24. Apocalipse - Comentário Esperança

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    APOCALIPSEDE JOO

    COMENTRIO ESPERANA

    autor

    Adolf Pohl

    Editora Evanglica Esperana

    Dados Internacionais da Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Pohl, AdolfApocalipse de Joo I: comentrio esperana / Adolf Pohl; traduo Werner Fuchs. -- Curitiba: EditoraEvanglica Esperana, 2001.

    Ttulo do original: Die Offenbarung des Johannes 1. Teil.Bibliografia.

    ISBN 85-86249-48-3 BrochuraISBN 85-86249-47-5 Capa dura

    1. Bblia. N.T. Apocalipse - Comentrios I.Ttulo.01-0270 CDD-228.07

    Pohl, AdolfApocalipse de Joo II: comentrio esperana / Adolf Pohl; traduo Werner Fuchs. -- Curitiba: EditoraEvanglica Esperana, 2001.Ttulo do original: Die Offenbarung des Johannes 2. Teil.

    Bibliografia.ISBN 85-86249-49-1 BrochuraISBN 85-86249-20-5 Capa dura

    1. Bblia. N.T. Apocalipse - Comentrios I.Ttulo.01-0533 CDD-228.07

    ndice para catlogo sistemtico:1. Apocalipse: Comentrios 228.07

    Ttulo dos Originais em Alemo:Die Offenbarung des Johannes 1. Teil - Die Offenbarung des Johannes 2. Teil

    Copyright 1969 R. Brockhaus VerlagWuppertal, Alemanha

    CapaLuciana Marinho

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    RevisoDoris Krber

    Superviso editorial e de produoWalter Feckinghaus

    1 edio brasileiraMaro de 2001

    Editorao eletrnica

    Mnoel A. FeckinghausImpresso e acabamento

    Imprensa da F

    Publicado no Brasil com a devida autorizao e com todos os direitos reservados pelaEditora Evanglica Esperana

    Rua Aviador Vicente Wolski, 35382510-420 - Curitiba - PR

    Fone: (41) 3022-3390 / Fax: (41) 3256-3662E-mail: [email protected]

    www.esperanca-editora.com.br

    proibida a reproduo total ou parcial sem permisso escrita dos editores.O texto bblico utilizado, com a devida autorizao, a verso Almeida Revista e Atualizada (RA) 2 edio, da Sociedade Bblica

    do Brasil, So Paulo, 1997.

    SumrioORIENTAES PARA O USURIO DA SRIE DE COMENTRIOS

    NDICE DE ABREVIATURASPREFCIO DO AUTOR

    INTRODUO LITERATURA

    QUESTES INTRODUTRIASA. Adorarmas quem?B. A provncia romana da siaC. JooD. Histria contempornea, Antigo Testamento, ApocalipsismoE. Eis que venho sem demora!F. No seles as palavras!G. Apocalipse de Jesus Cristo

    H. A estrutura do Apocalipse

    COMENTRIO

    I. O PREFCIO DO APOCALIPSE 1.1-81. A Abertura do livro, 1.1-32. Promio semelhante ao de uma carta, 1.4-8

    II. A INCUMBNCIA DE JOO 1.9-201. As circunstncias, 1.92. A voz do anjo, 1.10,11

    3. A viso do Senhor, 1.12-164. A voz do Senhor, 1.17-20

    III. AS MENSAGENS S IGREJAS 2.13.22

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    1. igreja em feso, 2.1-72. igreja em Esmirna, 2.8-113. igreja em Prgamo, 2.12-174. igreja em Tiatira, 2.18-295. igreja em Sardes, 3.1-66. igreja em Filadlfia, 3.7-137. igreja em Laodicia, 3.14-22

    IV. DEUS E O CORDEIRO SOBRE O TRONO 4.15.141. A preparao da viso, 4.1,2a2. O trono e o Entronizado, 4.2b,33. Os arredores do trono, 4.4-8a4. A venerao de Deus, 4.8b-115. O rolo do livro selado, 5.1-56. A instalao do Cordeiro no poder, 5.6,77. A adorao do Cordeiro, 5.8-14

    V. A ABERTURA DOS SELOS PELO CORDEIRO 6.18.11. O primeiro Selo (Primeiro Cavaleiro), 6.1,22. O segundo Selo (Segundo Cavaleiro), 6.3,43. O terceiro Selo (Terceiro Cavaleiro), 6.5,64. O quarto Selo (Quarto Cavaleiro), 6.7,85. O quinto Selo, 6.9-116. O sexto selo, 6.12-17Pea intermediria: O povo de Deus no comeo e depois da tribulao, 7.1-17

    A. O selamento antes da grande tribulao, 7.1-8B. O estar de p perante o trono aps a grande tribulao, 7.9-17

    7. O stimo selo, 8.1

    VI. OS TOQUES DE TROMBETA DOS SETE ANJOS 8.211.191. Preldio no cu: As oraes dos santos, 8.2-62. O primeiro toque de trombeta, 8.73. O segundo toque de trombeta, 8.8,94. O terceiro toque de trombeta, 8.10,115. O quarto toque de trombeta, 8.126. O anncio dos trs ais e o quinto toque de trombeta (O primeiro ai), 8.139.127. O anncio dos dois ais seguintes e o sexto toque de trombeta (O segundo ai), 9.13-21

    Grande pea intermediria na srie de trombetas, 10.111.13A. O fortalecimento de Joo para continuar o servio proftico, 10.1-11B. A caminhada das testemunhas de Jesus rumo ao fim dos tempos, 11.1-13

    8. O anncio do terceiro ai e o stimo toque de trombeta, 11.14-19

    VII. primeiro apndice s vises das trombetas: O DRAGO E SUA LUTA 12.113.181. A tentativa do drago de aniquilar Deus e seu Messias, 12.1-62. O juzo de Miguel sobre o drago, 12.7-123. A ira do drago deposto contra a mulher, 12.13-17a4. Surge do mar a besta autorizada pelo drago, 12.17b13.4

    5. A atuao da besta, 13.5-86. Palavra de exortao igreja, 13.9,107. Surge da terra a besta que apoiar a primeira besta, 13.11,128. A atuao da segunda besta, 13.13-17

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    9. Palavra de exortao igreja, 13.18

    VIII. segundo apndice s vises das trombetas: OS ABRIGADOS JUNTO DO CORDEIRO: CENTOE QUARENTA E QUATRO MIL 14.1-5

    IX. terceiro apndice s vises das trombetas: O SURGIMENTO DO JUIZ EM MEIOS AOS SEUSANJOS 14.6-20

    1. O primeiro anjo, 14.6,7

    2. O segundo anjo, 14.83. O terceiro anjo, 14.9-114. Exortao igreja, 14.12,135. A manifestao do Filho do Homem (e o quarto anjo), 14.14-166. A lagaragem da terra (o quinto e o sexto anjo), 14.17-20

    X. O DERRAMAMENTO DAS TAAS PELOS SETE ANJOS 15.116.211. Cena preliminar no cu: O cntico dos vencedores, 15.1-82. A transio e a primeira taa, 16.1,23. A segunda taa, 16.3

    4. A terceira taa e dois louvores vindos do cu, 16.4-75. A quarta taa, 16.8,96. A quinta taa, 16.10,117. A sexta taa, 16.12-14,168. Uma exclamao intercalada, 16.159. A stima taa, 16.17-21

    XI. primeiro apndice s vises das taas: O JUZO SOBRE A PROSTITUTA BABILNIA 17.119.10

    1. O anncio da viso, 17.1,2

    2. O surgimento da prostituta Babilnia, 17.3-6a3. A interpretao do anjo: o fim da besta, 17.6b-114. O fim dos dez chifres da besta, 17.12-145. O fim da prostituta, 17.15-186. Profecia de destruio sobre a Babilnia por meio do anjo forte, 18.1-37. Palavra de exortao de um segundo anjo ao povo de Deus na Babilnia, 18.4,58. Solicitao divina aos executores do juzo, 18.6-89. Lamentos dos reis pela destruio da Babilnia, 18.9,1010. O lamento dos comerciantes pela destruio da Babilnia, 18.11-17a11. Lamento dos homens da navegao, 18.17b-1912. Estmulo para que a igreja rejubile, 18.2013. Os sinais de juzo do terceiro anjo e sua explicao, 18.21-2414. Triunfo no cu, 19.1-815. A concluso da viso, 19.9,10

    XII. segundo apndice s vises das taas: A ABERTURA DO CU (a parusia) 19.1121.81. A apario de Jesus como Juiz, 19.11-162. O juzo definitivo sobre a besta e seu profeta, 19.17-213. A manifestao da igreja de testemunhas com Cristo, 20.1-64. O juzo definitivo sobre Satans, 20.7-105. O juzo definitivo sobre as pessoas, 20.11-156. O novo mundo, 21.1-8

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    XIII. terceiro apndice s vises das taas: A NOIVA DO CORDEIRO A NOVA JERUSALM 21.922.5

    1. Introduo da nova viso, 21.9,102. O aspecto geral da cidade, 21.11-143. Suas formas e medidas, 21.15-174. Os materiais de construo, 21.18-215. O interior da cidade, 21.22,23

    6. A vida dos povos sob a luz da cidade, 21.24-277. O trono de Deus no meio da cidade, 22.1-5

    XIV. eplogo: A PALAVRA FINAL DO APOCALIPSE 22.6-211. A autoridade do livro, 22.6-92. A atualidade do livro, 22.10-173. A validade cannica do livro, 22.18-204. Encerramento de cunho epistolar, 22.21

    EXCURSOS

    EXCURSO 1 A estrutura e a doutrina das mensagens s igrejasEXCURSO 2 A vitria do CordeiroEXCURSO 3 A viso dos Selos em suas correlaesEXCURSO 4 O cavaleiro branco como anticristoEXCURSO 5 As vises das trombetas em suas correlaesEXCURSO 6 Quanto interpretao do flagelo da quinta trombetaEXCURSO 7 Os trs anos e meio, os quarenta e dois meses, e os mil duzentos e sessenta dias nos cap.11,12EXCURSO 8 A soberania de Deus como tema do ApocalipseEXCURSO 9 O material da cincia das religies em Ap 12

    EXCURSO 10 Miguel em Ap 12.7EXCURSO 11 O anticristo e Ap 13EXCURSO 12 Quanto interpretao dos seiscentos e sessenta e seisEXCURSO 13 A ira de DeusEXCURSO 14 A interpretao dos sete reis de Ap 17.9-11EXCURSO 15 Os lamentos sobre a destruio da Babilnia em Ap 18.9-19EXCURSO 16 Quanto interpretao do nmero mil em Ap 20EXCURSO 17 Expectativa do milnio fora da f cristEXCURSO 18 Ap 20.1-6 na interpretao crist

    EXCURSO 19 O lago (charco) de fogoperdio eterna?EXCURSO 20 Quanto interpretao da viso da Nova Jerusalm

    ORIENTAESPARA O USURIO DA SRIE DE COMENTRIOS

    Com referncia ao texto bblico:O texto de Apocalipse est impresso em negrito. Repeties do trecho que est sendo tratado tambm esto

    impressas em negrito. O itlico s foi usado para esclarecer dando nfase.

    Com referncia aos textos paralelos:

    A citao abundante de textos bblicos paralelos intencional. Para o seu registro foi reservada uma coluna margem.

    Com referncia aos manuscritos:

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    Para as variantes mais importantes do texto, geralmente identificadas nas notas,foram usados os sinais abaixo, quecarecem de explicao:

    TM O texto hebraico do Antigo Testamento (o assim-chamado Texto Massortico). A transmisso exata do textodo Antigo Testamento era muito importante para os estudiosos judaicos. A partir do sculo II ela tornou-seuma cincia especfica nas assim-chamadas escolas massorticas (massora = transmisso).Originalmente o texto hebraico consistia s de consoantes; a partir do sculo VI os massoretasacrescentaram sinais voclicos na forma de pontos e traos debaixo da palavra.

    Manuscritos importantes do texto massortico:

    Manuscrito: redigido em: pela escola de:Cdice do Cairo (C) 895 Moiss ben AsherCdice da sinagoga de Aleppo depois de 900 Moiss ben Asher(provavelmente destrudo por um incndio)Cdice de So Petersburgo 1008 Moiss ben AsherCdice n 3 de Erfurt sculo XI Ben NaftaliCdice de Reuchlin 1105 Ben Naftali

    Qumran Os textos de Qumran. Os manuscritos encontrados em Qumran, em sua maioria, datam de antes de Cristo,

    portanto, so mais ou menos 1.000 anos mais antigos que os mencionados acima. No existem entre elestextos completos do AT. Manuscritos importantes so:

    O texto de Isaas O comentrio de Habacuque

    Sam O Pentateuco samaritano. Os samaritanos preservaram os cinco livros da lei, em hebraico antigo. Seusmanuscritos remontam a um texto muito antigo.

    Targum A traduo oral do texto hebraico da Bblia para o aramaico, no culto na sinagoga (dado que muitos judeusj no entendiam mais hebraico), levou no sculo III ao registro escrito no assim-chamado Targum (=traduo). Estas tradues so, muitas vezes, bastante livres e precisam ser usadas com cuidado.

    LXX A traduo mais antiga do ATpara o grego chamada de Septuaginta (LXX = setenta), por causa da histriatradicional da sua origem. Diz a histria que ela foi traduzida por 72 estudiosos judeuspor ordem do reiPtolomeu Filadelfo, em 200 a.C., em Alexandria. A LXX uma coletnea de tradues. Os trechos maisantigos, que incluem o Pentateuco, datam do sculo III a.C., provavelmente do Egito. Como esta traduoremonta a um texto hebraico anterior ao dos massoretas, ela um auxlio importante para todos ostrabalhos no texto do AT.

    Outras Ocasionalmente recorre-se a outras tradues do AT. Estas tm menos valor para a pesquisa de texto, porserem ou tradues do grego (provavelmente da LXX), ou pelo menos fortemente influenciadas por ela (oque o caso da Vulgata):

    Latina antiga por volta do ano 150

    Vulgata (traduo latina de Jernimo) a partir do ano 390 Copta sculos III-IV Etope sculo IV

    NDICE DE ABREVIATURAS

    I. Abreviaturas gerais

    AT Antigo Testamentocf. confiracol. coluna

    gr gregohbr hebraicokm quilmetroslat latimLXX Septuaginta

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    NT Novo Testamentopar texto paralelop. ex. por exemplopg. pgina(s)qi questes introdutriasTM Texto Massorticov. versculo(s)vol. volume

    II. Abreviaturas de livros

    ATD Altes Testament DeutschAThANT Abhandlungen zur Theologie des Alten und Neuen TestamentesBDR Grammatik des ntl. Griechisch, Blass/Debrunner/RehkopfBHH Biblisch-historisches HandwrterbuchBill Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, H. L. Strack, P. BillerbeckBl-De Grammatik des ntst Griechisch, 9 edio, 1954, Blass-DebrunnerCE Comentrio EsperanaEKK Evangelisch-katolisch Kommentar zum Neuen Testament

    EWNT Exegetisches Wrterbuch zum NTHThK Herders Theologischer KommentarKEK Kritisch-exegetischer Kommentar ber das Neue TestamentKi-ThW Kittel: Theologisches WrterbuchKNT Kommentar zum NTLzB Lexikon zur Bibel, organizado por Fritz RieneckerNTD Das Neue Testament DeutschRadm Neutestl. Grammatik, 1925, 2 edio, RademacherTBLNT Teologisches Begriffslexikon zum NTThWAT Theologisches Wrterbuch zum Alten TestamentThWNT Theologisches Wrterbuch zum Neuen TestamentTRE Theologisches RealenzyklopdieW-B Griechisch-deutsches Wrterbuch zu den Schriften des Neuen Testaments und der frhchristlichen Literatur, Walter

    Bauer, editado por Kurt e Barbara AlandWStB Wuppertaler StudienbibelWUNT Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen TestamentZNW Zeitschrift fr neutestamentliche Wissenschaft

    III. Abreviaturas das verses bblicas usadas

    O texto adotado neste comentrio a traduo de Joo Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada no Brasil, 2 ed.(RA), SBB, So Paulo, 1997. Quando se fez uso de outras verses, elas so assim identificadas:

    RC Almeida, Revista e Corrigida, 1998.NVI Nova Verso Internacional, 1994.BJ Bblia de Jerusalm, 1987.BLH Bblia na Linguagem de Hoje, 1998.BV Bblia Viva, 1981.VFL Verso Fcil de Ler, 1999.TEB Traduo Ecumnica da Bblia, 1995.

    IV. Abreviaturas dos livros da Bblia

    ANTIGO TESTAMENTO

    Gn Gnesisx xodoLv LevticoNm NmerosDt Deuteronmio

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    Js JosuJz JuzesRt Rute1Sm 1Samuel2Sm 2Samuel1Rs 1Reis2Rs 2Reis1Cr 1Crnicas2Cr 2CrnicasEd EsdrasNe NeemiasEt EsterJ JSl SalmosPv ProvrbiosEc EclesiastesCt Cntico dos CnticosIs Isaas

    Jr JeremiasLm Lamentaes de JeremiasEz EzequielDn DanielOs OsiasJl JoelAm AmsOb ObadiasJn JonasMq MiquiasNa Naum

    Hc HabacuqueSf SofoniasAg AgeuZc ZacariasMl Malaquias

    NOVO TESTAMENTO

    Mt MateusMc MarcosLc LucasJo JooAt AtosRm Romanos1Co 1Corntios2Co 2CorntiosGl GlatasEf EfsiosFp FilipensesCl Colossenses1Te 1Tessalonicenses 2Te 2Tessalonicenses 1Tm 1Timteo

    2Tm 2TimteoTt TitoFm FilemomHb HebreusTg Tiago

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    1Pe 1Pedro2Pe 2Pedro1Jo 1Joo2Jo 2Joo3Jo 3JooJd JudasAp Apocalipse

    PREFCIO DO AUTOR

    Podemos considerar significativa uma pequena curiosidade da estatstica de palavras do Apocalipse de Joo: emmenos de cada dez palavras, o livro traz o termo de adio e, pelo qual o fio narrativo e a inflexo da voz jamais sorompidos. Pelo contrrio, faz com que continuamente o anterior seja alado ao subseqente. Assim, o Apocalipseconstitui um nico escrito ardente e contagiante, ao qual os primeiros destinatrios deviam expor-se num consistenteservio a Deus. Nenhum escrito no Novo Testamento requer to intensamente que seja ouvido em uma seqnciacontnua. Da resultam, para um comentrio, mais referncias a textos posteriores e anteriores do que comumente, bemcomo maior necessidade de estabelecer vises panormicas e ligaes. Um leitor que aplica o comentrio comdemasiada especificidade a um texto recortado, ou que o consulta apenas para um interesse singular, facilmentecomete equvocos.

    A to necessria seo sobre a estrutura geral da carta, est inserida abaixo, no itemH. Quando apresentamosnossas tradues prprias do texto, em estreita adeso estrutura do texto grego, exigida bastante flexibilidade donosso senso lingstico. Contudo, no mbito de um comentrio til permitir a percepo exata da concepo do textoque foi tomada como base.

    Quando me pergunto se houve algum fio condutor que me orientou durante o trabalho, deparo-me com acircunstncia de que a incumbncia me foi dada no ano em que guardei luto por meu pai, quando este partira para aeternidade. Em uma inesquecvel concentrao joanina ele nos testemunhou de Cristo, passando agora, aps silenciar,a falar com marcante eloqncia. O juzo preliminar do presente comentrio que o Senhor Jesus Cristo nos foicolocado por Deus como sabedoria que abarca tudo.

    A redao foi acompanhada por um ouvido cada vez mais apreensivo para com os rumores do mundo atual. Aolidarmos com o Apocalipse, importa que coloquemos em xeque nossa prpria compreenso do presente e que talvez adeixemos ser inteiramente reestruturada.

    Pude perceber, desde os primeiros contatos, uma verdadeira coragem de f por parte do editor da WuppertalerStudienbibel, Dr. Werner de Boor, e do publicador, Sr. R. Brockhaus. Realmente ajudaram-me mais que um autorpoderia esperar. Tambm meu irmo, Helmut Pohl, revisou de bom grado todo o manuscrito, aconselhando-me eminmeros detalhes. A todos eles desejo agradecer de corao.

    Buckow, janeiro de 1969Adolf Pohl

    INTRODUO LITERATURA

    Com muito maior freqncia que o presente comentrio permite notar, o autor teve de ponderar qual das possveisinterpretaes de um versculo ou trecho deveria ser adotada. Contudo, em algumas passagens pareceu-lhe benfico

    permitir que o leitor percebesse em que direo as tentativas para avanar foram feitas e que motivos eventualmente otrouxeram de volta e o remeteram para outro caminho. Nestas ocasies, aparecem preponderantemente os nomes deoutros comentaristas, cujas obras podem ser encontradas na lista abaixo em ordem alfabtica. Ela se limita literaturaem lngua alem do presente sculo, deixando quase totalmente de lado o sem-nmero de escritos breves e ensaios,impossveis de serem levados em conta.

    Contudo, mesmo quando fizemos referncia expressa opinio de outros comentaristas, nem sempre foi possvelexpor pensamentos divergentes com todas as nuanas e justificativas, valorizando-as da forma cabvel. Em todas asocasies pudemos oferecer apenas uma breve orientao em diversas direes. Nossa considerao constante foi ombito da igreja e o que poderia estar latente na sua realidade.

    Ademais, a listagem subseqente tambm visa arrolar ttulos aos quais o comentrio no se refere expressamente,mas que, sob determinados aspectos, so recomendados s pessoas interessadas para a leitura. Estes aspectos seroexplicados a seguir.

    Para as questes introdutrias em geral, so recomendveis, dentre as obras mais recentes, por sua formaponderada, as obras de W. Michaelis e A. Wikenhauser (catlico). Um complemento estimulante oferecido por M.Albertz. Especificamente sobre o apocalipsismo do judasmo tardio nos instrui D. S. Russell. Cf. ainda os trechoscitados de G. von Rad, Bill e sobretudo em J. Moltmann. Devemos a P. Riessler uma edio prtica em lngua alemdos apocalipses judaicos, com breves explicaes. Uma traduo ao alemo dos textos de apocalipses cristos com

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    introduo pormenorizada oferecida,p. ex., por E. Hennecke. No que se refere situao contempornea semprevale a pena ler a obra de W. Foerster. E. Stauffer retrata, de maneira um tanto jornalstica, mas com extremo suspense,as correlaes do Apocalipse com o culto ao imperador.

    H. Berkhof nos prestou um servio urgentemente necessrio e muito valioso com seu livrinho sobre a viso dahistria. Seus enfoques deveriam ser ouvidos, examinados e complementados.

    Ao contrrio da pesquisa cientfica no ramo, a interpretao geraldo Apocalipse produziu muitos novoscomentrios nas ltimas dcadas.

    A interpretao fortemente histrica, com o cunho de histria do reino, obteve novos defensores em G.

    Stokmann e K. Hartenstein. Uma interpretao marcadamente ligada histria universal, que relembra J. A. Bengel, executada com grande afinco por H. Kobs (adventista).A leitura escatolgica, que relaciona os textos essenciais do livro a um tempo que tambm para ns ainda futuro,

    sim, posterior ao arrebatamento da igreja, defendida de diferentes formas por G. K. Brinke, E. Dnges, K. Merz e H.H. Janzen. De forma prpria expe-na tambm H. Langenberg em seus escritos. O livro peculiar de B. Philbert serapreciado de modo especial na abordagem do cap. 9.

    O venervel A. Schlatter estava comprometido com uma interpretao unilateralmente contempornea. Alis, eledificilmente nos satisfaz no que diz respeito doutrina acerca das ltimas coisas. Assemelha-se a ele neste aspecto ocomentrio de J. Behm, que encontra no Apocalipse verdades eternas numa forma condicionada pela poca.

    A comparao histrico-religiosa predomina em E. Lohse (o prprio Lohse prefere, para designar este tipo deleitura, o conceito histria da tradio).

    Finalmente, encontramos tentativas, entre as quais se situa o presente comentrio de interpretar o Apocalipsedecididamente a partir do acervo confessional geral do cristianismo. Nem a histria universal nem a da igreja, nem omundo contemporneo nem o judasmo ou as religies circundantes constituem, conforme estes exegetas, o contextodeterminante no qual este livro vive, respira e fala, mas o evangelho do Cristo crucificado e ressuscitado. OApocalipse de Joo essencialmente um livro cristo, pelo que se abre caminho para uma interpretao apropriada,at em aspectos metodolgicos. C. Brtsch cunhou, para este caminho, a expresso forma de interpretaocristolgica (pg. 119).

    Nesse sentido trabalharam muitos comentaristas capazes. Infelizmente, por causa do volume reduzido de suasobras, foram-lhes impostas, de maneira consistente, sensveis limitaes. No era possvel expor da forma desejveldiante do leitor as explicaes pormenorizadas de termos, formulaes e frases que obviamente antecederam essasobras. O leitor ficaria desde j confrontado com os resultados, com as verdades-chave e com as grandes linhas.

    Tais comentrios recomendveis, contudo demasiado breves, so,p. ex., os de M. Rissi, B. H. Forck e C. Brtsch.

    Este ltimo, porm, acrescenta um eplogo merecedor de ateno, sobre algumas questes introdutrias. Rissi traaslinhas dignas de nota at os tempos de hoje. Atravs do conhecimento slido da histria geral e cultural, por meio deuma excelente linguagem e muitas referncias de alta sensibilidade, destaca-se H. Lilje. Equilibrado e instrutivo ocomentrio catlico de A. Wikenhauser. H. Frey escreveu com ardor e rica carga bblica, porm tende asimplificaes.

    H dcadas a pesquisa cientfica no contribui com um comentrio completo. H alguns anos foi anunciada, nasrie Kritisch-exegetischer Kommentar ber das Neue Testament [KEK], uma elaborao de K. G. Kuhn. Emdecorrncia dessa lacuna, temos de recorrer a trabalhos mais antigos. No incio do sculo, W. Bousset explicou oApocalipse nos parmetros e limites da escola histrico-religiosa (respectivamente, da histria da tradio), umtrabalho que, contudo, acabou com muitas hipteses inteis, sobretudo de cunho crtico-literrio, de seuspredecessores. Isso constituiu um grande progresso. Depois da I Guerra Mundial veio a lume a obra de T. Zahn,altamente erudito, fiel Bblia, mas tambm teimoso. Alm disso, surgiu a obra de E. Lohmeyer, que ainda hoje

    essencial no que se refere estrutura do Apocalipse. Em termos metodolgicos, ele seguiu novamente a linha deBousset, embora com outros resultados no contedo. Finalmente, cabe citar o comentrio de W. Hadorn, que tentouacolher comedidamente as justificadas preocupaes da pesquisa do mundo contemporneo e da sociologia dasreligies, mas sobretudo situar o carter cristo do Apocalipse devidamente no centro. O livro, escrito e impresso deforma acessvel, tambm pode ser recomendado a leitores que no possuem conhecimento da lngua grega.Dessetempo oriundo tambm o comentrio de Strack-Billerbeck, que menos um comentrio no sentido usual, mas quaseque unicamente uma coletnea de paralelos judaicos, justapostos versculo por versculo ao texto bblico.

    Em contrapartida, os cientistas do ramo apresentaram nas ltimas dcadas monografias promissoras sobre oApocalipse. Cumpre mencionar com gratido especial os trabalhos de T. Holtz e M. Rissi, alm dos de H. Bietenhard,G. Bornkamm, L. Goppelt, R. Halver, H.-P. Mller, A. Satake, A. Schlatter, H. Schlier e C. Schneider.

    Para dados estatsticos, usou-se com gratido R. Morgenthaler, Statistik des neutestamentIichen Wortschatzes

    [Estatstica do Vocabulrio Neotestamentrio], Frankfurt,1958. Nesta obra encontram-se no somente tabelas, dasquais se pode depreender quantas vezes um vocbulo grego aparece em cada escrito no NT, mas,p. ex., tambm quaisvocbulos eles preferem. Uma palavra preferencial ocorre quando um termo aparece com singular freqncia numescrito em comparao com outros escritos e em proporo ao seu prprio volume. Destaco o exemplo do Prefcio aopresente comentrio: num acervo total de cerca de 140.000 palavras oNTcontm 8.947 ocorrncias do e. Dentre

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    elas, apenas no Apocalipse, com 9.884 palavras, distribuem-se 1.117 referncias (cf.pg. 167; na tabela pg. 108 hum erro de impresso), i. , para 100 palavras de texto aparece mais de 11 vezes o e. Essa a mais alta ocorrnciamdia doNT. Fora do Apocalipse, a mdia est em torno de seis porcento. Naturalmente, por vrias razes, essasestatsticas requerem uma utilizao muito cautelosa.

    Como compndios de consulta, recorri sobretudo ao Theologisches Wrterbuch [ThWNT] de Kittel, 3 ed. da DieReligion in Geschichte und Gegenwart[RGG3], aoLexikon zur Bibel[Lxico Bblico], de Rienecker (5 ed.), aoWrterbuch zum Neuen Testament[Dicionrio do Novo Testamento] de Bauer (5 ed.) e, nos volumes publicados, ao

    Begriffslexikon zum Neuen Testament[Lxico do Novo Testamento] de Coenen-Beyreuther-Bietenhard.

    A anlise dos ltimos captulos do Apocalipse levou discusso pertinente com a escola da reconciliaouniversal. Para isso, tnhamos disposio, alm dos livros de M. Rissi (j mencionados), as obras substanciais eexaustivas de W. Michaelis e H. Schumacher.

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    Referncias de literatura adicional, consultada ocasionalmente, encontram-se nas respectivas passagens nas notasde rodap.

    QUESTES INTRODUTRIASAcaso o Esprito Santo sopra somente onde iamos as grandes velas de nossos conhecimentos do mundo

    contemporneo? Ser que um leitor da Bblia precisa primeiro peregrinar por todas as questes histricas de um livrobblico, tendo-as corretamente na memria, para que Deus possa falar com ele? No, na igreja e tambm na vida de

    cada membro da comunidade sempre dever haver espao para um entendimento direto, de certa maneira ingnuo daBblia. Cristos que durante a vida toda se inseriram na Bblia pela leitura e vivncia, s vezes so capazes de captar eaplicar atualidade um trecho de maneira to direta que vale a pena que toda a igreja preste ateno, inclusive seusmembros com formao lingstica e histrica. At vale a pena quando equvocos exteriores esto ligados a essas

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    contribuies. Isso difcil de explicar a quem no convive na igreja, e no precisa ser explicado por ningum ao queconhece estes dilogos em torno da Bblia.

    Entretanto, uma questo totalmente diferente se este uso da Bblia na igreja deve ocupartodos os espaos, sendoo nico a determinar o rumo. Em breve, a situao de uma comunidade ficaria deplorvel se ningum mais setransportasse, paciente e meticulosamente, s condies dos tempos bblicos.

    Jesus Cristo hoje o mesmo como ontem (Hb 13.8), a saber, no primeiro sculo, quando apareceu s primeirastestemunhas. Por isso, quando o Esprito Santo deseja tornar Cristo presente para ns hoje, ele trabalha recorrendo aeste ontem do primeiro sculo. tambm por isso que a sede espiritual por experincia atual de Cristo se associa

    necessariamente ao estudo histrico dos testemunhos bblicos. Neste processo, o leitor no se sente importunado ouretido desnecessariamente pela referncia histrica do texto, ou seja, pela sua influncia sobre as condies dascomunidades daquele tempo. Pois justamente a essas comunidades do primeiro sculo que ele tenciona chegar, a fimde posicionar-se com elas diante do Cristo de ontem, que certamente ser o mesmo hoje.

    Sem dvida, um estudo assim evidenciar que vrias afirmaes de uma compreenso singela da Bblia soinsustentveis. Porm, na esfera espiritual, a correo no intimida. Sem sentimentos de inferioridade, um continuaservindo com sua ddiva de percepo imediata e o outro, que talvez tivesse de corrigi-lo, continua dando-lhe ouvidoscom corao agradecido. assim que no corpo da igreja se ajustam os dons para a glorificao de Jesus Cristo.

    Nesse sentido, portanto, que o trabalho intelectual da igreja com a Escritura Sagrada tambm inclui a visohistrica, a saber, as assim chamadas questes introdutrias. Para tanto, reiteramos que essa obrigao no pesaigualitariamente sobre todos os leitores da Bblia. Naturalmente nem todos podem avanar de forma idntica neste tipode estudo. diferente a proporo de tempo, energias e recursos disponveis. Porm, como em muitas outras coisas

    necessrias da vida comunitria, vigora tambm nesta situao o servio vicrio de alguns por todos. Sempre deveria haver alguns membros que, em benefcio do todo, se aprofundam exaustivamente nas correlaes

    exteriores e internas dos escritos bblicos, a fim de captar a localizao delas no ontem, bem como o Cristo deontem. medida que isso for bem sucedido, tambm se estar servindo ao Cristo de hoje e ao seu testemunhoatual, porque ele o mesmo ontem, hoje e eternamente (Hb 13.8).

    O presente comentrio almeja ter leitores que concordem com essa tarefa rdua, contra a qual talvez hajainicialmente uma averso. Ao expormos as Questes Introdutrias (qi), numeramos as unidades temticascontinuamente, de maneira que referncias retroativas durante o comentrio possam ser facilmente seguidas.

    A. Adorarmas quem?Motivo e poca de redao do livro

    1. Uma constatao meramente relativa estatstica terminolgica dever desencadear a busca pelo motivo doApocalipse. Neste escrito, cuja extenso perfaz aproximadamente a dcima quarta parte do Novo Testamento, apalavra adorar ocorre nada menos do que 24 vezes, enquanto em todo o resto do Novo Testamento aparece apenasmais 35 vezes. Termos do mesmo grupo semntico, como glorificar, agradecer, louvar, dar honras, receberhonra, servir a Deus, clamar a Deus e, no mais, a grande quantidade de hinos e oraes reforam a impresso deque o objetivo do livro a adorao.

    2. Ser que est falando o representante de um movimento litrgico? No de admirar que exegetas repetidamenteponderem se Joo talvez no teria escolhido as formas de uma liturgia do incipiente cristianismo como recursoartstico, de estilo, para reproduzir a sua mensagem. Contudo, essa leitura torna-se questionvel pelo fato de que nolivro no apenas oram a comunidade ou os anjos, mas todos os habitantes da terra (Ap 13.4,8). A humanidade ora

    no obstante todas as tenses que a dilaceram. No h os que oram contrapostos aos que no o fazem, mas h pessoasque oram contra outras que tambm oram. Naturalmente o Apocalipse tambm conhece o contraste entre doutrina edoutrina (Ap 2.14), profetismo e profetismo (Ap 2.20) ou testemunho e testemunho (Ap 13.14), porm no cap. 13,onde o conflito chega culminncia, onde ambos os lados se tornam fundamentais no sentido ltimo, acaba-se aargio e a rplicatodo mundo ora! Ador-la-o (a besta) todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomesno foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro (Ap 13.8). Em contraposio, os santos, que so repetidamentevisualizados multido que louva a Deus, negam adorao besta e rumam ao martrio. O quanto o choque entrepessoas adoradoras constitui o cerne do livro mostra-se, depois desse auge, nos tremores que repercutem nos captulossubseqentes (Ap 14.9,11; 15.2; 16.2,6,10; 17.6; 19.20; 20.4). No cap. 13, descortina-se a cena para a qual seencaminha o livro e que ele continua circunscrevendo at o final.

    3. A humanidade ora! Essa viso, no entanto, tambm poderia ter a inteno de expressar que em todos os tempos

    as pessoas tm um tipo ou uma distoro de religio, que evidentemente no suportam no ser tomadas por algo e nose curvar profundamente diante de algo, ainda que discordem sobre onde e diante de quem devem adorar. No entanto,o Apocalipse no visa dar uma declarao de validade to supra-temporal. O choque acima mencionado, entre osdiferentes adoradores, comea nitidamente em uma determinada hora. O profeta o anuncia em Ap 14.13 como estandoiminente: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Ainda existe calmaria. Porm, no

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    sossego para dormir, mas calmaria antes da tempestade, estremecendo desde j com os leves pressgios do que vir.Em Prgamo o sangue de mrtires j correu algumas vezes e Joo foi recentemente banido para a ilha de Patmos. Ofuturo prximo trar uma luta de vida ou morte, a hora da provao que h de vir sobre o mundo inteiro ( Ap 3.10), agrande tribulao (Ap 7.14).

    No entanto, em relao a que poca e que episdio tudo isso visa ser interpretado? Acaso em relao ao ano 2.000?De modo algum podemos trazer este livro de tal maneira para a nossa realidade que o tiramos das comunidades queforam interpeladas naquele tempo. Porventura no depreciaremos Joo e sua mensagem se lhe imputamos que teriaescrito para alm das cabeas dos seus contemporneos e que nada do que liam para si na verdade se referia a eles?

    Com toda a certeza a palavra proftica tambm se alonga para alm daquela poca (cf. qi 60), mas a interpretao doApocalipse forosamente fracassar se sua importncia para os primeiros destinatrios for negligenciada. Resta, pois,responder pergunta: o que estava em jogo naquele tempo? Atravs do que surgiu uma tenso assim e que descargaJoo anunciou?

    A pesquisa volta-se intensamente para uma antiga afirmao acerca do tempo de redao. O Pai da Igreja Ireneo,que viveu na sia Menor ainda na primeira metade do sculo II, tornando-se mais tarde bispo de Lyon, pressups, emseu escrito Contra os Hereges, que o Apocalipse era de conhecimento geral: Na verdade, no faz muito tempo queele foi recebido em viso, foi quase ainda no tempo em que vivemos, pelo final do governo de Domiciano(Domiciano governou do ano 81 ao 96). Essa afirmao mais antiga sobre a poca da redao, qual em breve seseguiram muitos testemunhos convergentes, no permaneceu sem contestao. Tambm intrpretes mais recentestentam estabelecer uma proximidade direta, ou pelo menos mais intensa, com a perseguio aos cristos em Roma sobNero, no ano 64. Contudo, essa perseguio no aconteceu por motivos religiosos. Nero foi movido por motivos

    pessoais, quando tentou desviar de si mesmo para os cristos a suspeita de ter causado o incndio de Roma. Alm domais, por mais duradoura que sua crueldade ficasse gravada na memria, a perseguio desencadeada por ele teveapenas importncia localmente limitada.

    Justamente quando preservamos a adorao como sendo o tema do Apocalipse, somos quase que imperiosamenteremetidos, em concordncia com Ireneo, situao vigente tal como existiu,p. ex., a partir do ano 90, sob Domiciano,pois foi ele o primeiro imperador que, desde o ano 86, reivindicou de todas as formas e genericamente aquilo quepertence a Deus (Mt 22.21), ou seja, a venerao de sua pessoa como deus. Com isso, porm, o cristianismoforosamente se tornou uma das religies proibidas, inimiga do Estado, por causa de sua observncia rgida doPrimeiro Mandamento. Estava dado, assim, o pressuposto para as grandes perseguies nos prximos dois sculos.Desse momento em diante, os cristos estavam em insegurana legal. Cada um deles podia perder sumariamente, porcausa de sua f, os bens e a vida. To logo houvesse acusador, no faltaria juiz.

    verdade que sempre houve, desde que existiam os csares, um certo culto ao imperador. Nas primeiras dcadasdepois de Cristo tambm desencadearam-se algumas perseguies localmente limitadas a cristos. Contudo, o videntede Patmos viu armar-se uma situao totalmente nova ligada ao novo culto estatal, preparando a igreja para ela.

    4. O desenvolvimento do culto ao imperador no pode ser descrito aqui com detalhes. Porm, o estgio decisivopelo qual o culto passava, bem como o prprio Domiciano, deveriam estar diante de nossos olhos durante ocomentrio.

    Na proporo em que podemos subentender, ao contrrio de sua predisposio natural, foi rapinador (somente)por necessidade e sanguinrio por temor, julga o historiador romano contemporneo Suetnio a respeito deDomiciano. De fato foi-lhe atestado um comeo nada mau, pois assumiu o Imprio numa poca catastrfica:cuidadosa jurisprudncia, rigorosas providncias contra corrupo e difamao, medidas econmicas proveitosas,popularidade no exrcito e bem-sucedida poltica externa.

    Contudo, quando, depois da solidificao externa, comeou a atacar os problemas internos do gigantesco Imprio,ameaado por sinais de decadncia, a situao deve ter ultrapassado sua capacidade, ou ele passou por umainexplicvel mudana em sua natureza. Em todo caso, as opinies sobre a poca final de sua vidaaproximadamentedepois do ano 93so arrasadoras. Luxuosas festas da corte, procisses, espetculos circenses, caadas de animais,promoes esportivas com ricas premiaes de louros, marchas triunfais e edificaes de construes pomposasaconteciam de mos dadas com mtodos de arrecadao forada de verbas cada vez mais duros e ordinrios. Elecondenava pessoas com base na mais simples acusao, a fim de poder confiscar a sua fortuna. Tudo isso lhe acarretoumais inimigos. No totalmente sem razo que foi possudo por uma mania de perseguio. Um exrcito de espiesservia segurana do Imperador. Por causa do medo diante de inimigos de dentro e de fora sobretudo no Leste doImprioele reforava cada vez mais as medidas de terror e tornou-se doentiamente desconfiado. Causou a morte desua amante, colocou sua mulher na lista negra e deu fim aos mais ntimos colaboradores. Nesse processo desenvolveuuma predileo por formas cruis de execuo. Teve xito em desmantelar conspiraes e destroar revoltas com

    incrvel regularidade. Em 18 de setembro de 96, sua esposa mandou um velho escravo assassin-lo no quarto dedormir. O Imprio respirou aliviado. O senado decidiu maldizer solenemente sua memria, excluir seu nome de todosos escritos honorficos, bem como destruir suas esttuas e seus altares. A posteridade chamava-o de co sanguinrio,besta do inferno, que permanece em sua caverna lambendo sangue. Falava do semblante arrogante do tirano.

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    5. Para os leitores da Bblia, assusta sobretudo o grau de endeusamento que o imperador reclamava para si. No ano86 determinou, como primeiro imperador romano, ser oficialmente chamado de Deus, o Senhor. Seu palcio eraconsiderado um santurio, seu trono uma sede divina. At a cadeira vazia do seu trono deveria receber revernciadurante a sua ausncia. Nas festas imperiais, todos tinham de comparecer vestidos de branco. Quando ele aparecia,com a coroa dourada sobre a cabea, as massas se extasiavam e explodiam em aclamaes a Csar. O burburinho dasvozes transformava-se em coros de fala rtmica. Poetas da corte providenciavam textos lisonjeiros: Eis, esse deus,a est ele, institudo pelo pai no cu para governar com plenos poderes numa terra feliz! At mesmo animaisparticipavam das honrarias. Papagaios treinados exclamavam: Ave Caesar! Missivas imperiais comeavam com: O

    Senhor nosso Deus decreta, e as sentenas de morte: Aprouve ao Senhor nosso Deus em sua misericrdia(quanto ao culto ao imperador, cf. ainda qi 12).

    6. J mencionamos que Domiciano entrou na histria no por ltimo devido sua nova linha de frente contra oscristos. Duas circunstncias exerceram uma funo nesta questo. Por um lado, as comunidades crists haviam sedisseminado de maneira incomum, pelo que chamaram a ateno. O evangelho penetrou at em crculos governantes,na corte imperial e mesmo na famlia do imperador (cf. tambm qi 14). Isso j constitua um motivo para que aquesto dos cristos se apresentasse de forma nova para o Estado. Por outro lado, entrementes os cristos haviam seseparado claramente do judasmo. Com isso, retiraram-se da proteo que o judasmo significara para eles. Poisenquanto as autoridades consideravam as comunidades crists somente uma seita judaica, elas no eram atingidas pelaproibio geral de fundar novas associaes no Imprio Romano. Ocorre que havia sido concedida uma exceo ssinagogas judaicas. At aquele tempo era possvel que em toda parte se congregassem comunidades crists sem

    contestao pelo Estado. To logo, porm, os cristos brigaram com os judeus, havia a ameaa de um conflito com oEstado. Essa situao concretizava-se com clareza cada vez mais perceptvel. Domiciano entendeu o cristianismocomo um movimento prprio de alcance mundial, cuja importncia superava o judasmo. Considerou-o como ummovimento contra a razo de estado, a saber, contra o culto ao imperador. Em decorrncia, deu incio investida geraldo Estado romano contra o cristianismo.

    7. No ano de 95, Domiciano executou os pais de seus filhos adotivos e sucessores ao trono, Clemente e Domitila,por causa de tendncia a costumes judaicos, por atesmo e crime de lesa-majestade. H certos indcios de que eleseram cristos. Tambm so conhecidos os nomes de dois soldados cristos, decapitados por ele. A primeira carta deClemente, que provavelmente foi redigida em Roma no mesmo ano, confirma que ali estavam sendo tomadas medidascontra cristos. A j referida carta de Plnio informa acerca de pessoas inquiridas na sia Menor, que asseguravamque h vinte anos j haviam renegado a Cristo. Tambm este dado aponta para processos contra cristos sob

    Domiciano. A situao se aguou. Em seu ltimo ano de vida (ano 96), Domiciano teria mandado trazer dois cristosda Palestina, inquirindo-os de modo especialmente desconfiado, porque eram parentes de Jesus. Quando reconheceuque eram inofensivos, limitou-se a ridiculariz-los. Logo estava claro que no final de seu mandato Domiciano passouao ataque contra os cristos (cf. ainda qi 20).

    Na prxima seo, quando nos debruarmos sobre a regio destinatria do Apocalipse, tornar-se- mais uma vezevidente o quanto os ltimos anos do governo de Domiciano servem de pano de fundo para esse livro.

    B. A provncia romana da siaOs destinatrios do livro

    8. De acordo com Ap 1.4, o Apocalipse foi enviado para a sia. Essa designao ocorre dezoito vezes no NovoTestamento. Contudo no coincide com o atual conceito sia. Mesmo comparada com a atual sia Menor, tratava-se

    naquele tempo apenas de uma sia pequenssima, abrangendo to somente a tera parte ocidental da atual Turquia. Amaior distncia entre as sete cidades mencionadas, a saber entre Prgamo e Laodicia, corresponde aproximadamente linha reta entre Braslia e Goinia (225 km). Portanto, no Apocalipse a sia sempre representa uma das muitasregies administrativas romanas. por isso que o presente comentrio usa regularmente provncia da sia.

    9. Hoje aquele territrio constitui uma regio bastante retirada das vias principais, um canto do mundo.Conhecedores da Antigidade nos ensinam, porm, que naquele tempo representava o centro cultural do mundo,superando at mesmo Roma ou Atenas. Considerando que isso pesa na importncia do Apocalipse, detalhes tornam-seinteressantes.

    Essa provncia tinha uma grandiosa histria. J por volta de 900 a.C. a tribo grega dos inios, ativa e de mentemuito aberta, ocupou a regio, fundando rapidamente cidades florescentes na orla martima e na beira dos rios. Nemsempre nos sculos seguintes puderam dominar tambm o interior. Numerosas vezes tiveram de abrir mo de suaautonomia poltica, mas intelectual e culturalmente, e tambm economicamente, em geral eram superiores aos que oshaviam derrotado. Em suas cidades, e no na terra-me da Grcia, encontrava-se o bero da filosofia grega, umfenmeno nico patenteado na histria da humanidade, sem a qual a civilizao de hoje no seria imaginvel. Almdisso, a regio desenvolveu-se pelo cultivo de rvores frutferas e vinhedos, por indstrias artesanais e sobretudo pelocomrcio, vindo a ser uma mina de ouro. Graas sua localizao natural, os portos se tornaram locais de troca

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    comercial entre Oriente e Ocidente. Isso propiciou um horizonte incomum, favoreceu as cincias, a arte e a religio.No se deve ignorar o reverso: este territrio era cobiado. Muitas vezes os proprietrios se alternaram. Sucederam-seos domnios frgio, ldio, persa, macednio e, por fim, o romano. Cada troca significava uma nova chegada de povos,lnguas, costumes e cultos. Resumindo-se o quadro, o resultado um verdadeiro crisol, uma paleta de aquarela comtodas as cores.

    Roma no precisou conquistar essa provncia. Em 133 a.C., Atalo III, o ltimo rei de Prgamo, legou seu reino emtestamento aos romanos. Por isso, a provncia no foi submetida a uma administrao militar, mas civil, com umprocnsul. Com satisfao os romanos se eximiam de uma administrao direta, porque a provncia estava sendo

    governada de forma suficientemente rgida a favor deles. Assim a terra continuou a florescer. A capital feso embreve contava com 250.000 habitantes. Laodicia tinha bancos de fama mundial, quase todas as cidades apresentavamindstrias rentveis. Nos portos amontoavam-se no cais depsitos de vrios andares, e no meio dos atracadourosflutuava um exrcito de mastros de navios de todas as bandeiras. Idiomas estrangeiros misturavam-se entre a lngualocal. Trajes de todas as naes apresentavam-se ao olhar.

    10. A provncia no somente era lugar de intercmbio de mercadorias, mas tambm de cultos religiosos, queavanavam sobretudo do Leste para o Oeste. Havia entre eles tambm cultos natureza, que remetem os cientistas dasreligies vivamente aos cultos srios a Baal, que tambm so nossos conhecidos do Antigo Testamento. Este dadodever ser retomado quando interpretarmos os cap. 2 e 3. Pelo menos perfila-se a extraordinria fertilidade religiosadessa regio e de seus habitantes. Em toda parte h centros de culto e milagres, construdos com mrmoredeslumbrante em estilo arrojado, e rodeados da correspondente atividade romeira e das lides comerciais correlatas.

    No por ltimo essa provncia era considerada a mais culta e nobre do Imprio. Podia exibir florescentes instituiesde educao, famosas bibliotecas e autoridades mais moderadas e esclarecidas. Se houve algum lugar no mundo paraisto, foi aqui o bero da intelectualidade e leveza gregas, da alegria de viver e da capacidade de realizao. Cf. Reicke-Rost,Bibl.-Hist. Handwrterbuch, tambmReligion in Geschichte e Gegenwart(RGG).

    11. Em decorrncia, a provncia da sia revela-se como um reduto do helenismo. Com essa expresso designa-seo grandioso movimento cultural daquele tempo. Ele comeou sua marcha vitoriosa sob Alexandre Magno (356-323a.C.), que no entanto tambm deu continuidade a um legado persa, de modo que, com certa razo, poderia serdesignado igualmente de orientalismo. Helenismo significa na verdade natureza grega, e no permitereconhecer desde logo do que se trata. Num paralelismo flagrante com manifestaes atuais, tratava-se de umaunificao crescente da humanidade de todos os continentes nas maiores unidades possveis, e isso s custas dapeculiaridade tnica, racial, lingstica, poltica, social e religiosa. A humanidade toda devia tornar-se um povo. O

    audacioso programa de fuso do Oriente e do Ocidente, no entanto, no traz de modo totalmente injusto o nome dopequeno povo helnico, porque essas pessoas criaram a conciliao entre os grupos de interesse. No apenas porque aterra-me grega constitua o limiar entre Leste e Oeste, situada no meio dos mares que interligam os povose queeste tipo de pessoas evidenciava uma rara lucidez e intelectualidade aberta. Os gregos estavam literalmente presentesem todo o mundo conhecido daquele tempo. Ao redor de todo o mar Mediterrneo e do mar Negro, mesmo no lago deGenesar (cf. Mt 4.25; Mc 5.20; 7.31) havia cidades gregas. Pela rota do mbar e por sobre os Balcs os comerciantesgregos praticavam o comrcio com a costa do mar Bltico, com a frica central atravs do Egito, com a ndia atravsda Mesopotmia. Em todo lugar adquiriam novo conhecimento, penetravam-no e transmitiam-no de forma organizada.Com os gregos, a humanidade chegou pela primeira vez ao pensamento cientfico. Eles desenvolveram a primeiraescrita fontica e forneceram a lngua franca mundial daquele tempo, o koin, na qual tambm foi redigido o NovoTestamento. Dessa maneira imprimiram sua marca intelectual na emergente cultura global internacional. O conceitodo helenismo aparece a cada pessoa que se familiariza com a poca do Novo Testamento.

    12. Um exemplo dessa helenizao tambm o desenvolvimento do culto ao imperadorcom o que o Apocalipseretorna ao centro de nossa linha de pensamento. H muito que o Oriente conhecia a venerao divina de soberanos,sobretudo no Egito, onde o rei era considerado como um deus desde o nascimento e independentemente de suaposio de poder. Lentamente e contra a pertinaz resistncia da mentalidade ocidental, democrtica, os costumespalacianos orientais penetraram no Ocidente. A provncia da sia marcou o ritmo desse processo. So de l os maisantigos monumentos com inscries que possumos sobre essa nova religiosidade poltica.

    As cidades da provncia competiam entre si pela magnnima permisso do senado romano para edificar um temploem honra a Roma e ao imperador. Prgamo conquistou o privilgio j sob Augusto (30 a.C.-14), Esmirna sob Tibrio(14-37), feso sob Cludio (41-54). Com o novo culto estavam relacionadas cerimnias regulares e luxuosas, que nopodiam ser subestimadas como fator econmico.

    Ento chegou Domiciano (81-96), e feso ganhou a corrida contra todas as cidades. Em breve ela ostentava onome honorfico de cidade imperial, guardi do templo de Csar. Recebeu uma imagem colossal do imperador emtamanho quatro vezes maior que o natural. Foram erigidos altares ao divino soberano nico e eminente imperadorDomiciano.

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    Pesquisadores austracos escavaram partes da destroada imagem da graa, do templo, do altar principal egigantescos candelabros, que forneciam luz s festas cultuais. Por ocasio de cada abertura do templo ao imperadornuma cidade, tomava posse tambm um grupo de sacerdotes imperiais. Seu sumo sacerdote era ao mesmo tempo apersonalidade poltica de confiana de Roma na provncia e um bom guardio para verificar se a fidelidade dos sditostambm se comprovava numa ativa participao no culto ao imperador. Pode-se provar e bem imaginvel que essasequipes de sacerdotes se destacavam especialmente nas perseguies aos cristos.

    13. Um retrospecto permite que constatemos que nesta provncia o evangelho atingiu o ser humano em seu estado

    mais desenvolvido, no subdesenvolvido nem contido num horizonte estreito. Ali as pessoas haviam descoberto o quesignifica ser humano, demonstrando-o de modo impressionante. Aquele ser humano era a pessoa moderna comsensao elevada da vida, no auge de sua poca, portadora e representante de seu tempo. Quando Joo, portanto, enviasua mensagem s comunidades na provncia da sia, ele tem de considerar que elas no vivem entre pessoasprovincianas, mas entre cidados esclarecidos, seguros de si, numa poca urea.

    14. Com essas observaes chegamos histria da misso nestas terras. Joo no foi o primeiro que testemunhou oevangelho ali. J Paulo concentrara ali seus esforos, seguindo uma orientao expressa de Deus. Durante trs anos eleatuou em feso, mais que em outros locais. As comunidades dessa provncia receberam cartas de Paulo (Colossos,feso, Laodicia), de Pedro (1Pe 1.1), de Joo (missivas do Apocalipse) e, no incio do sculo II, de Incio, quefaleceu como mrtir pouco depois do ano 110 (a feso, Magnsia, Trales, Filadlfia e Esmirna). Por conseguinte,encontrava-se aqui obviamente no apenas um ponto de concentrao do mundo gentlico, mas tambm do

    cristianismo. feso havia substitudo Jerusalm e Antioquia como centros cristos. Roma ainda no havia emergido.Neste meio tempo, o movimento cristo no se expandira tanto em nenhuma outra rea do Imprio romano. De acordocom a carta de Plnio, o nmero de cristos havia se tornado to grande que os templos gentlicos j se esvaziavam;conforme a 2 carta de Clemente, ele superava o nmero de judeus.

    15. Na provncia, portanto, o conflito entre a igreja e o mundo em redor era conduzido de uma maneira vlida enotvel para todo o Imprio. Joo o percebe, motivo pelo qual repetidamente conclama a cristandade toda com aspalavras: Quem tem ouvidos, oua o que o Esprito diz s igrejas (Ap 2.7,11,17). No final desse trechomencionaremos ainda as linhas mestras dessa controvrsia, sem antecipar a exegese detalhada.

    Uma pessoa que escreve a erudio em suas bandeirasisso o indivduo helenista na provncia da sia havia feitosempre tem orgulho de possuir entendimento. Ou seja, tambm havia compreenso pelo cristianismo (cf. At 19.31!).Apesar de alguns percalos, cujas causas especficas cabe investigar, a atitude das sete cidades, conforme Ap 2,3, era

    de tolerncia. Contudo tambm se esperava por compreenso! Por que os cristos por sua vez no se deveriam abrirtambm para a posio oposta? Portanto, quem quiser ser um cristo, que o seja e permanea, porm que seja umcristo correto, a saber, um cristo compreensvel! Isso significa que a tribulao ainda no se apresentava com trajesanticristos, mas falsamente cristos. Essa seduo falsamente crist, por isso, constitui tambm o tema permanentedas mensagens s comunidades: cautela com falsos apstolos (Ap 2.2), falsos judeus (Ap 2.9; 3.9), falsos profetas (Ap2.20), vida aparente (Ap 3.1) e riqueza aparente (Ap 3.17)!

    No por ltimo Joo traz, neste aspecto, revelao atravs daquele que tem uma espada afiada de dois gumes eolhos como chama de fogo (Ap 2,12.18). Ele perpassa toda a aparncia e revela o que . Por amor ao mundo que aenvolve, a comunidade no pode tornar-se uma igreja de aparncias.

    C. JooO autor do livro

    16. Alguns leitores talvez considerem suprflua a pergunta sobre quem era o Joo mencionado como remetente emAp 1.1,4,9 e 22.8. At o presente eles no tiveram nenhuma dvida de que se trata do apstolo Joo, o velho, umdos Doze, o filho de Zebedeu. Tambm a presente interpretao defende que em Ap 1.1 indicada a autoria por Joo,o filho de Zebedeu. No obstante, essa posio permanece no nvel da suposio. O simples fato de que o testemunhoprprio do livro cita o nome sem qualquer especificao mais clara d espao para a indagao qual o Joo que estpor trs desse nome amplamente recorrente.

    17. H sobretudo duas constataes que causam dificuldades. Apesar de que, pelo vocabulrio e estilo, oApocalipse pertence inequivocamente ao campo dos demais escritos joaninos, ao mesmo tempo diferenas evidentescausam dvidas sobre uma autoria da mesma pessoa. Isso vale em segundo lugar tambm para o universo intelectual.Apesar da freqncia com que o comentrio pode apontar para paralelos teis entre o evangelho de Joo e as cartasdele por um lado, e o Apocalipse por outro, no h como negar diferenas de conceitos e linguagem.

    18. Por que deveramos, apesar disso, continuar defendendo a autoria do filho de Zebedeu?A meu ver, a favor dessa tese h o fato de que aps sua redao o Apocalipse rapidamente alcanou grande

    disseminao. Quando damos ouvidos aos testemunhos freqentes e positivos da sia Menor, Glia, frica, Egito,

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    Itlia e Sria, parece que no incio do sculo II os cristos no leram nenhum outro livro do Novo Testamento comtanto afinco como este. Todas as listas cannicas mais antigas do sculo II arrolam este livro.

    Alm deste fato, considere-se o segundo aspecto: desde o comeo a obra foi lida com a maior naturalidade comoobra do filho de Zebedeu. Como, afinal, o livro de um Joo desconhecido qualquer teria alcanado tamanho eco?Como um equvoco da questo da autoria poderia ter-se espalhado com tanta rapidez na provncia da sia? Milharesde fiis sabiam da deportao do velho do seu meio para a ilha de Patmos (a idade avanada de Joo em feso estcomprovada com segurana). Ou ignoravam totalmente este acontecimento, e neste caso ningum seria capaz desimul-lo falsamente diante deles. Por volta do ano 170 surge um pequeno grupo eclesistico, os chamados logos,

    que combatem a autoria tradicional por razes dogmticas. O contedo do Apocalipse no se enquadra em sua f deconotao filosfica. Para retirar a base da autoridade do livro, bem como de seus adversrios, que se apoiavam noApocalipse, eles afirmam que o autor seria (justamente!) Querinto, o adversrio de Joo em feso. No sculo seguinte,Dionsio de Alexandria (em torno do ano 250), sucessor intelectual desse grupo, mas ao mesmo tempo portador denovos argumentos de crtica literria, defende a opinio de que talvez tenha vivido em feso ainda um segundo Joo, oqual poderia ser cogitado como autor. Outros cem anos mais tarde, em torno de 340, Eusbio transforma a suposioem certeza: sim, havia em feso ainda outro presbtero Joo, que o autor do Apocalipse.

    Todos estes homens no esconderam seu desconforto com o contedo do livro, mas encontravam-se num apertodiante da autoria apostlica. No podiam atacar o apstolo. Em decorrncia, criaram para si um segundo Joo, ao qualatriburam, ento, a obra. Com isso, o livro estava liberado para ataques! Pouco tempo depois, j por volta do ano 150,quase toda a igreja do Oriente afastou-se do Apocalipse e de toda a literatura apocalptica restante de origem judaica ecrist. Somente no sculo VII a resistncia cedeu.

    19. Tambm na igreja do Ocidente, que inicialmente no esposou a reserva to precoce da igreja do Oriente, embreve teve-se pouca compreenso para com essa mensagem. Promovida a religio estatal e com esplndidas relaescom o Imperador, a igreja oficial tinha os ps firmes neste mundo. De que servia, pois, um livro que exclama catorzeais sobre este mundo e culmina na splica: Vem, Senhor Jesus? Apesar disso, o livro no foi simplesmente deixadode lado, mas lhe foi dada uma nova interpretao (cf. qi 56).

    Deveramos deixar como esto as dificuldades acima aludidas (qi 17), que decididamente devem ser levadas a sriono que diz respeito autoria de Joo, filho de Zebedeu. A tradio antiga fala com voz alta demais para que pudesseser ignorada, e to digna de crdito que no a deveramos descartar facilmente.

    20. Quando se aceita como autor o discpulo do Senhor, talvez tambm pudesse se dar ouvidos seguinte tradio.Tertuliano informa, por volta de 200, que o imperador Domiciano mandara trazer para Roma, no comeo da poca da

    perseguio, no somente aqueles dois parentes de Jesus (cf. qi 7), mas tambm a ltima testemunha ocular do tempode vida de Jesus, Joo, o velho, que liderava as igrejas da provncia da sia a partir de feso. Em Roma, oimperador teria mandado inquirir e torturar o apstolo (a tradio fala de mergulhar em leo fervente) e depois banirpara Patmos. Se essa notcia for correta, haveria uma amarga experincia pessoal de Roma por trs da descrio doApocalipse acerca da cidade das sete colinas com seu luxo insano e sua obsesso tentadora, com vaidade e vcios, comterror e derramamento de sangue, e com toda a sua maturidade para o juzo (Ap 17).

    D. Histria contempornea, Antigo Testamento, ApocalipsismoO ambiente cultural do livro

    21. As trs sees anteriores sobre motivo, destinatrios e autor do livro j elaboraram a estreita sensibilidade doApocalipse com os acontecimentos pblicos e tambm com a vida cultural de seus dias. Em primeiro lugar, trata-se deum autntico escrito situacional, como tambm as cartas de Paulo. Em contraposio s cartas de Paulo, porm,acresce que aqui o acontecimento mundial tomado como tema. Com tanto maior intensidade os acontecimentos e amentalidade do mundo em redor se espelharo nas pginas do Apocalipse. Nele so incessantemente focalizadostermos, conceitos e idias do contexto helenista (cf. ainda qi 25).

    22. caracterstica de Joo a autoridade com que ele combina os acontecimentos e o contexto da poca com oAntigo Testamento. De forma crepitantemente atual, ele fala com uma linguagem to saturada de termos bblicos queuma estatstica dificilmente consegue capt-los, um fato que no ocorre em nenhum outro livro doNT. Essa forma deestilo sagrado poderia ser em parte decorrente inconscientemente de uma forte ligao incomum com a palavra doAntigo Testamento. Obviamente tambm existe uma afinidade claramente fundamentada com o Antigo Testamento.Faz parte dela a preferncia pelos profetas Ezequiel, Daniel e Zacarias, com estes escritos principais que colocam o

    acontecimento universal sob a luz do reino de Deus. Joo insere-se na linha deles de maneira bem consciente e comautoconscincia proftica.

    23. H mais uma surpresa. Por mais que o Antigo Testamento perpetre o Apocalipse, o autor no obstante evita acitao expressa. Jamais Joo usa a introduo como a carta aos Hebreus ou Mateus: Como est escrito. Acaso cita

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    sem frmula de citao? Isso tampouco explicita os fatos. Uma cuidadosa comparao mostra que, apesar de toda asua ligao com o Antigo Testamento, Joo preserva a sua independncia. Audaciosamente as palavras profticas soabreviadas, completadas, acopladas ou mescladas a outras. Apesar da copiosidade de ressonncias surgiu algo novo. OApocalipse, portanto, no repete meramente o profetismo do AT. Como Joo poderia reiterar profecias pr-cristsdepois de Cristo, como se o Consumador ainda no tivesse chegado! Sem dvida o profetismo ainda no chegou aoseu ltimo cumprimento. Ele ainda aponta para frente. Porm ele j passou por um estgio de cumprimento, peloestgio decisivo, e traz agora em sua testa o sinal da continuao de seu curso. Cumpre valorizar essa profeciamarcada pela revelao de Cristo. assim que tambm se explica a curiosa atmosfera do livro com sua proximidade e

    simultnea distncia do Antigo Testamento.Afinal, cumprimento mais que a respectiva profecia, assim como a rvore mais que sua semente. Nestaconscincia todos os apstolos que viram, apalparam e ouviram o cumprimento em Jesus Cristo posicionaram-sediante do Antigo Testamento. Nesta autoridade eles podem utilizar as velhas palavras com uma liberdade que causasurpresa em cada pessoa que no capta nada da altitude, profundidade, do comprimento e da largura da revelao deCristo.

    24. Faz parte do contexto cultural a que o Apocalipse dirige sua mensagem, por fim, tambm o assim chamadoapocalipsismo.

    Involuntariamente foi o ltimo livro da Bblia que forneceu o nome para este movimento. O termo gregoapoklypsis (revelao) aparece em Ap 1.1, onde introduzido no linguajar como designao de livro. Mais tarde ospesquisadores relacionaram essa designao com um gnero bem determinado de literatura. Hoje so chamados de

    apocalipses cerca de 30 escritos do perodo do sculo II a.C. at o sculo II. A atitude religiosa e o universo mentalcorrespondentes so chamados de apocalipsismo judaico tardio.Mais da metade desses escritos ainda oriunda do judasmo. Contudo, quando prximo do final do sculo I o

    judasmo rejeitou o apocalipsismo com todas as letras, o movimento encontrou um abrigo no cristianismo,experimentando ali um novo auge entre os anos 100 e 150. O prprio Novo Testamento, porm, denota uma fortefamiliaridade do cristianismo primitivo com essa literatura. O indcio mais claro est registrado em Jd 14-16, ondeEnoque citado. A passagem no pode ser lida, como se esperaria, no Antigo Testamento, mas sim no extenso livroapocalptico de Enoque (1.9), o qual nos foi preservado. De acordo com alguns Pais da Igreja, os acontecimentosreferidos em Jd 9 provm da obraAscenso de Moiss, do qual no entanto atualmente se conhecem apenasfragmentos. O mesmo vale para os nomes Janes e Jambres em 2Tm 3.8. possvel que Hb 11.37 se refira Ascensode Isaas, uma obra apocalptica que j sofreu uma reviso crist, e que narra em 5.11 como Isaas foi serrado ao meio.Seria possvel multiplicarmos os exemplos. Quanto melhor conhecssemos a literatura apocalptica, tanto mais ntidasseriam para ns as semelhanas de linguagem, terminologia e concepes. Encontramos,p. ex., noNT blocosapocalpticos homogneos, como,p. ex., Mc 13 e seus paralelos, Lc 17.20-37; 1Ts 4.15-17; 1Co 15.20-28; 2Ts 2.1-12; 2Pe 3.10-13 e sobretudo o livro do Apocalipse.

    25. No primeiro instante, essa realidade pode causar confuso. Ser mesmo que o apocalipsismo o colomaterno da proclamao do primeiro cristianismo ou um de seus ramos? Contudo, comunho de linguagem e idiasno devem ser interpretadas, sem maior averiguao, como comunho doutrinria. Tambm poderia significaroposio doutrinria. No apenas o intercmbio amigvel torna a linguagem e os raciocnios semelhantes. Disputasacirradas muitas vezes levam ao mesmo resultado. O Novo Testamento oferece mltiplos exemplos disso. Nas cartasde Paulo aparecem palavras de ordem e frases daqueles que ele tenta superar. De certo modo ele lhes tira as armas,retira sua armadura, e as torna teis para o triunfo do evangelho. Tambm neste caso poderamos falar dedependncia, mais precisamente de uma dependncia negativa. Temos de contar com a possibilidade de que opensamento e a fala do primeiro cristianismo se formaram negativamente diante do apocalipsismo judaico tardio.Quem quiser avaliar essa questo, ter de adquirir primeiramente uma viso panormica sobre essa literatura.

    26. O apocalipsismo incendiou-se acima de tudo na segunda metade do sculo II a.C., quando aps um tempo depoltica religiosa tolerante novos soberanos promoveram intensamente e em parte de forma brutal a helenizao naPalestina (cf. qi 11). Para os fiis entre os judeus irrompeu um tempo de aflio interior e exterior. Por um lado,constatavam como fruto dessa helenizao uma secularizao irrefrevel de seu povo. Com braos de polvo, o espritomundano tentava apoderar-se dos fiis. Por outro lado, acrescentavam-se perseguies, opresso, terror e martrio,com os quais o rei Antoco IV respondia, exasperado, s atitudes de resistncia.

    Nesse tempo obscuro, porm, tambm havia crculos judeus na Palestina que no percebiam a desgraa e que noeram afligidos pela aflio, porque sabiam adaptar-se. Escaparam para a superficialidade. Estavam dispostos a

    colaborar, a aceitar cargos, formando aos poucos o judasmo oficial. Contudo, entre suas fileiras no se encontraro osapocalpticos. As caractersticas destes ltimos so as reunies secretas e a mentalidade de retirada. O hiato entre aBblia e a realidade pesa de forma torturante sobre eles.

    No cativeiro babilnico, os profetas haviam anunciado coisas grandiosas ao povo: nova aceitao por Deus,maravilhosa conduo para a ptria e restaurao do povo. Que foi feito disso? O retorno ptria aconteceu, mas

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    muitos judeus preferiram ficar no estrangeiro. A situao dos retornados era precria. Havia um pouco de reconstruoe muitos destroos, misria econmica, insegurana poltica, escrnio dos vizinhos e refluxo religioso. Ser realmenteque isso foi tudo? Como a palavra de Deus continuaria sendo verdadeira? De que modo o Seu brao, apesar de tudo,governaria o mundo? Onde se desenrolaria agora a histria da Sua salvao?

    Eram essas as indagaes do apocalipsismo, para elas que ele buscava uma resposta. Seu ponto de partida,portanto, o suplcio das promessas no cumpridas. Entretanto, o movimento vinculou-se a uma f nova e inabalvelna veracidade de Deus. Assim, os apocalpticos visavam continuar a tradio dos profetas. Nesta perspectiva elescolidiam frontalmente, como outrora os profetas, com os poderes dominantes, com sacerdotes e escribas, com o

    judasmo oficial.A sua boa inteno, porm, no impediu que eles se afastassem consideravelmente do profetismo bblico. Tambmhaviam sido marcados intelectualmente por geraes de dominao estrangeira, sobretudo no perodo persa (558-331a.C.). No conseguiram escapar nem mesmo da helenizao. Na prtica, temos de contar com alienaes. Essacircunstncia levou alguns pesquisadores do apocalipsismo a falarem de um contraste incisivo com o profetismo, desorte que apocalipsismo adquiriu uma conotao pejorativa. Entretanto, seria satisfatrio avaliar movimentoscabalmente pelo seu aspecto final e por suas degeneraes, ao invs de pelo seu ponto de partida e pela sua inteno?Como haveremos de mostrar, no existe uma ruptura profunda com o profetismo.

    27. Imediatamente, determinados deslocamentos de nfase resultaram da nova situao. Os profetas ainda falavamao povo de modo intensamente missionrio e o convocaram uma ltima vez ao arrependimento. Aos olhos dosapocalpticos, essa ltima chance tinha passado. O povo como um todo se afastara definitivamente de Deus e no

    podia mais ser atingido. Em decorrncia, dirigem-se em tom consolador ao pequeno crculo dos fiis. Agora amensagem : no esperem mais por uma virada atravs do arrependimento geral do povo. Pelo contrrio, a situaopiora cada vez mais! O mundo mau, a vida dura. Resta esperar to somente por uma coisa: pelo despedaamentode todo o mundo pela interveno de Deus e pela irrupo de um novo mundo. Feliz aquele que preservar sua f ataquela hora!

    Talvez os profetas teriam falado de forma semelhante numa situao idntica. Sem dvida encontram-se entre elesenfoques correspondentes. Isaas j fala da firme deciso por um aniquilamento (Is 28.22). Jeremias tem de anunciarjuzo inevitvel. No h mais futuro para o povo nem possibilidade de intercesso perante Deus. No existe maissalvao no mbito da antiga aliana. Sim, o iderio apocalptico pode ser remontado em grandes extenses ao AntigoTestamento. Inversamente, os livros profticos apresentam unidades apocalpticas,p. ex., Is 2447, Zc 914, Jl 2,3.Poderamos chamar o profeta Ezequiel de pai do apocalipsismo. Seus seguidores intelectuais so Ageu e Zacarias.

    28. Em que consistia a essncia doutrinria desse movimento? Um pensamento bsico : O Altssimo no criouapenas ummundo, mas dois deles. Note-se bem que ambos jforam criados, tambm o mundo futuro. Ainda queoculto, o on vindouro j est presente. Ambas as realidades agora esto lutando entre si. O on presente est rendidos trevas e no tem mais salvao. Est caindo cada vez mais no abismo. Resta um nico consolo: ele no durainfinitamente, mas tem um prazo. Quando sua perdio alcanar o ponto culminante e sua impiedade se tornarcompletamente mpia, ento ele chegar, simultaneamente, ao alvo e ao trmino. Ento estar maduro para o juzo.Portanto, do desespero do mundo acende-se uma esperana viva. As aflies que se sofre exteriormente soentendidas como as dores de parto do novo. Por isso despertam ardente expectativa imediata pelo on vindouro.

    Dessa maneira, torna-se possvel confiar novamente na consumao divina da histria. Naturalmente isso impossvel quando se tem uma viso superficial. Neste caso, constata-se apenas o oposto. preciso viso emprofundidade! H necessidade de luz sobre os mistrios da histria. necessrio obter revelao sobre o plano

    bsico, de acordo com o qual tudo acontece e tem de acontecer.29. A partir desse princpio possvel entender as peculiaridades do apocalipsismo. Um exemplo explicitar a

    primeira caracterstica. Jeremias havia anunciado ao povo deportado para a Babilnia o fim do castigo aps setentaanos de cativeiro (Jr 25.11; 29.10). Entrementes, o simples fato do retorno j estava realizado. Depois da volta, porm,como mencionamos acima, apresentou-se uma decepo aps a outra. Ser que a palavra de Deus fora ilusria? No,pois o profeta no falara de 70 anos, mas de 70semanas de anos, ou seja, de 490 anos (Dn 9.24). Essa forma de lidarcom um sentido oculto tpica para o apocalipsismo. Ele usa copiosos nmeros simblicos, animais, constelaes,nomes, medidas, tempos e cores. Este tipo de simbolismo a princpio tambm era familiar aos profetas do AT, masagora assume propores imensurveis.

    30. Alm disso, o interesse poltico nacional recuara diante do interesse pela histria universal. O Messias davdico

    quase no tinha mais importncia. Foi dito adeus ao anseio de recuperar poder poltico perdido. bem verdade que ocaminho da salvao passa por Israel, mas acima de tudo ela tem abrangncia mundial e est acima de um povo.Ademais, a preocupao sria com os mistrios da histria levou a um senso histrico evoludo. Mais ainda: o olharno fitava apenas a humanidade e o mundo das naes. Todas as criaturas criadas por Deus, o cosmos, com astros,cus e terra, foram includos no sofrimento e no juzo, na esperana e na nova criao, para a glorificao de Deus.

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    Isso sem dvida aconteceu com a autoridade da f em Deus, assim como habitou tambm nos profetas. Deus nodesiste de sua criao. Sua redeno no mais estreita que a criao. Sim, de certa maneira magnfico que oscrculos apocalpticos no se retiraram, em seus tempos sombrios, para a vida interior nem se tornaram estreitos,mas sim cada vez mais universais.

    31. A caracterstica mais questionvel pode ser acertadamente descrita como segue: o plano de Deus, do qualfalavam os profetas, tornou-se o deus Plano, pois entre os apocalpticos o Plano governa com mo frrea e onipotente.Pessoas e potncias podem fazer e deixar de fazer o que bem entenderem. Quem conhece o Plano encara tudo com

    pacincia estica. Ele conhece o desenvolvimento programtico da histria global de Ado at a restaurao doparaso. Ele conhece os tempos, intervalos e nmeros por revelao. O que atinge o corao de outros (injustia,pecado e misria) atinge apenas o seu crebro. O lugar da compaixo tomado pelo clculo. De fato, o apocalipsismo um assunto para quem hbil no clculo mental. Para os profetas, no entanto, a pacincia, a longanimidade e oarrependimento ainda tinham grande importncia. Deus presta ateno ao comportamento das pessoas e corresponde aele de modo extremamente vivo. Ele surpreende atravs de sua graa soberana. Joga no desespero pessoas quecalcularam para si segurana absoluta. No ponto de vista apocalptico, essa histria viva paralisada. Em vez deesperar pelo inesperado, ele j sabe tudo o que vir. No h como ignorar a influncia filosfica (cf. qi 43 e 46).

    32. Por fim, mais um ponto marcante: os autores dos escritos apocalpticos no se do a conhecer, escrevendo sobo nome de uma pessoa importante do passado. Os ttulos so, entre outros: Testamento de Ado, Apocalipse deAbrao, de Moiss, de Elias, de Baruque, Enoque etc. O apocalptico se transportava ao tempo deles, h muito

    transcorrido, para proclamar em seu nome acontecimentos do tempo atual, como se fosse algo ainda futuro. Ser que oobjetivo era granjear, dessa maneira sub-reptcia, reconhecimento e autoridade? Por maior que seja a estranheza queum procedimento assim possa causar em ns hoje, no podemos declar-lo como sendo fraudulento.

    mais apropriado considerar que em tempos perigosos no raro preciso falar de forma camuflada. Lembremosque os apocalpticos se opunham aos poderosos e se debruavam com afinco sobre a sua runa. Acima de tudo, porm,o Antigo Testamento j delineia o conceito de um personagem prolongado (cf. 2Rs 2.9 eNm 11.16,17). Discpulosvinham a pblico no esprito e no lugar de seu mestre e tomavam providncias para que no se tornasse uma grandezado passado. Como sua mensagem havia permanecido importante, eles a traduziam para sua prpria realidade. Emdecorrncia, seguiam em esprito e na tradio,p. ex., a Moiss, e podiam afirmar: Moiss declara!

    33. Essa viso panormica teve por objetivo ajudar a esclarecer a relao do Apocalipse doNT com oapocalipsismo judaico. Com certeza trata-se de uma relao estreita, mas tambm fragmentada. Isso fica evidente em

    muitos pontos. Vrias vezes o comentrio oferecer oportunidades para realar essas linhas. Agora acrescentaremosapenas breves destaques:

    Joo no recorre nem ao pseudnimo nem ao deslocamento artificial poca antiga. Ele cita claramente nome doautor, lugar e tempo da redao, bem como o grupo destinatrio. Foi assim que procederam tambm os profetas. Seulivro no produto de um gabinete de estudos como muitos apocalipses do judasmo. Ele no se devota ao interesseespeculativo, que periodiza e enquadra tudo num sistema que vai da proto-histria at o fim dos tempos. O livro ummodelo de cuidado pastoral concreto do primeiro cristianismo. Pode-se abusar dele para fins de especulao ecalculismo, porm ele prprio no traz nenhuma especulao. Utiliza nmeros, mas no um esquema perfeito denmeros cabais. Oferece figuras do futuro, mas no um quadro ilustrado do futuro.

    O que, por fim, tornaria imperdovel uma equiparao de nosso Apocalipse com o apocalipsismo judaico tardio opapel que desempenha o Messias crucificado e ressuscitado no Apocalipse. No apenas porque o apocalipsismo noconhece este Messias, mas tambm porque o Messias, do qual ele fala ocasionalmente, aparecequando muitosomente no final, como um personagem extremamente passivo. No nosso Apocalipse, porm, desde Ap 1.1 JesusCristo aquele que age. Por trs de tudo encontra-se o evangelho de sua morte e ressurreio. No meramente umapndice externo do livro, mas o molda desde a raiz. Com suas chagas, ele , em primeiro e em ltimo lugar, aqueleque , que era, e que vir. Que faria o apocalipsismo clssico com isso? Neste ponto abre-se um abismointransponvel: no apocalipsismo judaico tardio falta Jesus Cristo, e no apocalipsismo do NT falta o deus Plano.

    Entretanto, um ponto muito central ainda ficou de fora das consideraes. sobre ele que se debrua a seoseguinte:

    E. Eis que venho sem demora!A expectativa imediata do livro

    34.O em breve escatolgico o lastro de todo o Apocalipse. Ao comentarmos Ap 1.1 apresentaremos aspassagens em que ocorre o tpico em breve. Alm disso, uma simples olhada na concordncia permite sentir que aexpectativa imediata tem muito pouco a ver com uma exacerbao temporria e circunstancial e que ela estprofundamente alicerada nas bases bblicas. De antemo pode-se levar em conta que nos homens de Deus essaconvico sempre sofria influncias das peculiaridades da sua vida pessoal ntima, pois tambm eles no podem ser

  • 7/28/2019 24. Apocalipse - Comentrio Esperana

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    imaginados sem sua natureza humana. Dentro deles formavam-se sentimentos involuntrios, acompanhados desuspeitas meramente pessoais. Entretanto, continua decisivo a questo se eles deixavam estes fenmenos colateraisocupar o centro de sua proclamao, se os colocavam na linha de frente dos seus pensamentos e se comprometiamseus ouvintes com eles ou no. Neste caso teriam se tornado falsos profetas. Um profeta no responsvel por tudoque o aflige, mas sim pelo que faz ou deixa de fazer com isso.

    35. Em Israel surgiram profetas porque houve uma aliana rompida. desse ponto que temos de partir. OutroraDeus presenteara Israel com sua parceria. A expresso dessa comunho era a lei. No fundo, cada mandamento dessa

    lei na verdade se refere oferta: Eu sou e quero ser tudo para voc (Eu sou o Senhor teu Deus), agora seja fiel tambma mim! No lance mo da auto-ajuda (adultrio, assassinato, roubo etc.) ou de deuses adicionais (feitiaria,superstio). Isso proibido a voc! Viva agora de todo o seu corao e de toda a sua alma para o seu Deus!

    Profundamente comprometido com este esprito, o conde de Zinzendorf cantou: Aqui nos tens a todos ns para asordens que nos deres! Quanto mais ordenares, maiores sero nossas vitrias. Pois ordens tuas so promessas que noslevam a quebrar todas essas obstrues.

    Em sua vida, porm, Israel alou-se acima desses mandamentos e da oferta de Deus contida neles. No levou asrio a declarao de amor de Deus: Deus inofensivo, seus mandamentos so incuos, as promessas so incuas, opecado inofensivo. Nada acontecer depois disso! (cf. Sl 50.16-21; Is 5.18,19; Sf 1.12).

    Os profetas encetavam sua pregao nesse equvoco fatal acerca de Deus: no se enganem, Deus no permite quese zombe dele! Se Israel quebrar a lei, tornar-se- eficaz o lado contrrio da lei. Mandamentos muito antigos j estoexpressamente ligados a este lado contrrio: No tomars o nome do Senhor, teu Deus, em vo, porque o Senhor no

    ter por inocente o que tomar o seu nome em vo. A punio acontece de i mediato. Ela aparece imediatamente aolado da quebra da aliana. Fugir do amor de Deus e correr para dentro de seu castigo formam uma unidade.

    A essa altura, na realidade j nos encontramos diante do bero da expectativa imediata. Ela flui da proclamao deum Deus que justamente no inofensivo. Deus Deus! No mesmo instante em que um profeta no povo rebelde Israelera tomado por este entendimento, ele tambm se punha a clamar: o dia (da vingana) do Senhor pontual.Arrependam-se nesta ltima hora! Alguns profetas nem sequer viam mais essa possibilidade do arrependimento. Jestava tudo perdido. Pois to certa como era a palavra de Deus, este povo estava destinado morte. O dia da ira j erafato iminente, sem nterim para um arrependimento.

    36. A expectativa imediata, portanto, est totalmente imbuda do anncio de Deus pelos profetas. O castigo estprximo porque Deus Deus. Essa iminncia originalmente era uma proximidade objetiva. Naturalmente aproximidade temporal no pode afastar-se integralmente dessas afirmaes. Ela se mostra margem. Teologia bblica teologia da histria. Deus se revela no tempo e no espao do ser humano. S que a margem no pode engolir ocentro. O eixo proftico, o testemunho da santidade de Deus como fora para o arrependimento, no pode seramassado para tornar-se uma cronologia sagrada.

    A pergunta sobre a hora permanece margem, aberta, modificvel e adivel. Neste ponto Deus reserva algo para sie sua majestade. No compete aos humanos saber o tempo e a hora. Eles no recebem em mos um cronograma fixo,segundo o qual pudessem dizer a Deus qual a prxima medida a tomar. To logo, porm, uma pessoa acredite quepode operar com um plano assim, este estraalhado pela palavra excelsa: para Deus, um dia como mil anos e milanos so como um dia. O ser humano precisa se satisfazer com o fato de que Deus faz tudo muito bem no seu tempo(cf. Is 60.22). Contudo, Deus o faz realmente, e o far dentro do tempo. por isso que a questo do tempo precisapermanecer presente como silenciosa guardi. Ela impede que o profetismo se torne uma filosofia.

    37. Uma pea central da expectativa proftica imediata o discurso do dia do Senhor e de suas correlaes. Aexpresso ocorre em Is 2.12; 13.6,9; 22.5; 34.8; Jr 46.10; Ez 7.19; 13.5; 30.3; Jl 1.15; 2.1,11,31; 3.14; Am 5.18-20; Ob15; Sf 1.7,8,14-18; Zc 14.1.Em todas as situaes, este dia um dia de luta, no qual Iahweh finalmente se impe aseus inimigos. Observemos elementos recorrentes. Primeiramente h o grito de guerra: O dia do Senhor estprximo! Trata-se de levantar da vida confortvel, colocar a armadura e reunir-se em torno da bandeira. Portanto,este o lugar vivencial do perto: no um convite ao calculismo, mas mobilizao. Do lado oposto, aconseqncia o pnico do terror de Iahweh. As mos fraquejam, os coraes desanimam, a resistncia desfalece. Aspessoas correm de um lado ao outro como doidos cegos. Depois acontecem maravilhosos fenmenos colaterais: a terratreme, estrelas se apagam, o cu se enrola, trevas e trovo aterrorizam. Agora, na batalha de destruio, desata-se afria da espada, o rugido e o clamor. O banho de sangue que se segue comparado com uma festa de abate (Jr 46.10,conforme a traduo de Menge). O vencedor determinado com terrvel rapidez. Ele passa por cima dos adversrios,de modo que nem sequer conseguem defender-se. Ningum escapa de sua superioridade absoluta. Ningum pode det-

    lo. Finalmente, o profeta descreve a devastao que fica para trs: as cidades esto em runas, a terra habitada poranimais ferozes. A vitria total. O primeiro a falar desse dia do Senhor foi o profeta Ams, mas ele j o pressupe c omo algo conhecido. Pelo

    que parece, ele tem diante dos olhos as expedies militares dos primrdios de Israel. Agora faz-se uma pont