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24 DE JULHO DE 2007 498º Encontro Semanal do Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense – AGROPACTO – TEMA: “Potencialidades e Limitações do Segmento Agrícola da Cadeia do Caju” PALESTRANTE: Empresário CARLOS PRADO, Diretor da Itaueira Agropecuária DEBATEDOR: Engenheiro Agrônomo EGBERTO TARGINO BOMFIM, Técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará – EMATERCE.

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24 DE JULHO DE 2007

498º Encontro Semanal do Pacto de Cooperação da Agropecuária Cearense

– AGROPACTO –

TEMA: “Potencialidades e Limitações do Segmento Agrícola da Cadeia do Caju”

PALESTRANTE: Empresário CARLOS PRADO, Diretor da Itaueira Agropecuária

DEBATEDOR: Engenheiro Agrônomo EGBERTO TARGINO BOMFIM, Técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará – EMATERCE.

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SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Já iniciando a nossa reunião, para tratar de assuntos mais amenos, queria convidar a todos, para entrarem no auditório, por gentileza. Para compor a nossa Mesa, vamos convidar os Senhores: O representante do Banco do Brasil; o representante do Banco do Nordeste; o representante do Conselho de Desenvolvimento Econômico; o representante da SDA; Dr. Antônio José, representando a Federação das Indústrias; Deputado Hermínio Resende; Dr. Lucas Leite, representante da Embrapa; o representante do Sebrae; Dr. Menezes, presidente da Associação dos Produtores de Castanha de Caju; Bom- dia a todos: Nós vamos dar início a mais uma reunião. Nós temos ainda grupos de produtores chegando nas caravanas, mas assuntos internos, que eu gostaria de ouvir o auditório, para tomar a decisão. São dois assuntos que gostaríamos de tomar a decisão, juntamente com o auditório.

Primeiro, é com relação a data. Estamos, há 11 anos nos reunido às terças-feiras. Por que essa data foi escolhida originalmente? Ela foi escolhida originalmente, porque tínhamos a reunião do Pacto de Cooperação nas segundas-feiras e seria um contra-senso, uma filial estar lutando por um espaço, junto com a matriz. Então, esta foi a razão pela qual estabelecemos as reuniões nas terças-feiras. O Pacto de Cooperação encerrou as suas atividades da forma como ele funcionava; estás e tentando fazer um outro, mas ainda ninguém sabe em que data acontecerá isso. O Abílio que já era da última coordenação, nos informou esse fato, agora. Então, por que segunda-feira é uma data melhor? Mas, normalmente, quem faz uma certa extravagância, é no sábado, não é no domingo. Segunda-feira, é a data única em que os Deputados Federais estão ainda aqui na capital; normalmente, eles viajam na terça-feira de manhã, para Brasília. Então, às vezes se precisa da presença de um Deputado, é útil e ele não está aqui, porque contraria o expediente normal dele. Terça-feira começam as reuniões de comissão, quarta-feira, todas se reúnem e nas terças-feiras eles fazem a reunião interna na comissão das lideranças e depois, vão para a reunião plenária da comissão. Então, eles normalmente, sentem-se obrigados a ir na terça-feira. Então, este é o primeiro assunto.

Eu gostaria de saber do auditório, se acham conveniente esta mudança. Aqueles que concordarem, poderão fazer aqui um pronunciamento, se quiser falar. Alguém deseja falar sobre este assunto, tecer considerações, ou passaremos direto para a votação? (Pausa) Então, não tendo quem queira se manifestar, aqueles que concordarem com a mudança para segunda-feira, permaneçam como estão. Nós já estamos começando a avisar, no próprio fax, ou e-mail que está indo para cada um, já tem a consulta feita. Agora, vamos mudar, ao invés de consulta, vamos ficar alertando; que a partir da data tal, as reuniões passarão a ser na segunda-feira. Outro assunto, parece incrível, mas o Banco do Brasil por extrema gentileza, nos consultou se poderíamos conceder o auditório para eles, se não me engano, no dia 6. Não foi confirmada ainda a data. Então, eu acho e aí temos duas alternativas. Ou não fazer a reunião, ou fazê-la, aqui não, aqui segunda e terça-feira, o auditório estará ocupado. Mas, temos um auditório bom, grande, pode ser no Murilo Aguiar, está nos cedendo aqui o Deputado, ou na Delegacia Federal da Agricultura, que tem amplo estacionamento, na Av. Expedicionários, um prédio antigo. Então, eu gostaria de mostrar essas duas alternativas. O Banco do Brasil vai usar o auditório na segunda e terça-feira. Posso verificar também, o auditório do Sebrae e da Fiec também, que esta hora normalmente, vem aqui consultar. Aí nós mandaríamos essa informação no convite, nessa data. Então, a primeira decisão é o seguinte: Faz-se a reunião ou adia a reunião. Para o auditório qual é o mais conveniente? Ainda na terça, até que haja a interrupção para a mudança de auditório. Na semana subseqüente à mudança de auditório, nós passaríamos para a segunda-feira. Aí o auditório, nós temos: O Sebrae, SFA e a Assembléia legislativa. Quem estiver de acordo com a Assembléia Legislativa, por favor, se levante. (Pausa). Só o Peixoto. Quem está de acordo com a SFA, por gentileza, se levante. (Pausa). Fiec, quem estiver de acordo com a Fiec. Por unanimidade, o pessoal das caravanas não está votando, porque obviamente, não está sabendo da localização. Então, vamos verificar a Fiec; eu pediria a gentileza ao Eduardo e na próxima reunião, se não for a fatídica, que eu creio que não é, nós informaríamos, se o auditório está vago ou não.

Feito isso, vamos dar início, mesmo sem a chegada das caravanas, a nossa reunião, sobre as Potencialidades e Limitações do Segmento Agrícola da castanha de caju. Ainda pedir, que o auditório tivesse a gentileza de escolher alguns bons produtores do Interior, que pouca oportunidade de tirar as suas dúvidas, que as perguntas fossem prioritariamente, daqueles que vieram nas caravanas.

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Nós temos a segunda palestra do ciclo. Essa palestra hoje do nosso ponto de vista, para o AGROPACTO, é a mais importante, porque ainda o gargalo está na área da produção e nós temos que melhorar as práticas, que obviamente, tem uma dependência muito grande do problema rentabilidade, que significa preço e significa também, produtividade. Então, escolhemos aquele que para nós e pela visão do grupo organizador, é o que está com mais condições, pelo conhecimento, pela experiência longa e pela disponibilidade permanente pra com esse colegiado, é o Dr. Carlos Prado, que sempre está a nossa disposição para colaborar. Ele é o palestrante e o nosso debatedor será da Ematerce, Dr. Targino, que coordena esse programa, é um dos técnicos da SDA, que trata do assunto hoje, do programa que está sendo desenvolvido pelo Estado. Dr. Carlos Prado, a palavra é de V.Sa. SR. CARLOS PRADO: Meus cumprimentos a todos: em nome do Dr. Torres de Melo, cumprimento a todos os componentes da Mesa e demais autoridades e já vou direto ao assunto, deixando de lado aí o protocolo, para que possamos aproveitar melhor o tempo. A chamada para esta reunião foi definida, como Potencialidades e Limitações do Segmento Agrícola da Cadeia do Caju. Sei que é grande a responsabilidade de tentar aqui como produtor, passar uma mensagem que leve a um encaminhamento ao final das palestras, mas vamos tentar o melhor, juntando aí o material de que se disponha para isso. Apesar dessa chamada, botei para esse trabalho o outro título. Agronegócio do Caju, Novos Caminhos. Porque o momento atual exige do setor do agronegócio do caju, é justamente, a busca de novos caminhos. O caminho que vamos trilhar nessa apresentação, é este daqui. Vamos fazer alguns comentários sobre a apresentação do Dr. Lucas na semana passada, para estabelecer uma continuidade, para as palestras que ainda virão e nos encaminharmos, para um bom final. Vou apresentar um pequeno histórico, para aqueles que não me conhecem e não conhecem a nossa experiência como empresa, dentro do setor do caju, para embasar o restante da apresentação. Vamos enfocar a situação atual do setor produtivo do caju, mais com relação ao aspecto agrícola e ao final, apresentar algumas perspectivas e sugestões, que ao nosso modo de ver, deverão ser consideradas. Dr. Lucas mostrou apresentou aqui um quadro em que mostra a cadeia produtiva do caju. Eu não pedi licença a ele para usar os quadros, mas como ele me ofereceu o CD, estou utilizando aí, alguma coisa.

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Insumos Produtores

Indústriado

pedúnculo

Indústriada

castanha

Caju in natura Mercado local e nacional

Mercado local e nacional

Mercado de exportação

CADEIA PRODUTIVA DO CAJU

Ambiente institucional e organizacional (crédito, pesquisa, ATER, câmbio,comercialização, exigências sanitárias, demais normas e regulamentos)

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Então, ele resume o que vem antes da porteira, que são os insumos, os produtores e a divisão em 3 setores, que serão apresentados aqui. A indústria do pedúnculo, o caju in natura e a indústria da castanha. Mostrou para nós também, a importância do setor de castanha, por exemplo, que seria o produto principal, eu digo seria, porque vamos concluir que esse quadro está mudando. O que ele mostra é a distribuição da produção mundial no ano passado, da matéria prima castanha e das amêndoas de castanha e caju. O Brasil figura ali, com 295 mil toneladas de produção de matéria-prima; a África lidera, quando somamos a África do Oeste, com a África do Leste, ela lidera com cerca de 620 mil toneladas. Em seguida, vem a Índia com 220 e o Vietnam, com 280. Então, a liderança aqui está com a África,depois Índia, depois o Brasil, em seguida, o Vietnam. Há uma característica aqui, em que vemos que a Índia é o grande exportador de amêndoa, o grande importador aqui de castanha, são 555 mil toneladas. A produção em caixas, a Índia lidera com 8 milhões 750 mil, o Vietnam já vem em segundo lugar, com 3 milhões e 800 mil e o Brasil em terceiro lugar, com 2 milhões 950 mil de produção. E aqui está o resultado da exportação dessa produção, em quês e coloca primeiro a Índia, segundo, o Vietnam e terceiro, o Brasil. Então, esse é o quadro internacional da produção da matéria-prima, castanha de caju e das amêndoas, segundo nos apresentou Dr. Lucas, na última semana. Dr. Lucas mostrou também, alguns antecedentes. Como é que é lá na Índia, como é que a Índia chegou a essa posição de liderança. Chegou a essa posição porque a atividade é controlada pelo Estado, com o foco em mão-de-obra intensiva; baixos salários, com suprimento de matéria-prima, oriunda de compras junto a países africanos. Isso é uma decisão de Governo. Ou o Governo dá bolsa de alimento, ou ele apóia um setor que nem sempre tem condições de sobreviver por si, para que esse setor cumpra a sua função social. Então, isso é importante, para que consideremos na discussão da solução para o nosso setor. Então, lá eles têm o Estado como fomentador, têm os planos qüinqüenais, com metas superdimensionadas, a política de desenvolvimento da produção de outros países; estrutura de acabamento centralizado e manufatura descentralizada. O Vietnam, que hoje é o segundo e há pouco tempo não figurava nas estatísticas, também tem uma atividade controlada pelo Estado. Então, nós temos que prestar muita atenção a isso, na continuidade aqui dos debates. Os dois países que lideram a produção de castanha, contam com a participação ativa dos Governos, dando apoio, para que essa atividade se mantenha. Aqui no Brasil, a característica é um pouco diferente: quem trabalha na produção são os condenados. Então, aqui tem um posicionamento no pós-guerra, exportador de comoddities. Até 1980, não se produzia caju, hoje se produz mais do que o Brasil. Dr. Lucas mostrou também o caju, como uma cultura estratégica. Durante o verão, quando não faz muito tempo, o Ceará tinha que distribuir água e alimentos durante a estação seca, é quando nós temos a produção de caju. Então, por pior que seja o resultado da cultura do caju, para o nosso homem do campo, o produtor, é nesse período aqui que ele reduz os problemas trazidos pela seca e é o período que vai de setembro a dezembro e que no Piauí, começa um pouco mais cedo, julho, agosto e vai até novembro. Dr. Lucas apresentou também algumas alternativas, a partir do pedúnculo. Então, ele listou aí do pedúnculo, o que se pode fazer, em termos de suco, aproveitamento da polpa, as rapaduras, doces, compotas, o que se pode fazer com o bagaço, por exemplo e novos produtos que poderiam ser produzidos aqui. Feito isso, vamos fazer um pequeno histórico aqui. Nós chegamos aqui ao Ceará, em 1973, para colher amendoim consorciado com caju. Então, trouxemos as máquinas para colher o amendoim, nos grandes plantios de caju, em 1973. Aí nós tivemos o primeiro contato com o caju e vimos pela primeira vez, o caju, sendo perdido, debaixo das copas do cajueiro e se aproveitando apenas a castanha.

Em 1974, fizemos uma parceria com a Maísa, para começar uma tentativa de exploração, porque acreditávamos que podíamos aproveitar, amassando o pedúnculo. E instalamos uma câmara fria no meio dos pomares e aí começamos o trabalho. E eu faço o registro aqui, para o pioneirismo da Maísa, do líder Geraldo Rola, porque foi a Maísa realmente quem deu início a todo esse processo de desenvolvimento da fruticultura aqui no Nordeste.

Em 1980, nós tivemos o início da implantação da nossa empresa Itaueira agropecuária, em Canto do Buriti, no Piauí; em 1986, plantamos lá as primeiras plantas de caju anão precoce, com mudas da Epace. Foram 100 mudas que foram acompanhadas durante 2 anos, se medindo a produção planta por planta, para se definir qual variedade mais indicada e se começava o trabalho de desenvolvimento.

Em 1988, foram formados os primeiros pomares, 400 hectares de caju anão, plantados com castanha. Em 1990, esses 400 hectares de caju anão, é bom registrar, que foi com financiamento do Banco do Brasil. 1989, início da cooperação com o Centro Nacional da Pesquisa do caju, Embrapa – Agroindústria- Tropical. A Itaueira, fez um contrato com a Embrapa, de cooperação técnica, por 10 anos e durante esses 10 anos, encaminhou vários ensaios e testes, desde a aplicação de calcário, testes com variedades, a substituição de copas. E aqui uma curiosidade: quando me

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trouxeram o resultado da primeira substituição de copas feita lá na fazenda e trouxeram com uma satisfação muito grande... na época era o Pratagil e do nosso lado da empresa, era o Dr. Hermano Bonnaspete. E muito satisfeitos com o resultado, que havia o pegamento das plantas, só que na hora eu vi o trabalho e disse para eles: olha, é um negócio totalmente inviável. Porque eles tinham que cobrir a planta, fazendo tipo uma barraca com palha, para proteger a planta depois de enxertada. Feito isso, essa observação, voltaram ao trabalho da pesquisa e definiram o método que é usado até hoje, de substituição de copas, cobrindo o enxerto apenas com uma pequena folha do cajueiro.

A Cemag desenvolveu vários implementos agrícolas, para manutenção dos pomares: capinadeiras, roçadeiras, que vamos ver mais à frente. Em 1992, fizemos mais plantios, de 1.200 hectares, com o apoio do Banco do Nordeste. E aí vamos ver algumas fotos, com relação a esses fatos. A Itaueira foi a primeira empresa a produzir mudas em quantidade, aqui na Região Nordeste; a primeira a produzir também, em tubetes; a montar um viveiro, para a produção de mudas também, lá no Piauí, até chegar um padrão de produto que permitisse a venda de um produto padronizado, resfriado no mercado Nacional, porque esse era o grande problema que nós encontramos. Quando trabalhando em parceria com a Maísa, em 1994, percebemos que cada cajueiro era de um tamanho, cada um com um sabor diferente, inviabilizando, praticamente, uma operação regular. Então, quando apareceu o caju-anão precoce, é que vimos uma abertura, uma possibilidade para esse tipo de atividade, que era ter um produto padronizado, como esse. Para limpeza do pomar, uma das grandes limitações sempre foi o coroamento, que era feito com enxadas. Desenvolvemos aqui com a Cemag essa máquina, para fazer a capina debaixo das copas dos cajueiros, e com uma lâmina importada da Itália, que permite que se capine entre um tronco e o outro. É uma roçadeira leve, mas com 2 metros de largura, que permite se trabalhar com tratores pequenos, baixo consumo de combustível. E finalmente, a máquina de poda, que permite podar o cajueiro, mecanicamente. Poda lateral, poda de toco. Aí nós vemos a máquina na frente, o resultado da poda aqui do lado e aqui uma poda num formato triangular, que permite que se faça a poda, reduzindo a altura do cajueiro, mas mantendo uma saia mais larga, sombreando a castanha que fica no chão. Porque um dos grandes problemas do Piauí é justamente a queima da castanha, pelo sol. Aqui a vista de um pomar, depois da manutenção, durante a estação seca, mostrando a vegetação no centro da linha e a copa limpa, debaixo do cajueiro, tudo mecanicamente, sem uso da enxada. Esse aqui é um capim braquiária, em que fizemos a tentativa de aproveitamento, também.

Em 1994, a Itaueira se baseou no trabalho do Dr. Josivan Barbosa de Menezes, atual Reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, para definir a embalagem e o manuseio do caju resfriado, para comercialização, como caju de mesa. Foi a primeira vez que se mandou caju resfriado para o Sul do País, em caminhões frigoríficos. Aqui nós vimos o primeiro ano e foi o único ano, em que usamos esse tipo de embalagem. É uma caixa de madeira que nós trazíamos a madeira de Santa Catarina, de reflorestamento, para montar dentro das caixas e viabilizar a embalagem em cumbucas plásticas, que é o modelo que se usa até hoje, naturalmente, com outro tipo de embalagem. A colheita recebia e recebe sempre todo o cuidado, para que o caju chegue íntegro. Vocês notam que as caixas não estão cheias, estão pela metade.

Aqui é um tipo de embalagem que nós usamos, até o ano passado; porque hoje já não fazemos mais dessa forma. Hoje fomos obrigados a parar pela ação direta pela empresa, vamos ver algum comentário mais na frente, porque ficou inviável se pagar os encargos trabalhistas dessa operação. E essa é embalagem atual, que vinha sendo utilizada pela Itaueira.

Aqui mais uma tentativa, uma câmara de congelamento e a tentativa de se congelar o caju, para mandar a matéria prima para indústrias do Sul, para ser aproveitada como polpa.

Aqui o caju, antes de ser ensacado, já dentro dos plásticos, para congelamento. ... Isso aqui é uma idéia que nós estivemos em Israel de 1999, para tentar fazer uma compostagem líquida, para utilização do pedúnculo.

Aqui uma compostagem, só utilizando material da fazenda e mais o pedúnculo que sobrava lá do processamento. E aqui, a braquiária, como feno enfardado. Então, vocês vão vendo que são várias as tentativas que se fez desde o início, para tentar o melhor aproveitamento do caju como um todo, e não só da castanha.

O pedúnculo como ração animal. Aí nós utilizamos um trabalho do José Simplício de Holanda, pesquisador lãs do Rio Grande do Norte. Guardamos o caju seco em buracos no solo, forrados com plásticos, chegamos a guardar até 3 anos; enquanto nós abríamos o buraco, ainda havia aroma no caju bem seco, que ficava ali guardado. Fizemos uma ração fermentada com esse caju que ficou guardado, durante 1 ano, 2 anos. Passávamos esse caju seco no triturador com um pouco de água, para que ele pudesse trabalhar sem gustamento e fazíamos todo dia uma solução.

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Na primeira solução, no primeiro dia, que estamos falando de um ensaio de setembro de 1998, 9 anos atrás. Na primeira solução, no primeiro dia, nós usamos um fermento desse de padaria, Mauripan, 700 gramas. Colocávamos água, 260 litros, 100 quilos de castanha de caju e acrescentamos no primeiro dia, 40 litros de água. De um dia para o outro, vocês vêem a variação do açúcar. Ele começava com 18 graus, porque naturalmente, era um caju seco, até que ele baixava, estabilizava aqui em 9. Aí estava pronto para dar para o gado. Isso garante a transformação do açúcar em proteína. Então, passamos a ter uma ração muito rica em proteína usando esse processo. E como a ração do gado é caríssima, usando esse processo e acrescentando nessa solução, 330 gramas de uréia, super fosfato simples, controlando o PH, que controlamos com um pouquinho de vinagre, então, nós conseguíamos essa solução no primeiro dia.

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RAÇÃO FERMENTADA DO CAJUENSAIOS DE SETEMBRO 1998

330g uréia + 330g superfosfato simples + PH 4 + sem cal + sem vinagre

CHAPÉU- DIA 1.CHAPÉU- DIA 1.CHAPÉU- DIA 1.

20:0015

19:0015

17:0015

19:001615:0015

16:401614:0015

18,019:001715:151613:0015

19,016:001714:001612:0015

18,014:001712:001611:0015

18,011:001711:0016acrescer 40l

'água15

acrescer 40l solução17

acrescer 40l solução1611:3015

Mauripan 700g

10,014:00179,07:0016

11,014:001810,011:001713,0

11,011:001810,09:001714,0

11,09:001811,07:301716,0

11,08:001815,016,0

14,07:001817,017,0

18,017,0

18,017,0

17,017,0

16,0

18,0

brixhoraDATAbrixhoraDATAbrixhoraDATA

100kgx260l100kgx260l100kgx260l

17/18 set16/17 set15/16 set

40 l. da solução anterior40 l. da solução anterior

No segundo dia, já fazíamos colocando 260 litros de água, mais 100 quilos de caju e pegávamos 40 litros

da solução anterior, já não precisava mais de fermento. Então, usamos isso, sustentamos algumas vacas, compradas ali na fazenda do J. Macêdo, cruzamento de holandês com guzerá e essas vacas davam cerca de 10 litros de leite por dia. Só que quando nós tratamos as vacas só com isso daqui, havia uma deficiência na ossatura dos bezerros que nasciam. Então, 20%, 30% dos bezerros, saíam com algum defeito nas patas dianteiras. Então, naturalmente, tinha que ter alguma coisa a mais nessa ração. Mas, a nossa experiência conseguiu manter essa produtividade, mostrando que é um caminho a ser percorrido.

Certificação orgânica. Também, é uma forma de enobrecermos o produto e conseguir algo mais por ele. Então, nós tivemos há alguns anos o nosso certificado de nº 01 do Instituto Biodinâmico, como primeiro produtor de caju orgânico do Piauí. Lá produzimos o suco de caju orgânico e a castanha orgânica.

Para dar uma idéia para vocês, do aproveitamento do pedúnculo, nessa safra de 2007, o suco integral deve significar o aproveitamento de 37% do produzido na fazenda e em segundo lugar, veriam as castanhas, como produto, pela ordem de faturamento; em terceiro, caju de mesa, com aproveitamento de 4%, hoje não mais sendo embalado pela fazenda; essa operação já está terceirizada. O aproveitamento total do pedúnculo, que nós conseguimos, é 41% da produção. É o máximo que conseguimos até hoje, porque o cajueiro varia muito. Ele durante uma semana mais ou menos, você colhe uma produtividade baixa, por dia, e durante 3 ou 4 dias, ele dá um pique de

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produção, que você tria que ter um batalhão de gente ali na fazenda, para poder fazer esse aproveitamento, além das instalações para esse tipo de aproveitamento.

Aqui, a vista geral da fazenda hoje, onde tem a nova fábrica para aproveitar o suco, que fica dentro do pomar. Essa fábrica é uma fábrica com toda a higiene. Vocês notem a forração etc. para produzir o fruto realmente, de qualidade. Essa uma das características. Quem quiser se manter na atividade, tem que procurar produzir tudo o que produz, com o máximo de qualidade, esse é o caminho, para que tenhamos uma idéia. É pasteurização, resfriamento imediato, congelamento, para produzir um suco de melhor qualidade. Hoje, no segundo ano, já começamos a receber dos compradores um preço melhor, que é um processo demorado. Mas, a qualidade vai sendo reconhecida aos poucos. Então, tem todo o equipamento para resfriamento rápido, etc.

Outro registro dentro desse histórico, é a plataforma regional do agronegócio do caju. É muito falda, ela teve a coordenação da FIEC, do CNPq, MCT, da Faec e da Embrapa, com a Agroindústria Tropical. Aqui temos presentes, vários representantes que participaram desse trabalho.

A plataforma do caju já tem 7 anos. E aqui para registro, fizemos um grande evento, no dia 19 de setembro, com a presença de vários Estados da Federação, aqui em Fortaleza, para que começássemos realmente, o envolvimento de todos, na discussão desse problema. E agora que começamos essas palestras, é bom refletir um pouco sobre isso. As palestras todas da plataforma do caju, vocês encontram todas, neste site da Fiec aqui. Se vocês botarem esse site da Fiec, vão encontrar lá, arquivos de palestras e nesse arquivo de palestras, tem todas as palestras realizadas. Não só aqui em Fortaleza, mas em cada um dos Estados que participaram desse evento.

Ao final dos trabalhos da plataforma de caju, que demorou aí cerca de 2 anos e que teve uma continuidade depois, com os multiplicadores, nós tivemos aí essa grande constatação, que continua válido até hoje. Baixa produtividade dos pomares, é o problema principal, em toda cadeia regional. Então, esse problema continuava, continua e é o grande desafio. Porque apesar de preços que vamos comentar, com alta produtividade, se consegue pelo menos, se sobreviver. Então, esse é e continua sendo uma constatação. Há tecnologia disponível, é preciso transferir. O que foi feito? Na ocasião conseguimos do CNPq, uma verba de 600 mil reais, aproximadamente; foram treinados vários técnicos agrícolas, agrônomos, para serem multiplicadores das tecnologias que a Embrapa e outras instituições já tinham disponíveis, para melhorar a produtividade do caju. Esses multiplicadores trabalharam nos vários Estados que participaram da plataforma. Esse foi o início.

Eu vejo aqui muito produtores presentes, que devem nas suas redondezas, perceber algum pomar pequeno ou não, mas que segue essa tecnologia que era recomendada pela Embrapa e que recebeu apoio desses multiplicadores.

Um outro item muito importante, era a necessidade de recursos financeiros a custos competitivos. Este foi um dos grandes desafios, porque os bancos, por mais ou menos estatais que sejam, eles têm a busca do lucro e é muito difícil você conseguir lucro, com uma atividade que não vem dando resultado, parda o produtor.

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EXPORTAÇÃO ACC – CEARÁ E BRASIL (SINDICAJU)

Das ações da plataforma do caju, com relação ao aumento de produtividade. As estatísticas não são muito

claras, mas andando pelo Interior desses Estados, nós vemos que alguns avançaram mais, outros, avançaram menos. Hoje por exemplo, o Estado que está mais financiando as implantação, ou reforma de pomares, é o Estado do Rio Grande do Norte. Na ocasião logo após a plataforma, o Estado que mais investiu na ampliação dos pomares, foi o Piauí; mas outros se destacaram, como a Bahia, por exemplo. O Ceará vem vindo, só que o Ceará já tinha uma grande tradição, muita gente já plantando caju e sempre que há uma grande tradição, há um bloqueio, há uma demora maior para se pegar o ritmo. Foi criado também o laboratório do caju, que tem lá no Nutec, que serve para apoiar a análise dos produtos, que nós exportamos, para não ficar totalmente dependente do importador, que vai definir a qualidade do que lá chega. E houve efetivamente, um aumento da área plantada e do volume das exportações, nos últimos anos.

A substituição de copas que vemos aqui de cajueiro adulto, é uma das técnicas que foi muito propagada durante esses anos, que foi trabalhada pelos multiplicadores e que vem sendo aos poucos implantado. Quando nós falamos em aumento da exportação de castanha, vocês vêem que a plataforma, ela começou aqui no ano 2000. Eu não quero confirmar que isto aqui seja o resultado da plataforma. Mas, seguramente, nós tivemos nos 3 últimos anos, um aumento da exportação de castanhas, que foi bem elevado, com relação ao que vinha ocorrendo até então.

Situação atual do setor produtivo do caju. Na verdade o início dos problemas para a cajucultura, ela começa com outros setores em outros eventos, que antecedem ou antecederam essa situação que estamos vivendo nos últimos anos. E um dos pontos iniciais, é justamente, o crescimento das dívidas em velocidade maior do que o crescimento da produção, ou de valorização da produção. Naturalmente, uma grande maioria dos produtores contratou algum financiamento e o crescimento dessa dívida foi realmente, um desastre. E usei há muitos anos, neste AGROPACTO, após o Plano Real, esta figura aqui, que continua válida. O Plano Real começou em 1994. Naquela data se determinou pela forma como foi implantado o plano, que o valor da produção e o valor dos salários ficaria estabilizado; só que as dívidas, os empréstimos continuariam crescendo.

Então, nós temos nessa linha de baixo, os preços da produção. Então, vamos supor aqui, que um de nós tivesse naquela época, uma dívida pela compra de um apartamento, de uma casa, ou de um trator e tivesse dado esse bem em garantia. Um banco sempre tem a sua segurança. Então, ele procura ter a sua garantia sempre maior do que a dívida. A dívida estaria aqui neste ponto e aqui a garantia. Só que com o crescimento da dívida e o preço da garantia ficando estabilizado, em alguns anos, os empréstimos ficaram com um valor muito maior, do que o patrimônio de cada um dos devedores. Então, se o sujeito tinha uma fazenda, contratou um financiamento para fazer um investimento, com o plano Real, em poucos anos, ele ficou devendo muito mais do que tinha. Então, isto aconteceu mais ou menos intensamente, com maioria daqueles que tinham algum empréstimo vinculado à produção. Para o assalariado, que tem

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aqui muitos de vocês que vivem essa situação, a pessoa ficou com o mesmo salário. Mas, se havia comprado uma casa ou um carro, pra pagar a prestação, a garantia no início era maior do que a dívida. Mas, em pouco tempo o empréstimo ficou muito maior, do que o bem que havia sido adquirido.

Então, essa situação, isto é um problema Nacional, afeta a cada um de nós, só não afeta a quem tinha dinheiro. Quem tinha dinheiro, o banqueiro, ou quem tinha um saldo em banco, esse não teve problema, só teve ganho. Então, afetou sempre aquele que devia alguma coisa.

O endividamento e a dignidade dos produtores. Então, nós já falamos sobre os planos econômicos. O Presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a chamar de caloteiros, os produtores rurais do Sul que levavam seus caminhões para Brasília, para fazer um protesto. E eles estavam apenas tentando uma solução, para esse quadro que vimos aqui, porque a dívida deles estava maior do que o patrimônio e eles estavam fazendo tudo direitinho, para que isso não ocorresse. As renegociações de dívidas, apenas adiaram a solução do problema.

Então, muitos de nós aqui, já participamos de renegociações, mas sempre empurrando, empurrando, mas nunca apresentaram uma solução. Nós temos visto aqui a luta do Dr. Torres de Melo, durante muito tempo, toda semana em Brasília, toda semana no Congresso, na CNA, tentando uma solução para esse problema. E ele conseguiu muita coisa. Pelo menos, nós tivemos a conscientização de algumas autoridades. O Banco do Brasil saiu na frente e fez várias negociações e finalmente, a nova administração do Banco do Nordeste tem tido uma atitude mais produtiva, com relação a essa situação. Quando algumas pessoas deixam de pagar, aí eu considero que seja uma falha dessas pessoas. Você tem 100 pessoas que contraíram um empréstimo, 5 delas não conseguem pagar; isso é porque não souberam trabalhar. Mas, quando você tem 100 pessoas devendo e 90 não conseguem pagar, essa é uma situação que não depende das pessoas que são devedoras, é uma situação do sistema que está errado e tem que ser modificado.

Então nós que vivemos a situação, eu coloquei aqui em vermelho, nós não devemos baixar a cabeça, temos que ver que o erro não foi nosso, o erro é do sistema e nós temos é que trabalhar, para que isso seja modificado; somos vítimas e não culpados. Isso cabe para o setor produtivo da agropecuária, assim como cabe para a indústria e assim como vale para os assalariados, que se viram nessa situação.

No Brasil, os Governantes decidem, prejudicam parte da população, como foi com esses planos econômicos, não são penalizados ou responsabilizados e ainda se dão ao direito de penalizar as vítimas dos seus atos. Então, o Governo faz o que quer. Se deu prejuízo para nós ou não, não é problema deles, logo em seguida vai ter um outro na frente e não acontece nada.

Então, nós precisamos nos conscientizar que é preciso que nos unamos, para que pressionamos, para que o setor produtivo seja reconhecido, recebendo o tratamento justo e que os políticos e os banqueiros que têm se aproveitado da Nação, sejam cobrados e paguem pelos seus atos. Essa é uma consciência que precisamos desenvolver cada vez mais.

E aqui voltando para o caju. Vejo aqui os dados de uma empresa indiana, para mostrar a evolução dos preços da castanha de caju, desde 1988, 19 anos. Então, vocês notam aqui, que é o preço de dólar por libra peso, da castanha W- 320 e W- 450. A W-320, é usada por todo setor, como referência para análise de preço, em termos mundiais. Então, vocês vêem que essa castanha aqui, de 1988 a 2006, o preço mais baixo por libra peso esteja aqui, entre 1,75 e 2 dólares por libra peso, nesse ponto, que foi no ano de 2001.

Hoje nós vamos ver mais para a frente, o preço corrente está ao redor de 2,10, um pouco mais, um pouco menos. Depois, na palestra do Antônio José, ele vai dizer se isso está certo ou não. Então, isso quer dizer que o nosso preço hoje em dólar, está praticamente no nível mais baixo dos últimos 20 anos.

Aqui só para conferir, essa mesma empresa fornece essa indicação de preço de uns dias atrás. No Vietnam essa mesma castanha estava em 2,11 e na Índia, 2,11. Eu pretendia fazer aqui uma relação em reais, que é a nossa moeda, principalmente, para os produtores que vêm aí do Interior participar conosco aqui e fiz uma análise, considerando desde o ano de 1999, até hoje, 2007, qual era a cotação do dólar. 1,95, 1,91, 2,71, chegou até 3,64 e hoje eu botei aqui, 1,87, só que também, já está mais baixo, 1,84. O preço da castanha nesse período, foi de 2,96, 2,61, chegando até hoje em 2,10. Então, note-se que 2,10 aqui, é um pouco maior do que o menor preço alcançado em todos esses anos, que foi de 1,80. Transformei esses números em quilo de amêndoa, W: -320 em reais e chegamos a esse número. Hoje nós temos o menor preço por quilo de amêndoa W: -320, preço Internacional, em reais.

Ora, não é preciso fazer muita conta para chegar à conclusão de que nós estamos com um problema na mão, muito sério. Para referência aqui, nós pegamos a cotação do dólar no Banco Central, todo dia 31 de outubro de cada ano. E só aqui neste ano, é que pegamos o último de 13 de julho. Por aqui vocês vêem que essa tarefa me deu trabalho.

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Aqui os preços por libra peso. Fizemos algumas comparações. Salário mínimo, versos o valor da amêndoa da castanha de caju. O salário mínimo em 1999, era de 136 reais, o quilo de castanha por essa tabela, estava em 2,70. Chegamos então, a esse valor, por salário mínimo. 1 salário mínimo nessa data aqui de 1999, valia 10 quilos de castanha, 10,7 quilos de castanha. Hoje com um salário mínimo de 380 reais e o valor do quilo de amêndoa a 8,64, nós vemos que precisamos de 43,98 quilos, 44 quilos de amêndoa, para pagar 1 salário mínimo.

Então, vamos vendo que isso aqui, se vocês pegarem a arroba do boi, pegar o arroz, o feijão, vocês vão ver que é uma equação que vai se repetindo. Então, essa situação é perversa, tanto para o produtor, quanto para a indústria, afeta toda a cadeia. Nós não podemos dizer que a indústria está querendo tomar o que é nosso, não, vai sofrer do mesmo jeito.

Os custos da mão-de-obra, versos preços da amêndoa em reais. Então tivemos aqui uma evolução do salário mínimo, de 1994 para 2007, de 442% e do quilo da amêndoa, 93%. Então, olhem a diferença de um para o outro. Se a indústria não tem margem para pagar um melhor preço, o produtor é que tem o seu negócio inviabilizado. Quer dizer, na ponta final quem vai sofrer mais é o produtor.

A conclusão a que chegamos, é que para o produtor hoje, a castanha deixou de ser viável, principalmente, para o médio e grande produtor, em função dessa relação do salário mínimo com a amêndoa. Quer dizer, com um salário mínimo alto como esse e com o valor da castanha tão baixo, fica praticamente, impossível. A produtividade é insignificante... Quando eu produzo, a tendência para a próxima safra é que os preços sejam menores do que na anterior e se continuar essa queda do dólar e mantido o preço em nível Internacional, a tendência é que o preço baixe mais ainda. Então, com essa produtividade, se falamos em 200 quilos de castanha por hectare, nós teríamos aí a preço de hoje, entre 140 e 160 reais de faturamento. Aí para limpar o cajueiro, para manter, para colher etc; vocês vão ver que não precisa fazer, por isso não fiz nenhum quadro aqui para mostrar o custo de produção, não precisa, é tão óbvio o negócio.

Então, nós temos aí os menores preços dos últimos anos. As exigências do Ministério do Trabalho. As exigências do Ministério do Trabalho atualmente, estão quase

que dando um recado para as grandes empresas. Olha, parem, que nós não temos interesse que vocês continuem trabalhando. Porque as exigências são tão grandes, com relação ao setor, que torna impossível se obter algum resultado. E no regime que ainda entendemos que seja capitalista o nosso, numa situação dessa sem lucro, não há quem resista. Hoje o Ministério quer que as grandes empresas tenham um ônibus para transporte interno, querem que façam estradas internas, fazem uma série de exigências trabalhistas, além daquelas normais de registro de carteira, etc., só que não dá para se pagar o salário, mais encargos para se sustentar essa atividade da cajucultura, com esse quadro de preço de hoje.

Aí nós vimos nas fotos anteriores, o aproveitamento do caju in natura. O caju in natura, ele teve uma época muito boa, muito interessante. Em 1994, a Itaueira vendia uma caixa de caju in natura, por 4 reais. É uma caixa com 1 quilo e 800, mais ou menos. E o salário mínimo era 70 reais. Hoje, 13 anos depois, o preço da caixa de caju, o preço médio, é vendido para o atacado no CAGS de São Paulo, por 5 reais. Ele subiu 25% na média e o salário mínimo, 442%. Por que aconteceu isso? Se anunciou que o resultado seria tão bom para esse tipo de negócio, que todo mundo passou a produzir caju para mandar para São Paulo, para vender como caju resfriado, tentando obter aqueles preços que se anunciava nessa época e que eram bons. Só que o mercado não é elástico. O mercado tinha que atingir o seu limite e aí, a lei da oferta e da procura. Enquanto nenhuma Prefeitura venha a revogar, continua prevalecendo. Então, com isso o pedúnculo, o caju de mesa, também deixou de ser um negócio lucrativo. O caju para suco, ele não cobre o custo da mão-de-obra, mais encargos, mais exigências do Ministério do Trabalho. Ele não cobre, mais ainda têm alternativas.. E o Mercado Internacional está aí com uma grande possibilidade para os produtos exóticos e nós vamos ver isso mais para a frente Outros derivados do pedúnculo, como o Dr. Lucas já apresentou, vários produtos sendo produzidos, em menor escala.

Perspectivas e sugestões- busca de soluções: Vamos dar o nosso exemplo, pelo menos, da nossa empresa, eu posso falar, sem perigo de errar. Nós não conseguimos mais viabilizar a nossa atividade de caju na nossa fazenda, em Canto do Buriti. Então, a nossa decisão era o seguinte: Vamos fechar a fazenda, parar, ou vamos encontrar uma nova forma para continuar? Então, o que encontramos como uma das soluções, foi a parceria agrícola para a colheita. Então, aqui estou falando mais para a grande empresa e para a média empresa. A fazenda plantou, fez a manutenção pomares, acompanhou a cultura até o início da produção. Só que só para colher, nós íamos gastar mais do que o valor da produção. Então, nós começamos a contratar parceria agrícola, que é regida pelo Ministério da Agricultura, os contratos de parceria agrícola. E hoje lá no Piauí, que é uma condição toda especial, que é uma fazenda isolada, fica a 74 quilômetros da sede do Município de Canto do Buriti, nós hoje estamos contratando a parceria agrícola, em que a

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fazenda fica com 60% da produção e o parceiro com 40% , só para colher e ele vende para quem ele quiser, a parte dele. Está em andamento a primeira colheita na Itaueira lá no Canto do Buriti, para a colheita do caju in natura, castanha de caju para suco. Nós ainda não sabemos se esse modelo será economicamente, viável. Os primeiros sinais, que nós já estamos com mais de 30 dias de colheita, são positivos. Pode ser que esteja aí uma solução por algum tempo. Mas, só vamos poder dar uma palavra final, no final do processo. Então, para o médio e grande como falei, pode ser uma solução. E é regulada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária. Com essa solução, nós deixamos de sair do âmbito do Ministério do Trabalho e passamos para o âmbito do Ministério da Agricultura. Só que nós, quando mandamos uma pessoa nossa lá para o Ministério do Trabalho, em Teresina, para conversar com eles, que estávamos estudando essa alternativa, fomos recebidos da seguinte forma: “Olha, fique da porta para lá, não queremos nem ouvir falar e se preparem , porque vamos lá ver, se descobrimos alguma coisa”. Então, foi essa a reação que nós tivemos.

Para o agricultor familiar, o caju poderá ser viável, desde que conte com o apoio efetivo dos Governos, Federal e Estadual, como fazem e continuam fazendo na Índia e no Vietnam, conforme apresentação anterior do Dr. Lucas Leite, da Embrapa. O agricultor familiar, ele principalmente, nas regiões aonde não há outra alternativa, pelo menos ele tem a mão-de-obra familiar e tem condições de ir se mantendo, sem problemas com o Ministério do Trabalho.

A diversificação também, foi um ponto bastante acentuado, pelo Dr. Lucas. Aliás, foi muito boa a sua apresentação, é uma possibilidade. Então, nós temos o caju com pecuária, caju com mandioca, com feijão, são alternativas que já vêm sendo praticadas e precisam ser multiplicadas. A diversificação é importante, porque o cajueiro com esse tipo de poda elevado que vem sendo adotado, ele cria um micro clima. Então, ainda esta semana tirei fotos que vou mostrar aqui, em pleno final de julho, nós ainda vemos algum feijãozinho, alguma mandioca, debaixo dos cajueiros, coisa impossível de se fazer sem um consórcio, sem campo aberto.

Aqui por exemplo, na Região de Barreira e aqui já na Região de Aracati, tudo isso na última sexta-feira. A mandioca também, nessas regiões, mostrando que é uma alternativa, que já vem sendo praticada e é uma das saídas. Bom, se a castanha não dá o suficiente, elo menos, é tentar com uma cultura que aproveite esse micro clima, criado pelo cajueiro, para que se possa produzir alguma coisa, em nível familiar. Essa poda elevando a copa e permitindo a substituição do coroamento manual pela grade de discos, ela reduz custos e permite os consórcios.

Então, nós vimos nas fotos, que a Itaueira usa outro tipo de máquina, mas esse seguramente, é o mais barato e elevando a copa, o trator passa junto, isso muita gente já vem praticando, e ainda se vende a lenha resultante, que é uma renda adicional, desde logicamente, que tenha mercado. Aqui na Região Leste por exemplo, nós temos muitas cerâmicas aí, que compra essa madeira.

E aí é como fica um pomar, por exemplo, trabalhando com a copa elevada e o trator podendo trabalhar junto ao tronco. Isso pode em um primeiro momento, reduzir a produtividade, mas reduz tanto o custo, que acaba viabilizando o negócio. Aqui uma outra vista, de um mais recentemente, cortado e lá atrás, nós vemos a parede de madeira, para ser comercializado. Mais uma vista aqui de outra mais recente, ainda se vê o sinal recente dos cortes e a madeira aqui, empilhada, para ser vendida. Aí o caso de um pequeno produtor. Então, são os novos caminhos. Vimos aí pela nossa experiência, que guardar o caju seco, para utilizar como ração animal, é uma ótima alternativa para o produtor familiar. Nós conhecemos já vários pequenos produtores que vêm praticando isso em pequena escala. E a Embrapa tem essa tecnologia para fermentar o caju seco, que é o trabalho lá, do Dr. Simplício. Eu não cito outros nomes, porque desconheço quem esteja dando continuidade a isso. Novos caminhos ainda. O associativismo dos pequenos produtores, para a produção dos produtos artesanais, é uma solução que começa a dar resultados. Então, nós já temos várias instituições que tem agido nessa direção. O Senar, já fez muitos trabalhos, já treinou muita gente, a Ematerce, o Sebrae, o Centec. Então, isso é um caminho a ser incentivado e estimulado. Nós não temos aqui a cultura do trabalho cooperativo, como prática usual. Mas, essa é uma grande possibilidade também, para o trabalho cooperativo. O associativismo em torno das mini-fábricas de castanha, é uma possível solução. Eu faço aqui uma crítica, quero que levem isso como uma crítica construtiva. Já houve muito trabalho, muita mídia e está faltando pouco, para se encontrar o caminho. Então, já vimos muitas reportagens nos jornais, na televisão, para esse tipo de trabalho, que tem envolvido várias instituições. E eu deixei escrito aqui, o seguinte: O trabalho até aqui divulgado, realizado por algumas instituições, se baseou na experiência de Antônio Peixoto, com a Associação de Produtores, em Barreiras, Ceará. Seu trabalho foi copiado, mas quando se financiou a implantação e reformas de mini-fábricas, o Antônio Peixoto não foi lembrado, mas é de mini-

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fábrica de Barreiras, com participação de Antônio Peixoto, sem o apoio merecido, que se originam exportações regulares.

A gestão comercial conjugada com o capital de giro necessário e suficiente, é condição indispensável para o sucesso; Então, houve uma injustiça, se copiou muito, se divulgou muito, mas falta muito pouco para se concretizar alguma coisa. E o que falta é justamente, que nós encaremos esta crítica com seriedade e procuremos descobrir qual o detalhezinho final que está faltando, para completar. Nós estamos sempre dispostos a cooperar. Agora, é preciso que todos nós tenhamos a humildade necessária, para encarar o problema, discutir e fazer com que a coisa funcione. Para o produtor familiar, o caju pode continuar a ser uma bênção, desde que se faça uma correção de rumo, com as considerações anteriores. A Ascaju, Associação dos Cajucultores do estado do Ceará, é apoiada pela Federação da Agricultura e o Presidente está fazendo parte da mesa de hoje. É imperativo tornar a Ascaju, uma Associação forte e bem representativa do setor, com maior número de associados e arrecadação suficiente, para se movimentar em defesa do setor. Nós do caju, temos que ter uma associação que nos represente, mas tem que ter recursos, sem recursos, nada se pode fazer e que nos represente e defenda os nossos interesses. Então, é preciso que nós produtores apoiemos essa instituição, que tem condições de defender os interesses de todos nós. O Raimundo Pereira de Menezes, seu presidente, receberá novos associados de braços abertos. Ação dos Governantes. Então, aqui nós repulsamos novamente, pela terceira vez. Os Governantes precisam assumir os pequenos produtores, ao invés de dar esmola, ajudar. Dar o apoio, principalmente, numa época de Crise como esta. Dar o apoio aos produtores, quer dizer, fazer com que o Brasil nessa área, seja competitivo, senão fizer isso, continuaremos sempre perdendo para os outros Países que vêm progredindo nessa área. Então é uma questão de competitividade e cada um de nós que tiver caminhos para levar esta mensagem, tem que fazer com que as coisas venham a acontecer. Assistência técnica, treinamentos e financiamentos subsidiados para o custeio e investimento, de forma que o pequeno produtor sobreviva. O Estado continue produzindo e as indústrias processando e exportando e gerando os empregos e divisas. Tecnologia, nós já vimos, desde a plataforma; existe recurso, é preciso que haja decisão política e que haja decisão de realmente, dar condições ao setor, para ser competitivo internacionalmente. O desenvolvimento dos novos produtos gerados pela pesquisa, transformados em novos empreendimentos, é uma alternativa para o setor produtivo. Então, só que é preciso que sobrevivamos, para que isso se torne viável. O Dr. Lucas mostrou e nós vamos mostrar uma foto aí, do desenvolvimento de novos produtos, ou que não são tão novos assim, porque já há produtores pequenos, ou pequenas associações, já fazendo alguma coisa. Na parte alimentar, nós temos um trabalho elogiável aqui, do Jaime Aquino Acione, que durante muitos anos, vem promovendo um almoço, para mostrar tudo que é possível fazer do caju, como alimento. E finalmente, na área industrial, a Fiec, através do Sesi, vem tomando a iniciativa. Aliás a CNI, que o Diretor Geral do Sesi esteve aqui, já tomou a iniciativa de multiplicar essas pesquisas da Acione, em parceria com o Senar, na divulgação dos produtos, com apoio do Sebrae. Aí já vem um outro comentário. O consumo pelas merendas escolares municipais, estaduais, com apoio dos Governos Estadual e Municipal, essa seria a grande ferramenta, para fazer com que isso possa servir à divisão. Então, cabe aqui, Deputado Hermínio, também, uma ação política. Na semana passada, me preparando para esta palestra, parei em um posto que tem no triângulo de Quixadá e fiz esta compra de produtos que estão aí, em pequenos comércios e hoje em supermercados, produtos derivados da polpa do caju e mesmo com alguma castanha aqui n o meio. Então, vocês notam que já há muita criatividade, já muita coisa sendo feita, consumida, trabalhada, só que exige um trabalho organizado de marketing de produção. E aí e que tem que entrar as entidades, as instituições, sejam vinculadas a Faec, a Fiec, Sebrae, Secretarias de Governo, todos têm que se envolver, para fazer com que isso possa acontecer. É preciso o impulso. Dr. Torres está olhando o relógio; aproveito para perguntar, quantos minutos me restam... Outros produtos aí vêm... Eu vejo o Chico Guimarães aqui, que avaliou também, nesse trabalho da soda do caju, do caju clarificado, mas no tipo de soda, de refrigerante, gasoso, uma delícia, o vinho do caju, da Embrapa, que era realmente excepcional, a resina e goma do cajueiro, que têm vários trabalhos, os derivados do LCC. Lá na UFC tem um craqueador, que a plataforma do caju encaminhou uma solução para viabilizar aquilo e na última hora, deixaram de apresentar o trabalho à plataforma, que seria via CNPq, para tentar outro caminho e acabou que nós não tivemos uma continuidade. E o artesanato da madeira. Então, desde que haja alternativas, abre-se alternativas de mercado, para produtos derivados do caju.

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O produto exótico para o mercado Internacional. O nosso produto, é um produto exótico. Já houve várias alternativas e nós começamos a notar algum interesse nessa área. Cada vez mais o primeiro mundo valoriza o comércio justo e nós temos que explorar esse caminho. O Sebrae tem condições de estudar bem isso daí e levar ao pequeno produtor.

E eu repito sempre que possível, esse documento de Leslie Swindale, que é um pesquisador americano, que esteve aqui em 1990, ou 1992, mais ou menos, quando houve um grande evento Internacional, para discutir o semi-árido aqui em Fortaleza. E ali, depois de apresentar uma série de documentos, de pesquisa que fez ao redor do mundo, de trabalhos que ele acompanhou, ele deixou esta declaração. “O semi-árido é viável, desde que sejam feitas as pesquisas, em cada uma das suas microrregiões, com duração no mínimo., de 6 a 10 anos”. Quem quiser resultado imediato, pode desistir, porque o caminho é demorado, mas tem que seguir esse ritmo, se vem a produzir o exótico e o caju é exótico, para o mundo desenvolvido. Esse tem que ser o nosso foco, temos que procurar o caminho para o pedúnculo, por aí. Com taxas mínimas de crescimento demográfico, o consumo de produtos comuns, estará estabilizado e negativo. Então, com essa estabilidade da população, produzir milho, feijão, arroz, nós não vamos ter muito futuro. E sempre que a esmola for substituída pela difusão do conhecimento, com a correspondente oferta de recurso financeiro a custos competitivos, esse caminho será possível. Ass mudanças necessárias dependerão da nossa vontade, das nossas ações. Ao completarmos as palestras sobre o caju, nas próximas semanas, deveremos ter as estratégias e os planos de trabalho definidos.

O apoio de todos que compõem a cadeia do agronegócio do caju, será fundamental. Muito obrigado. (Aplausos) SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Deixaremos os agradecimentos, os elogios para após o debatedor.

Queria pedir que contivessem um pouco a ânsia do estômago, para que o auditório não se esvaziasse, porque agora, nós teremos o ponto de vista Governamental, oferecido pela Ematerce. E é importante que se ouça as duas posições, para que tiremos daí aquela a ser adotada, ou o misto dessas duas alternativas.

Eu queria passar a palavra ao Targino, para que apresentasse a sua palestra.

SR. EGBERTO TARGINO BOMFIM: Bom-dia a todos. Gostaria inicialmente, de falar que, nós assistimos, não foi nem uma palestra, foi uma aula do Dr. Carlos

Prado, sobre o que é a cajucultura, como é que ela se comporta no Estado e perspectivas para ela. Acho que ficou bem claro tudo aquilo que foi dito. De qualquer forma, gostaria de tecer alguns comentários, da forma como nós que fazemos assistência técnica, Ematerce, Secretaria de Desenvolvimento Agrário, da forma como nós vemos a questão. Então, têm alguns pontos que eu selecionei aqui e no tempo que me está sendo destinado, se não me engano, são 15 minutos, falar alguma coisa.

Então, inicialmente, queria falar sobre a forma como o produto caju é vendido. Como foi comentado aqui pelo Dr. Carlos Prado, a questão de preço. Então, vejamos aqui o primeiro aspecto. O que acontece, é que o produtor ele normalmente, só ver a castanha, o produtor, apesar daqueles 16 subprodutos que foram apresentados ali, através da foto, mas o que vem acontecendo é que o produtor está muito focado na castanha. Então, esse foco na castanha, está contribuindo para que a rentabilidade dele caia e praticamente, ele fica numa situação difícil.

Um outro problema, ele vende direto ao atravessador. Quer dizer, ele vende só a castanha e procura somente o atravessador, ele não procura outras formas de agregar valor. Eu digo ele não procura, mas muitas vezes, ele não tem essa oportunidade. Mas, na realidade, ele está focado nisso aí. Ele vende para o atravessador e vende a castanha, não tem uma preocupação maior em agregar valor ao seu produto. O que acontece ainda, é que ele não se preocupa conseqüentemente, em selecionar, classificar, padronizar sua castanha.

Por outro lado, o que nós vemos, é que não existe preço diferenciado. Se os produtores resolvessem classificar a sua castanha, vender toda por tipo, ia ter um problema, porque o preço não é diferenciado. Eu me recordo que há 2 meses, participei de uma pesquisa, até com alguns colegas da Embrapa, onde nós, conversando com alguns atravessadores, fazíamos essa pesquisa inclusive, com alguns atravessadores, nós perguntávamos, por que eles não compravam o preço diferenciado. O que eles nos disseram é que realmente não tinha sentido, porque quando chega na indústria, a indústria compra é o todo.

Aí é aonde quero dar aqui a primeira sugestão, neste encontro. Os preços baixos estão prejudicando, logicamente o produtor. O que é que acontece, o que se podia pensar? Nós podíamos fazer aqui, durante esses 4 segmentos que vão ocorrer aqui do Pacto Agropecuário, se discutir, talvez formar grupos e ver a forma de se fazer um trabalho piloto, vamos dizer assim. Nós escolheríamos uma ou duas regiões, ou três, onde os produtores selecionados

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das comunidades, selecionados dos municípios e se faria uma tentativa de que esses produtores fossem orientados para classificar, selecionar sua castanha e por outro lado, algumas indústrias aqui presentes, outras poderíamos entrar em contato depois, se interessassem em pagar um preço diferenciado. Inclusive, aqui nessa ocasião, se discutisse também, qual é essa diferença, se o produtor entregar o produto classificado, a castanha limpa, a castanha dentro dos padrões de unidade,etc; qual é o percentual que a indústria paga acima? Porque eu vejo o seguinte: Por exemplo, sou vendedor de banana, a minha banana eu classifico de primeira, de segunda e de terceira. Eu tenho preço diferenciado para a banana. Tenho certeza que, no caso de laranja, existe também, só o caju não tem. Então, eu acho que seria uma primeira sugestão e que nós nesse encontro, formássemos uma comissão, para discutirmos, como iríamos fazer esse trabalho de lucro. Deixo isto aqui, pra vocês discutirem.

Um outro assunto que queria falar também, diz respeito a produtividade, isso já andei conversando com alguns colegas da Embrapa, no caso do Paiva, o Paes também, da Seagri estava comigo, essa relação da oferta de mudas. Eu vejo o seguinte: Nós temos hoje no Estado credenciado, oficializado junto ao Ministério da Agricultura, se não me falha a memória, de 10 a 12 viveiristas, onde esses viveiristas são pessoas idôneas, produzem mudas de qualidade, mas mesmo assim, existe uma falha e essa falha não é só do viveirista; é uma falha, acho que de todo o sistema. É com relação a oferta de clores novos. O que vemos é a Embrapa está sempre trabalhando e lançando novos clones. O que tem acontecido é que esses clones não estão chegando lá nos jardins clonais dos viveiristas, eles não estão disponibilizando esses clones para os produtores. Então, nós já vimos aí o BRS-256, o BRS-226, BRS-289. Estão sendo lançados dois clones agora e nós continuamos com aqueles clones baixos, que são: O CCT- 76 e o Faga, CCT-76, que tanto vende a castanha, como vende o pedúnculo e o Faga, que é por excelência, o pedúnculo. No ano passado, no programa de distribuição de mudas que foi feito e distribuímos 550 mil mudas, fizemos o planejamento, onde diversificávamos essa oferta de mudas e fizemos contratos, fizemos tudo. Na hora de entrega das mudas, posso dizer a vocês que 80% eram 76 e o Faga. Então, nós temos que ver essa questão, porque sabemos que são questões obvias, tem que haver uma diversificação maior e se têm clones sendo produzidos, sendo trabalhados e sendo ofertados, temos que levar isso para o jardim de clonagem dos produtores. Isso aí eu acho que deveria ser também, uma estratégia a ser traçada aqui em alguma ocasião, em algum grupo, nós somarmos isso ao pessoal da Embrapa e vermos de que forma vamos fazer com que esses clones sejam lançados e sejam levados ao viveirista, para que ele possa levar para os produtores. Isso seria uma segunda sugestão.

Por fim, eu gostaria de fazer algum comentário. Cito mais como uma oportunidade. No ano passado, o Estado disponibilizou 550 mudas de caju anão precoce para os produtores, digo, em 2007. Eu acho que 550 mil mudas, talvez seja até pouco. Mas, levando em conta o impacto isso causa, porque são mudas, de qualquer forma são mudas de qualidade, são mudas de caju anão precoce de sequeiro e o produtor vai pagar isso no quarto ano, acho que é uma forma já de pelo menos, divulgar melhor, lá para o agricultor familiar, naqueles municípios mais distantes, essa forma de repor, de como melhorar a sua produtividade. Para o ano de 2008, já está sinalizado, já está acertado 1 milhão de mudas. Também acho que é pouco ainda, poderiam ser muito mais. Mas, de qualquer forma é um começo, levando em conta que 1 milhão de mudas são distribuídas e acompanhadas, não é só levar as mudas e acabou-se não; nós fazemos o cadastro dos produtores, esses produtores são acompanhados. E isso depois, nós vamos até ver como essas mudas poderão futuramente, dependendo dos produtores, até servir como clones para produzir mudas, desde que sejam acompanhadas, já que essas mudas são certificadas, estão saindo dos viveiristas, já certificadas.

O outro aspecto que queria falar, também considero uma oportunidade, é um trabalho que já demos início junto a SDA é de substituição de copas este ano. A nossa meta agora até novembro são de 3 mil hectares de substituição de copas que vamos fazer e já temos recursos para isso. Então, é um programa voltado principalmente para o agricultor familiar e que eu acredito que é uma forma de se trabalhar, visando o aumento da produtividade.

Então, eram essas as minhas considerações e fico à disposição dos senhores, para qualquer pergunta. (Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : O Targino com as suas observações bastante pertinentes, salvou o resto do prazo para o debate, que poderá enriquecer muito o nosso trabalho.

O representante da SFA está aqui presente, gostaria de convidá-lo, para compor aqui a nossa mesa. Eu queria felicitar a ambos, o Dr. Carlos Prado, pela magnífica palestra apresentada, que não trouxe

pessimismo e sim, uma realidade enfática e alternativas para superarmos as dificuldades. Ele dividiu o trabalho de uma forma muito objetiva, as dificuldades que são diferenciadas para os grandes plantios e da agricultura familiar. Talvez o Carlos tenha faltado, a abordagem para a média produção, que é diferente dos dois. Assim como o Lula, ele está esquecendo que tem uma classe média aqui, que temos que cuidar dela e ele não ser vaiado no Maracanã.

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Então, é muito importante, ele não está ouvindo ali, mas estou aproveitando, para ele não ficar com raiva. Então, nós vamos agradecer ao Targino, que trouxe uma visão do interesse hoje da SDA com relação a

essa cultura. Passamos imediatamente, ao debate. Eu queria pedir ao Eduardo, que nos trouxesse aqui, antes de abrirmos para o auditório convencional, que

vem toda semana, o nome das pessoas que vêm do Interior e que têm as suas dúvidas, os produtores que vieram nas caravanas. Com a palavra Ossian, por gentileza.

Ossian é Secretário da Agricultura em Morrinhos e produtor rural, não só de castanha de caju, mas também, de abacaxi, no perímetro irrigado do Baixo Acaraú.

SR. JOÃO OSSIAN DIAS : Bom- dia a todos:

Quero agradecer ao Dr. Torres de Melo, por esta oportunidade que nos dá, em estarmos aqui nesse auditório e perguntar ao nosso ilustre apresentador, o Carlos Prado. Realmente, a situação dos nossos pequenos e médios agricultores do interior, é o problema do endividamento rural, que vem achatando a classe média. E qual seria a solução mais viável, para que pudéssemos tomar alguma decisão? Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : É extremamente sucinta e a pergunta vai ficar para a Mesa. Com a palavra Tyrone . SR. TYRONE JUCÁ : Bom- dia a todos:

Sou Secretário de Agricultura de Pacajus e agricultor. O grande entrave nosso, o grande gargalo, é o preço da castanha e do pedúnculo. Há uns 8 anos, nós mandávamos o pedúnculo para São Paulo, através de frete aéreo. Subiu demais, ficava inviável. Passamos a trabalhar com o Dr. Carlos Prado e atualmente, estávamos mandando o pedúnculo resfriado para o Manefrut, mas o preço também caiu, em virtude de frete e os preços baixos demais lá em São Paulo. Aí diversificamos. Agora, para sobreviver, somos pequenos produtores, é com o consórcio da mandioca. O Governo do Estado no ano passado, lançou uma variedade de Pernambuco, chamada a Chico Preto e nós estamos diversificando com o caju e a mandioca. Tivemos que fazer a correção de solo e hoje estamos obtendo 30 toneladas, por hectare. Então, está sendo viável agora, é o consórcio caju e mandioca, um casamento que está dando certo.

Por isso, veio uma indústria do Dr. Maurício Sobreira, estava lá no Município de Pacajus, uma fecularia, ele chama até farinheira. Porque se a farinha está num bom preço, ele introduz farinha, se não, a fécula de mandioca. Tem a previsão para todo o mês de agosto inaugurar, vai ter um dia de campo, vocês vão ser convidados para esse dia de campo e essa inauguração dessa nossa indústria lá em Pacajus.. Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO Eu agradeço ao Tyrone e pedia aqui aqueles que se apresentassem, porque as falas estão sendo taquigrafadas, para que constem num documento que fica aí, para a eternidade. Então, queria pedir que dissessem o nome e o municípios de onde vêm..

Com a palavra o Sr. João Batista.

SR. JOÃO BATISTA PONTE : Bom- dia companheiros: Eu sou realmente produtor no Município de Cascavel. Isso não me impede aqui de andar com freqüência e

também, não representar o Interior, porque afinal de contas, não se produz caju aqui em Fortaleza. Eu não tenho nenhuma crítica a fazer, pelo contrário, só tenho elogios, como os que me anteciparam aqui,

a palavra do Carlos Prado foi de A a Z, saiu de uma ponta a outra, dando detalhes e tal, foi muito importante, muito gratificante para todos os produtores.

Agora, queria fazer só um pequeno comentário para ele, de que, nós por exemplo, na nossa associação Ascaju, nós nos esvaziamos no preço de exportação da castanha de caju, fornecida mensalmente, ou qualquer época. Tive acesso ao Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio, que diz que a castanha de caju até o mês de julho, o preço de exportação foi 4 dólares e 45 centavos por quilo. Ele fez aqui um referencial um pouco diferente, que eu gostaria até de saber o motivo da diferença desse preço. Esse preço está aqui na minha mão e tem um site obtido a qualquer momento que se queira, no Secec, que ainda mostra o seguinte: No mês de maio e junho realmente, houve um decréscimo de preço, mas ainda continua com o referencial do primeiro semestre este ano, ou seja, de janeiro a

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junho, com acréscimo de preço de 3,38%, ao preço em dólar exportado, pelas indústrias do Estado do Ceará. Está escrito aqui e à disposição de vocês.

A segunda informação, é porque foi dito aqui, após uma indagação, nossa, como se procederia a mudança da copa do cajueiro, que o problema que estava havendo, é que não tinha aonde colocar a madeira, principalmente, se pensassem em fazer a mudança de copa. A poda vem se conseguindo colocar. Eu falei com o produtor Gane, ontem, ele me disse que está conseguindo colocar. Agora, se fosse para fazer mudança de copa, ele não teria condições, porque não teria onde colocar a madeira. A madeira teria que ficar no campo dele, à disposição do cupim, etc. porque não tem mercado consumidor.

Com o informativo do companheiro José Ismar Parente, de que a indústria Chaves Mineração, poderia comprar a nossa madeira do cajueiro, eu como cliente dele, como cliente dele, compro calcário na mineração, indaguei e peguei a seguinte posição: A Chaves S/A, que produz calcário, no Município de Nova Olinda, ele consome cerca de 120 toneladas por mês, mas para aquecer as caldeiras, ele usa o LCC. É muito bom vindo a ideai da castanha de caju, a indústria está vendendo o LCC, para a firma Chaves Mineração, segundo informação aqui, do Sr. Manuelito, gerente lá de vendas e muito conhecido.

Agora, quanto a outra empresa deles, chamada Magnésio, que produz o gesso, no Município de Jucás, não é um município muito produtor, fica um pouco distante para levar a madeira. Ele está usando a casca de castanha de caju. Quer dizer, isso mostra que está sendo bem empregado, indiretamente, isso são produtos derivados do caju, tanto o LCC, como a casca de castanha do caju. Só que, para quem for mudar a copa do cajueiro, eu não vejo ainda uma solução que apareça aqui, como é que diga, como se diz aqui que vai fazer, iremos fazer. Houve uma sugestão aqui do Nonato, que poderia montar uma fábrica de celulose, mas já tem informativo de que a madeira não seria adequada.

Fica só essa indagação, para quem tenha in formativos melhores, nos diga, porque a situação, conforme diz o Carlos Prado, pra o médio e o grande produtor, fica muito difícil. Vamos pensar, caminhando, não nos iludir totalmente, e ver até onde podemos chegar. Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Passo a palavra aos palestrantes, para as respostas. Por gentileza, Dr. Carlos.

Targino, aquilo que você achar necessário complementar, pode ficar a vontade.

SR. CARLOS PRADO : Eu começaria pelo João Batista, mas agradeço as palavras com relação a palestra. O João Batista fala no preço de 4 dólares e 45 por quilo. E é exatamente isso. Apenas eu coloquei os

preços em libra peso. Nós multiplicamos por 2,3, vamos chegar exatamente, a alguma cosia parecida. O preço que coloquei aqui, dá 4 dólares e 64 e o preço que o João Batista comentou, 4,45, está mais ou menos aí, para a W1, 320.

A resposta para o Ossian, gostaria que o nosso amigo, Presidente Torres de Melo respondesse, que é sobre o endividamento agrícola. Eu complementaria só com relação ao Tyrone.

O Tyrone deu aí o testemunho, que vai bem dentro daquilo que foi colocado. Quer dizer, ele já está encontrando alternativas no consórcio e principalmente, com a mandioca, que já gera a instalação de uma nova indústria, que é um fecularia. Então, é altamente positivo e um exemplo aí que deve ser considerado no estudo dessas novas alternativas.

Eu voltaria ao João, que acabei não comentando a questão da madeira, que é exatamente aquilo que foi colocado antes. Quer dizer, a madeira, sempre depende de você ter um consumo na região de produção, mas a madeira também do caju, ela é muito recente, como combustível. Então, cabe aí o trabalho, que também, essas próximas palestras, os encontros podem explorar um pouco mais esses assuntos e ver como fazer, para tentar estimular um maior consumo dessa madeira.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Eu queria pedir ao Dr. José Ismar, que desse uma informação sobre o problema da madeira, que ele tem um conhecimento bem aprofundado do assunto e a Secitece está tratando desse assunto.

SR. JOSÉ ISMAR : Bom- dia a todos:

Na última reunião do AGROPACTO, nós demos aqui uma informação, a respeito da reunião em que estivemos lá na Federação das Indústrias, com o Dr. Hermano Franco, diretor. Não foi Dr. Hermano Franco, como

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proprietário da Chaves e Cia, ele, como diretor da Fiec. Na ocasião, estivemos reunidos lá com algumas pessoas do Sindicato da Indústria de cerâmica e também, com o Dr. Renato Aragão e na ocasião, nós falamos com essas pessoas e comunicamos a ele do interesse do Estado, em saber se o sindicato apoiaria o programa relacionado com a recuperação de copa, no tocante ao aproveitamento da madeira. Ele deixou bem claro que essa oportunidade existia. Nós estivemos por mais de duas horas lá na Fiec, discutindo e foi feito inclusive, um trabalho, para se analisar onde estão localizadas as cerâmicas aqui do Estado do Ceará, que poderiam aproveitar a madeira, seja do Litoral Leste e no Litoral Oeste. Esse trabalho a Fiec dispõe. Na ocasião, ficou claro o apoio a questão do aproveitamento da madeira, que seria dado, através do Sindicato da Indústria de cerâmica.

A informação que você está me comunicando hoje, talvez tenha sido informação colocada por uma pessoa representando na ocasião, a firma, mas nós falamos com o diretor da Fiec, no caso, ele representando a Fiec, numa informação, que estávamos interessados. Então, é uma diferença com relação a essa questão.

O segundo ponto a que queremos nos referir e já é do conhecimento de muitas pessoas, é a questão relacionada com o aproveitamento da madeira, da lenha do caju, através de utilização por uma empresa que iniciou esse trabalho lá em Minas Gerais, em Uberaba. A partir desse trabalho que foi feito, para o aproveitamento de composto orgânico a partir da lenha, a Universidade Estadual do Ceará, tem hoje uma fabriqueta, aliás, uma pequena usina, em que ela está fazendo um trabalho muito interessante, a respeito da questão do aproveitamento da madeira , como composto orgânica.

Então, a informação que temos é esta. Eu acho que é possível se fazer um trabalho, eu diria, mais voltado para a questão do aproveitamento da madeira do caju, através da substituição de copa, que é uma quantidade maior, isso em regiões. Por exemplo, nós temos conhecimento hoje, que a Cascaju está com um programa de 8 mil hectares de substituição de copa, em 5 anos. Já talvez esteja aí com aproximadamente, com uns 800 a 1000 hectares de corte de madeira e essa madeira, logicamente, ela está aproveitando, mais na indústria dela, do que em qualquer uma outra, como combustível, na indústria de castanha. Então, esses casos aí João, são casos que eu diria, pontuais, para que através da avaliação do espaço físico, onde é possível aproveitar, não teria dificuldades de se fazer esse aproveitamento da lenha do caju, a partir da substituição de copa. Eu acho que essa sugestão, nós deveremos inclusive, trabalhar em cima dela , porque é uma possibilidade, não só para municípios, para os pólos de desenvolvimento da cajucultura, como também, para pessoas que estejam interessadas em quantidades maiores de aproveitamento da lenha, através de uma mini-usina, ou então, mesmo de uma fábrica de briquetes, se for o caso. Isso aí, logicamente, teria que ser feito estudos mais avançados, para que pudéssemos de fato, eu diria, não ficarmos no terreno das suposições. Eu acho que aí fica essa sugestão. É uma sugestão que queríamos dar, para que esse grupo trabalhe em cima dessa alternativa. Ok?

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Ok. Eu queria só lhe pedir, que você liderasse o processo do briquete, porque é a alternativa de se fazer isso e de se ter um programa de substituição de copa efetivo. Enquanto não se tiver a colocação da lenha.... estou informado que a Cascaju não tem mais cerâmica, ela ocupa tudo com a fábrica dela, mais a cerâmica e o mercado deixa de existir. Então e no Litoral que chamo Noroeste, não tem cerâmica em quantidade, capaz de absorver a substituição de copa que haja por lá.

Então, teria que ir buscar, antes de fábricas de calçados, fábrica desses briquetes a que você se refere. Porque nós beneficiaríamos 46 municípios e todo mundo poderia fazer.

SR. JOSÉ ISMAR: Ok. Então, nessa questão relacionada com esse trabalho, nós poderemos já assumir essa informação.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Eu queria que você assumisse a chefia do grupo.

SR. JOSÉ ISMAR: Mas, vamos procurar os elementos para trabalhar em cia dessa questão, ver se nos comprometemos e vamos avançar em cima dessa questão que tem sido muito discutida, mas apesar desse avanço que existe hoje na Universidade Estadual do Cearão, eu diria, já com uma alternativa, que nós teríamos que avançar mais em cima dela. Mas, eu me comprometo a levantar essa bandeira e trabalhar em cima dessa possibilidade. Existe hoje um site, se você for no site da Bieks on, que é uma empresa lá de Uberaba, se você for no briquete, têm várias empresas no Estado de São Paulo,que eles fazem briquete a partir do eucalipto, a partir de outras madeiras, araucárias, mas isso, para o caju, nós vamos ter que avançar mais e trabalhar melhor, nessa questão da tecnologia. A tecnologia, ela existe. Agora, a questão de como no caju isso vai se comportar, nós não queremos avançar muito, porque é um

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trabalho ainda que tem que ser feito. Mas, é possível, isso não tem dificuldade. A questão é volume, a questão é localização é logística, uma série de aspectos aí, que temos que considerar.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : O Férrer disse que sabe o que é briquete e define melhor do que o José Ismar. (risos)

SR. JOSÉ ISMAR : Eu estou falando briquete para caju; briquete para caju, não existe.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Férrer, a palavra é sua.

SR. FRANCISCO FÉRRER : João Batista, isso é uma tecnologia já existente. Lá no Sul já se usava isso; com eucalipto, eu trabalhei um dia no IBDF e nós fazíamos o briquete. Nada mais do que você dar uma pressão maior, dar uma queimada na madeira, faz o carão e depois condensa, tritura e passa até nos extrusores de fazer tijolo, de fazer roliço, você prepara aquele briquete. Então, ele é condensado; por exemplo, uma tonelada de madeira, daria 100 toneladas de briquete, inclusive comprimido, aquilo que você fica com mais facilidade de conduzir. Isso é uma prática utilizada para a energia primária. Se precisar de mais detalhes, darei para você.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Estou sendo solicitado para dar uma entrevista, mas vou responder ao Ossian. Para o endividamento, queria primeira deixar claro. Nós não temos, não sei se lamentavelmente, ou felizmente, capacidade de editar medida provisória. Só o Governo e assim mesmo, está fazendo mais do que pode, que devia. Então, o problema do endividamento, ele no Sul do País, eu tenho dito, está se tentando resolver, a crise de 2005 e de 2006, que é uma crise recente. As leis anteriores resolveram o endividamento passado, da década de 90 e agora, estão com o gargalo seriíssimo e a Imprensa dizendo novamente que a agricultura continua a querer benesses permanente do Governo. Só que, no caso da grande agricultura comercial ou industrial, como queiram, ela realmente, os prejuízos são muito grandes. Quando você tem uma perda de 40% no Ceará, a perda é muito social e o valor econômico é relativamente pequena; agora, se você considerar isso no Paraná, em mato Grosso do Sul, ou no Mato Grosso, essas perdas são economicamente, significativas, não se recupera com uma safra, são duas, três safras. Aí começa ao endividamento do PESA, que é antigo, tem que pagar junto com o da nova safra e aí fica então, uma superposição de pagamento nas mesmas datas e começa a voltar a inadimplência preocupante. Mas, de qualquer maneira, eles estão resolvendo crise de ontem e a nossa crise é dos anos 90 e o Governo nunca entendeu, que o Nordeste, é diferente. Já acabou Sudene, já prometeram, não voltou, não tem ninguém que fale pela Região Nordeste. Cada Governador fala pelo seu Estado. Então, esse é que é o grande problema. Perdemos o sentimento de nordestinidade.

Então, agora, estamos trabalhando na CNA, nesse sentido mais uma vez. Conversamos com Mavignier na semana passada, saímos de Brasília 15 dias atrás, em busca de contratar um trabalho, feito por um órgão que tenha a marca. Quer dizer, a Fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco. Está disposta a fazer, mas têm algumas restrições. O Instituto João Pinheiro já foi contatado; é o contrário, Fundação João Pinheiro e Instituto Joaquim Nabuco. Ela, a Fundação João Pinheiro, disse que não é bem o ramo dela.

Então, nós queremos voltar ao Ministério da Fazenda, ao Ministério da Integração, com um trabalho, mostrando a realidade, que nós tivemos 7 secas e duas enchentes nesses últimos 14 anos e somente numa das secas houve uma medida de exceção e o restante continuou com o crescimento que o Carlos Prado mostrou, exponencial da dívida, a desvalorização dos arquivos das empresas e das pessoas. Então, essa é uma realidade, que o débito é impagável, não tem renda para isso. E o Governo não entende que aconteceu isso e agora, as execuções judiciais, estão acontecendo. E é muito difícil.

Agora, nessa minha última visita, eu sentia assim um fugas de boa vontade. Vamos ver se conseguimos. Não vamos desistir, a CNA se dispõe a pagar esse trabalho, mas na proposta que a Universidade poderia fazer, está pedindo 4 meses para isso e 4 meses, é humanamente impossível se esperar esse prazo, porque vemos que a paciência Governamental está se esgotando e a nossa capacidade de sobreviver, já está cada vez menor.

Então, é essa a explicação que o Ossian já está cansado de ouvir. Eu acho que ele pediu para eu falar para outro público, ele sabe de tudo isso.

Mas, eu vou pedir licença e pedir ao Deputado Hermínio para assumir a Presidência, porque tenho que ir lá fora dar uma entrevista.

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SR. COORDENADOR DEPUTADO HERMÍNIO RESENDE: Vamos passar a palavra para o Dr. Targino, para fazer suas considerações, também.

SR. EGBERTO TARGINO: Eu só queria falar com relação a lenha de substituição de copa, que eu vejo com muito bons olhos essa questão do trabalho que o José Ismar falou, também, da compostagem da lenha. Vejam só, os solos onde se planta caju, normalmente, a matéria orgânica é abaixo de 1%. Então, é muito baixo o teor de matéria orgânica. Realmente, eu acho que se pudéssemos aproveitar um pouco dessa lenha, se for um trabalho grande que for feito de substituição de copa, vai ter sobra para se fazer muita compostagem e tenho certeza, que essa compostagem vai ter um resultado muito benéfico em termos de solo, para os produtores.

SR. COORDENADOR DEPUTADO HERMÍNIO REZENDE : A Mesa abre inscrições para a platéia, para quem queira fazer alguma pergunta aos palestrantes.

Com a palavra o primeiro inscrito, Trajano.

SR. JOSÉ TRAJANO : Pessoal, eu sou um idealista, defendo a cultura do caju, diria a vocês, há mais de 60 anos. Porque sou filho de Pacajus, minha mãe e meu pai já eram plantadores de castanha de caju e caju, mesmo, é uma coisa séria.

Mas, este debate está muito bom, estou achando tudo muito bonito. O Carlos Prado fez uma brilhante apresentação , o bananeira aí contou uma história.... é banana ou é mamão? Me desculpem, mas é a verdade, isso é um tema importante, um tema internacional, um assunto sério dessa natureza, que nós estamos aqui discutindo, onde o assunto principal, é o que não tem. Depois do borbulho daquele coronelzinho que a turma critica aí, o César Cals, que fez uma revolução na cajucultura, de lá para cá, Dr. Eduardo me desculpe, o senhor estava por trás de mim. O Tasso Jereissati, meu amigo particular, zero, 12 anos em cima da cajucultura. Se ele estivesse aqui, ia ouvir. 12 anos, nunca plantou um pé de caju, botou Cid, mais 4, 16. O senhor sabe o que é uma cultura que está há 16 anos? Não, botou o Lúcio, eu não sei se ele passou lá por Pacajus, pra saber qual era a votação dele. Mas, 4, isso é um problema político. Um Estado que tem uma pauta de exportação de 150 milhões de dólares, tem uma indústria agregada ao produtor e não ter uma liderança política, meu Deputado? Ela não vai para lugar nenhum, ela não decola em lugar nenhum. Esta é que é a grande verdade, Carlos Prado, é uma questão política, é uma questão de homem, de ideologia, de formação, bandeira. Ou o Governador do Ceará um novo vem para cá, entender o problema, ou ele vai criar avestruz, que está na cabeça dele.

Eu quando falo isso e me empolgo, meu caro Vieira, é porque eu sinto na pele, esta é que é a verdade. Nós tivemos uma liderança dentro da cajucultura, o falso bacana, está vestido de produtor e pipocou uma cooperativa. A “Coocaju”. É essa a liderança que quer crescer, Carlos Prado, é esse produtor que quer crescer dessa natureza? Dr. João, me desculpe, mas nós estamos precisando é de uma liderança que bata na mesa do Banco do Nordeste e diga: Olha Byron, o velho Byron, a cajucultura tem prioridade, como pode bater hoje. Senão, continua na mesma conversa. Se eu estiver mentindo, se eu estiver criticando, desculpe, mas não conheço nenhum segmento de uma economia, se não tiver uma balança, um pontapé político. O cacau decolou, a soja decolou, a uva decolou, a laranja nunca caiu e a castanha, o caju do Ceará não vai para lugar nenhum, porque ninguém vai pegar sua terra para vender 1 quilo de castanha e não ter o aproveitamento do pedúnculo 95%. E eu nunca vi um projeto para defender o pedúnculo. O suquinho, que é isso meu amigo?Vamos tomar vergonha e transformar este momento histórico da cajucultura, trazer o Governador do Ceará para cá, trazer o Ministro da Agricultura e quem tiver vontade de vencer, é lutar e botar para quebrar. Ou chama os industriais para se entender, que têm dinheiro, que exportam, é que dominam os Tio Sã do dinheiro e ajudar a quem precisa, Dr. Chicão.

Mas a pergunta que faço é o seguinte: Carlos Prado; Sr. Deputado que está aí presente, qual é a próxima e quem é que vem do Governo nos ouvir, cara a cara, principalmente, Dr. Cid, que está muito fantasiado aí, com o negócio de avestruz. Me desculpe, vocês estão vendo, mas eu digo na cara dele. Olha o Piauí planta, o Rio Grande do Norte planta, são os três Estados, Dr. João Pontes, são 450 mil famílias que vivem da cajucultura, são não sei quantas pessoas que precisam dessa cultura, que não têm uma orientação? Têm, a embrapa é nota 10. Mas, tem que ter limite. Então, vocês fiquem aí felizes, porque eu vou continuar defendendo, como sempre gostei de defender, não tenho medo de cara feia, não respeito patente de qualquer um e bato na mesa. Ou tem um voz política dentro desse contexto nesses 10 anos, ou são mais 10 anos de atraso. E se tiver alguém que puder falar com o Dr. Cid, pode dizer: O Trajano está pipocando já o seu Governo, se não tomar atitude, em defesa da cajucultura. Olha o grande técnico do Banco do Nordeste, um homem que fez uma revolução ali e eu discutia com esse homem. E o caju, e o caju. “Trajano,

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têm coisas mais importantes”. Estou mentindo? Muito obrigado. Deputado, espero que o senhor nos ajude, espero que o senhor esteja aqui, como está toda terça-feira, que agora a partir da próxima, é na segunda-feira e que o senhor leve a mensagem para a Assembléia, para que possamos fazer uma nova revolução dentro deste AGROPACTO, em defesa da cajucultura. (Aplausos)

SR. COORDENADOR DEPUTADO HERMÍNIO REZENDE : A Mesa convida o Dr. Gadelha, para sua colocação e pergunta.

SR. FRANCISCO GADELHA : Bom- dia a todos:

Sou Francisco Gadelha, no momento respondo pelo Sindicato dos Produtores de Caju, Sindicaju. Quero inicialmente parabenizar ao Dr. Carlos Prado e ao Dr. Targino, pelas brilhantes palestras.

Evidentemente, nós tivemos informações importantíssimas e sucedeu o Trajano aqui nesse momento, um desafio muito grande, dada a sua empolgação, o seu compromisso com a cajucultura, através da ONG- Caju e uma das coisas que me encorajou vir até aqui, é essa conclamação que o Dr. Carlos Prado fez durante a palestra, de nós todos nos unirmos, nos somarmos, seja a ONG- Caju do Trajano, seja o Sindicaju, seja a Associação dos produtores de Caju do Ceará, Acaju, enfim, todas as entidades têm que se dar as mãos, somar, porque o momento é de muita dificuldade, mesmo.

Eu fiz aqui uma seqüência de pontos, que gostaria de pedir um pouquinho de paciência, só para colocar essas questões, uma vez que nós temos pelo menos, mais de 20 anos que produzimos caju, nos Municípios de Aracoiaba, Ocara e Ibaretama. E ultimamente, estamos atravessando um momento muito difícil.

Eu diria que, da exposição do Dr. Carlos Prado, ficou muito claro que o segmento começa entrando para um processo de inviabilidade. Ora, nós sabemos que das culturas de sequeiro hoje, no Interior do Ceará, apenas a cajucultura está sendo viável. Com esses dados que foram mostrados, nós ficamos num questionamento muito sério. E aí, há um primeiro desafio, buscar a produtividade. A busca da produtividade para necessariamente, pelo uso de tecnologia, que é caro. Nós ouvimos no final da semana passada no programa Globo Rural, a Federação da Agricultura do Paraná , mostrando o aumento do custo de insumos, principalmente, fertilizantes químicos, chegam a ordem de 28%. Ora, essa curva é altamente contraditória, os insumos subindo muito, a lucratividade caindo, ou entrando numa linha já vermelha de prejuízo. E aí, como auferir melhor produtividade, quando o alcance, o aceso aos insumos passa por essa dificuldade, aumento de preço? Então, a questão assim que vejo importantíssima neste momento, diante por exemplo, da safra 2006-2007, de cerca de 300 mil toneladas de castanha no Brasil e considerando a relação de 10 para 1, seria cerca de 2 bilhões e 700 milhões de quilos de pedúnculo, algo em torno disso. Se considerarmos que apenas 10% disso tem efetivo aproveitamento e mais um aproveitamento que não agrega valor, que seria esse que usa o caju seco, às vezes, para um animal aproveitar e não se contabilizando isso aí, é uma perda extraordinária.

Ora, nós vimos recentemente, demonstrações de crescimento de mercado extraordinário, com referência por exemplo, a um fruto também exótico, também aqui do Brasil, o açaí e o açaí até 1999, realmente, era restrito o uso dele, praticamente, só às populações ribeirinhas da Amazônia. Hoje a partir de 1999, com um grupo de americanos que veio para cá, o açaí hoje é um fruto que nos Estados Unidos, está revolucionando. Um outro produto também de fruto exótico, que tinha pouquíssima chance de ter o alcance que tem hoje, é o kiwi. O kiwi há 70 anos, em Taiwan, ele era usado para ração de porco. O esforço que houve com o kiwi foi de 20 anos para cá, ou dos anos 80 para cá. Então, hoje essas frutas exóticas alcançam um mercado fantástico. No caso do açaí, por exemplo, nos Estados Unidos, hoje há desenvolvimento de, shampo, sabonetes, sucos, energéticos, uma série de produtos. Então, acho que neste momento, nós teríamos que focar a questão do aproveitamento do pedúnculo; esse pedúnculo, se bem trabalhado, no caso específico do açaí, o esforço foi do estrangeiro, no caso do kiwi, o esforço foi do Governo da Nova Zelândia e de produtores. Aqui no Brasil, nós teríamos que, nós produtores, nos somarmos ao Governo e desenvolvermos um trabalho realmente sério, um trabalho realmente, com o objetivo de divulgar um trabalho de marketing e nós tentarmos recriar o caju, o pedúnculo e com isso, agregarmos valor, à atividade do agronegócio do caju.

Também, no caso da melhoria da produtividade, há práticas rotineiras. Eu volto aqui um pouco ao que o Dr. Targino colocou, e nessas práticas rotineiras que vemos diariamente no Interior, se fazer com o cajueiro, se inclui. A poda, ou o levantamento da copa para trabalhar mecanicamente, com o trator. Além da poda, enumerei aqui outros trabalhos de manutenção das lavouras de cajueiros, como seja: A gradagem, que promove uma boa aeração do solo e com isso, nós temos conferido melhorias da produtividade da castanha; o combate a cupim e também, a retirada de ramos chupões das ramas dos cajueiros. Isso são práticas rotineiras de toda essa nossa região aqui, de Horizonte, aqui

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está o Franze e é testemunha disso, Ocara, temos aqui também presente, o Secretário de agricultura de lá. Enumeramos essas práticas e hoje o agricultor muitas vezes, se sente com dificuldade de fazer isso aí, que seria o mínimo que ele poderia fazer. Combater o cupim, fazer a poda, promover as gradagens, para a colheita da castanha.

Finalmente, meus amigos, desde 2 mil, eu passei a fazer substituição de copa, naturalmente, selecionando as plantas que apresentavam menor produtividade e não, o pomar todo; apenas eu fazia a seleção e tenho feito, com as plantas de menor produtividade. E nós passamos a vender, como a nossa área é na região próximo de Russas, passamos a vender praticamente, para as cerâmicas de Russas. Existe realmente, uma estabilidade muito grande de preço. Há 2 meses, nós estávamos vendendo uma carrada de 40 metros de madeira de cajueiro, por cerca de 380 reais; na semana passada, só chegou a 220, porque a oferta está muito grande. Mas, surge uma outra possibilidade, que poderia ser trabalhada. Acho que numa integração de cadeias produtivas, que seria o aproveitamento da madeira do cajueiro, como raspa para a cama de frango, para a raspa, junto aos aviários. Para isso, um trabalho envolvendo possivelmente, o Dr. Bessa, que poderia articular isso aí, junto ao segmento da avicultura, poderia estabelecer um aproveitamento melhor, para a madeira do cajueiro.

Perguntas, eu anotei apenas duas. Uma para o Dr. Carlos Prado. Eu perguntaria: Na exposição, o senhor falou que a sua parceria para a colheita é na relação de 60%, para 40%. Eu pergunto: Só a castanha, ou o pedúnculo também? Acrescentaria também, não sei se o Peixoto está presente hoje aqui no AGROPACTO, mas o Município de Barreira, o Dr. Carlos Prado, na sua brilhante palestra, omitiu o número de mini-fábricas. Eu perguntaria se ele tem esse número exato, porque a informação que nós temos, é que Barreira dispõe de cerca de 25 mini-fábricas, entre pequenas mini-fábricas de fundo de quintal, até de maior estrutura como próprio para o rural e outro município que tem também um número expressivo de fábricas, seria Pacajus, com menos de 10 mini-fábricas.

Para o Dr. Targino, eu perguntaria, se para a distribuição dessas mudas, é observado o zoneamento agrícola para o cajueiro e quais são os outros critérios usados na distribuição das mudas de cajueiro anão precoce. Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Nós é que agradecemos a sua participação. Vou passar aqui para o Victor Hugo fazer uso da palavra.

SR. VICTOR HUGO : Bom- dia meus amigos: Sou pesquisador da Embrapa Agroindústria Tropical, aqui em Fortaleza. Inicialmente quero parabenizar o Carlos Prado pela excelente apresentação, onde ele proporcionou-nos

uma visão bem interessante, a cerca das demandas da cadeia produtiva e das limitações, principalmente, no cenário interno. E ele chamou atenção de um aspecto e antes de fazer a pergunta, gostaria de dar uma contribuição, Carlos, a essa mão forte do Governo, tanto no Vietnam, quanto na Índia. É que isso não se restringe apenas aos aspectos produtivos, mas principalmente, ao embasamento científico. Basta dizer, Carlos, que a pesquisa com caju, na Índia, começou em 1952. só para vocês terem uma idéia e a Índia tem uma instituição chamada, Centro Nacional de Pesquisa do Caju. Além dessa instituição, a Índia tem mais 5 universidades, que trabalham também, no melhoramento genético do cajueiro. Para os senhores terem uma idéia, a Índia hoje tem 43 variedades de cajueiros, recomendadas para o plantio naquele País. Então, existe um estafe, uma equipe de pesquisadores muito grande, trabalhando em tempo integral, com a cultura do caju. Então, isso tem que fazer a diferença, de alguma forma. Esta uma contribuição para o que você falou, a respeito da presença do Governo.

Um outro aspecto interessante, é que existe também, principalmente na índia e agora na África, um movimento muito grande, no caso da África, chamado de Aliança do Caju, onde os Países produtores de castanha da África, se uniram, no sentido de que a matéria prima seja processada no próprio Pais. Então, essa organização não se resume apenas a isso, essa organização também, com vistas a melhoria de produtividade, introdução de novos materiais genéticos, de modo que ninguém está parado. Ninguém que falo, em termos dos nossos principais competidores. Então esta uma contribuição.

A pergunta que colocaria para o Carlos, Qual a sua opinião, sobre a implantação do programa de fidelização da compra de castanha, por parte das indústrias, a exemplo do que ocorre em outras cadeias produtivas, como o caso do frango, em Santa Catarina, por exemplo? Será que isso seria possível de se implantar, com relação a aquisição da castanha aqui no Estado do Ceará, até que ponto isso poderia trazer melhoria de preço, de qualidade da matéria prima, que é entregue às indústrias? Muito obrigado.

(Aplausos)

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SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Vamos passar a palavra agora aos palestrantes, para as respostas e os que se inscreveram antes e não foram chamados, é por causa da minha ausência.

SR. CARLOS PRADO : Cumprimentar ao Trajano, pela empolgação do discurso. Com relação ao Gadelha, ele fez realmente, uma boa exposição sobre esses outros produtos, como o açaí, o kiwi, deixando isso como exemplo, uma referência, que devemos considerar na busca de soluções para o caju. Mas, deixou duas perguntas específicas e deixou uma idéia,que destaquei bem aqui, que é o uso da madeira, como raspa, para a cama de frango. Acho que essa idéia ai, se ela pudesse ser viabilizada, já ajuda muito na definição de uma demanda para essa nova madeira que está sendo gerada aí, pela substituição de copas e pelas podas.

Sobre a pergunta específica, que é da nossa parceria. Realmente, estamos fazendo a parceria de 40% e 60%. 40% para o parceiro, na colheita da castanha, na colheita do pedúnculo para suco e na colheita do caju in natura. Só que a Itaueira sai do negócio do caju in natura. Agora, é um terceiro que vai à fazenda e cria todas as condições, para que os parceiros venham a embalar e a própria fazenda vende a aparte dela para esse terceiro.

Com relação a pergunta sobre o número de mini-fábricas lá de Barreira, nesse negócio de mini-fábrica que citei do Peixoto, ele está usando os serviços de aproximadamente, 12 a 14 mini-fábricas, ou micro fábricas também, lá na região do Município de Barreira.

Passando pra o Victor Hugo, a todos volto a agradecer aí as palavras e com relação ao Victor Hugo, acho que ele coloca muito bem aí, o que acontece na Índia, principalmente, além do apoio direto à produção, esse apoio direto à pesquisa. Pesquisa, como nós vimos naquele quadro do Dr. Leslie, é um negócio demorado, principalmente, para uma cultura de longo prazo e só se resolve se houver Governos que introduzam políticas, mas que durem décadas. Aqui no Brasil, nenhuma política de Governo dura mais do que um mandato do próprio político.

Com relação a sua pergunta específica, e antes disso, acho que essa informação da Aliança do Caju, é uma referência também, que devemos considerar desses trabalhos dessas palestras em andamento, porque aliança aqui, ela estaria configurado aí, no caso da Ascaju, que é a Associação que vem sendo criada, para representar o setor. A minha opinião sobre a fidelização da compra de castanhas, como o frango, lá em Santa Catarina, acho que é uma idéia ser trabalhada com o setor, dentro deste ambiente. É uma ideai que eu sugeriria que o próprio Victor Hugo, conversasse com o Antônio José, que já não está aqui, que é o Presidente do Sindicato da Indústria, e aprofundasse um pouco mais esse tema, antes da própria palestra do Antônio José, para que esse assunto possa ser tratado neste ambiente. Acho que a ideai é boa.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Nós concluímos um bloco. Estão encerradas as inscrições. Vou pedir paciência ao auditório, porque vamos passar do prazo das 10 horas, mas vem muita gente de fora, em homenagem a eles e respeito, queria pedir que os locais também permanecessem no auditório.

Targino, a palavra é sua.

SR. EGBERTO TARGINO BONFIM: O Gadelha perguntou, com relação ao zoneamento, se as mudas distribuídas estão em áreas zoneadas. Então, essas mudas são distribuídas, foram estabelecidos critérios, onde inicialmente, nós selecionamos o município, esse município deve ser zoneado para a cajucultura e deve ter um agente rural, pelo menos, trabalhando com o caju, para dar acompanhamento. Segundo, nós selecionamos a própria comunidade. Procuramos selecionar a comunidade que esteja concentrada, justamente, para facilitar o trabalho de assistência técnica e por fim, dentro dos critérios, nós selecionamos o produtor, não entregamos a produtor aleatório, entregamos ao produtor prioritariamente, ao produtor familiar, nosso público, embora atendamos também, há casos que temos atendido a outros produtores, mas os prioritários são os agricultores familiares.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Eu agradeço ao Targino e ao Carlos, pelas respostas que foram dadas.

Queria passar a palavra para a Dra. Maria do Rosário, para fazer a sua pergunta.

SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Bom- dia à Mesa aqui presente e a todos os colegas sofredores aqui, dentro da política e da produção de caju.

Eu gostaria de fazer duas perguntas à Mesa e também fazer duas colocações. Em relação ao que o produtor de caju de Pacajus, o Trajano, aqui veio e disse, que nós precisamos de uma grande ação. Eu até pactuo com ele, que precisamos de uma grande ação e de pressão, para exercermos uma política de preço mínimo do caju. Sem

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uma política de preço mínimo do caju, realmente, fica inviabilizada a produção. Agora, para isso, precisamos nos organizar, sermos fortes, porque nós adianta você querer uma política, ela não vem de graça; você tem que fazer pressão. E como exercer essa forma de pressão? Se organizando cada vez mais.

Eu sou rosário, produtora rural de Chorozinho e Chorozinho tem uma grande produção de caju. Não aparece aí na Internet, nós vemos o percentual de Pacajus, Barreira, vários municípios e Chorozinho, por infelicidade, não aparece. Por que? Porque fica mascarada. A nossa produção,100%, é vendida em Pacajus. Então, ela fica agregada à produção de Pacajus. Mas, se separar, talvez chegue próximo a de Pacajus. Por exemplo, a minha produção é pequena, mas foi 43 mil quilos de castanhas e foram todas vendidas em Pacajus., quer dizer, não temos indústria em Chorozinho, não temos, a não ser uma pequena indústria de quintal, de cajuína, essas coisas. Isso não adianta como resultado, gente, tem que ser uma ação grande. Você ter uma indústria grande, como o Paulo de Tarso do Sindicaju, que era Presidente do Sindicaju, que me disse: “Rosário, estamos abrindo um beneficiamento em Itapipoca, beneficiamento do pedúnculo, para ração e vai ser aberto outro, entre Horizonte para cajuína” eu perguntei:.Como é que fazemos para puxar isso e levar para Chorozinho, pelo menos, Chorozinho começar a trabalhar em cima disso? Ele disse: “Olha. Isso vai ser altamente técnico, ninguém vai mexer, vamos ver aonde é que tem maior produção de caju e lá é aonde vai ser instaurada”. Até hoje essa fábrica não existe por lá. Beneficiaria centenas de produtores. Porque todo aquele caju daquela região, tenho certeza, iria para essa indústria. Imaginem, já ia dar um empurrãozinho na produção, porque nós com a política dos bancos também, que não nos favorece muito, tudo o que você que fazer é com os recursos próprios e quando você já está no seu limite. Quer dizer, nós fizemos plantações de cajueiros anão precoce, por conta própria, já com o que temos. Então, canaliza para melhorar sua produção futura, sua produção hoje, fica pendente. Porque aquela limpeza normal que você deveria fazer, já não tem recurso, porque você canalizou esse recurso para outra coisa.

Então, é um problema que surge e deve existir milhões. Essas idéias que foram colocadas aqui, acho que todos os produtores têm consciência disso. O que falta é recurso e oportunidade para fazer. Inclusive, na Internet você vê até ração praticada no Rio Grande do Norte, Paraíba, os percentuais, que o caju tem o tanino e pode prejudicar um pouco, pode gerar até o emagrecimento do animal. Então, tem que ser dado em dosagem certa. Então tudo isso está na Internet, qualquer produtor pega, tem acesso. Procura um agrônomo para explicar melhor. Agora, o problema é recurso, para você gerir isso aí. Nós fazemos tudo isso aqui, mas é um trabalhozinho de formiga. Nós fazemos ração, não aproveitamos o pedúnculo todo porque não precisamos dele todo, o resto vai todo destruído, estragado lá, pelo tempo, mesmo. Então, não adianta essa politicazinha de formiga. Ah! Porque o pó do cajueiro faço um carvão Zinho ali, ou vendo uma madeirinha ali, a polpa se estraga todinha, faço uma raçãozinha. Está se vendendo, nós estamos vendendo. Eu uso caju o ano todinho. Hoje estou ainda fazendo ração, ainda tenho ração para misturar nos outros incrementos, ração para gado, para ovelha, até galinha, todos os animais . Mas, eu não uso 10% da polpa que fica do pedúnculo do caju. Eu estou aproveitando os 10% na minha ração e o restante, os 90%, por que estou perdendo? Então, o que falta é isso. Essa indústria que ia ser implementada lá, entre Horizonte, disseram que era de Horizonte a Chorozinho, nunca existiu. Acho que até hoje ainda se encontra no papel. Infelizmente, é isso. Não prometeram, já existia o projeto, inclusive, em Itapipoca parece que foi inaugurada uma e o Paulo de Tarso do Sindicaju, é que estava analisando. E eu digo mais. Essa indústria, ela veio,segundo o Paulo de Tarso, de um produtor de laranja de São Paulo, que eles aproveitam lá indústria semelhante, casca de laranja, que não tem quase nada de proteína. Tem 0,5% do que o caju tem e lá eles fazem e dão para o gado. E agora, eu acredito o seguinte: Poderia ser uma realidade, por que não pode? Acho que pode, se nos reunirmos e tentarmos abrir indústrias e empórios de produção de caju, vai ser uma realidade, vai agregar valor para o pedúnculo. Se o pedúnculo for para São Paulo, ele vai agregar mais valor. Porque se não der um bom preço, vai ser feito ração aqui no próprio Ceará. É siso que estou querendo colocar.

Mas a minha pergunta é o seguinte: Sobre o biodiesel de caju,m se já houve alguma tentativa pela Embrapa, de fazer alguma pesquisa nesse sentido, porque talvez fosse a solução para nós, fosse encontrar alguma alternativa de álcool em nível de combustível, biodiesel, mesmo. Alem disso, a questão como falei, da política de preço mínimo do caju. Como é que poderíamos fazer para garantir esse preço mínimo? Muito obrigada.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Eu vou pedir permissão aos palestrantes, pra tratar do preço mínimo, dar alguma sugestão.

Em primeiro lugar, não existe. O caju não está incluído entre os produtos da política geral de preço mínimo do Governo. O que o Governo estabeleceu, foi o chamado preço de referência. Porque o preço mínimo com garantia de com garantia de compra, através do antigo AGF, inclusive, ele só fez para produtos de primeira necessidade. Mas,

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existe o preço de referência e a orientação, para que a Conab compre a produção dos pequenos produtores até o máximo de 3.500 reais por ano, ou seja, em torno de 3.500 quilos por produtor /ano. Isso é muito pouco realmente, mas menos ainda, foi o que a Conab comprou no ano passado, apesar dessa orientação, porque ela não comprou absolutamente, nada e o dinheiro que veio, voltou. E por que não comprou? Essa semana passada, tivemos uma reunião com a Conab lá na Federação ela não comprou porque ela tem que comprar de quem está organizado, ela não tem estrutura para sair comprando isso, sem o produto está reunido, sem classificar o produto, sem saber a qualidade do produto.

Então, qual o apelo que eu faria? Nós estamos aqui com várias comitivas, temos Secretários de Agricultura Municipais aqui presentes, Presidentes de Sindicatos aqui presentes. Então ou nós nos organizamos para adquirir, ou reunir a produção em cada município, num depósito, para chamar então a Conab, que viria de uma vez só comprar e levar a produção, ou dificilmente, a Conab comprará alguma coisa. Então, é preciso que seja feito essa organização. Ou nós faremos ou não nos beneficiaremos. Se a Conab comprar uma quantidade significativa da pequena produção, ela via beneficiar os grandes produtores e os médios, porque de certa forma, enxuga o mercado, diminui a oferta, porque a Conab vai levar essa produção, ninguém sabe, para onde, ela vai levar para as mini-fábricas, é idéia dela, mas ninguém sabe, é um problema que não vou entrar, porque não é meu. O nosso problema é vender a nossa produção.

Então, é um apelo que faço, que continuemos a estudar isso. O Menezes está aqui do meu lado, na Federação nós estamos com o Eduardo, estudando esse problema, eu queria que você o ajudasse, junto com outros produtores. Nós temos cooperativas com imensos depósitos desocupados, temos sindicatos que têm sedes, que podem fazer esse trabalho, as próprias Prefeituras, às vezes, têm prédios abandonados. Então, é um trabalho que tem que ser feito em cada local.

Eu me excedi um pouco. Com a palavra Estevão.

SR. ESTEVÃO MARTINS TEIXEIRA :. Nosso bom- dia a todos: Somos de Amontada, estamos representando o Sindicato Rural e estamos aqui também, como pequeno produtor de castanha de caju. E de pedúnculo de caju.

Já ouvimos aqui as coisas mais importantes, principalmente, das autoridades, que diz respeito a exportação, preço, etc., mas há uma coisa muito importante, que nós pequenos produtores sentimos. É que nós não temos uma política, na realidade, por parte de Governos, que venham fazer com que tenhamos coragem de continuar amando o cajueiro. Porque nós que nascemos debaixo de cajueiro, fomos criados comendo farinha de castanha, é difícil desligar. Mas, não podemos ficar só nisso, todo mundos abe. Nós temos que ter formas de podermos continuar plantando e colhendo castanha e caju. Eu vejo a perda do pedúnculo, como um grande prejuízo, para nós que produzimos. Mas, especialmente, o vinho do caju, que aonde está o maior volume do caju, do pedúnculo, é no vinho. E quase que não se ouve falar em nada sobre o vinho de caju. Está aparecendo um pouquinho de alguns assuntos, que já se alerta. Mas, nós ao ouvirmos os palestrantes, ficamos pensando, como é que vamos fazer.

Eu planto cajueiro anão precoce, tenho um parceiro de anão precoce, é muito sacrificado, se não houver assistência. Não tem sentido e é muito cro. Mão-de-obra não se pode mais, porque a maioria das pessoas estão empregadas no Governo Federal, com aquele micharia e não quer mais trabalhar; quem vai trabalhar, quer trabalhar na nossa região a 12 reais a diária, mas não tem a mão-de-obra e quem vai, também não produz. É difícil para se produzir caju e muito mais difícil se colher caju através do dinheiro baseado em dólar. É preciso, conforme outras pessoas que aqui já estiveram, ser ouvidas, atendidas nos seus pleitos, porque se não houver na realidade, uma união e que esses Governos venham a reconhecer que nós ao produzirmos, estamos contribuindo com o Estado, com a União, eu acho que o grande prejuízo também, é para o Estado do Ceará, principalmente.

Eu já ouvi o Sr. Jaime Aquino dizer ao Tasso Jereissati, numa reunião aqui em Fortaleza, que se o Governo não tivesse cuidado, o Piauí ia passar, o Rio Grande do Norte ia passar da produção do Ceará. E que as divisas do Ceará iriam diminuir, com certeza. È isso aí, minha gente, estamos vendo. As produções dos outros Estados estão aumentando, a nossa está diminuindo, com certeza, porque não há estímulo. Nós precisamos de mais tecnologia, precisamos de mais assistência técnica, me todos os sentidos. Estou falando na minha Região, lá em Amontada, perto da Itapipoca. A história da fábrica da Itapipoca, virou em nada, não existe não, meu filho. Dr Paulo de Tarso tentou muito, mas não teve apoio. Eu sei do esforço dele, mas não teve apoio de ninguém; dos Governos, dos Prefeitos, não ajudaram ao rapaz, ele não podia fazer só. E assim, eu tenho certeza, que nós vamos ter que continuar trabalhando, mas com vontade e força própria. Você falou muito bem, quando disse que os nossos recursos são muito pequenos, para se plantar e colher caju, sem vender o caju vendendo só a castanha. Vendendo não, não vamos vai vender a castanha, vamos entregar, sem compensar dos nossos gastos, essa é a grande realidade. Nós precisamos mais que as entidades; Embrapa, Ematerce, esses órgãos que têm condições de a cada dia alavancar mais os estudos e nos

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oferecerem aquilo que mais precisamos, que é a tecnologia, para podermos ainda continuar amando o cajueiro, amando a vontade de trabalhar, que é o que está mais difícil neste Estado, neste País.

Minha gente, vamos cuidar do nosso cajueiro, com muita fé em Deus, porque na condição em que estamos vivendo, está inviável. Muito obrigado.

(Aplausos )

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Muito obrigado Estevão. Um abraço lá ao Humberto, Presidente do nosso Sindicato.

Eu queria pedir agora, são 4 ainda inscritos, para sermos mais sucintos na pergunta e objetivos, para terminar a reunião, pelo menos, só com meia hora de atraso.

Por favor Franzé, a palavra é sua.

SR. FRANCISCO JOSÉ : Bom- dia a todos e a todas, porque agora é assim. Mas, queria parabenizar o Dr. Carlos Prado, pela excelente palestra, pela retrospectiva tão bem feita e até por dever de ofício e resquício de amor aqui no coração, por ter lembrado da Epace em 1986, eu era diretor lá quando das primeiras mudas, estava comentando ali com o Edson Araújo. Parabenizar o Torres de Melo, porque realmente, é um lutador pelo setor agropecuário, o colega Lucas, que apresentou também, uma palestra brilhante eu assisti e venho acompanhando. Mas, eu queria parabenizar e de um modo muito especial, aos produtores que estão aqui.Eu estou com 10 produtores do Município de Horizonte, até já agradeço a todos eles, por terem saído às 5 horas dos seus distritos. Sr. Tarcísio a 12 quilômetro, Sr. José Bezerra a 10 quilômetros, para vir participar desta reunião, demonstrando a vontade ainda, de trabalhar na agricultura. Porque na realidade, o problema não é só da cajucultura, o problema é do setor primário, é agricultura. Eu sou filho de Pacajus, neto do Antônio Raimundo, o Trajano, eu era menino ele já era rapaz e zoadento desse jeito e desde aquela época, eu nem pensava em fazer agronomia, nós já sabíamos do problema, da problemática que era, a agricultura e a cajucultura, em especial.

Eu lembro um produtor da cavalaria de Pacajus, que foi até Prefeito de Pacajus, chamado Ogeniz, Alves Brilhante, que disse uma vez: “Produzir mandioca, é empobrecer alegremente”. Nunca esqueci essa frase num dia de campo da Ematerce, lá nas Queimadas, que hoje é o meu distrito, onde tenho umas propriedadezinhas.

Mas, a questão da cajucultura, eu acho que o Lucas foi perfeito, quando levantou tudo aquilo, que nós tínhamos que agregar à produção de caju, porque a castanha realmente, como Carlos Prado já colocou aqui e já tinha colocado, em outras reuniões, é uma questão séria e eu acho que meio complicado. Porque como ele bem explicou, tem a questão do dólar, etc. Então, a solução na realidade, é aumento de produtividade, que daqui a pouco poderemos dizer mais alguma coisa, e tudo aquilo que o Lucas colocou, coisas que nós já vimos fazendo há muito tempo. Queimadas que sempre produziu mandioca em consórcio com cajueiro comum, feijão. Acontece, que é tudo muito complicado. Mandioca não tem preço mais, farinha não tem preço, a lenha nós utilizamos. Mas, nós sabemos, nós que estamos na ponta lá no município, sabemos da problemática. Nós hoje estamos pagando 4 reais para poder cajueiro, metro cúbico de madeira, tem que pagar todo fim de semana, porque o pessoal tem que receber, para vendermos ao atravessador e sabe lá se recebe. Ele acabou de dizer ali, o Carlos Danilo, eu sei que tem madeira para receber e tal. Mas, de qualquer maneira, tem que ser aproveitado. E sobre o ponto de vista ambiental e legal, a lenha é isenta, a poda do cajueiro é isenta, não tem aquela questão de meio ambiente, para licenciamento, as APPF.

Foi levantada aqui uma questão muito importante, que é a questão da rapa, pode ser uma grande solução. Na nossa região nós vendemos para as indústrias de Horizonte está e tal. Mas, o problema é que, para uma determinada região está mais ou menos, mas para outra está muito ruim e para outra não teve nem acesso ainda as informações. Razão pela qual, eu queria colocar aqui o seguinte: Horizonte tem trabalhado, tentado todas as alternativas e em parceria com o Governo Federal, com o Governo Estadual, com a Ematerce, com a Faec, com o Senar e nós temos levado algum êxito. Aqui mesmo eu tenho produtor rural de cajueiro anão precoce, que vende caixas de caju para São Paulo, 400, 500 caixas /dia, está se mantendo. Eu tenho um produtor aqui, dentro do Projeto do Targino, que recebeu aquele material, aquelas mudas para plantar, tenho um produtor aqui, que incentivado, montou uma pequena agroindústria. E hoje, ele pode dar esse depoimento aqui, não tem aonde vender a castanha dele, está complicado.

Então, temos que ter propostas a curto prazo para determinados municípios, e temos que ter propostas a médio e longo prazo. A curto prazo, eu gostaria...

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SR. COORDENADOR TORRES DE MELO: Dr. Franzé, queria lhe pedir para nós continuarmos, porque já tivemos as palestras. Faça as perguntas, por gentileza.

SR. FRANCISCO JOSÉ : Dr. Torres de Melo, eu faço o seguinte: é a segunda vez que vou tentar colocar alguma coisa.... não estou dizendo que o senhor está me tolhendo, mas preciso fazer essa colocação, para depois eu fazer a minha pergunta, o meu encaminhamento.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Está um pouco longo. Mas vou lhe conceder, porque você trouxe 10 pessoas.

SR. FRANCISCO JOSÉ : Bom, então o que acho é o seguinte: Eu não acredito em solução para cajucultura ou para agricultura, ou para qualquer outra atividade, se não houver o envolvimento efetivo do município. Eu quis pegar o gancho aqui da decisão política, que o Dr. Carlos Prado também, colocou.

Então, eu acho que tem que ter a curto prazo e aí eu coloco com o Deputado Hermínio, que este Governo vem demonstrando; eu participei do Plano Plurianual, como é que ele está vendo, qual a proposta do Governo efetivo e podia ir junto aos municípios, através da Aprece, um envolvimento maior do município, na utilização do pedúnculo, na merenda escolar. Isso é uma solução. O suco do caju, a cajuína, que pode ser adquirido através desse programa da Conab, desde que se organize o município para isso, nessa compra direta, como nós agora vendemos mel de caju, para a merenda escolar, dois projetos de quase 200 reais, cada um. Então, tem que ter o envolvimento do município.

A minha colocação é essa, Deputado Hermínio. Que o Governo do Estado do Ceará através da Epace e envolvendo com o Conselho de Tecnologia dos Municípios, está aí o seu Presidente, o Josafá, e eu sou o Primeiro Secretário, já fui Presidente e através desse Conselho, envolver o município nessa questão. Porque o município, é lá aonde acontece a problemática. Então, o município pode se envolver muito nisso.

A outra coisa é a questão do endividamento, que o Torres de Melo está tentando trabalhar tão bem isso, para ver como é que fica. Mas, o fato é o seguinte: Nós temos que ter solução a curto prazo. E a médio prazo, as pesquisas têm demonstrado. Tem tecnologia. Era isso o meu entendimento que queria fazer, com relação a essa questão da decisão política do Governo do Estado do Ceará, através da Aprece, de envolver mais o município, porque a solução na realidade, é o aproveitamento do pedúnculo. Se for só a castanha, é zebra.

Com relação a fábrica, é que ela sabe que é para Horizonte, já estava tudo certo, com galpão e tudo. Mas, infelizmente, o empresário furou. Muito obrigado e desculpe, Torres de Melo, por ter me alongado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO :: Eu agradeço e passaria agora, aos palestrantes e os três próximos, tenho certeza, vão ser bem sucintos.

SR. CARLOS PRADO : Respondendo inicialmente, a Da. Rosário, que fez uma pergunta específica, sobre o biodiesel, se já havia alguma coisa a respeito. Nós há alguns anos, fizemos um trabalho junto ao Nutec e experimentalmente, produzimos o álcool com o caju. Não há problema algum, é um negócio tecnicamente viável. É só saber se hoje seria economicamente viável. Porque na ocasião, o preço do álcool em relação a cesta de combustível, ele não viabilizava a alteração. Então, teria que analisar, mas é uma boa lembrança, é uma alternativa a mais.

Preços mínimos, o Dr. Torres já falou; Estevão fez algumas considerações a respeito, acho que é um depoimento muito importante o deles, porque corrobora bem tudo aquilo que foi colocado.

Nós temos aí, com as palavras do Estevão e essa confirmação do que foi confirmado na palestra, que nós temos pela frente uma grande oportunidade. Oportunidade seguinte: Não se cria nada sem crise; tem que haver a crise, tem que haver o caos, para se encontrar o caminho do progresso, que é isso que estamos fazendo hoje, aqui Porque se não tivesse agora essa crise, não teria agora esta sala cheia, tentando encontrar caminhos, tentando buscar solução. .

Então, eu acho que é uma oportunidade, estamos todos nós convencidos disso, do que estamos discutindo.Eu acho que esse realmente é o caminho.

Com relação ao Franzé, a pergunta dele específica é mais dirigida ao Deputado Hermínio. Eu agradeço as referência e sei que o Franzé está fazendo ali realmente, um bom trabalho no município, de motivação de todo setor produtivo local.

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SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Dr. Hermínio está inscrito para falar, ele responderia e depois faria a pergunta dele propriamente dita.

Eu queria voltar ao problema da reunião. O Banco do Brasil nos cede este auditório, desde a nossa primeira reunião. A reunião prevista , a próxima é aqui ainda, seria versando sobre o problema da indústria de amêndoa. A seguinte, seria a indústria de sucos e aproveitamento do pedúnculo. E é a reunião de nº 500. e o Banco do Brasil nos solicita que em homenagem ao fato de estarmos aqui, que nós adiássemos a data da reunião e não deixasse de ser realizada a reunião de nº 500, aqui neste auditório. E eu queria fazer um apelo a todos os presentes, que entendessem esse pedido do Banco do Brasil, como uma homenagem a nós, por eles terem nos suportado tanto tempo, aqui. Eu acho que nós temos o dever de fazer isso. Mesmo assim, vou me submeter ao veredicto do auditório. Se o auditório concordar que façamos aqui na quarta-feira, a reunião de nº 500, permaneça como está, (Pausa). Obrigado por ficar aprovado a proposta.

A palavra gora é da Dra. Teresa Lenice Mota.

SRA. TERESA LENICE MOTA : Serei muito rápida, Dr. Torres, só para que conste dos nossos documentos de encaminhamento, parabenizando os palestrantes. Para mim ficou muito claro à necessidade de uma organização de todos os elos da cadeia e sobretudo, uma linguagem muito harmônica sobre esses elos. Produtores rurais, beneficiadores. Dr. Antônio José estava aqui de início, parece que já se retirou, mas o Dr. Férrer tem muita ligação com ele, aí volto a insistir e deixo sobretudo, com o Dr. Carlos Prado, a reflexão. O Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Finep, está com uma oportunidade ímpar, que o Estado do Ceará só aproveitou até o momento, para o setor de rosas ornamentais, que é exatamente, a criação de entidades formadas pelos próprios empresários, unindo os elos da cadeia produtiva, que o nome não é propício, mas é chamado de entidades tecnológicas setoriais.

Vamos aproveitar essa oportunidade que o Ministério está nos dando e vamos repensar a cadeia do caju e nos organizarmos pra isso. É só a sugestão e reflexão. Obrigada.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Obrigado, Dra. Teresa. Vieira, por gentileza.

SR. EDMAR VIEIRA FILHO : Bom- dia a todos: Queria parabenizar o Carlos Prado e a segunda palestra também, pela boa apresentação. Mas, nós

passamos por três momentos. Um momento da baixa produtividade dos produtores no campo, na realidade, é um sofrimento grande, uma baixa produtividade, que nunca se fala, que é na produtividade da indústria, que você entra com 100% de castanha nessas indústrias grandes. São 8 empresas e toda a castanha in natura, para essas 8 empresas e aí você tem 55%, 65% de inteira, mesmo que pode 60%, você tem 40% de quebra. Se você tiver 10%, significa você recuperar 1000 caixas todos os dias, das 10 mil caixas que são embaladas, diariamente. Quer dizer, há um trabalho para se fazer no campo, mas é um trabalho muito grande ao empresário, porque se o empresário não tiver folga de recurso, praticamente, você não tem dinheiro para pagar o produtor. E os produtores estão aqui, é atrás de preço, eles estão querendo é preço, se têm condições de pagar uma castanha a 1 e 50, 2 reais. O que é que você tendo 5 quilos de castanha a 1 real, dá 5 reais, você tem um custo de industrialização, que é 3 reais; então, tem 8 reais e a castanha é exportada a 4 dólares,às vezes, dá 8 reais. Quer dizer, é o custo de produção. Então, se você for em qualquer local comprar castanha, você tem castanha vendida a 20 reis. Que negócio é esse? Você tem 10 reais do custo de industrialização, 8 mais 2 e a venda está em torno de 20 reais, chega ao ponto de ser 20 e poucos.

Então, uma das soluções para os produtores, era essa a colocação, o Carlos deu até uma solução lá para o Peixoto, que é um dos batalhadores e o Peixoto fez o consórcio de empresas e a saída dos pequenos, porque 85% dos produtores são micro-empresários. Então, têm que se unir, chegar a um consenso. Têm que fazer os consórcios e colocar os mini distritos industriais privados, que são os mini distritos industriais privados, com mini-fábricas, que tenham gestão, não é só você produzindo e industrializar, você tem que ter a venda. Esse é que é o fator principal. Fazendo o consórcio e tendo uma pessoa na venda, o resto é uma questão de gestão. Vocês sabem produzir, por que não sabem industrializar, que é bem simples? As mini-fábricas hoje, é uma solução para a geração de emprego e renda, toda uma solução do gargalo do agronegócio da cajucultura. Se não montarem as mini-fábricas, não tem saída, a saída é pela castanha. Os outros itens, é só complemento, é juntar. Mas, para que haja isso, tem que haver o fato que é a humildade, o associativismo. Então, uma solução seria, dentro dos sindicatos de Aracati, vários locais, montem uma indústria coletiva, um mini distrito industrial social e produzam. Não tem recursos? Tem. Agora há pouco foram

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investidos mais de 6 milhões revitalizando as mini-fábricas. Mas, façam o seguinte: Montem apenas uma como modelo e deixem os empresários, os pequenos produtores se tornarem empresários.

Então, essa é uma saída, é o grande gargalo e se não tomar nenhuma posição, não há motivação no setor, nem na produção, nem na industrialização. Então, tem que ter um pouco de tecnologia.

Com respeito a lenha, aqui falado muito, as podas, as cascas do cajueiro é um produto muito rico em tanino. Tem 2% de tanino. Esse tanino, nós curtimos a pelo de ovino e caprino, para se substituir o cromo pesado. Mesmo se você jogar toda a lenha na caldeira, você tira a casca e ali é extraído o tanino, que substitui o tanino por 12%, 15%. E aí, você não agride o meio ambiente, com cromos pesados, metais pesados, para curtir a pele. Então, essa é a saída.

Queria fazer uma colocação, porque todos os anos, quando chegamos próximos a safra de castanha, vem o problema do preço e o preço é fundamental. Então, eu diria. Industrialize a sua castanha de qualquer maneira, se uma e industrialize, seja pequena, basicamente 1 litro. Você industrializando a castanha de caju, terá uma solução viável, se você industrializar 1 terço, paga toda a sua produção. Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Com a palavra Normando. Vamos fazer esse grupo com 4 pessoas, a última é o Deputado Hermínio, para fechar com chave de ouro.

SR. NORMANDO SOARES : Bom- dia pessoal: Meu nome é Normando, estou como Presidente do Sindicato de Aracati, patronal ligado a Faec e Sub- Secretário de Desenvolvimento Econômico Agricultura e Pesca, do nosso município.

Já que o Dr. O Dr. Torres de Melo deu 9 minutos para o menino, porque trouxe 9, vai me dar 8, porque eu trouxe 8.

O que vou falar aqui, é pertinente, também. Nós temos um potencial enorme, pra a implantação da cajucultura orgânica no Estado do Ceará. Levando em consideração que a agregação de valor sem “investimento nenhum”, aumentaria o preço em 20% a 30%. Ora, tem que se fazer algum trabalho e isso é políticas públicas Governamentais para implementação pagar o Sebrae, pagar a certificação, enfim, não sei de onde vai sair o dinheiro, mas temos que fazer isso, em massa, porque o nosso produto é 100% natural, ele não é orgânico, porque não é certificado. Então, vamos torná-lo orgânico.

Na vez passada em que estive aqui, neste mesmo local, falei sobre o papel de madeira de caju e não fui levado muito a sério.Mas, quero salientar algumas coisas interessantes. Levando em consideração que nós temos 372 mil hectares no Estado do Ceará e levando em consideração também, que nós temos mais ou menos, 200 metros cúbico de madeira em cada hectare, nós teríamos aí 74 milhões e 200 mil metros cúbicos de madeira. O que esse montante, daria condição de implantação de uma Aracruz, sei lá o quê. Mas, não dá certo para fazer papel. Vamos dar um destino mais nobre a nossa madeira, do quê seja queimar ou seja outra coisa, porque a madeira do caju, pode se fazer, porque em 1959, o Deputado Federal Guilherme Gurgel, já queria fazer com palha e era papel com palha de caju, para a palha de carnaúba.

Eu acho que nós devemos também, e a Embrapa está aqui presente, através do Dr. Lucas, uma extensão rural da Embrapa. Tem muita pesquisa na prateleira, que poderia ser colocada em prática, alguma coisa nesse sentido, a Embrapa ir no campo. Tinha uma experiência em Israel, lá também, guardando as devidas proporções de área, lá é um País pequeno, lá se fala com o PHD do caju, ou seja, nós temos agentes rurais , programas fantásticos, mas as coisas são limitadas. Se tem um problema específico em algum canto, vamos acenar a Embrapa, para dar atenção a isso aí, saírem os conhecimentos de lá. Devemos fazer uma campanha de marketing Nacional. O consumo de castanha aqui no Brasil é ínfimo, comparado com os menores do mundo. A nossa castanha é toda exportada, não temos cultura de cultura de castanha, nem nós que somos produtores. Isto é a verdade. Então, uma campanha Nacional, com a indústria ou o produtor. Eu me disponibilizaria como produtor rural que sou, a também, dar uma participação, de centavos por quilo de castanha, para fazer uma campanha Nacional de consumo. Por que não, todo mundo faz, por que não podemos fazer?

Sobre suco, existe uma lei aqui no Ceará de Tasso Jereissati, obrigando colocar suco na escola. Por que não cumprem a lei?

Então, uma pergunta: Qual a possibilidade aqui em consonância, em sinergia com os meus colegas aí, de estabelecimento de preço mínimo e a Conab comprar do pequeno, médio e grande, porque querem comprar do pequeno. Comprar do pequeno, médio e grande, para amenizar os efeitos da oferta e da procura ? O Senador Inácio

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Arruda esteve nesta Casa, e daria total apoio à cajucultura. Vamos chamar o gabinete do Senador, para nos ajudar no estabelecimento dos preços mínimos.

Eu queria dizer que nós devemos quebrar paradigmas. Existe uma frase que não sei de quem é, mas é muito boa. Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez. Então, qualquer idéia, por mais absurda que seja, ela deve ser levada em consideração. Devemos quebrar paradigmas, estamos aqui para isso. Se nós continuarmos fazendo o que sempre fizemos, continuaremos chegando aonde sempre chegamos e pelo jeito, não vamos a lugar nenhum. Eu queria que o papai estivesse aqui, Dr. Carlos Prado. Eu o convidei, mas infelizmente, ele teve que ir à São Paulo. Eu disse: Papai, você tem muita coragem, nesse negócio de avião, aí. Porque o senhor falou de parceria agrícola, que é o último ponto, há 1 ano e meio eu estava querendo fazer, do mesmo jeito, quase como o senhor disse. Mas, eu queria dar era de meia, de 50 e 50.

Eu acho que com a situação que está, o trabalhador rural, não; não quero tirar direito de trabalhador rural nenhum, mas da forma que está é praticamente inviável, não, é inviável a cajucultura. Devemos quebrar paradigma e fazer alguma coisa. Acho que nós estamos aqui para nos unir. Existe uma frase que diz: Toda vez que você notar prosperidade numa comunidade rural e for procurar sua razão, você vai notar que ela dependeu de organização rural. E toda vez que você vir decadência de uma propriedade rural, você vai descobrir que ali, os produtores não se organizaram. Pelo menos, nos unir pessoal, senão, não vamos chegar a lugar nenhum. Muito obrigado..

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Com a palavra o Deputado Hermínio.

SR. DEPUTADO HERMÍNIO REZENDE : Bom- dia a todos e a todas: Quero parabenizar a essas caravanas que vieram do Interior e dizer que o Vieira foi muito feliz, na minha

opinião, quando ele diz que o grande desafio, não só da cultura do caju, é a unidade. E aqui eu quero dar um exemplo. O Macro, quando chegou aqui no Ceará, todo mundo dizia que os mercantis pequenos, as mercearias iam falir. Muito pelo contrário, hoje essas redes de unidade que o grupo de empresário e dono de mercantil se uniu, estão crescendo cada vez mais. Então, o Vieira levantou esse ponto, quero parabenizar e deve se incentivar a união dos pequenos, porque o pequeno insiste, persiste e acaba morrendo, o médio insiste, persiste, vai ficar pequeno e vai morrer. E o grande, muda de atividade. O exemplo é que nós tínhamos aqui no Estado do Ceará, em torno de 22 indústrias beneficiadoras de castanha e hoje temos, parece que apenas, 9. é um exemplo que o grande vai sobrevier, mas vocês pequeno, vão acabar morrendo.

Sobre a pergunta do Franze, sou de total acordo, não só da cultura do caju, mas tudo que se produza no Interior possa ser utilizado, principalmente, para a merenda escolar. Mas, infelizmente, a Constituição Federal e Estadual Injesa muito dessas ações. Mas, poderia fazer através de carta convite, que se não me falha a memória, é 156 mil reais e o pequeno interior, 155 mil reais, ficaria o dinheiro, ele comprando a merenda escolar, ficaria o dinheiro no município. O grande risco que infelizmente, ainda ocorre, é maus gestores, que comprando 156 mil reais, na realidade, vão receber no mínimo, a metade. Teria que ter uma fiscalização muito grande, até porque eu já fui taxado de deputado padeiro e isso muito me orgulha. E porque é que alguns Deputado me chamam de Deputado padeiro? Porque eu sou o primeiro Deputado a chegar na Assembléia com muito orgulho e o último, a sair. Então,seria importante a população ter esse cuidado de fiscalizar os homens públicos que estão aí no poder, porque alguns Prefeitos, infelizmente, compram medicamentos, entregam a metade, compram merenda escolar e entregam a metade.

Eu queria fazer a minha pergunta ao Dr. Carlos Prado, que é uma coisa que me angustia muito. Aqui no Brasil, nós jogamos 95% do pedúnculo fora. Eu queria saber se existe algum estudo no Vietnam, na Índia e na África e quanto eles aproveitam do pedúnculo. Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Com a palavra o Dr. Carlos Prado.

SR. CARLOS PRADO : Dra. Teresa fez a colocação a respeito da organização do setor. Foi muito importante sua colocação. Eu acho que por aí é o caminho que devemos encontrar, no final dessas palestras e desses debates. E a sua colaboração será muito importante, para esse processo.

O Vieira, nós já vimos aqui, que dá para pinçar várias idéias boas, para serem trabalhadas, dentro desse sistema que se estabeleceu aqui de palestras, sobre o mesmo tema e para se chegar no final, ao encaminhamento do problema. Então, o Vieira, por exemplo, deu aqui a idéia da casca do cajueiro, do aproveitamento do tanino da casca,

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que é uma operação simples. A madeira estás sendo coletada, a casca iria ser queimada e só retirando essa casca, já se tem oportunidade, desde que organizada aia demanda, para se ter um produto co um valor agregado maior.

O Normando fala da castanha orgânica. Realmente, há um acréscimo e esse acréscimo varia em função de tamanhos e dependendo do tipo de mercado que se vai atingir. Só que também, temos que considerar que, no dia em que houver uma oferta muito grande, naturalmente, deixa de haver essa condição. Mas, o caminho é por aí, agregar valor, por onde se puder agregar. E a grande limitação que tivemos para a certificação de pequenos produtores, quando fizemos esse trabalho com alguns que nos forneciam o seu produto, na Região de Russas, foi justamente o custo, que nós fizemos uma parceria com a grande indústria, que vinha custeando. No momento em que essa indústria desistiu, ficou inviável a operação. Então, acho que a idéia de ir buscar um apoio oficial para essa certificação dos produtores, é um caminho.

Quanto a pergunta do Deputado Hermínio, a quem respeito demais e cumprimento, por estar com essa disposição sempre presente as nossas reuniões aqui, é o Poder Legislativo... (Aplausos) ...que está aqui representado e essa presença, não só importante pela presença física, como pelas ações que ele tem tomado em benefício do setor.

A sua pergunta: Qual o aproveitamento do pedúnculo, nesses outros Países. Olha, eu desconheço assim um aproveitamento de grande importância. Basicamente, trabalham com a castanha. Talvez eu não saberia lhe responder. Talvez alguém da Embrapa, tenha uma informação mais detalhada a respeito.

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Vamos passar a palavra ao Dr. Lucas, que pediu para fazer uma observação.

SR. LUCAS LEITE : Bom- dia a todos:

Com relação ao pedúnculo, essa questão aí da Índia, do Vietnam, da África, realmente, esses Países não aproveitam o pedúnculo, o desperdício é muito grande. Existe um consumo local, através de umas bebidas bastante grosseiras que fazem, mas em geral, o desperdício de lá, é muito maior do que o daqui. O Brasil é tido como referência mundial, em termos de aproveitamento do pedúnculo, dado as fábricas e alguns produtos que já utilizam do caju.

Mas basicamente, eu pedi, para rapidamente, dar uma sinalização, para um questionamento que o Normando colocou, da Embrapa fazer extensão rural. Então, é importante termos a consciência, estamos discutindo nesses dias aqui a questão da cadeia produtiva como um todo, ter o papel bem claro das instituições. Quer dizer, a Embrapa tem o perfil do pesquisador, uma pessoa e nós não temos capilaridade para tanto também, não temos perfil, para fazer extensão rural.

Então, acho que é fundamental que nós entendamos que a Secretaria de Agricultura, a Ematerce, os agentes rurais têm que se organizarem junto aos produtores e evidentemente, nós temos, da parte da Embrapa, aumentar a capacidade de fazer a formação de multiplicadores, disponibilizar as informações. Não fazer extensão rural diretamente. Então, eu acho que é importante nesse processo nós termos essa consciência,d e como podemos agilizar esses processos e o papel de cada um. Muito obrigado.

(Aplausos)

SR. COORDENADOR TORRES DE MELO : Eu queria agradecer a todos; convidar as caravanas que vieram, na próxima reunião, aqueles que quiserem retornar, eu queria que o Eduardo verificasse o nome e com o Secretário de Agricultura presente, organizar as comitivas da próxima semana. Está encerrada a reunião.

(Aplausos)

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