27. Dados Históricos - Portal da Prefeitura de Uberlândia · altar e volta para o mar. Vem então...
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tempo do cativeiro, quando o senhor me batia, eu gritava por Nossa Senhora, ai
meu Deus, quando a pancada doía.” O mito fundante do Congado em Uberlândia é
um relato da aparição e resgate de Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos
duas versões aqui sintetizadas: a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do
mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem, eles não acreditam.
Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a santa submergir, eles
tentam tirá-la com suas cordas, mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres
que conseguem retira-la da água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do
altar e volta para o mar. Vem então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela
sair da água, ela submerge, mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a
“fugir” para o mar. Então um terno de Moçambique, todo vestido de branco e
descalço, canta para ela, que então submerge e lhes acompanha, eles a levam
devagar até o local onde constroem uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário
permanece, o terno de Moçambique então se retira sem lhe dar as costas, lhe
fazendo reverência; b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso,
do Moçambique Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar
escravos fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra
um grupo de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima
em frente a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava
encravada num galho. Os capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los,
mas eles permanecem imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados
com a visão voltam para a cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o
fato. E como na primeira versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa
Senhora do Rosário acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de
branco, de pés descalços, que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá
as costas ao se retirar de sua presença.
27. Dados Históricos: As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais
distintivos de poder ou de comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam
ser figuras recortadas em madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras
bandeiras da história do homem costumavam representar um grupo sócio-cultural
através de imagens e de cores dotadas de significados, a que a comunidade
respectiva confere alto valor. As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China
e foram introduzidas no Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido,
no mundo ocidental, foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium
(insígnia, bandeira, estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros
com imagens, carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande
difusão do seu uso foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu
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militares, mais especificamente para identificar os corpos de cavalaria. O Pendão
é uma bandeira grande, armada em vara, atravessada horizontalmente sobre o
mastro e levada em procissões. O Gonfalão é uma bandeira de guerra com partes
que prendem perpendicularmente a uma haste com três ou quatro pontas pendentes.
Os Estandartes do Congado mesclam elementos das bandeiras militares e
religiosas e são utilizados para identificar o terno que os conduz e para louvar os
santos de sua devoção. .
28. Referências Documentais: Fotografias e entrevistas realizadas com Custódio
José Izídio, Maria Aparecida Izídio e Eliane Izídio
29. Informações Complementares: O estandarte é uma espécie de bandeira e
falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, pois possui pelo menos três
significados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada
nas campanhas e festas. Também pode ser utilizado para se referir à bandeira em
tecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado
imagens dos santos, com um cabo de madeira na extremidade superior por onde a
bandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre
acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto
no dia da festa. Bandeira também pode referir-se ao estandarte em formato
retangular de aproximadamente 1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado
por um mastro que o eleva à aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas
cujas pontas as Bandeireiras seguram enquanto dançam e que traz identificações
do terno e homenagens aos santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só
saem em dia de festa. O tecido das bandeiras e estandartes são trocados
periodicamente, geralmente de dois em dois anos. As Bandeireiras ou Andorinhas
são meninas que conduzem as fitas do estandarte fazendo coreografias.
“Antigamente” esta função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitas
mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro da
bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seria
a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupa
se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar.
estandarte. Foi na Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a
representar reinos e regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz
como de guerra. Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos
aliados. Para não se confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo,
usavam um pedaço de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de
identificação do batalhão ou companhia envolvida. De acordo com seu tamanho ou
uso, a bandeira tem uma palavra sinônima. Estandarte é utilizado para insígnias
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Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
31. Ficha Técnica
30. Atualização das informações:
Desmaios e doenças também dificultariam a execução da função. Caberia a menina
se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. A
execução desta função indevidamente poderia acarretar problemas ainda maiores
para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”. Hoje, no entanto, esta
tradição não é mantida pela maioria dos ternos.
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BENS MÓVEIS E INEGRADOS
04.Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Consolação, 55 – Dom Almir
06. Responsável:Custódio José Izídio
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. AcervoTerno Congo
Cruzeiro do Sull
07. Designação: Oratório do Terno Congo Cruzeiro do Sul08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica naestante na sala09. Espécie: Móvel religioso10. Época: 200611. Autoria: Altair, marido de Eliana12. Origem: Uberlândia13. Procedência: Uberlândia14. Material / Técnica: Madeirite recortado, pregado, tinta esmalte sintético liláz,tramela de madeira, duas dobradiças metálicas, soquete com lâmpadafosforescente, porta de plástico transparente, crucifixo no alto, imagens de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito em gesso afixados com cola de contato,flores de tecido.15. Marcas / Inscrições / Legendas: Crucifixo recortado em madeirite preso noalto.16. Descrição: Oratório no formato de capelinha, com telhado em duas águas.Crucifixo recortado em madeirite preso no alto por pregos. Oratório elaborado emmadeirite recortado, pregado, coberto com fina camada de tinta esmalte sintéticolilás. Porta de plástico transparente, fechado com tramela de madeira, preso porduas dobradiças metálicas. No interior, soquete com lâmpada fosforescente afixadono fundo do oratório, imagens de Nossa Senhora do Rosário e de São Beneditoem gesso afixados na base com cola de contato, acabamento com flores de tecido.17- Condições de segurança:( x ) Boa( ) Razoável( ) RuimObs:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
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19- Documentação fotográfica
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 46cm
Profundidade: 26cm
Largura: 32cm
22. Análise do Estado de Conservação: Oratório em bom estado de conservação,
sem sinais de desgaste por insetos ou rachaduras.
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas:
Oratório no formato de capelinha, com telhado em duas águas. Crucifixo recortado
em madeirite preso no alto por pregos. Oratório elaborado em madeirite recortado,
pregado, coberto com fina camada de tinta esmalte sintético. Porta de plástico
transparente, fechado com tramela de madeira, preso por duas dobradiças
metálicas. No interior, soquete com lâmpada fosforescente afixado no fundo do
oratório, imagens religiosas em gesso afixadas na base com cola de contato,
acabamento com flores de tecido.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
(X ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Quartel Terno Congo Cruzeiro do Sul
Uberlândia/MG Ano 2007
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26. Características Iconográficas: Nos oratórios do Congado figuram as imagens
de Nossa Senhora do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens
como a de Santa Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Cada
santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que os
congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo Câmara
Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas menos
favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a santa
negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles criam
a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo, pesquisador
do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam o rosário
que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo Seu
Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu terno o nome
de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a festa é dela.
Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque somente os
padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa Senhora do
Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os pretos e os
brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa Senhora
do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade de Nossa
Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito que não é
Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário algum dia
trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino. De acordo com
seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora do Rosário como
um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu Zezão introduz a
história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos. Mas, o que mais
chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido como mártir
sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os alimentos, uma
espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um militar frio, capaz
de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros. Não ouvi de mais
ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se conversa com seu Zezão
percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo capital simbólico. Em meio
às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes sobre o congado ele
questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua prática ritual tanto
pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos. Insinuando ser ele um
dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como “fundamentos” do Congado.
Diversas outras pessoas
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tomam este comportamento como prática. Fazer o Congado sem “fundamento”
seria um ultraje. O convívio nos quartéis envolve aprendizado constante e um
“verdadeiro” capitão precisa passar por esta escola e aprender todas as lições
antes de ousar montar o seu próprio terno.O lendário Chico Rei, que é o criador da
Irmandade do Rosário em Minas Gerais, era rei em Moçambique, mas na perda de
uma batalha fora apreendido e vendido como escravo, trazido para o Brasil. Os
escravos trazidos de Moçambique eram os conhecedores das técnicas de
mineração, “farejavam as minas”, como diziam os invasores europeus. Chico Rei,
após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um grande conhecedor do processo
de mineração conseguiu comprar com ouro a alforria de familiares e amigos, e
construir uma capela em homenagem à Santa Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto).
Após descobrir algumas minas Chico Rei disse que não trabalharia mais se o seu
senhor não trouxesse para junto de si seu filho e parentes que estavam distantes,
vendidos para outros senhores de escravos. Mais tarde conseguiu comprar a alforria
de diversos outros escravos. Segundo Câmara Cascudo “No dia de Reis, em Vila
Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham com as carapinhas polvilhadas de
ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra existente no Alto da Cruz, onde
havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia para a libertação de outros
escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que no Brasil passa a ser chamado
de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a condição de escravo e constrói uma
das bases do movimento negro. Muitos negros se mantinham escravos e
cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para a libertação de seu povo.
27. Dados Históricos Os primeiros oratórios datam dos primórdios da Idade Média.
Pequenos armários que podiam guardar não só o santo protetor, mas tudo que se
relaciona à devoção cotidiana. Propiciando um ambiente adequado às reflexões e
orações no interior das residências. Os oratórios geralmente simulam pequenos
templos, trazidos para o interior das casas para conferir aos seus donos segurança
e intimidade com o mundo do sagrado. Utilizados também em momentos festivos e
em celebrações coletivas.
Nos primeiros anos da colonização do Brasil, os oratórios exerceram importante
papel no exercício da fé, pois inexistindo igrejas, era diante desses nichos ou
armários de guardar santos que o povo fazia suas rezas. Deste modo as casas se
constituíam no local mais reservado para a devoção religiosa.
O oratório utilizado no Congado é o que designam por Esmoler ou oratório Itinerante
ou de viagem. Estes oratórios são encontrados principalmente em espaços urbanos
e utilizados para arrecadar dinheiro para a edificação de um templo de uma
irmandade e para angariar recursos para a realização de festas religiosas.
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28. Referências Documentais:
Fotografias e entrevistas realizadas em visitas ao quartel Cruzeiro do Sul.
Site: http://www.museudoratorio.com.br
CD Rom “Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes em Uberlândia no Século
XX” – Produzido por Fabíola Benfica Marra, com recurso da lei Municipal de Incentivo
à Cultura, finalizado em 2005.
29. Informações Complementares:
O oratório cumpre uma importante função no Congado. Durante as campanhas o
oratório fica na casa onde será realizada a novena e/ou o leilão. Quando o terno sai
para as novenas, as mulheres vão à frente para rezar com os moradores da casa. A
bateria chega quando a novena já encerrou.Uma virgem (geralmente criança menor
de 10 anos) leva uma bandeira com a imagem de São Benedito ou de Nossa
Senhora do Rosário, ou ambos, “escoltados” pela mãe e pela madrinha da bandeira
e do terno à frente da guarda. Eles tocam em saudação aos donos da casa que sai
para recebê-los. A bandeira é saudada com devoção e após passar sobre as
cabeças das pessoas da casa é levada para o interior da residência para que
sejam abençoados todos os cômodos e todos os moradores. Os dançadores
também entram tocando e realizando suas performances e logo se retiram. Após o
terço é realizado o leilão das prendas arrecadadas pelo morador da casa que está
recebendo o oratório do terno. O oratório andor permanece no interior da casa até
que todas as prendas sejam compradas. Uma “secretária”, geralmente uma das
Madrinhas, anota em um caderno cada produto e o valor arrematado e o nome do
comprador. Os produtos geralmente são arrematados por valores acima do valor
real de mercado. Encerrado o leilão, o terno toca para sair, agradece aos donos da
casa, que em alguns casos também oferecem um lanche. Os soldados descansam
as caixas do lado de fora enquanto as meninas rezam se despedindo. Os donos da
casa se despedem dos santos e do oratório que irá partir para abençoar outra
casa. Quando a bandeira sai, o capitão e seus soldados cantam e tocam se
despedindo e as meninas levam dançando o oratório andor com os santos e a
bandeira para a casa onde será realizada a próxima novena e/ou leilão. Ao chegar
os soldados chamam o morador que sai até a porta para receber a Bandeira (terno)
e o oratório. Todos rezam e combinam o dia certo para o leilão e/ou novena, que
poderá ser no dia seguinte ou nos próximos. A Bandeira (o terno) parte de volta
para o quartel, onde ficará a bandeira (levada pela virgem) e os instrumentos até o
próximo leilão. O oratório com as imagens dos santos é levado no dia da festa por
alguns ternos.
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30. Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
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BENS IMATERIAIS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Designação: Quartel do
Terno Congo Cruzeiro do Sul
07. Histórico:A família de seu Custódio reside há 17 anos no bairro Dom Almir. No
seu primeiro ano de existência o quartel do Congo Cruzeiro do Sul é na residência
de Custódio José Izídio
08. Descrição:A área construída ocupa aproximadamente 80% do terreno de
10X25m. Durante o dia da festa, os soldados transitam por todo o terreno, não
sendo construído nenhuma estrutura específica para o Congado além da área
residencial e dos cômodos comerciais desativados, que estão sendo utilizados
para guardar os instrumentos e a estrutura do estandarte.
Designação: Quartel do Terno Congo Cruzeiro do Sul
04. Endereço: Rua Consolação, 55 – Dom Almir
05. Propriedade: Privada
06. Responsável: Custódio José Izídio
09. Documentação Fotográfica:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
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10. Uso Atual:( x ) Residencial ( ) Institucional( ) Serviço ( ) Industrial( ) Comercial ( ) Outros11. Situação de Ocupação:( x ) Própria( ) Alugada( ) Cedida( ) Comodato( ) Outros
Fotos do Terno Congo Cruzeiro do Sul
Ano 2007 Uberlâdia -MG
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12. Proteção Legal Existente
( ) Tombamento
( ) Municipal ( ) Estadual
( ) Federal ( X ) Nenhuma
13. Proteção Legal Proposta:
( ) Tombamento Federal ( ) Inventário
( ) Tombamento Estadual ( ) Tombamento Integral
( ) Tombamento Municipal ( ) Tombamento Parcial
( ) Entorno de Bem Tombado ( ) Fachadas
( )Documentação Histórica ( ) Restrições de Uso e Ocupação
( ) Volumetria
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com
com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,
As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando
partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,
materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande
variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou
com telhas cerâmicas.
15. Estado de Conservação:
( ) Excelente ( X ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
16. Análise do Estado de Conservação:O estado de conservação é bom,
podendo-se notar, inclusive, reformas recentes, como a troca de algumas
esquadrias.
17. Fatores de Degradação:A inexistência de reboco em algumas áreas facilita
muito a ocorrência de infiltrações causadas pela ação das intempéries.
18. Medidas de Conservação:Manutenção preventiva
19. Intervenções:Não identificadas
20. Referências Bibliográficas:*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família:
Famílias Afro-descendentes no Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido
entre os anos de 2004 e 2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.*Slenes,
Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família escrava,
Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
21. Informações Complementares:Os quartéis são os locais onde os soldados
de cada guarda se reúnem para fazer as campanhas ou para sair em viagens. É
também onde guardam os instrumentos e realizam as refeições durante os dias de
festa e fazem intervalos de descanso.
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Todas as atividades do Congado começam e terminam no quartel. Geralmente o
quartel é o local de moradia da família do capitão ou da madrinha do terno. As
construções são o que se chamam colônias: diversas casas pequenas, construídas
em períodos distintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma
área comum, um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para
reunir o terno, para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos
casos, banheiros, tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a
todos os moradores da colônia. Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas,
mesmo não sendo dia de festa Congado. O milagre multiplicador dos alimentos
promovido por São Benedito é realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende
aos “praticamente filhos”, pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para
o convívio das famílias de congo, estendendo os laços familiares para além dos
consangüíneos. O Congado que acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o
momento máximo desta festa que dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros
e quartéis. A família é festejada diariamente. Grandes matriarcas reúnem ao seu
redor seus muitos filhos todos os dias.Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala
origina-se do dialeto Kimbundu e significa “residência de serviçais em propriedade
agrícola” ou ainda “moradia de gente separada da casa principal”. Senzala também
pode significar “Povoado” ou “grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão
Quilombo é utilizada para designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os
Quartéis de Congado abriga Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante
as Campanhas. No Congado, os guerreiros conduzem caixas e são designados
Soldados, organizados por Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam no
Quilombo chamado Quartel. (Footnotes)
22. Atualização das informações:NT
23. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
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BENS IMATERIAIS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Denominação: Terno
Congo Camisa Verde
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/
Cultos Afro-brasileiros
05. Responsável: Maria Rosária de Fátima
Nascimento (Dona Fátima)
06. Informe Histórico:Maria do Rosário Nascimento, atual presidente do terno Congo de Camisa Verde,nasceu no dia 15/09/1937 na cidade de Araguari. Mudou-se para Uberlândia em1952 para trabalhar de doméstica e foi através do casamento com José Olímpio doNascimento que passou a integrar o Congo de Camisa Verde. José Olimpio erasobrinho de Elias Nascimento, na época presidente da Irmandade de NossaSenhora do Rosário e São Benedito em Uberlândia, além de comandar o TernoCongo de Camisa Verde. Dona Gercina, esposa do seu Elias, comandava oMarinheiro de Nossa Senhora do Rosário, o Marinheirinho. Dona Fátima recordaque o terno foi primeiro do Manoel Angelino, que passou para o seu Elias Nascimentoe para o José Mendes, que passou para o José Olimpio. Após a morte de JoséOlimpio, seu Deny Nascimento, atual presidente da Irmandade, filho de EliasNascimento, passou o comando do terno Congo de Camisa Verde para os cuidadosde Dona Fátima.Quando Carlos Roberto Nascimento, nascido em 28/04/1960, tinha treze anos, seuDeny passa para ele o comando do terno Congo de Camisa Verde. Nessa épocaJosé Mendes e Custódio eram capitães que auxiliavam Carlos.07. Documentação fotográfica:
Fotos do Terno Congo de Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
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08. Descrição: O terno Congo de Camisa Verde é um dos ternos mais antigos da
cidade, está diretamente ligado à família que comanda a Irmandade do Rosário.
Possui ligações com os ternos Congo de Camisa Verde das cidades de Araguari e
de Ituiutaba. Os ternos Camisa Verde de Araguari e de Ituiutaba envia soldados
para participarem da festa em Uberlândia, sendo retribuída a visita dos
uberlandenses nessas cidades. Os soldados usam calças e sapatos brancos,
camisa de manga comprida verde, capa amarela, chapéus com cordões de
miçangas que pendem cobrindo os olhos do dançador. As capas atualmente são
bem longas, até quase tocar o chão, mas de acordo com fotografias antigas, essas
capas eram menores. A indumentária fica a cargo do soldado que irá usa-la, variando
muito os ornamentos e bordados de capas e chapéus. As bandeireiras e madrinhas
utilizam roupas e sandálias iguais, luvas e adereços florais nos cabelos.
09. Grupos Sociais Envolvidos: Irmandade do Rosário, familiares de Dona
Fátima, moradores do bairro Aparecida
10. Organizadores:
Presidente: Maria Rosária de Fátima Nascimento
1º Capitão: Carlos Roberto Nascimento
2º Capitão: Edson Nascimento
Capitães Auxiliares: Eduardo, João dos Reis
Madrinhas: Neuza e Mariza
11. Participantes:aproximadamente 100 integrantes
12. Local de Realização:Quartel localizado na Rua Feliciano de Moraes, 147 -
Aparecida
13. Data/ periodicidade de ocorrência: A “campanha” do Congado, como os
congadeiros dizem, começava por volta do dia 15 de setembro, atualmente ela
começa por volta do dia 10 de agosto. Por causa da mudança da data da festa de
novembro para outubro, a campanha também começa mais cedo. A festa do
Congado realizada na Igreja de Nossa Senhora do Rosário no centro da cidade de
Uberlândia, atualmente ocorre no segundo domingo e segunda-feira de outubro,
antes era no segundo domingo e segunda-feira de novembro. Ocorre também uma
festa na igreja de São Benedito, no bairro Planalto no mês de maio. Várias festas
em outras cidades ocorrem em diversas datas ao longo do ano, sendo visitadas
pelos ternos de Uberlândia.
14. Informações Complementares:
O Congado é um ritual afro-brasileiro que nasce dos cortejos de coroação de reis,
do culto aos ancestrais africanos e das celebrações de santos da Igreja Católica.
Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,
Marinheiro e Catupé.
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Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do Rosário e a São Benedito,
aos antepassados e aos santos de sua devoção, principalmente aos santos negros
Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também São Domingos, Nossa Senhora da
Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno se diferencia do outro nas coresdas roupas e dos acessórios, nos ritmos das músicas, nos instrumentos e na formada dança.Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o PrimeiroCapitão, apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastãoe apito comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” umasérie de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outrasaprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicasde cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” quenão podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas nocoração”, só são executadas em cerimônias reservadas.
O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento aomovimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompemos muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando amanutenção de suas famílias e de sua cultura.
O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sobinfluência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congadoem Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de NossaSenhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora doRosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,eles não acreditam.
Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a santa submergir, elestentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres e tentam levá-lapara uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem, então o ternode Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge, mas ao serlevada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Um terno deMoçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés, canta paraela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma capelapara ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique entãose retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria ConceiçãoCardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar capturar escravosfugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupode negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frentea uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada numgalho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los, mas elespermanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e chamamum padre para ir até o local verificar o fato.
319
E como na primeira versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa
Senhora do Rosário acompanha apenas o Moçambique que canta, vestido de
branco e lhe construiu uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.
O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os
responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a
procissão. É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao
Congado, é quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no
encerramento da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz
o casal real é o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a
realeza, também é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade
para conduzir os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos,
na Umbanda, representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda
do Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.. As músicas, as roupas e
adereços e o trançar de fitas característico do terno de Marinheiros e Marujos, fazem
referência ao mar que traz os negros para o Brasil e de onde Nossa Senhora é
retirada, e às atividades do Marinheiro.Os ternos de Congo são de louvação, os
tocadores de maracanãs e caixas fazem performances saltando com os
instrumentos, mas esta performance, atualmente, também é reproduzida por outras
guardas.Segundo os integrantes do Marinheiro de São Benedito a performance
dos saltadores ou caixeiros de frente, em que os dançadores pulam com as caixas
revezando entre ajoelhar-se e saltar é cheia de significação.
Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando, estão
agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial para existência.
Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vem se
extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradas
confeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como o
uso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,
banjos e sanfonas.
A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militares
ou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas em
outros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,
Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinha
da Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto em
número como em funções e significações. “Antigamente” a função de Primeiro
Capitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,
o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,
vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundo
capitão, madrinha.
320
O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem comtodo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente éresponsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscaisprotegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha doterno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas tambémtransita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha dabandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmenteas mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, naorganização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente tambémimpunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro eSecretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelospróprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.Os Soldados são os tocadores edançadores. As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendocoreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas.“Antigamente” esta função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitasmulheres relatam que se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro dabandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seriaa responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupase rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar.Desmaios e doenças dificultariam a execução da função. Caberia a menina seafastar quando não fosse mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hojeno entanto esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dosacessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podemser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: umapara o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos desuas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algumperíodo. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupasconsideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a dasbandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementosidentificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quandoocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisõesda Irmandade.
321
A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e as subvençõesgovernamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de realização da festa,faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários de realização demissas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na verdade umreinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse um “reino”ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um tipo deguarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o seu“diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões coma Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputatorna-se muito clara em muitos momentos.Disputam a ocupação do espaço na praça da igreja, qual a execução mais perfeitadas músicas, qual o maior número de componentes, qual a melhor organização edisposição dos soldados na apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária,ocorre disputa na demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc.Em alguns momentos verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos seenfrentam com os instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixamclara a luta enquanto os soldados rufam seus tambores.Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionadosou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.A campanha é o período que precede a festa.Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável poragendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilõesarrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinam-se os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e doapito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dosbairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidadeenchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem naporta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia dafesta.Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos queoferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realizaçãoda novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitãesou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive asfronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontrosformando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitarsuas cidades de origem.
322
Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos trêsações diferentes: 1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um ternoimpede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantaremum para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haverneste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente parasaber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia dafesta. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitãesensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum acriação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição podeser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas amentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não serexecutadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cadaocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falamde fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis eRainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja eleamigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno paraterno.Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeiraconsidera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde seoriginaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedrode Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno demoçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelosmoradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariampara o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,levando consigo as celebrações do Congado.A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão daFarinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reuniaos negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto àNossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los daescravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativae temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império. Vale lembrar que em1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do Ventre Livre” e em 1885a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais participaram de umprocesso que culminou na própria abolição da escravatura, em 1888.
323
O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida
no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada
de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados
pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas
sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se
aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua
farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia
para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se
refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias
após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar
constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de
sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre
passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso
e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a
Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou
indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos
habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos
encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo
Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha
Podre.
O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos
como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles
como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,
localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio
histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam
os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do
Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,
comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os
documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”
informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos
mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta
Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado. E para a destruição do Quilombo
do Campo Grande foram enviados quatrocentos e depois mais trezentos homens
da cidade de Mariana, São João de El Rey, São José, Sabará e Vila Nova da
Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas solicitando que todas as
comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de boca”.
324
Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na destruição
destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam recomeçando
um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A área onde hoje
se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir de 1821,
possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande. Mas a
construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios arqueológicos
destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas próximas aos rios
para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de acordo com os
elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes possibilitasse a
permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às tropas de
comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A região ainda
preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado e Quilombo).
A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,
sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois
possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam
vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial
da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição
de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O
marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a
João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque
para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.
Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre
o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves
Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,
consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de
1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.
602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. A criação da paróquia, em 1857,
ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras
doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da
Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252). As primeiras edificações do arraial se São
Pedro do Uberabinha se concentravam ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos
aforados do patrimônio de Nossa Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados,
ainda, doze alqueires de terra à margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo
aos limites do arraial, destinados ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia
(Lourenço, 1986:16)
325
Em 31 de agosto de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome
de São Pedro do Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24
de maio de 1892, a vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895,
a Estrada de Ferro Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o
desenvolvimento da produção agropecuária e de indústrias, com destaque para a
produção de charque (Brasileiro, 2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século
XX foram instaladas em Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se
registro das seguintes indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e
algodão, serrarias, carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos
de produção de couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e
arreios” (Lourenço, 1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica
teve início em 1909, aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.
Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década
de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração
de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou
ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em
1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira
Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa
Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida
em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal
. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,
e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local
estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo
Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I
B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).
Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,
tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de
biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.
Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário
tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi
concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.
Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a
construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe
e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro
General Osório (atual bairro fundinho).”
326
Já em meados de 1890, o então presidente da Irmandade do Rosário passou a
comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas estimulou a participação da
comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem, 2001).
Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi
composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher
uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida
e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de
autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do
Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi
tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e
entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com
apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário
passou por processo de restauração no de 2006.
15. Referências:
* Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 –
Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El
Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84,
Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/
98)
*Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural
Palmares, 2001.
* Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo
Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg
*Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado
Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP,
1999.
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no
Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e
2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
*Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada
do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995.
*Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.
327
*LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. Bairro Patrimônio: Salgadores e
Moçambiqueiros. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura, 1983.
*Martins, Leda M. Cantares – Afrografias da Memória. São Paulo: Perspectiva:
1997.
*Moura, Clovis (org). Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil – Maceió:
Edufal, 2001.
*RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. A Música Africana. Rio de Janeiro: Funart,
1981
*VALE, Marília Brasileiro Teixeira. Arquitetura Religiosa do Século XIX no antigo
“Sertão da Farinha Podre”. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do Grau de Doutor,
São Paulo, 1998.
16. Atualização das informações:NT
17. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
328
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Camisa Verde
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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Feliciano de Moraes, 147 -
Aparecida
06. Responsável: Maria Rosária de Fátima
Nascimento
07. Designação: Bandeira do terno Congo de Camisa Verde08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica noquarto de Dona Fátima09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa10. Época: 200611. Autoria: Coletiva12. Origem: Uberlândia13. Procedência: Uberlândia14. Material / Técnica: cabo de madeira, tecido veludo verde, imagens de NossaSenhora do Rosário e São Benedito impressa em papel plastificado, lantejoulasno formato de estrela, miçangas verde, dourada e prateada, terço, galho e crucifixobordados com cordão de lantejoulas brancas, franja amarela.15. Marcas / Inscrições / Legendas: imagens religiosas de Nossa Senhora doRosário e São Benedito e adereços.16. Descrição: No desfile do Congado em 2006 a bandeireira do terno Congo deCamisa Verde carregava uma bandeira com imagem de Nossa Senhora do Rosárioimpressa em papel plastificado com um terço bordado com cordões de lantejoulasbrancas contornado a imagem com acabamento de passamanaria cor de ouro-envelhecido. Na visita ao quartel foi apresentada uma bandeira de tecido veludoverde com formato mais arredondado com imagem de São Benedito impressa empapel plastificado com acabamento de passamanaria cor de ouro-envelhecido. Portoda a bandeira lantejoulas douradas no formato de estrela. Flores elaboradas commiçangas verdes, douradas e prateadas ladeiam a imagem de São Benedito egalho bordado com cordão de lantejoulas brancas abaixo da imagem. Na parte detrás da bandeira, um crucifixo bordado com cordão de lantejoulas brancas e detalhesde miçangas verdes, douradas e prateadas . Franja amarela por toda a extensãoda bandeira. As medidas que seguem são da bandeira de São Benedito, quecertamente é a bandeira das campanhas, sendo a de Nossa Senhora do Rosáriouma bandeira um pouco maior utilizada apenas em dias de festa.
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
329
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
19- Documentação fotográfica
20- Estado de Conservação:
( x ) Excelente ( ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 42cm
Largura: 52cm
22. Análise do Estado de Conservação:
Bandeira em excelente estado de conservação, não apresenta nenhum sinal de
desgaste, de perdas ou de infestação por insetos ou de mofo.
17- Condições de segurança:( ) Boa( ) Razoável( ) Ruim Obs:
330
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas:
Bandeira com imagem religiosa impressa em papel plastificado com um terço
bordado com cordões de lantejoulas contornado a imagem com acabamento de
passamanaria. Bandeira de tecido veludo com formato mais arredondado com
imagem religiosa impressa em papel plastificado com acabamento de
passamanaria. Por toda a bandeira lantejoulas no formato de estrela. Flores
elaboradas com miçangas ladeiam a imagem, e galho bordado com cordão de
lantejoulas brancas abaixo da imagem. Na parte de trás da bandeira, um crucifixo
bordado com cordão de lantejoulas e detalhes de miçangas. Franja por toda a
extensão da bandeira.
25. Características Estilísticas: Estilo popular (sem característica estilística
específica).
26. Características Iconográficas:
Nas bandeiras do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino.
331
De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora
do Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu
Zezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
332
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
333
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
334
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de
comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do
homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de
cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.
As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no
Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,
foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,
estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,
carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso
foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na
Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e
regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.
Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se
confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço
de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do
batalhão ou companhia envolvida.
De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.
Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar
os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,
atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão
é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma
haste com três ou quatro pontas pendentes. Os Estandartes do Congado mesclam
elementos das bandeiras militares e religiosas e são utilizados para identificar o
terno que os conduz e para louvar os santos de sua devoção
335
28. Referências Documentais: * Entrevista e fotografias realizadas no trabalhode campo no quartel do Congo de Camisa Verde*Fotografias do Congado dosanos 2004 e 2006*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre osanos de 2004 e 2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.29. InformaçõesComplementares: Falar em Bandeira no congado é um pouco complexo, poispossui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir à jornada, ao trajeto,à caminhada realizada nas campanhas e festas. Também pode ser utilizado parase referir à bandeira em tecido no formato retangular de aproximadamente 60 x 40cm que trás estampado imagens dos santos, com um cabo de madeira naextremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menor de 10 anos) segura.Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tantoem dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeira também pode referir-se aoestandarte em formato retangular de aproximadamente 1,5 m de altura por 1m decomprimento, sustentado por um mastro que o eleva à aproximadamente 2,5m dealtura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireiras seguram enquanto dançame que traz identificações do terno e homenagens aos santos. Geralmente oestandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. As Bandeireiras ouAndorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte fazendo coreografias.“Antigamente” esta função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitasmulheres relatam que se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro dabandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seriaa responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupase rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar.Desmaios e doenças também dificultariam a execução da função. Caberia a meninase afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Aexecução desta função indevidamente poderia acarretar problemas ainda maiorespara os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”. Hoje, no entanto, estatradição não é mantida pela maioria dos ternos.30.Atualização das informações:NT31. Ficha TécnicaLevantamento Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)Elaboração Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Revisão Data: Abril de 2007Anderson Henrique Ferreira (Historiador)Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
336
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Camisa Verde
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Feliciano de Moraes, 147 -
Aparecida
06. Responsável: Maria Rosária de Fátima
Nascimento
07. Designação: Bastão
08. Localização Especifica: Ao lado da cama de Dona Fátima
09. Espécie: Objeto ritualístico
10. Época: Ignorada
11. Autoria: Ignorada
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: madeira, verniz, cordões de miçangas brancas e de esferas
metálicas, fita plástica dourada, gotas sintéticas vermelhas afixadas com cola de
contato, ponteira metálica
15. Marcas / Inscrições / Legendas: NT
16. Descrição: bastão em madeira envernizada, com linhas realizadas com ponta
incandescente, cordões de miçangas brancas e de esferas metálicas e fita plástica
dourada circundam todo o bastão. Duas gotas sintéticas vermelhas afixadas no
alto com cola de contato, na base ponteira metálica.
17- Condições de segurança:
( x) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
337
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
19- Documentação fotográfica
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( X) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Comprimento: 1,14m
22. Análise do Estado de Conservação:
Bastão em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou
rachaduras.
338
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas: Bastão em madeira envernizada, com linhas
realizadas com ponta incandescente, cordões de miçangas e de esferas metálicas
e fita plástica circundam todo o bastão. Duas gotas sintéticas afixadas no alto com
cola de contato, na base ponteira metálica.
25. Características Estilísticas: Estilo popular (sem característica estilística
específica).
26. Características Iconográficas:
Nos estandartes do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino.
De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora
do Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu
Zezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
339
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
340
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
341
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
342
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
Os bastões, cajados, cedros, caduceus, varas são objetos ritualísticos utilizados
pelas mais diversas religiões com os mais diferentes significados. O cedro é símbolo
de poder utilizado pelos reis. O cajado é utilizado pelos pastores como apoio nas
caminhadas e é símbolo de magia como na história bíblica de Moisés que utiliza
seu cajado para abrir as águas do Mar Vermelho. O bastão é um instrumento de
ataque e de defesa e também simboliza a detenção do comando de uma situação.
Um símbolo fálico, emblema de poder e controle do poder, representa a vontade e
a força dominante. Utilizado como instrumento de invocação e também para dirigir,
controlar e cortar energias. O bastão com estrias no sentido diagonal e com uma
serpente enrolada é símbolo do mito grego Esculápio e representa a sabedoria, a
renovação do conhecimento e o poder de curar, adotado pela medicina e pela
farmácia como seu símbolo. No mito de Hermes, “deus dos viajantes, patrono dos
ladrões e dos trapaceiros, protetor da magia e da adivinhação e responsável pelos
golpes de sorte e pelas súbitas mudanças de vida”, duas serpentes enroladas
simbolizam os opostos: o bem e o mal, masculino e o feminino. O símbolo da
eternidade na mitologia egípcia é um cajado com incisões, fissuras que lembram o
entalhe de um reco-reco.
28. Referências Documentais:
Sharman-burke, Juliet e Greene, Liz. O Tarô Mitológico – São Paulo: Siciliano,
1988
343
29. Informações Complementares:
Os bastões e os apitos são os instrumentos utilizados pelos capitães de Congado
para conduzir seus soldados e reger as músicas executadas pelos tambores. Nos
ternos de Moçambique os bastões são utilizados não apenas por capitães como
acontece na maioria dos ternos, mas por muitos dançantes, que formam uma ala
fazendo coreografias. Em muitas guardas, fiscais e madrinhas utilizam os bastões
alinhados ao final do desfile, fechando a apresentação do terno. Alguns bastões
são em formato de cobra, outros com carrancas de Pretos Velhos, outros com
imagens de Nossa Senhora Aparecida, Santa Efigênia e São Benedito, crucifixos
e inscrições diversas, fitas de cetim, alguns enfeitados com contas de lágrima, com
ervas (alecrim, arruda, espada de são Jorge), etc. Nas festas de Pretos Velhos nos
centros de Umbanda pratica-se uma dança-ritual muito parecida com a realizada
pelos moçambiqueiros: tocam as pontas dos bastões no alto, revezando com
batidas no chão, dançando em círculo. Quando hasteiam os mastros dando início à
festa do Congado, os moçambiqueiros tocam os mastros com seus bastões. Alguns
ternos realizam coreografias colocando suas coroas nos bastões e erguendo acima
da cabeça. A condução de reis e rainhas, bem como dos santos numa procissão
pode em alguns casos vir dentro de um espaço delimitado por condutores de
bastões. Quando se quer delimitar um espaço com bastões, os dançantes os
colocam na horizontal e com as mãos o moçambiqueiro liga o seu bastão ao bastão
do outro, formando uma corrente.
30.Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
344
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Camisa Verde
ytfrhfhfhg
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Feliciano de Moraes, 147 -
Aparecida
06. Responsável: Maria Rosária de Fátima
Nascimento
07. Designação: Estandarte do Congo de Camisa Verde
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha o tecido
fica no quarto de Dona Fátima e a estrutura de madeira no cômodo junto com os
instrumentos e os utensílios de cozinha
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa
10. Época: estrutura de aproximadamente década de 1980, tecido trocado todo
ano
11. Autoria: Ignorada
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: madeira, tecido veludo verde, coroa e coração bordados
com tecido amarelo, lantejoulas no formato de estrela, miçangas verde, dourada e
prateada, letras, terço e galho bordados com cordão de lantejoulas brancas, franja
amarela; no primeiro estandarte cordões verdes e no segundo amarelos.
15. Marcas / Inscrições / Legendas: No primeiro estandarte, na face: “Irmanzinha
de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito Camisa Verde” na parte de trás:
“salve 22 de outubro 2006 uberlândia”, no segundo estandarte registrado apenas a
face durante a festa de 2006: “salve nossa senhora do rosário e toda a irmandade”.
16. Descrição: O Terno Congo de Camisa Verde utiliza dois estandartes, mas na
visita que fiz ao quartel, me foi apresentado apenas o que saiu em primeiro lugar no
desfile. A estrutura dos estandartes é elaborada em madeira, no primeiro os cordões
verdes são sustentados em um círculo acima do retângulo, separado da bandeira
feita em tecido veludo verde. No segundo estandarte as cordas amarelas partem
da parte superior do tecido. Na face dos dois estandartes figura coroa bordada
com tecido amarelo com miçangas verdes, douradas e prateadas, abaixo galhos
elaborados com cordão de lantejoulas brancas.
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
345
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
19- Documentação fotográfica
No segundo estandarte, a coroa está envolta por um terço, na parte de trás do
primeiro estandarte um coração em veludo amarelo com lantejoulas prateadas. Por
todo o tecido lantejoulas no formato de estrelas. Letras com cordão de lantejoulas
brancas, formam no primeiro estandarte, na face:”Irmanzinha de Nossa Senhora do
Rosário e São Benedito Camisa Verde” na parte de trás: “salve 22 de outubro
2006 uberlândia”, no segundo estandarte registrado apenas a face durante a festa
de 2006: “salve nossa senhora do rosário e toda a irmandade”. Nas extremidades,
franja amarela.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 1,36m
Comprimento da haste: 0,67m
Largura: 0,73m
346
22. Análise do Estado de Conservação: Estandarte em bom estado de
conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou mofo.
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas: Dois estandartes elaborados em madeira. Um deles
apresenta cordões sustentados em um círculo acima do retângulo, separado da
bandeira feita em tecido de veludo; na parte de trás, um coração em veludo com
lantejoulas. Por todo o tecido lantejoulas no formato de estrelas. Letras com cordão
de lantejoulas brancas formando, na face e na parte de trás, inscrições religiosas.
Ou outro estandarte com cordas que partem da parte superior do tecido, com
inscrição religiosa formada também com lantejoulas, e franja nas extremidades. Na
face dos dois estandartes figura coroa bordada em tecido e com miçangas, abaixo
galhos elaborados com cordão de lantejoulas. No segundo estandarte, a coroa está
envolta por um terço.
25. Características Estilísticas: Estilo popular (sem característica estilística
específica).
26. Características Iconográficas:
Nos estandartes do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino.
347
De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhorado Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de SeuZezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tidocomo mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava osalimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como ummilitar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando seconversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelocapital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentessobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de suaprática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamentocomo prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nosquartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passarpor esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprioterno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendidocomo escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram osconhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam osinvasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser umgrande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro aalforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à SantaIfigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disseque não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho eparentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Maistarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo CâmaraCascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinhamcom as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedraexistente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro serviapara a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” queno Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera acondição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negrosse mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei paraa libertação de seu povo.
348
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
349
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
350
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de
comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do
homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de
cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.
As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no
Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,
foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,
estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,
carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso
foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na
Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e
regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.
Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se
confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço
de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do
batalhão ou companhia envolvida.
De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.
Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar
os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,
atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão
é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma
haste com três ou quatro pontas pendentes. Os Estandartes do Congado mesclam
elementos das bandeiras militares e religiosas e são utilizados para identificar o
terno que os conduz e para louvar os santos de sua devoção.
351
28. Referências Documentais:* Entrevista e fotografias realizadas no trabalho de campo no quartel do terno Congode Camisa Verde*Fotografias do Congado dos anos 2004 e 2006*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no SéculoXX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e 2005,através da lei municipal de Incentivo à Cultura.29. Informações Complementares:O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é umpouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referirà jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas. Tambémpode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangular deaproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com umcabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menorde 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeiratambém pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva àaproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireirasseguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aossantos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. AsBandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandartefazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelasgarotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem elevasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. NossaSenhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelopoderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução dafunção. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar abandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretarproblemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.30.Atualização das informações:NT31. Ficha TécnicaLevantamento Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)Elaboração Data: Abril de 2007Fabíola Benfica Marra (Historiadora)Revisão Data: Abril de 2007Anderson Henrique Ferreira (Historiador)Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
352
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Camisa Verde
ytfrhfhfhg
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Feliciano de Moraes, 147 -
Aparecida
06. Responsável: Maria Rosária de Fátima
Nascimento
07. Designação: Oratório do terno Congo de Camisa Verde
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha fica no
quarto de Dona Fátima
09. Espécie: Móvel religioso
10. Época: Aproximadamente década de 1980
11. Autoria: Ignorada
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Roosevelt
14. Material / Técnica: Compensado recortado, envernizado, encaixe, pregos,
parafusos, porta de vidro, duas dobradiças metálicas, imagens em gesso, papel
alumínio revestindo interior do oratório, porta encaixada, puxador de madeira
torneada, flores de tecido, terços com contas de plástico azul, fitas de cetim
15. Marcas / Inscrições / Legendas: crucifixo de 14 cm destacado no telhado.
16. Descrição: Oratório tipo capelinha, com telhado plano e frente elevada com
um crucifixo medindo 14 cm. Caixote de compensado recortado, envernizado,
elaborado utilizando encaixes e pregos. Papel alumínio revestindo interior do
oratório. Porta de vidro encaixado, sustentado por ripas pregadas, duas
dobradiças metálicas, presas por parafusos. A porta apenas se encaixa para
fechar, possuindo um puxador de madeira torneada. As imagens são em gesso,
São Benedito bem maior que Nossa Senhora do Rosário com pequenos
lacerados. Na frente das imagens flores de tecido, terços com contas de plástico
azul, fitas de cetim.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
353
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
19- Documentação fotográfica
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente (X ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 36cm + 14cm crucifixo
Profundidade: 22,5cm
Largura: 22,5cm
354
22. Análise do Estado de Conservação:
Bastão em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos ou
rachaduras.
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas:.
Oratório tipo capelinha, com telhado plano e frente elevada com um crucifixo medindo
14 cm. Caixote de compensado recortado, envernizado, elaborado utilizando
encaixes e pregos. Papel alumínio revestindo interior do oratório. Porta de vidro
encaixado, sustentado por ripas pregadas, duas dobradiças metálicas, presas por
parafusos. A porta apenas se encaixa para fechar, possuindo um puxador de madeira
torneada. Imagens religiosas em gesso, uma bem maior que a outra, com pequenos
lacerados. Na frente das imagens, flores de tecido, terços com contas de plástico,
fitas de cetim.
25. Características Estilísticas:
Estilo popular (sem característica estilística específica).
26. Características Iconográficas:
Nos oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino.
355
De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhora
do Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de Seu
Zezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tido
como mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava os
alimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como um
militar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.
Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando se
conversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelo
capital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentes
sobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de sua
prática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.
Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como
“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamento
como prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nos
quartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passar
por esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprio
terno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,
era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendido
como escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram os
conhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam os
invasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser um
grande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro a
alforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à Santa
Ifigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disse
que não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho e
parentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Mais
tarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo Câmara
Cascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinham
com as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedra
existente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro servia
para a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” que
no Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera a
condição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negros
se mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei para
a libertação de seu povo.
356
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
357
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
358
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
Os primeiros oratórios datam dos primórdios da Idade Média. Pequenos armários
que podiam guardar não só o santo protetor, mas tudo que se relaciona à devoção
cotidiana. Propiciando um ambiente adequado às reflexões e orações no interior
das residências. Os oratórios geralmente simulam pequenos templos, trazidos para
o interior das casas para conferir aos seus donos segurança e intimidade com o
mundo do sagrado. Utilizados também em momentos festivos e em celebrações
coletivas. Nos primeiros anos da colonização do Brasil, os oratórios exerceram
importante papel no exercício da fé, pois inexistindo igrejas, era diante desses nichos
ou armários de guardar santos que o povo fazia suas rezas. Deste modo as casas
se constituíam no local mais reservado para a devoção religiosa.O oratório utilizado
no Congado é o que designam por Esmoler ou oratório Itinerante ou de viagem.
Estes oratórios são encontrados principalmente em espaços urbanos e utilizados
para arrecadar dinheiro para a edificação de um templo de uma irmandade e para
angariar recursos para a realização de festas religiosas.
28. Referências Documentais: Fotografias e entrevistas realizadas em visitas à
residência de Creuza Romão de Oliveira, quartel do terno Congo de SainhaCascudo,
Luiz da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições de Ouro,
1972Site: http://www.museudoratorio.com.brCD Rom “Álbum de Família: Famílias
Afro-descendentes em Uberlândia no Século XX” – Produzido por Fabíola Benfica
Marra, com recurso da lei Municipal de Incentivo à Cultura, finalizado em 2005.
29. Informações Complementares:
O oratório cumpre uma importante função no Congado. Durante as campanhas o
oratório fica na casa onde será realizada a novena e/ou o leilão. Quando o terno sai
para as novenas, as mulheres vão à frente para rezar com os moradores da casa. A
bateria chega quando a novena já encerrou.
359
Uma virgem (geralmente criança menor de 10 anos) leva uma bandeira com aimagem de São Benedito ou de Nossa Senhora do Rosário, ou ambos, “escoltados”pela mãe e pela madrinha da bandeira e do terno à frente da guarda. Eles tocamem saudação aos donos da casa que sai para recebê-los. A bandeira é saudadacom devoção e após passar sobre as cabeças das pessoas da casa é levada parao interior da residência para que sejam abençoados todos os cômodos e todos osmoradores. Os dançadores também entram tocando e realizando suas performancese logo se retiram. Após o terço é realizado o leilão das prendas arrecadadas pelomorador da casa que está recebendo o oratório do terno. O oratório andorpermanece no interior da casa até que todas as prendas sejam compradas. Uma“secretária”, geralmente uma das Madrinhas, anota em um caderno cada produto eo valor arrematado e o nome do comprador. Os produtos geralmente sãoarrematados por valores acima do valor real de mercado. Encerrado o leilão, oterno toca para sair, agradece aos donos da casa, que em alguns casos tambémoferecem um lanche. Os soldados descansam as caixas do lado de fora enquantoas meninas rezam se despedindo. Os donos da casa se despedem dos santos edo oratório que irá partir para abençoar outra casa. Quando a bandeira sai, o capitãoe seus soldados cantam e tocam se despedindo e as meninas levam dançando ooratório andor com os santos e a bandeira para a casa onde será realizada a próximanovena e/ou leilão. Ao chegar os soldados chamam o morador que sai até a portapara receber a Bandeira (terno) e o oratório. Todos rezam e combinam o dia certopara o leilão e/ou novena, que poderá ser no dia seguinte ou nos próximos. ABandeira (o terno) parte de volta para o quartel, onde ficará a bandeira (levada pelavirgem) e os instrumentos até o próximo leilão. O oratório com as imagens dossantos é levado no dia da festa por alguns ternos.
30.Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
360
ESTRUTURA ARQUITETÔNICA E URBANÍSTICA
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
Fotos do Quartel Terno Congo Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Designação: Quartel do
Terno Congo Camisa Verde
04. Endereço: Rua Feliciano de Moraes, 147 -
Aparecida
05. Propriedade: Privada
06. Responsável: Maria Rosária de Fátima
Nascimento07. Histórico:
Na época em que o terno Congo de Camisa Verde era comandado por Elias
Nascimento, o quartel era na casa do Presidente da Irmandade na rua Prata. Em
1963 o quartel passa a ser na Rua Feliciano de Moraes, 147 – Aparecida. Domicílio
em nome de José Olimpio Nascimento, permanecendo atualmente neste local onde
reside Dona Fátima.
08. Descrição:
Localizado na região central de Uberlândia, a área construída ocupa
aproximadamente 30% do terreno de 8x30m, sendo um cômodo destinado
exclusivamente para abrigar os instrumentos e as vasilhas da cozinha do Congado.
Durante as festas é armada uma lona para cobrir o restante do terreno, garantindo
sobra e abrigo da chuva para os soldados. O madeiramento, estrutura para a
cobertura, é mantido no local o ano inteiro, a lona, após o período de festas é
dobrada e guardada junto com os instrumentos.
09. Documentação Fotográfica:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
361
09. Documentação Fotográfica:
Fotos do Quartel Terno Congo de Camisa Verde
Uberlândia/MG Ano 2007
362
10. Uso Atual:( x ) Residencial ( x ) Serviço( ) Comercial ( ) Institucional( ) Industrial ( ) Outros 11. Situação de Ocupação:( x ) Própria ( ) Alugada( ) Cedida ( ) Comodato( ) Outros12. Proteção Legal Existente( ) Tombamento( ) Municipal( ) Federal( ) Estadual( x ) Nenhuma13. Proteção Legal Proposta:( ) Tombamento Federal( ) Tombamento Estadual( ) Tombamento Municipal( ) Entorno de Bem Tombado( )Documentação Histórica( x ) Inventário( ) Tombamento Integral( ) Tombamento Parcial( ) Fachadas( ) Volumetria( ) Restrições de Uso e Ocupação
14. Análise do Entorno - Situação e Ambiência: Localiza-se em área plana com
com passeios, arborização, redes elétrica, rede de esgoto, rede de água tratada,
As edificações são predominantemente de volumetria simples apresentando
partidos retangulares, com vários “puxadinhos”, altimetria de um pavimento,
materiais de acabamento de alvenaria de tijolo cerâmico, pintura com grande
variação de cores e esquadrias de metalon ou alumínio, coberturas metálicas ou
com telhas cerâmicas.
15. Estado de Conservação:
( ) Excelente
( ) Bom
( x ) Regular
( ) Péssimo
363
16. Análise do Estado de Conservação:O estado de conservação está regular,
necessitando de repintura, já que a atual apresenta muitas marcas de reformas
recentes, como torça de esquadrias e também de infiltrações causadas por água
de chuva.
17. Fatores de Degradação:Infiltração causada por ação das intempéries
18. Medidas de Conservação:Conservação preventiva
19. Intervenções:Não identificadas
20. Referências Bibliográficas:*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família:
Famílias Afro-descendentes no Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido
entre os anos de 2004 e 2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.*Slenes,
Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família escrava,
Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
21. Informações Complementares:
Os quartéis são os locais onde os soldados de cada guarda se reúnem para fazer
as campanhas ou para sair em viagens. É também onde guardam os instrumentos
e realizam as refeições durante os dias de festa e fazem intervalos de descanso.
Todas as atividades do Congado começam e terminam no quartel. Geralmente o
quartel é o local de moradia da família do capitão ou da madrinha do terno. As
construções são o que se chamam colônias: diversas casas pequenas, construídas
em períodos distintos, dispostas umas ao lado das outras e com um pátio, uma
área comum, um terreiro no meio. A área não construída no meio é utilizada para
reunir o terno, para realizar as refeições coletivas, afinar instrumentos. Em muitos
casos, banheiros, tanques, pias e locais para passar roupas são de uso comum a
todos os moradores da colônia. Nos Quartéis, realizam grandes refeições conjuntas,
mesmo não sendo dia de festa Congado. O milagre multiplicador dos alimentos
promovido por São Benedito é realizado pelas matriarcas todos os dias e se estende
aos “praticamente filhos”, pois muitas crianças, jovens e adultos são atraídas para
o convívio das famílias de congo, estendendo os laços familiares para além dos
consangüíneos. O Congado que acontece na porta da igreja Católica é o ápice, o
momento máximo desta festa que dura praticamente o ano inteiro dentro dos terreiros
e quartéis. A família é festejada diariamente. Grandes matriarcas reúnem ao seu
redor seus muitos filhos todos os dias.
364
Segundo Robert W. Slenes1, a palavra Senzala origina-se do dialeto Kimbundu e
significa “residência de serviçais em propriedade agrícola” ou ainda “moradia de
gente separada da casa principal”. Senzala também pode significar “Povoado” ou
“grupo de parentesco”. (p. 148). Enquanto a expressão Quilombo é utilizada para
designar “acampamento de guerreiros” (p. 173). Os Quartéis de Congado abriga
Soldados com suas caixas e seus Estandartes durante as Campanhas. No Congado,
os guerreiros conduzem caixas e são designados Soldados, organizados por
Capitães, seguem seus Estandartes e se abrigam no Quilombo chamado Quartel.
(Footnotes)
Slenes, Robert W. “Na Senzala uma flor: esperanças e recordações da família
escrava, Brasil Sudeste, Século XIX” Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
22. Atualização das informações:NT
23. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
366
BENS IMATERIAIS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Denominação: Terno
Congo Sainha
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Natureza: Festas Populares/ Celebrações/
Cultos Afro-brasileiros
05. Responsável: José Eustáquio
06. Informe Histórico:
A segunda madrinha do terno, Dona Creuza Romão de Oliveira, nascida em 24/04/
1948, é a proprietária do domicílio onde atualmente funciona o quartel do terno
Congo de Sainha. O terno Congo de Sainha é fundado por José Rafael fundou em
1950, tendo como segundo capitão o atual segundo capitão José Justino, o pai de
Dona Creuza, João Romão Cesário, nascido em 15/02/1915 e falecido em 27/05/
1993, era lavrador e desde a fundação do terno Congo de Sainha dançou como
tocador de caixa, caixeiro. A mãe de Dona Creuza, Silenaura Mariana, nascida em
24/03/1917, na cidade de Nova Ponte, era uma das madrinhas do terno Congo de
Sainha na época de sua fundação. A função de primeira madrinha do terno
atualmente é desempenhada pela filha de Dona Creuza, Cláudia Romão de Oliveira.
O José Eustáquio é filho de criação de José Rafael e dona Abadia, quando seu
José Rafael falece no início da década de 1980, a função de presidente e primeiro
capitão do terno Congo de Sainha é passada para o jovem José Eustáquio,
permanecendo o José Justino na função de segundo capitão.
Fotos do Terno Congo de Sainha
Uberlândia/MG Ano 2007
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
367
Fotos do Terno Congo de Sainha
Uberlândia/MG Ano 2007
07. Documentação fotográfica:
08. Descrição:
O terno Congo de Sainha é um dos ternos mais antigos da cidade, é o único terno
de Congo que mantém uma estrutura tradicional e utiliza indumentária e instrumentos
harmônicos tradicionalmente associados aos ternos de Congo. Os soldados utilizam
“chapéu de coroa” e saiote azul sobre calça e camisa branca, com sapatos também
brancos, as meninas utilizam vestido cor-de-rosa, meia-luva, adereços florais na
cabeça e uma faixa saldando Nossa Senhora do Rosário. A indumentária feminina
é padronizada, já a dos soldados mantém apenas o padrão e as cores, já que fica
a cargo de cada soldado preparar seu “uniforme”. Muitos dançadores são adultos
e idosos, não faltando a presença de jovens e crianças. Os instrumentos utilizados
são sanfona, viola, violão, cavaquinho, pandeiro, chocalho e três bitolas de caixa.
09. Grupos Sociais Envolvidos:
Os participantes do terno Congo de Sainha não pertencem à grupos unificadores,
são integrantes das famílias dos seus fundadores, que desde o princípio não
pertenciam à uma única linhagem familiar.
10. Organizadores:
Presidente e primeiro capitão: José Eustáquio
Segundo Capitão: José Justino
Madrinhas Cláudia e Creuza Romão
368
11. Participantes: aproximadamente 100 integrantes
12. Local de Realização: Rua Cel. Antônio Alves Pereira, 2475 - Saraiva
13. Data/ periodicidade de ocorrência:
A “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, começava por volta do
dia 15 de setembro, atualmente ela começa por volta do dia 10 de agosto. Por
causa da mudança da data da festa de novembro para outubro, a campanha também
começa mais cedo. A festa do Congado realizada na Igreja de Nossa Senhora do
Rosário no centro da cidade de Uberlândia, atualmente ocorre no último domingo e
segunda-feira de outubro, antes era no segundo domingo e segunda-feira de
novembro. Ocorre também uma festa na igreja de São Benedito, no bairro Planalto
no mês de maio. Várias festas em outras cidades ocorrem em diversas datas ao
longo do ano, sendo visitadas pelos ternos de Uberlândia.
14. Informações Complementares:
O Congado é um ritual afro-brasileiro que nasce dos cortejos de coroação de reis,
do culto aos ancestrais africanos e das celebrações de santos da Igreja Católica.
Uma dança ritual executada por guardas ou ternos de Congo, Moçambique, Marujo,
Marinheiro e Catupé. Os dançantes prestam homenagem à Nossa Senhora do
Rosário e a São Benedito, aos antepassados e aos santos de sua devoção,
principalmente aos santos negros Santa Ifigênia e N. S. Aparecida, mas também
São Domingos, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora d’Abadia, etc. Cada terno
se diferencia do outro nas cores das roupas e dos acessórios, nos ritmos das
músicas, nos instrumentos e na forma da dança.
Prevalesse o canto antifonal, isto é, um solista, geralmente o Primeiro Capitão,
apresenta o tema e o coro responde. O Segundo Capitão com seu bastão e apito
comanda os soldados na execução instrumental. Cada Capitão “puxa” uma série
de músicas que podem ser elaboradas por ele ou pelo grupo e ainda outras
aprendidas com outros ternos ou com os antepassados. Algumas músicas são
“tradicionais” do terno, passadas de capitão para capitão. Outras são específicas
de cada guarda. Existem também cantorias que são consideradas “segredo” que
não podem ser reveladas para “os de fora” e que são aprendidas e “guardadas no
coração”, só são executadas em cerimônias reservadas.
369
O trajeto do Congado é uma manifestação pública da fé, do pertencimento ao
movimento cultural afro-brasileiro-mineiro-uberlandese. Os congadeiros rompem
os muros que cercam suas comunidades e ganham a cidade, comemorando a
manutenção de suas famílias e de sua cultura.
O ritual composto por elementos da cultura bantu é reelaborado no Brasil sob
influência do contato com outros povos africanos, europeus e nativos. O Congado
em Uberlândia, é fundamentado no mito da aparição e resgate da imagem de Nossa
Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões: a) Nossa Senhora do
Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir, chama os pais para verem,
eles não acreditam.
Então ele chama os Marinheiros, que também presenciam a santa submergir, eles
tentam tirá-la, mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres e tentam levá-la
para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem, então o terno
de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge, mas ao ser
levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Um terno de
Moçambique, todo vestido de branco, descalço, com gungas nos pés, canta para
ela, que então submerge e lhes acompanha, eles então constroem uma capela
para ela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique então
se retira sem lhe dar as costas. b) a segunda versão, contada por Maria Conceição
Cardoso, do Moçambique Rosário de Fátima, afirma que ao tentar capturar escravos
fugidos na serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo
de negros, vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente
a uma árvore de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num
galho. Os capitães do mato surram os negros e tentam capturá-los, mas eles
permanecem imóveis. Apavorados com a visão voltam para a cidade e chamam
um padre para ir até o local verificar o fato.
E como na primeira versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa
Senhora do Rosário acompanha apenas o Moçambique que canta, vestido de
branco e lhe construiu uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de sua presença.
O Moçambique é, por isso, a Guarda Real. Isto é, são os ternos de Moçambique os
responsáveis por conduzir as imagens dos santos, bem como os reis durante a
procissão.
370
É responsável por levantar o mastro na porta da Igreja dando início ao Congado, é
quem geralmente conduz os casais reais até a procissão e também no encerramento
da festa. Ouvi de diversos capitães em Uberlândia, que quem conduz o casal real é
o Moçambique ou “Congo de coroa”. A coroa além de representar a realeza, também
é símbolo de Nossa Senhora e confere a quem a utiliza a autoridade para conduzir
os reis e santos. A coroa também está associada aos Pretos Velhos, na Umbanda,
representa o poder e a sabedoria dos anciões. O Catupé faz a guarda do
Moçambique e pode substituí-lo nessas funções.. As músicas, as roupas e adereços
e o trançar de fitas característico do terno de Marinheiros e Marujos, fazem referência
ao mar que traz os negros para o Brasil e de onde Nossa Senhora é retirada, e às
atividades do Marinheiro.Os ternos de Congo são de louvação, os tocadores de
maracanãs e caixas fazem performances saltando com os instrumentos, mas esta
performance, atualmente, também é reproduzida por outras guardas.Segundo os
integrantes do Marinheiro de São Benedito a performance dos saltadores ou
caixeiros de frente, em que os dançadores pulam com as caixas revezando entre
ajoelhar-se e saltar é cheia de significação.
Quando estão ajoelhados, estão pedindo axé e quando estão pulando, estão
agradecendo as graças recebidas. Axé é energia vital, essencial para existência.
Uma das características diferenciadoras dos ternos de Congo que vem se
extinguindo em Uberlândia é o uso de cuíca e de tamborins (caixinhas quadradas
confeccionados em madeira e couro, percutidas com uma vareta), bem como o
uso de pandeiros, adufes e instrumentos harmônicos como violões, cavaquinhos,
banjos e sanfonas.
A organização das guardas, a hierarquia dos ternos, segue os modelos militares
ou políticos. Na maior parte dos ternos, o “regente” é chamado Capitão, mas em
outros recebe o distintivo de General ou Guia. Existem outras funções, tais como,
Presidente, Fiscal, Conselheiro, Secretário, Tesoureiro, Madrinha do Terno, Madrinha
da Bandeira, Soldados, Bandeireiras, etc. que variam de terno para terno, tanto em
número como em funções e significações. “Antigamente” a função de Primeiro
Capitão era designada em alguns ternos de Marechal e as bandeireiras de Juizas,
o Presidente era conhecido como o Dono do terno. As designações presidente,
vice-presidente geralmente tem seu equivalente como primeiro capitão, segundo
capitão, madrinha.
371
O primeiro capitão se desloca o tempo todo se certificando se tudo corre bem comtodo o terno e também puxa as músicas. O segundo capitão geralmente éresponsável por reger a bateria, é o maestro. Dois outros capitães ou fiscaisprotegem as laterais e também se locomovem entre os dançadores. A madrinha doterno geralmente segue a frente, junto à virgem que carrega a bandeira, mas tambémtransita pelo terno auxiliando na medida em que se faz necessário. A madrinha dabandeira auxilia as bandeireiras. Elas também são responsáveis pelas crianças,no Marinheirão existe a função de capitão das crianças, outras pessoas, geralmenteas mães também cuidam das delas, carregando-as no colo quando se cansam.Os Fiscais auxiliam na condução do terno, na execução das músicas, naorganização dos dançadores. São os imediatos do Capitão, geralmente tambémimpunham um bastão e trazem um apito. As funções de Presidente, tesoureiro eSecretários, exigidas para o registro oficial, geralmente são desempenhados pelospróprios Capitães, Madrinhas e Fiscais.Os Soldados são os tocadores edançadores. As Bandeireiras conduzem as Bandeiras ou estandartes e suas fitas fazendocoreografias, também podem ser chamadas de Andorinhas.“Antigamente” esta função só era desempenhada pelas garotas virgens. Muitasmulheres relatam que se a menina não fosse virgem e levasse a fita ou o mastro dabandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa Senhora do Rosário seriaa responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo poderiam cair ou a roupase rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações, como quebrar, rasgar.Desmaios e doenças dificultariam a execução da função. Caberia a menina seafastar quando não fosse mais “digna” de carregar a bandeira do Congado. Hojeno entanto esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.Alguns atribuem sentidos místicos à escolha das cores, dos instrumentos, dosacessórios e dos ritmos, outros vêm nesses elementos traços distintivos dos ternos.As roupas e acessórios são usados apenas nos dias de festa, durante a campanha,cada um se veste a seu modo. As meninas geralmente fazem roupas que podemser usadas no cotidiano, já que todo ano elas fazem duas trocas de roupa: umapara o domingo e outra para a segunda. Alguns ternos modificam os modelos desuas roupas todo ano, outros mantém a vestimenta dos homens durante algumperíodo. Constatei a preocupação de anciões quanto à manutenção das roupasconsideradas tradicionais dos ternos. A indumentária que mais inova é a dasbandeireiras, geralmente as roupas dos soldados possuem elementosidentificadores dos ternos e não mudam de um ano para o outro, a mudança quandoocorre é gradativa. A indumentária é um dos elementos identificadores dos ternos,por isso a Irmandade do Rosário intervém na escolha das cores e adereços.Os ternos só recebem a Carta de Comando – ordem para participar dos festejos –se estiverem filiados à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Uberlândia.Aqueles registrados em cartórios participam do Reinado sem o aval da Irmandade.Um representante da Igreja, geralmente o pároco, participa diretamente das decisõesda Irmandade.
372
A Irmandade é o elo de ligação dos ternos com a Igreja Católica e as subvençõesgovernamentais. A Irmandade gerencia a festa, decide data de realização da festa,faz e refaz o estatuto da Irmandade e da Festa, decide horários de realização demissas, procissões etc. A diretoria da Irmandade do Rosário é na verdade umreinado, onde os cargos são hereditários. Cada terno é como se fosse um “reino”ou “estado”, “clã”, “facção”, um batalhão, um pelotão, pertencente à um tipo deguarda. Com organização e agenda de rituais própria. Cada terno possui o seu“diplomata”, geralmente um capitão, que fará sua representação nas reuniões coma Irmandade e os órgãos governamentais ou financiadores.Apesar de muitos congadeiros negar que exista rivalidade entre os ternos, a disputatorna-se muito clara em muitos momentos.Disputam a ocupação do espaço na praça da igreja, qual a execução mais perfeitadas músicas, qual o maior número de componentes, qual a melhor organização edisposição dos soldados na apresentação, qual a melhor e mais bonita indumentária,ocorre disputa na demarcação do território onde realizaram sua campanha, etc.Em alguns momentos verdadeiras batalhas orquestrais ocorrem: os ternos seenfrentam com os instrumentos, o apito e a expressão corporal dos capitães deixamclara a luta enquanto os soldados rufam seus tambores.Durante “campanha” do Congado, como os congadeiros dizem, são confeccionadosou reformados acessórios, roupas e instrumentos. Realizam ensaios, novenas,leilões, reuniões com a Irmandade e com a Coordenadoria Municipal Afro-Racial(CoAfro). Fazem benzições, trabalhos espirituais. Visitam outras cidades em festa.A campanha é o período que precede a festa.Geralmente é o Presidente do terno ou a Madrinha quem fica responsável poragendar os leilões e novenas. Os donos da casa onde serão realizados os leilõesarrecadam “prendas”, geralmente alimentos, produtos de higiêne, bebidas, quitutes,roupas, etc, que serão leiloados a favor do terno. Reúnem-se os dançadores, afinam-se os instrumentos e cada terno sai do seu quartel sob o comando do bastão e doapito de seus capitães realizando jornadas noturnas que extrapolam os limites dosbairros para realizar as novenas e os leilões. Estes deslocamentos pela cidadeenchem a noite com as sonoridades dos instrumentos. Algumas pessoas saem naporta das casas para ver os ternos passarem, nos seus ensaios para o dia dafesta.Cada terno possui o seu “território”, demarcado pelas casas dos amigos queoferecem prendas para o leilão ou solicitam a visita da bandeira para a realizaçãoda novena. Cada terno possui um quartel, que pode ser a casa de um dos capitãesou de pessoas ligadas ao terno. O “território” dos ternos extrapola, inclusive asfronteiras das cidades, pois cada terno possui uma agenda de festas e encontrosformando distintas redes de sociabilidade. Os ternos também costumam visitarsuas cidades de origem.
373
Quando um terno se encontra com outro no trajeto pode acontecer pelo menos trêsações diferentes: 1 – se os ternos forem amigos, se cumprimentam e até mesmo tocam juntos;2 – se os ternos tiverem algum tipo de diferença, rixa, ou questão a ser resolvida,poderá haver uma espécie de confronto, um duelo de instrumentos, ou um ternoimpede o outro de atravessar uma rua ou passar na porta da igreja.3 – se os ternos ainda não se conhecerem pode acontecer dos Capitães cantaremum para o outro saldando as bandeiras e se identificando. Pode também haverneste caso uma espécie de duelo em que os capitães disputam cordialmente parasaber qual dos capitães é mais experiente ou qual a bateria faz mais evoluções.O trajeto até a casa da novena é utilizado para realizarem o ensaio para o dia dafesta. Durante o trajeto até as casas onde se realizarão as novenas, os capitãesensinam as músicas aos novatos e ensinam a tocar os instrumentos. É comum acriação de músicas novas para apresentarem no dia da festa. A composição podeser feita por capitães, madrinhas ou dançadores do terno ou ainda ser atribuídas amentores espirituais. Muitas músicas tocadas durante a campanha podem não serexecutadas no dia da festa. Existem também músicas específicas para cadaocasião: para chamar o dono da casa, para agradecer as prendas para o leilão,para abençoar o interior da casa, músicas de novena, em louvor a São Benedito,em louvor a Nossa Senhora do Rosário, que relembram os antepassados, que falamde fenômenos climáticos, para solicitar a saída da bandeira, para saldar Reis eRainhas, de despedidas, para quando ocorre um encontro com outro terno seja eleamigo ou não e uma infinidade de outras possibilidades, variando de terno paraterno.Existem duas versões para a origem do Congado em Uberlândia. A primeiraconsidera o Distrito de Miraporanga (antiga Santa Maria) o local de onde seoriginaram os ternos de Congado do município, na época, o arraial de São Pedrode Uberabinha. Segundo Paulino (In Brasileiro, 2001:31), o primeiro terno demoçambique surgiu em Miraporanga, não sendo inicialmente aceito pelosmoradores de São Pedro do Uberabinha. A Igreja do Rosário de MIrapóranga,construída em 1850, foi fundada por escravos, que posteriormente se mudariampara o futuro bairro Patrimônio em Uberlândia, às margens do Rio Uberabinha,levando consigo as celebrações do Congado.A segunda versão indica que o movimento do Congado se iniciou no Sertão daFarinha Podre, por volta de 1874, através do “Mestre André”. Esse senhor reuniaos negros da região do Rio das Velhas e Olhos D’Água, tocando tambor em culto àNossa Senhora do Rosário, padroeira dos negros, pedindo para libertá-los daescravidão. O início do movimento ocorre por volta de 1876, período de expectativae temor quanto à abolição da escravatura no Brasil Império. Vale lembrar que em1881 foi decretada a lei nº 2040, conhecida como a “Lei do Ventre Livre” e em 1885a “Lei do Sexagenário” ou “Lei Saraiva Cotegipe”, as quais participaram de umprocesso que culminou na própria abolição da escravatura, em 1888.
374
O município de Uberlândia se localiza na região do Triângulo Mineiro, área conhecida
no século XVIII e XIX como Sertão da Farinha Podre. Esta região era denominada
de Sertão da Farinha Podre por causa dos sacos de palha com farinha, encontrados
pelos colonizadores, enterrados ou pendurados nas árvores. Das histórias contadas
sobre a origem deste nome, existe uma que afirma que quando as bandeiras se
aproximavam os indígenas e quilombolas que aqui habitavam escondiam sua
farinha, base de sua alimentação, com esperança de poderem voltar algum dia
para suas aldeias e ter alimentos até a nova plantação dar seus frutos. Eles se
refugiavam nas matas e esperavam os bandeirantes abandonarem suas moradias
após arrasá-las com saques e incêndios. Muitas aldeias tinham que mudar
constantemente sua localização, abandonando sacos de farinha pelo caminho de
sua fuga. Por causa de sua localização geográfica, o Sertão da Farinha Podre
passou a ser um entreposto para os avanços das bandeiras. Local de de descanso
e comércio de tropas uma parada na rota de tropeiros e mineradores em direção a
Goiás e Mato Grosso. A farinha que fora escondida pelos quilombolas e/ou
indígenas apodrecia com a ação do tempo, e depois era encontrada pelos novos
habitantes do lugar. Por causa da grande quantidade de mantimentos apodrecidos
encontrados, a região da bacia do rio Paranaíba que abrange o atual Triângulo
Mineiro e parte do sul do estado do Goiás, ganhou o nome de Sertão da Farinha
Podre.
O Sertão da Farinha Podre era povoado por vários núcleos quilombolas distribuídos
como pontos de uma rede. Os documentos oficiais referem-se a diversos deles
como pertencentes ao Quilombo do Campo Grande. O Quilombo do Ambrósio,
localizado na zona rural de Ibiá, cujo sítio arqueológico é tombado pelo patrimônio
histórico, foi como uma célula central de onde partiam os integrantes que formavam
os outros núcleos da rede. A historiografia oficial considera que o Quilombo do
Ambrósio tenha sido destruído em 1746, sendo referido como o maior núcleo,
comportando até mais de “mil negros, e grande número de negras e crias”. Os
documentos oficiais que narram a destruição deste núcleo e de “outros menores”
informam o número de três oficiais e duzentos e sessenta “homens capazes, e dos
mais desocupados” reunidos nas freguesias de Brumado (hoje Patrocínio), Sta
Rita, Carijos, Congonhas, Ouro Branco e Prado. E para a destruição do Quilombo
do Campo Grande foram enviados quatrocentos e depois mais trezentos homens
da cidade de Mariana, São João de El Rey, São José, Sabará e Vila Nova da
Raynha. Sendo que estas comitivas levavam cartas solicitando que todas as
comarcas lhes fornecessem “munições de guerra e de boca”.
375
Embora, os documentos oficiais relatem expedições bem sucedidas na destruição
destes quilombos, deixam a entender que muitos quilombolas fugiam recomeçando
um novo quilombo em áreas não ocupadas pelo homem branco. A área onde hoje
se localiza Uberlândia só foi ocupada pelo homem branco a partir de 1821,
possuindo ainda reminiscências dos antigos quilombos do Campo Grande. Mas a
construção de hidrelétricas tem destruído paulatinamente os vestígios arqueológicos
destes quilombos que geralmente escolhiam áreas estratégicas próximas aos rios
para se instalar. Os quilombolas escolhiam sua localização de acordo com os
elementos oferecidos pelo ambiente buscando áreas que lhes possibilitasse a
permanência (agricultura e pecuária de subsistência, assaltos às tropas de
comerciantes e viajantes e contrabando) e a defesa da comunidade. A região ainda
preserva na toponímia referências aos antigos quilombos (Pau Furado e Quilombo).
A ocupação efetiva desta área pelo homem branco ocorreu a partir do século XIX,
sendo a produção pecuária e a agricultura de subsistência primordiais, pois
possibilitaram a instalação das fazendas e dos arraiais que futuramente constituiriam
vários municípios e distritos. O arraial de São Pedro do Uberabinha, núcleo inicial
da cidade de Uberlândia, formou-se no início do século XIX, a partir da aquisição
de sesmarias do governo da Província de Minas Gerais por algumas famílias. O
marco inicial da atual cidade foi a antiga Sesmaria de São Francisco, doada a
João Pereira da Rocha, em 1821. A chegada de outras famílias, com destaque
para a “Alves Carrejo”, intensificou a ocupação da região.
Em 1846, Felisberto Alves Carrejo, após aquisição de área de dez alqueires entre
o Córrego São Pedro e o Córrego Cajubá, obteve, juntamente com Francisco Alves
Pereira, aprovação do Bispado de Goiás para a construção de uma capela curada,
consagrada a Nossa Senhora do Carmo e a São Sebastião da Barra. No ano de
1852 foi criado o Distrito de Paz do São Pedro do Uberabinha, pela lei provincial n.
602, e em 1853 a primeira capela foi concluída. A criação da paróquia, em 1857,
ocorreu no mesmo ano da formação do patrimônio da capela, composto de terras
doadas por um grupo de moradores locais que haviam adquirido 100 alqueires da
Fazenda do Salto (Vale, 1998: 252). As primeiras edificações do arraial se São
Pedro do Uberabinha se concentravam ao redor do largo da Igreja Matriz, em terrenos
aforados do patrimônio de Nossa Senhora do Carmo. Em 1883 foram doados,
ainda, doze alqueires de terra à margem esquerda do córrego Uberabinha, próximo
aos limites do arraial, destinados ao patrimônio de Nossa Senhora da Abadia
(Lourenço, 1986:16)
376
Em 31 de agosto de 1888, a então freguesia foi transformada em vila, com o nome
de São Pedro do Uberabinha, tendo sido instalada oficialmente em 1891. Em 24
de maio de 1892, a vila foi elevada à categoria de cidade pela lei nº 23. Em 1895,
a Estrada de Ferro Mogiana atingiu a cidade de Uberlândia e se verifica o
desenvolvimento da produção agropecuária e de indústrias, com destaque para a
produção de charque (Brasileiro, 2001: 253). “Nas duas primeiras décadas do século
XX foram instaladas em Uberlândia indústrias ligadas à produção rural. Têm-se
registro das seguintes indústrias, existentes em 1922: beneficiadoras de arroz e
algodão, serrarias, carpintarias, charqueadas, curtumes e outros estabelecimentos
de produção de couro e carne, além de fábricas de banha, sabão, calçados e
arreios” (Lourenço, 1986: 20). Vale ressaltar que o fornecimento de energia elétrica
teve início em 1909, aumentando a possibilidade da instalação de várias fábricas.
Em 1929, a cidade recebeu o nome de Uberlândia, através da lei nº 843. Na década
de 1930, a abertura de estradas de rodagem em direção às áreas de exploração
de diamantes do Rio Araguaia intensificou o desenvolvimento da área, que se tornou
ponto de troca e abastecimento de caravanas e compradores de diamantes . Em
1933 , iniciou -se a construção da nova igreja Matriz concluída em 1941. A padroeira
Santa Terezinha foi escolhida para substituir os antigos padroeiros da cidade Nossa
Senhora do Carmo e São Sebastião da Barra. A antiga igreja Matriz foi demolida
em 1943, dando lugar a estação Rodoviária, que hoje sedia a Biblioteca Municipal
. Em 1940, cidade passa por um rápido crescimento e adensamento populacional,
e desde então tem se configurado importante centro regional, localizado em local
estratégico, próximo a seis capitais (Campo Grande, Cuiabá, Goiânia, Belo
Horizonte, São Paulo e Brasília ). De 1985 a 1996, o seu crescimento anual do P I
B de 5, 09%, superior ao crescimento de Minas Gerais (2,17%) e do Brasil (2,28%).
Hoje, a cidade se destaca pelo desenvolvimento dos setores de agro industria,
tecnologia da informação, setor atacadista - distribuidor, e mais recentemente, de
biotecnologia, sendo também considerado pólo na área de ensino superior.
Há referências históricas de que a primeira Capela de Nossa Senhora do Rosário
tenha sido iniciada pelo Padre João Dantas Barbosa, em 1876, a qual não foi
concluída, tendo sido definitivamente levantada na atual praça Cícero Dr. Duarte.
Em decorrência do abandono da capela anterior, entre 1891 e 1893, ocorreu a
construção da nova Capela do Rosário “com estrutura de madeira, tijolos de adobe
e telha comum, situada no centro da cidade e com fachada voltada para o bairro
General Osório (atual bairro fundinho).”
377
Já em meados de 1890, o então presidente da Irmandade do Rosário passou a
comandar a nova procissão. O vigário Pio Dantas estimulou a participação da
comunidade negra nas festividades religiosas. (Ibidem, 2001).
Com o crescimento da cidade, a segunda capela precisou ser ampliada. Foi
composta uma comissão responsável por angariar donativos particulares e recolher
uma mensalidade cobrada da Irmandade do Rosário. A capela anterior foi demolida
e, no mesmo local, a partir de 1928, foi construída uma nova capela com projeto de
autoria do arquiteto Thomaz Hovanez. Em 1931, a Capela Nossa Senhora do
Rosário foi re-inaugurada. Em 1985, a Capela de Nossa Senhora do Rosário foi
tombada pelo Patrimônio Histórico Municipal (lei nº 4263, de 9 de setembro) e
entre 1987 e 1988, foi restaurada pela Secretaria de Cultura do Município com
apoio do IEPHA/MG (Vale, 1998:257). A Capela de Nossa Senhora do Rosário
passou por processo de restauração no de 2006.
15. Referências:
* Anais da Biblioteca Nacional – Volume 108 – Rio de Janeiro, 1988 pg. 47-113 –
Carta de Gomes Freire de Andrade para o Capitão-mor da Vila de S. João de El
Rey Manuel da Costa Golvea, 27 de junho de 1746. Mss. APM, Códice SC84,
Registro da providoria da Fazenda de Minas Gerais p.111 (Ver laudo IPHAN 004/
98)
*Brasileiro, Jeremias. Congadas de Minas Gerais – Brasília: Fundação Cultural
Palmares, 2001.
* Laudo IPHAN 004/98 – Dossiê do Tombamento do Remanescente do Antigo
Quilombo do Ambrósio – Ibiá – Mg
*Lucas, Glaura. Os Sons do Rosário – Um Estudo Etnomusicológico do Congado
Mineiro – Arturos e Jatobá. Dissertação de Mestrado, São Paulo: ECA-USP,
1999.
*Marra, Fabíola Benfica. Álbum de Família: Famílias Afro-descendentes no
Século XX em Uberlândia – MG – CD-Rom produzido entre os anos de 2004 e
2005, através da lei municipal de Incentivo à Cultura.
*Martins, Tarcisio José. Quilombo do Campo Grande: A História de Minas Roubada
do Povo. São Paulo: Gazeta Maçônica, 1995.
*Lima Jr., Walter. Chico Rei. Embrafilmes, 1986.
378
*LOURENÇO, Luis Augusto Bustamante. Bairro Patrimônio: Salgadores e
Moçambiqueiros. Uberlândia: Secretaria Municipal de Cultura, 1983.
*Martins, Leda M. Cantares – Afrografias da Memória. São Paulo: Perspectiva:
1997.
*Moura, Clovis (org). Os Quilombos na Dinâmica Social do Brasil – Maceió:
Edufal, 2001.
*RIBEIRO, Maria de Lourdes Borges. A Música Africana. Rio de Janeiro: Funart,
1981
*VALE, Marília Brasileiro Teixeira. Arquitetura Religiosa do Século XIX no antigo
“Sertão da Farinha Podre”. Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção do Grau de Doutor,
São Paulo, 1998.
16. Atualização das informações:NT
17. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
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BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Sainha
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INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Cada bastão fica na casa de seu
portador
06. Responsável: o portador
07. Designação: Bastão
08. Localização Especifica: os bastões costumam ficar ao lado da cama de seu
responsável
09. Espécie: Objeto ritualístico
10. Época: variadas
11. Autoria: coletiva
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: madeira, verniz ou esmalte sintético, fitas de cetim, cordão
com contas de lágrima
15. Marcas / Inscrições / Legendas: NT
16. Descrição: Na visita que realizei no quartel, na casa de Dona Creuza, não
pude registrar nenhum bastão, mas na festa do Congado em 2006 registrei os
bastões acima. Geralmente elaborados em madeira, envernizada ou coberta com
esmalte sintético, com fitas de cetim e cordão de contas de lágrimas.
17- Condições de segurança:
( x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
380
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Sainha
Uberlândia/MG Ano 2007
19- Documentação fotográfica
381
20- Estado de Conservação:( ) Excelente( X) Bom( ) Regular( ) PéssimoObs:21- Dimensões: Comprimento: geralmente 1m22. Análise do Estado de Conservação: Bastão em bom estado de conservação,sem sinais de desgaste por insetos ou rachaduras.23. Intervenções – Responsável / Data: NT24. Características Técnicas: Os bastões são geralmente elaborados em madeira,envernizada ou coberta com esmalte sintético, com fitas de cetim e cordão de contasde lágrimas.25. Características Estilísticas: Estilo popular (sem característica estilísticaespecífica).26. Características Iconográficas:Nos bastões do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidadede Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Beneditoque não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosárioalgum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino.
382
De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhorado Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de SeuZezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tidocomo mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava osalimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como ummilitar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando seconversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelocapital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentessobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de suaprática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamentocomo prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nosquartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passarpor esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprioterno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendidocomo escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram osconhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam osinvasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser umgrande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro aalforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à SantaIfigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disseque não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho eparentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Maistarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo CâmaraCascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinhamcom as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedraexistente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro serviapara a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” queno Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera acondição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negrosse mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei paraa libertação de seu povo.
383
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
384
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
385
b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
Os bastões, cajados, cedros, caduceus, varas são objetos ritualísticos utilizados
pelas mais diversas religiões com os mais diferentes significados. O cedro é símbolo
de poder utilizado pelos reis. O cajado é utilizado pelos pastores como apoio nas
caminhadas e é símbolo de magia como na história bíblica de Moisés que utiliza
seu cajado para abrir as águas do Mar Vermelho. O bastão é um instrumento de
ataque e de defesa e também simboliza a detenção do comando de uma situação.
Um símbolo fálico, emblema de poder e controle do poder, representa a vontade e
a força dominante. Utilizado como instrumento de invocação e também para dirigir,
controlar e cortar energias. O bastão com estrias no sentido diagonal e com uma
serpente enrolada é símbolo do mito grego Esculápio e representa a sabedoria, a
renovação do conhecimento e o poder de curar, adotado pela medicina e pela
farmácia como seu símbolo. No mito de Hermes, “deus dos viajantes, patrono dos
ladrões e dos trapaceiros, protetor da magia e da adivinhação e responsável pelos
golpes de sorte e pelas súbitas mudanças de vida”, duas serpentes enroladas
simbolizam os opostos: o bem e o mal, masculino e o feminino. O símbolo da
eternidade na mitologia egípcia é um cajado com incisões, fissuras que lembram o
entalhe de um reco-reco.
28. Referências Documentais:
Sharman-burke, Juliet e Greene, Liz. O Tarô Mitológico – São Paulo: Siciliano,
1988
386
29. Informações Complementares:
Os bastões e os apitos são os instrumentos utilizados pelos capitães de Congado
para conduzir seus soldados e reger as músicas executadas pelos tambores. Nos
ternos de Moçambique os bastões são utilizados não apenas por capitães como
acontece na maioria dos ternos, mas por muitos dançantes, que formam uma ala
fazendo coreografias. . Em muitas guardas, fiscais e madrinhas utilizam os bastões
alinhados ao final do desfile, fechando a apresentação do terno. Alguns bastões
são em formato de cobra, outros com carrancas de Pretos Velhos, outros com
imagens de Nossa Senhora Aparecida, Santa Efigênia e São Benedito, crucifixos
e inscrições diversas, fitas de cetim, alguns enfeitados com contas de lágrima, com
ervas (alecrim, arruda, espada de são Jorge), etc. Nas festas de Pretos Velhos nos
centros de Umbanda pratica-se uma dança-ritual muito parecida com a realizada
pelos moçambiqueiros: tocam as pontas dos bastões no alto, revezando com
batidas no chão, dançando em círculo. Quando hasteiam os mastros dando início à
festa do Congado, os moçambiqueiros tocam os mastros com seus bastões. Alguns
ternos realizam coreografias colocando suas coroas nos bastões e erguendo acima
da cabeça. A condução de reis e rainhas, bem como dos santos numa procissão
pode em alguns casos vir dentro de um espaço delimitado por condutores de
bastões. Quando se quer delimitar um espaço com bastões, os dançantes os
colocam na horizontal e com as mãos o moçambiqueiro liga o seu bastão ao bastão
do outro, formando uma corrente.
30.Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
387
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Sainha
ytfrhfhfhg
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Cel. Antônio Alves Pereira, 2475
- Saraiva
06. Responsável: Creuza Romão de Oliveira e
José Eustáquio
07. Designação: Estandarte do Congo de Sainha
08. Localização Especifica: quando não está nas campanhas fica guardado no
quarto de dona Creuza
09. Espécie: Bandeira /Distintivo/Insígnia Religiosa
10. Época: Ignorada
11. Autoria: costureira Dona Siana
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: estrutura de madeira, ponteiras metálicas, gancho metálico,
tecido veludo rosa, miçangas e lantejoulas brancas, franja de cetim branca, imagem
de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado, cordões brancos
15. Marcas / Inscrições / Legendas: Imagem religiosa de Nossa Senhora do
Rosário
16. Descrição: O estandarte utilizado pelo Congo de Sainha segue o modelo
tradicional chamado Pendão que é uma bandeira armada em vara, atravessada
horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. A estrutura do pendão é
feita estrutura de madeira com três ponteiras metálicas. A vara que sustenta a
bandeira é presa na haste por um gancho metálico. A bandeira é elaborada em
tecido veludo rosa, com bordado de rosas elaboradas com miçangas e lantejoulas
brancas. Detalhes do corte realçados por franja de cetim branca. No centro uma
imagem de Nossa Senhora do Rosário impressa em papel plastificado. Os cordões
carregados pelas bandeireiras são brancos e presos na base superior da bandeira.17- Condições de segurança:( ) Boa( ) Razoável( ) Ruim Obs:
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
388
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Sainha
Uberlândia/MG Ano 2007
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
( ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 1,20m
Comprimento da haste: 2,40m
Largura: 0,80m
22. Análise do Estado de Conservação:
Estandarte em bom estado de conservação, sem sinais de desgaste por insetos
ou mofo.
19- Documentação fotográfica
389
23. Intervenções – Responsável / Data: NT
24. Características Técnicas: Estandarte cujo pendão é uma bandeira armada
em vara, atravessada horizontalmente sobre o mastro. A estrutura do pendão é
feita estrutura de madeira com três ponteiras metálicas. A vara que sustenta a
bandeira é presa na haste por um gancho metálico. A bandeira é elaborada em
tecido de veludo, com bordado de rosas elaboradas com miçangas e lantejoulas.
Detalhes do corte realçados por franja de cetim. No centro uma imagem religiosa
impressa em papel plastificado. Cordões presos na base superior da bandeira.
25. Características Estilísticas: Estilo popular (sem característica estilística
específica).
26. Características Iconográficas:
Nos estandartes do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhora
do Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de Santa
Ifigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.
Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo que
os congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundo
Câmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoas
menos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, a
santa negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse eles
criam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,
pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegam
o rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seu
terno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que a
festa é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porque
somente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de Nossa
Senhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre os
pretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar Nossa
Senhora do Rosário, comprando assim a sua benção. Como garantia da fidelidade
de Nossa Senhora do Rosário colocaram um menino nos braços de São Benedito
que não é Jesus, mas um menino branco do povo. Se Nossa Senhora do Rosário
algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar o pescoço do menino.
390
De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhorado Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de SeuZezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.
Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tidocomo mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava osalimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como ummilitar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando seconversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelocapital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentessobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de suaprática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamentocomo prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nosquartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passarpor esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprioterno.
O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendidocomo escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram osconhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam osinvasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser umgrande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro aalforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à SantaIfigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disseque não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho eparentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Maistarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo CâmaraCascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinhamcom as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedraexistente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro serviapara a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” queno Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera acondição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negrosse mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei paraa libertação de seu povo.
391
Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
392
É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;
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b) a segunda versão, contada por Maria Conceição Cardoso, do Moçambique
Rosário de Fátima, de Ibiá - MG, afirma que ao tentar capturar escravos fugidos na
serra da Montanhesa, um grupo de capitães do mato encontra um grupo de negros,
vestidos de branco, fazendo rosários, com contas de lágrima em frente a uma árvore
de umbaúba onde Nossa Senhora do Rosário estava encravada num galho. Os
capitães do mato tentam surrar os negros e capturá-los, mas eles permanecem
imóveis, como se nada os pudesse atingir. Apavorados com a visão voltam para a
cidade e chamam um padre para ir até o local verificar o fato. E como na primeira
versão, brancos e Congos não conseguem levá-la, Nossa Senhora do Rosário
acompanha apenas o Moçambique que canta vestido de branco, de pés descalços,
que anda devagar e lhe constrói uma igreja e não lhe dá as costas ao se retirar de
sua presença.
27. Dados Históricos:
As bandeiras têm suas origens nas insígnias, sinais distintivos de poder ou de
comando, usadas desde a antiguidade e que poderiam ser figuras recortadas em
madeira ou metal, ou pintadas nos escudos. As primeiras bandeiras da história do
homem costumavam representar um grupo sócio-cultural através de imagens e de
cores dotadas de significados, a que a comunidade respectiva confere alto valor.
As bandeiras fixadas a um mastro surgiram na China e foram introduzidas no
Ocidente Medieval pelos Islâmicos. As bandeiras de tecido, no mundo ocidental,
foram criadas pelos romanos e eram denominadas vexillium (insígnia, bandeira,
estandarte). Desde a antiguidade os povos usaram mastros com imagens,
carregados na mão ou fixados nos carros de combate. A grande difusão do seu uso
foi feita pelos romanos e cada divisão da legião tinha o seu estandarte. Foi na
Idade Média que bandeiras e estandartes começaram a representar reinos e
regiões. As bandeiras foram usadas tanto em períodos de paz como de guerra.
Sendo um símbolo identificador eram usados pelos exércitos aliados. Para não se
confundirem uns com os outros e evitarem o temido fogo amigo, usavam um pedaço
de pano hasteado num estandarte, com as cores e sinais de identificação do
batalhão ou companhia envolvida.
De acordo com seu tamanho ou uso, a bandeira tem uma palavra sinônima.
Estandarte é utilizado para insígnias militares, mais especificamente para identificar
os corpos de cavalaria. O Pendão é uma bandeira grande, armada em vara,
atravessada horizontalmente sobre o mastro e levada em procissões. O Gonfalão
é uma bandeira de guerra com partes que prendem perpendicularmente a uma
haste com três ou quatro pontas pendentes. Os Estandartes do Congado mesclam
elementos das bandeiras militares e religiosas e são utilizados para identificar o
terno que os conduz e para louvar os santos de sua devoção.
394
28. Referências Documentais:
Fotografias e entrevistas realizadas no quartel do terno Congo de Sainha
29. Informações Complementares:
O Estandarte é uma espécie de Bandeira e falar em Bandeira no congado é um
pouco complexo, pois possui pelo menos três significados. Bandeira pode se referir
à jornada, ao trajeto, à caminhada realizada nas campanhas e festas. Também
pode ser utilizado para se referir à bandeira em tecido no formato retangular de
aproximadamente 60 x 40 cm que trás estampado imagens dos santos, com um
cabo de madeira na extremidade superior por onde a bandeireira (virgem, menor
de 10 anos) segura. Esta pequena bandeira sempre acompanha o terno, abrindo-
lhe os caminhos, tanto em dias de campanha quanto no dia da festa. Bandeira
também pode referir-se ao estandarte em formato retangular de aproximadamente
1,5 m de altura por 1m de comprimento, sustentado por um mastro que o eleva à
aproximadamente 2,5m de altura donde pendem fitas cujas pontas as Bandeireiras
seguram enquanto dançam e que traz identificações do terno e homenagens aos
santos. Geralmente o estandarte e as Bandeireiras só saem em dia de festa. As
Bandeireiras ou Andorinhas são meninas que conduzem as fitas do estandarte
fazendo coreografias. “Antigamente” esta função só era desempenhada pelas
garotas virgens. Muitas mulheres relatam que se a menina não fosse virgem e
levasse a fita ou o mastro da bandeira, muitos acidentes poderiam acontecer. Nossa
Senhora do Rosário seria a responsável por denunciar a farsa. Adereços de cabelo
poderiam cair ou a roupa se rasgar, a própria bandeira poderia sofrer danificações,
como quebrar, rasgar. Desmaios e doenças também dificultariam a execução da
função. Caberia a menina se afastar quando não fosse mais “digna” de carregar a
bandeira do Congado. A execução desta função indevidamente poderia acarretar
problemas ainda maiores para os ternos, como esquecer música ou errar a “batida”.
Hoje, no entanto, esta tradição não é mantida pela maioria dos ternos.
30.Atualização das informações:NT
31. Ficha Técnica
Levantamento Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Larry Guimarães de O. Filho (Formatação, estagiário de arquitetura)
Larissa Gontijo T. Cunha (Formatação, estagiário de arquitetura)
Elaboração Data: Abril de 2007
Fabíola Benfica Marra (Historiadora)
Revisão Data: Abril de 2007
Anderson Henrique Ferreira (Historiador)
Gisele Pinto de Vasconcelos Costa (Arquiteta)
395
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS
01. Município: Uberlândia
02. Distrito: Sede
03. Acervo: Terno Congo de
Sainha
ytfrhfhfhg
INVENTÁRIO DE PROTEÇÃODO ACERVO CULTURAL
Minas Gerais-MG
04. Propriedade: Particular
05. Endereço: Rua Cel. Antônio Alves Pereira, 2475
- Saraiva
06. Responsável: Creuza Romão de Oliveira e
José Eustáquio
07. Designação: Oratório do terno Congo de Sainha
08. Localização Especifica: quando não está em época de campanha, fica no
quarto de Dona Creuza em cima de um criado, ao lado da cama
09. Espécie: Móvel religioso
10. Época: década de 1950
11. Autoria: Ignorada
12. Origem: Uberlândia
13. Procedência: Uberlândia
14. Material / Técnica: Madeira recortada, torneada, prego, cola, parafuso, esmalte
sintético marrom e branco, vidro texturizado em detalhes na fachada e nas laterais,
vidro liso encaixado na abertura, renda branca, flores de tecido, fita de cetim, imagens
de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Nossa Senhora Aparecida em gesso
presas com fitas de cetim, busto de anjo em gesso colado na fachada, sineta de
cobre, cetim cor-de-rosa recobre o interior, terços de contas de plástico, orações
impressa em santinhos e orações manuscritas.
15. Marcas / Inscrições / Legendas: NT
16. Descrição: Oratório em madeira recortada, torneada, colada, pregada e
parafusada. Coberta com esmalte sintético marrom e detalhes em esmalte sintético
branco no telhado que é composto por quatro partes: uma parte envergada presa
por três triângulos pregados e colados. Aberturas na madeira cobertos por vidro
texturizado formam “janelas” na lateral e na fachada. Um vidro liso é encaixado na
abertura, sendo retirado e colocado num vão existente na fachada. Tecido cetim
cor-de-rosa recobre o interior, próximo à “porta” renda branca, flores de tecido
preenchem o oratório, fitas de cetim azul e rosa estão colocadas presas nos pés
das imagens e se estendem saindo do oratório para serem beijadas pelos devotos.
SECRETARIA MUNICIPALDE CULTURA
396
18- Proteção Legal:
( ) Federal
( ) Estadual
( ) Municipal
( x ) Nenhuma
( ) Tombamento Isolado
( ) Tombamento em Conjunto
Fotos do Terno Congo de Sainha
Uberlândia/MG Ano 2007
19- Documentação fotográfica
17- Condições de segurança:
(x ) Boa
( ) Razoável
( ) Ruim
Obs:
Imagens de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Nossa Senhora Aparecidaem gesso presas com fitas de cetim, a imagem de Nossa Senhora do Rosário émaior e a de Nossa Senhora Aparecida a menor das três imagens. Um busto deanjo em gesso pigmentado colado na fachada com enfeites de flores de tecido elaço de fita amarelo. Uma sineta de cobre, terços de contas de plástico, oraçõesimpressa em santinhos e orações manuscritas são mantidas no interior do oratórioe compõem o ritual das novenas. Dona Creuza refere ter havido uma ligação elétrica,mas foi desativada.
20- Estado de Conservação:
( ) Excelente ( x ) Bom
(X ) Regular ( ) Péssimo
Obs:
21- Dimensões:
Altura: 50cm
Profundidade: 30cn
Largura: 35cm
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22. Análise do Estado de Conservação: Oratório em bom estado de conservação,sem sinais de desgaste por insetos ou rachaduras.23. Intervenções – Responsável / Data: NT24. Características Técnicas:.Oratório em madeira recortada, torneada, colada,pregada e parafusada. Coberta com esmalte sintético e detalhes também emesmalte sintético no telhado, que é composto por quatro partes: uma parte envergadapresa por três triângulos pregados e colados. Aberturas na madeira cobertos porvidro texturizado formam “janelas” na lateral e na fachada. Um vidro liso é encaixadona abertura, sendo retirado e colocado num vão existente na fachada. Tecido cetimrecobre o interior, renda próxima à “porta”. Flores de tecido preenchem o oratório,e fitas de cetim estão colocadas presas nos pés das imagens e se estendem saindodo oratório para serem beijadas pelos devotos. Imagens religiosas em gesso presascom fitas de cetim, cada uma delas com tamanhos diferentes. Um busto de anjo emgesso pigmentado colado na fachada com enfeites de flores de tecido e laço defita. Uma sineta de cobre, terços de contas de plástico, orações impressa emsantinhos e orações manuscritas são mantidas no interior do oratório e compõemo ritual das novenas.25. Características Estilísticas:Estilo popular (sem característica estilísticaespecífica).26. Características Iconográficas:Nos oratórios do Congado figuram as imagens e/ou os nomes de Nossa Senhorado Rosário, de São Benedito e em alguns casos outras imagens como a de SantaIfigênia, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, etc.Cada santo é associado a elementos distintos. Santa Efigênia ou Ifigênia, pelo queos congadeiros dizem é a dona da festa do Congado. Santa Ifigênia, segundoCâmara Cascudo é uma virgem mártir da Etiópia, devoção de negros e pessoasmenos favorecidas. A festa do Congado acontecia em louvor à Santa Ifigênia, asanta negra, mas os brancos não aceitaram e para que a festa se legitimasse elescriam a imagem de Nossa Senhora do Rosário. Segundo o Cláudio, filósofo,pesquisador do Congado e dançador do Terno de Camisa Verde, os negros pegamo rosário que é de Santa Ifigênia e colocam na imagem de Nossa Senhora doPerpétuo Socorro, criando assim a imagem de Nossa Senhora do Rosário.Segundo Seu Zezão, capitão do terno Congo de Santa Ifigênia, ele colocou em seuterno o nome de Santa Ifigênia porque as pessoas precisavam reconhecer que afesta é dela. Seu Zezão conta que deu muito trabalho para aceitarem o terno porquesomente os padres sabiam da “verdadeira história” de Santa Ifigênia, de NossaSenhora do Rosário e de São Benedito. Segundo ele, para haver união entre ospretos e os brancos Chico Rei comprou a coroa de Santa Ifigênia para coroar NossaSenhora do Rosário, comprando assim a sua benção.
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Como garantia da fidelidade de Nossa Senhora do Rosário colocaram um meninonos braços de São Benedito que não é Jesus, mas um menino branco do povo. SeNossa Senhora do Rosário algum dia trair os negros, São Benedito deve cortar opescoço do menino.De acordo com seu Zezão, São Benedito está sempre ao lado de Nossa Senhorado Rosário como um soldado, um general. Esta surpreendente narrativa de SeuZezão introduz a história de Chico Rei e trata de uma negociação entre os santos.Mas, o que mais chama atenção é a mudança do papel de São Benedito. Este, tidocomo mártir sempre foi referido como uma figura bondosa e que multiplicava osalimentos, uma espécie de Cristo negro. Agora São Benedito é tomado como ummilitar frio, capaz de decapitar um bebê branco em nome da proteção dos negros.Não ouvi de mais ninguém a confirmação desta versão mitológica. Quando seconversa com seu Zezão percebe-se claramente a existência de uma disputa pelocapital simbólico. Em meio às críticas aos pesquisadores e aos trabalhos existentessobre o congado ele questiona a “ciência” dos “verdadeiros” “fundamentos” de suaprática ritual tanto pelos pesquisadores como pelos capitães dos outros ternos.Insinuando ser ele um dos poucos detentores dos conhecimentos tidos como“fundamentos” do Congado. Diversas outras pessoas tomam este comportamentocomo prática. Fazer o Congado sem “fundamento” seria um ultraje. O convívio nosquartéis envolve aprendizado constante e um “verdadeiro” capitão precisa passarpor esta escola e aprender todas as lições antes de ousar montar o seu próprioterno.O lendário Chico Rei, que é o criador da Irmandade do Rosário em Minas Gerais,era rei em Moçambique, mas na perda de uma batalha fora apreendido e vendidocomo escravo, trazido para o Brasil. Os escravos trazidos de Moçambique eram osconhecedores das técnicas de mineração, “farejavam as minas”, como diziam osinvasores europeus. Chico Rei, após enriquecer seu senhor e demonstrar ser umgrande conhecedor do processo de mineração conseguiu comprar com ouro aalforria de familiares e amigos, e construir uma capela em homenagem à SantaIfigênia em Vila Rica (Ouro Preto). Após descobrir algumas minas Chico Rei disseque não trabalharia mais se o seu senhor não trouxesse para junto de si seu filho eparentes que estavam distantes, vendidos para outros senhores de escravos. Maistarde conseguiu comprar a alforria de diversos outros escravos. Segundo CâmaraCascudo “No dia de Reis, em Vila Rica, as negras do cortejo de Chico Rei vinhamcom as carapinhas polvilhadas de ouro lavá-las e deixar o ouro numa pia de pedraexistente no Alto da Cruz, onde havia uma imagem de Santa Ifigênia. O ouro serviapara a libertação de outros escravos.” (1972, p.449). O Rei “Moçambiqueiro” queno Brasil passa a ser chamado de Chico Rei recria aqui o seu reino, supera acondição de escravo e constrói uma das bases do movimento negro. Muitos negrosse mantinham escravos e cooperavam no movimento liderado por Chico Rei paraa libertação de seu povo.
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Os negros então alforriados passam a viver nos centros urbanos nascentes e/ou se
deslocam com as expedições desempenhando funções de carpinteiro, pedreiro,
ferreiro (serralheiro), barbeiro, quituteiras, vendedores e outras profissões tidas hoje
como “liberais”. Observem que nesta narrativa, o negro se retira do sistema de
escravidão utilizando a linguagem que está nas bases do sistema capitalista. Ocorre
um rompimento com a escravidão, mas não com sua lógica, pois há uma busca
pela inserção do negro no sistema capitalista decorrente desta. Nos movimentos
quilombolas, onde este sujeito excluído busca uma nova forma de associação e de
socialização fora da sociedade opressora, ocorre uma quebra com os padrões
antes impostos. Mas os negros quilombolas precisavam permanecer em estado
de vigília por causa das constantes investidas das expedições contra suas
comunidades. Mas esta é uma outra história.
Voltando aos mitos do Congado, a principal referencia ao São Benedito é em
relação à alimentação, ele provém o sustento das famílias, dá força. São Benedito
está mais ligado à saúde, à manutenção da vida material, é um mártir negro e santo
mesmo em vida, uma espécie de Cristo Negro. Um dos mitos de São Benedito me
foi contado por seu Charqueada, um dos congadeiros vivo mais antigo de
Uberlândia, ancião do terno Moçambique Pena Branca. Conta seu Charqueada,
que certa feita, o senhor dono da fazenda onde o Benedito era cozinheiro mandou
que ele preparasse uma refeição para seus muitos escravos, mas não lhe deu a
provisão suficiente para tanto. Na despensa não havia banha e o arroz e o feijão
eram pouco. O Benedito então pede o auxílio divino e logo obtém resposta do Todo
Poderoso que lhe diz para ir até o chiqueiro e retirar um naco com toucinho e carne
de um dos porcos, que fosse desde a cabeça até o rabo do porco e então preparar
a comida. E assim o Benedito fez. Milagrosamente, a carne do porco que fora
retirada se reconstituiu na mesma hora, permanecendo o porco vivo. Todos os
escravos se alimentaram até saciar a fome e depois de banquetear tocaram e
dançaram em agradecimento ao São Benedito. O patrão, vendo tamanha festança,
foi ter com o Benedito e inquiriu dele como foi que conseguira arranjar tanto alimento.
O Benedito então lhe relatou como conseguira a banha e o toucinho. O patrão não
acreditando no milagre ameaçou castigar o Benedito, mas quando foi golpeá-lo o
São Benedito levita e fica suspenso no ar... Este mito traz o Benedito enquanto
“multiplicador dos alimentos”, realizador de “milagres” extraordinários, figura louvada
pelos seus. Esta narrativa é compartilhada pela maioria dos congadeiros, sendo
que São Benedito é considerado o santo da cozinha, da alimentação, do sustento,
da fartura, por isso sua imagem geralmente é colocada na cozinha, para que na
casa não falte o alimento.
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É prática em várias partes do território nacional, colocar café para o São Benedito,
é comum ver sua imagem próxima a uma xícara de café. Outro ritual realizado
popularmente é tomar o café do Benedito, que é um café amargo destituído de
qualquer forma de adoçantes, bebido em pequenos goles pelos congadeiros e
participantes de celebrações, festas, etc. O café do Benedito é tomado como uma
bebida capaz de proteger a quem a ingere.
Nossa Senhora do Rosário está sempre relacionada à chuva, às riquezas, à
proteção, à geração da vida e também à morte. Recorrem a Nossa Senhora para
pedir um bom parto e também uma “boa morte”, a ela intercedem a favor dos entes
queridos que já partiram. Em todas as festas que presenciei houve homenagens a
congadeiros falecidos no período entre festas. Nossa Senhora está vinculada à
vida e à morte, ao rezar a última estrofe da “Ave Maria”, isto fica explicito: “Santa
Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte.
Amém.” Durante o Congado intercedem à Nossa Senhora do Rosário pela vida e
pela proteção na inevitável hora da morte. Pedem saúde para os seus, proteção
em todos os momentos, recorrem a ela como à Grande Mãe. O culto às deusas
mães foi muito combatido pelo judaísmo, islamismo e demais religiões patriarcais,
mas encontra solo fértil nas tradições afro-descendentes e católicas. Uma música
muito difundida tanto no Congado como na Capoeira e na religiosidade ressalta o
aspecto protetor de Nossa Senhora:
“No tempo do cativeiro, quando o senhor me batia,
eu gritava por Nossa Senhora, ai meu Deus, quando a pancada doía.”
O mito fundante do Congado em Uberlândia é um relato da aparição e resgate de
Nossa Senhora do Rosário e possui pelo menos duas versões aqui sintetizadas:
a) Nossa Senhora do Rosário estava dentro do mar, um garoto a vê submergir,
chama os pais para verem, eles não acreditam. Então ele chama os Marinheiros,
que também presenciam a santa submergir, eles tentam tirá-la com suas cordas,
mas ela não sai do local. Chegam brancos e padres que conseguem retira-la da
água e levá-la para uma capela, mas a santa “foge” do altar e volta para o mar. Vem
então o terno de Congo, todo colorido e canta para ela sair da água, ela submerge,
mas ao ser levada para a capela dos brancos, volta a “fugir” para o mar. Então um
terno de Moçambique, todo vestido de branco e descalço, canta para ela, que então
submerge e lhes acompanha, eles a levam devagar até o local onde constroem
uma capela e ali Nossa Senhora do Rosário permanece, o terno de Moçambique
então se retira sem lhe dar as costas, lhe fazendo reverência;