2647 5278-1-sm

19
IBA EMSCHER P ARK: UMA OFICINA DE 10 ANOS PARA A REESTRUTURAÇÃO DA ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL DO V ALE DO RUHR, ALEMANHA. Polise Moreira De Marchi, 1 1. RESUMO Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico, desindustrializando-se. Em 1989, a agência semipública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi criada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália como uma oficina para a renovação de uma antiga região industrial, delimitada pela zona do rio Emscher, compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.no vale do Ruhr, por um período de 10 anos. Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio- Ambiente, Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a Companhia de Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft). O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral. Embora o panorama alertasse para a difícil tarefa a ser enfrentada, o sucesso desta experiência pode ser constatado no vasto legado do desenvolvimento regional integrado, nos inovativos projetos de redesenho e nas medidas ecológicas de reconversão do território que mudaram a imagem de uma das maiores regiões industriais do mundo. 1 Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP e Aluna do programa de Doutorado – Departamento de Projeto - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo: [email protected]

Transcript of 2647 5278-1-sm

Page 1: 2647 5278-1-sm

IBA EMSCHER PARK: UMA OFICINA DE 10 ANOS PARA

A REESTRUTURAÇÃO DA ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL DO

VALE DO RUHR, ALEMANHA. Polise Moreira De Marchi, 1

1. RESUMO Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e

sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global

começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico,

desindustrializando-se.

Em 1989, a agência semipública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi

criada pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália como uma oficina para a

renovação de uma antiga região industrial, delimitada pela zona do rio Emscher,

compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.no vale do Ruhr, por um período

de 10 anos. Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio-

Ambiente, Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a

Companhia de Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft).

O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma

complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em

ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral.

Embora o panorama alertasse para a difícil tarefa a ser enfrentada, o sucesso desta

experiência pode ser constatado no vasto legado do desenvolvimento regional integrado,

nos inovativos projetos de redesenho e nas medidas ecológicas de reconversão do território

que mudaram a imagem de uma das maiores regiões industriais do mundo.

1 Mestre em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAUUSP e Aluna do programa de Doutorado –

Departamento de Projeto - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo:

[email protected]

Page 2: 2647 5278-1-sm

2. INTRODUÇÃO Desde a segunda metade do século 19, as Mostras de Construção tornaram-se

tradicionais, nas exposições internacionais e feiras mundiais. Elas tinham como função

prática apresentar as novas invenções e criações nos campos da arquitetura, engenharia e

tecnologia.

Em 1851, o Crystal Palace Great Exhibition, na cidade de Londres; e em 1889, a

Torre Eiffel, exposta na Exposition Universelle, em Paris; foram exemplos de inovações

nas áreas da engenharia e tecnologia, durante as primeiras décadas da segunda Revolução

Industrial.

Em 1901, com a exposição em Darmstadt-Mathildenhole, a tradição das Mostras de

Construção chegou a Alemanha.

Durante o período entre guerras, várias exposições fizeram parte do cenário da

sociedade industrial. Naquela época, o objetivo era o de encontrar soluções para o

problema da demanda habitacional, decorrente do aumento progressivo do número de

pessoas que viviam nas cidades.

Após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de reconstrução, uma vez mais, deu

impulso às Mostras de Construção. Em 1951, uma exposição internacional foi sediada em

Hanôver e, após 6 anos, foi a vez de Berlim com a INTERBAU'57.

O foco da INTERBAU'57 foi a reconstrução do distrito Hansa - na antiga Berlim

Ocidental -, que foi fortemente danificado pelos bombardeios durante a Segunda Guerra

Mundial.

O projeto de reconstrução, liderado pelo arquiteto Otto Barning, representava o

conceito modernista de desenvolvimento urbano de baixa densidade, popular durante o

pós-guerra. Barning pretendeu através do projeto, criar um modelo de cidade do amanhã2,

estabelecendo um contraponto ao modelo de arquitetura propagada pela DDR3.

Em 1987, após 30 anos da INTERBAU'57, uma nova exposição internacional foi

sediada em Berlim, apresentando como tema: O “centro da cidade como local de moradia,

reestrutura a cidade degradada”.

A Mostra Internacional IBA Berlin’ 87 foi o resultado de nove anos de trabalho da

Agência IBA Berlin Gmbh, criada em 1979, mediante aprovação do governo da Berlim

2 Stadt von morgen 3 Die Deutsche Demokratische Republik. República Democrata Alemã, pertencente ao bloco dos países socialistas, cuja capital era a Berlim Oriental.

Page 3: 2647 5278-1-sm

Ocidental. Desta agência fizeram parte membros do governo, arquitetos, urbanistas e

representantes de setores públicos e privados.

O objetivo da Agência IBA Berlim concentrou-se, não somente na construção de

novos projetos urbanos, mas principalmente, na requalificação e redesenvolvimento de

áreas centrais e edificadas. Aproximadamente 3000 residências foram construídas ou

reestruturadas até 1987, ano de encerramento da exposição internacional.

O IBA Berlim agregou, ao processo de renovação urbana, a participação popular e a

parceria público-privado, além de ter criado uma agência especial responsável pela

renovação e restauro4: STERN (Gesellschaft der behutsamen Stadterneuerung GmbH)5.

Esta agência tornou-se modelo para as futuras intervenções urbanas em cidades alemãs,

principalmente para os projetos de redesenvolvimento da Berlim Oriental, após a queda do

muro, em 1989.

Durante os anos do IBA Berlim'87, os critérios e conceitos de intervenção, entre

eles,: “a renovação urbana cuidadosa”, “a reconstrução crítica da cidade”, “promover a

habitação em antigas áreas centrais degradadas”, “integração entre construções existentes e

novas” e “a imagem da cidade", configuraram importantes parâmetros para a Mostra

seguinte, que teve por desafio a reconversão de um território industrial em escala regional:

a zona do rio Emscher, no vale do Ruhr.

3. A OCUPAÇÃO INDUSTRIAL DA REGIÃO DO VALE DO RUHR Os últimos 150 anos testemunharam a história industrial da região do Ruhr. Antes

deste período, o Ruhr era composto por áreas pantanosas, vilas e pequenas cidades com

menos de 500 habitantes.

A partir da segunda metade do século 19, o Ruhr iniciou um processo de

transformação industrial. A ocupação do território esteve relacionada, primeiramente, à

exploração do carvão, Schwarzen Gold (ouro preto),que ocorreu primeiramente ao sul,

onde ele era encontrado em veios próximos à superfície, não exigindo grandes esforços

tecnológicos para a sua exploração.

À medida que as técnicas industriais de escavação e extração de carvão se

aprimoraram, foi possível a exploração e descoberta de novas áreas em que os recursos,

qualitativamente melhores, eram encontrados mais profundamente no solo.

4 Definições apresentadas no Regional development studies: The EU compendium of spatial planning systems and policies: Germany Luxemburg, 1999. 5 STERN: agência responsável pela renovação urbana.

Page 4: 2647 5278-1-sm

Desta forma, a ocupação territorial foi se deslocando gradativamente de sul para

norte, em três diferentes zonas orientadas no sentido leste-oeste:

- A zona Hellweg, situada entre os rios Ruhr e Emscher (em torno dos centros

das cidades de Duisburg, Essen, Bochum e Dortmund)

- As zonas do rio Emscher e do rio Lippe, segundo e terceiro estágios da

ocupação territorial.

As primeiras aglomerações apareceram sem qualquer planejamento especial. Elas se

formaram através de iniciativas isoladas motivadas por razões econômicas. Durante a

década de 1870, pessoas provindas do leste europeu iniciaram um processo migratório para

a região do Ruhr, dinamizando ainda mais a sua ocupação territorial.

O crescimento capitalista da região foi consolidado de forma policêntrica. As cidades

assentadas nas zonas leste-oeste, desenvolveram-se individualmente ao longo do eixo

norte-sul, gerando uma grande imobilidade entre as cidades. O Ruhr cresceu como uma

periferia e a falta de urbanidade tornou-se a marca de sua expansão.

Deste modo, em algumas décadas, áreas agrícolas e florestas foram transformadas

em extensas áreas industriais. “Bosques deram lugar para chaminés, campos tornaram-se

assentamentos, rios foram convertidos, e o céu encoberto por fumaça e fuligem” [VON

PETZ: 1997, p. 56].

A região do vale do Ruhr cresceu como uma larga conurbação periférica, isto é, sem

um processo legítimo de desenvolvimento urbano. As atividades industriais desenharam as

aglomerações, assim como ditaram as regras do viver neste território. A vida urbana foi

estruturada com base no tempo das máquinas e pelo espaço da produção.

A zona do Emscher foi a que mais sofreu com a exploração industrial, em termos de

degradação e apropriação espacial sem planejamento. O território formado pela junção da

indústria e dos assentamentos populacionais desenhou cidades periféricas sem urbanidade.

O controle desta zona industrial acontecia, como em um sistema feudal, através do

monopólio político exercido pelos dirigentes das minas de carvão e das atividades

relacionadas à produção do aço.

A infra-estrutura da zona do Emscher também não foi baseada em planos

urbanísticos. Ela foi configurada de acordo com os interesses da Montanindustrie6. As

primeiras alternativas de transporte surgiram para o escoamento e circulação da produção e

não para a mobilidade da população trabalhadora.

6 Indústria relacionada às atividades de extração mineral.

Page 5: 2647 5278-1-sm

Por mais de 100 anos, carvão e aço foram responsáveis pela economia e

sobrevivência da região. A partir do momento em que a realidade industrial global

começou a alterar-se, a região do Ruhr também acompanhou este momento histórico,

desindustrializando-se.

4. UMA NOVA IMAGEM PARA A ANTIGA REGIÃO INDUSTRIAL A agência semi-pública de planejamento, IBA EMSCHER PARK GmbH foi criada

pelo governo do estado da Renânia do Norte-Vestfália com a missão de promover o

desenvolvimento regional da região industrial do vale do Ruhr, por um período de 10 anos.

Esta agência operou com a estreita colaboração do Ministério do Meio-Ambiente,

Planejamento Espacial e Agricultura da Renânia do Norte Vestfália e com a Companhia de

Desenvolvimento do Estado- LEG (Landesentiwicklungsgesellschaft); e ainda contou com

grandes contribuições financeiras da Comunidade Européia, através de programas de

subvenção a áreas urbanas em crise social, decorrentes do processo de desindustrialização.

O IBA Emscher Park foi constituído como uma oficina para a renovação de uma

antiga região industrial7. A área delimitada para as intervenções correspondeu à zona do rio

Emscher, compreendendo as cidades entre Duisburg e Bergkamen.

Parque da Paisagem do Emscher - sistema de corredores verdes

O cenário com o qual o IBA Emscher Park se deparou, era configurado por uma

complexa realidade regional composta de áreas industriais obsoletas, esvaziadas e em

ruínas; conseqüências do abandono das atividades mineradoras e das indústrias em geral.

Estas áreas pertenciam aos monopólios do carvão e do aço, setores hostis às mudanças e

inovações.

7 IBA Emscher Park: Werkstatt zur Erneuerung alter Industriegebiete.

Page 6: 2647 5278-1-sm

O desemprego atingindo taxas médias de até 12%8, o previsto declínio populacional

de 15%, em um período de 20 a 30 anos e o meio ambiente contaminado através da

poluição de rios, do ar e de solos explorados, entre outros, apresentavam-se como enclaves

para o desenvolvimento, não somente da zona do Emscher, como também da região do

vale do Ruhr.

Embora o panorama alertasse, de um lado, para a difícil tarefa a ser enfrentada, por

outro, a zona do Emscher apresentava um grande potencial de desenvolvimento. Entre os

aspectos mais relevantes estavam: a condição geográfica central em relação à Europa; a

possibilidade de crescimento de um grande novo mercado com a abertura da Europa

Oriental; o fato da região do Emscher abrigar um grande contingente populacional,

proveniente de diferentes culturas; e, ainda, o elevado potencial para a ocupação e re-uso

de extensas áreas desocupadas, antes pertencentes a Montanindustrie.

O clima de desolação e falta de perspectiva tornaram-se pontos importantes a serem

combatidos. A mudança desta imagem: o desafio de projeto.

O capital inicial investido foi da ordem de 35 milhões de marcos alemães. A

administração do IBA contou com uma equipe de aproximadamente 30 profissionais -

liderados pelo geógrafo Karl Ganser -, combinando a tradicional “Mostra de Construção”,

no sentido arquitetônico, com o suporte político, econômico e administrativo de entidades

públicas.

A defesa dos espaços abertos foi retomada através do conceito de cinturões verdes,

desenvolvido anteriormente, em 1920, por Robert Schmidt. Estes elementos foram

novamente considerados ordenadores do espaço, mas desta vez, articulados por um

corredor verde leste-oeste de 70 quilômetros de comprimento e 15 quilômetros de largura,

ao longo da zona do Emscher. Este corredor verde, o Emscher Landschaftpark (Emscher

Parque da Paisagem) foi a linha estrutural para a regeneração do coração da região do

Ruhr.

5. AS SETE LINHAS MESTRAS DE INTERVENÇÃO DO IBA

EMSCHER PARK A agência IBA foi instalada em edifício pertencente a antiga mina de carvão

Rheinelbe, na cidade de Gelsenkirchen, reforçando o caráter de redesenho e regeneração

do ambiente construído afastando-se, desde a sua essência, do conceito de tabula rasa.

8 As taxas de desemprego na zona do Emscher atingiam números maiores que qualquer outra área pertencente a Alemanha ocidental.

Page 7: 2647 5278-1-sm

O memorial oficial dos trabalhos da agência IBA Emscher Park, assinado em 1989,

previa um prazo de 10 anos de atividades do escritório, embora os projetos apresentassem

diferentes agendas - de 10 a 30 anos - e determinou sete linhas mestras de intervenção:

1. Emscher Landschaftspark- a regeneração e redesenho da paisagem ao longo da zona do

Emscher;

2. Ökologischer Umbau des Emscher-Systems - a reabilitação do rio Emscher e seus

afluentes, partindo de Duisburg a Bergkamen;

3. Kanäle als Erlebnisräume - o canal Rêno-Herne como espaço de vivência;

4. Industriedenkmäler als Zeugen der Geschichte - a conservação de edifícios industriais

através do redesenho de seus espaços e funções, propiciando a manutenção da identidade

industrial através de uma nova imagem, baseada em seu patrimônio cultural;

5. Arbeiten im Park - a criação de um espaço de alta qualidade voltado para a instalação de

novas empresas e escritórios, materializando o conceito de trabalhar no parque;

6. Wohnungsneubau und modernisierung - novas formas de morar e a habitação como

elemento propulsor da requalificação urbana;

7. Neue Angebote für soziale und kulturelle Aktivitäten - novas ofertas para as atividades

sociais e culturais, tendo em vista a necessidade de qualificar os espaços de lazer, devido

ao aumento do tempo livre, decorrente da redução da jornada de trabalho e dos novos

modos de produção que introduzem novos estilos de vida.

O Parque da Paisagem do Emscher e as 7 linhas mestres defendidas pelo IBA Emscher Park

Os planos diretores, modelo difundido pelos arquitetos modernistas, foram

substituídos pela administração de projetos isolados que, na concepção da equipe

coordenadora do IBA, dinamizariam a região, respeitando as diferenças entre elas. A

Page 8: 2647 5278-1-sm

estratégia seria como uma terapia de acupuntura9 : uma rede de intervenções pontuais

polarizariam e tensionariam a regeneração de áreas adjacentes, conformando um

desenvolvimento regional integrado.

Aproximadamente 100 projetos foram desenvolvidos e implantados em uma faixa

formada por 17 cidades - Duisburg, Oberhausen, Mülheim, Bottrop, Essen, Gladbeck,

Bochum, Gelsenkirchen, Recklinghausen, Herne, Herten, Castrop-Rauxel, Waltrop, Lünen,

Dortmund, Kamen e Berkamen - somando um total de 2 milhões de habitantes.

O IBA defendeu o conceito de cultura da arquitetura (Baukultur), pelo qual o edifício

e o projeto do lugar foram os componentes críticos para a regeneração social, econômica e

ambiental. Acreditando ser a arquitetura, antes de uma imposição do ambiente construído,

um instrumento do planejamento espacial. “Através da qualidade arquitetônica

determinada caso a caso, baseada e moderada por uma autoridade qualificada, permite-se o

planejamento urbano de baixo para cima” [GANSER, 1990].

A oficina de reconversão do território industrial também organizou e financiou

processos de planejamento e qualificação, através de concursos interdisciplinares e

concorrências internacionais. Agindo desta forma, o IBA procurou trazer idéias e soluções

internacionais para as necessidades locais buscando a notoriedade da região no contexto

global.

Projetos como o museu do design de Norman Foster, nas antigas instalações da Mina

Zollverein em Essen; o museu de arte alemã, na antiga sede do moinho Küppersmühle em

Duisburg, projeto de Herzog e Meuron10; e, o marco da paisagem, slag ingot for the

Ruhrgebiet de Richard Serras, no monte Schurenbach em Essen, são exemplos de arte e

arquitetura assinadas por arquitetos e designers conhecidos internacionalmente.

Küppersmühle em Duisburg, 2001. 9 As in the case of acunpucture, it contents itself with stimulating significant points in the hope that the healing powers thus activated will spread out to include the closer vivinity and more distant environs. (Peht: 1999)

slag ingot for the Ruhrgebiet em essen, 2001.

10 Herzorg & Meuron são os autores do projeto Tates Gallery, em Londres.

Page 9: 2647 5278-1-sm

Desta forma, a nova imagem do coração da região do Ruhr foi se delineando. Novos

usos e significados foram incorporados ao tecido urbano, sem que para tal fim, fossem

anuladas a memória e a identidade da paisagem construída. A zona do Emscher não foi

transformada em um museu, pelo contrário, ela foi considerada não somente um espaço de

visibilidade e contemplação, mas um lugar a ser usado e experimentado (Erlebnissräume).

Karl Ganser, mentor e coordenador-chefe da agência IBA, afirmou - quando

questionado quanto às intenções de projeto -, que o Ruhr deveria encontrar, em sua

paisagem industrial, os valores para o desenvolvimento de sua identidade.

A mudança de mentalidade reforçada pela auto-estima dos habitantes, acostumados

ao conformismo de uma região degenerada pelos anos de industrialização selvagem, foi

um dos pontos fortes defendido nas intervenções e nas atividades criadas.

Ao invés de serem desenvolvidas áreas periféricas, Ganser defendeu o redesenho e o

adensamento das áreas centrais mais atingidas pela industrialização. Paralelamente, foi

criado um conceito cultural de inovação que orientou os princípios das intervenções,

baseados em duas linhas de ação: “uma nova região fundamentada em uma nova cultura” e

“sustentabilidade urbana sem danos ecológicos”.

5.1 Reconvertendo wastelands11: recriação da natureza ou a natureza em

um estágio pós-industrial O projeto do Parque da Paisagem do Emscher (Emscher Landschaftspark) combinou

natureza e patrimônio industrial, em escala regional, através de uma área de 300

quilômetros quadrados. Diferentemente de outros parques que foram construídos

igualmente em sítios industriais, porém após a total demolição de suas referências

anteriores, como La Villete e Parc André-Citroën, ambos situados em Paris.

A coordenação do IBA Emscher Park buscou reconstruir o território através de uma

nova paisagem cultural (Kulturlandschaft), baseada na consciência coletiva de pertencer a

um lugar, a uma história e a uma região industrial.

O Emscher Landschaftpark partiu da integração e reconversão de terrenos industriais

visando, além do novo uso para a paisagem obsoleta, novas possibilidades de

desenvolvimento. A ecologia, foi vista como instrumento de reestruturação econômica,

11 Wasteland termo utilizado para designar áreas desoladas, abandonadas. Geralmente relacionadas a exploração industrial ou urbana.

Page 10: 2647 5278-1-sm

principalmente em se tratando da competição com outras metrópoles européias pela busca

de novas economias.

Para a nova paisagem do coração do Ruhr não houve limites urbanos. As cidades do

Emscher, pouco conhecidas fora da região, conformaram uma federação de novos espaços

onde a indústria, a cultura e a paisagem misturavam-se.

O parque da paisagem do Emscher abrangeu diferentes escalas de espaços livres,

desde corredores verdes aos parques locais. Algumas áreas foram eleitas pedras

fundamentais (Trittsteine) para o sucesso do projeto de grande parque urbano. Entre eles, o

Landschaftspark Duisburg-Nord - um dos principais parques locais que compõe a estrutura

de espaços verdes do Emscher Landschaftspark -, que agregou apreciação estética à

decadência da ruína industrial.

A vegetação que gradativamente ocupava as adjacências dos trilhos ferroviários e das

instalações em geral, foi administrada através do mesmo conceito de degradação

controlada, aplicado às construções industriais. Algumas partes do complexo foram

mantidas fechadas ao público. Entretanto, elas aguardam o desenrolar das futuras ações,

baseadas na cultura industrial e no turismo urbano.

Através da “degradação controlada”,

o desgaste das estruturas foi percebido

como fluxo natural de uma imagem de

paisagem mutante, que preserva as suas

características na medida em que legitima

seus índices em deterioração.

“Seria perigoso, se os monumentos

industriais fossem demolidos pela falta de

dinheiro para a sua manutenção. Ao menos,

eles restam visíveis. Esta é a estratégia da

degradação controlada” [GANSER: 2000,

p.22, trad. nossa].

A aceitação da herança industrial

manifestou-se através do “patrimônio histórico” e da “paisagem em movimento”, como

defende Bernard Reichen [2000, p.24]. Por processos de conservação e transformação, as

antigas estruturas deram origem a novos projetos arquitetônicos, referências da nova

cultura na paisagem.

Landschaftspark Duisburg-Nord

Page 11: 2647 5278-1-sm

“Nós paisagistas, não mudamos os sítios industriais abandonados. São eles que

provocam uma mudança fundamental na nossa maneira de pensar e na filosofia de nossa

profissão” [LATZ: 2000, p.23].

Seguindo os mesmos passos do Landschaftspark Duisburg-Nord, embora

respondendo a diferentes escalas, outros parques agiram também como pedras

fundamentais para o redesenho da paisagem do Emscher, entre eles: o Nordstern Park, em

Gelsenkirchen; a Kokerei Zollverein, em Essen e o Westpark, em Bochum.

A restruturação do ecossistema da zona do Emscher foi o amálgama entre os

aproximadamente 100 projetos desenvolvidos durante o IBA Emscher Park.

A conexão entre estas diferentes escalas de espaços livres foi obtida através da

criação de trilhas peatonais, ciclovias regionais, do rio Emscher e do Canal Rhein-Herne,

do eixo ferroviário Köln-Mindener12, além das convencionais ruas e estradas, que

cruzavam os setes cinturões verdes, permitindo o uso e a experimentação deste novo

cenário.

5.2 Habitação como forma de reestruturação urbana. Uma das metas mais importantes do IBA Emscher Park foi concentrar e ocupar as

lacunas urbanas, estimulando ações como: morar, trabalhar e lazer. Além do usufruto

social e cultural, buscou-se um verdadeiro ambiente urbano, ausente até aquele momento.

A construção de novas habitações, assim como a regeneração de antigas áreas

residenciais, foram entendidas como ponto central do processo de reestruturação urbana

[SCHITZMEIER: 1991, p. 31]. A Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, pode ser

considerada um exemplo.

No final da década de 1970,

acompanhando o reflexo das crises

do carvão e do aço, a mina de carvão

Prosper III, em funcionamento desde

1906, foi fechada.

Em 1987, os antigos edifícios

foram demolidos, deixando uma área

vazia de 26 hectares. Apenas o muro

12 O eixo ferroviário Köln-Mindener foi grande propulsor do desenvolvimto regional na era industrial. Ele também recebeu especial atenção da agência IBA Emscher Park, através do redesenho das estações e da restruturação da infra-estrutura. A ferrovia desenvolveu papel central na atuação do IBA tal qual o rio Emscher e o canal Rhein-Herne.

Nova Comunidade Prosper III, em Bottrop, 2001.

Page 12: 2647 5278-1-sm

da mina, os portões que controlavam o acesso às instalações da ProsperIII e a avenida de

plátanos (Platanenalle) foram mantidos como elementos históricos relevantes.

Os primeiros esforços para a recuperação da área foram iniciados, em 1990, sob a

supervisão do IBA Emscher Park, juntamente com as parcerias da cidade de Bottrop, da

empresa MGG (Montan Grundstücksgesellschaft) e do GEP (Gesellschaft für Projekt-

management und Grundstücksentwicklung).

Arquitetos internacionais foram convidados a elaborar propostas de utilização do

sítio, através de um programa inovador, que não só deveria atender as necessidades de

reconversão da área em questão, como também, as aspirações da própria cidade de Bottrop

de se renovar e bem suceder frente ao processo de mudanças estruturais.

O programa do concurso estimulou a integração das linhas mestras do IBA:

“trabalhar no parque”, “reconstrução da paisagem”, “novas residências e novas formas de

morar”, além de “novas atividades culturais e sociais” [EVERDING: 1990, p.31].

O projeto vencedor do concurso foi de autoria do escritório de Trojan & Trojan. Os

26 hectares foram ocupados a partir de três usos básicos: 6 hectares para uso comercial, 9

para uso residencial e 11. para áreas verdes.

A área comercial, implantada na entrada do sítio, era composta por lojas e

supermercados, que visavam atender às necessidades da nova comunidade, assim como das

comunidades do entorno, preponderantemente residencial.

A zona destinada às habitações foi implantada em áreas onde o solo não apresentava

índice algum de contaminação, preservando a segurança e saúde dos habitantes.

No centro do terreno da Prosper III, onde se concentrava o maior índice de

contaminação do solo, foi criada uma área verde que visou, enquanto projeto, a

reconstrução da natureza local e a proteção contra futuras contaminações. Para tal fim,

após a descontaminação do solo, um talude foi criado com a terra proveniente da

movimentação de outras áreas do sítio.

Vários outros projetos, abordando as “novas formas de morar”, foram realizados

durante os anos de atuação da agência IBA Emscher Park. Ao todo foram 21 projetos entre

renovação habitacional e novos complexos habitacionais.

Dois projetos habitacionais ainda merecem ser destacados. Eles participaram do

programa Agenda 21 da cidade de Gelsenkirchen: Küppersbusch-Grundstück e Siedlung

Schüngelberg.

O Küppersbusch-Grundstück foi implantado em antigo terreno pertencente a fábrica

de móveis Küppersbusch. O novo complexo residencial ficou conhecido pelo seu padrão

Page 13: 2647 5278-1-sm

arquitetônico ecológico, visível através das estruturas de captação de água pluvial que

percorre e desenha o espaço central do conjunto.

O Siedlung Schüngelberg abordou a renovação habitacional do antigo assentamento

residencial operário situado entre a mina de carvão Zeche Hugo e o monte Rungenberg -

criado com os detritos provenientes das extrações minerais. Ao todo foram renovadas 308

residências e criadas 220 novas habitações.

Siedlung Schüngelberg em Gelsenkirchen, 2001.

O programa abrangeu, ainda, a criação de creches e um novo centro para o conjunto

habitacional. Uma praça dotada de lojas e serviços foi criada ampliando as perspectivas

futuras de desenvolvimento da área.

O monte Rungenberg, assim como o Landschaftspark Duiburg-Nord, o

Wissenschaftspark Rheinelbe e tantos outros, faz parte da rota dos marcos artísticos da

paisagem (Landmarken-Kunst) da região do Ruhr. Mais uma vez, a arte a serviço da

paisagem apresentou-se como elemento referencial do espaço, iluminando o destino futuro

de um contexto urbano redesenhado.

5.3 Trabalhar no Parque. O conceito Trabalhar no parque (Arbeiten im Park) foi desenvolvido através da

criação de parques tecnológicos e científicos, centros comerciais e de escritórios, e novas

indústrias, principalmente, aquelas voltadas às questões ecológicas como a produção de

energia alternativa.

Ao todo, 19 projetos foram implantados em sítios industriais, localizados dentro de

centros urbanos. Estes projetos compartilharam a criação de grandes áreas verdes e a alta

Page 14: 2647 5278-1-sm

qualidade arquitetônica e ecológica de suas instalações. As novas áreas foram erguidas por

intermédio de investimentos públicos e privados, que visaram atrair novos empregos e

novas formas de economia para a região.

Como declarou o próprio líder do IBA Emscher Park, o geógrafo Karl Ganser, a

criação de lugares inovadores em meio a um ambiente urbano atraente, onde antes os

terrenos industriais configuravam o espaço, respondeu a demanda da opinião pública por

novas alternativas de desenvolvimento econômico.

Esta alteração no cenário urbano das cidades industriais, tendo por base a mudança

no modo de produção econômico, foi descrita por Manuel Castells e Peter Hal no livro

Technopoles of the world-The making of 21st century industrial complexes [1994, p.1].

Há uma imagem da economia industrial do século 19, familiar em uns cem livros de

história: a mina de carvão e sua vizinha fundição de ferro, expelindo fumaça negra no céu,

e iluminando os paraísos noturnos com seu clarão vermelho sombrio. Há uma imagem

correspondente para a nova economia que tem se formado a partir dos últimos anos do

século 20, [...] Ela consiste de uma série de baixos e discretos edifícios, geralmente de

muito bom gosto, inseridos em uma paisagem impecável, com atmosfera de campus.

O Wissenschaftspark Rheinelbe (Parque Científico Rheinelbe), em Gelsenkirchen,

representa a passagem acima descrita, tendo se tornado símbolo de inovação, na região do

Ruhr.

Os centros de pesquisa sempre estiveram integrados com as universidades da zona do

Hellweg. Somente cidades como Bochum, Dortmund, Essen e Duisburg eram dotadas de

atividades relacionadas à pesquisa e ao aperfeiçoamento científico. Através da criação de

institutos de pesquisa na zona do Emscher, o IBA Emscher Park, juntamente com o

governo da Renânia do Norte Vestfália, buscou novas formas de desenvolvimento e

atração para as cidades exclusivamente industriais.

Wissenschaftspark Rheinelbe em Gelsenkirchen, 2000.

Page 15: 2647 5278-1-sm

O Wissenschaftspark Rheinelbe foi criado, não somente para agir como um instituto

de pesquisa, mas também, para polarizar novas ocupações para o seu entorno. O projeto

previu a incorporação e a conexão de elementos dinamizadores13 da reconversão urbana.

Viver e trabalhar se uniram envoltos pela atmosfera agradável do parque.

O sítio em reconversão contou com o reuso de alguns dos edifícios industriais

presentes no local, entre eles, a casa dos transformadores da mina Rheinelbe, que desde

1990, foi a sede do escritório IBA Emscher Park.

5.4 No caminho para um Emscher azul. Desde a virada do século 19, o rio Emscher tornou-se um esgoto a céu aberto nos

seus 70 quilômetros de extensão leste-oeste. Com o aumento populacional e o

desenvolvimento das atividades mineradoras, o rio e seus afluentes, um sistema com 350

quilômetros, passou a ser utilizado indiscriminadamente.

A atividade exploratória da zona do Emscher não permitiu a introdução de bombas

ou tubulações subterrâneas, devido ao perigo de desabamentos e conseqüente ruptura

destes mecanismos. Com as escavações e extrações minerais, o terreno da região do

Emscher sofreu constantes acomodações e, em vários pontos, o nível do solo foi rebaixado.

O material das escavações, não tendo como retornar ao subsolo, era depositado em

outras áreas, dando origem às montanhas artificiais de detritos (slag heap), que alteraram o

relevo plano do vale do Ruhr.

Com a desindustrialização, a natureza na cidade passou a ser considerada e avaliada

não mais pelo ponto de vista pragmático dos engenheiros, mas de acordo com as demandas

ecológicas de reconversão da paisagem, entendidas como fundamentais para a

reestruturação do ambiente urbano, desgastado pelos anos de industrialização desenfreada.

Desta forma, para que o IBA tivesse credibilidade na reconversão da paisagem

destruída do Emscher, foi necessário tratar, em bases ecológicas, o elemento símbolo do

processo de degeneração industrial. O rio Emscher , por décadas, significou, através de sua

cor, de seu cheiro e de sua condição não natural, a degradação ambiental de toda a região

do Ruhr.

Uma vez que as atividades relacionadas à extração do carvão se deslocaram para

norte e que o perigo de deslizamentos não mais existiu, novas medidas foram adotadas

para o tratamento do esgoto na zona do Emscher. Desta vez, a reabilitação de partes do

13 Residências, novas formas de economia, instituições sociais e lazer.

Page 16: 2647 5278-1-sm

sistema fluvial, buscou devolver à natureza uma água limpa, fluindo em um curso mais

natural, além da requalificação paisagística das margens do rio e de seus córregos.

Para a reestruturação ecológica do sistema do rio Emscher, o IBA associou-se a

EmscherGenossenschaft (agência criada em 1904 com o objetivo de tratar dos assuntos

relativos ao consumo de água) e, em conjunto, desenvolveram três linhas básicas de

atuação:

- Descentralização das estações de tratamento do esgoto, ao longo dos 70

quilômetros do rio Emscher, além de uma estação de tratamento biológica na confluência

dos rios Ruhr e Emscher, tendo em vista a melhoria da qualidade da água.

- Separação entre a água suja e a limpa, transferindo a água contaminada para

tubulações de esgoto subterrâneas, permitindo, através do redesenho do curso da água, um

leito mais natural para os rios e córregos. Como conseqüência também, a paisagem

adjacente seria redesenhada, criando um ambiente urbano mais atraente.

- Possibilidade de captação da água da chuva nas áreas próximas ao rio Emscher

e de seus afluentes, facilitando a infiltração natural.

O projeto de reconversão dos 350 quilômetros

de curso de água poluída foi previsto para um

período de 20 a 30 anos, com investimentos

estimados da ordem de 8.7 bilhões de marcos

alemães. Exemplos de aplicação destas três linhas

básicas podem ser verificados, respectivamente,

através da criação da moderna estação de tratamento

de esgoto, na cidade de Bottrop (Kläranlage Bottrop),

da reconversão do córrego e da paisagem adjacente

ao Deininghauser Bach e do projeto de captação e

infiltração natural da água da chuva, no antigo e novo

conjunto habitacional Schüngelberg.

Através do tratamento do sistema hidrológico

do Emscher, O IBA Emscher Park ganhou, da opinião

pública, de investidores e dos poderes públicos locais,

a credibilidade na reconversão da paisagem industrial.

Deininghauser Bach em Bottrop, 2001.

Page 17: 2647 5278-1-sm

5.5 Montanhas de detritos minerais alterando o relevo do vale do Ruhr. A topografia plana, característica natural da paisagem do Ruhr, com o passar dos

anos, foi alterada pelos montes de detritos (slag heaps), construídos a partir do material

extraído na exploração das minas.

As referências da paisagem do Ruhr eram sempre aquelas relacionadas ao cenário

industrial: chaminés, gasômetros, torres de extração e outros elementos marcantes que,

principalmente nas cidades da zona do Emscher, misturavam-se e confundiam-se

reforçando ainda mais a imagem de uma grande e única conurbação industrial.

As montanhas de detritos, algumas atingindo 65 metros de altura e áreas equivalentes

a 3 hectares., foram entendidas não somente como novas formas artificiais de relevo,

produtos da natureza industrial, mas potenciais land-arts, servindo de inspiração e suporte

para projetos artísticos [GANSER: 2000, p. 20].

Desta forma, os land-arts, a paisagem transformada em obra de arte e os landmarks,

a arte criando pontos de referência na paisagem, integraram o repertório das novas

visibilidades para o Ruhr.

A partir do tratamento artístico e paisagístico recebido, as montanhas artificiais se

tornaram também estratégicas plataformas de observação da paisagem industrial em

mutação: a visibilidade que observa.

6. APRENDENDO COM A EXPERIÊNCIA. O IBA Emscher Park, influenciado pela última Mostra Internacional ocorrida em

Berlim, na década de 1980, fugiu do conceito de tabula rasa adotando o lema: “mudança

sem crescimento”.

A reutilização da terra prevenindo a exploração de novas áreas verdes; a

modernização, conservação e estratégias de re-uso para edifícios existentes; a incorporação

de práticas ecológicas para novas construções como também, para o redesenho de antigos

edifícios; e a transformação da estrutura de produção com métodos que não prejudicassem

o meio ambiente; constituíram alguns dos partidos adotados para o “desenvolvimento

controlado”, ou “mudança sem crescimento”, como definiu Karl Ganser, coordenador do

IBA.

Ao invés de planos diretores centralizadores, o IBA promoveu o desenvolvimento

regional integrado, uma nova escala de intervenção para uma mostra de construção

internacional, considerando sítios individuais, como espaços de mediação e instrumentos

de desenvolvimento urbano.

Page 18: 2647 5278-1-sm

A criação de um parque da paisagem, como elemento conector dos aproximadamente

100 projetos, recorrendo ao antigo modelo dos corredores verdes, desenhado em 1920, por

Robert Schmidt, manteve a tradição alemã de privilegiar os espaços livres, ao mesmo

tempo em que partiu em defesa da ecologia, baseada nos novos parâmetros do

desenvolvimento sustentável.

Gasômetro em Oberhausen, 2001.

A experiência IBA Emscher Park, como defendeu Ganser, não deve servir de modelo

a ser aplicado em outras realidades industriais, mas o seu conceito de intervenção sim.

Cada localidade é construída em bases históricas e culturais próprias. A industrialização,

embora tenha sido um processo de desenvolvimento econômico mundial, e a sua

estruturação tenha ocorrido em bases similares em todo o mundo, apresentou reflexos

diversos em várias localidades do planeta.

Desta forma, não se faz cabível uma comparação entre a realidade do Ruhr e a de

qualquer região ou cidade industrial brasileira, pois se assim fizéssemos correríamos o

risco de esvaziar a riqueza das diferenças em analogias estruturais que acabariam por se

sobrepor às características culturais de ambas realidades. O que nos cabe ressaltar desta

experiência, entretanto, é a metodologia empregada em se tratando da intervenção em

territórios industriais, principalmente tendo em vista a recuperação urbana e a aproximação

com as noções de crescimento e desenvolvimento sustentável.

Page 19: 2647 5278-1-sm

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

- BOSMA K. & HELLINGA H. (Hrsg) "Mastering the City I /II" Rotterdam 1997

NAI.

- CASTELLS, Manuel & HALL, Peter. Technopoles of the world: the making of 21st

century industrial complexes. London: Routledge, 1994.

- Das Neue Berlin. "Berlin: open city" Berlin: Nicolai,. 2000.

- FEHN; K. & WEHLING; H.W. " Bergbau- und Industrielandschaften" Bonn:

Mignon Verlag, 1999.

- IBA Emscher Patk & Stadt Bottrop. Städtebaulicher Realisierungswettbewerb zur

Reaktivierung der Zechenbrache Prosper III in Bottrop, 1990.

- IBA Emscher Park (Hrsg). "Ergebnisse der Studie zur Machbarkeit des Emscher

Landschftspark in: Emscher Park Informationen 4,5/1990",Gelsenkirchen IBA,1990

- Projeturbain 21/ Sep 2000 " L'IBA Emscher Park: Un anti modele"