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20 DE NOVEMBRO DE 2013 • ANO XXIII • N.º 265 • MENSAL GRATUITO DIRETORA MARIA EDUARDA ELOY • DIRETORA ADJUNTA DIANA CRAVEIRO JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA acabra @ Mais informações em acabra.net Estudantes elegem órgãos gerentes para o ano de 2014 A percentagem de falantes da língua portuguesa em Macau é inferior a um por cento, o que resulta da falta de incentivos à aprendizagem da língua durante o período de administração por- tuguesa. O domínio do português encontra-se reduzido aos descen- dentes de portugueses e às clas- ses sociais mais altas. Contudo, o interesse pela língua portuguesa aumenta na República Popular da China, onde o número de cur- sos de português tem crescido. Os meios de comunicação lusófo- nos desempenham um papel sig- nificativo, devido à sua utilização nas escolas como instrumento de ensino do português. Português passa a segunda língua MACAU PUBLICIDADE O ator António Fonseca transpor- tou o clássico de Camões para a contemporaneidade e trouxe-o às tascas de Coimbra. Agora, o es- petáculo vai passar a maratona, numa sessão que reúne, não só o mentor do projeto, mas também os voluntários que vão declamar os X cantos do poema ao longo de 14 horas, na Oficina Municipal do Teatro, nos dias 23 e 30 de no- vembro. O ator garante que não é preciso saber o texto de cor, basta sabê-lo por de(coração). Teatro de corpo e alma “OS LUSÍADAS” ESPECIAL ELEIÇÕES AAC PATRIMÓNIO DE RISCO Repúblicas procuram sobreviver à degradação e à nova lei do arrendamento PÁG. 9 PÁG. 16 PÁG. 11 RAFAELA CARVALHO RAFAELA CARVALHO PRÉMIOS FADU Rugby Sevens nomeado em três categorias PÁG. 12 PÁG. 2 A 7

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Edição nº265 do Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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20 DE NOVEMBRO DE 2013 • ANO XXIII • N.º 265 • MENSAL GRATUITODIRETORA MARIA EDUARDA ELOY • DIRETORA ADJUNTA DIANA CRAVEIRO

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabra

@Mais informações em acabra.net

Estudantes elegem órgãos gerentes para o ano de 2014

A percentagem de falantes da língua portuguesa em Macau é inferior a um por cento, o que resulta da falta de incentivos à aprendizagem da língua durante o período de administração por-tuguesa. O domínio do português encontra-se reduzido aos descen-dentes de portugueses e às clas-ses sociais mais altas. Contudo, o interesse pela língua portuguesa aumenta na República Popular da China, onde o número de cur-sos de português tem crescido. Os meios de comunicação lusófo-nos desempenham um papel sig-nificativo, devido à sua utilização nas escolas como instrumento de ensino do português.

Português passa a segunda língua

MACAU

PUBLICIDADE

O ator António Fonseca transpor-tou o clássico de Camões para a contemporaneidade e trouxe-o às tascas de Coimbra. Agora, o es-petáculo vai passar a maratona, numa sessão que reúne, não só o mentor do projeto, mas também os voluntários que vão declamar os X cantos do poema ao longo de 14 horas, na Oficina Municipal do Teatro, nos dias 23 e 30 de no-vembro. O ator garante que não é preciso saber o texto de cor, basta sabê-lo por de(coração).

Teatro de corpo e alma

“OS LUSÍADAS”

ESPECIAL ELEIÇÕES AAC

PATRIMÓNIO DE RISCORepúblicas procuram sobreviver à degradação e à nova lei do arrendamentoPÁG. 9 PÁG. 16

PÁG. 11

RAFAELA CARVALHO

RAFAELA CARVALHO

PRÉMIOS FADU

Rugby Sevens nomeado em três categoriasPÁG. 12

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2 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

DESTAQUEEditorial

A extensão dos cortes que vão atingir os Serviços de Ação Social da Univer-sidade de Coimbra (SASUC) no próximo ano civil ainda não é exata, mas já permite antever que o futuro trará mais medidas de contenção de despesas, que vão afetar os estudantes direta ou indiretamente. Aliado ao desinvesti-mento na Ação Social, surge também a diminuição do financiamento para o Ensino Superior e para a investigação científica. Da primeira à última linha deste jornal, a crise económica atravessa quase todas as páginas, praticamen-te sem exceção, com contornos mais ou menos claros.

Neste contexto de carência, com cada vez mais estudantes a desistir de es-tudar, seja no Ensino Secundário ou no Ensino Superior, famílias passam por dificuldades. Por mais que os representantes políticos repitam que a crise já foi ultrapassada, as incertezas quanto ao futuro são comuns a todas as gera-ções. Neste mesmo contexto de crise, é cruel perceber que as esferas políticas, partindo da base das juventudes partidárias, em particular, as patrocinadoras de candidaturas à Academia mais antiga do país geram uma cultura de elite.

Até à próxima segunda-feira já terão sido movimentados mais de dez mil

euros para a campanha eleitoral dos corpos gerentes da Direção-Geral da As-sociação Académica de Coimbra. Dentro das listas há estudantes que inves-tem centenas de euros para garantir um lugar como dirigentes associativos, caso sejam eleitos. As desigualdades tornam-se óbvias e saem reforçadas pela atitude de máquina engrenada que os candidatos que prometem lutar por um Ensino Superior mais justo adotam, apenas para terem a oportunidade de se distinguir dos adversários.

Cada um que julgue por si.

2. O Governo admitiu retirar do Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a norma que permite o indeferimento automático de pedidos de bolsa a estudantes que, mesmo carenciados, tenham familiares com dívidas à Se-gurança Social e/ou Finanças no agregado familiar. Mas a informação é um doce envenenado porque não leva em conta todos os que já ficaram para trás e, apesar de ser uma pequena vitória, chega tarde e com sabor amargo.

A Direção

Até à próxima segunda-feira já terão sido movimentados mais de dez mil euros para a campanha eleitoral dos corpos gerentes da Direção-Geral da Associação Académica de

Coimbra. Dentro das listas há estudantes que in-vestem centenas de euros para garantir um lugar como dirigentes associativos

dEsgastE pré-ElEitoral

DiretoraMaria Eduarda Eloy

Diretora-AdjuntaDiana Craveiro

Diretora de Arte Rafaela Carvalho

Equipa Redatorial Carla Sofia Maia, Daniela Gonçalves, Eduardo Carvalho, Ian Ezerin, João Martins, Luís Grilo, Pedro Martins, Teresa Borges

IlustraçãoWanda Dias

Publicidade Diana Craveiro - 239828096

Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: [email protected]

Paginação Catarina Carvalho

Colaborou nesta ediçãoCarolina Carvalhais, Luís Saraiva, Maria Inês Morgado, Mariana Ribeiro, Miguel Malato, Daniela Proença

Colaboradores permanentesJoão Gaspar, José Neves, Pedro Martins, Pedro Treno, Rita Leonor Barqueiro, Rui Craveirinha, Samuel Ferreira, Vasco Batista

FotografiaAna Filipa Silva, Andreia Silva, Daniela Gonçalves, Catarina Carvalho

Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Ana Duarte, Catarina Gomes, Paulo Bastos

Tiragem 4000 exemplares

Ficha Técnica

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRADepósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759Propriedade Associação Académica de Coimbra

Nos próximos dias 25 e 26 de novembro os estu-dantes da Universidade

de Coimbra (UC) voltam, mais uma vez, a escolher os represen-tantes dos órgãos gerentes da As-sociação Académica de Coimbra (AAC): a Direção-Geral (DG), o Conselho Fiscal (CF) e a Assem-bleia Magna (AM). Depois de, no último ano, o actual presidente da DG/AAC ter renovado o seu mandato numas eleições pou-co disputadas, em que Ricardo Morgado venceu com mais de 60 por cento dos votos na primeira volta, a academia volta a fervi-lhar. Samuel Vilela, doutorando

na Faculdade de Economia da UC (FEUC), encabeça a lista A, sob o mote “+ Academia – Descobre Coimbra”. Da Faculdade de Ciên-cias e Tecnologia surge Carolina Rocha, com a lista E, “Exalta a Academia”. Alexandra Correia, também da FEUC, representa a lista R, “Reset à AAC” e, por fim, Bruno Matias, da Faculdade de Direito, com a lista T - “Tu tens académica!”.

O período de campanha eleito-ral está a decorrer desde dia 16 e termina no próximo domingo, 24. Também nesse dia vai ser obrigatória a entrega de um Re-latório de Contas que discrimina

os valores que são gastos na pro-moção eleitoral e onde foram an-gariados. A iniciativa foi proposta em AM, por Alexandra Correia, numa tentativa “de tornar a cam-panha um bocado mais transpa-rente do que tem sido” nos últi-mos anos.

Para a estudante, a apresenta-ção das contas não vai represen-tar qualquer problema. Para a sua campanha, a lista R e as res-tantes contam com 400 euros em impressões na papelaria da AAC, um plafond fixado pela Comissão Eleitoral. No entanto, Alexandra Correia considera que o valor é baixo para ajudar na partilha

As quatro listas candidatas disputam as eleições para a DG/AAC na próxima semana, nos dias 25 e 26 de novembro. As desigualdades no financiamento das campanhas são um dos focos de maior discussão. Bandeiras eleitorais dividem-se entre a atual situação financeira e económica da AAC e os problemas mais gravosos que os estudantes en-frentam no ES. Comissão eleitoral fixou o plafond da campanha nos 400 euros, mas os gastos vão ultrapassar os dez mil euros no total. Por Diana Craveiro

Eleições para a AAC agitam a academia

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DESTAQUE

ARQUIVO

@ Noite eleitoral em acabra.net

@Entrevistas na íntegra em acabra.net

da informação dos projectos. Por isso mesmo, a candidata diz que, para angariar mais dinhei-ro, costumam fazer uma recolha junto dos colaboradores, “em que cada pessoa dá o que pode”. Além disso, a estudante conta que já fez animação de rua na Baixa de Coimbra, numa iniciativa em que conseguiu juntar cerca de 70 eu-ros. Até ao momento, a lista con-ta “com um fundo de maneio de cerca de 150 euros a mais” e ten-ciona ainda fazer uma festa para tentar ter algum lucro. Na mesma situação está a a lista E, de Ca-rolina Rocha, que conta apenas com o valor do plafond “que não chega para dar um flyer a cada estudante”. A estudante diz que o projecto “vai tentar arranjar estratégias de campanha menos dispendiosas” para que consigam movimentar-se com o dinheiro que têm.

Apesar do plafond fixado pela Comissão Eleitoral, nem todas as listas partem para a campa-nha com o mesmo valor. Juntas, a lista A e T movimentam mais de dez mil euros. Ainda assim, o candidato da lista A, Samuel Vilela, considera que o financia-mento para a campanha “está a ser difícil”, porque “é mais com-plicado para as pessoas consegui-

rem pagar de uma vez”. Através de uma coleta entre os elementos que vão compôr a lista, o estu-dante explica que se estabelece-ram patamares de contribuição internamente. Neste sentido, “um coordenador de pelouro pa-gará 75 euros”, “um secretário de Magna 40”, “o tesoureiro 75 e os vice-presidentes 250”. A fatia mais alta cabe ao presidente e, neste caso, Samuel Vilela já con-tribuiu “com mais de 400 euros”. O estudante diz que a contribui-ção “sempre funcionou assim” e considera que “há um mito muito grande quanto aos financiamen-tos partidários” para a campanha eleitoral. Um dos gastos que tem gerado mais confusão é o valor do outdoor colocado à entrada do recinto da Festa das Latas, que Vilela garante que foi de “240 eu-ros porque a estrutura já lá estava das Autárquicas”.

Também Bruno Matias, da lista T, conta que há valores de paga-mento estipulados internamente. O candidato já gastou cerca de “400 euros”, o mesmo valor do seu outdoor que foi colocado ao lado do de Samuel Vilela duran-te a Latada, mas pensa que pode ter que vir a “desembolsar mais”. Ao todo, o seu projecto deve gas-tar para estas eleições cerca de

“cinco a seis mil euros”, um valor semelhante ao de Samuel Vilela.

Apesar de haver colaboradores que não podem dispender de va-lores tão elevados, ou que optam por pagar por vezes, Samuel Vile-la revela que, tendo em conta que as eleições para a DG/AAC são próximas do natal, “muita gen-te consegue antecipar algumas prendas”. Por isso, “normalmen-te costuma-se deixar as pessoas ir a casa no fim-de-semana anterior para explicar a situação e traze-rem pelo menos uma parte do dinheiro”. O estudante comenta a dimensão da campanha eleitoral e garante que “quem não conse-guir cumprir com esta dimensão acaba por ficar em desvantagem”.

Quanto à necessidade de tra-balhar com valores tão elevados, os dirigente garantem que esta é a única maneira de se chegar a todos os estudantes. Bruno Ma-tias diz que, mesmo assim, está a tentar “fazer uma campanha mais barata do que o que tem sido nos últimos anos”, através de iniciativas diferentes “como os graffittis”: “com pouco dinheiro podemos fazer uma campanha de interatividade, comunicação e mobilização”.

O presidente da Comissão Elei-toral, e atual Administrador da

DG/AAC, Rui Brandão, confessa que o controlo dos gastos é com-plicado. “Lembro-me de uma proposta para que o plafond fos-se o único meio para fazer cam-panha”, conta. No entanto, esta é uma questão “impossível de controlar”, já que não há como saber “qual a origem do papel” dos flyers que estariam a ser dis-tribuídos. Enquanto administra-dor, Brandão diz que contribuiu com “cerca de 200 euros”, e lem-bra os restantes gastos eleitorais que teve em anos anteriores: “em 2009 dei 10 euros e era coorde-nador, em 2012 fui super coorde-nador e dei entre 50 a 100 euros”.

O atual presidente da DG/AAC considera que “não estamos em altura de gastar muito dinhei-ro”, mas admite que o valor do plafond é baixo. Para as suas eleições foram também diferen-ciados os valores por colabora-dor, em que os vice-presidentes contribuíram com 300 euros, e em que ele próprio, no primei-ro mandato, deu “muito mais de 400 euros”, embora não queira precisar o valor. Para o dirigen-te, o gasto destes valores é “uma inevitabilidade” porque “ou au-mentaríamos os plafonds de uma forma que não ia ser justa para a AAC”, ou limitavam o número de

flyers e canetas, “e isso também é contra a democracia”. Também Samuel Vilela se mostra crítico do modo de funcionamento do financiamento eleitoral, mas de-fende que “só vencendo com as regras do sistema é que se pode mudar o sistema”.

CF/AAC com seis listasAlém das quatro listas que con-correm à DG/AAC, o CF/ACC conta com mais dois projetos. A lista D, “Descobre Mais” e a lista M, “Mais Academia”. O processo de apresentação de listas decor-reu com alguns problemas. Se-gundo Rui Brandão, ao todo hou-ve 14 apresentações de projectos e foram excluídos oito devido à ausência de subscritores. Quanto ao número de listas total a tentar apresentar candidatura ao CF, o estudante lembra que “a comis-são é composta por dois delega-dos de cada lista”, pelo que não sabe “até que ponto isto não será uma vontade de ter mais peso e representatividade”.

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DESTAQUE

“A AAC não se consegue mobilizar”LISTA A • SAMUEL VILELA • ” + ACADEMIA - DESCOBRE COIMBRA”

Samuel Vilela é o rosto da lis-ta A - “+ Academia – Descobre Coimbra”. O estudante de dou-toramento na FEUC já foi pre-sidente do Núcleo de Relações Internacionais, coordenador geral da Política Educativa, em 2011, e vice-presidente da DG/AAC em 2012

Como é que surgiu a tua candi-datura à DG/AAC?Pela experiência que tive enquanto vice-presidente da AAC tomei uma visão global de como é que funcio-na a associação. Refleti muito sobre aquilo que era preciso corrigir, so-bre algumas anomalias e disfun-ções que julgo que existem. Que tipo de anomalias?Todos os anos se defende que a AAC não deve ser uma federação, mas neste momento isto parece uma federação não formal em que existe, dentro da estrutura, muito descrédito e desconfiança entre as várias entidades e organismos que a compõem. Acho que a DG/AAC tem de ser um elemento aglutina-dor e ser também, em muitos casos, um elemento dinamizador e poten-ciador daquilo que existe. Não falo só a nível de secções, mas também a nível de núcleos de estudantes e de outros organismos que compõe ou interagem com a AAC. Porque é que existe esse des-crédito?Em muito por culpa da DG. Julgo

que muitas vezes quando a direção--geral falha a capacidade de respos-ta, é natural que do outro lado tam-bém se gere alguma desconfiança. E também, em muitos casos, o acumular de dívida internamente. Apesar de também haver organis-mos dentro da estrutura que devem à DG/AAC. Quais são as principais ban-deiras da tua lista?Estou focado em três coisas que são bastante relevantes. Uma de-las atua sobre o funcionamento administrativo da associação, que me parece que tem de continuar com um processo de reestrutu-ração, porque acaba por ser vital para toda a estrutura. Depois, num segundo nível, parece-me que é bastante relevante que haja uma envolvência diferente da AAC com os estudantes. Todos os anos se diz que é preciso aproximar a acade-mia dos estudantes, mas recuso um bocado esse termo porque a acade-mia são os estudantes. Parece-me é que é preciso encontrar formas de tornar a AAC útil ao dia a dia dos estudantes. É preciso inter-vir, ter uma melhor capacidade de resposta, em áreas como as ques-tões profissionais e pedagógicas, a ação social e os planos de mobi-lidade internacional. Porque são coisas que mexem com o período de tempo em que as pessoas estão a estudar. Num terceiro patamar, é preciso que a AAC volte a ganhar relevância politicamente. E este é um momento complicado em que inclusive se está a discutir um novo

regime jurídico para o Ensino Su-perior (ES), em que se pode abrir uma discussão sobre a reestrutura-ção da rede nacional de ES. Temos de estar preparados para ter um papel mais ativo. Dentro da reforma adminis-trativa, o que pensas mudar?A reforma administrativa irá me-xer não só com a administração da DG, mas com as relações que existem com as secções e com os núcleos. É fundamental que conti-nue com um processo de reestru-ração da administração no sentido de diminuir despesa fixa mensal. Continua a ser cada vez mais rele-vante diversificar o mais possível fontes de financiamento. Se a AAC consegue ter um valor económico para um banco, para uma empresa de telecomunicações e para uma cervejeira, também conseguirá ter para outras entidades e quanto mais conseguir diversificar fontes de financiamento, melhor. Dentro dessa diversificação, algo tem de ser prioritário: conseguir uma dis-tribuição percentual por afetação aos Conselhos Cultural, Desportivo e Inter-núcleos, dos contratos de exclusividade assinados, porque se se está a vincular toda a estrutura e a condicionar as possibilidades de encontrar financiamento para as secções e os núcleos, tem que haver também uma compensação acessó-ria. Parece-me que neste momento, as Secções Culturais e os Núcleos estão a ficar para trás em relação ao desporto porque não beneficiam de muitos dos contratos que a AAC

tem assinado.

Disseste que a AAC tem vindo a perder relevância política. Porquê? Não se tem conseguido manter uma estratégia de mobilização constan-te. Sempre teve um grande poder de mobilização, mas neste momento, talvez por falhar a informação e a comunicação, a AAC não se conse-gue mobilizar. Se os estudantes que representamos não tiverem a cons-ciência total das implicações de al-gumas questões que vão ocorrer ao nível de financiamento do ES, do aumento do desemprego jovem, de várias coisas, não se vão mobilizar. A AAC, a direção-geral e os Núcleos de estudantes precisam de compre-ender que as pessoas são cada vez mais conformistas e não vai ser por livre e espontânea vontade que vão abandonar essa zona de conforto. Terá de ser a associação académica a levar a informação às pessoas, a pensar de forma criativa, de como é que deve comunicar na realidade em que nos encontramos. O que pensam fazer em rela-ção ao estado das contas da AAC?Além de diminuir as despesas, a AAC tem de ser alvo de uma audi-toria. Ao longo dos últimos anos há procedimentos que foram errada-mente tomados. Uma auditoria iria ajudar-nos a perceber que formas de trabalho podemos ter ou ver, também, algumas coisas erradas que estamos a fazer. Deveria ser uma auditoria em regime misto,

em que a equipa seria integrada por elementos com maior conheci-mento do que é feito na associação académica, porque é uma associa-ção que tem muitas especificida-des. Para uma empresa que venha auditá-la há muita coisa que pode-mos ter como relevante e que para eles pode ser tido como irrelevante e como despesismo. A Festa das Latas deu prejuízo pelo segundo ano consecutivo. O modelo de funcionamento atualmente em vigor deve ser alterado?A Festa das Latas tem de ser repen-sada a sério. Primeiro a nível de cartaz, perceber se há impacto em trazer uma banda internacional. Pelas contas que já tive oportunida-de de fazer, acho que não. Para a di-mensão de festa que é pode ser feita com boas bandas portuguesas, que cobram valores muito mais baixos, em vez de trazer bandas de mais de cem mil euros. Por mais gente que entre no parque, é difícil conseguir fazer valer uma noite dessas. Mes-mo na relação com as concessões. O relevante é que haja uma banda que apele ao consumo de cerveja, como Xutos e Pontapés. Nem sem-pre o cartaz ser apelativo quer dizer que é mais apelativo para a nego-ciação dos valores contratuais com as concessões. Acho também que o parque precisa de ter uma dimen-são mais reduzida e que é neces-sário dar um papel mais relevante aos Núcleos de estudantes dentro da Comissão Organizadora porque esta é uma festa de proximidade.

Diana Craveiro

RAFAELA CARVALHO

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DESTAQUE

“Todos temos direito à educação”LISTA E • CAROLINA ROCHA • ”EXALTA A ACADEMIA”

A Lista E – “Exalta a Acade-mia” é encabeçada por Caro-lina Rocha. A aluna do segun-do ano de Biologia acredita na união dos estudantes e defen-de que estes devem ter uma voz cada vez mais importante no meio universitário

Como é que surgiu a tua can-didatura à DG/AAC?O ‘Exalta a Academia’ é um projeto que está ao pé dos estudantes na luta pelos seus direitos e em torno dos problemas que sentem. Temos feito um trabalho mais específico por faculdade. Por exemplo, sa-bemos que no Polo II há falta de funcionários e de transportes. Os alunos andam sempre entre o Polo I e II sem ter linhas de autocarro para se movimentar com agilida-de e sem conseguir ir as aulas. Na FDUC, por exemplo, há falta de lugares para as pessoas assistirem às aulas, o que é algo impensável porque os estudantes estão inscri-tos num curso e não há capacidade num edifício para suportar a quan-tidade de pessoas que quer assistir às aulas. Todas as faculdades têm os seus problemas específicos e te-mos que tentar mostrar que todos estamos lá. Não vamos ficar cala-dos e no nosso sítio. Quais são as principais ban-deiras do vosso projeto?Defendemos a educação pública, gratuita e de qualidade para todos. A educação é o elemento básico

para a formação do indivíduo, para a sua progressão e crescimento. Neste sentido, defendemos que o financiamento por parte do estado para a educação tem que existir. Aqui surge a questão das propinas, que são um muro e um entrave grave ao acesso ao Ensino Supe-rior. Vamos fazer uma pressão cla-ra contra as propinas e tudo o que for possível para que sejam aboli-das. Em relação à Ação Social Es-colar, vamos exigir financiamento para que possa ter o papel que deve ter de possibilitar a cada es-tudante o acesso e permanência no ES. As bolsas têm que ser atribuí-das, não podem chegar tarde por-que, até chegarem, há estudantes que abandonam o ensino porque não conseguiram pagar a primeira prestação de propinas e no fim do ano informam que a bolsa não vai chegar. Queremos também exaltar os valores da AAC, do associativis-mo estudantil, da democracia e da participação democrática. Efetivar o debate entre a DG/AAC e os es-tudantes, porque esta academia é feita por todos nós, não por meia dúzia de pessoas que foram eleitas democraticamente e que são ape-nas os representantes. Terá que ser criado um diálogo, porque é importante que haja espaço para discutir os problemas que existem para que todos possam decidir que rumo tomar para lutar contra es-tas políticas que estão a impedir a nossa educação e formação en-quanto indivíduos. Quanto às propinas, como é

que se consegue uma redução do seu valor tendo em conta os sucessivos cortes de finan-ciamento?Interessa-nos a redução e erradi-cação das propinas. Isto é possível taxando grandes grupos económi-cos e o offshore da Madeira. Foi também feito um estudo que diz que os 80 milhões de euros que foram usados para resgatar o BPN bastariam para pagar 26 anos de propinas dos estudantes. Esta-mos a resgatar um banco privado e não estamos a pôr esse dinheiro ao serviço da sociedade. A educa-ção é um direito. O governo tem que arranjar estratégias. Tem que estar ciente de que é preciso haver financiamento para a educação. Todos temos direito à educação e isso não está a ser aplicado no nos-so país. Esse tipo de medidas que apresentas só têm efeito se houver uma concertação a nível nacional. Qual é que é o vosso plano?Qualquer manifestação tem a sua importância, quer sejam peque-nas ou grandes lutas. Neste caso estamos perante um problema que afeta todo o país. Os cortes que são sentidos aqui, são senti-dos em todo o lado. Vamos exigir que haja financiamento para o Ensino Superior público porque a igualdade de oportunidades tem de existir. Ela está consagrada na Constituição. Todas as lutas são uma construção na mudança da situação. Todas são importantes

e todas serão um passo em frente, para o qual é importante mobili-zar. Estamos a juntar as pessoas em torno de um objetivo que é co-mum a toda a gente: o de ser capaz de estudar. As universidades deveriam procurar outras fontes de fi-nanciamento?Não e todos acreditamos nisso porque o ensino público é finan-ciado pelo Estado. Todos descon-tamos impostos para que haja educação. Esse dinheiro tem que ser aplicado. É um dever que exis-te e uma garantia que deve existir. Se começamos a procurar doado-res e a tentar obter donativos aqui e ali, começamos a caminhar para uma privatização do ensino, logo, para um conflito de interesses. Quem sabe se um dia as faculda-des, por não terem financiamento, deixarão de ser estatais. Se passa a haver financiamento a partir do exterior, as pessoas começam a ter algum poder nas universidades porque são elas que fornecem o di-nheiro. Como vês a importância do papel dos estudantes na aca-demia e nos órgãos universi-tários?Esta casa é constituída por estu-dantes. É importante que haja uma total aproximação entre a DG que será eleita e o resto da comu-nidade estudantil. Todos quere-mos o mesmo e estamos a fazer a mesma coisa no mesmo patamar. Por isso, qualquer estudante deve

sentir-se à vontade para comu-nicar com os órgãos gerentes. É necessário que haja um debate por toda a universidade, quer em relação às faculdades quer em re-lação à AAC. Gostava de mostrar o associativismo e a democracia do movimento estudantil, que sem-pre foi muito importante para lan-çar medidas e decidir o futuro da nossa universidade. Essa proximidade não tem existido?Tem-se sentido que os estudantes já não estão próximos desta casa. Acho que isso é algo que pode ser invertido. Se formos eleitos, so-mos todos estudantes e sozinhos não fazemos nada, porque somos apenas meia dúzia de pessoas. Precisamos de toda a gente. Todos são necessários para decidir o que podemos fazer realmente e para atuarmos em conjunto. Defendem a criação de espa-ços independentes das sec-ções culturais e desportivas. Em que consistem?A cultura é uma coisa muito im-portante. Não é necessário que uma pessoa esteja associada a uma Secção Cultural ou Desporti-va para fazer cultura ou desporto. É importante criar mais espaços onde as pessoas que decidam ter alguma atividade cultural possam chegar à AAC e pedir um lugar. Isto tanto pode ser uma sala como pode ser o próprio jardim da asso-ciação, que não tem atividade ne-nhuma, tem apenas um bar.

Diana Craveiro

RAFAELA CARVALHO

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DESTAQUE

“Há uma casta política dentro da AAC”LISTA R • ALEXANDRA CORREIA • ”RESET À AAC”

“Reset à AAC” é o mote da lista R liderada por Alexandra Cor-reia, da FEUC. A estudante, que fez parte do Núcleo de Sociolo-gia, considera que a AAC deve ter mais transparência e estar mais aberta à comunidade es-tudantil

Quais são principais bandeiras da vossa lista enquanto candi-data à DG/AAC?Vamos falar muito da questão que achamos que está na cabeça de todos os jovens em Portugal que é a ques-tão do nosso futuro, daquilo que nos apresentam como hipóteses. Por um lado, antes o Ensino Superior dava--nos alguma garantia de futuro mais ou menos estável. Hoje, no espaço de quatro ou cinco anos, isso alterou-se profundamente. Neste momento temos 42 por cento de desemprego jovem, 10 mil pessoas a emigrar por mês, pessoas licenciadas a receber menos de 400 euros por mês. Há pessoas a fazer investigação até aos 30, 35 anos sem direitos nenhuns, sem descontar para a Segurança Social, sem poder ter licença de ma-ternidade, sem ter acesso ao subsí-dio de desemprego. Aquilo que está posto para nós não é aceitável. Esta questão da precariedade é muito pouco falada dentro da AAC. Outra questão que temos como bandeira é como é a AAC hoje em dia. Não como fator isolado, mas toda esta questão da transparência, da promiscuidade entre a associação e os partidos po-líticos tem consequências práticas.

Temos que nos perguntar como é que num espaço tão curto de tempo perdemos tanta coisa. Porque é que as pessoas não vão às magnas, não vão às manifestações da DG e, ano após ano, a propina sobe, são tirados milhões ao ensino e são recusadas bolsas de estudo? Achamos que o motivo principal é que quem tem es-tado na AAC tem interesses pessoais. Usa a associação para construção de carreira, para obtenção de cargos. Há uma casta política dentro da AAC, são praticamente as mesmas pessoas que asseguram a continui-dade desta lógica. Face esse problema, que solu-ções apresentam?O essencial é tentar inverter uma das questões mais perversas destas DG’s: é que elas lutam. Apresentam propostas e ações de luta, têm um calendário de luta mas que está, à partida, derrotado, não tem efeitos, nem resultados concretos. Tendo em conta os poucos estudantes que vão a esses protestos a imagem que dá é que, de facto, lutar não vale a pena e que protestos e manifestações não vão ter nenhum resultado. Isso ain-da é mais trágico. Desmoraliza qual-quer estudante assistir a isto. Então, nós defendemos que haja um plano reivindicativo. Seja uma manifesta-ção, um abaixo assinado, uma even-tual ocupação de uma cantina. Te-mos que ter objetivos concretos dos quais não abdicamos. Dentro desse plano, quais são as vossas propostas?Em relação aos SASUC, propomos

a reabertura das cantinas, espe-cialmente das Cantinas Amarelas. Temos que saber qual é o custo das obras, que nunca começaram, e te-mos de exigir responsabilidades da reitoria. Se é preciso pressionar o governo, nós pressionamos para que venha essa verba. Outra coisa fun-damental é que não haja estudante algum que não se possa matricular por dívidas à faculdade. É criminoso e é responsabilidade da reitoria. Eles decidiram que seria assim. A nossa lista é pelo ensino gratuito e temos que ter uma meta concreta que é não deixar que venha o próximo au-mento. A AAC diz que é pela propina zero, mas ela aumenta todos os anos e a AAC é incapaz de parar isso. Então neste momento o objeti-vo é que a propina não aumen-te?Sim, o objetivo concreto. Quan-do conseguirmos realmente travar uma coisa que venha de cima, neste caso o aumento da propina, o efeito que terá no movimento estudantil é mais positivo que palestras, debates, consciencialização. Precisamos de nos aperceber da força que temos. Ao travar o aumento da propina podemos ter outras reivindicações. Em relação à precariedade, quere-mos que os trabalhadores da própria UC, seja nos SASUC, seja no TAGV, tenham direito a um contrato de tra-balho e é uma coisa que está no nos-so alcance. A criação de uma rede de estudantes recém-formados na UC, que esteja também a lutar para que os estágios curriculares sejam remu-nerados. O importante é que a uni-

versidade assegure que, por exem-plo, o número de professores que se reforma é reposto por jovens recém--formados que possam também tra-balhar aqui na UC. Em relação aos investigadores, parece-me funda-mental que as pessoas, passado um ou dois anos, tenham acesso a um contrato de trabalho. Que as bolsas de investigação se transformem em contratos com direitos como outros trabalhadores. Que estratégia apresentam para contornar os sucessivos cortes da Ação Social Escolar?A questão da atual administradora tem de ser falada. Esta administra-dora veio com a finalidade de cortar, e o propósito a curto, médio prazo é desmantelar os Serviços de Ação So-cial aqui. A forma como têm sido ge-ridos é arrepiante e pouco transpa-rente também. As cantinas iam abrir no final do ano passado, o ano come-çou não havia Amarelas nem Grelha-dos. A plataforma fez uma pequena ação para alertar para essa situação, estivemos a distribuir comida, com o megafone lá dentro. Não éramos muitos, mas nesse dia, em Assem-bleia Magna, tivemos o aviso de que os Grelhados iam abrir. Parece-me que a administração dos SASUC está a testar-nos. ‘Se tirarmos isto e não disserem nada, pronto, tudo bem. Se tivermos alguma resposta, vamos ver o que vamos fazer’. Por outro lado, a questão do Centro Cultural Dom Dinis, que era um centro que realizava atividades culturais ótimas para os estudantes, sem cobrar, po-díamos utilizar o espaço de qualquer

forma. Havia concertos de bandas locais, festas para os estudantes bra-sileiros e de repente fecha. Era um centro que dava lucro aos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra e de repente fecha e alugam o espaço a empresas. Como pensam criar mais cons-ciência e proximidade dos estu-dantes?É preciso fazer um ‘reset’ à AAC, em muitos aspetos. E na questão da transparência, há muitas coisas que se podem fazer, não só no sentido de disponibilizar dinheiro para o apoio dessas secções e organismo mas também para restituir a confiança das pessoas na AAC. A vossa lista considera também que há ainda muita discrimina-ção na UC.Sim. A Associação Académica de Coimbra tem de estar na linha da frente contra qualquer tipo de dis-criminação. Há a ideia de que a UC já ultrapassou esses tempos, que so-mos jovens qualificados e licenciados mas a realidade mostra o contrário. Desde agressões sexuais a agressões a estudantes estrangeiros, há casos que são abafados. A AAC não mos-tra que é para todos os estudantes, independentemente da orientação sexual. Se não se mostra como espa-ço aberto, isso vai continuar a acon-tecer. Os estudantes têm que sentir que a AAC é deles e que podem con-tar com a associação no combate. Porque quando não se combate, ela vai continuar a acontecer e continuar a ser abafada.

Diana Craveiro

RAFAELA CARVALHO

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 7

DESTAQUE

“O futuro não se faz num ano”LISTA T • BRUNO MATIAS • ”TU TENS ACADÉMICA!”

Bruno Matias é o cabeça de lista do projecto T, sob o mote “Tu tens académica!”. O es-tudante da FDUC esteve três anos no conselho pedagógico da faculdade, foi presidente do Núcleo de Estudantes de Direito, e é actualmente sena-dor. Como surgiu a candidatura da lista T à DG/AAC?Começou enquanto era presidente do Núcleo de Direito, no contacto que tive com vários presidentes de núcleos quando trabalhavam comi-go. Começámos a partilhar alguns ideais, a perceber que podíamos dar mais algum contributo à AAC. Quais são as principais ban-deiras da tua lista?Temos medidas que funcionam a curto, médio e longo. Um projecto para a DG nunca pode trabalhar num ano só, porque , se o fizer, apenas está a trabalhar no seu mandato concreto e a responsabi-lidade de um canditato é trabalhar o futuro da sua academia. O fu-turo não se faz num ano. Ao nível da administração, tem-se feito um trabalho interessante de redução da dívida e tem que se continuar essa consolidação orçamental e traba-lhar o futuro num plano a três anos. Fizemos um levantamento do que não funciona a nível contratual e de dinâmica da casa. Queremos co-meçar a definir metas para as áreas de interesse da AAC. Desde a polí-

tica às relações externas e internas. Também queremos que as próprias Secções Culturais, Desportivas e Núcleos estejam envolvidos nessa discussão e ainda levar este plano a Assembleia Magna, porque parece--me que um plano desta dimensão tem que ser discutido e ter a parti-cipação de todos os estudantes e só-cios da AAC. Um dos nossos objec-tivos na administração é a criação de um sistema de controlo interno. Parece-me que muitas vezes, ao ní-vel do que se faz contratualmente na AAC, é que, em relação às pes-soas com quem estamos a negociar somos inexperientes. Falas de quê em concreto?Queremos ter um professor de Di-reito, um professor de Economia ou um professor de Gestão, um advo-gado também e queremos ainda ter um membro do Conselho Fiscal que nos possam auxiliar no controlo in-terno, sempre ao nível consultivo. Por exemplo, estarmos em momen-tos de assinatura de contratos que possam ser determinantes e ter este auxílio de pessoas que tenham bas-tante experiência no mercado de trabalho. Porque existem situações em que estamos a negociar com pessoas que tê m mais anos de ex-periência do que nós e isto faz com que existam certos acordos contra-tuais que depois, a médio prazo, possam ser prejudiciais para a casa. Ainda na administração, queremos também implementar um orçamen-to de receitas fixas. Ou seja, muitas vezes quando assinamos um con-trato com a TMN, com a UNICER

e com a Caixa Geral de Depósitos, isso faz com que todas as entida-des da casa fiquem vinculadas, mas depois as vantagens que os núcleos retiram disto têm sido poucas (e falo dos núcleos porque têm sido os mais críticos neste aspeto). Quere-mos criar um orçamento de receitas anuais fixas. Havia duas possibili-dades: estar estipulado no contrato ou no orçamento. Parece-me que a nível de orçamento é mais ajustado porque a distribuição dos valores que recebemos só diz respeito aos sócios da AAC e não outras partes. Nesse orçamento estaria estipulado quanto é que vai para cada unidade: para as Secções Culturais, Desporti-vas, para os Núcleos de estudantes. Quanto à política educativa, quais são as propostas?Um dos nossos pilares fundamen-tais é um plano a dez anos ao nível das propinas que nos encaminhe até à sua gratituidade. Este plano envolveria uma discussão entre o movimento associativo nacional e o Conselho de Reitores das Univer-sidades Portuguesas (CRUP) com o objectivo de reduzir o valor real das propinas nas várias universida-des. Parece-me possível tendo em conta o plano plurianual - que de-via estar a ser aplicado ao nível do orçamento das universidades -, o aproveitamento da Rede dos Anti-gos Estudantes da UC, com a lei do mecenato, e o que já esta a ser feito pelo movimento associativo nacio-nal de tentar começar a reduzir esse valor real. Começando, obviamen-te, pelo congelamento da propina.

Se não conseguimos o conge-lamento da propina para este ano quem garante que consi-gas para o ano?Não me passa pela cabeça que o va-lor da propina não seja reduzido no valor real, não seja congelado, por-que isso seria uma insensibilidade total para a realidade por que pas-sam os estudantes. A nível da polítiva educativa que mais propostas apresen-tas?Queremos criar um centro de estu-dos em torno da AAC que não en-volva só a política educativa mas também outras áreas. Isto para criar aproximação de estudantes, porque qualquer estudante se pode candidatar ao centro para vir discu-tir o futuro da AAC. Nesse centro existem vários gabinetes e o objec-tivo é também trabalhar num plano a médio prazo, em questões especí-ficas. Por exemplo, no gabinete da Ação Social, em relação ao regula-mento de atribuição de bolsas, os estudantes vão ter oportunidade de analisá-lo, estudá-lo, identificar os problemas, produzir soluções e depois todos os documentos pro-duzidos sobem à DG para análise e aproveitamento. Deve haver uma maior aproxi-mação da AAC aos estudantes?Não tenho dúvidas disso. Isto não é um problema específico da DG mas sim estrutural que envolve a casa. A DG é a grande responsável para criar condições para que os es-tudantes se aproximem da casa. A

aproximação dos estudantes é fun-damental e faz-se desta maneira: num projeto para a DG há uma en-volvência total com os estudantes, para dar a possibilidade de serem eles próprios a fazer o seu projeto. Numa fase já de mandato, criam-se condições para que todas as pesso-as envolvidas no projeto se envol-vam no trabalho. Quais são as propostas que apresentas para as Secções Culturais e Desportivas da AAC?A DG tem responsabilidades a ní-vel de criar condições para que se possa fazer cultura. Um dos nossos grande objetivos é criar um gabine-te cultural entre a associação acadé-mica de Coimbra, a Universidade de Coimbra e a Câmara Municipal de Coimbra, no qual estejam presentes não só pessoas da mas também pes-soas ligadas às secções. Este plano não tem como objetivo intrometer-mo-nos na autonomia das próprias secções, mas sim que elas tenham melhores condições para trabalhar e divulgar aquilo que se faz. Tenho visto que muitos estudantes não se envolvem porque não existe essa comunicação. A nível desportivo, uma das nossas ideias é criar, para os estudantes que estejam envolvi-dos no desporto universitário, um certo tipo de regalias, como bolsas de mérito, reduções na propina ou até uma simples medalha de mérito para que aquilo que os estudantes conseguem ao nível da divulgação da Universidade de Coimbra ou lá fora seja premiado.

Diana Craveiro

RAFAELA CARVALHO

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8 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

ENSINO SUPERIOR

SASUC procuram aumento da receita para evitar encerramento de serviçosO OE 2014 prevê cortes de quase oito por cento para a Ação Social. Os SASUC podem fechar serviços caso não consigam compensar a diminuição da verba com receita

A votação final global do Orça-mento de Estado (OE) 2014 está marcada para o dia 26 de novem-bro. Na versão do documento que já se encontra em discussão na es-pecialidade, foram revelados cortes na ordem dos 7,6 por cento para o Ensino Superior (ES) e Ação Social. São menos 80,5 milhões de euros que vão ser investidos nestas duas áreas, em relação aos valores do OE 2013.

A administradora dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), Regina Bento, comenta que os cortes orçamentais vão ser “maiores do que o previsto”. Afirma ainda que os SASUC não partem “de um orçamento defini-tivo no início do ano”, porque há o risco de continuar a haver cortes sucessivos, como ao longo de 2013. Regina Bento ressalva que “a re-dução da despesa, neste momento, sem encerrar serviços é praticamen-te impossível”. “Estamos pratica-mente esmagados”, lamenta.

Para já, a administradora dos SA-SUC assevera que, para evitar que haja serviços a fechar, a estratégia passa por “tentar que a receita pró-pria colmate as deficiências do OE”. Ainda sem prever os cortes trazidos pelo OE 2014, os SASUC têm pro-curado aumentar a receita própria para compensar a crescente falta

de financiamento. As estratégias implementadas para diminuir des-pesas passaram já pela tentativa de tornar as negociações e pedidos feitos a fornecedores mais eficientes e, para aumentar receitas, pela im-plementação de uma taxa para estu-dantes não bolseiros, funcionários e docentes nos Serviços Médicos. Regina Bento defende que o paga-mento de “um valor simbólico” é uma medida que visa a continuida-de deste serviço. “Se os estudantes e a comunidade académica recorre-rem aos SASUC estão, no fundo, a contribuir para um reforço da Ação Social”, clarifica. Os estudantes não bolseiros pagam nos Serviços Mé-

dicos, neste momento, cinco euros para uma consulta de clínica geral, e entre 7,5 e dez euros para consultas de outras especialidades, medicina dentária e pequenas cirurgias.

Amarelas sem datapara reabrirAs opiniões dos estudantes sobre o atual funcionamento dos serviços dos SASUC nem sempre são favo-ráveis. O estudante da Faculdade de Direito da UC, Gonçalo Silva, crê que “as cantinas há dois anos estavam a funcionar muito bem, a comida era boa”, mas, agora, lamenta que se paguem “quase três euros por uma refeição que não tem quase qualida-

de nenhuma”. Outra estudante da FLUC, Maria Inês Santos, critica a falta de oferta no polo I. “Há muito poucas cantinas comparativamente com o número de estudantes que as procuram e há alunos que agora preferem ir comer a restaurantes” da Praça da República, “ir comer a casa, ou trazer comida, porque lhes sai mais barato”, declara. “As filas são enormes, nós não temos tempo nenhum, comemos tudo à pressa”, lastima a estudante.

Fechadas desde abril por indi-cação da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), as Cantinas Amarelas não têm ainda data para reabertura. O restauran-

te das amarelas ajudava a escoar as filas da hora de almoço, mas Regi-na Bento explica que agora “exigem uma intervenção estrutural profun-da”, cujos contornos estão a ser le-vantados pela equipa de engenhei-ros da UC. O estudo e o orçamento das obras necessárias vão ser feitos até ao fim do ano corrente.

Intervenções nas residências agendadas para o NatalNo respeitante às residências, as opiniões dos estudantes entrevista-dos são mais positivas. A estudante da FLUC, Daniela Santos, é residen-te num dos edifícios dos SASUC e afirma que o único aspeto negativo é a existência constante de “proble-mas que demoram muito tempo a ser resolvidos”.

Regina Bento adianta que os SA-SUC estão “sempre a fazer pequenas intervenções nos equipamentos de utilização intensiva”, como as re-sidências, ajustadas “à medida das disponibilidades orçamentais”. As obras mais urgentes consistem, em particular, em pinturas e no arranjo das cozinhas, mas têm que ser agen-dadas para períodos de pausa letiva. Há “várias intervenções projetadas agora para o Natal em quartos de residências, nomeadamente nos Combatentes, na Teodoro, na João Jacinto” adianta.

A única residência que, para já, tem planos para obras profundas é a São Salvador. “Está a ser objeto de uma candidatura, que tem finan-ciamento parcial da Câmara Mu-nicipal de Coimbra, no âmbito do projeto de recuperação do Centro Histórico”, avança a administrado-ra. A candidatura está “em curso”, mas com as mudanças no executi-vo camarário, desconhece-se ainda quando vai avançar.

com Maria Inês Morgado

Maria Eduarda Eloy

Tomada da Bastilha continua a iluminar CoimbraNa comemoração dos 93 anos da efeméride, Ricardo Morgado apela à participação dos estudantes nas celebrações, que passam pelo tradicional Cortejo dos Archotes

25 de Novembro de 1920. Para muitos estudantes de hoje, esta data não significa mais do que uma revolução dos estudantes de Coim-bra, que se comemora com uma marcha luminosa pela cidade. Na verdade, esta efeméride é para mui-

tos um símbolo da postura reivindi-cativa dos estudantes da Associação Académica de Coimbra (AAC).

“A Tomada da Bastilha consis-tiu num movimento estudantil que se apropriou do antigo Clube dos Lentes”, começa por explicar o his-toriador e professor catedrático da Faculdade de Letras da Universi-dade de Coimbra (FLUC), Amadeu Carvalho Homem. De acordo com o docente, na altura, “a AAC não dispunha de instalações próprias” e ocupava o rés-do-chão do Colégio de São Paulo, situado na Rua Larga. No mesmo edifício também estava instalado, no primeiro piso, o Clu-be dos Lentes, associação recreativa dos mestres, que reunia condições muito melhores. Confrontados com a desigualdade, surgiu “um movi-mento de contestação que consistiu

na tomada do Clube dos Lentes”, explica Amadeu Carvalho Homem. Acrescenta ainda que o edifício, “a partir desse momento, passou a funcionar em benefício de toda a população estudantil”.

A ação, levada a cabo na madru-gada de 24 para 25 de Novembro por 40 estudantes, ficou conhecida como “Tomada da Bastilha” em alu-são “à grande Revolução Francesa de 1789, na qual se tomou uma pri-são régia, símbolo do despotismo, que era a bastilha”, conclui Carva-lho Homem.

93 anos volvidos, o presidente da Direção-Geral (DG) da AAC, Ricar-do Morgado, acredita que as come-morações desta efeméride continu-am a fazer sentido, uma vez que “há sempre uma mensagem que passa nesta celebração” e que este ano

“será voltada para as dificuldades que os estudantes do ensino supe-rior atravessam”.

Amadeu Carvalho Homem con-sidera que “uma academia, um país ou uma individualidade que perde a memória também perde a alma ”. Acredita, por isso, que os estudan-tes da UC devem comemorar “os grandes episódios da sua própria caminhada histórica”.

Para lembrar a data, que Ricardo Morgado classifica com um “dos momentos mais históricos da AAC”, vai ser feito o Cortejo dos Archotes, “à semelhança do que aconteceu nos outros anos”. “À meia-noite, após as doze badaladas, acendem-se os ar-chotes na Porta Férrea e começa um cortejo dos estudantes, desde a Alta até à AAC”, explica o presidente da DG/AAC. Aí, o dirigente associativo

escala à varanda da instituição, faz hastear a bandeira e discursa para os presentes. “A cerimónia termi-na com uma fogueira dos archotes à porta da AAC”, conclui Morgado.

Em relação ao desinteresse mani-festado por muitos estudantes, Ri-cardo Morgado defende que “a AAC tem o dever de divulgar e passar a mensagem do que foi esse dia na história da academia”. Nesse senti-do, vai ser dada informação sobre a Tomada da Bastilha aos estudantes, “sobretudo através das plataformas sociais para que aqueles que não saibam possam ficar a saber e, mais do que isso, se juntem à celebra-ção”.

Ricardo Morgado afirma que pre-tende ainda “entregar uma petição relativamente à questão das Repú-blicas no dia 25”.

Carla Sofia Maia

Regina Bento caracteriza de “valor simbólico” a nova taxa implementada nos Serviços Médicos

ARQUIVO

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 9

ENSINO SUPERIOR

Repúblicas universitárias são alvo de preocupação crescenteCasas degradadas e rendas com aumentos exponenciais são dois dos principais problemas com que as repúblicas de Coimbra se deparam. Após a implementação da nova lei do arrendamento, as repúblicas olham para o futuro em busca de soluções que não comprometam a sua história. Por Ian Ezerin e Miguel Malato

Para além da tradição, o edifí-cio é um dos atributos princi-pais para a existência de uma

república. Em Coimbra, muitas des-tas casas encontram-se num estado de degradação estrutural avançado, que os habitantes tentam contra-riar. Foi, por isso, lançado no dia 11 de novembro o projeto de ‘Cro-wdfunding’ da ‘Real República Pra--Kys-Tão’, para angariar de fundos destinados à recuperação da Casa da Nau. O objetivo é alcançar mil euros em 90 dias. Até ao momento, segundo a residente da república, Alexandra Correia, o processo está “num bom caminho”. “Temos já 50 por cento do total, mas não vai che-gar” para todas as obras, declara. O edifício remonta ao século XV e pre-cisa de intervenções profundas, mas não pode ser descaracterizado, o que limita a intervenção dos repúblicos. Os valores angariados através do ‘crowdfunding’, ou seja, através de pequenos contributos monetários de pessoas que acederam ao apelo dos elementos da ‘Prá-Kys -Tão’ na plataforma ppl.com, vão ser canali-zados para uma das principais prio-ridades, o arranjo do telhado.

Não é só a questão das obras que está ligada aos problemas das repú-blicas. A nova lei do arrendamento criou a possibilidade de os senhorios poderem rever e alterar as condições dos contratos anteriores ao ano de 1990. De acordo com a nova lei, o senhorio pode ter duas opções: ou põe fim ao contrato e paga uma in-demnização de 31.920 euros (caso em que o inquilino tem que aban-donar a casa no prazo de 13 meses), ou atualiza a renda até 1/15 do valor patrimonial do imóvel, alternativa que é válida por cinco anos. No caso da república ‘5 de Outubro’, a última via foi a adoptada pelo senhorio.

“O contrato inicial era de duração indeterminada e tinha a renda men-sal de 2.500 escudos, ou seja 12,50 euros, valor que se manteve inalte-rado desde 1970”, explica o advoga-do Pedro Proença, representante da família proprietária do andar onde residia a república. Ao aumentar o preço até aos 764 euros, “o pro-prietário limitou-se a aplicar a lei”, defende o advogado. Mas, para os habitantes da república, o aumento foi muito elevado.

Um dos antigos residentes da re-pública ‘5 de Outubro’, que não quer ser identificado, explica que houve propostas por parte dos repúblicos de rever a renda em 2011, que fo-ram recusadas pelo senhorio. Já em 2013, os estudantes ainda tentaram responder com uma contraproposta de cerca de “200 a 300 euros” face aos 764 euros, mas a resposta do dono do imóvel foi negativa, “sem

qualquer tentativa de negociar o va-lor”, denuncia.

“O contrato de arrendamento foi rescindido por acordo entre ambas as partes, por conclusão do processo judicial”, pelo que, “de momento já não há qualquer relação” entre re-públicos e senhorio, declara Pedro Proença.

No entanto, a desvinculação da república ao edifício está a gerar polémica, depois de Pedro Proença ter revelado a existência de vários danos estruturais, detetados pelo se-nhorio quando visitou o imóvel pela primeira vez, após a saída dos resi-

dentes. O advogado explica que o edifício apresenta “sinais de vanda-lismo, como quadro elétrico exterior arrancado, canalizações danificadas ou mesmo retiradas, contadores gás e água arrancados, paredes parcial-mente destruídas a ponto de ser ver o tijolo, louças sanitárias arrancadas ou vandalizadas, paredes grafitadas, fios elétricos arrancados, tetos da-nificados, um buraco de grandes di-mensões feito por debaixo da banca da cozinha”.

Em resposta a essas acusações, o elemento da república recusa-se a fazer qualquer declaração já que

“não tem conhecimento oficial, nem por parte de qualquer órgão oficioso nem por parte do senhorio”.

Repúblicas procuram alternativas junto da ARApesar das várias dificuldades com que se defrontam, nem todas as re-públicas estão na mesma situação. Há também casos em que a conti-nuação da república está assegurada por compreensão mútua entre os es-tudantes e o senhorio, como no caso dos ‘Paços da República dos Inkas’. De acordo com Diogo Barbosa, um dos habitantes, para além de terem

relações estáveis com o senhorio, têm intenção de adquirir o edifício. “Temos que juntar algum dinhei-ro para conseguir comprar a casa”, anuncia. Com esta ideia concorda também o repúblico da ‘Real Repú-blica Rás-Te-Parta’, Paulo Esgaio, que considera que a “nova lei do arrendamento abriu os olhos para a noção de que o melhor que uma casa pode ter é ter-se a si própria”.

Apesar de todas as repúblicas te-rem sido abrangidas pela nova lei, há algumas que têm como senhorio a Câmara Municipal de Coimbra ou a Universidade de Coimbra. Segun-do Paulo Esgaio, “terão uma vanta-gem que corresponde ao facto de o senhorio não estar interessado em despejá-las”, por isso, “talvez seja mais fácil a negociação”.

Para solucionar os problemas causados pela aplicação da nova lei do arrendamento, o Conselho de Re-públicas (CR) tentou uma negocia-ção com a Assembleia da República (AR). Entraram “em contacto com os partidos políticos de modo a ten-tar encontrar uma exceção à nova lei”, explicou Paulo Esgaio. O habi-tante da ‘Rás-Te-Parta’ revela ainda que “foram enviadas várias cartas e diversos apanhados a nível cultural e histórico”, porém “os partidos que estão atualmente no governo não concordaram com a criação de uma exceção”.

A alternativa pretendida asseme-lhar-se-ia à antiga lei que oferecia alguma proteção às repúblicas, uma vez que não reconhecia motivos le-gais válidos para despejar uma repú-blica desde que os moradores pagas-sem a renda.

O presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, Ricardo Morgado, promete que tam-bém vai “pedir à AR que se comece a trabalhar nesse sentido, para criar um novo mecanismo na lei”, e abor-da a situação das repúblicas como um assunto que deve ter mais apoio por parte “dos que são património da humanidade: a cidade e a univer-sidade”. Ricardo Morgado defende também a necessidade de tratar com devido respeito ambas as partes in-teressadas e de criar um mecanismo com base no diálogo para “chegar a um acordo tácito entre os repúblicos e o senhorio”.

Foi também discutida, em CR, a hipótese de as repúblicas que cor-rem o risco de ser despejadas muda-rem de edifício, uma solução que já está a ser procurada pela ‘5 de Ou-tubro’. Neste aspeto, Paulo Esgaio comenta que “existe uma grande dificuldade em encontrar uma casa que forneça as instalações necessá-rias para um grupo de pessoas viver e estudar em Coimbra”.

ARQUIVO - RAFAELA CARVALHO

ARQUIVO - RAFAELA CARVALHOARQUIVO - RAFAELA CARVALHO

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10 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

CULTURA

CULTURA

28 dE novEmbro

CiClo “20 anos dE CinEma português” - o barão

Mini-Auditório SAlgAdo ZenhA

22h - entrAdA livre

21 dE novEmbro

CiClo “20 anos dE CinEma português” - Embargo

Mini-Auditório SAlgAdo ZenhA

22h - entrAdA livre

21 dE novEmbro

lançamEnto da nova grElha ruC - ConCErto silva

tAgv

21h30

28 dE novEmbro

ClubE do livro

“todoS oS noMeS” de JoSé SArAMAgo

SeSlA - 21h30

RÁDIO UNIVERSIDADE DE COIMBRA

CEC – CENTRO DE ESTUDOS CINEMATOGRAFICOS

SECÇÃO DE FOTOGRAFIA

23 dE novEmbro

Workshop adobE lightroom 4 - tiago mota garCia

20 A 40 euroS

26, 27, 28 dE novEmbro

3, 4, 5 dE dEzEmbro

Curso dE FotograFia prEto&branCo

50 A 100 euroS

SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA

14 dE dEzEmbro

palEstra - o ComérCio onlinE dE FotograFia niobo

entrAdA livre

Pouco depois de Fernando Ma-tos de Oliveira completar dois anos de direção à frente do Te-atro Académico de Gil Vicen-te, adianta que está a decorrer uma reestruturação da equipa técnica e que o próximo ano vai trazer novidades em relação a parcerias com cursos da Uni-versidade de Coimbra UC. Afir-mou que não há nenhum tipo de rutura com o Centro de Es-tudos Cinematográficos da As-sociação Académica de Coim-bra e que há espaço no TAGV para o “lado resistente e contra cultural do teatro”

Considera que o Teatro Aca-démico de Gil Vicente (TAGV) tem perdido público, devido à conjuntura de crise económi-ca?Não, não tem perdido público. Pelo contrário, até tem tido um reforço do público nalgumas áreas. Temos tido muito cuidado na definição do preço dos espetáculos, tentando sempre que a proposta seja razoá-vel, e em média abaixo do que se faz noutros lugares.

Qual é a relação do TAGV com o público universitário?Essa relação é sempre um tema algo complexo, porque a relação com o público universitário, em geral, não é de um tipo apenas. Dentro da uni-versidade há vários públicos: estu-dantes, funcionários, professores, investigadores, visitantes, e todos esses públicos se relacionam de mo-dos diferentes com o teatro. Enten-

demos que há um potencial grande a explorar entre o público da universi-dade e o teatro.

Para além do preço, que me-didas é que o TAGV toma para uma maior proximidade com o público universitário?Além do preço, temos feito divulga-ção, dado muita atenção à comuni-dade e aos espaços da Universidade de Coimbra (UC). É algo que que-remos estabelecer e consagrar em 2014. Sempre que um espetáculo in-teressa curricularmente a qualquer uma das disciplinas lecionadas na UC, o professor dessa disciplina en-via-nos um contacto e diz que quer vir com a turma, e os alunos poderão entrar gratuitamente.

Os cortes no orçamento de es-tado têm alguma influência na programação do próximo ano?Sim, é óbvio. Há uma dimensão do nosso orçamento que tem relação direta com a UC. Temos feito várias acomodações, inclusive uma re-dução da equipa técnica do TAGV. Neste momento podemos dizer que a UC não financia diretamente a programação. O TAGV é um teatro de acolhimento e co-produção, e se fôssemos uma estrutura de produ-ção assumida, isso gerava logo uma forma de financiamento diferen-te. Gostavamos de ter um espaço de ensaio condigno, se tívessemos uma sala de ensaio podíamos não só avançar para esse modelo como pensar essa possibilidade de acolher uma estrutura de residentes.

Essa sala de ensaios seria uma hipótese viável?Penso que isso é possível. Há edifi-

cados suficientes na UC para isso ser viável, e isso tinha um efeito mul-tiplicador em termos estratégicos futuros. É preciso haver condições internas para fazer isso. Por exem-plo, algo que nos motiva é contribuir de forma positiva para ajudar a que as instalações do Teatro dos Estu-dantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e do Círculo de Iniciação Te-atral da Academia de Coimbra (CI-TAC) sejam modernizadas. O TAGV está interessado nas instalações. Não é para ficar com os espaços de-les mas para ajudar a melhorar as instalações, para que lá possamos

fazer coisas que interessem.

Isso era também uma maneira de estreitarem as relações com a própria cidade?Sim, com a cidade e com os grupos. No entanto, o TEUC, o CITAC e o TAGV devem ser naturalmente luga-res de grande continuidade, não há nenhuma espécie de fratura entre o lado institucional e o lado resistente e contra cultural do teatro.

Como é que ficou a relação com o Centro de Estudos Cinema-tográficos da Associação Aca-

démia de Coimbra (CEC/AAC) depois do cancelamento do Festival Caminhos do Cinema Português? Não temos absolutamente nenhum problema com o CEC/AAC. Estamos disponíveis para todo o tipo de par-cerias. O programa que eles estão a fazer é um curso muito interessante de cinemalogia. Inclusive, desafiei o CEC/AAC a propô-lo a curso não conferente a grau da UC. Simples-mente, as condições de acolhimento do festival não podiam ser as ante-riores porque as condições do teatro não são as mesmas.

FERNANDO MATOS DE OLIVEIRA • DIRETOR DO TEATRO ACADÉMICO DE GIL VICENTE

Luís Grilo João Martins

ARQUIVO - ANA FILIPA SILVA

TAGV ambiciona ter uma“estrutura de residentes”

5 dE dEzEmbro

CiClo “20 anos dE CinEma português” - as bodas dE dEus

Mini-Auditório SAlgAdo ZenhA

22h - entrAdA livre

tvAAC, SECÇÃO DE JORNALISMO E RUC

20 dE novEmbro

dEbatE Com os Candidatos à dirEção gEral da assoCiação aCadémiCa dE Coimbra

21h

TEATRO DOS ESTUDANTES DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

2 a 6 dE dEzEmbro

“Workshop másCara nEu-tra” Com hEribErto montal-ban

das 14h às 18h

25 Euros

insCriçõEs até 30 dE novEmbro

“Há uma dimensão do nosso orçamento que tem relação direta com a UC”, refere Fernando Matos de Oliveira

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 11

CULTURA

Fazer rir, chorar e inquietar são os três objetivos que o ator António Fonseca enuncia como mote para a “de(coração)” d’ “Os Lusíadas”. O projeto em Coimbra culmina dias 23 e 30 de novembro com a apresentação da versão integral da obra na OMT. Por Carolina Carvalhais e Daniela Gonçalves

“Os Lusíadas” contados estão em Coimbra. O projeto é do ator Antó-

nio Fonseca e data de 2008. A ver-são integral do poema épico já pas-sou por Guimarães e Lisboa. Agora está em Coimbra, com duas novida-des: “Os Cantos à Tasca”, em que se visitam as tradicionais tascas e, entre petiscos, se declama o poema, e “Antologias” que consiste na apre-sentação de versos selecionados do poema em escolas secundárias e na Casa da Escrita.

António Fonseca rejeita a defini-ção de memorização fria do poema, explica que o método que usa para dizer Os Lusíadas é “de(coração)”. Clarifica que “decor em latim quer dizer «com o coração»”. O ator defende que “não interessa fazer o show de memória idiota do circo”. Nas apresentações parciais ou inte-grais feitas até agora, o declamador apresenta sempre um paralelismo com a atualidade. “Interessa-me mostrar as ressonâncias que a obra tem no nosso quotidiano”, salienta. Defende ainda que a obra “fechada nos estudos académicos, fechada em conceitos estéreis… não tem graça nenhuma” e brinca ao dizer que “quando há alguma dúvida, liga-se ao Camões para perceber como é”.

O mentor do projeto classifica-o de “intervenção cultural, social e política”. António Fonseca acredita que “trabalhar a inquietação, a co-moção e a capacidade de nos rirmos são coisas fundamentais” e afirma “a vida e a arte são assim”.

Participação de voluntários no integralEsta é a terceira vez que o ator An-tónio Fonseca declama o poema na versão integral. “Tecnicamente será muito melhor que as anteriores”, confessa, “domino melhor o texto, já não há aquela «nervoseira» da primeira vez”.

Esta apresentação conta com a participação de cerca de 60 pes-soas na declamação do canto X. À semelhança do que aconteceu em Guimarães e em Lisboa, “o objeti-vo é devolver o poema às pessoas, ao povo”, frisa o ator. “Camões não é meu, não é da FLUC, não é dele próprio, é das pessoas!”, declara.

O grupo é heterogéneo em idades e origens, há pessoas dos 15 aos 60 anos, naturais de Coimbra, Mon-temor-o-Velho, Figueira da Foz ou Pereira do Campo.

Nuno Gomes, de 19 anos, é alu-no de Teatro e Educação e faz parte do grupo de declamação do canto X. Admite que agora compreende

melhor “Os Lusíadas” e considera António Fonseca “uma fonte de co-nhecimento”. Explica que o método de dizer deve ser o mais natural possível. “A ideia é mesmo contar a história, tê-la decorada e dizê-la às pessoas”, acrescenta.

Com 47 anos, professor do En-sino Básico, Paulo Santos teve co-nhecimento do projeto através do filho, que é voluntário na OMT. Considera esta participação uma experiência “gratificante” e subli-nha a especificidade de serem “60 e tal pessoas com origens e com vidas completamente diferentes, com as profissões mais díspares, e capazes de perceber que nessa amálgama toda conseguem estar ali unidos num projeto que é comum”.

A apresentação da versão integral acontece dias 23 e 30 de novembro, das 10h00 às 00h00. O preço dos bilhetes é de três euros, um canto; cinco euros, dois cantos; dez euros, cinco cantos; 15 euros, dez cantos.

Os Cantos à TascaA modalidade das tascas tem tido bastante adesão por parte do pú-blico, o que deixa satisfeitos os res-ponsáveis pelos estabelecimentos e o mentor do projeto. “Aceitei este desafio por ser uma novidade”, afir-ma o proprietário da Casa Costa,

Rui Costa. “Num dia morto, como o de segunda-feira, notei mais aflu-ência”, acrescenta. António Fon-seca justifica esta atividade com a “necessidade de «dessacralização» do poema e de o trazer para sítios mais profanos”. Defende o ator que “a cultura e arte não se fazem só no Teatro Académico de Gil Vicente, devem fazer parte do nosso quoti-diano”. A última apresentação em tasca acontece dia 27 de novembro, pelas 21h30 na Taberna d’Aviz.

AntologiasNo que diz respeito à apresentação das antologias nas escolas secun-dárias, António Fonseca é claro: “ Eu parti do princípio que não que-ria fazer uma coisa erudita, isso fazem na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC)” e acrescenta que “a mensagem que se quer passar é que a literatura não se pode reduzir a um exame; isso é matar Os Lusíadas, Os Maias, A Mensagem”. As sessões nas escolas ocorrem até ao fim do mês de no-vembro. A apresentação de antolo-gias na Casa de Escrita acontece dia 21 de novembro pelas 18h00.

O Documentário “8816 versos”O ano que antecedeu a primeira

apresentação da versão integral do poema em Guimarães foi registado num documentário de 95 minutos, de título “8816 versos”. A autoria é da atriz Sofia Marques. “Não tinha grandes expectativas, mas quando vi fiquei muito entusiasmado”, con-fessa o ator e relembra que a atriz e amiga “nem sequer é realizado-ra, foi o segundo filme que fez”. O documentário já foi apresentado no Doclisboa e na Mostra Interna-cional de Cinema em São Paulo, na qual ficou entre os dez melho-res. Em Coimbra foi apresentado ontem, 19, pelas 21h30, na Oficina Municipal de Teatro (OMT).

“Parece que não temos alma”António Fonseca lamenta o esta-do da cultura em Portugal. “O que me parece é que para o governo, da maneira como pensa a crise e da maneira como a está a viver, não te-mos alma”, lastima. O declamador da obra máxima de Luís de Camões, “Os Lusíadas” sublinha que “é uma questão de opções” e acrescenta ainda que “não se discutem mode-los de vida; este modelo interessa a alguém que o apresenta como ide-al”. Remata com a certeza de que “não podemos viver sem alma, sem fantasia”.

DANIELA GONÇALVES

“Os Lusíadas” visitam cantos a Coimbra

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12 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

DESPORTO

DESPORTO AAC

30 dE novEmbro

aCadémiCa vs bEnFiCa

ligA Sport Zone de FutSAl

16h00

pAvilhão eng. Jorge AnJinho

7 dE dEzEmbro aCadémiCa vs sl olivais

ligA Sport Zone de FutSAl

16h00

pAvilhão eng. Jorge AnJinho

23 dE novEmbro sporting vs aCadémiCa

ligA Sport Zone de FutSAl

16h00

pAvilhão MultiuSoS de odivelAS

sEgundas-FEiras

rapidinha à 2ª

21h00

SAlA dA Secção de XAdreZ

14 dE dEzEmbro

gala natal Judo aaC

7h00 – treino eM conJunto

20h00 – gAlA de nAtAl Judo

reStAurAnte giuSeppe e JoAquiM

criAnçAS : 8 euroS

ASultoS: 12 euroS

inScriçõeS AbertA nA SecretAriA

ou [email protected]

SECÇÃO DE XADREZ

PRÓ-SECÇÃO DE FUTSAL

ACADÉMICA/OAF

25 dE novEmbro

olhanEnsE vs aCadémiCa

ligA Zon SAgreS

20h15

eStádio do AlgArve, FAro

20 dE novEmbro

aaubi vs aaC

i tornEio dE apuramEnto da zona nCs

14h00

évorA

20 dE novEmbro aautad vs aaC (7 masCulinos)

i tornEio dE apuramEnto da zona nCs

10h40 évorA

SECÇÃO DE RUGBY

25 dE novEmbro

aaC vs ipv (masCulinos)

i tornEio dE apuramEnto da zona nCs

12h00

covilhã

SECÇÃO DE JUDO

14 dE dEzEmbro

póvoa Futsal vs aCadémiCa

ligA Sport Zone de FutSAl

16h00

pAvilhão MunicipAl de póvoA de vArZiM

25 dE novEmbro

aaC vs aautad (FEmininos)

i tornEio dE apuramEnto da zona nCs

18h00

covilhã

26 dE novEmbro

ip lEiria vs aaC (FEmininos) i tornEio dE apuramEnto da zona nCs

10h00

covilhã

25 dE novEmbro

aautad vs aaC (masCulinos)

i tornEio dE apuramEnto da zona nCs

18h00

covilhã

O desporto universitário de Coimbra tem este ano três nomeados aos prémios da FADU. A gala que distingue o mérito de estudantes-atletas ainda não tem data marcada

As equipas feminina e masculi-na de Rugby Sevens da Associação Académica de Coimbra (AAC) e o treinador Luís Carvalho Pio estão nomeados para os prémios “Melhor do Ano” da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU). Os galardões vão ser entregues, no final do ano, na Gala da FADU, que procura reconhecer todos os anos o mérito dos atletas do Ensino Supe-rior português.

O treinador da equipa feminina de sevens, Luís Carvalho Pio, nomeado para “Melhor Treinador do Ano”, co-menta que “já não tinha expectativas nenhumas, tendo em conta que a AAC, na vertente de rugby feminino é penta-campeã nacional” e a equipa não foi premiada quando foi campeã europeia. O técnico contesta tam-bém que é mais provável que vença “alguém relacionado com o futebol ou o futsal, porque são práticas co-muns dentro da FADU”.

Já o treinador-jogador da equipa

masculina, Sérgio Franco, teve uma reação diferente. Confessa que foi “apanhado de surpresa”. “Ficámos em quarto lugar no Campeonato Eu-ropeu Universitário, mas talvez te-nha sido por termos sido campeões nacionais outra vez” comenta.

O manager da equipa masculina de sevens, Frederico Gomes, afirma, a propósito do Campeonato Europeu Universitário de 2013, que o desgas-te físico e a falta de recursos huma-nos contribuiu para que a equipa da AAC não conseguisse mais do que o quarto lugar na prova. “Íamos com poucos jogadores e tivemos uma via-gem muito atribulada”, salienta. “Fi-zemos uma viagem de Portugal para a Roménia, chegámos lá de madru-gada e esperámos por um autocarro até às 17h00 para Sófia, para iniciar o torneio no dia seguinte”, explica. “No primeiro dia ainda aguentámos, mas no segundo já foi complicado”, lamenta.

Nomeações motivam equipa masculinaSérgio Franco ressalva que esta no-meação “vai ser bastante boa para todos os jogadores e vai servir de motivação”. Assinala ainda que, “dia 20 é a primeira etapa do circuito na-cional de sevens universitário, em Évora, e é bom encarar este torneio já a saber que estamos nomeados como melhor equipa; é sempre um incentivo extra”.

Já Luís Carvalho Pio desvaloriza a sua nomeação e afirma que, se ga-

nhar o prémio, prefere “dá-lo à equi-pa feminina”, que “já o merecia há dois anos”. O treinador das atletas reconhece-lhes mérito e humildade. Revela que a motivação da equi-pa feminina é sempre para serem campeãs, irem disputar o europeu e ganhá-lo”.

A capitã da equipa feminina de rugby sevens da AAC, Mara Silva, e antiga jogadora da equipa de rugby da Escola Superior Agrária de Coim-bra, confirma as palavras de Luís Carvalho Pio. Salienta que a equipa “não participa nos torneios à espera de receber prémios”. Na opinião da capitã, o objetivo do coletivo é “fa-zer o melhor e conseguir trazer re-sultados” para a AAC. Mas comenta também que as atletas tinham “uma grande expectativa em ser nomeadas para este prémio”, devido aos bons resultados dos últimos campeonatos nacionais e internacionais.

O facto de nesta Gala FADU ape-nas figurarem nomeados da AAC da modalidade de rugby sevens não passou indiferente ao secretário-co-ordenador do Conselho Desportivo, Miguel Franco. O dirigente associa-tivo assinala que a modalidade “tem apresentado resultados regulares e tem equipas que mais longe têm chegado no desporto universitário nacional e europeu, principalmente a equipa feminina”.

A Gala FADU ainda não tem data nem local oficial mas está prevista para o mês de dezembro.

com Maria Eduarda Eloy

D.R.

Eduardo Carvalho

Atletas do Rugby Sevens representam AAC na Gala FADU 2013

SECÇÃO DE ANDEBOL

A equipa feminina de Rugby 7 da AAC é penta-campeã nacional

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 13

DESPORTO

A Secção de Basquetebol é a segunda maior devedora da AAC. Instabilidade financeira pode comprometer a continuidade da equipa sénior masculina

Aos 85 anos, a Secção de Basque-tebol da Associação Académica de Coimbra (SB/AAC), para além de múltiplos títulos ganhos nos vários escalões, está associada a uma quan-tidade elevada de dívidas.

O coordenador do Conselho Des-portivo da AAC, Miguel Franco, identifica a origem do problema

“nas dívidas aos jogadores e treina-dores (atuais e antigos), dívidas a fornecedores (pessoas externas) e na dívida interna, ou seja a dívida da SB/AAC para com a Direção-Geral (DG)”. Apesar de reconhecer que fechar a secção “ainda não está em cima da mesa”, Miguel Franco não exclui essa possibilidade.”Se aconte-cer, e eu espero que não, o Conselho Desportivo tem legitimidade, junto com a DG, para encerrar uma secção por não haver capacidade financei-ra”, afirma.

Como a maior parte das dívidas está relacionada com a equipa sé-nior masculina, é esta a mais afeta-da pela situação. Para além do facto de os jogadores “jogarem por amor à camisola”, sem terem sido pagos este ano, o coordenador do Conse-lho Desportivo duvida que a equipa possa continuar “se não tiver o apoio

da autarquia e da Universidade de Coimbra”.

Realizadas no início de novembro, as eleições definiram a nova dire-ção e o novo presidente. João Luiz Bigotte de Almeida, que assumiu o cargo, tem como plano “procurar estabilizar e garantir o arranque de uma reestruturação da secção, quer a nível da estrutura formativa, quer a nível financeira”. Em relação às dívidas, o novo responsável diz que quando entrou para a secção, em julho, “a dívida rondava perto dos 267 mil euros”. Um valor que, entre-tanto, aumentou, já que apareceram mais ordens de pagamento. No en-tanto, o dirigente pretende “pagar as dívidas que forem possíveis” duran-te o mandato.

Os amigos do basquetebolPara além - e também por causa -

dos problemas económicos, origi-nou-se um conflito no seio da SB/AAC, durante os meses de verão. No centro da controvérsia, esteve a circulação de um email, que coin-cidiu com a véspera das eleições. A chamada ‘Carta dos amigos do bas-quetebol’ propôs um programa de angariação de fundos monetários.

O antigo jogador e treinador da equipa de basquetebol da Académi-ca, António Pereira, assumiu a auto-ria da carta e explica que a iniciativa nasceu entre um grupo “dos antigos atletas, treinadores, dirigentes e pes-soas simpatizantes do basquetebol”. “É um grupo que está relativamente identificado”, explica. ”Foi uma ini-ciativa de pessoas com passado na Académica”, que se preocuparam e quiseram “que a secção não fechasse a todos os níveis”, defende.

Após as eleições, a reação à carta

fez-se sentir. O recém-eleito presi-dente da secção João Luiz Bigotte de Almeida, através de um email e de um comunicado publicado na página do ‘Facebook’ da SB/AAC, classificou a carta em questão como “manobras pouco claras”.

O Conselho Desportivo e a DG/ AAC sugeriram aos autores da ideia aguardar o lançamento da campa-nha eleitoral. “Eles conversaram connosco várias vezes antes de haver direção eleita e nós sempre dissemos que tudo o que são ideias para ajudar a secção, devem ser feitas, mas em concordância com uma direção eleita”, explica Miguel Franco. O presidente da DG, Ricar-do Morgado, por sua vez afirma que a “AAC tem as suas regras, tem os seus órgãos, o que não impede que qualquer pessoa assuma qualquer posição pública”.

Ian Ezerin

CATARINA CARVALHO

O fluxo de financiamento das fontes principais até às secções desportivas sofre atrasos e ameaça a continuidade da competição na Secção de Atletismo

Os atrasos ou falta de pagamento de verbas às secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC) e, também, a falta de apoios externos ameaçam a estabilidade da Secção de Atletismo (SA). A direção do atletismo e, em particular, o pre-sidente, Mário Rui, tem investido dinheiro próprio na organização das atividades da secção, para que

os atletas tenham condições para competir, tanto a nível nacional, como internacional.

“Tenho dinheiro investido na sec-ção há anos e não vislumbro qual-quer possibilidade de o reaver”, revela o presidente. O dirigente acrescenta ainda que costumam pagar “transportes, almoços, dor-midas” aos atletas, e que, apesar de já ter conseguido fazer alguns paga-mentos com o dinheiro do Conselho Desportivo, a situação “é crítica” e “vai ser muito complicado,” recupe-rar os fundos que avançou à SA.

A prática de os próprios dirigen-tes das secções desportivas canali-zarem os seus fundos pessoais para as atividades não é uma novidade no mecanismo de funcionamento das secções nem é questionada, como explica o coordenador do Conselho Desportivo da AAC, Miguel Franco. “Há muitas secções onde os dirigen-tes adiantam dinheiro porque sa-

bem que o vão receber do conselho”, explica. Miguel Franco garante que o método “não está em causa, mas, sim, o prazo [de pagamento]e isso não é culpa do Conselho Desporti-vo”.

Ao falar em números, o presiden-te da SA explica que, depois de re-ceberem cinco mil euros, no início do ano passado, permaneceram sete meses, entre setembro de 2012 e ju-lho de 2013, sem receber “um euro sequer” do Conselho Desportivo. Depois deste período, foram, por fim, atribuídos “cerca de dois mil euros” ao atletismo da AAC.

O principal problema, segundo Miguel Franco, é que o Conselho Desportivo da AAC vai recebendo a liquidez ao longo de um prazo prolongado. Segundo o represen-tante da AAC, foi feito um plano para que não houvesse falhas para com as secções e o combinado era que “quando chegasse o dinheiro

da Câmara Municipal de Coimbra e da Queima das Fitas” as secções re-cebessem a respetiva percentagem. No entanto, “esta percentagem está em atraso”, declara o coordenador.

Atletismo procura alternativasApesar de algumas secções conse-guirem encontrar fontes alternati-vas de apoio, Mário Rui explica que a SA não é uma delas e que subsiste, em exclusivo, com o dinheiro atri-buído pelo Conselho Desportivo. Não conseguiram, até ao momento, obter patrocínios. “Todos gostam de , mas quando se bate à porta de alguém para pedir qualquer coisa já não há, não está previsto”, lamenta o responsável da SA.

A inconstância na chegada das verbas reflete-se, em particular, na vertente competitiva da secção. Má-rio Rui salienta que este ano não há ânimo na equipa masculina, devido

à saída de muitos atletas que “aca-baram por se ir embora porque nou-tros lados encontraram alguém que lhes deu apoio financeiro”.

No entanto, o presidente insiste na necessidade de ter uma equi-pa competitiva. “A Académica já chegou a um patamar em que tem de optar: ou compete ou desiste”, salienta Mário Rui.” A camisola da Académica não merece andar a gastar-se pela pista”, completa. Para garantir o futuro competiti-vo da SA e mantê-la visível, o foco está, neste momento, a ser desviado para as atletas da secção. Caso esta alternativa seja ineficaz, em relação ao futuro da secção, Mário Rui pers-petiva a possibilidade de a vertente competitiva deixar de fazer parte do plano das atividades do atletismo da AAC. “Para o ano vamos ter que tomar uma decisão: ou acaba ou fica só com a formação, porque temos jovens, crianças”, anuncia.

Financiamento irregular do atletismo compromete atividades

Ian EzerinMiguel Malato

Dívida ultrapassa 250 mil eurosSECÇÃO DE BASQUETEBOL DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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14 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

CIÊNCIA&TECNOLOGIA

A divulgação científica tem perdido popularidade junto do público. Atividades do Dia Nacional da Cultura Científica e da Semana da Ciência e Tecnologia procuram derrubar esta barreira. Por Maria Eduarda Eloy

O Dia Nacional da Cultura Cientifica, que se assi-nala a 24 de novembro,

destaca-se nas comemorações da Semana da Ciência e Tecnologia 2013. A data não foi escolhida ao acaso. Coincide com o aniversá-rio do nascimento do historiador de ciência, poeta e professor de Físico-Química, Rómulo de Carva-lho. “Cultura científica é a ligação da ciência à sociedade”, por isso, “nada melhor do que a figura do Rómulo de Carvalho para ligar a ciência com o mundo”, afirma o fundador e diretor do RÓMULO - Centro Ciência da Universidade de Coimbra (UC), Carlos Fiolhais.

Mais do que uma efeméride que festeja a ciência, o Dia Nacional da Cultura Científica, é, para o também professor catedrático do Departamento de Física da UC e investigador, um momento para “alertar também para os perigos que enfrenta”.

O investigador refere-se em par-ticular à diminuição do interesse do público pela cultura científica em Portugal e ao desinvestimento governamental na investigação. “A Fundação para a Ciência e a Tec-nologia (FCT), que é quem subsi-dia a ciência, ignora pura e sim-plesmente a cultura científica, e isso é algo preocupante”, adverte.

Opinião semelhante é veiculada pelo diretor do Museu da Ciência da UC, Paulo Gama Mota, que critica também a postura atual

da FCT. Salienta que o financia-mento para a ciência “tem vindo a ser perigosamente diminuído” e que “a própria FCT anunciou que iria deixar de atribuir bolsas para projetos de investigação e para a divulgação da ciência, o que é um erro”.

Carlos Fiolhais acredita que esta tendência atual deve ser contra-riada, caso contrário, a sociedade corre o risco de sofrer uma estag-nação ao nível do desenvolvimen-to científico a longo prazo. “Se a ci-ência não continuar a progredir, a certa altura teremos uns artefactos na nossa mão e seremos uns igno-rantes na posse de uns aparelhos que nem sequer sabemos nem re-parar nem fazer melhor”, acautela. “E isso vai ser o fim da sociedade tal como a conhecemos”, lamenta. O investigador acredita, no entan-to, que pode haver inversão desta tendência se o “público mostrar interesse pela cultura cientifica e fizer crer ao governo que está per-feitamente equivocado” sobre a cultura científica.

“Independentemente de estar-mos a viver uma situação de finan-ciamento muito reduzido para a investigação científica”, a ciência “é crucial para o desenvolvimento da sociedade como a conhecemos e em particular para o desenvol-vimento do país”, afirma Paulo Gama Mota. Da mesma forma, um dos diretores do Exploratório Cen-tro Ciência Viva de Coimbra, Vic-

tor Gil, considera que “a cultura científica é inalienável nesta preo-cupação de pôr as pessoas a pen-sar pelas suas próprias cabeças”.

O diretor do Museu da Ciência da UC louva, por isso, as inicia-tivas do Dia Nacional da Cultura Científica, que contribuem para “promover a cultura científica”, através de atividades que tentam

“ajudar as pessoas a interessa-rem-se”, enquanto se divertem “e aprendem coisas novas”

Uma semana de cultura científicaO Museu da Ciência, o Explora-tório e o RÓMULO são parte das instituições de cariz científico que participam de forma ativa no Dia

Nacional da Cultura Científica.O Exploratório reabre em ex-

clusivo para assinalar a data. Na sexta, 22, acolhe uma palestra so-bre “O desvendar da informação em imagem médica”, pelas 18h30. Victor Gil adianta que os interve-nientes são o professor jubilado da Faculdade de Medicina da UC (FMUC), João Pedroso Lima, e o docente da FMUC, Nuno Ferreira. O objetivo é, segundo Victor Gil, “tentar praticar que é ter a inter-venção de uma pessoa reformada a par de uma pessoa no ativo, se-guramente mais jovem”. No mes-mo local, dia 23, é exibida uma peça que alia ciência e teatro, “En-cerrado para Obras com Excertos de Ouro Azul”, pelas 17h00. A pri-meira exploração do Espaço Mul-ticiência vai ser feita no domingo, 24, com animação por elementos da companhia Encerrado para Obras.

As atividades do Museu da Ci-ência englobam ateliês para crian-ças, visitas gratuitas ao domingo, a apresentação de um livro, além da conferência “Aplicação de Tec-nologias Digitais à Comunicação de Ciência”, pelas 15h00 do dia 21, e do jantar mistério intitulado “Quem matou o gato de Schrödin-ger?”, no dia 23, às 20h30. Por fim, o RÓMULO acolhe na segun-da, 25, a homenagem ao chamado “avô dos dinossauros”, o investiga-dor na área de Geologia, Galopim de Carvalho, pelas 16h30.

Todas as atividades são gratui-tas, com exceção do Jantar Mis-tério e dos ateliês do Museu da Ciência.

A Escola Superior Agrária de Coimbra, e vários departamentos da Faculdade de Ciência e Tecno-logia da UC organizam também eventos ao longo da toda a sema-na. As atividades de norte a sul de Portugal podem ser consultadas no sítio web Ciência Viva.

Cultura científica educa contra o desinteresse

ARQUIVO - RAFAELA CARVALHO

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 15

CIDADE

Pensionistas e reformados de Coimbra contestam cortes nas pensões, previstos no Orçamento de Estado para o ano de 2014. Reivindicam mais apoios e apelam aos estudantes universitários para se juntarem às ações de contestação. Por João Martins

Reformados e pensionistas de Coimbra juntaram-se ao movimento nacional

de contestação do Orçamento de Estado (OE) 2014. Protestam contra a aprovação do documen-to porque acreditam que vão ser lesados caso seja aprovado. O OE 2014 prevê um corte na ordem dos dez por cento para as pen-sões do Estado superiores a 600 euros, caso seja aprovado sem alterações. A medida afeta todos os pensionistas da Caixa Geral de Aposentações (CGA).

Para a presidente da Associa-ção de Aposentados, Pensionis-tas e Reformados (APRe!), Maria Rosário Gama, estas medidas figuradas no OE, em relação aos cortes nas pensões da CGA, vão provocar uma “mudança radical, porque as pessoas não se satisfa-zem só com o comer e dormir, há outras necessidades, nomeada-mente em termos culturais”. As pessoas “não têm vencimentos tão grandes que possam sofrer cortes de dez por cento”, acusa.

Reformado, Albino Rodrigues, trabalhou durante 45 anos na área seguros. Considera que é “mais uma das vítimas do ‘rou-bo’”, termo com que classifica os cortes. Albino Rodrigues, que não tinha previsto os cortes súbi-tos, refere que a alternativa não é

ficar em casa e que é necessário “mostrar que os reformados es-tão vivos e que não estão dispo-níveis, nem dispostos a suportar isto”. Já Neisy Carsesia, também reformada, considera lamentável o tratamento que os reformados e os pensionistas têm tido. Refere que “é inadmissível que este con-tingente humano, que deu muito de si, da sua energia, da sua vida, do seu melhor durante anos a fio, esteja nas condições em que está hoje”.

Ações em CoimbraDesde o início do mês novembro que a APRe! tem promovido ma-nifestações simbólicas em vários espaços movimentados na cida-de, que se traduzem em vigílias noturnas. A associação foi criada em 2012, e tem como objetivo garantir os direitos dos reforma-dos e pensionistas, uma vez que, nesta faixa etária, não são abran-gidos por estruturas de represen-tação legal, como os sindicatos.

A dirigente da associação con-fessa que as ações têm apenas um caráter denunciativo, e que “fun-ciona também como uma forma de pressão sobre o Presidente da República, para que submeta para o Tribunal Constitucional os documentos quer do OE, quer da lei que prevê a convergência das

pensões”. Esclarece ainda que “não se podem fazer manifesta-ções porque não há mobilização suficiente”.

No caso específico de Coimbra, Maria Rosário Gama espera que se constitua “uma comissão de proteção ao idoso em risco, por-que neste momento há idosos que têm de optar entre comer e pagar remédios”. Acrescenta ain-da que “as câmaras deviam ter um papel importante”. Apesar de desconhecer as intervenções da Câmara Municipal de Coim-bra (CMC) nesta área, afirma que gostaria que agisse em prol dos idosos.

Apelo aos jovens“Os protestos não deviam ser só dos idosos, deviam ser dos jo-vens”, quem o diz é também a presidente da APRe!. Da mesma opinião é Albino Rodrigues, que refere que para além dos cortes nas pensões, os reformados são “ainda confrontados com proble-mas que advêm do desemprego dos filhos”. Acrescenta que tem de “contribuir para os ajudar nesta situação difícil”. “A luta é por nós, mas também pelos fi-lhos”, ressalva.

A presidente da associação vai mais longe ao afirmar que “a universidade devia ser o mo-

tor da revolução” e que “a Festa das Latas e a Queima das Fitas não têm significado em termos de contestação”. Os estudantes “deviam ser mais ativos no pro-testo”, declara. Também, na opi-nião de Neisy Carsesia, as cama-das mais jovens devem participar nestas iniciativas, mas não só. A idosa afirma, mesmo que todos os estratos sociais, deviam ter participação ativa nas ações rei-vindicativas.

Até ao fecho desta edição o Jor-nal Universitário de Coimbra - A Cabra tentou entrar em contacto com a CMC, mas não foi possível obter resposta atempada.

Reformados contestam cortes nas pensões

CATARINA CARVALHO

Maria Rosário Gama alerta para a impossibilidade da população idosa em suportar cortes de dez porcento

CATARINA CARVALHO

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16 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

PAÍS & MUNDO

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Macau foi reintegrado na República Popular da China (RPC) a 20 de

dezembro de 1999. 14 anos após a perda da soberania portuguesa da região, o português mantém--se como língua oficial. Mas, de acordo com dados dos censos do Departamento de Serviços de Es-tatística e Censos do Governo de Macau, realizados em 2011, apenas 0,6 por cento da população falava português como língua principal. O único deputado da Assembleia Legislativa de Macau (ALM) com nacionalidade portuguesa, José Pereira Coutinho, afirma que “es-ses números não são fiáveis, por-que as estatísticas são feitas de forma artificial”. Nas palavras do professor do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Carlos Ascen-so André, “Macau não tem nada a ver com Portugal a não ser uma ligação histórica de muitos séculos porque a China assim consentiu”, o que reflete o final do colonialismo português.

Com cerca de 552 mil habi-tantes, 90 por cento são de etnia chinesa e apenas três por cento de origem portuguesa. Embora a população falante de português te-nha sido sempre muito reduzida, a língua portuguesa é a marca distin-tiva de uma pequena comunidade de lusodescendentes. No entanto, como explica o diretor do jornal Hoje Macau, Carlos Moreira José, “existem descendentes de portu-gueses que já não falam português, em geral os pertencentes às classes sociais mais baixas”. O diretor do Hoje Macau acrescenta ainda que “muitos descendentes de casais lu-so-chineses também não aprende-ram português”, consequência do antigo descuido de Portugal com o ensino do idioma na sua ex-co-lónia. Como explica a diretora do jornal macaense Ponto Final, Ma-ria João Caetano, “durante o perí-odo da administração portuguesa houve poucos incentivos à apren-

dizagem da língua portuguesa”. O conjunto de falantes de português reduz-se a uma pequena percen-tagem, “composta, sobretudo, por quadros superiores e pessoas das classes altas”, destaca Moreira José. A este conjuntos, o deputado da ALM acrescenta os funcioná-rios públicos, mas afirma que estes “não lhe atribuem qualquer impor-tância cultural, apenas o fazem por uma questão de necessidade”.

Interesse pela aprendizagemcresce na ChinaNo entanto, “a China tem demons-trado interesse em promover a lín-gua portuguesa em Macau”, realça Moreira José. Com a intensificação das relações económicas entre a China e os países de língua oficial portuguesa, Macau tem desem-

penhado um papel mediador, ao atuar como plataforma de inter-câmbio comercial mas, também, cultural. É neste contexto que se insere uma procura cada vez maior pelo ensino da língua portugue-sa na China. Segundo o diretor do jornal Tribuna de Macau, José Diniz, “a própria RPC instalou um fórum para a cooperação comer-cial e económica com os países lusófonos aqui em Macau, o que veio demonstrar esses laços”. “É uma prova de que está muito inte-ressada na continuidade da língua portuguesa e isso também se nota pelo crescente número de alunos a aprender português”, destaca.

Segundo o professor do IPM “existem em toda a China cerca de 20 universidades com licenciatura em português”. A realização do fó-rum Macau, entre 5 e 6 de novem-

bro de 2013, quando a China anun-ciou a criação de um fundo de mil milhões de dólares para projetos ligados à lusofonia é um forte sinal do interesse da China pelo portu-guês. Como afirma o conselheiro cultural da Embaixada chinesa em Portugal, Shu Jianping, “Macau é uma plataforma que a China utiliza para estreitar as suas relações com os países lusófonos”. O conselhei-ro cultural da embaixada da RPC acrescenta que “a China tem mui-tos interesses nas relações econó-micas com o Brasil e os países afri-canos de língua oficial portuguesa, como Moçambique ou Angola”.

Meios de comunicação lusófonos são a principal via de difusãoO papel da imprensa lusófona na difusão da língua também não

pode ser ignorado. Além dos três jornais diários já referidos, existe ainda o Clarim, um semanário ca-tólico e uma estação de televisão e rádio, a Teledifusão de Macau, que também emite em chinês. Se-gundo o diretor do Hoje Macau “os jornais portugueses são utilizados em contexto escolar para aprendi-zagem de português, já que os tex-tos jornalísticos são mais simples do que os textos literários”. Os meios de comunicação têm ainda uma importância significativa “na divulgação do português, não só em Macau como nas regiões adja-centes” afirma Pereira Coutinho. O deputado relembra ainda que “os serviços públicos lêem os jornais portugueses. Muitas notícias são mesmo traduzidas e reproduzidas nos jornais chineses” conclui Pe-reira Coutinho.

Em Macau, apenas três por cento dos 552 mil habitantes são de origem portuguesa

Português torna-se língua secundária em Macau

ANDREIA SILVA

A percentagem de falantes de português como língua principal é reduzida. O interesse pelo ensino e pela aprendizagem dalíngua portuguesa como idioma secundário cresce na China. O papel dos meios de comunicação lusófonos é reforçado. Por Pedro Martins, Mariana Ribeiro e Luís Saraiva

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QuEm tEm mEdo da paridadE?CATARINA MARTINS*

Na última Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra, uma corajosa estudante apresentou a proposta da introdução da parida-de nas eleições para a Direção-Geral. O resultado não foi surpreendente – a recusa da proposta com apenas 11 votos a favor e 93 votos contra – mas preocupante, tendo em conta que a AAC representa um universo maioritariamente feminino, onde as mulheres estudantes dominam em número e em sucesso nos diversos níveis e áreas de formação académi-ca. Tendo em conta que as mulheres transformaram a academia de Coim-bra, como se explica a fraquíssima presença no órgão que politicamen-te as devia representar? A resposta está, como explicava, e bem, a estu-dante que apresentou a proposta, no machismo que ainda reina entre os/as estudantes e na falta de perceção de determinadas realidades, que vão da praxe à violência entre casais, como manifestações de um profundo sexismo. Trata-se, no fundo, de algo que também conhecemos na realida-de exterior à universidade, mas que se torna acrescidamente preocupan-te se pensarmos que os/as estudan-tes representam a elite que deveria mostrar uma consciência cívica mais desenvolvida e um empenhamento mais alargado no combate a todas

as formas de discriminação. Como este caso demonstra, não é assim, e toda a universidade devia sentir-se interpelada no sentido do exercício da sua mais nobre função: a da for-mação para a cidadania. Não existe cidadania plena sem igualdade e a paridade tem sido um instrumento comprovadamente útil para a con-quista progressiva da igualdade na representação política, em Portugal, na Europa e noutros continentes.

Em vigor desde 2006 em Portu-gal, a Lei da Paridade estabelece um sistema de quotas para garantir a participação de ambos os sexos nos órgãos de decisão política. O meca-nismo de quotas não passa de um instrumento para alcançar algo mais vasto: a igualdade indispensável a uma democracia digna desse nome. Paridade significa o reconhecimen-to da amputação violenta de que a democracia representativa padece desde a sua criação na sequência da Revolução Francesa, momento em que os Direitos do Homem e do Cidadão foram conjugados no mas-culino, excluindo metade da huma-nidade. A partir daqui consolidou--se um conceito de poder político androcêntrico, assente numa clara separação entre o espaço público e o espaço privado. Combater esta ex-clusão constitui um dever de todos/

as aqueles/as que acreditam na justi-ça como fundamento da democracia. Qualquer estratégia não violenta que conduza à concretização da igualda-de democrática é legítima e urgente neste combate.

Os debates que rodearam a imple-mentação da lei em Portugal centra-ram-se sempre nas quotas, e jamais no fundamental – a igualdade. Os argumentos contra a lei assentam em premissas erradas, como: 1) “as mulheres não participam na polí-tica porque não querem”, o que é falso, porque em amplos sectores de movimentos sociais as mulhe-res estão em clara maioria; 2) “as mulheres não têm lugar nas listas partidárias por falta de mérito” ou a ideia de que beneficiá-las cons-titui um paternalismo que rebaixa aquelas que possuem esse mérito. Um absurdo: tendo em conta o su-cesso conquistado pelas mulheres nos mais variados domínios e que nenhuma prova de mérito é exigida aos homens, este argumento dirige justamente a atenção para o machis-mo como origem do fechamento da política e das lideranças formais ao sexo feminino; 3) o argumento do republicanismo liberal do modelo francês de que conceder direitos es-peciais a um grupo identitário espe-cífico constitui não só uma restrição

de escolha para os cidadãos como o favorecimento da representativida-de de identidades e não de ideias. Ora,as mulheres não são um grupo minoritário e a restrição de escolhas está realmente estabelecida no facto deos homens se apresentarem como opção ultramaioritária na política, a montante dos atos eleitorais, em estruturas partidárias semelhantes a clubes restritos ao sexo masculino. Para além disso, assegurar a repre-sentação das mulheres conduz a um incremento na diversidade de ideias nos programas partidários.

Quem tem medo da paridade? Apenas aqueles que vêem o seu po-der ameaçado por aquelas que, no mundo académico ou profissional, os ultrapassam e põem em causa a sua pretensa superioridade machis-ta. Estes homens sabem que a polí-tica se tornará tanto mais exigente quanto maior for a representação feminina, porque esta representa-ção aproximará dos debates uma maioria que se sentia excluída. Não são elas que estão de fora por falta de mérito, mas são eles que fecham a porta por terem medo de não possu-írem um mérito que, de facto, jamais lhes foi exigido.*Professora Auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra

Não existe cidadania plena sem igualdade e a paridade tem sido um instrumento comprovadamente útil para a conquista progressiva da igualdade na representação política, em Portugal, na Europa e noutros continentes

Cartas à dirEtora

Cartas à diretorapodem ser

enviadas para

[email protected]

20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 17

OPINIÃO

“saborEs dE sEmprE por um prEço Fixo”BRUNO CALHEGAS*

Os Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC) iniciaram uma campanha publici-tária enganosa, via Facebook, cujo slogan é “Sabores de sempre por um preço fixo”! Porém, rapidamente ocorreu-me um flashback.

Perante esta reflexão sou levado a identificar vários erros de funcio-namento dos serviços sociais. Tenho de repudiar todo o conjunto de ad-ministração, liderado pela timonei-ra Regina Bento, e ainda a postura fria e desumana da equipa reitoral, in http://www.acabra.net/artigos/cortes-iminentes-na-ao-social-da--uc (Margarida Mano). No entanto, gostaria de salientar a dedicação e o árduo trabalho, em prol dos SA-SUC, desenvolvido pelos estudantes--trabalhadores e pelos funcionários comuns (confeccionam refeições, limpam os espaços universitários, tratam dos processos de bolsas/alo-jamento).

São de domínio público as decla-rações irrisórias proferidas pela ad-ministradora e os seus ajudantes aos órgãos de comunicação social, prin-cipalmente Cabra e RUC, o que me leva a colocar as seguintes questões.

Há quanto tempo não adquires um prato social, onde o prato principal é composto por um destes elemen-tos - salmão, bacalhau, lulas, pato, fêveras, frango, peru, sardinha, bife de seitan, ou até mesmo de pratos como rancho ou feijoada – em vez das carnes picadas, carapaus, abró-teas e fiambres à la carte? Quem se lembra de ir às “Baguetes” e com-prar uma lata de Coca-Cola ou Pepsi, em vez de um refrigerante da marca DIA? Sabias que não existem in loco muitos dos ingredientes que te “ofe-recem” para elaborares um prato do menu Pastas Negras (custa 5 euros, pergunto-me onde está a capacidade gerir destes génios!)? Quantas vezes, no último ano, foram às “Baguetes”e não havia vegetais, a não ser cebola e cenoura? Sabias que a arrogância desta administração dos SASUC é de tal ordem que nunca houve nenhu-ma reunião, nem uma palavra de apreço, com os estudantes-trabalha-dores (nos quais eu me incluía, desde 2009, e que vimos ser-nos retirado o acesso à época especial de exames)? Sentiste que os funcionários comuns apresentam sinais de desmotivação? Quanto tempo esperas para marcar

uma consulta de especialidade nos serviços médicos? Consegues ter tempo para almoçar nas cantinas, devido às filas? Já reparaste na origi-nalidade do prato social, os mesmos ingredientes ao almoço e ao jantar? Sabias que é quase impossível aos cozinheiros cumprir a ementa sema-nal do prato social, devido à falta de géneros alimentares? Quantas vezes já foram enganadas com o prato so-cial, tortilha sem recheio ou carbo-nara inundada em natas para disfar-çar a falta de bacon?

Tenho a noção que vivemos tem-pos difíceis, mas nada justifica estes erros de gestão causados pela admi-nistração. Contudo, existem elemen-tos capazes de levar a bom porto a gestão dos serviços sociais, de forma a torná-lo abrangente a toda a co-munidade universitária como foi até há bem pouco tempo. Ainda sou do tempo em que as pessoas que admi-nistravam os SASUC, e muito bem, eram pessoas que subiam a pulso dentro do organograma, como foi o caso do Doutor Luzio Vaz - para quem desconhece, foi estudante--trabalhador e mais tarde tornou-se no mais ilustre administrador que os

SASUC já tiveram.Estou certo do caminho errado

que os serviços levam, muita coisa mudou com a chegada desta ad-ministração. Não se pense que não haverá mais cortes, basta analisar o caso da lavandaria, das cantinas, das condições das residências e das repúblicas, da diminuição do for-necimento alimentar às repúblicas, dos serviços médicos, da secção de textos.

O meu prazo de colaborador, que é um termo que me enoja, pois de-veria ser trabalhador, findou. Foram quatro anos e dois meses onde fritei, cobrei, limpei e, principalmente, confeccionei milhares de baguetes. Olhando para trás, orgulho-me da-quilo que fiz e dos laços amizade que criei com centenas de pessoas, tenham sido clientes ou colegas de trabalho. Agradeço a todos. Espe-ro voltar e encontrar nas unidades alimentares, se possível na cantina amarela, os verdadeiros sabores de sempre e por um preço fixo!

*Estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra

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dE

Miguel gonçAlveS MendeS

Em Exibição

19 de noveMbro

cASA dAS cAldeirAS

dE

Faith morgan

Em Exibição

27 de noveMbro

cASA dAS cAldeirAS

AG

EN

DA

“ ”Autografia

Durante três anos, servindo-se de câmaras emprestadas, Miguel Gonçalves Mendes andou à volta do mundo de Mário Cesariny, no que era um exercício para a Escola de Cinema – quem escrevera aqui-lo e porque é que escrevera e para quem. Com a pressa, Mário pôs-se nu, cadáver de cigarro na mão, ve-terano e suado, condenado e sobre-vivente, numa performance quase escusada, com a energia de quem correu a marinha toda aos vinte anos. Miguel dividiu-o em três actos e deu-lhe um final de plano rasante, como quem lhe concede um desejo. Mário riu-se e ordenou-o cavaleiro na Cinemateca Portuguesa, na ante--estreia de Autografia, dois anos an-tes de morrer.

No fim do fim da cidade habita-

da, o irmão mais novo, um morto de olhos abertos, grato pela atenção, divaga a falar para o boneco sobre o amor, o pai, a ditadura, o purrealis-mo, a sua incapacidade de escrever versos em casa e a sua preferência pela pintura; isto só serve para fo-der, amar e morrer. E vai de novo à janela, farto de um povo menino, que já não tem pessoas, num lugar com o tecto demasiado baixo para ser país.

A condição solene e ilusória do filme-documentário é desmantelada pelo seu amadorismo, sem nunca ser estrangulado ou transformado em museu (ao contrário de José e Pi-lar). À falta de metal fundente, Au-tografia é a receita de sempre com um ingrediente mágico. E no final, deixam-no ir para casa sozinho.

“ ”O poder da comunidade: como Cuba sobreviveu ao pico do petróleo

As Sessões do Carvão deste mês propõe-nos um périplo de docu-mentários que vão da América La-tina ao coração de África. Destaque para The Power of Community: How Cuba Survived The Peak Oil Crisis. Um título longo para um do-cumentário de média duração lan-çado em 2006 que nos faz recuar ao início dos anos 90 onde tudo co-meçou. De produção independente, reflectindo-se no errático discorrer de uma imagética que não deixa de ser rica, apanágio de muitos docu-mentários do género. O tema abor-

SESSÕES DO CARVÃO

dE

MAnoel de oliveirA

Em Exibição

25 de noveMbro

tAgv

“”

Palavra e Utopia

Palavra sem utopia CRÍTICA DE PEDRO TRENO

Da mesma maneira que em “‘Non’ ou A Vã Glória de Man-dar”, realizado em 1990 (uma dé-cada antes), o filme começa com um longo plano em contra-pica-do, oscilando entre árvores e o céu enquanto fundo. A história de Portugal é aqui de novo o mote, desta feita com a figura de Antó-nio Vieira, padre e missionário no Brasil colonial do século XVII. Outro plano que tem como géne-se a natureza, e que é sistematica-mente repetido, mostra as ondas do mar filmadas dentro de uma embarcação enquanto se ouvem os sermões em voz-off, como se estes fossem pertença do oceano que separa o país da sua colónia.

Porém, este naturalismo con-sequente não passa para o resto

da narrativa, que compila uma biografia da personagem em questão, dividindo-se em três fa-ses da sua vida: juventude, idade intermédia e velhice. Sendo esta a premissa, o realizador apressa--se numa historiografia exausti-va, com pouco fôlego para poder valorizar a “palavra” e (muito menos) a “utopia” que rodeiam a obra de António Vieira. Estamos longe do jogo de experiências feito entre o sagrado e o profano (presente, por exemplo, em “Acto da Primavera” e “Benilde ou a Virgem Mãe”), ficando Oliveira pela análise passiva e um tanto académica da figura complexa que escolheu abordar.

Não se retire a importância mas também não se sobrevalorize.

CINEMA À SEGUNDA

18 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

ARTESFILA K

O ouro negro sem ouroCRÍTICA DE SAMUEL FERREIRA

Murchos estamos nósCRÍTICA DE RITA LEONOR BARQUEIRO

SESSÕES DO CARVÃO

20 dE novEmbro koyaanisQatsi (1982)

godFrEy rEggio

20 dE novEmbro

poWaQQats (1988)

godFrEy rEggio

CINEMA À SEGUNDA - TAGV

2 dE dEzEmbro a vida dE adèlE: Capítulo 1

abdEllatiF kEChiChE

9 dE dEzEmbro a vida dE adèlE: Capítulo 2

abdEllatiF kEChiChE

16 dE dEzEmbro thE grand mastEr

dE Wong kar Wai

FILA K

10 dE dEzEmbro

luz dE invErno

igmar bErgman

3 dE dEzEmbro

a palavra (1955)

Carl thEodor drEyEr

26 dE novEmbro

10 on tEn (2004)

abbas kiarostam

dado é de uma pertinência cada vez maior numa era em que a relação esquizofrénica da humanidade com o ouro negro atinge o seu climax. Quando muitos tentam perceber como viver sem petróleo, Cuba dá o exemplo. Um país forçado a servir de tubo de ensaio para essa ater-radora experiência social, cultural e económica mostra que há vida além do petróleo e que a realidade e o mito convivem entre as verde-jantes montanhas cubanas. Com sólidas bases históricas e factuais, é um documentário interessante com laivos de assombramento, pecando apenas por uma edição quase psica-délica não aproveitando totalmente as muitas recolhas da vida cubana durante este período de transição.

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OUVIR LER

JOGAR

Quem acompanha as dinâmi-cas da atualidade já terá de-certo ouvido o nome de Ma-

lala. Mas “quem é Malala?” – como aponta o título -, foi, a pergunta proferida pelo Talibã que disparou três vezes sobre a jovem paquista-nesa, naquela manhã de exames, em outubro de 2012, que parecia mais uma como outras, dividida entre a normalidade aparente e o medo ine-rente àquele contexto.

Apesar do tom colérico que po-derá ser estimulado no leitor pelos próprios contornos que a história encerra, o livro não é, ainda assim, menos fascinante. É a história de uma rapariga talentosa confrontada com os acontecimentos complexos e tumultuosos da política do Paquis-tão e da cultura Pashtun. É a histó-ria que expõe abertamente, através de uma descrição sagaz, os detalhes da ocupação Talibã, em paralelo com narrações estimulantes sobre a vida de uma rapariga num paraíso remoto do Paquistão, na região do vale Swat. Escrita em coautoria com Christina Lamb, uma famigerada repórter de guerra acautelada pela crítica como uma narradora exímia, Malala mostra porque já é um fenó-meno, porque já discursou perante as Nações Unidas e porque já esteve nomeada para Prémio Nobel da Paz.

A batalha principal de Malala – a de garantir educação a mulheres e raparigas - é hoje um debate central, numa altura em que a comunidade internacional debate a agenda de desenvolvimento pós-2015. A ONU revela que mais de 57 milhões de ra-parigas são ainda privadas do acesso à educação e relembra que a educa-ção de raparigas tem efeitos mul-tiplicadores de desenvolvimento. Na consulta global promovida pela ONU – “Meu Mundo – O mundo que queremos” -, a educação como prioridade para o pós-2015.

O respeito a Malala e à sua histó-ria exigem uma leitura atenta que não pode levar a debates primários e perigosos. Exige-se espírito crítico. Não esqueçamos o que o jornalista Assad Baig escreveu no The Hu-ffington Post: “o salvador, o Ociden-te, sequestrou a mensagem de Ma-lala. O mesmo Ocidente que matou mais raparigas que os Talibã e que já negou a educação a mais raparigas, por via das balas, do que os extre-mistas”. A história de Malala deve – apenas e unicamente - impulsionar mudanças e não merece ser usada como propaganda de uma pretensa superioridade moral. É também por isso que saber quem é Malala se tor-na importante.

Controverso, David Cage é o louco progressista que há dez anos tenta fazer dos videojo-

gos um meio digno de comparação com o cinema. Infelizmente, a sua carreira mostra que esse caminho ainda está por trilhar. Cage é um dos poucos criadores ocidentais que pensa (sim, pensa!) o desenho da in-teracção como forma de enriquecer a experiência estética e narrativa... o problema é que não sabe escrever um enredo que não seja estereotipa-do e fantasioso ao ponto de queimar qualquer relação com o seu mundo ficcional. Felizmente em “Heavy Rain”, a trama estava secundarizada face a um foco no desenvolvimento de personagens; o resultado é a sua melhor obra até hoje. Depois de Hé-las, atacado pela crítica de ser pouco lúdico e demasiado melodramático, parece que a Sony estabeleceu como encomenda para a sua sequela es-piritual menos telenovela e mais espectáculo. Logo, toca a introduzir cover-combat e acção militar no mé-dio oriente (clara tentativa de captar o público de “Call of Duty”), e para entusiasmar as massas, nada como um enredo idiota com mil e um twists paranormais à Hollywood, todos cheios de surpresa oca e Los-

tiana, e todos roubados de filmes, jogos e séries populares - de “Carrie” a “Metal Gear” a “X-files”.

Cage é péssimo argumentista, mas é um autor que sabe o que os jogos precisam: menos jogo e mais humanidade. Por isso ele renega os dogmas usabilísticos, recusa a con-cepção do jogo como sistema de re-gras, escolhe actores reais para ba-sear as suas personagens, esforça-se para a animação facial delas ser emocionalmente expressiva, investe tanto num motor gráfico realista (o mais impressionante desta geração) e busca enquadrar no vocabulário interactivo não só acção como inti-midade e relações humanas. Donde, mesmo não sendo o seguimento ide-al a “Heavy Rain”, “Two Souls” pelo menos tem momentos que ficarão connosco para sempre (por exem-plo, aquela que será a primeira trai-ning montage da história do meio, uma cena onde vemos Ellen Page tornar-se agente da CIA em curtos desafios montados ao ritmo aluci-nante de mini-jogos “Warioware”). Sejamos honestos: “Two Souls” é um falhanço tremendo. Mas é tam-bém, a par de “Last of Us”, o único jogo que está a falhar na direcção certa.

Eu, Malala”

RUI CRAVEIRINHA

VASCO BATISTA

Reflektor”

A música é muitas vezes uma questão de espaços, numa construção de uma nostal-

gia, mais ou menos artificial. E em Reflektor,mais do que a tão profe-tizada mudança na sua sonoridade, opera-se, acima de tudo, uma mu-dança da imagética tão própria dos Arcade Fire. Na sua música já não encontramos o espaço suburbano isolado das ansiedades citadinas que reacende o fogo emocional das juventudes. Vão desaparecendo os sonhos de candeias perdidas na noite, sirenes da polícia, neve, ór-gãos de igreja ou calores perdidos de verão. Com Reflektor, os Arcade Fire deixam para trás os laranjas do fim de tarde suburbano e instalam--se na noite citadina, fervilhante e misteriosamente tensa. Luzes, câ-maras, acção. As pessoas deixam de o ser para se transformarem nas “cabeças cheias de som a andar de um lado para o outro, agindo como se não existíssemos”. As relações não passam de reflexos virtuais. O

ritmo é frenético. E não vale a pena resistir.Atrás das mudanças encontramos James Murphy. A cidade fer-

vilha-lhe no sangue. E instala, melhor do que ninguém, os Arcade Fire na sua nova casa. A influência dos LCD é grande em Reflektor. Na música, nos temas, até na voz de Win Butler. E nas influências. Rendemo-nos à Cosmopolis. Na cidade habita o ritmo incessante dos Talking Heads, as referências Dub à la Sandinista, recordações luminosas do Disco, ecos de Achtung Baby, um cheirinho a Black Keys e o caleidoscópio Bowie em quase omnipresença.

Embora a imagética mude, a música permanece Arcade Fire. A voz de Régine a resfriar melodicamente, os crescendos épicos e dilace-rantes, os coros antecipando a loucura em uníssino em concerto, as calmarias melancólicas. O quarto álbum dos Arcade Fire está longe de ser perfeito, e muitos dos seus temas, na ambição de tornar cada um num marco, perdem a força na imensidão dos seus mais que 6 minutos. Distancia-se dos anteriores na solidez conceptual. Mas o próprio conceito de Reflektor pede falta de solidez. Vê-se recuperada a força de Funeral, e mantém-se a essência que nos fez apaixonar ao longo destes 9 anos pela banda de Montreal. Opera-se não uma revolução, mas uma reformação. E inovando, Reflektor lembra-nos o quão bom é voltar a surpreender-nos com Arcade Fire.

Here comes the night time

dE

ArcAde Fire

Editora

univerSAl MuSic

2013

GUILHERME QUEIROZ

dE

malala yousaFzai, Christina lamb

Editora

Editorial prEsEnça

2013

Malala não merece distorções, nem o mundo precisa de mais mal-entendidos

plataForma disponívEis

pS3

Editora

Scee

2013

Heavy Rain… agora com tiros

Artigos disponíveis na:

GUERRA DAS CABRAS

A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha

A Cabra d’Ouro

Beyond Two Souls - PS3”“

““

20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 19

FEITAS

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20 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

SOLTASNÚCLEOS AAC

28 dE novEmbro visitas guiadas ao CEntro dE Estudo dE matEriais por diFração dE raios x

14h30

26 dE novEmbro visitas guiadas aos laboratórios do dEpartamEnto dE FísiCa

lip+gian

14h30

20 dE novEmbro “dQ tEm talEnto”

átrio do 2ºAndAr do depArtAMento de quíMicA

21h00

entrAdA livre

NEDF/AAC

NEB/AAC

19 dE dEzEmbro

Jantar solidário

centro culturAl

doM diniS

20 euroS

NEQ/AAC

25 dE novEmbro

visita téCniCa ao aprovEitamEnto hidroElétriCo do ribEiradio

todo o diA

5 euroS coM AlMoço incluído

inScriçõeS Até 20 de noveMbro

NEEC/AAC

até 21 dE novEmbro

proius - Fórum dE EmprEgo da FaCuldadE dE dirEito da univErsidadE dE Coimbra

NED/AAC

todo o ano

[dEs-FoCa-tE]

clube de FotogrAFiA do núcleo

AceSSo livre

MAiS inForMAçõeS nA páginA httpS://www.FAcebook.coM/deSFocA.te

NEPCESS/AAC

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NEF/AAC

21 E 22 dE novEmbro vii CongrEsso CiEntíFiCo

pólo dAS ciênciAS dA SAúde

requer inScrição

21 dE novEmbro rEColha dE alimEntos para a ami

Junto Ao bAr dA Feuc

todo o diA

NES/AAC

26 dE novEmbro

sEssão dE dEbatE out oF mEd “a diFErEnça E saúdE”

cASA MunicipAl dA culturA

NEM/AAC

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 21

SOLTAS

DE PERFILEntrevista a Ricardo Correia por Carolina Carvalhais e Daniela Gonçalves

Sou uma pessoa muito cons-truída pelas minhas raízes. Sou de Barcelinhos, que fica do ou-tro lado de Barcelos.

Sempre fui um puto meio reguila e o teatro serviu como um veículo para ca-nalizar aquela energia toda que eu dispersava. De repente aquilo começou a fazer sentido, até demais.

A minha avó Aninhas foi sem-pre uma referência positiva, ti-nha longas conversas com ela, apoiou-me muito. Defendeu--me quando tinha de defen-der e ralhou quando tinha de ralhar. A minha mãe às vezes dizia-me: “Porque é que tens o cabelo comprido? Pareces um drogado”. E a minha avó dizia--lhe coisas como: “Ó filha, deixa lá, Jesus Cristo também tinha o cabelo comprido”.

As minhas sobrinhas tiram--me do sério, são geniais.

Gosto muito de sol, do mar, da praia. Adorava viver ao pé da praia. Gosto mesmo muito dos meus amigos. Eu acordo sempre bem-disposto, penso que sou uma pessoa simpá-tica. Gosto do ciclo da vida e não sou nada esotérico. Gosto muito dos filmes italianos do Fellini, fui conhecendo algu-mas coisas do Oz. Gosto muito daquela vaga do cinema italia-no de Ettore Scola e do Fellini. Eu gosto desse lado assim meio feérico, meio louco. Gosto mui-to do “Amarcord”, “A vida é bela”. Ouço coisas portuguesas, coisas recorrentes, José Mário Branco, Zeca Afonso. Gosto

muito de ouvir Keith Jarrett, para me abstrair, Sassetti, Luís Figueiredo. Gosto muito de jazz também.

As pessoas estão muito de-pendentes de algumas estrutu-ras económicas e constroem as relações pela sua condição eco-nómica. Chateia-me quando usam o poder que têm para te pisar. E pessoas que pas-sam nos sinais vermelhos.

Adorava conhecer a Grécia, a Rússia, deve ser meio louco. Gostava de viajar mais do que viajo. Sou um rapaz de um sítio muito pequenino e que gosta de ver o mundo.

Sou meio obcecado por teatro. O que é giro é que quando começas tens um bri-lho nos olhos e, de repente, entras numa coisa, parece que estás a fabricar chouriços. Ficas fechado numa redoma. Come-cei a fazer trabalho como ator e gostava muito de fazer isso, e depois pensei: “Isto é uma chatice, ser ator”. Então come-cei a dirigir espetáculos e gosto muito. Mas gosto das duas coi-sas. A ideia da Casa da Es-quina era fazer um espaço de cruzamento de várias áreas e interesses. Lá pinto paredes, faço bilheteira, sirvo copos, faço o que for preciso.

Gosto de me preparar mui-to para as coisas e acho que o tempo e a economia te condi-cionam cada vez mais, que tens cada vez menos tempo para te preparar para um projeto. Faço teatro para estar com as pessoas.

“Sou meio obcecado por teatro”

35 anos • Ator, encenador

DANIELA GONÇALVES

“Em Coimbra as plateias dos teatros escasseiam de estudantes, as As-

sembleias Magnas Associação Aca-démica de Coimbra (AAC) atingem níveis de participação muito baixos e a adesão às manifestações e pro-testos estudantis está muito aquém dos últimos anos. Contudo os bares e convívios académicos continuam repletos de alunos na Universidade de Coimbra”. Assim começa o arti-go de destaque do Jornal A Cabra em abril de 2008, que retrata uma realidade bastante atual. Nesse artigo ainda é possível ler citações do sociólogo, Elísio Estanque, que

afirmava que “os níveis de partici-pação têm vindo a decrescer nos últimos anos, há uma dificuldade crescente em aliciar os estudan-tes para o envolvimento nas ati-vidades associativas, quer a nível social, quer da AAC”. O sociólogo foi mais longe e explica que “a não--participação em atividades cívicas […] não é uma característica da juventude, é uma característica da sociedade portuguesa”. “A falta de participação reduz a capacidade de afirmação social, política e cultura do estudante e a capacidade reivin-dicativa da comunidade estudantil” esclareceu o historiador, Rui Be-

biano na mesma reportagem. Por ironia do destino, essa edi-

ção contava ainda com artigos que anunciavam protestos estudantis contra cortes no financiamento para a educação. A par disso, con-testava-se ainda a implementação processo de Bolonha em Portugal.

E como não seria de esperar, numa altura em se celebrava o 34º aniversário da revolução dos cra-vos, o A Cabra recordou como a re-volução foi vivida na Lusa Atenas: “os estudantes boicotam os poucos professores que insistem em lecio-nar. Na Baixa, à população vão-se juntado cada vez mais estudantes”.

“Após anos de repressão é a primei-ra vez que a divulgação de ideias é feita livremente. Os Estudantes querem reabrir a AAC, fechada há três anos”.

Reabertura essa que atualmen-te não espelha o clima vivido na época,devido à falta de participa-ção dos estudantes. Tomando as palavras do então presidente da Secção de Fados da AAC, Nuno Ribeiro, “as pessoas têm cada vez menos tempo ou estão de tal for-ma dedicadas ao grupo [de amigos] que acabam por esquecer o que significa pertencer à academia de Coimbra”.

30 ANOS DE SECÇÃO DE JORNALISMO REVISITADOSPor João Martins

REGRESSO AO PASSADO:A CABRA Nº181

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22 | a cabra | 20 de novembro de 2013 | Quarta-feira

SOLTAS

O CANTEIRO SEM FLORES Por António Meio-Esquisito

ELEIÇÕES NA AAC RELATÓRIO AO SR. MINISTRO NUNO CRATO

Exmo. Senhor Ministro da Educação e Ciência Nuno Crato,

Assunto: Ponto de situação das eleições para a AAC.

Antes de mais, queira-me desculpar pela ausência de qua-lidades de escrita técnica e de normas tipo-guião da reforma do Estado, contudo, como pode imaginar, com um mês a traba-lhar nesta comissão ainda não me foi possível inteirar dos con-tornos sublimes de tal exercício da Língua Portuguesa, nem da mestria exigida no Microsoft Word para se alterar espaça-mentos e margens das páginas.

A coisa por aqui está agitada, com duas listas fortes e aperal-tadas de todo o tipo de brin-quedos de campanha, que os costumes não se perdem! Mas ameaça séria não parece existir. Isto são meninos a gladiar por poder. Deixai-os estar a lutar, possivelmente com uma segun-da volta, que mais coisa menos

coisa vai dar ao mesmo.Fique completamente des-

cansado que o trono do Ricar-dinho fica bem entregue. Quer o Bruno quer o Samuel são boa gente, de práticas beáticas - sa-bem a reza de cor e salteado. Passaram todos pelo crisma e não se vão portanto armar aos cucos, que depois deixa de ha-ver hóstia.

Vamos continuar a ter em Coimbra uma terra santa, aben-çoados por esta gente que se move mais por metalúrgica culinária do que por qualquer reivindicação política.

Mas atenção, para apaziguar as coisas e para sabermos que os temos na mão convém, de quando a quando, como fez com o nosso querido e aprazível Ricardinho, dar-lhes um chazi-nho e umas bolachas em Lisboa, para os miúdos não começarem a fazer birra e a pedirem mais do que bolachas.

Deixai-os falar à comunicação social, deixai-os bater um boca-dinho o pé, deixai-os fazer umas quantas manifestações de cariz

simbólico. Dai-lhes um chei-rozinho de democracia. Coisa pouca, para se contentarem. Não se preocupe. Aquilo é gente mansa, muito meiga, uns belos exemplares de jovens amestra-dos (a inveja que o Salazar há--de ter de nós!). Eles não hão--de morder e mesmo ladrar não sei se muito. Que viesse outra guerra colonial, que os miúdos continuariam por ali, muito calminhos. Se fosse por eles, podia já começar a privatizar tudo o que era universidade que os miúdos nem lhe levavam a mal. Imprimiam um comunica-do, possivelmente iam a Lisboa com uns quantos estudantes mais sedentos de ver o Colom-bo do que de gritar à frente da Assembleia da República e pos-sivelmente faziam umas exigên-cias, umas críticas, mas tudo de forma ordeira, que nem os mais puros beatos que a nossa Igreja alguma vez produziu poderiam almejar fazer.

Quase que me esquecia de lhe falar das outras duas listas, mas também aquilo não terá gran-

de importância. Segundo as nossas sondagens, juntas, nem uns 10% hão-de conseguir. Já sabe, é a esquerdalha inimiga, gente esfarrapada, drogados e pessoas de más famílias, ralé, que gosta muito de megafones e gritar, que sonham com coisas, que defendem igualdade e ensi-no público e balelas de esquer-da arrivista, das quais o Bruni-nho e o Samuelito sabem muito bem distanciar-se.

Em Coimbra, continuará a ter uma fábrica de beatos. Apesar de um ou outro foco de rebeldia, é coisa pouca e facilmente con-trolada. Para além de que não terá pobretanas pela Academia, que para se entrar para um car-go como deve ser, é pagar do belo e do bom – um contribu-to para uma boa causa - pensa que quê, isto é carreirismo do mais refinado que há. Portanto, só gente de boas famílias, pa-cifistas, centristas, simbolistas, “consensualistas” (se o ministro Portas pode inventar normas para guiões penso que terei per-missão para inventar uma pa-

lavra), desalmados populistas, disfarçados capitalistas, até um comunista lhe pode calhar na rifa, mas calma, que este parece descendente do Pina Moura.

Por cá o 62 e o 69 é para brin-des e galas, como o fadinho fa-duncho e a saudade de postal. Deixe-se estar descansado em Lisboa, que não é Coimbra que o vai chatear. As fábricas fecha-ram lá para os lados da Pedru-lha, mas esta aqui teima em não abrandar na produção de bea-tos em série. E ainda dizem que temos baixos índices de produ-ção…

Lá nos vemos pela 5 de Outu-bro.

Presidente da Comissão de Observação das Eleições para a AAC,

António [email protected]*

*Caso queiram enviar elogios. Se fo-rem críticas, não estou para aí virado.

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20 de novembro de 2013 | Quarta-feira | a cabra | 23

SOLTAS

NAQUELA ESTAÇÃOPor José Vieira

Aquele homem, como todos os outros, aguarda a chegada do comboio à estação.

Um livro nas mãos entrelaçadas, uma mochila e um olhar que espera.

Senti algo por aquele homem, ig-noro porquê. Talvez a sua espera.

O sol alto azulava. O comboio tar-dava a chegar. Outras pessoas na estação. Em todas a angústia e a im-paciência da espera. No homem do livro, apenas um olhar compassado por passos largos e altos de quem, talvez, esperasse a vida inteira. Es-cravos cardíacos das estrelas? E do tempo! E do medo… Deixem-me res-pirar, dêem-me espaço. Ar! Quero ar!

Uma mulher leva no braço o que foi o seu homem, noutros tempos, noutras esperas. O homem cara-coleia e a mulher, por algum senti-mento de amor, vergonha, obrigação ou Amor, caminha a seu lado. Sim, aceito. Na saúde e na doença. O ho-mem do livro observa as pessoas que passam, os seus movimentos, talvez os seus receios. Como se quisesse saber, através dos passos e do olhar das pessoas, o que as incomoda. Mas Blimunda está morta. Talvez queira saber os seus medos… Esta mania dos medos e dos receios!

Dois orientais, pequenos e sorri-dentes, aguardam o comboio com segurança e satisfação. Não parecem ser objecto de atenção do homem do livro. São demasiado felizes. É mau.

Agora observa-me atentamente, com um lápis na mão, rascunhando no bloco de notas. Nem imagina que a sua misteriosa vida se condensa en-tre as apertadas e asfixiadas palavras da língua. Mas tudo é ficção.

O comboio parece atrasar-se. A im-paciência e os nervos a sorrir dentro das pessoas. Olham para o relógio, à espera que ele diga mais do que: tem-po. Só nos apercebemos dele quando está a mais, um convidado que está em nossa casa há demasiado tempo e já deixou de ser convidado, passou a um intruso. O tempo incomoda.

O homem do livro e dos óculos de sol parece moreno, a pele queimada pelo sol mediterrânico numa tez nór-dica, não sei, receio estar a inventar personagens.

Entretanto, o homem do livro nas mãos parece olhar-me novamente, por um momento. Observa-me com um lápis na mão. Eu ou ele? Mas se ele tem um livro nas mãos como é que pode observar-me com um lápis na mão, e escrever num bloco de no-tas? Princípio de coerência literária!

A falta que fazeis em mentiras tão pequenas!

Mas ele observa-me sem medo e parece querer sorrir para mim. Só para mim. Às vezes ficamos sem pa-lavras perante sorrisos. Não por que estes confortem, temos medo de nos entregarmos a um sorriso. Temos medo que um sorriso seja o início de outra coisa. (Amor). E eu não quero outra coisa.

A meu lado, uma estranha, nada mais há a dizer. Está tão perto de mim mas tão mais longe do que o homem do livro que espera, na esta-ção, a chegada de um comboio que não parece seguir o tempo.

O homem do livro volta a olhar para mim e volta a sorrir.

O sol era o momento ao qual eu não tinha a certeza de resistir e con-tinuar.

Esboço um sorriso coxo, fecho o bloco de notas. Ao homem do livro, digo-lhe não. Desaparece para sem-pre.

Não tenho a certeza de nada. Ou de tudo? Não sei.

Mas aquele velho, sentado num dos bancos da frente, com a boina tapando os olhos que dormem, ou fogem deste mundo, cruzou simpa-tia com as minhas mãos. Não com a

vida. Isso de cruzar vidas é coisa de gente ilustre, de gente com fato e gra-vata e títulos. E medos?

Um velho que parece dormitar, bonacheirão. Velho. Como todos es-peramos ser, um dia. Talvez.

Ao seu lado, uma velhinha lê um livro de bolso. Cheirava a Camilo Castelo Branco, a paixões ardentes e a tempos outros, em que as florestas eram Românticas e os heróis genuí-nos. Hoje temos os livros. Antes tí-nhamos o mundo.

Não será isto o processo de ser-mos? Uma tentativa de vivermos para lá das palavras e textos que so-mos? Não será a vida, a tentativa, a oportunidade última de fugirmos da tentação de sermos só papel e tinta?

É um comboio vermelho, cor de viagem morna.

Ao meu lado, um lugar vazio, como sempre. O silêncio acompanhando a balada que é o movimento constante, repetido, quase enjoativo e delicioso desta viagem.

Mas nesta viagem, que será aque-la viagem, quando isto for um texto e tudo não passar de uma mentira, interessa aquele velho do banco da frente, da boina, aquele que tem a seu lado uma mulher que lê

um livro. Começamos porque o

l i v r o c h a m o u por nós ou porque a sim-patia é a mentira que nos traz aqui? Não fingimos nem mentimos. Escrevemos reali-dade. Traduzimos aquilo que vemos. Diria alguém de barba naquele sé-culo que foi o do romance. E hoje? Há espaço para romances? Teremos tempo para grandes narrativas, para fantasia? Estaremos, nós, seguros, com esta realidade? Precisamos da mentira para continuarmos, daí a Arte. Bem- aventurados os ricos de espírito, pois deles é o Reino da Ter-ra. Se mentirdes como todos até ago-ra mentiram sereis grandes e nada será esquecido. O perdão vem com a glória das mentiras.

E aquele velho? E aquela velha? Que é feito deles? Continuam a sua viagem, para alguma cidade grande onde faça sentido a palavra: família; para um lugar outro que não este, que é inconstante.

Naquela viagem, olho pela janela e vejo as estradas e os montes que não me deixam ver outras coisas que fica-riam tão melhores aqui: uma flores-ta, um bosque, talvez um castelo ou a praia, o mar. Nada disso seria verda-de. Se escrevo estas pequenas pala-vras é porque não quero mentir mais do que necessário. Deus já mentiu de mais para todos nós, quando nos dis-se para amarmos o outro como a nós mesmos! Se amássemos os outros como a nós mesmos, seríamos inve-josos, mais invejosos do que somos.

Assim, volto a olhar para o ve-lhinho da frente, já acordado, sem boina a tapar o rosto, merendando uma sandes de qualquer coisa, be-bendo por uma garrafa uma outra coisa qualquer. Não interessa. Nada disso interessa. Interessa, sim, fazê--lo existir. Existir muito, com muita força.

Fecho os olhos e tento sorrir, acreditando que o mundo poderia ser isto ou aquilo. Tantos sistemas filosóficos e religiões. Tantas antifi-losofias e anti metafísicas. Para quê? Tudo é realidade em potência, como nenhum poeta ou mentiroso alguma vez pensou. Lembro-me de outros que escreveram e mentiram e sorrio. Sim, agora esboço um sorriso largo, mentiroso, mas só para mim. Nin-guém precisa de saber deste sorriso. A solidão e o silêncio estão no banco ao lado do meu.

O velho acaba a sua merenda. A velha sorri para o velho, limpa-lhe a boca com um lenço de pano e beija-o nos lábios. Um beijo de namorados com promessas de viagens e palavras que dizem: Amo-te! Vamos ser feli-zes para sempre!

Esperei até o momento daquele beijo para te dizer que tudo isto não passa de uma história inventada, pois no quarto onde estou não há ja-nelas nem céu.

A mentira tem destas maravilhas.*Este espaço é resultado de uma parceria entre a Secção de Escrita e Leitura da AAC e o Jornal A Cabra.

facebook.com/aac.sesla

ILUSTRAÇÃO POR WANDA DIAS

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ESPECIAL ELEIÇÕES AACRAFAELA CARVALHO RAFAELA CARVALHO

RAFAELA CARVALHO RAFAELA CARVALHO

“É preciso ter uma melhor capacidade de resposta em áreas como as questões profissionais e pedagó-

gicas, a ação social e a mobilidade internacional”

“Se tentarmos obter donativos, começamos a caminhar para uma privatização do ensino,

logo, para um conflito de interesses”

“Um dos nossos pilares fundamentais é um plano a dez anos ao nível das propinas que nos

encaminhe até à sua gratituidade”

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LISTA T - BRUNO MATIAS

“A Associação Académica de Coimbra diz que é pela propina zero, mas ela aumenta todos os

anos e a AAC é incapaz de parar isso”

LISTA R - ALEXANDRA CORREIA

LISTA E - CAROLINA ROCHA LISTA A - SAMUEL VILELA