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Muito Bom O cortiço

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O cortio foi publicado em 1890, em meio atividade febril de produo literria a que Alusio de Azevedo se viu obrigado, em seu projeto de profissionalizar-se como escritor. Teve de escrever muitos romances e contos para atender a pedidos de editores, que procuravam corresponder ao gosto do pblico leitor, um gosto marcado pelo pior tipo de romantismo. Por isso, produziu muita literatura inferior, baixamente romntica, estilisticamente descuidada. Mas O cortio tem situao inteiramente parte nessa produo numerosa e quase toda sem importncia, pois neste livro Alusio pe em prtica os princpios naturalistas, em que acreditava, e toda sua capacidade artstica.

O romance de ntido recorte sociolgico, representando as relaes entre o elemento portugus, que explora o Brasil em sua nsia de enriquecimento, e o elemento brasileiro, apresentado como inferior e vilmente explorado pelo portugus. A obra revela a aceitao de idias filosficas e cientficas do tempo: aparecem, diludas no livro, noes de determinismo e de evolucionismo.

Na elaborao de O cortio, Alusio de Azevedo seguiu, como em Casa de Penso a tcnica naturalista de Zola. Visitou inmeras habitaes coletivas no Rio; interrogou lavadeiras, capoeiras, vendedores, cavouqueiros; observou-lhes a linguagem; escutou atento os rudos coletivos dos cortios; sentiu-lhes o cheiro (como na obra de Zola, as imagens olfativas tm importncia na fixao do ambiente. Segundo um processo criado pelos naturalistas); viu-lhes a promiscuidade e notou que as coletividades, apesar de divergirem, so ligadas por um estranho sentimento de classe, que as une, nos momentos mais crticos, quando so esquecidos os dios e as divergncias. Com toda essa documentao, criou o enredo em torno de um problema social que se tornava mais e mais grave, com a formao de grandes massas urbanas proletrias, constitudas em boa parte pelos operrios dos primrdios da industrializao do pas.

Duas grandes qualidades devem ser observadas no estilo de O cortio: uma a grande capacidade de representao visual do autor, certamente relacionada com sua habilidade para o desenho (como vimos, Alusio exerceu, em certa poca, a atividade de caricaturista) e que faz que tenhamos freqentemente, ao ler o romance, a impresso de estarmos assistindo a um filme; a outra a sua formidvel habilidade para dar vida multido, ao grande grupo humano dos moradores do cortio. De fato, vemos, no romance, essa coletividade pulsar, reagir, alegrando-se, deprimindo-se ou irando-se e ocupando o lugar de personagem central da obra. Desse grupo variado e animado destacam-se alguns tipos, a que o romancista soube atribuir uma individualidade marcante. Entre estes ltimos, inesquecvel a figura de Rita Baiana, a bela, sensual, generosa e graciosa mulata, que se tornou uma das personagens mais notveis da literatura brasileira.