o valor energético total diário (VET) dos diferentes macronutrientes foram
de 17,5% para as proteínas, 52,7% para os hidratos de carbono e 31,4% para a gordura. Não foram
encontradas diferenças estatisticamente significativas de ingestão entre os reclusos com e sem excesso
de peso. Nenhum recluso reportou o registo de etanol. (Tabela 6.)
Tabela 6. Ingestão energética e de macronutrientes de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total Com excesso peso Sem excesso peso
p Média
(dp) Mediana
[P25; P75] Média
(dp) Mediana Média
(dp) Mediana
[P25; P75] [P25; P75] Energia (kcal)
2473 (724)
2461 (2034;2969)
2487 (708)
2475 2461 (739)
2459 0,806* (1991;3099) (2091;2902)
Proteína (% VET)
17,5 (4,4)
16,6 (14,4;19,9)
17,9 (4,6)
17,3 17,2 (4,2)
16,4 0,138* (14,7;20,3) (14,3;19,4)
HC (% VET)
52,7 (7,0)
52,2 (48,4;57,2)
52,4 (7,1)
52,2 53,0 (7,0)
52,3 (48,7;57,6) 0,605* (48,4;56,1)
Açúcares simplesa (% VET)
24,3 (7,9)
23,9 (18,5;29,5)
24,4 (7,6)
24,0 (18,6;29,5)
24,3 (8,2)
23,8 (18,1;29,5) 0,771*
Açúcares livresb (% VET)
14,8 (4,6)
14,2 (11,8;17,4)
14,7 (4,8)
14,2 (11,3;17,9)
14,8 (4,4)
14,2 (12,4;16,9) 0,409
Gordura total (% VET)
31,4 (4,6)
30,9 (28,3;34,4)
31,3 (4,8)
30,6 (28,2;34,4)
31,4 (4,5)
31,2 (28,3;34,4) 0,637*
AGS (% VET)
9,5 (1,6)
9,4 (8,4;10,4)
9,5 (1,8)
9,3 (8,3;10,5)
9,5 (1,5)
9,5 (8,5;10,3) 0,50*
AGMI (% VET)
14,6 (3,2)
14,5 (12,2;16,6)
14,4 (3,3)
14,4 (12,0;16,7)
14,7 (3,1)
14,6 (12,3;16,5) 0,528*
AGPI (% VET)
4,55 (0,25)
4,53 (4,37;4,71)
4,56 (0,25)
4,52 (4,37;4,72)
4,54 (0,25)
4,54 (4,37;4,72) 0,912*
AGPI n-3 (% VET)
0,59 (0,16)
0,56 (0,47;0,70)
0,61 (0,18)
0,57 (0,47;0,73)
0,58 (0,14)
0,56 (0,47;0,68) 0,453*
AGPI n-6 (% VET)
3,38 (0,21)
3,39 (3,21;3,52)
3,38 (0,22)
3,38 (3,20;3,52)
3,39 (0,04)
3,41 (3,23;3,53) 0,473*
AG trans (%VET)
0,10 (0,54)
0,09 (0,07;0,12)
0,10 (0,05)
0,09 (0,07;0,12)
0,10 (0,06)
0,09 (0,07;0,12) 0,585*
[P25; P75] interquartil; VET: valor energético total diário
AGS: ácidos gordos saturados
AGPI: ácidos gordos polinsaturados a refere-se ao total de monossacarídeos e dissacarídeos b refere-se aos açúcares adicionados aos alimentos pela indústria, restauração ou consumidor, além de açúcares presentes naturalmente no mel, xaropes e sumos de fruta.
*Mann-Whitney
Carla Alexandra Gomes Afonso 40
Quando avaliamos a nossa amostra segundo o diagnóstico de SM, verificamos que a ingestão
energética média é de 2512 kcal/dia (dp=736) nos homens sem SM e 2317 kcal/dia (dp=659) nos
homens com SM (p=0,018).
Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas de ingestão relativa aos
macronutrientes entre os reclusos com e sem SM. Não foi registado contributo energético de etanol.
(Tabela 7.)
Tabela 7. Ingestão energética e de macronutrientes segundo o diagnóstico de SM
Com SM Sem SM
p Média
(dp) Mediana Média
(dp) Mediana
[P25; P75] [P25; P75]
Energia (kcal) 2317 (659)
2260 2512 2530 0,018* (1949;2683) (736) (2095;3029)
Proteína (% VET) 18,3 (4,8)
17,6 17,3 16,5 0,096* (14,8;21,1) (4,3) (14,3;19,5)
HC (% VET) 52,7 (7,1)
50,9 (47,9;55,0)
53 52,6 0,070* (7,0) (48,4;57,5)
Açúcares simplesª (% VET)
23,7 (7,3)
22,3 (18,6;27,3)
24,5 24,0 0,341* (8,1) (18,4;29,5)
Açúcares livresb (% VET)
14,8 (4,3)
14,3 (11,7;18,9)
14,7 14,2 0,764* (4,6) (11,8;16,9)
Gordura total (% VET) 31,6 (4,6)
31,2 (28,9;34,5)
31,3 30,9 0,380* (4,6) (28,1;34,4)
AGS (% VET) 9,6 (1,8)
9,5 (8,5;10,5)
9,5 9,4 0,913* (1,6) (8,4;10,4)
AGMI (% VET) 14,6 (3,3)
14,7 (12,2;16,9)
14,5 14,4 0,711* (3,2) (12,2;16,6)
AGPI (% VET) 4,60 (0,26)
4,55 (4,44;4,72)
4,54 4,53 0,136* (0,25) (4,37;4,72)
AGPI n-3 (% VET) 0,61 (0,18)
0,54 (0,47;0,73)
0,59 0,57 0,621* (0,15) (0,47;0,70)
AGPI n-6 (% VET) 3,41 (0,23)
3,42 (3,24;3,53)
3,38 3,39 0,674* (0,21) (3,21;3,53)
AG trans (%VET) 0,10 (0,05)
0,09 (0,07;0,11)
0,11 (0,06)
0,09 (0,07;0,13) 0,252*
[P25; P75] intervalo interquartil; VET: valor energético total diário
AGS: ácidos gordos saturados
AGPI: ácidos gordos polinsaturados a refere-se ao total de monossacarídeos e dissacarídeos b refere-se aos açúcares adicionados aos alimentos pela indústria, restauração ou consumidor, além de açúcares presentes naturalmente no mel, xaropes e sumos de fruta.
*Mann-Whitney
No que diz respeito à adequação do contributo energético dos macronutrientes, e após comparação
dos valores obtidos com as DRIs(123), não verificamos resultados diferentes quer abaixo ou acima dos
Carla Alexandra Gomes Afonso 41
valores recomendados, exceto para os açúcares livres e AG trans (respetivamente 98,3% e 100% acima
do recomendado), e para os AGMI e os AGPI (n-3 e n-6) (respetivamente 56,9%, 100% e 99,4% abaixo
do recomendado). (Tabela 8.)
Também não se observaram diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos de reclusos
avaliados, pelo que os resultados que de seguida se apresentam referem-se apenas à totalidade da
amostra. (Tabelas 8. e 9.)
Tabela 8. Prevalência de inadequação da ingestão de macronutrientes
abaixo da referência de acordo com a referência acima da referência
n % n % n % Proteínas 10-35% VET 3 0,8 359 99,2
Hidratos de carbono totais 45-65 % VET 46 12,7 299 82,6 17 4,7 Açúcares livresb < 10 % VET 6 1,7 356 98,3 Gordura total 20-35 % VET 286 79 76 21,0 AGS < 10 % VET 244 67,4 118 32,6 AGMI 15-20 % VET 206 56,9 135 37,3 21 5,8 AGPI 6-10% VET 360 99,4 2 0,6 AGPI n-3 0,6-1,2 % VET 362 100,0 AGPI n-6 5-10% VET 360 99,4 2 0,6 AG trans (%VET) < 1 % VET 362 100,0
b refere-se aos açúcares adicionados aos alimentos pela indústria, restauração ou consumidor, além de açúcares presentes naturalmente no mel, xaropes e sumos de fruta.
A análise da ingestão média de colesterol, fibra e micronutrientes revelou que os reclusos com e sem
excesso de peso têm ingestão semelhante, com exceção do cálcio, que apresenta uma ingestão
significativamente superior nos reclusos com excesso de peso. (Tabela 9.)
Carla Alexandra Gomes Afonso 42
Tabela 9. Ingestão de colesterol, fibra e micronutrientes de acordo com a presença ou ausência de excesso de peso
Total Com excesso peso Sem excesso peso
p Média
(dp) Mediana
[P25; P75] Média
(dp) Mediana Média
(dp) Mediana
[P25; P75] [P25; P75]
Colesterol (mg) 303,8 (107,0)
286,8 (240,8;354,1)
308,5 (115,1)
280,7 300,0 (99,8)
296,8 0,797* (240,8;363,2) (240,8;349,3)
Fibra (g) 25,3 (9,3)
24,7 (19,3;30,1)
25,8 (8,5)
25,3 25,0 (9,8)
23,9 0,279* (19,8;30,4) (19,0;30,0)
Vitaminas
B1 (mg) 1,9 (0,5)
1,8 (1,5;2,1)
1,9 (0,5)
1,9 (1,6;2,1)
1,9 (0,6)
1,8 (1,5;2,1) 0,394*
B2 (mg) 2,2 (0,8)
2,1 (1,8;2,6)
2,3 (0,7)
2,2 (1,8;2,7)
2,2 (0,8)
2,1 (1,7;2,6) 0,125*
PP (mg EN) 25,8 (7,0)
25,1 (21,7;30,0)
26,1 (6,1)
25,2 (22,5;30,0)
25,5 (7,6)
25,1 (21,0;30,0) 0,297*
B6 (mg) 2,2 (0,7)
2,1 (1,8;2,5)
2,2 (0,6)
2,2 (1,8;2,5)
2,1 (0,7)
2,1 (1,8;2,5) 0,155*
B12 (mg) 9,6 (4,6)
8,9 (6,5;11,9)
9,9 (4,9)
8,9 (6,7;11,9)
9,4 (4,2)
8,9 (6,2;11,9) 0,400*
C (mg) 132,2 (71,0)
119,6 (92,6;155,6)
136,3 (71,1)
123,6 (95,8;163,3)
129,0 (70,4)
116,3 (85,5;148,8) 0,121*
Folato (μg) 300,9 (112,0)
280,7 (233,5;348,8)
299,6 (97,4)
285,0 (239,3;341,3)
301,9 (122,6)
279,1 (230,4;355,9) 0,888*
Ácido panto-ténico (mg)
5,1 (1,4)
5,1 (4,2;5,7)
5,2 (1,4)
5,1 (4,4;5,9)
5,0 (1,4)
5,1 (4,1;5,6) 0,219*
A (μg ER) 1860,5 (836)
1803,6 (1247;2350)
1899,5 (858)
1827,8 (1388;2266)
1829,4 (819)
1773,8 (1200;2404) 0,606*
D (μg) 4,7 (2,4)
4,7 (2,9;5,9)
4,8 (2,4)
4,9 (2,9;6,1)
4,6 (2,4)
4,6 (2,9;5,8) 0,361*
E (mg) 9,9 (3,2)
10 (8,1;11,7)
10,1 (3,2)
10 (8,5;11,6)
9,8 (3,2)
9,8 (7,8;11,8) 0,618*
K (mg) 15,6 (11,1)
11,7 (9,4;24,4)
16,5 (11,7)
12,7 (9,7;24,4)
14,9 (10,6)
11,5 (9,0;24,4) 0,202*
Minerais
Cálcio (mg) 1006,0 (413)
946,6 (737;1245)
1051,0 (401)
988,5 (764;1288)
970,0 (421)
914,1 (707;1213) 0,028*
Ferro (mg) 16,5 (5,0)
16,1 (13,8;19,0)
16,5 (4,3)
m16,1 (14,2;18,9)
16,5 (5,5)
16,1 (13,2;19,1) 0,668*
Fósforo (mg) 1492,0 (472,0)
1506,4 (1182;1709)
1534,0 (449,6)
1506,8 (1237,8;1756,9)
1458,5 (487,2)
1506 (1159,3;1654,2) 0,141*
Iodo (μg) 104,2 (73,0)
77,8 (59,9;160,4)
110,8 (75,1)
83,9 (61,9;162,4)
98,9 (71,7)
76,0 (56,1;160,0) 0,082*
Magnésio (mg) 327,9 (95,0)
320 (267,8;374,8)
333,5 (84,3)
322,5 (271,8;385,1)
323,4 (102,5)
318,8 (261,7;368,9) 0,167*
Molibdénio (μg)
7,9 (5,8)
5,8 (4,4;12,3)
8,4 (6,1)
6,2 (4,7;12,6)
7,5 (5,5)
5,6 (4,4;12,2) 0,120*
Selénio (mg) 113,9 (41,0)
111,8 (81,9;136,5)
117,1 (41,0)
112 (83,1;139,5)
111,4 (41,2)
111,7 (76,8;134,9) 0,268*
Sódio (mg) 1914,5 (653,0)
1850,2 (1525,5;2217,7)
1924,4 (633,6)
1858,6 (1500,5;2177,0)
1906,6 (670,2)
1825,3 (1527,9;2242,4) 0,748*
Zinco (mg) 12,8 (3,7)
12,6 (10,5-14,8)
13,1 (3,5)
21,6 (11-12,6)
12,5 (3,8)
12,5 (9,9-14,7) 0,140*
*Mann-Whitney
Carla Alexandra Gomes Afonso 43
Quando analisamos a prevalência de inadequação da ingestão de colesterol, fibras e micronutrientes
segundo as DRI, verificamos que existem elevadas prevalências de inadequação de: vitamina K e
molibdénio (100%), vitamina E (94,5%), fibra (92,3%), magnésio (89,2%), folato (86,7%), iodo (69,9%),
cálcio (57,2%), vitamina D (53,9%). (Tabela 10.)
Tabela 10. Prevalência de inadequação da ingestão de colesterol, fibra e micronutrientes
abaixo da referência acima da referência
n % n %
Colesterol (mg) 162 44,8
Fibra (g) 334 92,3
Vitaminas
B1 (mg) 11 3,0
B2 (mg) 29 8,0
PP (mg EN) 15 4,1
B6 (mg) 66 18,2
B12 (mg) 14 3,9
C (mg) 86 23,8
Folato (μg) 314 86,7
Ácido pantoténico (mg) 121 33,4
A (μg ER) 33 9,1
D (μg) 195 53,9
E (mg) 342 94,5
K (mg) 362 100,0
Minerais
Cálcio (mg) 207 57,2
Ferro (mg) 7 1,9
Fósforo (mg) 12 3,3
Iodo (μg) 253 69,9
Magnésio (mg) 323 89,2
Molibdénio (μg) 362 100,0
Selénio (mg) 18 5,0
Sódio (mg) 76 21
Zinco (mg) 87 24,0
Carla Alexandra Gomes Afonso 44
4.5. Caracterização da atividade física
Quando analisamos os reclusos quanto à AF, verificamos que, com exceção da AFV, os homens sem
excesso de peso têm valores médios mais elevados de AF, comparativamente com aqueles com
excesso de peso. Registamos diferenças estatisticamente significativas (p<0,001) para a AFM, a AFMV
e a soma das AFV, da AFM e da AFWalking, entre os dois grupos de reclusos. (Tabela 11.)
Tabela 11. Caracterização da atividade física (minutos por semana) de acordo com a presença ou ausência de excesso de
peso
Total Com excesso peso Sem excesso peso
p Média Mediana [P25; P75]) Média Mediana Média Mediana
[P25; P75] [P25; P75] IPAQ_AFWalking (minutos)
455,4 (67,0)
445,5 (396,0;495,0)
451,3 (63,4)
445,5 458,6 (68,8)
445,5 0,416* (396,0;495,0) (396,0;495,0)
IPAQ_AFM (minutos)
96,2 (34,0)
120,0 (60,0;120,0)
60,8 (6,6)
60,0 (60,0;60,0)
124,8 (16,3)
120,0 (120,0;120,0) <0,001*
IPAQ_AFV (minutos)
18,2 (45,0) 0 21,4
(47,6) 0 15,6 (42,6) 0 0,158*
IPAQ_AFMV (minutos)
114,4 (54,0)
120,0 (60,0;120,0)
82,1 (47,7)
60,0 (60,0;60,0)
140,4 (43,9)
120,0 (120,0;120,0) <0,001*
IPAQ AFV+ IPAQ AFM+ IPAQ AFWalking (minutos)
569,8 (82,0)
565,5 (505,5;615,5)
533,5 (78,0)
505,5 (456,0;55,05)
599,0 (72,7)
596,0 (516,0;633,4)
<0,001*
*Mann-Whitney
Relativamente à classificação da AF (insuficientemente ativos e suficientemente ativos) não se
observaram diferenças estatisticamente significativas entre os homens com ou sem excesso de peso.
Verificamos igualmente que a totalidade da nossa amostra não é suficientemente ativa, já que não
realizou AFM, numa semana, igual ou superior a 150 minutos, nem AFV igual ou superior a 60 min/sem.
(Tabela 12.) Tabela 12. Classificação da atividade física (minutos por semana) de acordo com a presença ou ausência de excesso de
peso
Total n (%)
Com excesso peso n (%)
Sem excesso peso n (%) p
Insuficientemente ativos, (menos de 150 min/sem de AFM e menos de 60 min/sem de AFV)
289 (80,1) 131 (81,4) 158 (79)
Suficientemente ativos (150 min/sem ou mais de AFM ou 60 min/sem ou mais de AFV)
72 (19,9) 30 (18,6) 42 (21) 0,576°
°Qui-quadrado
Carla Alexandra Gomes Afonso 45
Foi também efetuada a análise estatística das possíveis correlações/associações entre a ingestão
nutricional, a AF, a presença de excesso de peso ou de SM, mas não foram encontrados quaisquer
resultados significativos.
Carla Alexandra Gomes Afonso 46
5. DISCUSSÃO
O presente trabalho demonstrou uma prevalência elevada de excesso de peso (34% dos indivíduos
tinham pré-obesidade e 10,5% eram obesos). Martínez-Delgado et al.(81) referem percentagens
semelhantes às obtidas no nosso estudo: 54,5% dos reclusos eram normoponderais, 33,3% dos
indivíduos tinham pré-obesidade e 12,1% eram obesos. Binswanger et al.(27) também revelaram que a
prevalência da obesidade na população prisional foi inferior à da população não institucionalizada.
Outros estudos(105, 128) demonstraram que a população reclusa tinha uma prevalência de obesidade
idêntica à da população comum. Choudhry et al.(129) referem que existe uma quantidade significativa
de evidências para sugerir que os níveis de obesidade na população prisional masculina são
semelhantes ou menores comparativamente com a população em geral. Destacamos a menor
prevalência de obesidade encontrada no nosso trabalho, comparativamente com os valores obtidos
no único estudo(130) que se conhece realizado em EP portugueses, embora em mulheres, e no qual se
verificou que 40,4% da população prisional era obesa. Outros estudos realizados na população não
institucionalizada em Portugal e na Europa, relataram prevalências elevadas de obesidade: Gaio et
al.(131) apuraram que, de entre os indivíduos avaliados, 45,5% apresentavam pré-obesidade e 25,0%
eram obesos; Oliveira et al.(132) verificaram, a nível nacional, uma prevalência de obesidade de 22,3%,
significativamente mais elevada nas mulheres (24,3%) e nos indivíduos mais velhos (39,2%); Marques
et al.(133) demonstraram que, para os indivíduos do sexo masculino, a prevalência da obesidade era de
17,8%; Alves et al.(134) referem que aproximadamente 1 em cada 6 portugueses é obeso e que a taxa
de prevalência tem vindo a aumentar regularmente desde 1995.
Os valores destes estudos estão em concordância com os valores registados no relatório da OMS
(Estado da Saúde na União Europeia (UE) - Perfil de Saúde do País em Portugal 2017)(135), no qual se
relatam que as taxas de obesidade em adultos têm vindo a aumentar ao longo do tempo, atingindo
16% em 2014, valor ligeiramente acima da média da UE. De facto, e com base nos dados reportados
no documento referido, cujos autores referem que tende a subestimar a verdadeira prevalência da
obesidade, cerca de um em cada seis (16,1%) adultos em Portugal é obeso, o que significa quase um
ponto percentual acima da média da UE.
Considerando que este estudo foi realizado em EP masculinos, importa ressalvar que a utilização do
IMC como marcador de saúde é limitada pelo domínio da promoção do culturismo nas prisões
masculinas. A vontade de aumento de peso pode ser explicada pela masculinidade exagerada, onde
Carla Alexandra Gomes Afonso 47
há um desejo de se tornar fisicamente maior e mais forte através de um culturismo intensivo, obtendo
respeito e desfrutando de um status mais elevado dentro da prisão(136), bem como garantir proteção
pessoal(137, 138). O desejo de ganhar músculo revela as limitações de usar o IMC como um indicador de
saúde dentro do ambiente prisional: os indivíduos que praticam culturismo terão inevitavelmente um
peso mais elevado, assim como o IMC, enquanto a gordura corporal diminui, pelo que os níveis de
obesidade podem ser sobrestimados. O uso do PA é, portanto, essencial para o estudo da obesidade e
das alterações de peso em meio prisional(43). No nosso estudo, verificamos para a média do perímetro
abdominal, uma diferença de 10 cm entre os indivíduos com e sem excesso de peso (respetivamente
93,2 cm e 83,2 cm), enquanto que, para a média do peso e nos mesmos grupos, observamos uma
diferença de 22,2 kg (respetivamente 88 kg e 65,8kg). Salientamos igualmente o facto de, nos
indivíduos com excesso de peso, o PA médio ser inferior ao ponto de corte da IDF (94 cm), assim como
também o valor verificado da razão PA/Alt, em que a média é de 0,5. A falta de trabalhos realizados
em meio prisional com recolha deste parâmetro antropométrico torna pertinente a sua utilização no
nosso estudo. Por outro lado, vários estudos(139-141) salientam a importância do PA como parâmetro
antropométrico essencial na estimativa do risco cardiovascular. Huxley et al.(141) concluíram que os
parâmetros antropométricos utilizados para medir a obesidade abdominal (perímetro abdominal,
PA/Alt) são melhores preditores do risco de DCV do que o IMC. Diversos autores(142-144) referem que a
reclusão é caracterizada pela existência de um risco aumentado de DCV, já que os indivíduos recluídos
têm muitos fatores de risco associados às DCV (regime alimentar desequilibrado, baixa AF,
comorbilidades (VIH/ SIDA), dependência de substâncias estupefacientes, stress), além de fatores
específicos da reclusão, como a exposição a um ambiente prisional, o que pode também aumentar o
risco de DCV(143, 144). A alteração de hábitos alimentares, a monitorização do peso, a implementação de
programas de AF, e o controle regular da pressão arterial são algumas das medidas que podem ser
implementadas para ajudar a controlar e a reduzir este problema(144).
A prevalência de SM na população estudada foi de 20%. Estes valores estão ligeiramente abaixo dos
verificados em outros países por Hannan-Jones et al.(43) e por Lagarrigue et al.(145), que identificaram,
respetivamente, 26% e 27,8% de SM em reclusos do sexo masculino. Reeves et al.(146) apuraram uma
prevalência de SM mais baixa na população recluída (15,6%). Num estudo realizado por Raposo et
al.(147) na população portuguesa não institucionalizada, a percentagem de SM encontrada foi de 49,6%.
Santos et al. referem valores de SM de 41,9%(58). Estes resultados parecem sugerir que os reclusos
recebem melhores cuidados de saúde e têm estilos de vida mais saudáveis do que os seus pares na
comunidade(146).
Carla Alexandra Gomes Afonso 48
Vera-Remartinez(148) refere que entre os fatores preditivos da SM, destacam-se o risco genético, o
sedentarismo, a falta de AF, a dieta e ainda o uso de antipsicóticos de segunda geração que aumentam
o peso corporal e o risco de dislipidemia e/ou hiperglicemia, promovendo, portanto, o aparecimento
da SM. Isso é especialmente importante em EP, onde a prevalência de transtornos mentais graves é
quatro vezes maior do que na população não institucionalizada e onde aproximadamente 44% dos
doentes tomam estes medicamentos.
Quanto à relação entre a SM e a dieta, e apesar de não ter sido encontrada no nosso trabalho
associação entre a ingestão nutricional e esta síndrome, registamos valores elevados de inadequação
nutricional acima do recomendado para os ácidos gordos trans (100%), açúcares livres (98,3%), e
gordura total (21%), dos quais 32,6% correspondem a AGS; verificamos também valores de
inadequação nutricional abaixo do recomendado para os AGMI (56,9%), e AGPI (n-3 e n-6)
(respetivamente 100% e 99,4%). Como os reclusos podem receber alimentos do exterior (fornecidos
pelos amigos e /ou familiares durante as visitas ao EP) ou adquirir alimentos a expensas próprias nas
cantinas de cada EP (em linguagem própria de EP refere-se “fazer cantina” ao ato semanal a que cada
recluso tem direito, e no qual pode adquirir todo o género de produtos que lhe são necessários;
incluem-se nestes, para além de produtos de higiene e tabaco, a aquisição de géneros alimentares),
estes valores podem também refletir essa ingestão, apesar de neste estudo não ter sido avaliada
especificamente.
A alimentação fornecida à população reclusa deve ser adequada e equilibrada, capaz de garantir a
saúde e o bem-estar da população prisional(149). No entanto, as informações sobre o regime alimentar
e o aporte nutricional da população prisional são muito escassas. Em Portugal apenas se conhece um
estudo efetuado em EP(130). Daniele et al.(51) afirmam que a alteração de hábitos alimentares, e a opção
por um regime alimentar saudável, do qual se destaca a dieta mediterrânea, representa uma possível
terapia para a SM, prevenindo a adiposopatia. Vera-Remartinez(148) refere que, no que diz respeito ao
regime alimentar, as intervenções devem visar a promoção de uma DMed, já que esta provou reduzir
a incidência de diabetes e, portanto, reduzir o risco de morte prematura. Diversos estudos acerca da
DMed nos últimos vinte anos(150-154) permitem concluir os seus múltiplos benefícios. Esta caracteriza-
se pelo consumo de cereais integrais, frutas e vegetais, com baixo consumo de gordura animal, e maior
consumo de gordura insaturada, destacando-se a utilização do azeite, importante gordura insaturada
cujos benefícios cardiovasculares são amplamente reconhecidos(50, 155, 156). Conforme declarou a
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 2010, o valor desta
dieta reside na sua capacidade de preservar o estado de saúde e melhorar a longevidade dos
Carla Alexandra Gomes Afonso 49
indivíduos(51). Os nutrientes que são encontrados em abundância na DMed têm propriedades
anticancerígenas, anti-inflamatórias e contribuem juntos para a manutenção do estado de saúde. Os
efeitos anti-tumorais da dieta mediterrânea são devidos principalmente à combinação de elementos
antioxidantes, fibras e gorduras polinsaturadas. Este padrão alimentar é, portanto, essencial como uma
medida preventiva contra o aparecimento de cancro e de outras doenças crónicas, mas também para
reduzir os custos de saúde(51). Deste modo, há um claro efeito preventivo na DMed, nomeadamente
em relação aos fatores risco de DVC, de HTA, de hipercolesterolemia e de obesidade(71, 156, 157).
Uma possível explicação para o efeito benéfico deste padrão alimentar na saúde humana é o baixo
teor de gordura saturada, o alto teor em gordura monoinsaturada, obtida principalmente a partir de
azeite, o alto conteúdo de hidratos de carbono complexos (de que são exemplo as leguminosas) e de
fibra, principalmente proveniente dos vegetais e das frutas. Por outro lado, o elevado consumo de
vegetais, de frutas frescas, de cereais e de azeite garantem uma alta ingestão de micronutrientes como
o betacaroteno, e as vitaminas C e E, bem como o de polifenóis e de vários minerais importantes. Estes
elementos-chave foram sugeridos como responsáveis pelo efeito benéfico desta dieta na saúde
humana(158). Inúmeros estudos têm demonstrado uma associação entre a DMed e melhorias no perfil
lipídico (em particular no colesterol HDL e LDL), menor risco de trombose, melhor função endotelial e
menor resistência à insulina, assim como redução das concentrações plasmáticas de homocisteína e
diminuição da gordura corporal(81, 159). Danielle et al. (51) referem também que este padrão alimentar
atua como medida preventiva contra o aparecimento de cancro e outras doenças crónicas,
contribuindo igualmente para a redução dos custos de saúde. É facto que os antioxidantes
representam um elemento comum na DMed, cuja ação fornece uma explicação plausível para seus
benefícios(124). Este tipo de dieta contém quantidades elevadas de flavonóides, devido ao elevado
consumo de hortofrutícolas. Um estudo efetuado por Panagiotakos et al.(160), demostrou que a adesão
à DMed estava associada a uma probabilidade inferior a 20% de ter SM, independentemente da idade,
sexo, AF, lípidos palsmáticos e níveis de pressão arterial.
Outras dietas podem também ser consideradas, nomeadamente com baixo índice glicémico, assim
como dietas hipoenergéticas com baixo teor de gordura saturada, gordura trans e colesterol(161). O
planeamento de refeições em EP, com a intervenção de nutricionistas(162) e a organização de trabalhos
de grupo e grupos de autoajuda com os reclusos(163), constitui uma mais valia que permite dar
cumprimento ao estipulado no princípio de Hipócrates: deixe que o seu alimento seja o seu remédio,
e o seu remédio seja o seu alimento(164).
Carla Alexandra Gomes Afonso 50
Para melhor estudar o papel desempenhado pela alimentação na manutenção de bons níveis de saúde
e na prevenção da doença(49), os investigadores necessitam de estimativas de ingestão precisas, que
reflitam de um modo adequado a ingestão individual durante um determinado período de tempo(165).
No entanto, e ao contrário de outros fatores de risco que fazem parte do estilo de vida (por exemplo,
o tabagismo), é difícil mensurar a ingestão alimentar. Fazem parte dos hábitos alimentares quotidianos
a ingestão de diferentes alimentos, mas essa ingestão é feita geralmente de uma forma inata, já que
cada indivíduo dificilmente tem a perceção exata dos alimentos que ingere e quais as quantidades
dessa ingestão(166). Entre os métodos que permitem a obtenção de dados fiáveis e traduzem, duma
forma tão precisa quanto possível, um padrão de ingestão alimentar, encontram-se o inquérito às 24
horas anteriores, o diário alimentar e o QFA(166). O QFA tem sido amplamente utilizado em inúmeros
estudos epidemiológicos, tornando possível uma correta avaliação da ingestão alimentar(167), e
permitindo investigar a relação entre o regime alimentar e várias patologias(168), onde um ou mais
componentes alimentares podem ser fatores determinantes de doenças(169). Entre as vantagens de
utilização do QFA refere-se o baixo custo e a facilidade de administração direta ou indireta, o que
possibilita o seu uso em estudos epidemiológicos de larga escala(169). Contrariamente a outros métodos
de avaliação da ingestão alimentar (recolha das 24 horas anteriores, diário alimentar), o QFA avalia a
ingestão alimentar habitual durante um longo período de tempo (geralmente superior a 6 meses), e
ao contrário de outros métodos (diário alimentar), não influencia a ingestão alimentar. No nosso
trabalho, o QFA foi utilizado para avaliar a ingestão alimentar durante 1 ano. Como limitações para a
utilização do QFA, referimos a especificidade de uso em grupos de estudo e objetivos de pesquisa
bastante específicos, o facto de ser um questionário fechado, e ainda a existência de uma precisão
mais baixa (provocada por viés de memória)(167, 168). A alimentação fornecida à população prisional nos
EP estudados, tal como nos demais EP em Portugal, é completa, variada e equilibrada, já que as
ementas são elaboradas por nutricionistas, e regem-se pelos princípios gerais de alimentação saudável,
colocando assim a população prisional em vantagem relativamente à população geral. Conforme
referimos anteriormente, é importante considerar que os homens podem adquirir e receber outros
alimentos para além dos fornecidos pelo EP. O QFA avalia o somatório do conjunto de alimentos
consumidos, e não nos foi possível avaliar estas situações em particular. Além disso, após serem
institucionalizados, os reclusos recebem refeições regulares, e também a oportunidade de praticar AF
e ter acesso a serviços de saúde. Para muitos reclusos, as restrições da prisão fornecem a organização
de uma vida anteriormente não estruturada e também a oportunidade de terem comportamentos
saudáveis(129).
Carla Alexandra Gomes Afonso 51
Relativamente aos macronutrientes, quando comparamos os resultados obtidos com os de outros
trabalhos realizados na população portuguesa masculina não institucionalizada, apuramos valores
aproximados no contributo das proteínas para o VET: Pinhão et al. indicam 18,8%(170), Lopes et al.(171)
revelam 19,9% e no nosso trabalho apuramos 17,5%. Quanto ao contributo da gordura para o VET, o
nosso trabalho mostra um valor de 31,4%, idêntico ao verificado por Pinhão et al.(170) (31,8% ) e por
Lopes et al.(171) (31,7%). No caso dos HC, e quanto ao seu contributo para o VET, registamos, no nosso
trabalho, valores de 52,7%, enquanto Pinhão et al.(170) indicam 42,8%, e Lopes et al.(171) referem 45,9%.
Observando as diferenças encontradas, verificamos que estas são mais significativas para os HC, e
menos significativas para a proteína e gordura, pelo que podemos depreender, com exceção dos HC,
que não há muitas divergências relativamente à ingestão dos restantes macronutrientes entre a
população portuguesa masculina, seja ela ou não institucionalizada. Estes valores também estão em
concordância com os resultados encontrados por Hannan-Jones et al.(149), numa amostra de população
prisional masculina, o que nos permite inferir que, apesar das diferenças culturais e alimentares
próprias de cada país, a alimentação em meio prisional parece ser idêntica e não variar
substancialmente. O único trabalho(130) realizado em Portugal que avaliou a ingestão nutricional numa
população prisional utilizou uma amostra composta exclusivamente por mulheres, verificando-se que
os valores nele reportados são semelhantes. A inexistência de mais trabalhos realizados na população
prisional portuguesa permite salientar a pertinência deste estudo.
Não verificamos quaisquer diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos de reclusos
avaliados para a ingestão média de colesterol, fibra e micronutrientes, com exceção do cálcio, cuja
ingestão é estatisticamente significativa no grupo de reclusos com excesso de peso. A análise dos
resultados obtidos para estes parâmetros nutricionais permite-nos aferir que o grupo de indivíduos
com excesso de peso apresenta maioritariamente valores médios de ingestão superiores ao grupo de
indivíduos sem excesso de peso, o que pode estar associado a uma maior ingestão energética e
consequentemente uma maior ingestão nutricional, pelo que podemos concluir que as diferenças
estatisticamente significativas registadas para o cálcio poder-se-ão dever apenas ao facto de existir
uma ingestão aumentada generalizada para todos os parâmetros nutricionais avaliados. Um estudo
realizado numa população prisional masculina(149), registou valores de ingestão média de energia mais
elevados do que os apurados numa população não institucionalizada, concluindo assim não ser
surpreendente verificar que os valores de ingestão média para a maioria dos micronutrientes sejam
também superiores na população prisional. A falta de trabalhos realizados na população prisional
portuguesa masculina impede-nos uma análise mais profunda dos resultados obtidos.
Carla Alexandra Gomes Afonso 52
Foi possível constatar uma inadequação nutricional elevada (acima de 50%) na amostra estudada para
a fibra, o folato, a vitamina D, a vitamina E, o cálcio, o iodo e o magnésio. Para a vitamina K e o
molibdénio, a totalidade (100%) dos reclusos teve uma ingestão inferior ao recomendado. Afonso(130),
numa população de reclusas portuguesas, também verificou valores de inadequação nutricional acima
dos 50% para alguns destes parâmetros nutricionais (folato), assim como valores de inadequação
nutricional de 100% para outros (vitamina D, vitamina E, vitamina K e molibdénio). Cook et al.(68)
analisaram ementas de EP, reportando igualmente um aporte diário de fibra abaixo das
recomendações; também apuraram que o aporte diário de alguns micronutrientes (vitaminas A, D e E,
magnésio e potássio) era inferior a dois terços das recomendações, e outros (cálcio e zinco) apesar de
serem fornecidos em quantidades superiores a dois terços, apenas satisfaziam 80% das
recomendações. Estes resultados são semelhantes aos apurados por Collins et al.(49), que reportaram
para o cálcio, o magnésio, o potássio e as vitaminas E e D aportes diários inferiores a dois terços das
recomendações.
No nosso estudo foi ainda possível constatar valores de inadequação nutricional para o colesterol, AGS
e sódio. Cook et al.(68) indicam valores acima das recomendações diárias para o colesterol, para os AGS
e também para o sódio, sendo que este último apresenta valores similares aos verificados noutros
trabalhos (49, 149, 172-174). Collins et al.(49) também apuraram valores elevados para o colesterol e para o
sódio, salientando a associação de níveis elevados de colesterol e de sódio com o aumento do risco de
DCV, a que se associam níveis abaixo dos valores recomendados para a fibra, o magnésio, o potássio e
a vitamina E, o que também contribui para um risco aumentado de DCV.
Tal como anteriormente mencionado, registamos valores de inadequação nutricional elevada (acima
de 50%) para a vitamina D. Estudos efetuados em EP revelaram que, de um modo geral, a população
reclusa apresenta deficiência em vitamina D(68, 149, 174-176). É importante considerar que no sistema
prisional o principal objetivo é a segurança, razão pela qual muitos destes lugares são demasiado
fechados, sem exposição direta da luz solar, o que paralelamente ao baixo aporte nutricional pode
favorecer o desenvolvimento de deficiência em vitamina D(175). Níveis inadequados de vitamina D têm
sido associados ao aumento do risco de DCV e diabetes(172, 177). Diversos estudos referem que a
exposição direta à luz solar, entre 5 a 10 minutos nos braços e pernas, entre as 10h e as 15h durante a
primavera, o verão e o outono, poderá impedir o défice de vitamina D(165, 178, 179), assim como o
aumento da disponibilidade e ingestão de alimentos ricos em vitamina D (de que são exemplos alguns
peixes, como o salmão, a truta, o peixe espada, o esturjão, o atum, a sardinha, e o leite e derivados(180)),
que permitem melhorar o aprovisionamento deste nutrimento. Recomenda-se por esta razão que,
Carla Alexandra Gomes Afonso 53
durante o cumprimento da medida privativa da liberdade, os indivíduos possam aproveitar os períodos
em que não estão encerrados para usufruir da luz solar, nomeadamente nos pátios exteriores
existentes dentro das zonas prisionais.
Em alguns países o incumprimento das recomendações nutricionais (DRI) está diretamente relacionado
com as dificuldades económicas que esses países enfrentam, e que conduziram os governos no sentido
de estes reduzirem a quantidade de alimentos fornecidos à população reclusa, por forma a
conseguirem economizar custos(49). Consequentemente, foi possível verificar a ingestão de
quantidades elevadas de colesterol, sódio e açúcar, assim como quantidades baixas de fibra, magnésio,
potássio, vitamina D(149) e vitamina E(49).
Assim, e pelo exposto, urge modificar hábitos alimentares. Alguns autores(148, 181) observam que,
devido aos benefícios da DMed, se deve promover este padrão na alimentação prisional, considerando
a sua direta relação com a redução da incidência de diabetes e, consequentemente também da
redução do risco de morte prematura. Salientam igualmente a importância da redução da ingestão de
alimentos com elevado teor de gordura saturada, de gorduras trans, de colesterol e de açúcares, razão
pela qual se torna essencial a realização de ações de educação alimentar em EP. Gil-Delgado et al.(162)
referem que o planeamento de ementas por nutricionistas é um exemplo de ações importantes a
implementar, promovendo desta forma estilos de vida mais saudáveis em ambiente prisional.
No nosso trabalho mencionamos um contributo energético elevado de açúcares livres e de ácidos
gordos trans relativamente ao aconselhado pela OMS. Collins et al.(49) também referem um valor
elevado de açúcares nas ementas analisadas, excedendo largamente as recomendações. Yang et
al.(182), numa amostra de população não institucionalizada, observaram uma relação significativa entre
o consumo de açúcar adicionado e o aumento do risco de mortalidade por DCV. Por outro lado, vários
autores demonstraram que indivíduos que ingerem quantidades elevadas de açúcares de adição
tendem a ganhar mais peso e têm um maior risco de obesidade(183), DM2(184), dislipidemias(185), HTA(186),
e DCV(187). Tendo como objetivo a melhoria das condições de saúde da população portuguesa, as
autoridades nacionais (através da Direção Geral de Saúde e do Programa Nacional para a Alimentação
Saudável), elaboraram um protocolo com as associações da indústria alimentar e distribuição, acordo
este que visa reduzir as quantidades de sal, açúcar e gorduras trans em mais de 2000 produtos
alimentares (tais como cereais de pequeno-almoço, iogurtes, pão, sopas prontas a comer e batatas
fritas). Relativamente à população prisional, e considerando que para a maioria dos indivíduos os
alimentos fornecidos pelo EP são a única fonte de sustento, é importante garantir o equilíbrio e a
diversidade destes, por forma a assegurar um adequado aporte alimentar e nutricional(130).
Carla Alexandra Gomes Afonso 54
A ingestão média de AGPI, entre os quais AGPI n-3 e AGPI n-6, verificada no nosso trabalho também se
encontra abaixo das recomendações da OMS. Considerando o papel desempenhado pelos AGPI, em
especial dos n-3, na promoção de saúde e prevenção de algumas doenças crónicas, aconselha-se o
aumento do contributo da sua ingestão(188-190). Estudos efetuados demonstram que a substituição de
AGS por ácidos gordos insaturados, quer AGMI, quer AGPI, é eficaz na redução do risco
cardiovascular(191-193). Schwingshackl et al.(194) referem que as fontes alimentares de AGMI são cruciais
para a determinação dos seus efeitos cardioprotetores, apontando especificamente o papel do ácido
oleico, e sua associação com a redução de risco cardiovascular.
Está bem estabelecido que os regimes alimentares afetam a saúde. Por exemplo, dietas ricas em sódio
podem contribuir para o aumento dos valores tensionais, dietas com alto teor de gordura (gordura
total, gordura saturada e colesterol) podem aumentar o risco de DCV, assim como dietas que fornecem
um aporte energético excessivo podem promover ganho de peso se não forem combinadas com AF
adequada(68).
A AF reduz o risco de HTA, de DCV, de diabetes, de depressão e de diferentes tipos de cancro, tais
como cancro do cólon. Por outro lado, pessoas fisicamente inativas apresentam maior risco de
mortalidade(118, 195). Assim sendo, a monitorização dos níveis de AF numa população é importante. No
entanto, avaliá-la com precisão é um desafio(196). Vários métodos são usados na avaliação da AF, de
que são exemplo os acelerómetros, os calorímetros e os pedómetros. Estas abordagens são
consideradas bastante precisas no cálculo de estimativas da AF, assim como também são capazes de
prevenir erros associados a falhas de memória dos inquiridos, como acontece nalguns métodos de
avaliação indiretos (questionários e diários)(197). Não obstante as vantagens dos métodos de avaliação
diretos, eles são mais dispendiosos e consomem mais tempo, sendo também mais invasivos e difíceis
de aplicar em estudos epidemiológicos de larga escala. Por outro lado, métodos de avaliação como os
questionários, são mais fáceis de aplicar e os custos associados são baixos(198). Os questionários de AF
são uniformes e práticos, e permitem avaliar a AF em estudos populacionais com um grande número
de indivíduos, pois são fáceis de administrar, não são invasivos e não são dispendiosos. O IPAQ foi
desenvolvido no final dos anos 90 por um grupo de trabalho multinacional, com o apoio da OMS, para
avaliação da AF a nível nacional de cada país, para indivíduos adultos numa faixa etária entre os 18 e
os 65 anos. A versão curta do IPAQ, cuja avaliação se reporta à AF praticada nos últimos 7 dias, foi
testada em vários países e demonstrou boa fiabilidade e validade em populações de adultos(199-201). No
nosso trabalho utilizamos a versão curta do IPAQ para avaliar a AF. Verificamos que, com exceção da
AFV, os homens sem excesso de peso têm valores médios mais elevados de AF, comparativamente
Carla Alexandra Gomes Afonso 55
com os homens com excesso de peso. Num estudo realizado por Lopes et al.(171) na população
portuguesa, 43% da população com mais de 14 anos não cumpre qualquer critério internacional para
a AF, podendo ser classificada como sedentária, e apenas 27% dos adultos são considerados
fisicamente ativos, cumprindo com as recomendações atuais de AF. O relatório da OMS (Estado da
Saúde na União Europeia (UE) - Perfil de Saúde do País em Portugal 2017)(135), também destaca taxas
de inatividade física elevadas para adultos, e que estão entre as mais altas nos países da UE. Um em
cada quatro adultos europeus é insuficientemente ativo e não cumpre com as recomendações da OMS
para a AF(104). Num estudo realizado por Gerovasili et al.(202), abrangendo 28 países da EU,
aproximadamente ¼ da população adulta com idade inferior a 65 anos foi considerada fisicamente
inativa; Portugal apresentava a segunda maior percentagem de inatividade, com 50,6%, apenas
ficando a seguir a Chipre, com 53,7%.
No nosso trabalho também verificamos que a maioria dos reclusos são fisicamente inativos (80,1%),
sendo os indivíduos com excesso de peso os mais inativos (81,4%), não cumprindo com as
recomendações de AF (150 min/sem ou mais de AFM ou 60 min/sem ou mais de AFV)(102). Apesar das
evidências de que a prática de AF regular tem efeitos positivos na saúde das populações, e do seu
reconhecimento por organizações internacionais como a OMS(203), existe uma proporção significativa
dos reclusos avaliados que não faz AF suficiente para alcançar estes benefícios. A AF é igualmente
condicionada nos EP, quer por motivos de cumprimento da pena a que estão sujeitos (regimes mais
ou menos fechados, consoante estão em regime preventivo ou condenado) quer pelo tipo de trabalho
realizado no interior do EP, muitas vezes sedentário, fazendo com que o indivíduo permaneça sentado
e inativo durante longos períodos de tempo. Os resultados verificados por Battaglia et al.(112) sugerem
que a AF supervisionada melhora a condição física e o estado de saúde dos reclusos. Além disso, a AF
pode ser uma ocupação útil do tempo, o que é bastante importante em EP, assim como para a
preparação adequada da reintegração social. O desenvolvimento de programas que incentivam a
prática regular de AF é uma medida já implementada no sistema prisional de vários países, como por
exemplo o Reino Unido(204) e os EUA(205), e é considerada uma mais-valia na prevenção de patologias
crónicas como a obesidade ou as DCV. Não obstante as limitações do nosso estudo, os resultados
obtidos sugerem a implementação de programas para aumentar os níveis de AF na população prisional.
Estudos futuros também podem oferecer orientação para programas de promoção de AF(130).
Importa, também, reconhecer as limitações deste trabalho, nomeadamente o condicionalismo
provocado pela nossa amostra ser constituída apenas por indivíduos do sexo masculino, pelo que teria
sido interessante realizar este trabalho em homens e mulheres. Por outro lado, devidas às
Carla Alexandra Gomes Afonso 56
caraterísticas próprias deste tipo de instituições e dificuldades no recrutamento da amostra, o
desenvolvimento deste trabalho constituiu um desafio. Convidamos todos os indivíduos das 3
instituições, esperando desta forma obter um maior número de respostas e também uma amostra
heterogénea da população prisional. Consideramos que a inexistência de contrapartidas/benefícios
oferecidos aos reclusos para a participação neste estudo foi um dos motivos para uma percentagem
de respostas que ficou aquém do esperado (num universo de 1200 indivíduos, obtivemos uma
percentagem de respostas de 30,2%). Outra das limitações deste trabalho prende-se com o facto de a
alimentação fornecida nos EP ser relativamente semelhante, pelo que não se verificaram diferenças
estatisticamente significativas nos parâmetros nutricionais avaliados, em ambos os grupos de reclusos
com e sem excesso de peso e também nos reclusos com e sem SM, apesar de não ser possível avaliar
com precisão se os reclusos comem efetivamente aquilo que lhes é servido. Importa considerar que,
ao contrário da população comum com livre arbítrio para fazer as suas próprias escolhas alimentares,
a população reclusa tem inúmeros condicionalismos, desde logo implícitas ao cumprimento da medida
privativa da liberdade. Destaca-se, pela positiva, a utilização de um instrumento de avaliação da
ingestão alimentar validado para a população portuguesa (QFA) e também a utilização de uma
ferramenta já validada e utilizada na população portuguesa para avaliação da AF (IPAQ), assim como a
singularidade do estudo em Portugal.
Não encontramos outros trabalhos realizados no nosso país em populações prisionais masculinas com
avaliação de parâmetros nutricionais.
Pesquisas futuras podem explorar mais intensamente os vários fatores que influenciam as
modificações no peso corporal dos reclusos dentro da prisão, incluindo a alimentação, os níveis de AF
e outros fatores relevantes em relação à mudança de peso, usando métodos quantitativos e
qualitativos.
O dever de prestar adequados cuidados de saúde durante o cumprimento de medidas privativas da
liberdade é importante, já que o meio prisional, aliado à vulnerabilidade individual, origina condições
favoráveis para o desenvolvimento de patologias crónicas(26), muitas delas relacionadas com os hábitos
alimentares, e este é um fator que deve ser considerado na formulação de políticas alimentares destas
instituições(43).
A saúde prisional enfrenta, na atualidade, novos desafios, já que o tempo de controlo e gestão de
patologia infeciosa, deu atualmente lugar a um aumento de patologias crónicas não transmissíveis(206),
originando um reajustamento estrutural e funcional, indubitáveis para um adequado sistema
Carla Alexandra Gomes Afonso 57
organizacional. Para além das doenças infectocontagiosas e das doenças do foro psiquiátrico,
destacam-se como importantes problemas de saúde em ambiente de reclusão as doenças crónicas
como a obesidade, a HTA, o cancro, a diabetes e as DCV (26). Este conjunto de fatores é indicador
relevante no aumento da morbilidade na população prisional(207, 208). Se por um lado, essas mudanças
são uma consequência direta do envelhecimento da população (a expectativa de vida cresceu entre 12
e 13 anos, em média, nos últimos 50 anos, de 67 para 79 anos nos homens e de 72 para 85 anos nas
mulheres), por outro lado, tais alterações são consequência de estilos de vida pouco saudáveis:
regimes alimentares inadequados, hábitos sedentários, obesidade, tabagismo, etc. Por esta razão, a
idade e a SM tornaram-se questões de enorme importância. Apesar de o envelhecimento não ser
sinónimo de doença, os fatores de risco epidemiológicos associados à idade implicam um aumento da
prevalência de patologias crónicas e, portanto, um aumento da morbimortalidade(148).
A sensibilização da população recluída, por parte dos profissionais de saúde, para o excesso de peso,
obesidade e doenças relacionadas é importante. A educação alimentar, realizada no âmbito da
consulta de nutrição, bem como a realização de ações de formação a reclusos sobre temas pertinentes
no âmbito da saúde, tais como a prevenção da diabetes e das DCV, a alimentação saudável, entre
outros, são exemplos de como podemos consciencializar os reclusos para estes problemas tão
importantes de saúde pública. A redução do número de horas de encerramento nas celas é outra
motivação para a prática de AF, o que já acontece. A implementação destas medidas visa contribuir
para a melhoria dos indicadores de saúde na população prisional, nomeadamente de prevenção do
excesso de peso e patologias daí decorrentes.
Seria útil em estudos futuros avaliar os parâmetros estudados neste trabalho comparando amostras
de população reclusa de diferentes géneros (homens/mulheres), e de diferentes EP, quer de acordo
com a distribuição geográfica (nas várias regiões do país), quer de acordo com a classificação (Portaria
n.º 13/2013, de 11 de janeiro) em função do nível de segurança (especial, alta e média) e do grau de
complexidade de gestão (grau elevado e médio).
Carla Alexandra Gomes Afonso 58
6. CONCLUSÕES
Portugal implementou estratégias nacionais de nutrição, prevenindo e tratando a obesidade, e
promovendo a AF para enfrentar esses desafios.
Não obstante o estado nutricional do indivíduo ser importante para a manutenção de um bom estado
de saúde, verifica-se que existe atualmente pouca pesquisa na área da alimentação/nutrição em
populações prisionais.
A existência de excesso de peso, de SM, de hábitos alimentares inadequados e de inatividade física
entre a população estudada, sugerem a necessidade de continuar a realizar estudos epidemiológicos,
pertinentes para uma melhor compreensão destes temas, bem como também impõe a necessidade de
intervenções precoces que sejam capazes de reduzir estas ameaças na população prisional.
A alteração de hábitos alimentares, através da ingestão de uma dieta equilibrada, incluindo mais frutas
e vegetais, mais alimentos ricos em fibras e menos alimentos ricos em gordura saturada e em sódio, a
monitorização do peso, e a implementação de programas de AF, são algumas das medidas que podem
ser realizadas para ajudar a controlar e a reduzir este problema(144), e que podem contribuir para
melhorar a saúde geral dos reclusos, reduzindo assim a taxa de doenças crónicas e,
consequentemente, os custos médicos a longo prazo, tornando o posterior reingresso na sociedade de
indivíduos mais saudáveis.
Este trabalho salienta aspetos importantes relativos ao fornecimento da alimentação na população
prisional, podendo ajudar a definir alterações na política alimentar destas instituições(149). É importante
que a promoção de alimentos saudáveis seja compreendida pela população alvo, pois só assim será
possível a alteração de comportamentos alimentares capazes de contribuir verdadeiramente para uma
melhoria efetiva da saúde nesta população. O consumo de alimentos adquiridos na cantina do EP deve
ser objeto de estudos futuros, já que o seu consumo pela população prisional contribui com um peso
importante no regime alimentar, e tem o potencial de melhorar o perfil de ingestão nutricional ou
reduzir sua qualidade.
Carla Alexandra Gomes Afonso 59
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