26 AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO TRABALHO EM INDÚSTRIAS DO PÓLO MOVELEIRO DE UBÁ - MG

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III Workshop de Análise Ergonômica do Trabalho na UFV, 18 de outubro de 2007. AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO TRABALHO EM INDÚSTRIAS DO PÓLO MOVELEIRO DE UBÁ - MG Leandro Sobreira Vieira Estudante do curso de Engenharia de Produção da UFV – [email protected] Luciano José Minette Professor Adjunto II do Departamento de Engenharia de Produção da UFV – [email protected] Amaury Paulo de Souza Professor Titular do Departamento de Engenharia Florestal da UFV – [email protected] Emília Pio da Silva Mestranda em Ciência Florestal pela UFV – [email protected] Raphael Nascimento Estudante do curso de Engenharia de Produção da UFV – [email protected] RESUMO O presente estudo foi realizado a partir de dados coletados em indústrias do pólo moveleiro de Ubá, Minas Gerais, Brasil. O objetivo foi analisar os fatores biomecânicos relacionados às atividades de levantamento manual de peso, com o intuito de propiciar melhorias à saúde, conforto, bem-estar e produtividade dos trabalhadores. Os dados foram coletados nos locais de trabalho mediante observações visuais, questionários, filmagens e medições. Para a análise das posturas, foi utilizado a metodologia OWAS desenvolvida pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, com aplicação do software WinOWAS. Os resultados indicaram, através do método, que cerca de 55% das posturas adotadas durante as fases de trabalho necessitam de algum tipo de mudança. Um fato alarmante foi que em 7% do total de posturas analisadas, essas alterações deveriam ser realizadas imediatamente, sob pena de prejuízos à saúde dos trabalhadores. Esse quadro revelou a necessidade de alterações profundas e imediatas na forma como o trabalho é executado. O treinamento da mão-de-obra, a supervisão e controle diário e a aplicação de ações preventivas e corretivas pode contribuir para que tais problemas, inaceitáveis segundo os parâmetros ergonômicos, possam ser extintos do ambiente de trabalho. Palavras-chave: Ergonomia; Biomecânica; Indústria de móveis. ABSTRACT This study was carried out using data collected in furniture industries located in the region of Ubá, Minas Gerais, Brazil. The objective was to analyze biomechanical factors in manual weight handling activities to promote improvements to the health, comfort, well-being and productivity of the workers. The data were collected utilizing visual observations, questionnaires, videos and measurements. The worker´s postures were analyzed using OWAS methodology developed by Finnish Institute of Occupational Health by means of the WinOWAS software. The results indicated that about 55% of the positions adopted during the work phases needed some type of change. An alarming fact was that in 7% of the total postures analyzed, these changes had to be made immediately, unless it could cause critical damages to the health of the workers. This situation showed necessity of deep and immediate alterations in the way as the work was carried out. The workers training, improved supervision and daily activity control and the application of preventives and corrective actions can contribute so that such problems, unacceptable according to ergonomic principles, can be extinct of the work environment. Key-words: Ergonomics; Biomechanical; Furniture industries.

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Ergonomia, avaliação de cadeiras.

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AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DO TRABALHO EM INDÚSTRIAS DO PÓLO MOVELEIRO DE UBÁ - MG

Leandro Sobreira Vieira

Estudante do curso de Engenharia de Produção da UFV – [email protected] Luciano José Minette

Professor Adjunto II do Departamento de Engenharia de Produção da UFV – [email protected] Amaury Paulo de Souza

Professor Titular do Departamento de Engenharia Florestal da UFV – [email protected] Emília Pio da Silva

Mestranda em Ciência Florestal pela UFV – [email protected] Raphael Nascimento

Estudante do curso de Engenharia de Produção da UFV – [email protected]

RESUMO

O presente estudo foi realizado a partir de dados coletados em indústrias do pólo moveleiro de Ubá, Minas Gerais, Brasil. O objetivo foi analisar os fatores biomecânicos relacionados às atividades de levantamento manual de peso, com o intuito de propiciar melhorias à saúde, conforto, bem-estar e produtividade dos trabalhadores. Os dados foram coletados nos locais de trabalho mediante observações visuais, questionários, filmagens e medições. Para a análise das posturas, foi utilizado a metodologia OWAS desenvolvida pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, com aplicação do software WinOWAS. Os resultados indicaram, através do método, que cerca de 55% das posturas adotadas durante as fases de trabalho necessitam de algum tipo de mudança. Um fato alarmante foi que em 7% do total de posturas analisadas, essas alterações deveriam ser realizadas imediatamente, sob pena de prejuízos à saúde dos trabalhadores. Esse quadro revelou a necessidade de alterações profundas e imediatas na forma como o trabalho é executado. O treinamento da mão-de-obra, a supervisão e controle diário e a aplicação de ações preventivas e corretivas pode contribuir para que tais problemas, inaceitáveis segundo os parâmetros ergonômicos, possam ser extintos do ambiente de trabalho. Palavras-chave: Ergonomia; Biomecânica; Indústria de móveis. ABSTRACT

This study was carried out using data collected in furniture industries located in the region of Ubá, Minas Gerais, Brazil. The objective was to analyze biomechanical factors in manual weight handling activities to promote improvements to the health, comfort, well-being and productivity of the workers. The data were collected utilizing visual observations, questionnaires, videos and measurements. The worker´s postures were analyzed using OWAS methodology developed by Finnish Institute of Occupational Health by means of the WinOWAS software. The results indicated that about 55% of the positions adopted during the work phases needed some type of change. An alarming fact was that in 7% of the total postures analyzed, these changes had to be made immediately, unless it could cause critical damages to the health of the workers. This situation showed necessity of deep and immediate alterations in the way as the work was carried out. The workers training, improved supervision and daily activity control and the application of preventives and corrective actions can contribute so that such problems, unacceptable according to ergonomic principles, can be extinct of the work environment. Key-words: Ergonomics; Biomechanical; Furniture industries.

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1. INTRODUÇÃO

A indústria de móveis caracteriza-se pela reunião de diversos processos de produção e envolve diferentes matérias-primas e diversos produtos finais, podendo ser segmentada, principalmente, em função do material com que os móveis são confeccionados (madeira, metal e outros), assim como de acordo com os usos a que são destinados.

Segundo Silva (2003), os ambientes onde as atividades de fabricação de móveis de madeira são realizadas oferecem riscos que podem vir a comprometer a saúde, a segurança e o bem-estar dos trabalhadores. Os riscos relacionados à adoção de posturas inadequadas, durante a execução das atividades laborativas, são comumente encontrados nesses ambientes. Além disso, nas atividades de fabricação de móveis nem sempre os postos de trabalho, as ferramentas, as máquinas e os equipamentos são adequados às características antropométricas dos trabalhadores, e nem estes são suficientemente treinados para utilizá-los corretamente.

As posturas inadequadas, por exemplo, podem acarretar dores na coluna e sérios problemas de lombalgias. Normalmente, estas podem surgir durante a execução de atividades de bancada, levantamento de peso e a utilização de máquinas e decorrem, principalmente, da falta de treinamento para a adoção de posturas ergonomicamente apropriadas (SILVA, 2003).

Segundo Chaffin (1990), a biomecânica usa os conceitos de física e da engenharia para descrever o movimento feito por vários segmentos do corpo e as forças envolvidas nesses segmentos durante um dia normal de trabalho. Portanto, ela trata das interações entre o trabalho e o ser humano, do ponto de vista dos movimentos músculo-esqueletais envolvidos e suas interações.

Do ponto de vista da biomecânica, para que essas atividades sejam executadas, devem ser considerados os limites de sobrecargas física, térmica e metabólica; o levantamento, o transporte e a deposição de cargas; os esforços exigidos, de modo que garantam, juntamente com esses limites, um trabalho mais seguro, saudável e com maior conforto e que levem o trabalhador a uma maior satisfação e ao bem-estar.

As atividades ligadas ao levantamento manual de peso nas indústrias, muitas vezes, são feitas de uma forma que pode vir a comprometer a saúde do trabalhador. Durante todo o expediente de trabalho, o operário, ao realizar as tarefas, assume diversas posturas que podem lesioná-lo e, por conseguinte, diminuir a produtividade e aumentar os gastos da empresa. Assim, em decorrência do exposto acima, é que se pretende desenvolver um estudo com o intuito de analisar as tarefas envolvidas no levantamento de peso através do uso de métodos biomecânicos apropriados. 1.1. Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é fazer uma avaliação biomecânica dos trabalhadores, que executam a tarefa de levantar ou transportar uma carga manualmente, em indústrias do pólo moveleiro de Ubá – MG, visando à melhoria da saúde, do bem-estar, da segurança, do conforto e da produtividade dos trabalhadores nesta área moveleira. Especificamente, pretende-se analisar as posturas adotadas pelos trabalhadores. 2. MATERIAL E MÉTODOS

A identificação dos movimentos e posturas potencialmente lesivas aos trabalhadores foi realizada por meio de filmagens e anotações em planilhas específicas, desenvolvidas para essa finalidade. A coleta dos dados foi realizada em indústrias do pólo moveleiro de Ubá – MG.

As análises dessas observações foram realizadas aplicando-se o modelo de OWAS, desenvolvido pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional. Segundo esse modelo, cada

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segmento corporal tem um “menu” de posições possíveis e o respectivo número de convenção. Cada postura a ser analisada é registrada pela escolha de uma das posições básicas ou adicionais para cada segmento. Além disso, necessita de informações a respeito do movimento e do peso manuseado ou do esforço despendido (OWAS, 1990).

A análise ergonômica tem uma base mecânica, segundo a qual, o corpo humano pode ser dividido em seis grandes alavancas, ou seja, antebraços, braços, tronco, coxas, pernas e pés. O ponto de giro dessas alavancas são as principais articulações do corpo, a saber: cotovelos, ombros, coxofemorais, joelhos e tornozelos. A postura é montada atribuindo-se pontuações de acordo com a maneira em que cada um desses segmentos se encontra na adoção das posturas necessárias para a realização de determinada fase do ciclo de trabalho (ZENI et al., 2007).

Para o registro das posturas deve-se olhar o trabalho de forma geral verificando a postura, força e fase do trabalho, depois desviar o olhar e realizar o registro. Podendo, assim fazer estimativas da proporção do tempo durante o qual as forças são exercidas e posturas assumidas.

Para análise, a atividade foi dividida em nove fases, quais sejam: pintar (fase 1), furar (fase 2), puxar/empurrar (fase 3), serrar (fase 4), levantar (fase 5), transportar (fase 6), lixar/aplainar (fase 7), embalar (fase 8) e arrematar (fase 9), sendo que esta não é a ordem real para execução do trabalho, dado que o transporte, por exemplo, pode ser feito antes que a madeira seja serrada ou depois do produto estar embalado.

Durante a observação são consideradas as posturas relacionadas às costas, braços, pernas, ao uso de força e a fase da atividade que está sendo observada, sendo atribuídos valores e um código de seis dígitos. Segundo Zeni et al. (2007), o primeiro dígito do código indica a posição das costas, o segundo, posição dos braços, o terceiro, das pernas, o quarto indica levantamento de carga ou uso de força e o quinto e sexto, a fase de trabalho, como mostra o Quadro 1. Quadro 1 – Codificação das posturas

1º Dígito - Costas 1- Ereta 2- Inclinada para frente ou para trás 3- Torcida ou inclinada para os lados 4- Inclinada e torcida ou inclinada para frente e para os lados

2º Dígito - Braços 1- Ambos os braços abaixo do nível dos ombros 2- Um braço acima do nível dos ombros 3- Ambos os braços no nível dos ombros ou abaixo

3º Dígito - Pernas 1- Sentado 2- De pé com ambas as pernas esticadas 3- De pé com o peso em uma das pernas esticadas 4- De pé ou agachado com ambos os joelhos dobrados 5- De pé ou agachado com um dos joelhos dobrados 6- Ajoelhado em um ou ambos os joelhos 7- Andando ou se movendo

4º Dígito - Levantamento de carga ou uso de força 1- Peso ou força necessária é 10 kg ou menos 2- Peso ou força necessária excede 10 kg, mas menor que 20 kg 3- Peso ou força necessário excede 20 Kg.

5º e 6º Dígito - Fase do trabalho 1- Esses dois dígitos são reservados para fase da atividade variando de 00 a 99, selecionados a partir da

subdivisão de tarefas.

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A combinação das posições das costas, braços e pernas determinam níveis de ação para as medidas corretivas. Quando a atividade é freqüente, mesmo com carga leve, o procedimento de amostragem permite estimativa da proporção do tempo que o tronco e membros ficam nas várias posturas durante o período de trabalho. Pelo método OWAS, a postura pode ser classificada nas seguintes categorias:

a - Categoria 1: representa a classe de posturas que não necessitam de alterações b - Categoria 2: representa a classe de posturas que devem sofrer algum tipo de alteração

a longo prazo. c - Categoria 3: representa a classe de posturas que devem ser modificadas a médio

prazo. d - Categoria 4: representa a classe de posturas que devem ser alteradas imediatamente. A combinação das posições das costas, braços, pernas e uso de força no método OWAS

recebe uma pontuação, como mostrado na Figura 1.

Figura 1 – Posturas codificadas do método OWAS. Fonte: CHATIZWA, 2005. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O método OWAS, desenvolvido pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, utilizado para análise das posturas, não só do levantamento manual de peso como de outras fases do trabalho, revelou que de uma forma geral as 29 observações estavam distribuídas nas 4 categorias. Dentre as quais se observou 44,90% na categoria 1; 27,60% na categoria 2; 20,60% na categoria 3 e 6,9% na categoria 4, como mostra a Figura 2 (os valores das porcentagens nas figuras que se seguem são arredondados pelo próprio programa).

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Figura 2 – Distribuição das posturas observadas em função das categorias

Diante desse quadro, pôde-se perceber que inúmeras medidas devem ser tomadas a longo,

médio e curto prazo para correções nas posições de trabalho. Além disso, algumas alterações deveriam ser feitas a longo prazo, quando se procede a análise sob uma perspectiva geral para cada parte do corpo, como mostra a Figura 3.

Figura 3 – Recomendações para ações numa visão geral. Outra informação importante devolvida pelo programa WinOWAS são as ações a serem

tomadas através da distribuição das fases do trabalho nas categorias. Através desses dados

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percebeu-se que somente na tarefa “embalar” não havia necessidade de intervenção nas posturas de trabalho e em todas as outras alguma mudança deverá ser feita, como mostra a Figura 4. Além disso, quando somente as categorias 3 e 4 foram analisadas, percebeu-se que as atividades que apresentam maiores riscos de lesões nos trabalhadores são as tarefas puxar/empurrar, serrar, levantar, transportar e lixar/aplainar, merecendo, portanto, maior atenção e preocupação dentre as atividades desempenhadas (Figura 5).

Figura 4 – Distribuição das categorias em função das tarefas.

Figura 5 – Distribuição das categorias 3 e 4 em função das tarefas.

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3.1 - Fase 1 (pintar) A fase do trabalho que diz respeito à pintura, representada na Figura 6, correspondeu a

14% dos registros fotográficos, sendo que 50% dessas posturas estão na categoria 1 e 50% na categoria 2. Tal situação possibilita inferir que deveriam ser tomadas providências a longo prazo para corrigir as posições que estão na categoria 2, especificamente nas costas quando estão curvadas e giradas e nas pernas quando sustentando o peso sobre uma perna.

Figura 6 – Foto ilustrativa da fase 1 (pintar) – código 4131. A Figura 7 mostra as possibilidades de combinação das posturas para as costas, braços,

pernas, bem como a porcentagem de observações para cada situação e em que categoria está classificada.

Figura 7 – Recomendações para ações na fase 1 (pintar).

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3.2 - Fase 2 (furar) A fase 2 da atividade, representada na Figura 8 e aqui definida como a tarefa de furar

uma superfície, foi observada 2 vezes ou 7% do total, dessas uma encontra-se na categoria 1 e a outra na 2.

A análise das recomendações para ações mostrou que, de uma forma geral, a postura com código 413 pelo método OWAS deve ser modificada a longo prazo. Todavia, ela deve ter a disposição das costas modificada a médio prazo, já que está curvada e girada, e isso poderia causar lesões nos trabalhadores, situação representada na Figura 9, pelo prolongamento da barra sinalizadora até o bloco de cor azul.

Figura 8 – Foto ilustrativa da fase 2 (furar) – código 4131.

Figura 9 – Recomendações para ações na fase 2 (furar).

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3.3 - Fase 3 (puxar/empurrar)

A tarefa correspondente ao ato de puxar ou empurrar um objeto foi observada em três registros fotográficos ou 10% do total (Figura 10), nos quais as posturas estão distribuídas entre as categorias 1, 3 e 4, indicando a existência de posturas que devem ser corrigidas imediatamente e a médio prazo.

Analisando a fase como um todo, os resultados mostram que as posições para as costas e pernas devem ser modificadas a médio prazo, principalmente, a última, na qual o indivíduo está de pé com um dos joelhos dobrados, observada em 67% dos registros, como mostra a Figura 11.

Figura 10 – Foto ilustrativa da fase 3 (puxar/empurrar) – código 4153.

Figura 11 – Recomendações para ações na fase 3 (puxar/empurrar).

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3.4 - Fase 4 (serrar)

A fase 4 ou a tarefa “serrar” (Figura 12) correspondeu a 10% do total de registros realizados, distribuídos nas categorias 1, 3 e 4, evidenciando que, assim como na fase 3 (puxar/empurrar), existia pelo menos uma posição que deveria ser alterada imediatamente sob pena de riscos à saúde do trabalhador.

A análise das recomendações para ações apontou a necessidade de alterações a longo prazo na forma como as costas e braços são posicionados durante a execução da tarefa e melhoras no posicionamento das pernas a médio prazo, como mostra a Figura 13.

Figura 12 – Foto ilustrativa da fase 4 (serrar) – código 1321.

Figura 13 – Recomendações para ações na fase 4 (serrar).

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3.5 - Fase 5 (levantar)

A etapa do trabalho definida como a ação de levantar um objeto (Figura 14) apareceu uma vez nas observações e corresponde a 3% do total, sendo que as costas, braços, pernas e a carga manuseada combinados entre si levavam a postura à categoria 3, o que possibilitou inferir sobre a necessidade de reavaliação da posição de trabalho.

Através da simulação da carga manuseada para essa postura observou-se que independente da massa do material a ser levantado, a postura por si só já deve ser modificada a médio prazo, como mostra o Quadro 2. As modificações na posição de trabalho devem ser concentradas nas costas, trabalhando a médio prazo para correção, e nas pernas, corrigindo imediatamente a posição, a Figura 15 destaca essa situação.

Quadro 2 – Categoria observada em função da carga manuseada

Código da postura Carga manuseada (kg) Categoria 2141 < 10 3 2142 < 20 3 2143 > 20 3

Figura 14 – Foto ilustrativa da fase 5 (levantar) – código 2141.

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Figura 15 – Recomendações para ações na fase 5 (levantar). 3.6 - Fase 6 (transportar)

O transporte de cargas, representado na Figura 16, foi observado em 10% dos registros, o que equivale a três das vinte e nove observações. A análise geral dessa etapa da atividade mostrou que deve ser dispensada maior atenção a apenas uma das posturas, a fim de evitar possíveis lesões aos trabalhadores, dado que esta foi classificada na categoria 3.

Figura 16 – Foto ilustrativa da fase 6 (transportar) – código 2372.

Através da simulação do valor da massa transportada pelos trabalhadores pode-se perceber que para duas das posturas, a posição de cada parte do corpo proporciona estabilidade à postura, independente do valor da carga, de forma que não há necessidade de intervenção na tarefa. Todavia, para a postura de código 237 (o quarto dígito varia de 1 a 3 de acordo com a carga), os resultados mostram que à medida que se aumenta o valor da massa da carga manuseada, a tarefa exige intervenção e quando a massa for maior que 20 kg, esta deve ser imediata, como mostra o Quadro 3.

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Quadro 3 – Classificação da postura em função da carga manuseada Código da postura Carga manuseada (kg) Categoria

1271 < 10 kg 1 1272 < 20 kg 1 1273 > 20 kg 1 1321 < 10 kg 1 1322 < 20 kg 1 1323 > 20 kg 1 2371 < 10 kg 2 2372 < 20 kg 3 2373 > 20 kg 4

Analisando os reflexos da posição de cada membro, de acordo com o método proposto

pelo Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, observou-se que existe necessidade de melhorar a tarefa a longo prazo nas posturas em que os braços são colocados acima da linha do ombro, e também quando exige que as costas estejam curvadas, situação definida na Figura 17.

Figura 17 – Recomendações para ações na fase 6 (transporte) 3.7 - Fase 7 (lixar/aplainar)

A tarefa em que o trabalhador está lixando ou aplainando uma superfície está representada na Figura 18, sendo que correspondeu a 28% das observações e foram classificadas nas categorias 1 e 2, com 37,5% das observações cada para essa etapa, e na categoria 3 com 25% das posturas dessa fase do trabalho. Tal situação analisada sob uma perspectiva individual das posturas possibilitou inferir que a tarefa deve ser corrigida a médio prazo, orientando os trabalhadores sobre a melhor maneira de executar a tarefa sem riscos à saúde dos mesmos.

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Figura 18 – Foto ilustrativa da fase 7 (aplainar) – código 2121.

Os resultados da análise para cada parte do corpo nessa fase do trabalho mostraram que os maiores problemas estão na posição das costas quando curvadas e pernas sustentando o peso sobre os dois joelhos curvados, ambos os problemas devem ser resolvidos a longo prazo. A Figura 19 destaca os problemas relatados anteriormente.

Figura 19 – Recomendações para ações na fase 7 (lixar/aplainar). 3.8 - Fase 8 (embalar)

O processo de embalagem dos produtos, representado na Figura 20, foi observado duas vezes ou 7% do total, sendo que em ambas não havia necessidade de modificações, pois as posturas mantinham a estabilidade do corpo sem prejuízos à saúde do indivíduo. Todavia, poderiam ser feitas algumas correções na posição das costas a longo prazo e pernas a médio prazo, como mostra a Figura 21.

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Figura 20 – Foto ilustrativa da fase 8 (embalar) – código 3131.

Figura 21 – Recomendações para ações na fase 8 (embalar). 3.9 - Fase 9 (arrematar)

Para essa etapa do trabalho (Figura 22) foram obtidos três registros fotográficos que correspondem a 10% do total, com uma postura na categoria 1 e duas na categoria 2. Dessa forma, tanto no aspecto geral quanto para cada parte do corpo analisada individualmente, os procedimentos a serem tomados pela empresa deveriam abranger um período de tempo definido como longo prazo, situação demonstrada na Figura 23.

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Figura 22 – Foto ilustrativa da fase 9 (arrematar) – código 2121.

Figura 23 – Recomendações para ações na fase 9 (arrematar). 4. CONCLUSÃO

A análise das ações recomendadas para as posturas, numa visão que engloba todas as tarefas, mostrou que as principais mudanças que devem ser feitas estão nas posições das costas e pernas, mais precisamente quando a postura exigir do indivíduo curvatura da coluna e ao mesmo tempo exigir curvatura e giro da coluna. Além dessas, deve-se buscar melhorar as posturas em que o trabalhador assume a posição ereta com um ou os dois joelhos dobrados. Embora uma visão geral remeta à necessidade de alterações somente a longo prazo, cada postura deve ser tratada individualmente, visto que a análise individual revelou situações inadmissíveis do ponto de vista da Ergonomia, as quais exigem mudanças imediatas.

Existem tarefas, principalmente a tarefa em que os materiais são erguidos, nas quais a postura por si só é prejudicial à saúde dos trabalhadores, independente da carga a ser manuseada. Essa situação não compromete só as condições de trabalho e a saúde dos empregados, mas pode, também, comprometer, substancialmente, o rendimento dos funcionários, com isso a empresa

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perde em produtividade e, por conseguinte, pode perder competitividade em relação aos concorrentes.

Diante desse quadro conclui-se que são necessárias mudanças radicais e imediatas, bem como treinamento da mão-de-obra, supervisão e controle diário com a aplicação de ações preventivas e corretivas, para que tais problemas, inaceitáveis segundo os parâmetros ergonômicos, possam ser extintos do ambiente de trabalho. 5. AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pela concessão de bolsa de iniciação científica ao primeiro autor deste estudo.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAFFIN, D.B., ANDERSSON, G.B.J. Occupational biomechanics. 2 ed. New York: John Wilwy & Sons, 1990. 518 p.

CHATIZWA, I. Gender and ergonomics in agricultural engineering, Institute of Agricultural Engineering, Department of Aqritex. Disponível em: <http://www.fao.org>. Acesso em 15 de junho de 2007.

OWAS, Manual Ovako Working Analysing System. Helsinki: Finnish Institute of Occupational Health, 1990. não paginado.

SILVA, K. R. Análise de fatores ergonômicos em indústrias do pólo moveleiro de Ubá, MG. Viçosa, MG: UFV, 2003, 123p. (Tese, Doutorado em Ciência Florestal). Universidade Federal de Viçosa, 2003.

ZENI, L. A. Z. R., SALLES, R. K., BENEDETTI, T.B. Avaliação postural pelo método OWAS. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br>. Acesso em: 15 de junho de 2007.