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    Tema: Fome

    A. Pro pos tas de red ao

    Texto 1Uma criana morre de fome a cada dez segundos?

    Ruth Alexander

    O uso de um chamativo slogan em uma campanha de ONGs na Gr-Bretanha para destacar agravidade da situao vivida por crianas com desnutrio o de que uma criana morre de fome acada dez segundos gerou crticas por parte do prprio Programa de Alimentao da ONU (WFP, nasigla em ingls).

    O slogan foi adotado pela campanha Enough Food for Everyone Ifno dia 6 de junho, atualizandooutro que vinha sendo usado, o de uma morte a cada 15 segundos. A campanha visa pressionar oslderes do G8, que esto reunidos na Irlanda do Norte, a adotar medidas para combater o problema.

    A organizao diz que o slogan ajuda as pessoas entenderem o problema e o "humanizam". Por suavez, o WFP, rgo que procura justamente combater a fome no mundo, argumenta que os nmerospodem ser enganadores e podem causar confuso.

    "Com certeza existem circunstncias extremas, nas quais crianas morrem de fome, e lembro dafome recente em algumas partes da Somlia. Mas a verdade que a grande maioria daqueles nmeros

    sobre os quais estamos falando se referem a crianas que, por no terem tido a nutrio correta nocomeo da vida, so muito, muito suscetveis a doenas infecciosas, como sarampo.", afirmou JaneHoward, representante do WFP.

    "Uma criana que teve uma boa nutrio simplesmente vai superar [as doenas], mas, no caso deuma criana muito frgil e com um sistema imunolgico comprometido, ameaar sua vida",acrescentou.

    E o fato de uma nutrio deficiente ser identificada como causa subjacente de morte significa quetambm h uma contagem dupla. Quando se ouve que uma criana morre a cada poucos segundosdevido a doenas relacionadas gua no tratada ou devido pobreza, por exemplo, algumas destascrianas vo ser as mesmas que estariam morrendo a cada poucos segundos de fome.

    BBCNews, 18 jun. 2013 (adaptado)

    Texto 2Obesidade a epidemia do sculo XXI

    Paulo Baldaia

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) fez as contas e chegou concluso de que no planeta jexistem mais pessoas com excesso de peso do que a passar fome. A obesidade deixou de ser umfenmeno exclusivo dos pases ricos e em locais como a China, onde a fome ainda atinge mais de 150milhes de pessoas, o excesso de peso tambm j afeta mais de 20 milhes de pessoas.

    Numa circular normativa da Direo-Geral da Sade, enviada para os hospitais quando foi criado oPrograma Nacional de Combate Obesidade, podia ler-se que "a prevalncia da obesidade, a nvel

    mundial, to elevada que a OMS considerou esta doena como a epidemia do sculo XXI". No para menos, a mesma circular deixa claro que, "se no se tomarem medidas drsticas", mais de metadeda populao mundial ser obesa dentro de 20 anos.

    Jornal de Notcias, 15 out. 2006.

    Texto 3Obesidade: uma epidemia?

    Karina Younan

    Em vrios artigos publicados sobre obesidade em nossa populao, o mdico cancerologistaDruzio Varella entrevista diversos especialistas sobre o assunto, e concluem que: Nossa propensogentica para a obesidade encontrou ambiente favorvel nos erros alimentares associados ao

    sedentarismo da vida moderna. A necessidade de manter a prole superalimentada nos perodos defartura deve ter sido to essencial sobrevivncia da espcie humana que, as mes aindaenlouquecem quando os filhos fazem fita na hora do almoo.

    Vivemos uma verdadeira epidemia da obesidade. Na populao brasileira, 40% dos adultos estocom excesso de peso, o que significa 50 milhes de pessoas aproximadamente. Para a mdicaendocrinologista Sandra Villares, chefe do Ambulatrio de Obesidade Infantil do Hospital das Clnicas,

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    em So Paulo as crianas esto indo pelo mesmo caminho 17% dos adolescentes esto comsobrepeso atualmente.

    Uma avaliao feita no Hospital das Clnicas com 240 crianas acompanhadas mensalmente,mostram que, mais de quatro horas de TV por dia esto associadas obesidade das crianas, mas quealgumas passam mais de dez horas em frente televiso mais algumas horas dormindo e outrassentadas durante as aulas na escola. Para no ajudar, as crianas tm preferncia pelos sabores maisbsicos conferidos pelo acar e pela gordura.

    A pediatria moderna considera a obesidade infantil uma doena de consequncias potencialmentedevastadoras que afeta diversos sistemas do organismo. O excesso de peso est associado diabetes,

    hipertenso, puberdade precoce, colesterol e triglicrides elevados, e outras complicaes.Dirio de Olmpia. 11 abr. 2013.

    Proposta 1

    A apresentao de polmicas campanhas sob o argumento de conscientizar a populao uma prticarecorrente, como a indicada no Texto 1. Qual seu ponto de vista sobre o slogan adotado? Escreva umtexto posicionando-se. Seu texto deve: apresentar sua opinio e os argumentos que a sustentam; indicar possveis consequncias de tal campanha; ter de 12 a 15 linhas.

    Proposta 2

    Os textos 1 e 3 apresentam temticas opostasdesnutrio e obesidade, mas que se aproximam porevidenciarem problemas alimentares. Aps reler esses textos, elabore um comentrio crtico, de 10 a 12linhas, relacionando os textos indicados de modo a destacar tal ponto em comum.

    Proposta 3

    Com base na leitura dos textos 2 e 3 e nos conhecimentos construdos ao longo de sua formao, redijatexto dissertativo-argumentativo, de 25 a 30 linhas, em norma padro da lngua portuguesa sobre otema OBESIDADE NO BRASIL: COMO REVERTER ESSE QUADRO?, apresentando proposta deconscientizao social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de formacoerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

    B. Leitura complementar

    Texto 4

    A maioria das mortes relacionadas a problemas de nutrio ocorrem em pases que no esto

    sofrendo com conflitos ou fome, segundo o professor Robert Black, da Escola de Sade Pblica JohnsHopkins Bloomberg, nos Estados Unidos."Estes no so os pases mais pobres do mundo. So pases como a ndia ou a Nigria ou muitos

    outros pases na sia ou frica que realmente poderiam se sair melhor, que tm os recursos paraalimentar as crianas", afirmou.

    "Certamente os mais pobres tm os maiores problemas com subnutrio, mas mesmo assim hcomida o suficiente para alimentar as crianas. A dificuldade alcanar uma dieta de qualidade, umadieta que dominada por cereais ou amido no ser uma dieta com a qualidade necessria para osdois primeiros anos de vida", disse.

    Foi Black que calculou que 3 milhes de crianas morreram em decorrncia da subnutrio em2011, divulgando o nmero na The Lancet. Ele afirma que, na maioria dos casos, o problema pode serresolvido por meio da educao.

    Por exemplo, ele explica que um quarto das mortes pode ser atribudo a uma amamentao noadequada, com muitas famlias no percebendo que at os seis meses de idade os bebs precisamexclusivamente de leite materno, e esta alimentao os protege de comida contaminada.

    [...]A subnutrio um problema grave, e as 3 milhes de crianas que teriam morrido por esta causa

    em 2011 representam quase metade de todas as mortes infantis. Mas h sinais de avanos.

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    "H uma queda no nmero excessivo de mortes, no muito grande, mas um avano desde altima vez que estudamos isto (em 2008), e a ateno dada a estas questes de nutrio em pases debaixa renda e de renda mdia, realmente aumentou muito nos ltimos cinco anos", disse Black.

    Ruth Alexander. Uma criana morre de fome a cada dez segundos? , 18 jun. 2013Disponvel em:

    Texto 5

    O que voc precisa saber sobre a fome em 2012

    Quantas pessoas passam fome no mundo e onde a maioria delas vive? Quais so os efeitos dadesnutrio sobre a mente e o corpo e o que podemos fazer para ajudar essas pessoas? O ProgramaMundial de Alimentos (PMA) preparou uma lista com dez fatos essenciais para entender por que a fome o maior problema solucionvel que o mundo enfrenta hoje.

    1. Aproximadamente 925 milhes de pessoas no mundo no comem o suficiente para seremconsideradas saudveis. Isso significa que uma em cada sete pessoas no planeta vai para a cama comfome todas as noites. (Fonte: FAO, 2012)2. Embora o nmero de pessoas com fome tenha aumentado, na comparao com o percentual dapopulao mundial, a fome na verdade caiu de 37% da populao em 1969 para pouco mais de 16% da

    populao em 2010. (Fonte: FAO, 2010)3. Bem mais que a metade dos famintos do mundo cerca de 578 milhes de pessoas vivem na siae na regio do Pacfico. A frica responde por pouco mais de um quarto da populao com fome domundo. (Fonte: FAO, O Estado da Insegurana Alimentar no Mundo, 2010)4. A fome o nmero um na lista dos 10 maiores riscos para a sade. Ela mata mais pessoasanualmente do que AIDS, malria e tuberculose juntas. (Fonte: UNAIDS, Relatrio Global de 2010;OMS, Fome no mundo e Estatstica Pobreza, 2011).5. Um tero das mortes entre crianas menores de cinco anos de idade nos pases em desenvolvimentoesto ligadas desnutrio. (Fonte: UNICEF, Relatrio sobre Nutrio Infantil, 2006)6. Os primeiros 1.000 dias da vida de uma criana, desde a gravidez at os dois anos de idade, so ajanela crtica para combater a desnutrio. Uma dieta adequada neste perodo pode proteg-las contrao nanismo mental e fsico, duas consequncias da desnutrio. (Fonte: Comit Permanente da ONU

    sobre Nutrio, 2009)7. Custa apenas 25 centavos de dlar por dia alimentar uma criana com todas as vitaminas e osnutrientes de que ela precisa para crescer saudvel. (Fonte: PMA, 2011)8. Mes desnutridas muitas vezes do luz bebs abaixo do peso. Essas crianas tem 20% maisprobabilidade de morrer antes dos cinco anos de idade. Cerca de 17 milhes de crianas nascemabaixo do peso a cada ano. (Fonte: UNICEF, Um Mundo para as Crianas, 2007)9. Em 2050, as alteraes climticas e os padres climticos irregulares levaro mais de 24 milhes decrianas fome. Quase metade dessas crianas vivem na frica Subsaariana. (Fonte: PMA, MudanasClimticas e Combate Fome: Respondendo ao Desafio, 2009)10. A fome o nico grande problema solucionvel que o mundo enfrenta hoje. Aqui esto oitoestratgias eficazes de combate fome.

    Oito ex emp los d e ajuda efetiva no com bate fom eDa merenda escolar at os vales-refeio, aqui esto oito exemplos de ajuda que a experincia do

    Programa Mundial de Alimentos (PMA) tem demonstrado ser eficaz.1. Alimentao escolar ajuda no aprendizado das crianas. O fornecimento de refeies gratuitas paraas crianas na escola significa dar a comida que necessitam para se concentrar em sala de aula. Issotambm contribui para que elas permaneam na escola e obtenham a educao necessria paraescapar da pobreza e da fome.2. Cestas de alimentos para uso domstico mantm as meninas na escola. Doar cestas de arroz ouleo para meninas que frequentam a escola um incentivo para que os pais orientem suas filhas para ocolgio, em vez de mant-las em casa. Meninas educadas hoje significam famlias mais fortes no futuro.3. Treinamento para a autonomia das mulheres. Ao dar cestas alimentares para mulheres pobres em

    troca de cursos de formao em jardinagem, apicultura ou de outras competncias, garante-se um meiopara que elas se sustentem e ajudem suas famlias ao longo dos anos.4. Mes bens alimentadas significam bebs saudveis. Ao fornecer o tipo certo de nutrientes ealimentos para as mulheres durante a gravidez ou a amamentao de seus filhos so dados osnutrientes necessrios para desenvolver mentes e corpos saudveis.

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    5. Alimentos nutritivos ajudam a combater a AIDS. Pessoas que vivem com HIV precisam de muitaenergia e nutrientes de modo que seus corpos possam combater o vrus e absorver os medicamentosantirretrovirais.6. Vales permitem que cidados com fome tenham acesso a comida. Quando h comida nos mercados,mas as pessoas pobres simplesmente no conseguem pagar por ela, ento os vales-refeio podemajudar a garantir s famlias vulnerveis acesso aos alimentos. Essas pessoas tambm ajudam asustentar a economia local.7. A ajuda alimentar salva vidas aps desastres. O fornecimento de raes alimentares de emergnciaaps um terremoto ou uma inundao pode salvar milhares de vidas. Ele tambm pode manter as

    crianas livres da desnutrio, protegendo assim o seu desenvolvimento fsico e mental.8. Apoio aos agricultores fortalece as comunidades. Dar formao e apoio aos pequenos agricultores,ajudando-os a se conectar melhor aos mercados, auxilia as comunidades a desenvolver sistemas deproduo de alimentos resilientes e capazes de resistir a choques ocasionais.

    Texto publicado em 4 jan. 2012. Disponvel em:

    Texto 6

    Fome e exportao so dilemas para a agricultura africana

    A competitividade por superfcies agrcolas na frica, compradas ou arrendadas, para produzir

    biocombustvel para os ocidentais ou alimentar a sia, uma bomba relgio em um continente que noconsegue saciar a fome de seus habitantes.

    Os investimentos em compras ou arrendamentos de terras, difceis de quantificar, provocaram fortestenses nos ltimos anos, principalmente em Madagascar, onde a Coreia do Sul, com o grupo Daewoo,esperava adquirir 1,3 milho de hectares para cultivar a metade de seu milho.

    A forte polmica causada pela transao, finalmente anulada, contribuiu para a queda do presidenteMarc Ravalomanana no incio de 2009.

    Atualmente, a ilha j no vende terrenos e se limita a alugar pequenas superfcies de entre 5.000 e30.000 hectares, para projetos majoritariamente europeus e centrados na produo deagrocombustves.

    Contudo, a febre por terras africanas continua em outros pases, em um continente que precisatriplicar sua produo de alimentos at 2050 para dar de comer a uma populao em rpido processode crescimento.

    O assunto no figura na agenda oficial da reunio da ONU sobre desenvolvimento sustentvelRio+20, prevista para 20 a 22 de junho, mas ser exposto pelas ONGs.

    As dificuldades no se limitam ao dano ecolgico (desmatamento, esgotamento de recursoshdricos), causado pela aquisio de grandes extenses agrcolas.

    De Madagascar Libria, passando por Moambique, a constatao a mesma: os contratos soopacos, as terras so vendidas a um preo muito barato e a populao no consultada ou atmesmo desprezada sem possibilidade de defender-se no caso de conflito, sendo os benefcios a nvellocal insuficientes e a terra monopolizada por projetos que acabam sendo abandonados.

    "Todas as aquisies recentes de terras em Camares parecem chocantes por sua magnitude,pelos preos extremamente baixos e por seu carter secreto", explica Samuel Nguiffo, secretrio-geral

    da ONG Centro para o Meio ambiente e o Desenvolvimento.Na Libria, a metade das terras arveis passou para mos de estrangeiros, o que gerava para oslocais um problema de acesso aos alimentos e aos ingressos derivados da agricultura, segundo oCentro Internacional da Universidade de Colmbia para a Resoluo de Conflitos.

    Em dezembro, a presidente liberiana Ellen Johnson Sirleaf admitiu "erros" aps enfrentamentosviolentos em meio a uma concesso de 220.000 hectares acordada em 2009 a um grupo da Malsia,Sime Darby.

    A frica abriga cerca de 60% das terras no-cultivadas do mundo, o que a converte em uma regiochave para a segurana alimentar do planeta.

    Alguns pases como Bangladesh estimulam a compra de terras africanas para alimentar a seus 150milhes de habitantes, sendo que as empresas do pas tm fechado contratos para o cultivo de arroz naUganda e na Tanznia.

    Segundo dados da FAO de 2009, apenas 8,5% das terras na frica so cultivadas e so 5,4%irrigadas.Disponvel em:

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    Texto 7

    Texto 8

    OMS quer regras mais rgidas para combater a obesidade infantilrgo da ONU diz que anncios estimulam consumo de gordura e acar.

    'Televiso continua sendo forma dominante de publicidade', afirma relatrio.Da Reuters

    A propaganda de alimentos nocivos a crianas se mostrou "desastrosamente eficaz" em estimular aobesidade, em especial com o uso das redes sociais para promover alimentos ricos em gorduras, sal eacar, disse a sede regional europeia da Organizao Mundial da Sade (OMS), nesta tera-feira (18).

    A OMS, um rgo da ONU, defendeu controles mais rgidos contra esse tipo de publicidade."As crianas esto cercadas de anncios estimulando-as a consumirem alimentos ricos em gordura,

    ricos em acar e ricos em sal, mesmo quando esto em locais onde deveriam ser protegidas, como

    escolas e instalaes esportivas", disse Zsuzsanna Jakab, diretora regional da OMS na Europa.H anos a promoo desse tipo de alimento apontada como um fator de risco significativo para aobesidade infantil e, numa idade mais avanada, para doenas crnicas associadas alimentao,como doena cardaca e alguns tipos de cncer.

    Em um relatrio sobre a publicidade alimentcia, a OMS-Europa disse que o setor usa cada vez maisferramentas baratas, como as redes sociais e aplicativos de celulares, para atingir as crianas.

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    "A televiso continua sendo a forma dominante de publicidade, e uma ampla maioria de crianas eadolescentes passa em mdia mais de duas horas dirias na frente do aparelho", diz o relatrio.

    "O sobrepeso um dos maiores desafios de sade pblica do sculo XXI: todos os pases soafetados em graus variados, particularmente nos grupos socioeconmicos mais baixos", disse Jakab naintroduo do relatrio. "E a situao no est melhorando", acrescentou.

    Dados da Iniciativa de Vigilncia da Obesidade Infantil, da OMS, mostram que em mdia um terodas crianas de 6 a 9 anos est obeso ou acima do peso.

    Texto publicado em 18 jun. 2013.Disponvel em:

    Texto 9

    Alimento tem alta de 11,94%

    Com a ajuda do congelamento das passagens de nibus e metr, resultado das manifestaespopulares iniciadas em junho, e da reduo no preo dos alimentos, a inflao deu uma trguamomentnea aos brasileiros. O ndice de Preos ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) teve aumento deapenas 0,07% na prvia da primeira quinzena deste ms.

    Apesar da boa notcia, ainda no h muito o que comemorar. Nos ltimos 12 meses, o indicador

    acumula elevao de 6,4%, e o grupo dos alimentos e bebidas, um dos que mais pesam no bolso dapopulao, chegou a encarecer 11,94%, quase o dobro da inflao oficial. Em algumas capitais, comoRecife e Fortaleza, a presso foi ainda maior, e as altas alcanaram 15,92% e 16,66%,respectivamente.

    Na variao anual, o ndice calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) ficoupouco abaixo do limite de tolerncia de 6,5%. Isso significa que o Banco Central ter de suar muito acamisa para trazer os preos para o centro da meta, de 4,5%.

    No toa, o banco ingls Barclays aposta que a autoridade monetria ter de recorrer a novas altasde juros. Ao Correio, o economista-chefe para a Amrica Latina, Marcelo Solomon, disse esperar maisduas elevaes da taxa Selic ainda em 2013. Com isso, ela chegaria a 9,25% ao ano e l ficaria aolongo de 2014, enterrando de vez a bandeira do governo Dilma Rousseff de ter levado os juros bsicosao menor patamar histrico.

    "O governo j sentiu o custo poltico que tolerar uma a inflao elevada por muito tempo. Alm doconsumo ter enfraquecido, porque a renda real dos trabalhadores comeou a cair, o crescimento daeconomia veio fraqussimo no primeiro semestre", disse Solomon.

    Neste ms, o grupo transportes registrou deflao de 0,55% e, sozinho, foi responsvel por umareduo de 0,11 ponto percentual do IPCA-15. Alimentao e bebidas, com deflao de 0,18%, retiroumais 0,04 ponto do ndice total. "Essa ajuda, no entanto, temporria. Acredito que, depois de algumalvio nos prximos dois ou trs meses, o indicador dever retornar ao nvel normal de altas de 0,50% acada ms", avaliou o economista Jankiel Santos, do banco portugus BES Investimento.

    Alm disso, a alta do dlar, que ontem encerrou o dia cotado a R$ 2,24, com elevao de 0,69%,ainda pode trazer mais prejuzos ao bolso do consumidor. Nos clculos da economista CassianaFernandez, do banco norte-americano JP Morgan, o repasse do cmbio para a inflao ser de 0,6%mensais no quarto trimestre, o triplo da presso que a divisa exercia at agora sobre os preos. "Isso

    far o IPCA encerrar 2013 em 5,9%", disse ela. Se a previso se confirmar, ser o quarto anoconsecutivo em que o ndice ficar acima do centro da meta de 4,5%.

    Correio Braziliense, 20 jul. 2013

    Texto 10

    A inflao global da comidaAlexandre Versignassi

    Pozinho na chapa com pingado: R$ 9. Frango assado: R$ 48. Milk-shake: R$ 40. Preos dessequilate deixaram o reino da fico e das lanchonetes de aeroporto faz tempo, voc sabe. E a obesidademrbida dos preos virou um caso de sade pblica de sade financeira do pblico, no caso.

    Mas no se trata de um fenmeno exclusivo do Brasil. A inflao da comida global. E maisindigesta do que parece. o que mostra um estudo do Instituto de Sistemas Complexos da NovaInglaterra, nos EUA. Fizeram uma pesquisa relacionando os preos dos alimentos com as revoltas

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    populares pelo mundo. E viram que os dois fenmenos tm uma relao intrnseca: quanto mais cara acomida, maior a quantidade de revoltas.

    A ONU faz um levantamento contnuo dos preos dos alimentos pelo mundo. o Food Price Index.Esse ndice mostra que o custo da alimentao deu um salto no comeo do sculo 21. Uma cesta dealimentos que custava US$ 100 em 2003 chegou a um pico de US$ 220 em 2008. E a quantidade deprotestos de rua aumentou no mesmo ritmo: o estudo contabilizou 60 em vrios pases, contra meia-dzia nos anos anteriores.

    Em 2009, o preo global da comida baixou. E a quantidade de revoltas tambm. Mas tudo o quedesce tem de subir, diz a fsica financeira. E o repique dos alimentos veio rpido. No final de 2010

    aquela cesta j estava roando os US$ 200 de novo. E o que veio foi revolta de todo lado: Tunsia,Lbia, Sria, Arglia Mais de 200 protestos pelo mundo. E a chegada da Primavera rabe. No Egito,alis, os 20 centavos do movimento foram justamente o preo do po.

    No Brasil, o gatilho alimentcio das revoltas no foi exatamente o preo do po. Mas o do menudegustao. Uma das marcas dos nossos protestos populares que eles no foram to popularesassim. O grosso do pessoal ali era de classe mdia. E o que mais subiu de preo por aqui foijustamente a comida da classe mdia a dos restaurantes. Entre junho de 2012 e junho de 2013,comer fora ficou 11% mais caro, segundo o IBGE. Se for lanche, 14%; o dobro da inflao geral nomesmo perodo, que foi de 6,7%.

    Claro, bvio, que NINGUM foi para a rua no Brasil para protestar contra preo do temaki e do confitde pato. Mas uma coisa fato: os primeiros sinais de desassossego foram, sim, uma reao ao preodos alimentos. s lembrar do tomate. Uma entressafra combinada com uma reduo nas reas de

    plantio bombou o preo em mais de 1.000% de menos de R$ 1 o quilo em 2010 para R$ 10 naprimeira metade de 2013, turbinando os preos das cantinas e pizzarias, e levando o tomate s capasdas revistas semanais. Depois o quilo voltou para valores terrqueos, mas o incmodo com o preo dosalimentos continuou firme. E foi importante para compor o quadro generalizado de insatisfao.

    Bom, cada pas tem seus motivos para explicar o preo mais alto de sua comida. Mas existe ummotivo global para a inflao da protena e carboidrato: a China. Nos ltimos 25 anos, o consumo decarne l saltou de 8,4 milhes de toneladas para 71 milhes. O de soja foi na mesma toada: multiplicoupor dez. Para o Brasil, isso foi lindo. Viramos o maior exportador de soja e de carne bovina da histria.No ano 2000, ns vendamos 1,8 milho de toneladas de soja para os chineses. Em 2012 foram 23milhes. Em carne e laticnios, o salto foi de 21 milhes de toneladas para 248 milhes. Haja boi. Hajavaca. Haja plantao.

    E haja infraestrutura coisa que o Brasil no tem. A que a porca torce o rabo. Boa parte dessa sojae dessa carne se arrasta pelas nossas rodovias esburacadas em lombo de caminho rumo aos nossospoucos e parcos portos. Depois piora: na boca do porto de Santos, por exemplo, as filas de caminhesse movem a uma velocidade mdia de 1,6 km/h (segundo um clculo da Folha de S.Paulo).

    Agora vamos raciocinar: o enriquecimento dos chineses aumentou a demanda por comida, certo?Se a demanda sobe mais rpido que a oferta, o preo aumenta, diz a fsica das finanas. Mas, ei: e se aoferta aumentasse? Os preos baixariam. No s na China, mas no mundo, j que o peso do mercadochins afeta o planeta todo. E agora vem a pergunta mais importante: como essa oferta poderiaaumentar?

    Com o Brasil. Se o escoamento da nossa produo contasse com mais ferrovias e portos, o preoglobal dos alimentos diminuiria. Ou seja, quem foi para a rua, seja no Brasil, seja no resto do mundo,acabou involuntariamente protestando contra o mesmo mal: o nosso pesadelo logstico. Uma bela

    causa, diga-se. Superinteressante, 1 ago. 2013