22547501 enciclopedia-de-historia-medieval
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DICIONRIO DA IDADE MDIA
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Um mapa do mundo conhecido, tendo por centro a cidade de Jerusalm, de um saltrio ingls do incio do sculo XIII (British Library, Londres).
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DICIONRIO DA IDADE MDIA
Organizado por HENRY R. LOYN
Professor Emrito de Histria Medieval, Universidade de Londres
Com 250 ilustraes
Traduo: LVARO CABRAL
Licenciado em Cincias Histricas e Filosficas, Faculdade de Letras da Universidade Clssica de Lisboa
Reviso Tcnica: HILRIO FRANCO JUNIOR
Professor de Histria Medieval, Universidade de So Paulo
Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro
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Ttulo original: The Middle Ages - A Concise Encyclopaedia
Traduo autorizada da primeira edio inglesa publicada em 1989 por Thames and Hudson Ltd.,
de Londres, Inglaterra
Copyright 1989 Thames and Hudson Ltd., London
Copyright 1990 da edio em lngua portuguesa: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Mxico 31 sobreloja
20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 240-0226 / fax: (21) 262-5123
e-mail: [email protected]
Todos os direitos reservados. A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao do Copyright. (Lei 5.988)
Ilustrao da capa: Pierre Salmon, Rponses Charles VI et Lamentation au Roi, 1409 (Paris, Biblioteca Nacional)
CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.
D541 Dicionrio da Idade Mdia / organizado por Henry R. Loyn; traduo, lvaro Cabral; reviso tcnica, Hilrio Franco Jnior. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Ed., 1997: il.
Traduo de: The Middle Ages: a concise encyclopaedia
ISBN: 85-7110-151-5
1. Idade Mdia - Dicionrios. I. Loyn, H.R. 2. (Henry Royston).
CDD 940.1403 97-1721 CDU 940 (038)
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APRESENTAO EDIO BRASILEIRA:
BREVE PANORAMA MEDIEVAL
FRANKLIN DE OLIVEIRA
A grande maioria dos brasileiros continua prisioneira do
preconceito forjado pelos historiadores liberais do sculo XIX, que
definiam a Idade Mdia como um perodo de trevas. preciso soterrar,
de vez, equvoco to grosseiro. O Medievo no significa somente a
fundao da Europa em suas bases crist e romana. No bojo da Idade
Mdia gerou-se o mundo moderno. L, com Ockham, Oresme e outros,
surgiram os fundamentos da cincia contempornea, como to
claramente comprovou Pierre Duhem. Ao chamarem de obscurantista a
Idade Mdia, os historiadores liberais a ela opuseram o grande claro
do Renascimento. Ao faz-lo, esqueceram duas coisas: os inmeros
proto-renascimentos que ocorreram durante o Medievo, e o fato de que
os homens geniais da Renascena formaram-se no chamado Baixo
Medievo. E mais: esqueceram a revivescncia dos sentimentos religiosos
no Quatrocento, e ainda, que a Renascena no comeou com os
humanistas e Petrarca, mas com Francisco de Assis. E mais: que o
Medievo foi uma ecloso contnua de Renascenas: a Carolngia, a do
Sculo XII, a Franciscana, a Otoniana, a Escolstica, a Nominalista.
Duas Renascenas assinalaram o incio da Idade Mdia: a Carolngia, no
sculo IX, que promoveu a latinizao dos povos germnicos e sua
conquista espiritual pela Igreja Catlica, e a do Sculo XII, quando se d,
nos conventos, a ressurreio dos estudos clssicos, fonte do humanismo
europeu. Precedendo uma outra Renascena medieval a da
Escolstica, j referida , ocorre com a Patrstica o encontro do
Cristianismo com o mundo. Esse encontro foi preparado pelos padres
gregos, sobretudo Clemente e Orgenes. o momento da maturidade do
platonismo, que ilumina toda a Idade Mdia. Como pode um perodo to
rico em fatos culturais, que modelaram a fisionomia do Ocidente, ser
chamado de poca das trevas?
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claro que a civilizao medieval foi uma civilizao eminentemente
religiosa, mas no divorciou o homem da terra. Ela, a terra, se
transformou em sua oficina. Explodiram as invenes: a do arado, a do
moinho dgua e do moinho de vento, a dos teares etc. Se a atividade
rural continuou sendo a base de tudo, um insurgente artesanato
provocou um movimento de urbanizao. Com o nascimento das
cidades aceleraram-se as trocas, desenvolveu-se o comrcio.
Delinearam-se as bases de uma economia monetria. No h erro em
dizer que no sculo XII estabeleceram-se princpios econmicos que
ainda hoje regem a nossa civilizao.
Mas, quando se inicia a Idade Mdia?
Suas origens datam do final do Imprio Romano (comeo do sculo
V) e sua vigncia histrica estende-se at o sculo XVI, quando se
instaura a grande Renascena Italiana, que ela preparou. O Convento e
o Castelo so os seus emblemas, mas o maior de todos a catedral
gtica, que parecia procurar abolir as fronteiras entre o finito e o infinito.
Erwin Panofsky, o extraordinrio historiador da arte, formado na escola de
Warburg, e que fundou uma nova disciplina a histria da produo
das imagens , viu no gtico a trasladao esttica da Escolstica.
Sociedade densamente hierarquizada, a Idade Mdia foi, por isso
mesmo, cenrio de revoltas sociais contnuas que tm o seu paradigma
na Jacqurie, em que os camponeses oprimidos tentaram quebrar os
grilhes do feudalismo assassinando os seus senhores, violando suas
mulheres. A de 1358 foi seguramente a mais sangrenta de todas as
revoltas sociais do sculo XIV.
Se o cenrio social alberga insurreies camponesas, h no plo
oposto talvez a maior criao humana medieval: a Universidade, que
surge em Praga, Pdua, Bolonha, Salamanca, Paris, Montpellier,
Oxford, Cambridge, Viena, Cracvia e Heidelberg. Em Toledo funda-se
a escola dos grandes tradutores rabes, que redescobrem Aristteles.
Ao lado dos pensadores laicos formam-se, nos Pases Baixos e na
Rennia, as correntes dos msticos: Mestre Eckhart, Joo Tauler,
Henrique Suso e Jan Van Ruysbroeck. H a caa s feiticeiras. E h
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Dante. E h Giotto. Nas cidades flamengas, pintores como os irmos
Eyck, Rogier van der Weyden, e escultores como Sluter ampliam
gloriosamente o patrimnio cultural do Ocidente. Se os nomes de
Dante, Petrarca, Villon e o lirismo dos trovadores provenais no
bastassem para assegurar a grandeza literria medieval, teramos para
assegurar esta mesma grandeza a poesia proletria dos goliardos. Esses
poetas, que exaltavam o vinho e o amor fsico, foram os crticos
existenciais da sociedade medieval, rebelados contra as estruturas
estabelecidas, Jograis vermelhos, se assim se pode dizer.
Abelardo a primeira figura do intelectual moderno. Chamaram-
lhe de cavaleiro da dialtica.
Abelardo e Helosa. Ela tem 17 anos, bela e culta. O amor que
os une reala o significado da mulher no mundo, reforando a teoria
do amor natural tal como ele aparece no Romance da Rosa, um sculo
depois. A apario de Helosa ao lado de Abelardo a glorificao da
carne, do amor carnal que mais tarde os humanistas iriam considerar
o principal requisito da plenitude do ser humano. Estamos longe do
lirismo abstrato dos trovadores e da aura do Tristo e Isolda, em que
pese o erotismo intenso da lenda. Ao falar dos homens da Idade Mdia,
um historiador moderno no se conteve, e exclamou: Mas esses
homens somos ns mesmos! Nossa modernidade vem de l,
queiramos ou no.
H um fato singelo, mas que fulmina o mito do obscurantismo
medieval. Ele encontrado no traje, sobretudo no vesturio feminino. A
Idade Mdia tinha averso s cores sombrias. As mulheres medievais
usavam roupas que seguiam a linha do corpo, expondo-lhes sobretudo
o busto no tinham nada de monacal. Serviam ao corpo e no alma.
Mas a valorizao da mulher padeceu, na Idade Mdia, de grave
limitao, consubstanciada no direito de pernada: verso popular do
ijus primae noctis. A camponesa que casasse era obrigada, na primeira
noite de npcias, a entregar a sua virgindade ao patro ou ao capataz
por ele indicado.
Era intenso o cultivo da vinha no Medievo. O vinho estava sempre
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presente em todos os momentos, festivos ou no, da sociedade
medieval, que distinguia entre o escravo, tratado como coisa, e o servo
da terra, que podia possuir famlia, alm de uma minscula
propriedade onde praticava a agricultura de sobrevivncia.
A partir do sculo XIII, o ponto de partida da reflexo econmica
o mesmo de Adam Smith: o problema da diviso do trabalho. Em um
curso ministrado em 1763, em Glasgow, Adam Smith conservava ainda
o esquema do tratado dos escolsticos. S mais tarde, no Inqurito
sobre a natureza e as causas da riqueza das naes, separar a filosofia
moral da cincia econmica, emancipando esta ltima.
Apesar de manter o seu universalismo religioso, no final da Idade
Mdia surgem os espaos nacionais: nascem os Estados. O latim,
lngua comum, se assim podemos dizer, perde a sua hegemonia
cultural. Surgem as lnguas nacionais. Comea a se desenvolver uma
analogia entre o mundo e o homem, entre o macrocosmo e esse
universo em miniatura que o ser humano.
Publica-se a grande enciclopdia de Adelardo de Bath que explora
longamente a anatomia e a fisiologia humanas. O humanismo
medieval no esperou pelo humanismo renascentista para penetrar os
segredos do corpo. E retornou concepo estica do mundo como
uma fbrica: ela produz segundo a vontade do homem. A oposio
entre a razo e a experincia se torna menor graas a Roger Bacon e
Rober Grosseteste. O empirismo comea a dar sinais de vida.
A Idade Mdia constituda de ciclos: o de Carlos Magno, o de
Alexandre, o Grande, o de Rolando, o do rei Artur, do qual demanda
um ideal de justia e de f religiosa, de procura da bem-amada
inatingvel, da galanteria cavaleiresca, dos sentimentos de honra, do
misticismo e das faanhas guerreiras. Mas esses ciclos guardam entre si
profundas diferenas. No breto, predomina o sentimento amoroso;
no ciclo carolngio, a predominncia guerreira.
A necessidade de delimitar o gigantesco territrio que se estende
da Antigidade Modernidade determinou a criao do perodo
medieval e da diviso tripartida do mundo Antigidade Clssica,
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poca Romana e Idade Mdia , diviso que veio a ser consagrada em
1583, por Christoph Keller, embora nunca se registrasse concordncia e
unanimidade quanto a tais delimitaes.
S no sculo XVIII, na Frana, conceituao e limites do Medievo
foram aceitos. Essa aceitao chegou Inglaterra, e estendeu-se ao
Continente Europeu. Superado esse problema, surgiu um outro: o das
subdivises. A Idade Mdia no era vista como uma unidade
inconstil. Na Frana, chamou-se Alta Idade Mdia ao perodo que se
prolongaria at as Cruzadas; e Baixa Idade Mdia ao perodo que se
iniciou logo aps e terminou no sculo XV. Os alemes e os ingleses
preferem outra subdiviso: Alta Idade Mdia (sculos XII e XIII).; Idade
Mdia Tardia, para o perodo terminal; Primeira Idade Mdia (sculos XI a
XIII) e ltima Idade Mdia (sculos XIII a XV). H outras designaes em
ingls: Alta Idade Mdia e Idade Mdia Central. Todas estas divises
contm, porm, o seu gro de arbitrariedade histrica.
Desde o humanismo renascentista a Idade Mdia vista de
diversos ngulos. O mais importante deles o de Erasmo de
Rotterdam, o prncipe do humanismo, que lhe negou o obscurantismo.
Mas a reabilitao do Medievo comea, de fato, com os romnticos, na
Alemanha e na Frana. Goethe no ficou insensvel a tal revalorizao.
Na Alemanha, sobretudo Novalis levou mais longe a apologia da Idade
Mdia. Na Frana, Chateaubriand restaurou o prestgio dos temas
medievais, embora a sua Idade Mdia seja inteiramente convencional.
Em Notre Dame de Paris, Victor Hugo nos d uma fremente imagem do
Medievo. Mrime iniciou os estudos sobre a arte romnica sob a
influncia do escritor escocs Walter Scott que, nos seus romances em
estilo pico, usou temas do perodo medieval. Ainda na Inglaterra, Lorde
Acton colocou a Antigidade Clssica e a Idade Mdia no mesmo p de
igualdade.
O gtico, os pintores flamengos, os construtores de catedrais, os
trovadores provenais e os goliardos compuseram a legenda urea da
arte e da literatura medievais. Mas, pergunta-se, numa civilizao
eminentemente religiosa, no houve espao para a msica, a
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manifestao mais alta da transcendncia divina no homem?
Houve. A primeira obra da literatura moderna o Hinrio da
Igreja Latina. O Te Deum o maior documento do esprito de
resistncia aos romanos, nos terrveis sculos IV a VI. A lrica
especificamente crist do Ocidente latino inicia-se com os hinos da
Igreja. Os modelos desses cantos litrgicos j existiam no Oriente, mas
sobretudo Ambrsio quem os introduz na igreja Ocidental.
Ningum ignora que o lirismo trovadoresco deriva das formas da
poesia da Igreja Crist, apesar dos trovadores provenais serem
herticos e anticlericais. As cortes da Provena eram heterodoxas. No
entanto, o primeiro fato a antecipar o nascimento do lirismo
trovadoresco foi a mstica de So Bernardo e de Hugo de Saint-Victor.
As cartas trocadas entre frades e monges dos sculos X, XI e XII,
cartas de louvor mulher amada, cartas impregnadas da influncia de
Ovdio foram as fontes onde os trovadores saciaram sua sede de beleza.
O trovadorismo provenal celebra o florescimento da vida, tal como a
exortao alegria feita pela hinologia da Pscoa. Trovadores e
minnesaenger aprenderam e incorporaram sua potica as formas e
os ritmos da igreja Medieval. Esses poetas fizeram apenas um caminho
inverso: partiram do santo para o profano.
Cai gloriosamente a noite medieval. Prorrompe, irrompe
implodindo luz, o Renascimento. Mas Thode, Burdach, Carl Neumann,
Sabatier, Gebhart, Zabughin, Garin e tantos outros so unnimes em
afirmar que o Renascimento foi gestado no tero da Idade Mdia. A
compreenso deste fato essencial para a nossa prpria
compreenso: o Brasil descoberto na Renascena, mas a sua
civilizao se faz sob o signo do Medievo.
Hoje, grandes historiadores ingleses e franceses, dentre os quais
se destacam Georges Duby e Jacques le Goff, Guy Fourquin e George
Holmes, esto desmontando o mito alinhavado pelos historiadores
liberais do sculo XIX, sobretudo por Michelet. A reviso total,
assentada no rigor da anlise documental, que torna a fraude da
histria um fato arquivvel.
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Por tudo isto, por se colocar sempre contra a prostituio da
histria, o editor Jorge Zahar teve a coragem de empreender a edio
brasileira deste Dicionrio da Idade Mdia, que no pode faltar a
nenhuma biblioteca. Confiou a sua traduo a lvaro Cabral homem
de saber, e no apenas tradutor competentssimo, que enriqueceu este
dicionrio com algumas notas sobre o Medievo Portugus , e a sua
reviso tcnica a um especialista, Hilrio Franco Junior, professor de
histria medieval da Universidade de So Paulo. A idoneidade da edio
est plenamente assegurada, para honra da indstria editorial
brasileira.
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GUIA DO LEITOR PARA USO DESTE LIVRO
A Idade Mdia foi dominada durante muito tempo, no esprito do
grande pblico, por imagens de faanhas cavaleirescas e ritual corteso,
pelo fervor espiritual e pela sanginria violncia dos cruzados. Esses
conceitos pitorescos tm sido propensos a obscurecer o verdadeiro
valor do perodo como uma idade de real progresso em todas as reas,
de evoluo poltica e social, de criatividade artstica e intelectual, de
avano comercial e cientfico.
uma tarefa enorme fazer justia a esse panorama deformado, e
tivemos que ser necessariamente seletivos. O intuito preponderante, do
comeo ao fim do volume, foi fornecer tanto ao principiante quanto ao
especialista uma apresentao sumria do pensamento atual sobre os
protagonistas, eventos e temas principais relacionados com a histria
da Europa desde a Escandinvia at o Oriente Mdio entre os
anos de 400 e 1500, aproximadamente. Dentro desse vasto campo
geogrfico e histrico, tentamos estabelecer um equilbrio entre verbetes
concisos, fatuais, sobre batalhas, tratados, indivduos e localizaes
principais, e um tratamento mais discursivo de tpicos de vivo interesse
como background. O dicionrio deve, portanto, ser de comprovada
utilidade para estudantes e estudiosos como um aide-mmoire, para
verificar rpida e facilmente fatos essenciais; e como estimulante guia e
companheiro para o leitor curioso, com um interesse mais genrico
sobre o perodo.
Um dicionrio como este, de carter enciclopdico, deve ser mais
do que uma inerte coleo de fatos essenciais e, a fim de habilitar o
leitor a seguir uma criativa linha de investigao de verbete para
verbete, as remisses foram especialmente organizadas para auxiliar a
liberdade de movimento, dentro do texto, sem prejudicar a legibilidade.
A maioria dos nomes prprios no participou das remisses, uma vez
que quase todos eles, como se pode supor, tm verbetes especficos. Os
assuntos enumerados no final de um verbete encaminham o leitor para
tpicos afins ainda no mencionados, mas que podero ser de
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interesse complementar.
Obras gerais de referncia so sugeridas na Nota bibliogrfica da
p.371, mas ttulos mais especficos foram tambm fornecidos em
praticamente todos os verbetes para proporcionar uma completa e
atualizada bibliografia. Preocupamo-nos em indicar ttulos recentes e
facilmente acessveis, salvo quando publicaes mais antigas continuam
sendo as obras que representam o tratamento clssico de determinado
assunto. Quanto aos verbetes onde no dada qualquer referncia
bibliogrfica, as remisses conduziro o leitor para um verbete mais
extenso, associado, onde os ttulos pertinentes so indicados.
As ilustraes foram especialmente escolhidas por seu interesse
documental; os nmeros entre colchetes no final de um verbete indicam
pginas em outras partes do livro onde ilustraes referentes ao assunto
do verbete podem ser encontradas. Tambm se oferecem dois mapas
gerais nas pp. XII e XIII, e numerosos mapas menores e quadros
genealgicos foram inseridos ao longo do texto. Os verbetes mais
substanciais so atribudos aos seus autores de acordo com a chave
fornecida na p. XI, com a Lista de colaboradores.
A minha dvida como organizador deste dicionrio grande
para com numerosos amigos, colegas e estudantes
pesquisadores, que me ajudaram nos verbetes apropriados s
suas respectivas especialidades. A dra. Anne Dawtry, falecida
sra. Jane Hebert e a sra. Sara-Jane Webber atuaram como
subeditoras para algumas sees nas fases iniciais do
empreendimento; a sra. Michelle Brown, a dra. Elizabeth M.
Hallam, a sra. Elizabeth Lockwood e a dra. Cathy Harding
prestaram considervel ajuda nas fases subseqentes. As sras.
Miriam van Bers, Helena Reid e Anne Markinson mantiveram o
editor de texto sob controle, garantindo que as inevitveis
dificuldades no se tornassem incontrolveis. Meus
agradecimentos a todos e, em especial, ao quadro editorial da
Thames and Hudson.
HENRY LOYN
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Nota da edio brasileira
Dois tipos de informaes foram acrescidos ao texto original
para melhor servir aos leitores de lngua portuguesa: em alguns
casos, informaes de contedo, quase sempre complementando
dados sobre a histria de Portugal medieval; mais
freqentemente, informaes bibliogrficas, indicando tradues
em lngua portuguesa ou espanhola em substituio s mesmas
obras citadas em ingls, ou ainda fazendo indicaes extras em
verbetes importantes ou desprovidos de bibliografia. Todos esses
acrscimos aparecem entre colchetes, assinalados com NT
quando devidos ao tradutor, sendo os demais de
responsabilidade do revisor tcnico.
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LISTA DE COLABORADORES
DB Dr. David Bates, professor titular de Histria, University
College, Cardiff CB Christopher Brooke, professor de Histria Eclesistica (Dixie
Professor), Gonville and Caius College, Cambridge RB Dra. Rosalind Brooke, docente de Histria, Universidade de
Cambridge MB Michelle Brown, assistente de pesquisa, Departamento de
Manuscritos, British Library, Londres SB Sarah Brown, Diviso de Arquitetura, Royal Commission on the
Historical Monuments of England, Londres RAB R. Allen Brown, professor de Histria, Kings College, Universidade
de Londres TJB T. Julian Brown, professor de Paleografia, Kings College,
Universidade de Londres DC David F. L. Chadd, diretor, Escola de Histria da Arte e Msica
da Universidade de East Anglia WD Wendy Davies, professora de Histria, University College,
Londres AD Dra. Anne Dawtry, professora de Histria, Chester College,
Chester PD Dr. Peter Denley, professor de Histria, Westfield College,
Universidade de Londres ADD Alan Deyermond, professor de Espanhol, Westfield College,
Universidade de Londres GE Dr. Gillian Evans, Fellow, do Fitzwilliam College, Cambridge JF Jill Franklin, Universidade de East Anglia PG Philip Grierson, professor Emrito e Fellow do Gonville and
Caius College, Cambridge EMH Dra. Elizabeth M. Hallam, conservadora-assistente do Public
Record Office, Londres CH Dra. Catherine Harding, Departamento de Arte, Queens
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University Kingston, Canad JH Jane Herbert, Westfield College, Universidade de Londres RH Rosalind Hill, Professora Emrita de Histria, Westfield College,
Universidade de Londres GK Dr. Gillian Keir, Westfield College, Universidade de Londres CHK Dr. Clive Knowles, professor de Histria, University College,
Cardiff CHL C. Hugh Lawrence, Professor Emrito de Histria, Royal
Holloway and Bedford New College, Universidade de Londres EL Elizabeth Lockwood, Westfield College, Universidade de
Londres HRL Henry Loyn, Professor Emrito de Histria, Westfield College,
Universidade de Londres DL David Luscombe, professor de Histria Medieval, Universidade
de Sheffield GM Professor Geoffrey Martin, Conservador do Public Record Office,
Londres RIM Robert I. Moore, professor-assistente de Histria Medieval,
Universidade de Sheffield JLN Dra. Janete Nelson, professora de Histria, Kings College,
Universidade de Londres DN Donald M. Nicol, professor de Grego Moderno e Histria, Lngua
e Literatura Bizantinas, Kings College, Universidade de Londres CP Ciaran Prendergast, Royal Holloway and Bedford New College,
Universidade de Londres JR-S Jonathan Riley-Smith, professor de Histria, Royal Holloway
and Bedford New College, Universidade de Londres NR Nicolai Rubinstein, Professor Emrito de Histria, Westfield
College, Universidade de Londres DJS Dr. D. Justin Schove, diretor da St. Davids School,
Beckenham IS Ian Short, professor de Francs, Birkbeck College,
Universidade de Londres
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JS Jane Symmons, Westfield College, Universidade de Londres TSS T.S. Smith RT Dr. Rodney Thomson, Departamento de Histria, Universidade
da Tasmnia S-JW Sara-Jane Webber, Westfield College, Universidade de Londres
sw Steven Wilson, School of Oriental and African Studies, Universidade de Londres
GZ George Zarnecki, Professor Emrito, Courtauld Institute of Art,
Londres
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A Abdida, dinastia Fundada pelo vizir e cdi Abu el-Kacim Maom Ibn-Abbad (1023-42), em cujas veias corria sangue rabe e espanhol, a
dinastia Abdida governou Sevilha entre a queda do califado de Crdova
e a conquista almorvida da Espanha muulmana. Durante o seu
domnio, Sevilha tornou-se o mais prspero dos reinos taifa, que eram
os Estados sucessores do califado, absorvendo um certo nmero de
taifas menores e conquistando Crdova em 1070. A corte abdida era o
centro de uma brilhante cultura potica; os prprios reis eram poetas.
O ltimo da linhagem, al-Mutamid, foi deposto e aprisionado pelos
almorvidas em 1091.
D. Wasserstein, The Rise and Fall of the Party-Kings (1986)
Abssida, dinastia Os califas abssidas ou sucessores de Maom exerceram autoridade sobre grande parte do mundo muulmano,
coincidindo o seu perodo de maior triunfo nas artes e na poltica com o
reinado de Harun al-Rachid (786-809), um contemporneo de Carlos
Magno. Subiram ao poder frente das faces xiitas que se opunham
aos omadas mas, aps suas vitrias no final da dcada de 740, quando
todo o mundo muulmano, exceto a Espanha (que permaneceu leal aos
omadas), ficou-lhes submetido, adotaram os ritos sunitas da maioria e
transferiram sua capital de Damasco mais para leste, construindo a
grande e nova cidade de Bagd. A influncia persa, com suas tradies
de absolutismo oriental, tornou-se predominante na administrao
abssida; os interesses da dinastia concentraram-se cada vez mais no
Oriente, com vistas s grandes rotas comerciais para a ndia e a China.
Um califado separado foi estabelecido no Egito e na Palestina sob o
domnio dos fatmidas no sculo X, e os abssidas viram seu papel
reduzido ao de lderes religiosos e cerimoniais, passando o efetivo poder
para os turcos seljcidas, que conquistaram Bagd em meados do
sculo XI e, finalmente, para os mongis, que aboliram o califado em
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1258. [213]
The Cambridge History of Islam, vol. I, org. por P. Holt, A. Lambton e
B. Lewis (1970)
Abbon de Fleury, Santo (954-1004) Um dos homens mais eruditos de seu tempo, Abbon escreveu tratados sobre autoridade papal,
astronomia e matemtica. Educado nas escolas de Fleury, Reims e
Paris, apoiou os reformadores de Cluny e, aps um perodo de exlio na
Inglaterra, foi eleito abade de Fleury em 988. J tinha ento a reputao
de ativo reformador monstico, determinado a manter os mosteiros
livres de controle episcopal e secular. Desempenhou um papel na
renovao beneditina inglesa, especialmente na abadia de Ramsey.
D. Knowles, The Monastic Order in England (1950); P. Cousin, Abbon
de Fleury-sur-Loire (1954)
Abd el-Malik califa 685-705 (n. 647) Foi o verdadeiro responsvel pela consolidao do poder da dinastia Omada. Cognominado pelos
historiadores como o pai dos reis, ele e seus quatro filhos dominaram
o califado at a dcada de 740 e, sob a direo deles, a partir de sua
base em Damasco, a f islmica propagou-se desde as regies
montanhosas da Espanha at a provncia de Sind na ndia. A
contribuio pessoal de Abd el-Malik consistiu em reconciliar faces
rivais e em estimular o controle militar no Ocidente (Cartago caiu em
698) e no Oriente. Destacaram-se dentre os atributos imperiais da
dinastia, o consumo ostensivo e a construo da grande mesquita de
Ornar, mais conhecida como a Cpula do Rochedo.
Dinar de ouro do califa Abd el-Malik
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Abd el-Rahman I governante omada da Andaluzia 756-88 (n. 731) ltimo membro remanescente da dinastia Omada aps sua derrubada
pelos abssidas; em 756 instalou-se como emir independente de
Crdova, na Espanha. Durante seu reinado, pde controlar as vrias
faces no interior da Espanha e obteve at o apoio dos bascos cristos
contra as incurses dos francos. Por exemplo, a tentativa de Carlos
Magno de conquistar a Espanha em 778, auxiliado por Ibn el-Arabi de
Saragoa, fracassou em conseqncia de uma aliana entre Abd el-
Rahman e os berberes cristos da regio basca. Os francos foram
derrotados e sua retaguarda completamente eliminada no desfiladeiro
de Roncesvalles, nos Pireneus, na batalha que deu origem ao famoso
poema pico, a Cano de Rolando, uma vez que Rolando, o governador
da Bretanha, estava entre os que a morreram. Aps o falecimento de
Abd el-Rahman, a guerra civil eclodiu de novo no reinado de seu filho,
Hisham I (788-96), e prosseguiu durante quase um sculo.
P. Hitti, History of the Arabs (1951)
Abelardo, Pedro (1079-1142) Filsofo e telogo, natural de Le Pallet, perto de Nantes. Sua carreira foi incomumente variada para um mestre
escolstico: foi educado em Loches ou Tours sob a orientao de
Roscelino de Compigne, estudou em Paris com Guilherme de
Champeaux e em Laon com Anselmo de Laon. Polemizou violentamente
com todos esses mestres. Lecionou em escolas de Paris, Melun e Corbeil
at 1119, quando casou secretamente com Helosa, sobrinha do cnego
Fulbert de Paris. Aps o nascimento do filho de ambos, Astrolbio,
Abelardo foi castrado fora por agentes de Fulbert. Tendo
providenciado o ingresso de Helosa como freira no convento de
Argenteuil, Abelardo tornou-se monge no vizinho mosteiro abacial de
Saint-Denis. Mas no tardou em voltar ao ensino e em 1121 sofreu sua
primeira condenao como hertico em Soissons.
A partir de 1122, lecionou num retiro rural em Quincey, na
Champagne, e desde cerca de 1127 foi abade de Saint-Gildas-de-Rhuys,
na sua Bretanha natal. Em ambos os lugares Abelardo viu-se
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perseguido por dificuldades mas, enquanto abade, providenciou para
que Helosa iniciasse um novo convento em Quincey, dedicado ao
Paracleto. Por volta de 1136 reapareceu nas escolas de Paris, onde teve
dentre seus ouvintes Joo de Salisbury. Uma segunda e mais
devastadora condenao ocorreu num Conclio realizado em Sens, em
1140, e essa foi confirmada pelo papa Inocncio II. A derrota veio aps
veementes debates entre, de um lado, Abelardo e seus adeptos, que
incluam Arnaldo de Brscia, e, do outro, Bernardo, o influente abade
de Claraval, e muitos bispos da Frana. Abelardo retirou-se ento para
a abadia de Cluny, onde contou com a amizade do abade Pedro, o
Venervel. Morreu no priorado de Saint-Marcel, em Chalon-sur-Sane,
em (ou logo aps) 1142. Pedro, o Venervel, transferiu os restos mortais
de Abelardo para o Paracleto, onde Helosa permaneceu como abadessa
at falecer em 1164.
Abelardo e Helosa num capitel esculpido do sculo XIV
na Concirgerie, Paris.
Retratar Abelardo como um paladino da emancipao intelectual
do domnio de monges que eram inimigos do saber, da cultura e da
pesquisa, simplificar as tenses que culminaram nas duas
condenaes de Abelardo por heresia. Dentre seus crticos estavam
homens de indiscutvel talento, no s Bernardo de Claraval mas
tambm Guilherme de Saint-Thierry e Hugo de Saint-Victor, enquanto
que Abelardo (ele prprio um monge na maior parte de sua vida) se
deliciava em disputas provocantes. Na Histria Calamitatum [Histria
das Minhas Desgraas], Abelardo responsabiliza a inveja de seus rivais
e o seu prprio orgulho por seus fracassos. Mas conquistou o interesse
e a devoo de mais de uma gerao de estudantes por ter tornado a
-
lgica de Aristteles clara e por ter explorado com brilhantismo as
funes e limitaes da linguagem.
Como filsofo, Abelardo foi corretamente descrito como um no-
realista. No incio de sua carreira, afastou-se da concepo
predominante que via os universais (por exemplo, gnero, espcie) como
coisas existentes (res). Distinguiu-se mais por suas penetrantes glosas a
textos de Aristteles do que pela criao de uma sntese filosfica. Em
teologia, Abelardo examinou criticamente as tradies recebidas do
pensamento cristo; sua obra Sic et Non uma tentativa de resolver as
aparentes contradies existentes no mbito do ensino cristo atravs
da aplicao da dialtica. Seus mtodos no eram incomuns para a
poca, mas suas concluses foram julgadas imprudentes por muitos.
Seus ensinamentos teolgicos refletiram seu no-realismo dialtico;
apresentou a Trindade em termos de atributos divinos (poder, sabedoria
e amor) e no de pessoas divinas. Considerou o trabalho de redeno do
Cristo menos como um fato objetivo (a libertao do homem do pecado
ou do demnio) do que como um exemplo de ensino e sacrifcio que
provoca uma resposta subjetiva ao amor divino. Na tica, Abelardo
afastou-se da preocupao com aes para dedicar-se ao estudo da
inteno e do consentimento. Sua tendncia para a interiorizao
tambm ficou evidente nas substanciais contribuies literrias,
legislativas e litrgicas que fez para o estabelecimento do convento do
Paracleto, tendo Helosa como abadessa: as monjas eram exortadas a
estudar e orar, e a no se sentirem tolhidas, mais do que o necessrio,
por observncias externas. Abelardo admirava as figuras contemplativas
que tinham sido modelos de sabedoria e virtude, fossem eles pagos,
como Scrates ou Plato, Ccero ou Sneca, profetas, como Elias ou
Joo Batista, ou monges cristos primitivos, como Antnio e Jernimo.
Todos eles amaram a sabedoria e todos, portanto, como Cristo,
mereceram o nome de filsofos.
As avaliaes sobre o que, em termos gerais, Abelardo realizou so,
inevitavelmente, complacentes ou crticas em excesso. Suas
contribuies originais para a ascenso da Universidade de Paris e do
-
movimento escolstico medieval receberam por vezes uma ateno
exagerada, mas ele produziu urna impresso muito forte sobre os
escolsticos de seu tempo, mesmo que rapidamente seus interesses e
livros tenham sido rejeitados ou, na melhor das hipteses, podados por
seus sucessores. As suas principais obras so, na lgica, Dialectica, e os
comentrios sobre a lgica aristotlica; na teologia, o j citado Sic et Non
e a Theologia (tendo ambas as obras passado por sucessivas revises), a
Ethica o Scite te ipsum [tica ou Conhece-te a Ti Mesmo], comentrios
sobre o incio do Gnese e sobre a Epstola aos Romanos, e o Dialogus
inter Judaeum, Philosophum et Christianum [Dilogo entre um Judeu,
um Filsofo e um Cristo]. Hoje, sua popularidade deve-se
principalmente correspondncia com Helosa. As cartas podem no ter
circulado antes de meados do sculo XIII, e sua autenticidade
contestada algumas vezes, sobretudo por causa da dificuldade em
interpretar as letras dos autores. Mas o seu caso de amor despertou
considervel interesse no s imediato mas ao longo de toda a Idade
Mdia. Abelardo foi tambm um talentoso poeta e msico. DL
E. Gilson, Heloise and Abelard (1953); D.E. Luscombe, The School of
Peter Abelard (1969); Ablard en son Temps, org. por J. Jolivet (1981)
Abu Bakr califa 632-34 O primeiro califa ou sucessor de Maom e sogro do Profeta. Venceu as faces no interior da Arbia, expandiu o Isl em
toda a Pennsula Arbica e, no ltimo ano de sua vida, obteve sobre as
foras bizantinas grandes vitrias que abriram o caminho para a
conquista da Palestina. Seu principal instrumento em suas iniciativas
militares foi o general Khalid ibn el-Valid, Espada de Al, conquistador
final de Damasco (635).
P. Hitti, History of the Arabs (1951)
Acordo de Kenilworth (1266) Negociado entre Henrique III e os bares ingleses, foi um importante acordo constitucional que ps fim
tentativa baronial de reforma governamental iniciada em 1258. Deu aos
rebeldes a oportunidade de recuperarem suas terras, em troca de sua
aceitao da restaurao da monarquia.
-
F.M. Powicke, King Henry III and the Lord Edward (1947)
Acrcio, o Glosador (c. 1182-1260) Natural de Florena e professor de Direito na Universidade de Bolonha, especialmente famoso por seus
comentrios sobre o Cdigo, Institutos e Digesto de Justiniano, os quais
se tornaram leitura obrigatria para o estudo dessas obras nas
universidades medievais. Faleceu em Bolonha e foi sepultado no adro
da igreja da Ordem Franciscana. Seu filho Francisco tambm foi um
jurista de considervel renome, tendo feito seu doutorado em direito
com apenas 17 anos de idade.
W. Ullmann, Law and Politics in the Middle Ages (1975)
Ado de Bremen (m.c 1081) Cnego de Bremen que se tornou diretor da escola da catedral dessa cidade em 1066. Escreveu uma histria
eclesistica em quatro livros, nos quais descreveu a expanso do
Cristianismo na Europa setentrional, sobretudo nas dioceses de
Bremen e Hamburgo. A obra termina com um valioso tratado sobre a
situao da Dinamarca no terceiro quartel do sculo XI.
B. Schmiedler, History of the archbishops of Hamburg-Bremen (1959)
Adelaide, Santa (931-99) Segunda esposa de Oto I, o Grande, e filha de Rodolfo II de Borgonha. Em 947 tornou-se noiva de Lotrio, filho de
Hugo, rei da Itlia. Aps a morte de Lotrio em 950, ela foi capturada e
encarcerada por Berengrio, margrave de Ivrea, porque se recusou a
casar com seu filho. Fugiu em 951, buscando refgio em Canossa.
Casou no mesmo ano com Oto, o Grande, e foi coroada imperatriz em
962. Acompanhou Oto em sua terceira campanha na Itlia, em 966, e
depois da morte do marido permaneceu ativa no governo at se
desentender com seu filho, Oto II. A reconciliao ocorreu em 983 e ela
foi nomeada vice-rei na Itlia. Desempenhou um importante papel no
governo durante a menoridade de Oto III, junto com a viva de Oto II,
Tefane, e foi destacada defensora da reforma cluniacense.
K.J. Leyser, Rule and Conflict in an Early Medieval Society (1979)
Adelardo de Bath (1090-1150) Monge, matemtico e cientista ingls
-
que traduziu para o latim algumas das obras dos matemticos
islmicos Al-Khwarismi e Abu Machar. Acredita-se que tenha sido
tambm ele quem introduziu no mundo ocidental o conhecimento do
astrolbio, um instrumento cientfico (herdado dos gregos atravs dos
rabes) para informar a hora mediante a observao do Sol, e para
encontrar latitudes e calcular altitudes. Sua traduo de uma verso
rabe de Euclides tornou-se um compndio clssico de geometria no
mundo ocidental.
F.J.P. Bliemetzrieder, Adelhard von Bath (1935); M. Clagett, Dictionary
of Scientific Biography, org. por C.C. Gillespie (1970)
Ademar (m. 1098) Bispo de Le Puy. Nomeado legado apostlico para a Primeira Cruzada, acompanhou os cruzados na expedio ao Oriente
Prximo. Negociou com o imperador Aleixo Comneno em Nicia,
restabeleceu alguma disciplina entre os cruzados e morreu pouco
depois da tomada de Antioquia.
G.J. dAdhmar Labaume, Adhmar de Monteil, vque du Puy (1910)
adocionismo Ver heresia adocionista
Adriano I papa 772-95 Um dos mais influentes papas no perodo inicial da Idade Mdia, Adriano convidou Carlos Magno e os francos a apoi-lo
contra a presso lombarda. A interveno provou ser decisiva: o reino
lombardo foi esmagado e Carlos Magno adotou o ttulo de rei dos
lombardos. Adriano manteve intato, de forma bastante habilidosa, o
controle papal no centro da Itlia em face da nova situao poltica,
reparou e reconstruiu a prpria cidade de Roma, e abriu caminho,
mediante uma srie de delicadas negociaes com Constantinopla, para
uma nova ordem no Ocidente, a qual foi simbolizada, em ultima
instncia, pela coroao imperial de Carlos Magno em 800 pelas mos
do sucessor imediato de Adriano, o papa Leo III.
D. Bullough, The Age of Charlemagne (1966)
Adriano IV (Nicolau Breakspear) papa 1154-59 (n.c 1100) O nico ingls que at hoje ascendeu ao trono papal. Natural de Abbots
-
Langley, perto de St. Albans, foi cnego da abadia de Saint-Ruf, nas
vizinhanas de Aries, na Frana, da qual foi eleito abade em 1137. Foi
nomeado cardeal-bispo de Albano pelo papa Eugnio III (1148-53), e
depois serviu como legado papal na Escandinvia. Organizou os
negcios do arcebispado de Trondheim e estabeleceu acordos que
resultaram no reconhecimento de Uppsala como sede do metropolita
sueco. Aps seu regresso, Breakspear foi bem recebido pelo sucessor de
Eugnio, Anastcio IV, e com a morte deste ltimo foi eleito papa.
Embora tivesse coroado Frederico Barba-Ruiva como soberano do Sacro
Imprio Romano-Germnico em 1155, seu pontificado foi seriamente
perturbado por disputas com Frederico, as quais ainda no tinham sido
resolvidas ao tempo da morte de Adriano.
W. Ullmann, The Pontificate of Adrian IV, Cambridge Historical
Journal (1955); R. Southern, Pope Adrian IV, Medieval Humanism and
other Studies (1970)
Acio Flvio (c. 396-454) General romano. Natural do Baixo Danbio, era filho de um general romano e de uma nobre italiana, mas passou
boa parte de sua juventude como refm, primeiro dos godos e mais
tarde dos hunos. Em 435, fez uso de auxiliares hunos ao subjugar os
borgonheses, mas quando os hunos se tornaram uma real ameaa para
o Imprio Romano, sob o comando de tila, Acio foi forado a atac-
los. Em maio de 451 sustou-lhes o avano em Orlans mas no
conseguiu obter uma vitria decisiva, e tila pde se dedicar a novas
conquistas na Itlia. Acio foi assassinado em 454 pelo imperador
Valentiniano III, que temia que os continuados xitos de Acio como
comandante das foras militares romanas acabassem resultando em
sua prpria deposio em favor do general.
Afonso I rei das Astrias 739-57 Genro de Pelgio (lder visigodo da resistncia asturiana contra a invaso rabe) e provavelmente
descendente de reis visigodos. Afonso foi escolhido para governar as
Astrias quando seu cunhado Fafila foi morto por um urso. No prazo de
um ano, a revolta das guarnies brberes por toda a Pennsula Ibrica
-
e a guerra civil resultante, deram a Afonso a oportunidade de
ultrapassar as fronteiras de seu pequeno e montanhoso territrio, e
conquistar terras muito ao sul do rio Douro; a Galcia, a Cantbria, La
Rioja e parte de Leo caram em seu poder. As reas meridionais foram
devastadas e evacuadas, criando uma extensa terra de ningum, e as
regies setentrionais foram fortalecidas dos pontos de vista demogrfico
e militar. Quando Afonso morreu, o reino das Astrias estava
solidamente estabelecido e estendia-se desde a costa atlntica da
Galcia at a fronteira oriental de La Rioja; no sculo seguinte,
converteu-se no reino de Leo.
C. Snchez-Albornoz, Orgenes de la nacin espaola: el reino de
Asturias, vol. I (1972)
Afonso V, o Magnnimo rei de Arago 1416-58 (n. em 1395) Neto de Joo I de Castela e filho de Fernando de Antequera, foi criado na corte
castelhana at seu pai ser coroado rei de Arago em 1412. Sucedeu ao
pai como rei em 1416 e, durante seu reinado, defrontou-se com
numerosos problemas: a aristocracia aragonesa tinha cimes dos
conselheiros castelhanos de Afonso e, ao mesmo tempo, o campesinato
catalo estava constantemente procurando conquistar sua
independncia da Coroa.
Foi bem-sucedido, porm, no prosseguimento da expanso
ultramarina de Arago. Pacificou a Sardenha e a Siclia em 1420 e, aps
inmeras dificuldades, conseguiu conquistar Npoles em 1442.
Transferiu depois sua corte para ali e nunca mais voltou Espanha.
Quando morreu, em 1458, sucedeu-lhe em Npoles seu filho ilegtimo
Berrante (ou Ferdinando I) e em Arago seu irmo Joo. O cognome o
Magnnimo atribudo a Afonso V foi ganho em conseqncia de seu
generoso patrocnio a numerosos humanistas da Renascena.
Afonso VI rei de Leo e Castela 1065-1109 Segundo filho do rei Fernando I e neto de Sancho III de Navarra, Afonso tinha 25 anos
quando herdou o reino de Leo de seu pai. Seis anos de lutas com os
irmos, que tinham herdado outras partes do reino de Fernando,
-
culminaram na derrota de Afonso na batalha de Golpejera (janeiro de
1072). Foi exilado para a cidade muulmana de Toledo mas, nove meses
depois, foi bafejado pela sorte: o assassinato de Sancho II de Castela
trouxe o monarca exilado de volta ao poder para governar Leo, Castela
e Galcia.
Apesar de sinistros boatos de cumplicidade no assassinato de
Sancho, a at de incesto com sua irm, Afonso provou ser um
governante enrgico e vitorioso, dos pontos de vista militar, poltico e
cultural. Trabalhou em prol da reconciliao das trs partes do seu
reino e estabeleceu sua ascendncia sobre os reinos taifa do sul
muulmano, conquistando Toledo em 1085. Influenciado por suas
esposas francesas, e dando prosseguimento poltica europeizante de
Sancho III, Afonso fortaleceu a hegemonia cluniacense sobre os
mosteiros espanhis, nomeou bispos franceses para as suas ss,
estimulou as peregrinaes a Santiago de Compostela (residncias
francesas proliferaram nas cidades ao longo das estradas de
peregrinao), substituiu a liturgia morabe (ou visigtica) pela liturgia
romana do resto da Europa, apesar da resistncia popular, e substituiu
igualmente a velha escrita visigtica pela Carolngia; a expanso da
arquitetura romnica na Espanha tambm data do tempo de Afonso VI.
A implacvel insistncia de Afonso em coletar tributos dos reinos
taifa descritos por um historiador recente como uma rede de proteo
provou ser contraproducente no ano seguinte vitria do monarca
em Toledo; desesperados, os reis muulmanos apelaram para os
almorvidas, que derrotaram os exrcitos de Afonso em Segrajas (1086).
A poltica de Afonso para com os governantes muulmanos nativos
tornou-se mais conciliatria; ele j percebera a importncia da
tolerncia religiosa, ao adotar o ttulo de Imperador de Duas Religies
aps a queda de Toledo. Mas era tarde demais: os almorvidas tinham
chegado para ficar, e seguiu-se uma srie de derrotas, somente
mitigadas pela bem-sucedida defesa de Toledo e pelas vitrias do cado
em desgraa e exilado condestvel de Afonso, Rodrigo Diaz, El Cid, que
conquistou Valncia em 1094. Valncia seria abandonada em 1102, e o
-
nico filho de Afonso foi morto na esmagadora derrota em Ucls (1108).
O rei faleceu em 1109 e a ausncia de um herdeiro varo mergulhou
seu assediado reino em guerra civil, deixando o seu genro, Afonso I de
Arago, como figura dominante na Espanha crist.
[R. Menndez Pidal, La Espaa del Cid, 2 vols. Madri, Espasa-Calpe,
7a. ed., 1979; C. Estepa Diez, El reinado de Alfonso VI, Madri, Hullera
Vasco-Leonesa, 1985]
Afonso VIII e a rainha Eleanor, com o gro-mestre de
Santiago (manuscrito espanhol do sculo XIII).
Afonso VIII, o Nobre rei de Castela 1158-1214 Filho do rei Sancho III. A menoridade de Afonso foi perturbada por lutas internas e pela
interveno do vizinho reino de Navarra nos assuntos castelhanos. Essa
interferncia culminou em 1195 num ataque conjunto a Castela por
parte de Navarra e Leo mas que Afonso pde frustrar com xito. Suas
relaes com Arago foram sempre boas e, em 1179, os dois Estados
assinaram o Pacto de Cazorla, pelo qual ficou decidida a demarcao da
futura fronteira entre Castela e Arago, a vigorar assim que se
consumasse a reconquista da Espanha aos mouros. Foi essa guerra
contra os mouros que absorveu as energias de Afonso VIII entre 1172 e
1212. Embora tivesse sido derrotado pelos mouros em 1195, foi-lhe
possvel, com a ajuda de Pedro II de Arago, alcanar grande vitria
contra eles na sangrenta batalha de Navas de Tolosa (1212) e assim
contribuir decisivamente para a destruio do poderio almada na
pennsula hispnica. Afonso VIII casou com uma filha de Henrique II da
Inglaterra e fundou a primeira universidade da Espanha.
J. Gonzalez, El reino de Castilla en la poca de Alfonso VIII, 3 vols.,
-
Madri, CSIC, 1950
Afonso X, o Sbio rei de Leo e Castela 1252-84 (n. 1221) Primognito de Fernando III e de Beatriz da Subia. Como presumido herdeiro,
participou nas campanhas de seu pai, incluindo o cerco de Sevilha, e
manifestou desde cedo interesse em desenvolver o castelhano como
lngua literria e tcnica: em 1251 encomendou uma traduo do rabe.
Os historiadores vem Afonso como um fracasso, por causa de sua
ruinosamente dispendiosa e, em ltima instncia, humilhante
campanha para eleger-se titular do Sacro Imprio Romano, e por causa
da rivalidade em torno da sucesso, o que redundou em revolta e
deposio. Os historiadores culturais, por outro lado, vem-no como um
sucesso: foi o mecenas de uma brilhante corte de poetas, intelectuais,
artistas e msicos; foi um grande patrocinador do vernculo, deixando
o castelhano, no final de seu reinado, como veculo natural para todos
os gneros de prosa. Embora a obra tivesse comeado no reinado de
Fernando III, Afonso X deu uma contribuio incomparavelmente maior,
criando a prosa castelhana, tal como Alfredo, o Grande, tinha criado a
prosa anglo-saxnica. Entretanto, os dois lados de Afonso so
interdependentes e o mesmo padro pode ser freqentemente observado
em sua vida poltica e em sua vida cultural.
Afonso, que casara com Violante, filha de Jaime I de Arago,
sucedeu ao trono de Castela e Leo em 1252. No era tarefa fcil ser o
herdeiro dos triunfos de Fernando III, e o desejo de afirmar-se como um
digno sucessor levou o novo rei a invadir o Algarve (redundando num
compromisso que favoreceu Portugal), a tentar anexar Navarra (teve que
se contentar com a suserania nominal) e a reivindicar a Gasconha, com
o argumento de que sua av era filha de Henrique II da Inglaterra. A
pretenso foi abandonada num tratado de 1254, e a irm de Afonso
casou com Eduardo I; o terceiro filho deles e, durante 10 anos, herdeiro
do trono ingls, recebeu o nome de Afonso. Uma aventura externa
muito mais demorada (1256-75) foi o objetivo obstinadamente
perseguido de se eleger para o Sacro Imprio Romano-Germnico.
-
Afonso, que reivindicava seus direitos atravs de sua me, gastou
vultosas somas para influenciar os eleitores muito mais do que
Castela podia permitir-se dispender de modo que o
descontentamento interno aumentou; um historiador recente intitulou
como Os Caminhos da Runa um ensaio sobre a poltica econmica e
financeira de Afonso X. Foi eleito em 1257, mas um veto papal desfez
todo o seu trabalho, e o monarca nunca mais voltou a estar to perto do
xito. No obstante, persistiu por mais 18 anos, e somente uma revolta
da nobreza castelhana o forou a renunciar a suas pretenses.
Extrado das Cantigas de Santa Maria: o rei Afonso X
representado como poeta e msico sobre uma das canes de sua prpria autoria.
Dois dos irmos de Afonso rebelaram-se contra ele (1255 e 1269) e
um terceiro foi sumariamente executado por sua ordem (1277), mas as
piores dissenses no seio de sua famlia ocorreram aps a morte do seu
filho primognito Fernando, em 1275, durante uma invaso marroquina
que durou at 1279. O filho mais velho de Fernando deveria ter sido
declarado herdeiro do trono mas o segundo filho de Afonso, Sancho,
-
obteve uma alterao da lei e, quando o monarca tentou anul-la,
Sancho revoltou-se com o apoio dos nobres e uma assemblia privou
Afonso de seus poderes e prerrogativas. Procurou ajuda muulmana
mas em vo, e morreu sem ter recuperado pleno controle sobre o reino.
As realizaes culturais de Afonso, o Sbio, formam um profundo
contraste com essa crnica de fracassos polticos: enciclopdicos
cdigos jurdicos em vernculo, uma extensa coleo de tradues e
adaptaes de obras cientficas arbicas (incluindo as Tbuas
Afonsinas, usadas por astrnomos em toda a Europa durante cerca de
trs sculos), a maior e melhor coleo de poesia mariana em qualquer
idioma vernculo (ao invs de suas outras obras, os poemas que
formam a coletnea intitulada Cantigas de Santa Maria no foram
escritos em castelhano mas na lngua lrica convencional da maioria da
pennsula, o galaico portugus e duas obras histricas: uma histria
universal [Grande y General Estoria] e uma histria da Espanha [Crnica
General de Espaa]. Entretanto, assim como h slidas realizaes em
meio aos fracassos polticos (alguns avanos no caminho da
Reconquista e, de suma importncia, a criao da marinha castelhana),
tambm a obra cultural do rei e de seus colaboradores mostra sinais de
desmedida ambio e alguns grandiosos projetos abortaram. O
principal cdigo de leis, Las siete partidas, nunca foi promulgado em
vida de Afonso, e as duas histrias, ambas ideologicamente vinculadas
s ambies imperiais do monarca, ficaram inacabadas. ADD
E.S. Procter, Alfonso X of Castile, Patron of Literatura and Learning
(1951); The Worlds of Alfonso the Learned and James the Conqueror, org.
por R.I. Burns (1985); J.R. Craddock, The Legislative Works of Alfonso
X, el Sabio, Research Bibliographies and Checklists 45 (1986) [C. Estepa
Diez, J. Faci et alii, Alfonso X, Toledo, Museo de Santa Cruz, 1984]
afresco A pintura em afresco foi imensamente popular na Idade Mdia. No sculo XIII e em especial nas igrejas e mosteiros gticos italianos,
essa forma de arte atingiu a sua mais perfeita expresso. Os afrescos
proporcionavam uma alternativa mais rpida e menos dispendiosa que
-
os mosaicos, uma outra importante forma de decorao mural na era
medieval.
Lamentao de Cristo, de Giotto, um dos afrescos da
Capella dellArena em Pdua, c. 1304-13.
Havia um certo nmero de etapas na pintura em afresco. Em
primeiro lugar, a superfcie a ser coberta era revestida com uma
camada de gesso de mdia para fina (arriccio). Nessa etapa, o artista
podia fazer um esboo a mo livre da composio, usando uma
substncia argilosa de cor vermelha ferruginosa conhecida como
sinopia. Se a obra era para ser executada em buon fresco, ou afresco
verdadeiro, o artista, trabalhando de cima para baixo na parede,
aplicava apenas o gesso suficiente para um dia de trabalho; essas
pequenas sees de gesso mais fino eram conhecidas como giornate. O
artista aplicava ento os. seus pigmentos, diludos em gua pura, a esse
pouco gesso; os pigmentos fixavam-se permanentemente no reboco
ainda mido. Uma forma menos duradoura de pintura em afresco era o
fresco al secco, no qual os pigmentos eram aplicados na parede depois
do gesso secar. Em muitos afrescos medievais em que se usou a tcnica
al secco, as cores descarnaram.
E. Borsook, The Mural Painters of Tuscany (1960); U. Procacci, Sinopie
e affreschi (1961)
frica A totalidade da frica do Norte era parte integrante do mundo clssico e do comeo da Idade Mdia, mas s lentamente os ocidentais
-
tomaram conhecimento do resto do continente africano. Em 429, no
decorrer das andanas tribais dos povos germnicos, os vndalos
passaram da Espanha ao norte da frica e estabeleceram um reino que
englobou grande parte da Arglia e Tunsia atuais, com seu centro em
Cartago. A provncia foi reconquistada pelo Imprio Bizantino (533-48),
mas as invases muulmanas do sculo VII provocaram uma radical e
permanente alterao nas estruturas polticas do mundo mediterrneo.
Em 700, todo o norte da frica estava em mos muulmanas e, 20 anos
depois, tambm a maior parte da Espanha. Mercadores muulmanos
abriram rotas atravs do Saara desde o sculo VIII e seu controle
poltico do Egito e do vale do Nilo asseguraram o contato contnuo com
o Sudo e a Etipia, e o perfeito conhecimento dessas regies.
O envolvimento ocidental direto ocorreu em certa medida com os
cruzados, mas s a partir do final da Idade Mdia e das arrojadas
expedies portuguesas, encorajadas pelo Infante D. Henrique, se
iniciou a metdica explorao europia. Aps a tomada de Ceuta (1415),
os portugueses foram os pioneiros de uma srie de viagens ao longo da
costa africana ocidental inicialmente numa tentativa de flanquear os
mouros no Marrocos. O xito comercial dessas viagens, graas
importao de especiarias pela Europa, acelerou seu desenvolvimento;
esperava-se alcanar as especiarias de melhor qualidade da ndia e
incentivar o lucrativo comrcio com os rabes.
Em 1482, toda a costa da Guin era conhecida e em 1487
Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperana. Dez anos depois,
Vasco da Gama empreendia sua histrica viagem de descobrimento do
caminho martimo para a ndia, aportando em Calicute em setembro de
1498. Foi o comeo de uma era de expanso ultramarina europia.
[A data inicial das grandes viagens ultramarinas portuguesas na
Idade Mdia foi 1432, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador e ps
fim s lendas do Mar Tenebroso. Entre 1440 e 1445, Nunco Tristo
descobria os cabos Branco e das Palmas; em 1462 atingia-se o Cabo
Verde, descobria-se a Serra Leoa e eram exploradas as rias do Senegal.
A chamada Costa da Mina explorada em 1471 por Joo de Santarm e
-
Pedro Escobar, construindo-se dez anos depois o castelo de So Jorge
da Mina. Em 1484 a vez de Diogo Co explorar a costa do Congo e
chegar foz do rio Zaire. Os navegadores que mais se distinguiram
nessa primeira fase dos descobrimentos africanos, antes das
navegaes decisivas de Bartolomeu Dias e Vasco da Gama, foram
alm dos j citados Tristo da Cunha, Gonalvez Zarco, lvaro
Fernandes, Afonso Gonalves, Dinis Fernandes, Gonalo Velho e Afonso
de Aveiro. NT]
The Pelican History of Africa (1968)
Agobardo de Lyon (769-840) Arcebispo de Lyon. Natural da Espanha, ele foi primeiro para Lyon como companheiro do enviado de Carlos
Magno, Leidradis. Ordenado sacerdote em 804, sucedeu a Leidradis
como arcebispo de Lyon em 816. Em conseqncia de seu apoio a
Lotrio I contra o imperador Lus, o Pio, foi deposto e banido no Conclio
de Thonville em 834; mas reconciliou-se com Lus e foi reintegrado em
seu cargo em 838, falecendo em Saintonge em 840. Seus principais
escritos foram dirigidos contra o adocionista Felix de Urgell, e tambm
condenou a superstio e a prtica do ordlio.
A. Cabannis, Agobard of Lyon (1953)
Agostinho, Santo (354-430) Bispo de Hipona. Um dos quatro grandes Pais da Igreja latina. Tendo nascido em Tagaste de pai pago e me
crist, Agostinho foi criado como cristo mas no batizado. Estudando
retrica na Universidade de Cartago e depois ensinando retrica na
Itlia, Agostinho abandonou totalmente sua criao crist, seguindo
primeiro as crenas neoplatnicas e, depois, maniquestas. Em 385,
porm, foi convertido ao Cristianismo por Santo Ambrsio e batizado no
ano seguinte. Voltando ao norte da frica, foi ordenado padre e,
finalmente, bispo de Hipona em 395.
Esteve ativo em seu papel pastoral e muito contribuiu para a
refutao das doutrinas de vrios grupos de herticos, como os
maniquestas e os donatistas. sobretudo conhecido como filsofo e
telogo. Suas obras incluem as Confisses, onde relata a sua prpria
-
converso, vrios sermes sobre os Evangelhos e A Cidade de Deus
(413-26). Nesta ltima obra, Agostinho tentou responder s crticas
daqueles que rejeitaram o Cristianismo com o argumento de que Deus
tinha consentido que Roma casse, procurando mostrar-lhes a escala
gigantesca do universo e o plano de Deus para o homem, no mbito do
qual a queda de Roma era apenas uma gota no oceano. Considerou que
todos os homens pertenciam a uma das duas cidades: a cidade de
Deus, composta por todos os fiis, e a cidade dos descrentes. Foi o
primeiro telogo cristo a expressar a doutrina da salvao do homem
por graa divina.
Agostinho de Hipona recebe vises que inspiram sua
redao de A Cidade de Deus (sculo XV).
Tambm escreveu uma srie de diretrizes para a vida clerical,
destinadas a um certo nmero de mosteiros locais, e que foram usadas
no sculo XI como base da chamada Regra de Santo Agostinho. Sua
atitude geral para com o governo poltico, que atribui natureza
pecaminosa do homem e, no entanto, v como um meio efetivo de
canalizao das conseqncias malficas do pecado, provou ser
imensamente influente no pensamento eclesistico medieval. AD
P.R.L. Brown, Augustine of Hippo (1967), Religion and Society in the
Age of Augustine (1972) [A. Hamman, Santo Agostinho e seu tempo, S.
Paulo, Paulinas, 1989]
-
Agostinho, Santo (m. 604) Arcebispo de Canterbury. Italiano por nascimento, Agostinho tornou-se monge e depois prior da abadia de
Santo Andr no monte Clio, uma das sete colinas de Roma, antes de
ser escolhido pelo papa Gregrio 1 para chefiar uma misso de
converso Inglaterra, em 596. Desembarcando no Kent em 597,
Agostinho e seus companheiros foram bem recebidos pelo rei Etelberto,
cuja esposa Bertha j era crist. Etelberto deu a Agostinho uma casa
em Canterbury e permisso para pregar ao seu povo. Sabiamente,
Agostinho no tentou abolir o paganismo no Kent de uma s vez mas
buscou, pelo contrrio, faz-lo gradualmente, enquanto que, ao mesmo
tempo, incorporava liturgia da Igreja muitos costumes pagos e,
sempre que conveniente, usava antigos templos pagos para fins
cristos. Seus mtodos foram coroados de xito e, em 601, o rei
Etelberto e muitos de seus sditos tinham aceito o Cristianismo. Na
prpria Canterbury, Agostinho instalou sua s metropolitana de clrigos
seculares. Tambm fundou um mosteiro dedicado aos santos Pedro e
Paulo (depois chamado de Santo Agostinho) e bispados em Londres e
Rochester.
H. Mayr-Harting, The Corning of Christianity to Anglo-Saxon England
(1972)
agostinianos, cnegos Ordem religiosa de sacerdotes criada no sculo XI, que obedecia a uma Regra baseada nos escritos monsticos de
Santo Agostinho de Hipona. Foi uma decorrncia do movimento de
reforma da Igreja que conclamava o clero secular a adotar uma vida
comum e regular. Foi especialmente popular em Roma, sul da
Alemanha e Lorena, onde controlou com freqncia grupos de igrejas ou
formou os cabidos de catedrais. Na Inglaterra, somente uma catedral, a
de Carlisle (1133), era servida por cnegos agostinianos, e poucas casas
agostinianas, como a de Barnwell, no Cambridgeshire, foram fundadas
a fim de desempenhar tarefas paroquiais na localidade. A tendncia da
maioria das casas agostinianas era, pelo contrrio, servir aos peregrinos
(como em Walsingham) ou aos enfermos (como em St. Bartholomew,
-
Smithfield, Londres). Embora algumas casas fossem estabelecidas na
Inglaterra durante o sculo XI, o perodo de maior crescimento foi no
sculo seguinte, durante os reinados de Henrique I e Estvo. As casas
de cnegos agostinianos eram pequenas pelos padres monsticos,
consistindo usualmente em no mais de 12 cnegos e um prior.
J.C. Dickinson, Origins of the Austin Canons (1950); L. Verheijen, La
rgle de St. Augustin (1967)
agostinianos, frades Ordem religiosa criada a partir de muitos grupos diferentes de eremitas italianos, incluindo os valdenses ortodoxos, os
quais foram organizados em 1256 numa ordem mendicante pelo papa
Alexandre IV. Renunciando sua anterior atividade apostlica, os
frades agostinianos juntaram-se a outras ordens mendicantes vivendo
nas cidades uma vida de aposto-lado inspirada na Regra de Santo
Agostinho de Hipona.
R. Brooke, The Corning of the Friars (1975)
agricultura As generalizaes acerca da agricultura europia na Idade Mdia devem ser atenuadas pela nfase sobre as profundas diferenas
regionais e tambm pela grande diversidade dentro das regies. Os
conhecimentos tcnicos bsicos necessrios a um cultivo bem-sucedido
de cereais estavam ao alcance de todas as comunidades europias
desde os tempos neolticos, mas sua aplicao e organizao era uma
questo muito diferente, dependente da natureza dos solos, do
equilbrio de atividades pastoris e agrrias, do clima, da proximidade do
mar e de uma dzia ou mais de outras importantes variveis. Os
hbitos sociais e os costumes fundirios tambm estavam intimamente
relacionados com a prtica agrria.
O Imprio Bizantino preservou as estruturas clssicas bsicas em
princpios da Idade Mdia, com um persistente e forte elemento
comercial e monetrio na economia. Do sculo VIII em diante verificam-
se claras semelhanas entre os desenvolvimentos bizantino e ocidental
na administrao da propriedade fundiria e na exao e natureza da
mo-de-obra. Influentes grupos de camponeses livres aparecem na
-
Anatlia e em partes dos Balcs. No mundo ocidental, o Imprio
Carolngio e seus sucessores, incluindo a Bretanha e posteriormente as
comunidades escandinavas e eslavas, consideraram a agricultura de
suprema importncia econmica durante a maior parte da Idade Mdia.
O perodo no foi estril em avanos tcnicos, sobretudo nas reas que,
por razes de fertilidade do solo e de clima, constituram o centro
nevrlgico da economia agrria medieval: a Frana ao norte do Loire, a
Lorena e as terras da Francnia, o sul e o leste da Inglaterra.
Agricultura: cena de lavoura em janeiro, reproduzida de um tratado astronmico do comeo do sculo XI.
Uma economia senhorial bastante desenvolvida, que nunca foi
completamente isolada, porm mais propensa auto-suficincia do que
a depender dos mecanismos de mercado, surgiu na Europa Carolngia
dos sculos VIII e IX. Uso extensivo de azenhas, mtodos melhorados de
atrelagem de animais para servios de lavoura e maior eficincia na
fertilizao do solo com adubos orgnicos e na rotatividade de culturas,
causaram lentamente um impacto sobre a demografia. Sempre que a
paz pde ser mantida (e a proteo contra as invases brbaras
registrou uma substancial eficcia no sculo XI), a economia senhorial
provou ser capaz de sustentar um constante aumento de populao.
Seus mtodos clssicos de lavoura baseavam-se no sistema de trs
campos: a cada ano, em rotao, o trigo era cultivado num campo; num
outro, a aveia, a cevada, o feijo e as leguminosas, enquanto que um
-
terceiro campo era apenas alqueivado; em algumas regies, era mais
comum o sistema de dois campos, um cultivado e um alqueivado. A
cada aldeia era anexada uma rea de pastagem, a qual assegurava a
obteno de forragem para o gado. Mas o fundamental era o arado e a
diviso da terra em faixas, algumas pertencentes ao senhor e outras aos
seus homens, o que conjugava proteo e um esforo coletivo de
trabalho, e que propiciou o florescimento das comunidades.
A superestrutura da civilizao medieval dos sculos XII e XIII
baseou-se nessa bem-sucedida economia senhorial, mas em fins do
sculo XIII j eram evidentes as inadequaes em sua organizao
bsica. As fomes e as pestes do sculo XIV so, conforme foi sugerido,
sintomas de uma economia que ultrapassou o seu ponto de saturao.
A converso dos servios de mo-de-obra em pagamentos monetrios ao
senhor tinha se generalizado, e as tentativas para voltar a impor o
servio feudal contriburam para a inquietao e as revoltas
camponesas do final da Idade Mdia. O status do campons variou
muito, e as distines jurdicas nem sempre condiziam com a realidade
econmica e social. A escravatura clssica tinha declinado nos tempos
carolngios, embora elementos caractersticos dela ainda pudessem ser
encontrados no perodo central da Idade Mdia. A tendncia, porm, foi
para substituir a escravido por um regime uniforme de servido, mas
na maioria dos senhorios, homens livres (que deviam pouco mais do
que servio judicial aos seus senhores), agricultores e prsperos
artesos viviam lado a lado com servos de gleba a fim de trabalhar
diretamente nas terras senhoriais trs dias por semana e at mais.
Tambm havia variaes nas tcnicas bsicas. Os campos abertos
eram comuns quando as condies do solo eram boas, mas em outras
reas optava-se por terrenos menores, cercados e retangulares. Em
algumas regies, para lavrar a terra mais levemente persistia o arado,
um utenslio herdado dos tempos romanos; em outras passou a
dominar a charrua, capaz de abrir sulcos profundos, enquanto que em
reas remotas, como as ilhas escocesas, continuaram sendo usados
arados primitivos de escarificao superficial. A colonizao trouxe suas
-
prprias tcnicas, como na Floresta Negra no sculo XII ou no avano
alemo sobre as terras blticas da Pomernia e da Prssia Oriental nos
sculos XII e XIII; um status mais livre era a recompensa normal para o
colono empreendedor. No sculo XII, a introduo do moinho de vento,
originrio do Oriente, contribuiu para a eficincia geral, sobretudo nas
grandes propriedades. O surgimento de livros sobre mtodos de lavoura
e a maior divulgao das tcnicas de adubar com marga e cal tambm
depem a favor da eficincia agrcola nas grandes propriedades reais,
senhoriais e eclesisticas. O desempenho da agricultura medieval no
sustento de populaes em tempos perigosos no deve ser subestimado,
mas, por volta de 1300, novas tcnicas e uma nova atitude em relao
terra eram indispensveis para se obter novos progressos.
Ver clima; fome; moinhos; vinho [64,130, 259]
[B.H. Slicher van Bath, Histria agrria da Europa Ocidental, Lisboa,
Presena, 1987; G. Duby, Economia rural e vida no campo no Ocidente
medieval, 2 vols. Lisboa, Edies 70, 1987-1988; R.-H.Bautier, A
economia na Europa medieval, Lisboa, Verbo, 1973.]
Aidan (c. 600-51) Bispo de Lindisfarne e santo britnico. Inicialmente monge em Iona, instalou-se depois na ilha de Lindisfarne e tornou-se
seu primeiro bispo em 635. Foi extremamente influente na reconverso
ao Cristianismo do povo de Nortmbria, tarefa empreendida por
solicitao do rei Osvaldo (634-42). Aps a morte de Osvaldo na batalha
de Hatfield, Aidan continuou e intensificou seus esforos sob a gide do
novo rei Oswy (642-70), at sua morte em Bamburgo, a 31 de agosto de
651.
Bedes Ecclesiastical History of the English People, org. por B. Colgrave
e R.A.B. Mynors (1969)
Ailly, Pierre d (1350-1420) Bispo de Cambrai. Telogo eminente e mais tarde chanceler da Universidade de Paris, dAilly lembrado
principalmente pelo papel que desempenhou em sanar o Grande Cisma
no papado. No incio, aceitou a idia de um Conclio ecumnico como o
melhor meio de resolver o cisma; posteriormente, porm, apoiou as
-
pretenses papais de Bento XIII, antes de voltar, uma vez mais,
posio conciliarista. Foi de Bento XIII que ele recebeu primeiro o
bispado de Le Puy (1395) e depois o de Cambrai (1397). Como bispo de
Cambrai, desempenhou papel de destaque no Conclio de Pisa (1409) e,
sobretudo, como o principal porta-voz francs no grande Conclio de
Constana (1414-18). Em 1411, dAilly era feito cardeal pelo Papa Joo
XXIII e serviu depois como legado papal sob Martinho V. Tambm
mereceram destaque suas sugestes a respeito da reforma do
calendrio, as quais foram finalmente postas em vigor por Gregrio XII,
e seus escritos, os quais incluram Imagem do Mundo, uma obra onde
sustenta a idia de que o mundo redondo e as ndias Orientais
poderiam, portanto, ser alcanadas desde a Europa navegando tanto
para oeste como para leste. Ver conciliar, movimento.
E.F. Jacob, Essays in Conciliar Thought (1953), [Ymago Mundi, org. por
E. Buron, 3 vols., Paris, Maisonneuve, 1930.]
O trono real e imperial na catedral de Aix-la-Chapelle.
Aix-la-Chapelle (Aachen) Originalmente um povoado romano. Em 765 foi a construdo um palcio pelo rei Pepino, o qual foi posteriormente
-
reconstrudo por Carlos Magno, tornando-se assim a cidade o centro do
Imprio carolngio. Snodos a foram celebrados e desde a coroao de
Lus I, o Piedoso, em 813, at a de Fernando I em 1531, os reis alemes
continuaram sendo nela coroados. A cidade tambm ficou clebre como
lugar de peregrinao, pois l estavam expostas as relquias coletadas
pelos carolngios; um culto adicional desenvolveu-se no sculo XII em
torno do tmulo de Carlos Magno. Em 1172, Aix-la-Chapelle foi
fortificada com muralhas que seriam ampliadas por Guilherme da
Holanda em 1250. No final da Idade Mdia, a cidade era
estrategicamente importante na manuteno da paz na regio
compreendida entre o Mosa e o Reno. Ver Alcuno
Alain de Lille (1128-c.1203) Um dos mais importantes mestres das escolas de Paris. Conhecido como doctor universalis, ficou famoso por
suas contribuies para a teologia e a filosofia, incorporando fortes
elementos msticos e neoplatnicos numa filosofia que argumentou
serem as verdades internas da religio suscetveis de descoberta
mediante o exerccio da razo pura e simples. Ele simboliza parte do
paradoxo da Renascena do sculo XII, na medida em que estava ativo
na escolstica e, no entanto, era atrado para os cistercienses. O ncleo
central de seus ensinamentos consistiu em sua definio da natureza
como intermediria efetiva entre Deus e a matria, e enfatizou a
analogia, e tambm a distino, entre nascimento natural, o qual
depende das leis da natureza, e o nascimento do esprito resultante do
batismo e da regenerao sacramentai.
[E. Gilson, La filosofia en la Edad Media, Madri, Gredos, 1965]
alamanos Confederao de tribos germnicas que comearam pressionando as fronteiras do Imprio Romano no sculo III e no sculo
V registraram sua maior expanso territorial quando penetraram na
Alscia e na Sua. Em 496, os alamanos foram subjugados pelo rei
franco Clvis I, que os incorporou aos seus domnios. Confederao
precariamente unida, os alamanos colocavam suas foras militares sob
a chefia conjunta de dois comandantes durante as campanhas, mas, na
-
maior parte do tempo, encontravam dificuldades para permanecer
unidos e no possuam um ncleo comum de governo centralizado.
alanos Povo pastoril e nmade que ocupava inicialmente a regio das estepes a nordeste do Mar Negro. Esto descritos na literatura romana
do sculo I como um povo guerreiro especializado na criao de cavalos.
Durante os sculos seguintes, realizaram freqentes incurses nas
provncias caucasianas do Imprio Romano. Os alanos foram
derrotados pelos hunos e no comeo do sculo V deslocaram-se na
direo oeste e penetraram na Glia. Alguns deles estabeleceram-se
perto de Orleans, mas a grande maioria acompanhou os vndalos na
invaso da Pennsula Ibrica e do norte da frica.
B.S. Bachrach, The Alans (1969)
Alarico I rei dos Visigodos 395-410 Lembrado pelo saque de Roma em 410, Alarico foi uma personalidade mais complexa do que o saqueador
selvtico e implacvel da lenda histrica. Serviu como um proeminente
comandante dos godos confederados no tempo do imperador Teodsio, e
somente com a morte deste (395) que decidiu instaurar seu reino
visigodo no Adritico. Na primeira dcada do sculo V, continuou
desempenhando um papel destacado na poltica imperial, e mesmo
depois do saque de Roma tomou a iniciativa de um acordo com as
autoridades imperiais. Foi o choque simblico, tanto quanto a realidade
da tomada de Roma, o que levou os historiadores da poca e os que se
lhes seguiram a considerar o ano de 410 como o fim do Imprio
Romano.
T. Hodgkin, Italy and her Invaders, vol. I (1916)
Alberti, Leon Battista (1404-72) Arquiteto e humanista da Renascena, natural de Veneza e educado em Pdua e Bolonha.
Durante sua vida, a fama de Alberti teve origem no seu livro Della
Famiglia. Nessa obra, guiada pelo princpio aristotlico, revivido por
Santo Toms de Aquino, de que a arte imita a natureza, Alberti
postulou que cada criana deve ser educada de acordo com a sua
-
prpria natureza. Como arquiteto, restaurou o palcio papal em Roma
para Nicolau V (1447-55), construiu o palcio Rucellai (1446) e a
fachada de Santa Maria Novella (1456) em Florena, e projetou as
igrejas de So Sebastio (1460) e Santo Andr (1470) em Mntua, e de
So Francisco em Rimini. Tambm escreveu De Pictura (1435), uma
exposio terica da arte italiana, e De Re Aedificatoria (1452), obra que
exerceu importante influncia sobre a arquitetura renascentista. [Para
uma informao mais detalhada, ver o verbete sobre Alberti no
Dicionrio do Renascimento Italiano. Rio, Jorge Zahar Editor, 1988, pp.
19-20. NT]
F. Borsi, Leon Battista Alberti: The Complete Work (1977)
Alberto I de Habsburgo imperador germnico 1298-1308 (n. 1250) Primognito de Rodolfo 1. Em 1282 foi investido por seu pai no governo
dos ducados da ustria e da Estria. Rodolfo, porm, foi incapaz de
garantir a sucesso ao trono do Sacro Imprio para seu filho e, aps
sua morte em 1291, os prncipes escolheram Adolfo de Nassau para rei.
Em 1298, Alberto derrotou Adolfo na Batalha de Gllheim e pde ento
obter sua prpria eleio para a Coroa germnica. Durante seu reinado,
Alberto desempenhou um papel ativo na poltica europia. Manteve sua
posio explorando habilmente a rivalidade entre Filipe IV da Frana e o
papa Bonifcio VIII, renovou as pretenses alems Turngia, interferiu
com xito numa disputa pelo trono hngaro e pde garantir a coroa da
Bomia para seu filho Rodolfo. Sua derrota durante o ataque
desencadeado contra a Turngia em 1307, e a morte de seu filho no
mesmo ano, enfraqueceram seriamente a posio de Alberto na Europa
Oriental. Seu governo tambm foi ameaado pela revolta dos arcebispos
renanos e do conde palatino do Reno, que se indignaram muito com a
abolio por Alberto de todos os tributos introduzidos no Reno desde
1250. Embora essa revolta fosse sufocada com a ajuda das cidades, a
agitao prosseguiu com maior intensidade na Subia, e quando partiu
para resolver mais esse problema, Alberto foi assassinado por seu
sobrinho Joo em 1 de maio de 1308.
-
F.R.H. du Boulay, Germany in the Late Middle Ages (1983)
Alberto V (II) de Habsburgo imperador germnico 1438-39 (n. 1397) Titular do ducado da ustria em 1404, Alberto governou ativamente o
pas apenas a partir de 1411. Auxiliou Sigismundo, rei dos romanos e
da Bomia e Hungria, contra os hussitas e, em retribuio foi-lhe
concedida a mo de Isabel, filha e herdeira de Sigismundo, celebrando-
se o casamento em 1422. Aps a morte de Sigismundo em 1437, Alberto
sucedeu-lhe no trono da Hungria, mas, embora fosse tambm coroado
rei da Bomia em 1438, no conseguiu obter o domnio dessa regio.
Esse mesmo ano presenciou ainda a sua eleio como rei dos romanos
(com o ttulo de Alberto II) pelos prncipes alemes reunidos em
Frankfurt, uma honra que ele parece no ter ativamente procurado. Seu
reinado, porm, foi efmero; em 1439 morreu em campanha no
Langendorf, enquanto defendia os hngaros contra as investidas
turcas.
Alberto de Colnia (Alberto Magno), Santo (c. 1190-1280) Filsofo medieval. Natural da Subia, estudou em Pdua antes de ingressar na
Ordem Dominicana. Em 1245 foi para Paris, onde lecionou com grande
xito durante muitos anos. Foi a que se encontrou pela primeira vez
com Toms de Aquino, sobre quem exerceria considervel influncia.
Em 1254 foi nomeado Superior da Ordem Dominicana na Alemanha,
antes de ser eleito para o bispado de Regensburg em 1260; foi durante
esse perodo que ele condenou as obras do filsofo rabe Averris. Em
1262 retirou-se para Colnia, onde permaneceu at sua morte, se
excetuarmos um breve perodo em 1270, quando foi ustria a fim de
pregar a favor da Oitava Cruzada. Conhecido como doctor universalis,
deu contribuies permanentes para a filosofia, a teologia e a histria
da cincia. Sua obra foi um dos principais instrumentos para a
transmisso na Europa ocidental do saber aristotlico sobre o mundo
natural.
S.M Albert, Albert the Great (1948)
-
albigenses Seita hertica baseada em crenas ctaras. Teve seu incio por volta de 1144, perto da cidade de Albi, no sul da Frana, devendo
seu xito ao apoio da nobreza e vida asctica levada pelos perfecti, a
qual estava em contraste flagrante com o mundanismo do clero local. A
seita era suficientemente poderosa para realizar em 1167 o seu prprio
snodo em Saint-Flix-de-Caraman, nos arredores de Toulouse.
No comeo, a Igreja tentou combater a propagao da refinada
heresia ctara pela persuaso. Foram inteis os esforos de So
Bernardo, em 1147, para reconvert-los, e Inocncio III enviou
pregadores ao Languedoc em 1198 e 1203 mas sem obter o menor xito.
Em 1208, o legado papal Pierre de Castelnau foi assassinado, o
que levou Inocncio III a desencadear a Cruzada contra os albigenses. A
estratgia papal consistiu em transferir a propriedade da terra das
mos de simpatizantes ctaros para senhores ortodoxos, que ajudariam
na represso da heresia. Embora o conde Raimundo de Toulouse, o
principal patrocinador ctaro, se retratasse rapidamente, os cruzados
famintos de terras, comandados por Simon de Montfort, o Velho, no se
detiveram e deram incio a massacres e incndios em massa,
devastando Bziers e Carcassonne. Tais aes puseram fim s
esperanas papais de que os ctaros abjurassem o credo maniquesta e
aceitassem de novo o catolicismo.
A vitria decisiva dos cruzados em Muret (1213) eliminou o apoio
da nobreza aos ctaros, e em 1226 a regio j se encontrava sob o
efetivo controle da Coroa francesa, embora s depois do horrendo
massacre em Montsgur (1244) a seita fosse substancialmente
eliminada e forada clandestinidade. Indcios de ressurgimento
espordico da heresia foram assinalados durante todo o perodo final da
Idade Mdia, apesar dos instrumentos repressivos da Inquisio. Ver
ctaros; heresia
P. Belperron, La Croisade contre les Albigeois (1945); B.
Hamilton, The Albigensian Crusade (1974); J. Sumption, The
Albigensian Crusade (1978)
-
Albono rei dos lombardos 565-c.72 Tendo sucedido ao trono lombardo durante a ocupao do territrio a oeste do Danbio conhecido como
Pannia, Albono derrotou os gpidas em sua fronteira oriental, matou o
rei Cunimundo e raptou e casou com Rosamunda, filha de Cunimundo.
Em 568, invadiu a Itlia a convite do general bizantino Narss, que
entrara em conflito com o imperador Justino II. Partindo da Lombardia,
conquistou o Piemonte e a Toscana, assim como grande parte do
Benevento e de Spoleto. Seu avano, porm, foi sustado em Pavia, que
resistiu durante trs anos ao assdio das foras de Albono. Por volta de
572, Albono foi assassinado, segundo parece por instigao da esposa,
a quem ele tinha insultado forando-a a beber em uma taa feita com o
crnio de seu pai.
T. Hodgkin, Italy and her Invaders, vol. 5 (1916); L. Schmidt, Die
Ostgermanen (1969)
Albornoz, Gil (1310-67) Natural de Cuenca, na Espanha, educado em Saragoa e Toulouse, tornou-se arcediago de Calatrava e conselheiro de
Afonso XI (1312-50), rei de Castela. Em 1337 foi nomeado arcebispo de
Toledo e em 1350 ascendeu ao cardinalato. Ativo contra os
muulmanos, participou na batalha de Tarifa (1340) e na tomada de
Algeciras (1344). Depois da morte de Afonso XI e sua sucesso por
Pedro, o Cruel, Albornoz deixou a Espanha. Foi nomeado cardeal-legado
na Itlia e muito contribuiu para restaurar a a autoridade papal. Em
1362, tinha preparado o caminho para o regresso de Urbano V a Roma
e faleceu enquanto o escoltava desde Avignon para ali. Tambm
conhecido por seu trabalho sobre a constituio da Igreja de Roma e
pela fundao do Colgio de S. Clemente para estudantes espanhis em
Bolonha.
E. Emerton, Humanism and Tyranny (1925)
Alcntara, Ordem de Um documento que quase certamente falso situa a fundao da ordem em 1156, anterior, portanto, de Calatrava,
mas a mais antiga prova idnea aponta para 1176 como a verdadeira
data de fundao. Originalmente conhecida como Ordem de San Julian
-
de Pereiro, obedecia Regra Cisterciense e era, em certa medida,
dependente de Calatrava, embora estabelecesse gradualmente sua
autonomia. Em 1494, os Reis Catlicos anexaram o Mestrado de
Alcntara Coroa, no muito depois de terem feito o mesmo com o de
Calatrava (1482) e por idnticas razes.
J.F. OCallaghan, The Foundation of the Order of Alcantara, 1176-
1218, The Catholic Historical Review, 47 (1962)
Manuscrito do incio do sculo XIV do Alcoro em Muhaqqaq,
exibindo elaborada caligrafia.
Alcoro O livro sagrado muulmano. Compe-se de suras ou captulos, contendo cada uma das mensagens que os muulmanos crem ser
revelaes de Al (Deus) transmitidas aos homens atravs do profeta
Maom. Zayd ibn Thabit, por ordem do primeiro califa, Abu Bakr,
iniciou a tarefa de estabelecer um texto definitivo do Alcoro aps a
morte de Maom (632), e completou essa obra em 651. Ver Isl
W. Montgomery Watt, Bells Introduction to the Quran (1970) [Alcoro
Sagrado, trad. S.El Hayek, S. Paulo, Tangar, 1975; R. Blachre, O
Alcoro, S. Paulo, Difel, 1969]
-
Iluminura de um exemplar de meados do sculo IX
de um texto da Bblia revisto por Alcuno.
Alcuno (735-804) Natural de Nortmbria, Alcuno tornou-se o bibliotecrio da catedral de York, antes de viajar para a corte de Carlos
Magno na Francnia em 782. Desempenhou a um papel proeminente
na Renascena Carolngia e fundou a escola do palcio em Aix-la-
Chapelle, onde eram ensinadas as sete artes liberais de acordo com o
sistema educacional de Cassiodoro. Seus prprios escritos incluram
obras sobre retrica, lgica e dialtica, uma reviso do sacramentrio
gregoriano, uma edio do lecionrio e colaboraes para os Libri
Carolini, um tratado escrito por ordem de Carlos Magno contra os
Icondulos, que tinham voltado a ocupar uma posio importante em
Bizncio em 787. Suas mais importantes contribuies eruditas so a
sua reviso da Vulgata e suas volumosas cartas, as quais foram
coligidas no sculo IX para servir como m