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INTRODUÇÃO À SEMIÓTICA
A semiótica, disciplina cujo nascimento relativamente recente explica sua pouca
difusão no contexto das ciências humanas, tem como projeto científico descrever,
analisar, construir um modelo teórico, o fenômeno da significação em todos os lugares
onde ele se manifesta.
Greimas escreve em 1966, em Sémantique structurale : “O mundo humano é o
mundo da significação”.
A semiótica se distingue, por conseguinte da semiologia, que no stricto sensu se
ocupa dos fenômenos da comunicação com apoio de sistemas de sinais, mesmo que,
geralmente exista uma tendência de interpretar os termos semiótica e semiologia como
sinônimos.
A semiótica também se distingue da semântica que estuda (em oposição à fonologia
e morfo-sintaxe) a organização dos significados manifestos pelos signos de uma língua
natural.
Mesmo o termo semiótica reenvia a numerosas escolas, correntes, diversas tradições
cuja história se confunde com o século XX: a semiótica americana de C.S,. Peirce é um
pouco mais contemporânea da lingüística de F. de Saussure (o mesmo que cria o
conceito de semiologia, concebido como ciência dos sistemas de signos); a semiótica
russa nasceu com os trabalhos de V. Propp (1928: a Morfologia do Conto), e foi seguida
pela corrente do formalismo depois, entre outros, com Lotman,; a semiótica italiana se
desenvolveu, essencialmente, em torno da obra de U. Eco; quanto à semiótica francesa,
a da Escola de Paris a qual pertencemos, ela deve seu nascimento à Algirdas Julien
Greimas (1917-1992), a partir dos anos 60.
Nossa introdução limitar-se-á a esta corrente, semiótica francesa, cujo
desenvolvimento tivemos a oportunidade de seguir de 1965 até os nossos dias.
A semiótica da Escola de Paris se constituiu sob a influência de Greimas
ultrapassando os limites e a lexicologia e a semântica, se caracteriza por dois aspectos
complementares:
- Por um lado pela extensão progressiva – e considerável – de seu campo de
investigações: partiu da análise da literatura denominada oral (mitos, contos e
mesmo rituais), ela rapidamente se interessou pela literatura escrita e pelo
conjunto de discursos verbais ( histórico, jurídico, filosófico, científico, etc.),
enfrentando ao mesmo tempo os discursos não verbais como a imagem
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fotográfica, a pintura, a escultura, a arquitetura, a música bem como os
discursos sincréticos (organizando vários sistemas semióticos
simultaneamente): cinema, teatro, comunicação publicitária e mesmo
comportamentos ( constituídos pela linguagem, gestualidade e proxêmica).
Observação: Vemos portanto, que a semiótica, neste último exemplo, pretende adotar como objeto não somente as produções verbais e não verbais atribuíveis aos enunciadores - criadores, mas também às produções espontâneas que são os comportamentos humanos da vida cotidiana.
- Por outro lado o projeto de construção de um modelo teórico conduz da significação
com ajuda de um modelo necessariamente estratificado em níveis que vão do mais
abstrato ao mais concreto: o percurso gerativo da significação. Este modelo deve
apresentar um tal nível ideal de generalidade, que possa abordar toda produção
humana significativa, verbal e/ou não verbal.
A semiótica da Escola de Paris se constituiu sob a influência de Greimas, no campo
epistemológico do estruturalismo (culmina nos anos 1965), na confluência entre a
lingüística, a antropologia e a lógica formal, sem esquecer a influência, menos explícita
mas bem real, da psicanálise.
Mas sabemos que, desde os anos 80 se impôs a necessidade de uma ruptura
epistemológica, ou seja, a reintrodução do sujeito de enunciação, que havia sido
eliminado pelo estruturalismo stricto sensu. E. Benveniste havia por outro lado, bem
antes dos anos 60, lançado as bases de uma lingüística da enunciação. Seu discípulo
Jean Claude Coquet, retomando a lição da fenomenologia, edificaria uma semiótica dita
subjectale que colocou em debate os problemas epistemológicos do estruturalismo que
são o formalismo e o imanentismo: ele restabelecerá assim o vínculo entre a linguagem
e a realidade, (ré) afirmando, por exemplo, que o corpo é a instância de base do
discurso, que prima sobre a língua. O sujeito, em seu corpo e carne, é então
ressuscitado.
Enfim, os trabalhos de Jean Petitot, na interface de uma moderna teoria matemática
(a teoria das catástrofes de René Thom, que lhe valeu a medalha Fields, equivalente ao
prêmio Nobel de matemática), os desenvolvimentos das ciências cognitivas (análise, por
exemplo, da percepção humana) e de uma semiótica orientada para processos dinâmicos
que chegasse a criar um novo campo epistemológico denominado estruturalismo morfo-
dinâmico, onde a noção de forma é central.
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Mas esta evolução do quadro epistemológico da semiótica inevitável e tão esperada
não colocou em questão suas características essenciais, seja a extensão contínua de seu
objeto de investigação e da inquietação com a construção de um modelo teórico como
valor geral do próprio processo de revelar a significação: assim esta «caixa preta»
temida tornou a ligar percepção e enunciação verbal, hoje no centro das pesquisas em
ciências cognitivas.
Nós temos, de nossa parte, contribuído para a semiótica da literatura (poesia
contemporânea) da pintura (Dali, Ayme, Cranach l’Ancien) e da escultura (Michel-
Angel) mas, sobretudo, nossa contribuição específica consistiu na edificação de uma
psicossemiótica e suas aplicações em psicoterapia e, mais recentemente, uma
ethossemiótica visando a análise dos comportamentos animais e humanos, normais e
patológicos.
A SEMIÓTICA DE GREIMAS
O modelo semiótico de Greimas pode aparecer como um tipo de síntese notável entre
as pesquisas, sobretudo sintagmáticas, de Propp a partir da análise do maravilhoso conto
russo (Morfologia do conto, 1928) e dos trabalhos de Cl. Lévi-Strauss (Antropologia
estrutural, tomos I & II) que insistiam no paradigmático revelando o sentido dos mitos
analisados.
Do lado do paradigmático, Greimas foi além das pesquisas concernentes à dimensão
narrativa do discurso, mostrando que, do ponto de vista morfológico, as invenções
narrativas as mais diversas mobilizam um número muito limitado dos actantes, papéis
narrativos abstratos que se incorporam infinitamente nos personagens múltiplos de tal e
tal relato.
Ele distingue
- o actante-sujeito, que se define pela “junção” (disjunção ou conjunção) com
o actante-objeto: reencontramos aqui a noção central de falta, da qual Propp
havia descoberto a função de impulsionar o conto. Ponto possível do relato se
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não falta alguma coisa a alguém e o relato sob sua forma mínima, com “happy
end”, pode aparecer como a série de transformações que ligam a falta inicial a
sua liquidação final.
- o actante-objeto, reciprocamente, somente pela relação com o actante-sujeito,
conjunta ou disjunta; ele é por outro lado o continente de valores: o actante-
objeto procurado pelo actante-sujeito pode ser representado, por exemplo, por
um «automóvel», figura que manifesta, entre outras, o valor de «poder» ou de
«virilidade». Falaremos do objeto de valor.
- O actante-destinador ligado ao actante-destinatário muitas vezes fusionado
com o actante-sujeito. O destinador é o actante hierarquicamente superior ao
sujeito, que lhe comunica os valores em jogo no relato e, veremos também os
elementos dessa competência modal (destinador dito manipulador). É também
a estância actancial que avalia as performances do sujeito (destinador dito
judicador).
Greimas propõe uma noção central, aquela do esquema narrativo, estrutura
sintagmática que põe em ação central os actantes do relato, esquema potencialmente
caracterizado como forma universal da organização narrativa.
O relato humano se apresenta, com efeito, como a sucessão de três provas:
qualificante, decisiva e glorificante. Esta sucessão estável, recorrente é uma forma de
conferir «um sentido à vida» que a priori não teria nenhum: inicialmente, a primeira
etapa do esquema, a «qualificação» do sujeito-herói que o introduz na vida; e segunda
etapa, sua «realização» por alguma coisa que ele faz; enfim, a «sansão», retribuição e
reconhecimento, última garantia do sentido de seus atos e de sua identidade.
Retomemos, para ilustrar, esta importante noção de esquema narrativo, do qual as
três etapas constituem a fórmula sintáxica permanente.
Nós tomaremos para isso o exemplo de um conto universalmente conhecido, aquele
da Cinderela, cujas numerosas variações foram recolhidas não somente na Europa, mas
também, fora de toda comunicação possível, mesmo em uma etnia indígena da América
do Norte onde o herói é um rapaz e não uma moça, como nas variantes européias, mas
sempre ligada à cinza.
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A primeira etapa do esquema narrativo é então constituída pela qualificação
progressiva do sujeito. Notamos que no começo do conto, que Cinderela não é, no
sentido semiótico, um actante-sujeito: ela não quis nada, não é inscrita em nenhuma
busca de um objeto-valor. Em certas versões francesas ela é mesmo designada
vulgarmente como uma mendiga: ela está nua, suja e arrasta-se em torno da lareira «se
beurrant tout le jour le cul de cendres» ( designação popular do gesto masturbatório).
Bem distante de ser constituída como sujeito, ela relembra em seu comportamento o
«sujeito» autista movido por «estereótipos» auto-eróticos.
Nós notaremos que a emergência de Cinderela como actante-sujeito se produz
quando deseja enfim alguma coisa: ir ao baile. Mas a família lhe envia uma mensagem
como se este projeto fosse totalmente incoerente, enquanto que convém perfeitamente a
suas meias-irmãs. Negligenciada, suja, como ela poderia ousar se apresentar no baile?
Em termos semióticos, se ela possui a modalidade da competência pragmática que é
o querer (ela quer ir ao baile), faltam-lhe outras modalidade necessárias para realizar a
performance desejada: o poder e o saber fazer. Acrescentaremos que, vítima de uma
proibição por parte da madrasta, ela deve superar o não deve fazer (= não deve ir ao
baile). Ela aparece então como um sujeito modalmente incompetente: dividida entre
querer fazer e dever fazer, desprovida do poder e do saber fazer.
Sem a intervenção de um Destinador transcendente, superior, Cinderela ficará
provavelmente neste estado de incompetência frustrante. A fada-madrinha (dotada de
um poder mágico, forma de todo poder característico do Destinador), fantasiada de
mendiga, a submete à prova qualificante, testando sua caridade. Cinderela é bem
sucedida na prova e recebe em retribuição as modalidades da competência que lhe
faltam:
- O poder ir ao baile, sob a forma de carruagem, com a restrição de uma
duração limitada: a meia noite o veículo se transformará em uma abóbora,
voltando desta maneira a sua forma original.
- O saber ir ao baile, num belo vestido ( elemento presente em todas as versões)
fantasia estratégica que dissimula a verdadeira identidade de Cinderela.
Sabemos que o belo vestido está igualmente limitado no tempo, como a
carruagem.
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Assim, dotada das modalidades da competência, Cinderela pode ir ao baile,
enfrentando a proibição familiar, neste anonimato protetor que lhe confere seu status de
princesa.
A segunda etapa é aquela da realização da performance central do conto, a prova
decisiva: acolhida triunfalmente no baile, ela perde sua identidade original e é designada
no conto como a bela princesa desconhecida. O encontro com o príncipe se realiza
plenamente, interrompido pela necessidade de partir antes da hora fatídica.
Constataremos que, nas numerosas versões deste conto, a performance de ir ao baile
é triplicada: ela vai, por exemplo, com um vestido de cor de prata, e de ouro, e de cor
do tempo, por exemplo. A triplicação narrativa e muito freqüente no conto, em geral:
frequentemente veremos que as duas primeiras tentativas fracassam e somente a
terceira é bem sucedida. «Jamais dois sem três», diz a sabedoria popular.
A terceira etapa do esquema narrativo: apresenta-se então o problema difícil da
prova glorificante, o da sanção final do relato. Felizmente, na sua pressa, Cinderela
perdeu um sapato de «vair» (feito de pele de cores variadas). E a prova de
reconhecimento daquele que efetivamente realizou a performance se resume em poder
calçar o sapato.
As meias-irmãs de Cinderela, sabemos, mutilam o pé para poder calçar o sapato
muito pequeno para elas, mas são traídas pelo sangue! Aqui, nós vemos, como sublinha
Greimas, que o conto é ao mesmo tempo o relato do herói, mas também o relato do
traidor, representado neste conto pelas irmãs.
Cinderela calça facilmente, perfeitamente o sapato, a pantufa de pele, é reconhecida,
glorificada pelo Príncipe, mudando para a mesma identidade, aquela que a autoriza a se
unir ao príncipe no casamento e a mudar radicalmente de status.
O percurso de Cinderela é exemplar no plano denominado da veridicção em
semiótica:
- Inicialmente, Cinderela é o registro da falsidade: ela nem parece nada, ela não
é nem mesmo um sujeito, como nós vimos.
- Dissimulada pelas roupas boas, Cinderela está numa posição mentirosa, ela
parece o que ela não é, usurpando uma identidade que não é a sua.
- Cinderela, em seguida, adota a posição do segredo: ela é mais não parece, não
se manifesta, não é encontrada.
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- Enfim, a prova da glorificação final, Cinderela atinge um status semiótico de
verdade: ela se torna, é o que ela parece.
Estas diferentes posições veredictórias, tudo ao longo do conto, podem tomar lugar
num modelo lógico central de Greimas, o quadrado semiótico:
verdade
ser parecer
segredo mentira
não-parecer não-ser
falsidade
- verdade = ser + parecer (posição 4, final)
- falsidade = não-ser + não-parecer (posição1, inicial)
- mentira = parece + não-ser(posição 2)
- segredo = ser + não-parecer (posição 3)
Nós permanecemos aqui sobre a dimensão narrativa do discurso do conto, ilustrando
a análise semiótica das três provas constituintes do esquema narrativo.
Uma das grandes descobertas semióticas em análise do discurso da literatura oral é a
demonstração de caráter muito geral, ou seja, talvez universal, desta organização
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sintagmática da narrativa humana, cuja função, repetirmos de novo, é de dar senso à
vida, sem o qual o puro processo de crescimento/decrescimento seria apenas biológico.
Os trabalhos de Greimas e da Escola de Paris mostraram, por outro lado, que todo
discurso, e não somente os contos e os mitos, eram de uma narrativa componente,
incluindo os discursos menos figurativos, os mais abstratos, como os discursos
filosóficos, por exemplo.
Além disso, nosso próprio trabalho, fundando uma etossemiótica, a análise dos
comportamentos, da ação humana, reafirma que a narratividade é um componente
central, constituindo e regulando o comportamento humano.
Para completar funcionalmente esta apresentação rápida da semiótica de Greimas,
nós devemos acrescentar ao esquema narrativo, às provas sucessivas e aos actantes o
percurso gerativo da significação, do qual nós acrescentamos somente uma noção
parcial, mesmo que importante, aquele da dimensão narrativa.
Este modelo, como nós indicamos no começo, é um modelo estratificado, composto
de níveis distintos, repetindo o processo mesmo de clarificar a significação nos
discursos (verbais e não verbais).
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Veja a representação que dão Greimas e Courtés no Sémiotique : dictionnaire
raisonné de la théorie du langage, tome 1, Hachette, Paris, 1979:
PERCURSO GERATIVO
componente sintáxico
componente semântico
Estruturas Semio-narrativas
nível SINTAXEprofundo FUNDAMEN- TAL_______________________ Nível de SINTAXE superfície NARRATIVA DE SUPERFICE
SEMÂNTIQUE FUNDAMENTAL
______________________ SEMÂNTIQUE NARRATIVA
Estruturas
discursivas
SINTAXE
DISCURSIVA
Discursivização
- actorialização
- temporalização
- espacialização
SEMÂNTIQUE
DISCURSIVA
Tematização
Figurativização
Este quadro, recapitulação esclarecedora da significação (seu «percurso gerativo»),
apresenta uma sucessão de níveis, desde o mais profundo e mais abstrato (sintaxe e
semântica fundamentais formalizadas pelo quadrado semiótico) até o mais superficial e
concreto, aquele dos discursos manifestos nas diferentes linguagens verbais e não
verbais.
A passagem de um nível a outro se faz graças à operação fundamental de conversão:
assim um valor profundo da dêixis positiva do quadrado (onde se inscrevem os valores
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procurados e aqueles rejeitados) irá se investir num actante-objeto procurado por um
actante-sujeito (sintaxe e semântica narrativa de superfície). A sintaxe e a semântica
discursivas, graças à sustentação da enunciação (que vai colocar em discurso as
estruturas semio-narrativas de superfície), vão acrescentar uma valorização de
significação convertendo os actantes em atores, introduzindo o tempo e o espaço. A
operação semântica central é aquela da figurativização: assim um valor profundo, como
dizíamos, a /potência/ pode se tornar um actante-objeto procurado e investir-se
finalmente numa figura, um automóvel, por exemplo.
DA SEMIÓTICA À PSICOSSEMIÓTICA
Nós vamos agora brevemente reconstituir o percurso que interliga a semiótica dos
primeiros tempos (aquela ainda ligada ao corpus dos mitos e dos contos) à
psicossemiótica que se ocupa do comportamento global do sujeito.
Que fique bem claro que a psicossemiótica é um ramo, bem recente da semiótica,
aquela - A.J. Greimas muitas vezes evocou - é paradoxalmente proveniente de um
fracasso devido a toda sua dimensão heurística a uma notável confluência: decepção
pelas perspectivas limitadas da lexicologia restrita à unidade-palavra, e da semântica
lingüística fràstica, o fundador da Escola de Paris edificou a semiótica, como um ponto
sinérgico dos estudos folclóricos (V. Propp), da mitologia comparada (G. Dumézil), da
antropologia estrutural (Cl. Lévi-Strauss) e da lógica formal. Sempre e ainda o encontro,
mas com uma esquiva bem sucedida e da ilusão interdisciplinar e do ecletismo (veremos
de que maneira): nascimento de um novo projeto científico descortinando no horizonte
um vasto espaço a ser descoberto, um pouco a maneira do auguro delimitante no céu o
campo de futuros eventos.
A edificação da semiótica greimassiana se fez assim, depois da constatação de uma
dupla falha, aquela de uma lexicologia e de uma semântica respectivamente fechadas
nos limites exíguos da palavra, da frase. A abertura para a dimensão do discurso era
desde então necessária, na direção das pesquisas situadas fora da lingüística, instalada
há muito tempo, nos vastos domínios discursivos constituídos, por exemplo, pelos
mitos e contos.
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O perigo deste ecletismo era então muito grande, era necessário delimitar com rigor
o objeto da empreitada semiótica, e tentar integrar os aportes destas diversas disciplinas
em um modelo teórico coerente, o que não era óbvio, mas que, no entanto foi realizado.
Como?
Graças à elaboração de uma teoria da significação (aparecendo desde a Semântica
Estrutural, 1966) que garantisse a homogeneidade e a coerência dos modelos e
procedimentos elaborados. A esta teoria da significação deu-se rapidamente uma forma
gerativa (Du Sens, 1970) representando a criação da significação nos discursos, segundo
um percurso dito, precisamente, gerativo ( ver esquema anterior).
Mesmo se o termo percurso não aparece que tardiamente (no Dicionário, em 1979),
a concepção de um modelo disposto em níveis sucessivos é então bem anterior, e
permite a integração, com coerência, dos aportes fundamentais, entre outros, de V.
Propp e de Cl. Lévi-Strauss.
Assim, a análise lévi-estrausssiana do mito, num modelo acrônico, não respeitoso da
narratividade, seria ela representável em nível de estruturas profundas (semântica e
sintaxe fundamentais). No entanto, a análise propiana, estritamente sintagmática, da
consecução das funções nos contos, alimenta um outro nível de modelo, aquele da
sintaxe narrativa de superfície, a custa realmente, de um trabalho considerável de
metabolização.
Freud présemioticista
Paremos um pouco sobre esta representação de componentes empilhados do simples
ao complexo, do abstrato ao concreto. E sobre o leque da significação através destes
planos sucessivos, o que supõe tantas conversões dirigidas para a superfície figurativa
dos discursos.
O leitor familiarizado com a lingüística terá percebido aqui, imediatamente, a
referência implícita à gramática gerativa de N. Chomsky que, também, previa estruturas
profundas e estruturas superficiais, mas em um quadro limitado da geração de frases e
não de discursos.
Mas, é uma outra aproximação menos visível, que nós queríamos proceder, pois ela
esclarece a especificidade de nossa empreitada psicossemiótica.
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Trata-se da referência a Freud, à Traumdeutung, brevemente evocado no Dicionário,
no artigo Psicossemiótica :
“... bem que a Traumdeutung de Freud seja um trabalho notável da análise semiótica
antes mesmo da semiótica...”
Comecemos por um primeiro traço, que reaparece “de cara”, a empreitada de Freud,
a do semioticista: este fato metodológico notável consistindo em situar a análise sob a
dimensão do discurso. Freud, como sabemos, está na busca do sentido global de um
todo discursivo, o sonho contado, “lexologia simbólica” que fixa uma “chave dos
sonhos”, um dicionário fixado sobre as criações oníricas, apegando-se exclusivamente
aos fragmentos discursivos.
E se Freud trabalha, de maneira muito sutil, sobre tal ou tal fragmento do sonho, está
sempre a serviço de uma demonstração global, para mostrar que o todo do sonho tem
um sentido permanente, aquele da realização de um desejo. O semioticista reconhece aí
uma unidade narrativa familiar: o sonho, o conto, o mito (e terapia) se reencontram aí,
na colocação em discurso da falta e de sua liquidação.
O segundo traço comum às duas tentativas, a construção necessária de níveis
distintos: Freud considera desde o início que é inútil permanecer no nível manifesto do
sonho (o relato imediato do indivíduo que sonha e que precisa prever um nível mais
profundo, construído para analisar, aquele do conteúdo latente, os pensamentos do
sonho). E é realmente o nível que permite alcançar a inteligibilidade do sonho que se
apresenta primeiramente, no nível manifesto, como enigmático.
Veja então que é colocado um modelo estratificado articulando dois níveis de
naturezas distintas, um perceptível diretamente e incompreensível, outro a construir e se
abrindo sobre o inteligível.
E Freud vai ainda mais longe quando indica “... que um novo trabalho se impõe [a
ele. Ele deve] investigar quais são as relações entre o conteúdo manifesto do sonho e
dos pensamentos latentes e examinar o processo pelo qual esses produziram aqueles...”.
A terceira semelhança como está colocado aqui o problema tão importante em
semiótica, a conversão: como a significação é transferida de um nível a outro, ao
mesmo tempo idêntico e diferente, complexificado, concretizado, figurativizado? Pois
estes pensamentos profundos do sonho estão bem contidos no sonho contado, portanto
diretamente interpretável.
Freud concluiu seu modelo gerativo do sonho estudando (num longo capítulo,
capital, aquele do Trabalho do sonho) os procedimentos de conversão que se percebe
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da passagem do conteúdo latente para o conteúdo manifesto do sonho. Veja um de seus
comentários:
“ Está agora estabelecido que a condensação e o deslocamento são os dois fatores
essenciais que transformam o material dos pensamentos latentes do sonho em seu
conteúdo manifesto.”
E Freud mostra longamente, evocando numerosos exemplos, os quais são as
condições, sobre as determinações do deslocamento e a condensação para que eles
pudessem operar esta passagem entre conteúdo latente e conteúdo manifesto. Assim,
Freud trata da figuração, que supõe a figurabilidade (pensamos aqui na problemática
semiótica da figurativização), processo original que faz do sonho um rébus, produzindo
este fenômeno em que “uma expressão abstrata e descolorida dos pensamentos da lugar
a uma expressão ilustrada e concreta”.
Enfim, Freud faz o projeto de uma construção total de criação da significação no
sonho:
“Eu bem sei qual seria o modo de demonstração o mais claro e decisivo: escolher um
sonho modelo, a partir disso a interpretação (...) e reunir os pensamentos do sonho
assim descobertos graças a eles e reconstruir o processo que foi aquele da formação do
sonho: eu teria assim completado a análise pela síntese.”
Revelação das diferenças
Essas notáveis semelhanças na tentativa, uma vez reconhecidas, é preciso agora
fazer aparecer as especificidades de uma e de outra abordagem. Para se fazer, nós
tomaremos como objeto, um exemplo próximo de Freud, aquele de um sonho contado
por uma jovem paciente – Béatrice – no decorrer da última sessão de sua terapia:
"Ontem, eu li a Bela e a Fera. A noite, eu sonhei com meu livro, que a Fera era um
príncipe horrível e que a Bela era uma pomba.
A história começou quando a família da pomba ficou pobre. Toda família tinha sido
vítima de uma praga lançada por uma velha bruxa. Eles a tinham encontrado no
bosque. Eles queriam construir na área dela; para ela, a floresta era sua propriedade,
então ela lançou uma praga à irmã primogênita, uma pomba, prisioneira de um
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príncipe horrível que havia dito: “ você me deve uma pomba para que eu liberte a
outra.”
A bela pomba, uma irmã caçula, ela mesma vai para lá. O príncipe comparou as
duas pombas. Quando viu a pomba mais bela, ele soltou a outra. A irmã primogênita é
libertada.
A bela pomba fugiu uma vez para ver sua família, o pai, a mãe, um filho, a irmã
primogênita, mas ela deve voltar, senão o monstro morreria (sic). Ela voltou. A bela
pomba se transforma em princesa e o príncipe horrível em um belo príncipe.”
Deixando de lado, primeiramente as diferenças externas ao discurso em si, que serão
longamente explicitadas, pela própria natureza de opção terapêutica, o que não é no
caso a cura analítica clássica, nenhuma associação não é então solicitada, levando em
conta a globalidade do sentido do sonho, com relação ao conjunto da terapia, que, além
do mais termina (levando em conta que esta sessão seria a última).
Confrontando o discurso de Béatrice, o semioticista se limitará estritamente ao sonho
relatado e isso pela necessidade epistemológica (a preservação da homogeneidade de
seu discurso), sem a interferência das informações retidas pelo sujeito enunciador
(aquelas que permitem frequentemente a Freud interpretar o sonho sem a ajuda do
próprio sonho).
Além do mais, a empreitada semiótica não visa, como a analítica, alguma verdade
cuidadosamente dissimulada, omitida (para enganar a censura, indica Freud) no seio do
nível profundo, latente, mas a construção de um simulacro explicitando a maneira pela
qual a significação nasce no discurso.
A análise semiótica não produz então a descoberta da revelação de um segredo,
como o método analítico de interpretação do sonho. No entanto ela revela, pela
construção, o que não é, por definição, perceptível na superfície do discurso e existe, a
nossa vista, uma articulação possível entre os resultados produzidos pelas duas
disciplinas. Nós voltaremos a este assunto.
Mas o que fazer na lógica da abordagem semiótica do sonho de Béatrice?
Nós ilustraremos muito sucintamente o modelo teórico de Greimas (o percurso
gerativo), sem desenvolvermos, no entanto a análise detalhada, impraticável aqui.
Paradoxalmente, este texto não será considerado a priori como sonho, mas como
simples fragmento discursivo. Na análise, seguinte, demonstramos sua eventual
especificidade pela anexá-la num gênero discursivo preciso. Nós notaremos aqui, en
14
passant, que a tipologia não é, para o semioticista, uma dada classificação, mas a
construir. E o “sonho" de Béatrice, depois da análise, aparece estruturalmente como
pertencendo ao gênero do mito de origem, que era dificilmente legível em função da
máscara (o “sonho”) disposto pelo anunciador.
Assim, a análise semiótica, como a de Freud, vai efetuar um mergulho da superfície
do discurso em direção à profundeza (as estruturas semio-narrativas) para emergir,
pelos planos ( assim aqueles das estruturas discursivas) em direção ao discurso
concreto, manifestado.
Mas a comparação para ai, por exemplo, as estruturas profundas do modelo
semiótico de Greimas não têm nem um pouco a natureza e a função do nível latente
freudiano, aquele dos pensamentos do sonho, do qual a censura bloqueia a manifestação
clara e consciente.
De fato, o semioticista considera o percurso gerativo da significação no discurso
como uma passagem, por planos sucessivos, do abstrato ao concreto e ao figurativo ( na
maioria dos discursos), do simples ao complexo, no modo de uma proliferação regrada,
de um benefício de sentido, a partir de operações lógico-semânticas profundas
elementares.
Estas operações mergulhadas na profundeza do texto são legíveis em superfície
graças à presença de transformações:
-o “casal” inicial, formado pela Fera (“um príncipe horrível”) e a Bela (“uma
pomba”), casal impossível de constituir parcerias que tudo separa, se transforma no fim
do texto em um casal de uma complementaridade ideal (somente a diferença sexual, que
permanece felizmente os distingue).
- a família, inicialmente sob a dependência total da “bruxa” (instância de poder
transcendente que denominaremos “destinador”), libera-se de seu jugo, graças à ação da
pomba caçula, o sujeito-herói do relato. E da mesma forma para o príncipe horrível, sem
dúvida vítima ele mesmo de uma maldição, carcereiro a serviço da “bruxa”. E que
atinge um novo status.
Estas transformações, bem visíveis, espetaculares, são o rastro, em superfície, de
operações profundas situadas em níveis diferentes:
1- Inicialmente nos níveis constituídos pelas ações dos personagens que, num nível
de abstração maior, tornam as performances ligadas aos actantes (papéis narrativos
abstratos). Nós já vimos o actante destinador (representado pela “bruxa”, figura do
Destino implacável que condena para a eternidade a uma falta permanente), o actante-
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sujeito principal ( a pomba caçula) que se constitui prisioneira, que decide agir no lugar
de fugir), o actante-objeto perseguido pelo sujeito (o parceiro ao mesmo tempo idêntico
e complementar).
Pois a dinâmica do relato repousa (Proop mostrou desde 1928, na Morfologia do
conto) sob a tensão da aparição da falta e da liquidação. Ele também sublinhou que a
falta é consecutiva, na maior parte do tempo, no conto maravilhoso, a transgressão da
interdição. É o caso no texto de Béatrice, mesmo se a transgressão é apresentada como
involuntária, sendo o resultado na verdade desconhecido.
O programa narrativo da “construção de uma casa” se paga então por um fracasso
cruel, a privação da irmã caçula. Querendo preencher a “falta da casa”, a família abre
uma falta infinitamente mais grave e trágica, que a troca proposta pela Fera não pode
senão perpetuar.
Vemos então aqui desenha-se o plano das estruturas semio-narrativas, no qual os
programas narrativos se desencadeiam, e mesmo se inserem, segundo uma lógica
sintagmática (conclusão de Propp): interdição/ transgressão; falta/liquidação da falta.
Este nível particular é o da sintaxe e da semântica narrativa.
2- Em nível mais profundo, se analisamos semanticamente os objetos procurados
pelos sujeitos – todo relato é uma busca – encontramos os valores do texto, que
constituem o nível mais profundo, a armadura de base: é este nível que será
representado, formalizado pelo quadrado semiótico, modelo lógico que coloca na
relação lógico-semântica os valores em questão: relações de contrariedade, de
contradição e de implicação. Mas este modelo não é estático: ele faz ainda aparecer
um dinamismo que consiste em operações de afirmação de denegação de seus valores
(sintaxe e semântica fundamentais). Isso significa que, mesmo em nível de estruturas
profundas, é possível seguir as transformações do relato em termos lógico-semânticos:
/rico/ S1 S2 /pobre/
/não-pobre/ S2 S1 /não-rico/
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Nós damos como exemplo o quadrado semiótico que representa visualmente a
articulação lógica de uma categoria semântica
rico vs(versus) pobre
O quadrado faz aparecer os tipos de relação seguintes:
- relação de contrariedade entre os termos S1 e S2
- relação de subcontrariedade entre os termos S1 e S2
- relação de contradição entre os termos S1 e S1, S2 e S2
- relação de implicação entre os termos S2 e S1, S1 e S2.
Constatamos que as operações de denegação e de asserção atribuem respectivamente
os eixos da contradição e da implicação.
Assim, um relato simples de enriquecimento consistirá, em nível das estruturas
profundas, na sucessão de duas operações lógico-semânticas:
- a denegação da /pobreza/ : S2 > S2 ;
- a asserção da /riqueza/ : S2 > S1.
Na medida onde os termos semânticos do quadrado são também os valores
axiologisados (a /riqueza/ pode ser um valor positivo – no conto tradicional – ou
negativo, assim, por exemplo, nos textos neo-testamentários), eles se associam em dois
dêixis:
- o dêixis positivo : S1 – S2
- o dêixis negativo : S2 – S1.
Esta axiologisação dos valores, repartidos em valores “positivos” e “negativos”,
atrativos e repulsivos pelos sujeitos postos em ação é manifestada no “sonho” de
Béatrice:
- a denegação dos seguintes valores: animalidade, feiúra, pobreza, baixo nível social,
e, em outro nível, a mesma operação sobre os valores de dependência e de diferença.
- a afirmação de valores logicamente contrários de humanidade, de beleza, de
riqueza, de elevação social; de liberdade e de identidade.
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Estes valores e estas operações nos lembram a evidência de um conto bem
conhecido, Cinderela, evocada anteriormente, aconselha-se, na versão que nos dá
Béatrice da Bela e da Fera, às personagens destinadas a constituir um casal que estão as
duas na posição de Cinderela: é necessário, para um e para outro, transformar-se,
mesmo se esta transformação obrigatória não toca a ou ao outro com os mesmos
valores:
- a Fera, o Príncipe horrível, conjugando aos valores de nobreza, de riqueza, de
masculinidade deve adquirir os valores de humanidade e de beleza recusando então os
valores da animalidade e de feiúra.
- A Bela, conjugando a beleza, a feminilidade, deve adquirir humanidade, nobreza e
riqueza.
- Todos os dois, além disso, devem adquirir a liberdade (negar a dependência) e,
resultado de afirmações e denegações precedentes, estabelecer a identidade, às custas da
diferença.
Constatamos então, em nível profundo, a existência de uma reunião de valores.
3- Enfim, último plano do percurso da significação, os valores profundos, pondo em
jogo os programas narrativos realizados para que os actantes representem (encarnem),
em nível das estruturas discursivas, graças à enunciação, operação que então se
encarrega das estruturas semio-narrativas, investindo estas estruturas ainda muito
abstratas nos atores, nos espaços e nos tempos. A sintaxe e a semântica discursivas se
dividem em operações.
- a actorialização: o actante – sujeito abstrato, por exemplo, aparece sob os traços
figurativos de um ator, da “Bela”, uma pomba; trata-se de um “ela” e não de um “eu”;
enfim este ator é obtido pela “debreagem enunciva”: nesta operação, o enunciador
pressuposto pelo anúncio um não-eu que se manifesta como ele e ela; este tipo de
criação produz um discurso de onde o enunciador parece ausente, um discurso que
aparenta se recontar dele mesmo; enfim este ator particular é dotado de qualificações
específicas, cuja animalidade é pura invenção da Beatriz, pois este elemento não se
encontra no autor do conto A Bela e A Fera. O que é semelhante, evidentemente, para
todos os atores do relato, que são os actantes « vestidos » figurativamente.
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- da espacialização: o espaço é em efeito organizada graças às localizações (a
floresta, a prisão, a família) e funciona assim como quadro aonde vem se inscrever os
programas de sintaxe narrativa.
- da temporalização: o tempo é organizado no modo de um “então” debreado do
enunciador, como o espaço era um “alhures”. A operação de criação não trás somente
sob a categoria da pessoa (negação do « eu » e produção de um « ela »), mas também
sob a categoria do tempo (negação de um « agora » por um « então »). Este então
contem um ponto-origem: o momento em que a família fica pobre. A partir deste ponto
pode-se construir um “antes” (as causas do empobrecimento) e um depois, que contem
o salvamento operado pela irmã caçula.
Ao lado destes procedimentos de “localização temporal”, se podemos dizer, é preciso
notar a aspectualização, operação que converte as performances da dimensão narrativa
em ações, processos, processus. Assim a morte de um personagem de relato pode ela
receber duas descrições, segundo o nível do modelo:
- em nível das estruturas narrativas, ela consistirá simplesmente na perda (disjunção),
por um actante, do objeto-valor/vida/ ;
- em nível das estruturas discursivas, a aspectualização converterá esta morte num
processo que começará, durará e terminará. Assim os numerosos presentes do indicativo
do texto de Béatrice apresentam as ações (os processos, diria o greimassiano) sob o
modo aspectual do não-terminado.
Sempre no nível de estruturas discursivas, ao lado da sintaxe e que foi brevemente
ilustrada, está a semântica discursava feita pela tematização e figurativização. Por
exemplo, no texto de Béatrice, um dos valores profundos, é aquele da “liberdade”. E
este valor vai constituir “a visão do percurso narrativo do sujeito” da pomba caçula.
Graças à espacialização, este percurso poderá ser tematizado como “evasão”. Mas a
tematização permanecendo abstrata, é necessária, no final das contas, para chegar ao
texto, prever uma conversão num percurso figurativo (uma fuga real, corporal, fora dos
limites da prisão) que faz justamente do discurso de Béatrice uma fala figurativa (por
oposição ao discurso filosófico clássico, por exemplo).
Resta bem entender a escolha de uma linguagem da manifestação para que esta
criação da significação encontre significantes: a linguagem oral, na ocorrência, mas
poderemos também recorrer à escrita, ao desenho, à mímica, etc.
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