28/07/06 - Nova Escola on line

3
Sexta-feira, 28 de julho de 2006 O perfil do universitário brasileiro Ao contrário do que pensam muitos professores, os alunos estão, sim, preocupados com a carreira e com o mercado de trabalho Thiago Minami Na última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada nos dias 16 a 21 de julho em Florianópolis, a professora Rosemary Roggero, coordenadora do núcleo de apoio acadêmico do Senac-SP, apresentou pesquisa sobre o perfil do universitário brasileiro. "A maioria dos professores do Ensino Superior afirma que a moçada de hoje não quer nada com nada, mas não é bem assim", afirma a pesquisadora. Ela acrescenta que o estudante não é um despreocupado, e, sim, alguém de olho em educação, saúde e família, entre outros interesses. Rosemary aponta que 85% dos jovens brasileiros não participam de nenhuma atividade de associação ou cultura e lazer, mas gostariam de fazer parte de trabalhos sociais ligados à educação, esporte, cultura e lazer, anti-racismo e direitos do consumidor. E entre os estudantes de Pedagogia? Pesquisa realizada pela professora Sônia Bertolo, da Universidade Federal do Pará, aponta que os futuros pedagogos estão preocupados com uma formação acadêmica consistente e interessados em continuar os estudos na pós-graduação. "É uma demanda de mercado", aponta Sônia. Para ela, a necessidade de um bom emprego leva o aluno a buscar a formação permanente. Na UFPA, 57% dividem o trabalho com a faculdade. Na Universidade Paulista (UNIP), particular, o dado se repete: a maioria estuda à noite para poder dedicar-se a um emprego. É o que mostra Wania Madeira, coordenadora-geral do curso de Pedagogia. Segundo ela, a preocupação com a inserção no mercado leva a uma cobrança constante por atividades práticas durante as aulas. "Uma das maiores dificuldades é atrair a atenção somente com disciplinas teóricas", complementa.eles também estão atentos à realidade e ao ingresso na vida adulta. O foco no trabalho já está presente na vida do aluno antes mesmo de entrar na faculdade. "Nesse período,

description

O perfil do universitário brasileiro

Transcript of 28/07/06 - Nova Escola on line

Page 1: 28/07/06 - Nova Escola on line

Sexta-feira, 28 de julho de 2006

O perfil do universitário brasileiroAo contrário do que pensam muitos professores, os alunos estão, sim, preocupados com a carreira e com o mercado de trabalho

Thiago Minami

Na última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada nos dias 16 a 21 de julho em Florianópolis, a professora Rosemary Roggero, coordenadora do núcleo de apoio acadêmico do Senac-SP, apresentou pesquisa sobre o perfil do universitário brasileiro. "A maioria dos professores do Ensino Superior afirma que a moçada de hoje não quer nada com nada, mas não é bem assim", afirma a pesquisadora. Ela acrescenta que o estudante não é um despreocupado, e, sim, alguém de olho em educação, saúde e família, entre outros interesses. Rosemary aponta que 85% dos jovens brasileiros não participam de nenhuma atividade de associação ou cultura e lazer, mas gostariam de fazer parte de trabalhos sociais ligados à educação, esporte, cultura e lazer, anti-racismo e direitos do consumidor.

E entre os estudantes de Pedagogia? Pesquisa realizada pela professora Sônia Bertolo, da Universidade Federal do Pará, aponta que os futuros pedagogos estão preocupados com uma formação acadêmica consistente e interessados em continuar os estudos na pós-graduação. "É uma demanda de mercado", aponta Sônia. Para ela, a necessidade de um bom emprego leva o aluno a buscar a formação permanente. Na UFPA, 57% dividem o trabalho com a faculdade. Na Universidade Paulista (UNIP), particular, o dado se repete: a maioria estuda à noite para poder dedicar-se a um emprego. É o que mostra Wania Madeira, coordenadora-geral do curso de Pedagogia. Segundo ela, a preocupação com a inserção no mercado leva a uma cobrança constante por atividades práticas durante as aulas. "Uma das maiores dificuldades é atrair a atenção somente com disciplinas teóricas", complementa.eles também estão atentos à realidade e ao ingresso na vida adulta.

O foco no trabalho já está presente na vida do aluno antes mesmo de entrar na faculdade. "Nesse período, o adolescente é obrigado pela sociedade a ter uma escolha clara e amadurecida sobre a profissão. Ele tem de pensar em ser trabalhador, empreendedor, e ainda lidar com a cobrança por independência financeira e social", afirma Rosemary Roggero.

Fora da escolaUm grande percentual dos alunos não pretende trabalhar com Educação. Eles buscam vagas em empresas, hospitais e concursos públicos. "E há também aqueles que já trabalham em escolas e querem aprofundar seus conhecimentos com a graduação", ressalta Inês Maria Pires de Almeida, professora e diretora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB).

Page 2: 28/07/06 - Nova Escola on line

A oportunidade de construir uma carreira fora da escola é uma das razões que explicam o maior número de homens no curso que nas décadas passadas. "A procura aumentou, mas eles ainda são minoria – em geral, correspondem a no máximo 10% da turma. Muitos estão em busca de uma carreira acadêmica, que tem se apresentado como uma oportunidade real", explica Gisela Wajskop, diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo (Singularidades).

Embora as possibilidades de atuação profissional sejam muitas, os estudantes de Pedagogia ainda sofrem com o preoconceito. No canal de relacionamentos Orkut, a comunidade "Eu faço Pedagogia, e daí?" tem mais de 10 mil adeptos. Na descrição, o manifesto: "esta comunidade foi criada para todas as pessoas que são discriminadas pelo curso que escolheram". Entre as queixas dos usuários, está a de que a profissão é normalmente associada à falta de perspectivas futuras.

Origem diferenteAo contrário do que freqüentemente ocorre no Ensino Superior, os futuros pedagogos são na maioria egressos da escola pública. Na UFPA, são 56%. Na UNB e na UNIP a proporção se repete. A maior facilidade em passar no vestibular é uma das razões que explicam a procura. Para Wania Madeira, esses alunos chegam com uma base de conhecimentos mais fraca, que precisa ser reforçada na universidade. A professora Inês Maria aponta que são indivíduos mais propensos a aceitar as características do ensino público, pois já estavam acostumados a elas nas etapas anteriores.

Quer saber mais?Veja na íntegra o artigo de Rosemary Roggero, "Contradições na Educação Superior: o perfil do jovem contemporâneo e o Discurso Pedagógico".

Mais números da pesquisa realizada por Sônia Bertolo