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  • DICIONRIO DA IDADE MDIA

    http://groups-beta.google.com/group/digitalsource

  • Um mapa do mundo conhecido, tendo por centro a cidade de Jerusalm, de um saltrio ingls do incio do sculo XIII (British Library, Londres).

  • DICIONRIO DA IDADE MDIA

    Organizado por HENRY R. LOYN

    Professor Emrito de Histria Medieval, Universidade de Londres

    Com 250 ilustraes

    Traduo: LVARO CABRAL

    Licenciado em Cincias Histricas e Filosficas, Faculdade de Letras da Universidade Clssica de Lisboa

    Reviso Tcnica: HILRIO FRANCO JUNIOR

    Professor de Histria Medieval, Universidade de So Paulo

    Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro

  • Ttulo original: The Middle Ages - A Concise Encyclopaedia

    Traduo autorizada da primeira edio inglesa publicada em 1989 por Thames and Hudson Ltd.,

    de Londres, Inglaterra

    Copyright 1989 Thames and Hudson Ltd., London

    Copyright 1990 da edio em lngua portuguesa: Jorge Zahar Editor Ltda. rua Mxico 31 sobreloja

    20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 240-0226 / fax: (21) 262-5123

    e-mail: [email protected]

    Todos os direitos reservados. A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao do Copyright. (Lei 5.988)

    Ilustrao da capa: Pierre Salmon, Rponses Charles VI et Lamentation au Roi, 1409 (Paris, Biblioteca Nacional)

    CIP-Brasil. Catalogao-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

    D541 Dicionrio da Idade Mdia / organizado por Henry R. Loyn; traduo, lvaro Cabral; reviso tcnica, Hilrio Franco Jnior. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar Ed., 1997: il.

    Traduo de: The Middle Ages: a concise encyclopaedia

    ISBN: 85-7110-151-5

    1. Idade Mdia - Dicionrios. I. Loyn, H.R. 2. (Henry Royston).

    CDD 940.1403 97-1721 CDU 940 (038)

  • APRESENTAO EDIO BRASILEIRA:

    BREVE PANORAMA MEDIEVAL

    FRANKLIN DE OLIVEIRA

    A grande maioria dos brasileiros continua prisioneira do

    preconceito forjado pelos historiadores liberais do sculo XIX, que

    definiam a Idade Mdia como um perodo de trevas. preciso soterrar,

    de vez, equvoco to grosseiro. O Medievo no significa somente a

    fundao da Europa em suas bases crist e romana. No bojo da Idade

    Mdia gerou-se o mundo moderno. L, com Ockham, Oresme e outros,

    surgiram os fundamentos da cincia contempornea, como to

    claramente comprovou Pierre Duhem. Ao chamarem de obscurantista a

    Idade Mdia, os historiadores liberais a ela opuseram o grande claro

    do Renascimento. Ao faz-lo, esqueceram duas coisas: os inmeros

    proto-renascimentos que ocorreram durante o Medievo, e o fato de que

    os homens geniais da Renascena formaram-se no chamado Baixo

    Medievo. E mais: esqueceram a revivescncia dos sentimentos religiosos

    no Quatrocento, e ainda, que a Renascena no comeou com os

    humanistas e Petrarca, mas com Francisco de Assis. E mais: que o

    Medievo foi uma ecloso contnua de Renascenas: a Carolngia, a do

    Sculo XII, a Franciscana, a Otoniana, a Escolstica, a Nominalista.

    Duas Renascenas assinalaram o incio da Idade Mdia: a Carolngia, no

    sculo IX, que promoveu a latinizao dos povos germnicos e sua

    conquista espiritual pela Igreja Catlica, e a do Sculo XII, quando se d,

    nos conventos, a ressurreio dos estudos clssicos, fonte do humanismo

    europeu. Precedendo uma outra Renascena medieval a da

    Escolstica, j referida , ocorre com a Patrstica o encontro do

    Cristianismo com o mundo. Esse encontro foi preparado pelos padres

    gregos, sobretudo Clemente e Orgenes. o momento da maturidade do

    platonismo, que ilumina toda a Idade Mdia. Como pode um perodo to

    rico em fatos culturais, que modelaram a fisionomia do Ocidente, ser

    chamado de poca das trevas?

  • claro que a civilizao medieval foi uma civilizao eminentemente

    religiosa, mas no divorciou o homem da terra. Ela, a terra, se

    transformou em sua oficina. Explodiram as invenes: a do arado, a do

    moinho dgua e do moinho de vento, a dos teares etc. Se a atividade

    rural continuou sendo a base de tudo, um insurgente artesanato

    provocou um movimento de urbanizao. Com o nascimento das

    cidades aceleraram-se as trocas, desenvolveu-se o comrcio.

    Delinearam-se as bases de uma economia monetria. No h erro em

    dizer que no sculo XII estabeleceram-se princpios econmicos que

    ainda hoje regem a nossa civilizao.

    Mas, quando se inicia a Idade Mdia?

    Suas origens datam do final do Imprio Romano (comeo do sculo

    V) e sua vigncia histrica estende-se at o sculo XVI, quando se

    instaura a grande Renascena Italiana, que ela preparou. O Convento e

    o Castelo so os seus emblemas, mas o maior de todos a catedral

    gtica, que parecia procurar abolir as fronteiras entre o finito e o infinito.

    Erwin Panofsky, o extraordinrio historiador da arte, formado na escola de

    Warburg, e que fundou uma nova disciplina a histria da produo

    das imagens , viu no gtico a trasladao esttica da Escolstica.

    Sociedade densamente hierarquizada, a Idade Mdia foi, por isso

    mesmo, cenrio de revoltas sociais contnuas que tm o seu paradigma

    na Jacqurie, em que os camponeses oprimidos tentaram quebrar os

    grilhes do feudalismo assassinando os seus senhores, violando suas

    mulheres. A de 1358 foi seguramente a mais sangrenta de todas as

    revoltas sociais do sculo XIV.

    Se o cenrio social alberga insurreies camponesas, h no plo

    oposto talvez a maior criao humana medieval: a Universidade, que

    surge em Praga, Pdua, Bolonha, Salamanca, Paris, Montpellier,

    Oxford, Cambridge, Viena, Cracvia e Heidelberg. Em Toledo funda-se

    a escola dos grandes tradutores rabes, que redescobrem Aristteles.

    Ao lado dos pensadores laicos formam-se, nos Pases Baixos e na

    Rennia, as correntes dos msticos: Mestre Eckhart, Joo Tauler,

    Henrique Suso e Jan Van Ruysbroeck. H a caa s feiticeiras. E h

  • Dante. E h Giotto. Nas cidades flamengas, pintores como os irmos

    Eyck, Rogier van der Weyden, e escultores como Sluter ampliam

    gloriosamente o patrimnio cultural do Ocidente. Se os nomes de

    Dante, Petrarca, Villon e o lirismo dos trovadores provenais no

    bastassem para assegurar a grandeza literria medieval, teramos para

    assegurar esta mesma grandeza a poesia proletria dos goliardos. Esses

    poetas, que exaltavam o vinho e o amor fsico, foram os crticos

    existenciais da sociedade medieval, rebelados contra as estruturas

    estabelecidas, Jograis vermelhos, se assim se pode dizer.

    Abelardo a primeira figura do intelectual moderno. Chamaram-

    lhe de cavaleiro da dialtica.

    Abelardo e Helosa. Ela tem 17 anos, bela e culta. O amor que

    os une reala o significado da mulher no mundo, reforando a teoria

    do amor natural tal como ele aparece no Romance da Rosa, um sculo

    depois. A apario de Helosa ao lado de Abelardo a glorificao da

    carne, do amor carnal que mais tarde os humanistas iriam considerar

    o principal requisito da plenitude do ser humano. Estamos longe do

    lirismo abstrato dos trovadores e da aura do Tristo e Isolda, em que

    pese o erotismo intenso da lenda. Ao falar dos homens da Idade Mdia,

    um historiador moderno no se conteve, e exclamou: Mas esses

    homens somos ns mesmos! Nossa modernidade vem de l,

    queiramos ou no.

    H um fato singelo, mas que fulmina o mito do obscurantismo

    medieval. Ele encontrado no traje, sobretudo no vesturio feminino. A

    Idade Mdia tinha averso s cores sombrias. As mulheres medievais

    usavam roupas que seguiam a linha do corpo, expondo-lhes sobretudo

    o busto no tinham nada de monacal. Serviam ao corpo e no alma.

    Mas a valorizao da mulher padeceu, na Idade Mdia, de grave

    limitao, consubstanciada no direito de pernada: verso popular do

    ijus primae noctis. A camponesa que casasse era obrigada, na primeira

    noite de npcias, a entregar a sua virgindade ao patro ou ao capataz

    por ele indicado.

    Era intenso o cultivo da vinha no Medievo. O vinho estava sempre

  • presente em todos os momentos, festivos ou no, da sociedade

    medieval, que distinguia entre o escravo, tratado como coisa, e o servo

    da terra, que podia possuir famlia, alm de uma minscula

    propriedade onde praticava a agricultura de sobrevivncia.

    A partir do sculo XIII, o ponto de partida da reflexo econmica

    o mesmo de Adam Smith: o problema da diviso do trabalho. Em um

    curso ministrado em 1763, em Glasgow, Adam Smith conservava ainda

    o esquema do tratado dos escolsticos. S mais tarde, no Inqurito

    sobre a natureza e as causas da riqueza das naes, separar a filosofia

    moral da cincia econmica, emancipando esta ltima.

    Apesar de manter o seu universalismo religioso, no final da Idade

    Mdia surgem os espaos nacionais: nascem os Estados. O latim,

    lngua comum, se assim podemos dizer, perde a sua hegemonia

    cultural. Surgem as lnguas nacionais. Comea a se desenvolver uma

    analogia entre o mundo e o homem, entre o macrocosmo e esse

    universo em miniatura que o ser humano.

    Publica-se a grande enciclopdia de Adelardo de Bath que explora

    longamente a anatomia e a fisiologia humanas. O humanismo

    medieval no esperou pelo humanismo renascentista para penetrar os

    segredos do corpo. E retornou concepo estica do mundo como

    uma fbrica: ela produz segundo a vontade do homem. A oposio

    entre a razo e a experincia se torna menor graas a Roger Bacon e

    Rober Grosseteste. O empirismo comea a dar sinais de vida.

    A Idade Mdia constituda de ciclos: o de Carlos Magno, o de

    Alexandre, o Grande, o de Rolando, o do rei Artur, do qual demanda

    um ideal de justia e de f religiosa, de procura da bem-amada

    inatingvel, da galanteria cavaleiresca, dos sentimentos de honra, do

    misticismo e das faanhas guerreiras. Mas esses ciclos guardam entre si

    profundas diferenas. No breto, predomina o sentimento amoroso;

    no ciclo carolngio, a predominncia guerreira.

    A necessidade de delimitar o gigantesco territrio que se estende

    da Antigidade Modernidade determinou a criao do perodo

    medieval e da diviso tripartida do mundo Antigidade Clssica,

  • poca Romana e Idade Mdia , diviso que veio a ser consagrada em

    1583, por Christoph Keller, embora nunca se registrasse concordncia e

    unanimidade quanto a tais delimitaes.

    S no sculo XVIII, na Frana, conceituao e limites do Medievo

    foram aceitos. Essa aceitao chegou Inglaterra, e estendeu-se ao

    Continente Europeu. Superado esse problema, surgiu um outro: o das

    subdivises. A Idade Mdia no era vista como uma unidade

    inconstil. Na Frana, chamou-se Alta Idade Mdia ao perodo que se

    prolongaria at as Cruzadas; e Baixa Idade Mdia ao perodo que se

    iniciou logo aps e terminou no sculo XV. Os alemes e os ingleses

    preferem outra subdiviso: Alta Idade Mdia (sculos XII e XIII).; Idade

    Mdia Tardia, para o perodo terminal; Primeira Idade Mdia (sculos XI a

    XIII) e ltima Idade Mdia (sculos XIII a XV). H outras designaes em

    ingls: Alta Idade Mdia e Idade Mdia Central. Todas estas divises

    contm, porm, o seu gro de arbitrariedade histrica.

    Desde o humanismo renascentista a Idade Mdia vista de

    diversos ngulos. O mais importante deles o de Erasmo de

    Rotterdam, o prncipe do humanismo, que lhe negou o obscurantismo.

    Mas a reabilitao do Medievo comea, de fato, com os romnticos, na

    Alemanha e na Frana. Goethe no ficou insensvel a tal revalorizao.

    Na Alemanha, sobretudo Novalis levou mais longe a apologia da Idade

    Mdia. Na Frana, Chateaubriand restaurou o prestgio dos temas

    medievais, embora a sua Idade Mdia seja inteiramente convencional.

    Em Notre Dame de Paris, Victor Hugo nos d uma fremente imagem do

    Medievo. Mrime iniciou os estudos sobre a arte romnica sob a

    influncia do escritor escocs Walter Scott que, nos seus romances em

    estilo pico, usou temas do perodo medieval. Ainda na Inglaterra, Lorde

    Acton colocou a Antigidade Clssica e a Idade Mdia no mesmo p de

    igualdade.

    O gtico, os pintores flamengos, os construtores de catedrais, os

    trovadores provenais e os goliardos compuseram a legenda urea da

    arte e da literatura medievais. Mas, pergunta-se, numa civilizao

    eminentemente religiosa, no houve espao para a msica, a

  • manifestao mais alta da transcendncia divina no homem?

    Houve. A primeira obra da literatura moderna o Hinrio da

    Igreja Latina. O Te Deum o maior documento do esprito de

    resistncia aos romanos, nos terrveis sculos IV a VI. A lrica

    especificamente crist do Ocidente latino inicia-se com os hinos da

    Igreja. Os modelos desses cantos litrgicos j existiam no Oriente, mas

    sobretudo Ambrsio quem os introduz na igreja Ocidental.

    Ningum ignora que o lirismo trovadoresco deriva das formas da

    poesia da Igreja Crist, apesar dos trovadores provenais serem

    herticos e anticlericais. As cortes da Provena eram heterodoxas. No

    entanto, o primeiro fato a antecipar o nascimento do lirismo

    trovadoresco foi a mstica de So Bernardo e de Hugo de Saint-Victor.

    As cartas trocadas entre frades e monges dos sculos X, XI e XII,

    cartas de louvor mulher amada, cartas impregnadas da influncia de

    Ovdio foram as fontes onde os trovadores saciaram sua sede de beleza.

    O trovadorismo provenal celebra o florescimento da vida, tal como a

    exortao alegria feita pela hinologia da Pscoa. Trovadores e

    minnesaenger aprenderam e incorporaram sua potica as formas e

    os ritmos da igreja Medieval. Esses poetas fizeram apenas um caminho

    inverso: partiram do santo para o profano.

    Cai gloriosamente a noite medieval. Prorrompe, irrompe

    implodindo luz, o Renascimento. Mas Thode, Burdach, Carl Neumann,

    Sabatier, Gebhart, Zabughin, Garin e tantos outros so unnimes em

    afirmar que o Renascimento foi gestado no tero da Idade Mdia. A

    compreenso deste fato essencial para a nossa prpria

    compreenso: o Brasil descoberto na Renascena, mas a sua

    civilizao se faz sob o signo do Medievo.

    Hoje, grandes historiadores ingleses e franceses, dentre os quais

    se destacam Georges Duby e Jacques le Goff, Guy Fourquin e George

    Holmes, esto desmontando o mito alinhavado pelos historiadores

    liberais do sculo XIX, sobretudo por Michelet. A reviso total,

    assentada no rigor da anlise documental, que torna a fraude da

    histria um fato arquivvel.

  • Por tudo isto, por se colocar sempre contra a prostituio da

    histria, o editor Jorge Zahar teve a coragem de empreender a edio

    brasileira deste Dicionrio da Idade Mdia, que no pode faltar a

    nenhuma biblioteca. Confiou a sua traduo a lvaro Cabral homem

    de saber, e no apenas tradutor competentssimo, que enriqueceu este

    dicionrio com algumas notas sobre o Medievo Portugus , e a sua

    reviso tcnica a um especialista, Hilrio Franco Junior, professor de

    histria medieval da Universidade de So Paulo. A idoneidade da edio

    est plenamente assegurada, para honra da indstria editorial

    brasileira.

  • GUIA DO LEITOR PARA USO DESTE LIVRO

    A Idade Mdia foi dominada durante muito tempo, no esprito do

    grande pblico, por imagens de faanhas cavaleirescas e ritual corteso,

    pelo fervor espiritual e pela sanginria violncia dos cruzados. Esses

    conceitos pitorescos tm sido propensos a obscurecer o verdadeiro

    valor do perodo como uma idade de real progresso em todas as reas,

    de evoluo poltica e social, de criatividade artstica e intelectual, de

    avano comercial e cientfico.

    uma tarefa enorme fazer justia a esse panorama deformado, e

    tivemos que ser necessariamente seletivos. O intuito preponderante, do

    comeo ao fim do volume, foi fornecer tanto ao principiante quanto ao

    especialista uma apresentao sumria do pensamento atual sobre os

    protagonistas, eventos e temas principais relacionados com a histria

    da Europa desde a Escandinvia at o Oriente Mdio entre os

    anos de 400 e 1500, aproximadamente. Dentro desse vasto campo

    geogrfico e histrico, tentamos estabelecer um equilbrio entre verbetes

    concisos, fatuais, sobre batalhas, tratados, indivduos e localizaes

    principais, e um tratamento mais discursivo de tpicos de vivo interesse

    como background. O dicionrio deve, portanto, ser de comprovada

    utilidade para estudantes e estudiosos como um aide-mmoire, para

    verificar rpida e facilmente fatos essenciais; e como estimulante guia e

    companheiro para o leitor curioso, com um interesse mais genrico

    sobre o perodo.

    Um dicionrio como este, de carter enciclopdico, deve ser mais

    do que uma inerte coleo de fatos essenciais e, a fim de habilitar o

    leitor a seguir uma criativa linha de investigao de verbete para

    verbete, as remisses foram especialmente organizadas para auxiliar a

    liberdade de movimento, dentro do texto, sem prejudicar a legibilidade.

    A maioria dos nomes prprios no participou das remisses, uma vez

    que quase todos eles, como se pode supor, tm verbetes especficos. Os

    assuntos enumerados no final de um verbete encaminham o leitor para

    tpicos afins ainda no mencionados, mas que podero ser de

  • interesse complementar.

    Obras gerais de referncia so sugeridas na Nota bibliogrfica da

    p.371, mas ttulos mais especficos foram tambm fornecidos em

    praticamente todos os verbetes para proporcionar uma completa e

    atualizada bibliografia. Preocupamo-nos em indicar ttulos recentes e

    facilmente acessveis, salvo quando publicaes mais antigas continuam

    sendo as obras que representam o tratamento clssico de determinado

    assunto. Quanto aos verbetes onde no dada qualquer referncia

    bibliogrfica, as remisses conduziro o leitor para um verbete mais

    extenso, associado, onde os ttulos pertinentes so indicados.

    As ilustraes foram especialmente escolhidas por seu interesse

    documental; os nmeros entre colchetes no final de um verbete indicam

    pginas em outras partes do livro onde ilustraes referentes ao assunto

    do verbete podem ser encontradas. Tambm se oferecem dois mapas

    gerais nas pp. XII e XIII, e numerosos mapas menores e quadros

    genealgicos foram inseridos ao longo do texto. Os verbetes mais

    substanciais so atribudos aos seus autores de acordo com a chave

    fornecida na p. XI, com a Lista de colaboradores.

    A minha dvida como organizador deste dicionrio grande

    para com numerosos amigos, colegas e estudantes

    pesquisadores, que me ajudaram nos verbetes apropriados s

    suas respectivas especialidades. A dra. Anne Dawtry, falecida

    sra. Jane Hebert e a sra. Sara-Jane Webber atuaram como

    subeditoras para algumas sees nas fases iniciais do

    empreendimento; a sra. Michelle Brown, a dra. Elizabeth M.

    Hallam, a sra. Elizabeth Lockwood e a dra. Cathy Harding

    prestaram considervel ajuda nas fases subseqentes. As sras.

    Miriam van Bers, Helena Reid e Anne Markinson mantiveram o

    editor de texto sob controle, garantindo que as inevitveis

    dificuldades no se tornassem incontrolveis. Meus

    agradecimentos a todos e, em especial, ao quadro editorial da

    Thames and Hudson.

    HENRY LOYN

  • Nota da edio brasileira

    Dois tipos de informaes foram acrescidos ao texto original

    para melhor servir aos leitores de lngua portuguesa: em alguns

    casos, informaes de contedo, quase sempre complementando

    dados sobre a histria de Portugal medieval; mais

    freqentemente, informaes bibliogrficas, indicando tradues

    em lngua portuguesa ou espanhola em substituio s mesmas

    obras citadas em ingls, ou ainda fazendo indicaes extras em

    verbetes importantes ou desprovidos de bibliografia. Todos esses

    acrscimos aparecem entre colchetes, assinalados com NT

    quando devidos ao tradutor, sendo os demais de

    responsabilidade do revisor tcnico.

  • LISTA DE COLABORADORES

    DB Dr. David Bates, professor titular de Histria, University

    College, Cardiff CB Christopher Brooke, professor de Histria Eclesistica (Dixie

    Professor), Gonville and Caius College, Cambridge RB Dra. Rosalind Brooke, docente de Histria, Universidade de

    Cambridge MB Michelle Brown, assistente de pesquisa, Departamento de

    Manuscritos, British Library, Londres SB Sarah Brown, Diviso de Arquitetura, Royal Commission on the

    Historical Monuments of England, Londres RAB R. Allen Brown, professor de Histria, Kings College, Universidade

    de Londres TJB T. Julian Brown, professor de Paleografia, Kings College,

    Universidade de Londres DC David F. L. Chadd, diretor, Escola de Histria da Arte e Msica

    da Universidade de East Anglia WD Wendy Davies, professora de Histria, University College,

    Londres AD Dra. Anne Dawtry, professora de Histria, Chester College,

    Chester PD Dr. Peter Denley, professor de Histria, Westfield College,

    Universidade de Londres ADD Alan Deyermond, professor de Espanhol, Westfield College,

    Universidade de Londres GE Dr. Gillian Evans, Fellow, do Fitzwilliam College, Cambridge JF Jill Franklin, Universidade de East Anglia PG Philip Grierson, professor Emrito e Fellow do Gonville and

    Caius College, Cambridge EMH Dra. Elizabeth M. Hallam, conservadora-assistente do Public

    Record Office, Londres CH Dra. Catherine Harding, Departamento de Arte, Queens

  • University Kingston, Canad JH Jane Herbert, Westfield College, Universidade de Londres RH Rosalind Hill, Professora Emrita de Histria, Westfield College,

    Universidade de Londres GK Dr. Gillian Keir, Westfield College, Universidade de Londres CHK Dr. Clive Knowles, professor de Histria, University College,

    Cardiff CHL C. Hugh Lawrence, Professor Emrito de Histria, Royal

    Holloway and Bedford New College, Universidade de Londres EL Elizabeth Lockwood, Westfield College, Universidade de

    Londres HRL Henry Loyn, Professor Emrito de Histria, Westfield College,

    Universidade de Londres DL David Luscombe, professor de Histria Medieval, Universidade

    de Sheffield GM Professor Geoffrey Martin, Conservador do Public Record Office,

    Londres RIM Robert I. Moore, professor-assistente de Histria Medieval,

    Universidade de Sheffield JLN Dra. Janete Nelson, professora de Histria, Kings College,

    Universidade de Londres DN Donald M. Nicol, professor de Grego Moderno e Histria, Lngua

    e Literatura Bizantinas, Kings College, Universidade de Londres CP Ciaran Prendergast, Royal Holloway and Bedford New College,

    Universidade de Londres JR-S Jonathan Riley-Smith, professor de Histria, Royal Holloway

    and Bedford New College, Universidade de Londres NR Nicolai Rubinstein, Professor Emrito de Histria, Westfield

    College, Universidade de Londres DJS Dr. D. Justin Schove, diretor da St. Davids School,

    Beckenham IS Ian Short, professor de Francs, Birkbeck College,

    Universidade de Londres

  • JS Jane Symmons, Westfield College, Universidade de Londres TSS T.S. Smith RT Dr. Rodney Thomson, Departamento de Histria, Universidade

    da Tasmnia S-JW Sara-Jane Webber, Westfield College, Universidade de Londres

    sw Steven Wilson, School of Oriental and African Studies, Universidade de Londres

    GZ George Zarnecki, Professor Emrito, Courtauld Institute of Art,

    Londres

  • A Abdida, dinastia Fundada pelo vizir e cdi Abu el-Kacim Maom Ibn-Abbad (1023-42), em cujas veias corria sangue rabe e espanhol, a

    dinastia Abdida governou Sevilha entre a queda do califado de Crdova

    e a conquista almorvida da Espanha muulmana. Durante o seu

    domnio, Sevilha tornou-se o mais prspero dos reinos taifa, que eram

    os Estados sucessores do califado, absorvendo um certo nmero de

    taifas menores e conquistando Crdova em 1070. A corte abdida era o

    centro de uma brilhante cultura potica; os prprios reis eram poetas.

    O ltimo da linhagem, al-Mutamid, foi deposto e aprisionado pelos

    almorvidas em 1091.

    D. Wasserstein, The Rise and Fall of the Party-Kings (1986)

    Abssida, dinastia Os califas abssidas ou sucessores de Maom exerceram autoridade sobre grande parte do mundo muulmano,

    coincidindo o seu perodo de maior triunfo nas artes e na poltica com o

    reinado de Harun al-Rachid (786-809), um contemporneo de Carlos

    Magno. Subiram ao poder frente das faces xiitas que se opunham

    aos omadas mas, aps suas vitrias no final da dcada de 740, quando

    todo o mundo muulmano, exceto a Espanha (que permaneceu leal aos

    omadas), ficou-lhes submetido, adotaram os ritos sunitas da maioria e

    transferiram sua capital de Damasco mais para leste, construindo a

    grande e nova cidade de Bagd. A influncia persa, com suas tradies

    de absolutismo oriental, tornou-se predominante na administrao

    abssida; os interesses da dinastia concentraram-se cada vez mais no

    Oriente, com vistas s grandes rotas comerciais para a ndia e a China.

    Um califado separado foi estabelecido no Egito e na Palestina sob o

    domnio dos fatmidas no sculo X, e os abssidas viram seu papel

    reduzido ao de lderes religiosos e cerimoniais, passando o efetivo poder

    para os turcos seljcidas, que conquistaram Bagd em meados do

    sculo XI e, finalmente, para os mongis, que aboliram o califado em

  • 1258. [213]

    The Cambridge History of Islam, vol. I, org. por P. Holt, A. Lambton e

    B. Lewis (1970)

    Abbon de Fleury, Santo (954-1004) Um dos homens mais eruditos de seu tempo, Abbon escreveu tratados sobre autoridade papal,

    astronomia e matemtica. Educado nas escolas de Fleury, Reims e

    Paris, apoiou os reformadores de Cluny e, aps um perodo de exlio na

    Inglaterra, foi eleito abade de Fleury em 988. J tinha ento a reputao

    de ativo reformador monstico, determinado a manter os mosteiros

    livres de controle episcopal e secular. Desempenhou um papel na

    renovao beneditina inglesa, especialmente na abadia de Ramsey.

    D. Knowles, The Monastic Order in England (1950); P. Cousin, Abbon

    de Fleury-sur-Loire (1954)

    Abd el-Malik califa 685-705 (n. 647) Foi o verdadeiro responsvel pela consolidao do poder da dinastia Omada. Cognominado pelos

    historiadores como o pai dos reis, ele e seus quatro filhos dominaram

    o califado at a dcada de 740 e, sob a direo deles, a partir de sua

    base em Damasco, a f islmica propagou-se desde as regies

    montanhosas da Espanha at a provncia de Sind na ndia. A

    contribuio pessoal de Abd el-Malik consistiu em reconciliar faces

    rivais e em estimular o controle militar no Ocidente (Cartago caiu em

    698) e no Oriente. Destacaram-se dentre os atributos imperiais da

    dinastia, o consumo ostensivo e a construo da grande mesquita de

    Ornar, mais conhecida como a Cpula do Rochedo.

    Dinar de ouro do califa Abd el-Malik

  • Abd el-Rahman I governante omada da Andaluzia 756-88 (n. 731) ltimo membro remanescente da dinastia Omada aps sua derrubada

    pelos abssidas; em 756 instalou-se como emir independente de

    Crdova, na Espanha. Durante seu reinado, pde controlar as vrias

    faces no interior da Espanha e obteve at o apoio dos bascos cristos

    contra as incurses dos francos. Por exemplo, a tentativa de Carlos

    Magno de conquistar a Espanha em 778, auxiliado por Ibn el-Arabi de

    Saragoa, fracassou em conseqncia de uma aliana entre Abd el-

    Rahman e os berberes cristos da regio basca. Os francos foram

    derrotados e sua retaguarda completamente eliminada no desfiladeiro

    de Roncesvalles, nos Pireneus, na batalha que deu origem ao famoso

    poema pico, a Cano de Rolando, uma vez que Rolando, o governador

    da Bretanha, estava entre os que a morreram. Aps o falecimento de

    Abd el-Rahman, a guerra civil eclodiu de novo no reinado de seu filho,

    Hisham I (788-96), e prosseguiu durante quase um sculo.

    P. Hitti, History of the Arabs (1951)

    Abelardo, Pedro (1079-1142) Filsofo e telogo, natural de Le Pallet, perto de Nantes. Sua carreira foi incomumente variada para um mestre

    escolstico: foi educado em Loches ou Tours sob a orientao de

    Roscelino de Compigne, estudou em Paris com Guilherme de

    Champeaux e em Laon com Anselmo de Laon. Polemizou violentamente

    com todos esses mestres. Lecionou em escolas de Paris, Melun e Corbeil

    at 1119, quando casou secretamente com Helosa, sobrinha do cnego

    Fulbert de Paris. Aps o nascimento do filho de ambos, Astrolbio,

    Abelardo foi castrado fora por agentes de Fulbert. Tendo

    providenciado o ingresso de Helosa como freira no convento de

    Argenteuil, Abelardo tornou-se monge no vizinho mosteiro abacial de

    Saint-Denis. Mas no tardou em voltar ao ensino e em 1121 sofreu sua

    primeira condenao como hertico em Soissons.

    A partir de 1122, lecionou num retiro rural em Quincey, na

    Champagne, e desde cerca de 1127 foi abade de Saint-Gildas-de-Rhuys,

    na sua Bretanha natal. Em ambos os lugares Abelardo viu-se

  • perseguido por dificuldades mas, enquanto abade, providenciou para

    que Helosa iniciasse um novo convento em Quincey, dedicado ao

    Paracleto. Por volta de 1136 reapareceu nas escolas de Paris, onde teve

    dentre seus ouvintes Joo de Salisbury. Uma segunda e mais

    devastadora condenao ocorreu num Conclio realizado em Sens, em

    1140, e essa foi confirmada pelo papa Inocncio II. A derrota veio aps

    veementes debates entre, de um lado, Abelardo e seus adeptos, que

    incluam Arnaldo de Brscia, e, do outro, Bernardo, o influente abade

    de Claraval, e muitos bispos da Frana. Abelardo retirou-se ento para

    a abadia de Cluny, onde contou com a amizade do abade Pedro, o

    Venervel. Morreu no priorado de Saint-Marcel, em Chalon-sur-Sane,

    em (ou logo aps) 1142. Pedro, o Venervel, transferiu os restos mortais

    de Abelardo para o Paracleto, onde Helosa permaneceu como abadessa

    at falecer em 1164.

    Abelardo e Helosa num capitel esculpido do sculo XIV

    na Concirgerie, Paris.

    Retratar Abelardo como um paladino da emancipao intelectual

    do domnio de monges que eram inimigos do saber, da cultura e da

    pesquisa, simplificar as tenses que culminaram nas duas

    condenaes de Abelardo por heresia. Dentre seus crticos estavam

    homens de indiscutvel talento, no s Bernardo de Claraval mas

    tambm Guilherme de Saint-Thierry e Hugo de Saint-Victor, enquanto

    que Abelardo (ele prprio um monge na maior parte de sua vida) se

    deliciava em disputas provocantes. Na Histria Calamitatum [Histria

    das Minhas Desgraas], Abelardo responsabiliza a inveja de seus rivais

    e o seu prprio orgulho por seus fracassos. Mas conquistou o interesse

    e a devoo de mais de uma gerao de estudantes por ter tornado a

  • lgica de Aristteles clara e por ter explorado com brilhantismo as

    funes e limitaes da linguagem.

    Como filsofo, Abelardo foi corretamente descrito como um no-

    realista. No incio de sua carreira, afastou-se da concepo

    predominante que via os universais (por exemplo, gnero, espcie) como

    coisas existentes (res). Distinguiu-se mais por suas penetrantes glosas a

    textos de Aristteles do que pela criao de uma sntese filosfica. Em

    teologia, Abelardo examinou criticamente as tradies recebidas do

    pensamento cristo; sua obra Sic et Non uma tentativa de resolver as

    aparentes contradies existentes no mbito do ensino cristo atravs

    da aplicao da dialtica. Seus mtodos no eram incomuns para a

    poca, mas suas concluses foram julgadas imprudentes por muitos.

    Seus ensinamentos teolgicos refletiram seu no-realismo dialtico;

    apresentou a Trindade em termos de atributos divinos (poder, sabedoria

    e amor) e no de pessoas divinas. Considerou o trabalho de redeno do

    Cristo menos como um fato objetivo (a libertao do homem do pecado

    ou do demnio) do que como um exemplo de ensino e sacrifcio que

    provoca uma resposta subjetiva ao amor divino. Na tica, Abelardo

    afastou-se da preocupao com aes para dedicar-se ao estudo da

    inteno e do consentimento. Sua tendncia para a interiorizao

    tambm ficou evidente nas substanciais contribuies literrias,

    legislativas e litrgicas que fez para o estabelecimento do convento do

    Paracleto, tendo Helosa como abadessa: as monjas eram exortadas a

    estudar e orar, e a no se sentirem tolhidas, mais do que o necessrio,

    por observncias externas. Abelardo admirava as figuras contemplativas

    que tinham sido modelos de sabedoria e virtude, fossem eles pagos,

    como Scrates ou Plato, Ccero ou Sneca, profetas, como Elias ou

    Joo Batista, ou monges cristos primitivos, como Antnio e Jernimo.

    Todos eles amaram a sabedoria e todos, portanto, como Cristo,

    mereceram o nome de filsofos.

    As avaliaes sobre o que, em termos gerais, Abelardo realizou so,

    inevitavelmente, complacentes ou crticas em excesso. Suas

    contribuies originais para a ascenso da Universidade de Paris e do

  • movimento escolstico medieval receberam por vezes uma ateno

    exagerada, mas ele produziu urna impresso muito forte sobre os

    escolsticos de seu tempo, mesmo que rapidamente seus interesses e

    livros tenham sido rejeitados ou, na melhor das hipteses, podados por

    seus sucessores. As suas principais obras so, na lgica, Dialectica, e os

    comentrios sobre a lgica aristotlica; na teologia, o j citado Sic et Non

    e a Theologia (tendo ambas as obras passado por sucessivas revises), a

    Ethica o Scite te ipsum [tica ou Conhece-te a Ti Mesmo], comentrios

    sobre o incio do Gnese e sobre a Epstola aos Romanos, e o Dialogus

    inter Judaeum, Philosophum et Christianum [Dilogo entre um Judeu,

    um Filsofo e um Cristo]. Hoje, sua popularidade deve-se

    principalmente correspondncia com Helosa. As cartas podem no ter

    circulado antes de meados do sculo XIII, e sua autenticidade

    contestada algumas vezes, sobretudo por causa da dificuldade em

    interpretar as letras dos autores. Mas o seu caso de amor despertou

    considervel interesse no s imediato mas ao longo de toda a Idade

    Mdia. Abelardo foi tambm um talentoso poeta e msico. DL

    E. Gilson, Heloise and Abelard (1953); D.E. Luscombe, The School of

    Peter Abelard (1969); Ablard en son Temps, org. por J. Jolivet (1981)

    Abu Bakr califa 632-34 O primeiro califa ou sucessor de Maom e sogro do Profeta. Venceu as faces no interior da Arbia, expandiu o Isl em

    toda a Pennsula Arbica e, no ltimo ano de sua vida, obteve sobre as

    foras bizantinas grandes vitrias que abriram o caminho para a

    conquista da Palestina. Seu principal instrumento em suas iniciativas

    militares foi o general Khalid ibn el-Valid, Espada de Al, conquistador

    final de Damasco (635).

    P. Hitti, History of the Arabs (1951)

    Acordo de Kenilworth (1266) Negociado entre Henrique III e os bares ingleses, foi um importante acordo constitucional que ps fim

    tentativa baronial de reforma governamental iniciada em 1258. Deu aos

    rebeldes a oportunidade de recuperarem suas terras, em troca de sua

    aceitao da restaurao da monarquia.

  • F.M. Powicke, King Henry III and the Lord Edward (1947)

    Acrcio, o Glosador (c. 1182-1260) Natural de Florena e professor de Direito na Universidade de Bolonha, especialmente famoso por seus

    comentrios sobre o Cdigo, Institutos e Digesto de Justiniano, os quais

    se tornaram leitura obrigatria para o estudo dessas obras nas

    universidades medievais. Faleceu em Bolonha e foi sepultado no adro

    da igreja da Ordem Franciscana. Seu filho Francisco tambm foi um

    jurista de considervel renome, tendo feito seu doutorado em direito

    com apenas 17 anos de idade.

    W. Ullmann, Law and Politics in the Middle Ages (1975)

    Ado de Bremen (m.c 1081) Cnego de Bremen que se tornou diretor da escola da catedral dessa cidade em 1066. Escreveu uma histria

    eclesistica em quatro livros, nos quais descreveu a expanso do

    Cristianismo na Europa setentrional, sobretudo nas dioceses de

    Bremen e Hamburgo. A obra termina com um valioso tratado sobre a

    situao da Dinamarca no terceiro quartel do sculo XI.

    B. Schmiedler, History of the archbishops of Hamburg-Bremen (1959)

    Adelaide, Santa (931-99) Segunda esposa de Oto I, o Grande, e filha de Rodolfo II de Borgonha. Em 947 tornou-se noiva de Lotrio, filho de

    Hugo, rei da Itlia. Aps a morte de Lotrio em 950, ela foi capturada e

    encarcerada por Berengrio, margrave de Ivrea, porque se recusou a

    casar com seu filho. Fugiu em 951, buscando refgio em Canossa.

    Casou no mesmo ano com Oto, o Grande, e foi coroada imperatriz em

    962. Acompanhou Oto em sua terceira campanha na Itlia, em 966, e

    depois da morte do marido permaneceu ativa no governo at se

    desentender com seu filho, Oto II. A reconciliao ocorreu em 983 e ela

    foi nomeada vice-rei na Itlia. Desempenhou um importante papel no

    governo durante a menoridade de Oto III, junto com a viva de Oto II,

    Tefane, e foi destacada defensora da reforma cluniacense.

    K.J. Leyser, Rule and Conflict in an Early Medieval Society (1979)

    Adelardo de Bath (1090-1150) Monge, matemtico e cientista ingls

  • que traduziu para o latim algumas das obras dos matemticos

    islmicos Al-Khwarismi e Abu Machar. Acredita-se que tenha sido

    tambm ele quem introduziu no mundo ocidental o conhecimento do

    astrolbio, um instrumento cientfico (herdado dos gregos atravs dos

    rabes) para informar a hora mediante a observao do Sol, e para

    encontrar latitudes e calcular altitudes. Sua traduo de uma verso

    rabe de Euclides tornou-se um compndio clssico de geometria no

    mundo ocidental.

    F.J.P. Bliemetzrieder, Adelhard von Bath (1935); M. Clagett, Dictionary

    of Scientific Biography, org. por C.C. Gillespie (1970)

    Ademar (m. 1098) Bispo de Le Puy. Nomeado legado apostlico para a Primeira Cruzada, acompanhou os cruzados na expedio ao Oriente

    Prximo. Negociou com o imperador Aleixo Comneno em Nicia,

    restabeleceu alguma disciplina entre os cruzados e morreu pouco

    depois da tomada de Antioquia.

    G.J. dAdhmar Labaume, Adhmar de Monteil, vque du Puy (1910)

    adocionismo Ver heresia adocionista

    Adriano I papa 772-95 Um dos mais influentes papas no perodo inicial da Idade Mdia, Adriano convidou Carlos Magno e os francos a apoi-lo

    contra a presso lombarda. A interveno provou ser decisiva: o reino

    lombardo foi esmagado e Carlos Magno adotou o ttulo de rei dos

    lombardos. Adriano manteve intato, de forma bastante habilidosa, o

    controle papal no centro da Itlia em face da nova situao poltica,

    reparou e reconstruiu a prpria cidade de Roma, e abriu caminho,

    mediante uma srie de delicadas negociaes com Constantinopla, para

    uma nova ordem no Ocidente, a qual foi simbolizada, em ultima

    instncia, pela coroao imperial de Carlos Magno em 800 pelas mos

    do sucessor imediato de Adriano, o papa Leo III.

    D. Bullough, The Age of Charlemagne (1966)

    Adriano IV (Nicolau Breakspear) papa 1154-59 (n.c 1100) O nico ingls que at hoje ascendeu ao trono papal. Natural de Abbots

  • Langley, perto de St. Albans, foi cnego da abadia de Saint-Ruf, nas

    vizinhanas de Aries, na Frana, da qual foi eleito abade em 1137. Foi

    nomeado cardeal-bispo de Albano pelo papa Eugnio III (1148-53), e

    depois serviu como legado papal na Escandinvia. Organizou os

    negcios do arcebispado de Trondheim e estabeleceu acordos que

    resultaram no reconhecimento de Uppsala como sede do metropolita

    sueco. Aps seu regresso, Breakspear foi bem recebido pelo sucessor de

    Eugnio, Anastcio IV, e com a morte deste ltimo foi eleito papa.

    Embora tivesse coroado Frederico Barba-Ruiva como soberano do Sacro

    Imprio Romano-Germnico em 1155, seu pontificado foi seriamente

    perturbado por disputas com Frederico, as quais ainda no tinham sido

    resolvidas ao tempo da morte de Adriano.

    W. Ullmann, The Pontificate of Adrian IV, Cambridge Historical

    Journal (1955); R. Southern, Pope Adrian IV, Medieval Humanism and

    other Studies (1970)

    Acio Flvio (c. 396-454) General romano. Natural do Baixo Danbio, era filho de um general romano e de uma nobre italiana, mas passou

    boa parte de sua juventude como refm, primeiro dos godos e mais

    tarde dos hunos. Em 435, fez uso de auxiliares hunos ao subjugar os

    borgonheses, mas quando os hunos se tornaram uma real ameaa para

    o Imprio Romano, sob o comando de tila, Acio foi forado a atac-

    los. Em maio de 451 sustou-lhes o avano em Orlans mas no

    conseguiu obter uma vitria decisiva, e tila pde se dedicar a novas

    conquistas na Itlia. Acio foi assassinado em 454 pelo imperador

    Valentiniano III, que temia que os continuados xitos de Acio como

    comandante das foras militares romanas acabassem resultando em

    sua prpria deposio em favor do general.

    Afonso I rei das Astrias 739-57 Genro de Pelgio (lder visigodo da resistncia asturiana contra a invaso rabe) e provavelmente

    descendente de reis visigodos. Afonso foi escolhido para governar as

    Astrias quando seu cunhado Fafila foi morto por um urso. No prazo de

    um ano, a revolta das guarnies brberes por toda a Pennsula Ibrica

  • e a guerra civil resultante, deram a Afonso a oportunidade de

    ultrapassar as fronteiras de seu pequeno e montanhoso territrio, e

    conquistar terras muito ao sul do rio Douro; a Galcia, a Cantbria, La

    Rioja e parte de Leo caram em seu poder. As reas meridionais foram

    devastadas e evacuadas, criando uma extensa terra de ningum, e as

    regies setentrionais foram fortalecidas dos pontos de vista demogrfico

    e militar. Quando Afonso morreu, o reino das Astrias estava

    solidamente estabelecido e estendia-se desde a costa atlntica da

    Galcia at a fronteira oriental de La Rioja; no sculo seguinte,

    converteu-se no reino de Leo.

    C. Snchez-Albornoz, Orgenes de la nacin espaola: el reino de

    Asturias, vol. I (1972)

    Afonso V, o Magnnimo rei de Arago 1416-58 (n. em 1395) Neto de Joo I de Castela e filho de Fernando de Antequera, foi criado na corte

    castelhana at seu pai ser coroado rei de Arago em 1412. Sucedeu ao

    pai como rei em 1416 e, durante seu reinado, defrontou-se com

    numerosos problemas: a aristocracia aragonesa tinha cimes dos

    conselheiros castelhanos de Afonso e, ao mesmo tempo, o campesinato

    catalo estava constantemente procurando conquistar sua

    independncia da Coroa.

    Foi bem-sucedido, porm, no prosseguimento da expanso

    ultramarina de Arago. Pacificou a Sardenha e a Siclia em 1420 e, aps

    inmeras dificuldades, conseguiu conquistar Npoles em 1442.

    Transferiu depois sua corte para ali e nunca mais voltou Espanha.

    Quando morreu, em 1458, sucedeu-lhe em Npoles seu filho ilegtimo

    Berrante (ou Ferdinando I) e em Arago seu irmo Joo. O cognome o

    Magnnimo atribudo a Afonso V foi ganho em conseqncia de seu

    generoso patrocnio a numerosos humanistas da Renascena.

    Afonso VI rei de Leo e Castela 1065-1109 Segundo filho do rei Fernando I e neto de Sancho III de Navarra, Afonso tinha 25 anos

    quando herdou o reino de Leo de seu pai. Seis anos de lutas com os

    irmos, que tinham herdado outras partes do reino de Fernando,

  • culminaram na derrota de Afonso na batalha de Golpejera (janeiro de

    1072). Foi exilado para a cidade muulmana de Toledo mas, nove meses

    depois, foi bafejado pela sorte: o assassinato de Sancho II de Castela

    trouxe o monarca exilado de volta ao poder para governar Leo, Castela

    e Galcia.

    Apesar de sinistros boatos de cumplicidade no assassinato de

    Sancho, a at de incesto com sua irm, Afonso provou ser um

    governante enrgico e vitorioso, dos pontos de vista militar, poltico e

    cultural. Trabalhou em prol da reconciliao das trs partes do seu

    reino e estabeleceu sua ascendncia sobre os reinos taifa do sul

    muulmano, conquistando Toledo em 1085. Influenciado por suas

    esposas francesas, e dando prosseguimento poltica europeizante de

    Sancho III, Afonso fortaleceu a hegemonia cluniacense sobre os

    mosteiros espanhis, nomeou bispos franceses para as suas ss,

    estimulou as peregrinaes a Santiago de Compostela (residncias

    francesas proliferaram nas cidades ao longo das estradas de

    peregrinao), substituiu a liturgia morabe (ou visigtica) pela liturgia

    romana do resto da Europa, apesar da resistncia popular, e substituiu

    igualmente a velha escrita visigtica pela Carolngia; a expanso da

    arquitetura romnica na Espanha tambm data do tempo de Afonso VI.

    A implacvel insistncia de Afonso em coletar tributos dos reinos

    taifa descritos por um historiador recente como uma rede de proteo

    provou ser contraproducente no ano seguinte vitria do monarca

    em Toledo; desesperados, os reis muulmanos apelaram para os

    almorvidas, que derrotaram os exrcitos de Afonso em Segrajas (1086).

    A poltica de Afonso para com os governantes muulmanos nativos

    tornou-se mais conciliatria; ele j percebera a importncia da

    tolerncia religiosa, ao adotar o ttulo de Imperador de Duas Religies

    aps a queda de Toledo. Mas era tarde demais: os almorvidas tinham

    chegado para ficar, e seguiu-se uma srie de derrotas, somente

    mitigadas pela bem-sucedida defesa de Toledo e pelas vitrias do cado

    em desgraa e exilado condestvel de Afonso, Rodrigo Diaz, El Cid, que

    conquistou Valncia em 1094. Valncia seria abandonada em 1102, e o

  • nico filho de Afonso foi morto na esmagadora derrota em Ucls (1108).

    O rei faleceu em 1109 e a ausncia de um herdeiro varo mergulhou

    seu assediado reino em guerra civil, deixando o seu genro, Afonso I de

    Arago, como figura dominante na Espanha crist.

    [R. Menndez Pidal, La Espaa del Cid, 2 vols. Madri, Espasa-Calpe,

    7a. ed., 1979; C. Estepa Diez, El reinado de Alfonso VI, Madri, Hullera

    Vasco-Leonesa, 1985]

    Afonso VIII e a rainha Eleanor, com o gro-mestre de

    Santiago (manuscrito espanhol do sculo XIII).

    Afonso VIII, o Nobre rei de Castela 1158-1214 Filho do rei Sancho III. A menoridade de Afonso foi perturbada por lutas internas e pela

    interveno do vizinho reino de Navarra nos assuntos castelhanos. Essa

    interferncia culminou em 1195 num ataque conjunto a Castela por

    parte de Navarra e Leo mas que Afonso pde frustrar com xito. Suas

    relaes com Arago foram sempre boas e, em 1179, os dois Estados

    assinaram o Pacto de Cazorla, pelo qual ficou decidida a demarcao da

    futura fronteira entre Castela e Arago, a vigorar assim que se

    consumasse a reconquista da Espanha aos mouros. Foi essa guerra

    contra os mouros que absorveu as energias de Afonso VIII entre 1172 e

    1212. Embora tivesse sido derrotado pelos mouros em 1195, foi-lhe

    possvel, com a ajuda de Pedro II de Arago, alcanar grande vitria

    contra eles na sangrenta batalha de Navas de Tolosa (1212) e assim

    contribuir decisivamente para a destruio do poderio almada na

    pennsula hispnica. Afonso VIII casou com uma filha de Henrique II da

    Inglaterra e fundou a primeira universidade da Espanha.

    J. Gonzalez, El reino de Castilla en la poca de Alfonso VIII, 3 vols.,

  • Madri, CSIC, 1950

    Afonso X, o Sbio rei de Leo e Castela 1252-84 (n. 1221) Primognito de Fernando III e de Beatriz da Subia. Como presumido herdeiro,

    participou nas campanhas de seu pai, incluindo o cerco de Sevilha, e

    manifestou desde cedo interesse em desenvolver o castelhano como

    lngua literria e tcnica: em 1251 encomendou uma traduo do rabe.

    Os historiadores vem Afonso como um fracasso, por causa de sua

    ruinosamente dispendiosa e, em ltima instncia, humilhante

    campanha para eleger-se titular do Sacro Imprio Romano, e por causa

    da rivalidade em torno da sucesso, o que redundou em revolta e

    deposio. Os historiadores culturais, por outro lado, vem-no como um

    sucesso: foi o mecenas de uma brilhante corte de poetas, intelectuais,

    artistas e msicos; foi um grande patrocinador do vernculo, deixando

    o castelhano, no final de seu reinado, como veculo natural para todos

    os gneros de prosa. Embora a obra tivesse comeado no reinado de

    Fernando III, Afonso X deu uma contribuio incomparavelmente maior,

    criando a prosa castelhana, tal como Alfredo, o Grande, tinha criado a

    prosa anglo-saxnica. Entretanto, os dois lados de Afonso so

    interdependentes e o mesmo padro pode ser freqentemente observado

    em sua vida poltica e em sua vida cultural.

    Afonso, que casara com Violante, filha de Jaime I de Arago,

    sucedeu ao trono de Castela e Leo em 1252. No era tarefa fcil ser o

    herdeiro dos triunfos de Fernando III, e o desejo de afirmar-se como um

    digno sucessor levou o novo rei a invadir o Algarve (redundando num

    compromisso que favoreceu Portugal), a tentar anexar Navarra (teve que

    se contentar com a suserania nominal) e a reivindicar a Gasconha, com

    o argumento de que sua av era filha de Henrique II da Inglaterra. A

    pretenso foi abandonada num tratado de 1254, e a irm de Afonso

    casou com Eduardo I; o terceiro filho deles e, durante 10 anos, herdeiro

    do trono ingls, recebeu o nome de Afonso. Uma aventura externa

    muito mais demorada (1256-75) foi o objetivo obstinadamente

    perseguido de se eleger para o Sacro Imprio Romano-Germnico.

  • Afonso, que reivindicava seus direitos atravs de sua me, gastou

    vultosas somas para influenciar os eleitores muito mais do que

    Castela podia permitir-se dispender de modo que o

    descontentamento interno aumentou; um historiador recente intitulou

    como Os Caminhos da Runa um ensaio sobre a poltica econmica e

    financeira de Afonso X. Foi eleito em 1257, mas um veto papal desfez

    todo o seu trabalho, e o monarca nunca mais voltou a estar to perto do

    xito. No obstante, persistiu por mais 18 anos, e somente uma revolta

    da nobreza castelhana o forou a renunciar a suas pretenses.

    Extrado das Cantigas de Santa Maria: o rei Afonso X

    representado como poeta e msico sobre uma das canes de sua prpria autoria.

    Dois dos irmos de Afonso rebelaram-se contra ele (1255 e 1269) e

    um terceiro foi sumariamente executado por sua ordem (1277), mas as

    piores dissenses no seio de sua famlia ocorreram aps a morte do seu

    filho primognito Fernando, em 1275, durante uma invaso marroquina

    que durou at 1279. O filho mais velho de Fernando deveria ter sido

    declarado herdeiro do trono mas o segundo filho de Afonso, Sancho,

  • obteve uma alterao da lei e, quando o monarca tentou anul-la,

    Sancho revoltou-se com o apoio dos nobres e uma assemblia privou

    Afonso de seus poderes e prerrogativas. Procurou ajuda muulmana

    mas em vo, e morreu sem ter recuperado pleno controle sobre o reino.

    As realizaes culturais de Afonso, o Sbio, formam um profundo

    contraste com essa crnica de fracassos polticos: enciclopdicos

    cdigos jurdicos em vernculo, uma extensa coleo de tradues e

    adaptaes de obras cientficas arbicas (incluindo as Tbuas

    Afonsinas, usadas por astrnomos em toda a Europa durante cerca de

    trs sculos), a maior e melhor coleo de poesia mariana em qualquer

    idioma vernculo (ao invs de suas outras obras, os poemas que

    formam a coletnea intitulada Cantigas de Santa Maria no foram

    escritos em castelhano mas na lngua lrica convencional da maioria da

    pennsula, o galaico portugus e duas obras histricas: uma histria

    universal [Grande y General Estoria] e uma histria da Espanha [Crnica

    General de Espaa]. Entretanto, assim como h slidas realizaes em

    meio aos fracassos polticos (alguns avanos no caminho da

    Reconquista e, de suma importncia, a criao da marinha castelhana),

    tambm a obra cultural do rei e de seus colaboradores mostra sinais de

    desmedida ambio e alguns grandiosos projetos abortaram. O

    principal cdigo de leis, Las siete partidas, nunca foi promulgado em

    vida de Afonso, e as duas histrias, ambas ideologicamente vinculadas

    s ambies imperiais do monarca, ficaram inacabadas. ADD

    E.S. Procter, Alfonso X of Castile, Patron of Literatura and Learning

    (1951); The Worlds of Alfonso the Learned and James the Conqueror, org.

    por R.I. Burns (1985); J.R. Craddock, The Legislative Works of Alfonso

    X, el Sabio, Research Bibliographies and Checklists 45 (1986) [C. Estepa

    Diez, J. Faci et alii, Alfonso X, Toledo, Museo de Santa Cruz, 1984]

    afresco A pintura em afresco foi imensamente popular na Idade Mdia. No sculo XIII e em especial nas igrejas e mosteiros gticos italianos,

    essa forma de arte atingiu a sua mais perfeita expresso. Os afrescos

    proporcionavam uma alternativa mais rpida e menos dispendiosa que

  • os mosaicos, uma outra importante forma de decorao mural na era

    medieval.

    Lamentao de Cristo, de Giotto, um dos afrescos da

    Capella dellArena em Pdua, c. 1304-13.

    Havia um certo nmero de etapas na pintura em afresco. Em

    primeiro lugar, a superfcie a ser coberta era revestida com uma

    camada de gesso de mdia para fina (arriccio). Nessa etapa, o artista

    podia fazer um esboo a mo livre da composio, usando uma

    substncia argilosa de cor vermelha ferruginosa conhecida como

    sinopia. Se a obra era para ser executada em buon fresco, ou afresco

    verdadeiro, o artista, trabalhando de cima para baixo na parede,

    aplicava apenas o gesso suficiente para um dia de trabalho; essas

    pequenas sees de gesso mais fino eram conhecidas como giornate. O

    artista aplicava ento os. seus pigmentos, diludos em gua pura, a esse

    pouco gesso; os pigmentos fixavam-se permanentemente no reboco

    ainda mido. Uma forma menos duradoura de pintura em afresco era o

    fresco al secco, no qual os pigmentos eram aplicados na parede depois

    do gesso secar. Em muitos afrescos medievais em que se usou a tcnica

    al secco, as cores descarnaram.

    E. Borsook, The Mural Painters of Tuscany (1960); U. Procacci, Sinopie

    e affreschi (1961)

    frica A totalidade da frica do Norte era parte integrante do mundo clssico e do comeo da Idade Mdia, mas s lentamente os ocidentais

  • tomaram conhecimento do resto do continente africano. Em 429, no

    decorrer das andanas tribais dos povos germnicos, os vndalos

    passaram da Espanha ao norte da frica e estabeleceram um reino que

    englobou grande parte da Arglia e Tunsia atuais, com seu centro em

    Cartago. A provncia foi reconquistada pelo Imprio Bizantino (533-48),

    mas as invases muulmanas do sculo VII provocaram uma radical e

    permanente alterao nas estruturas polticas do mundo mediterrneo.

    Em 700, todo o norte da frica estava em mos muulmanas e, 20 anos

    depois, tambm a maior parte da Espanha. Mercadores muulmanos

    abriram rotas atravs do Saara desde o sculo VIII e seu controle

    poltico do Egito e do vale do Nilo asseguraram o contato contnuo com

    o Sudo e a Etipia, e o perfeito conhecimento dessas regies.

    O envolvimento ocidental direto ocorreu em certa medida com os

    cruzados, mas s a partir do final da Idade Mdia e das arrojadas

    expedies portuguesas, encorajadas pelo Infante D. Henrique, se

    iniciou a metdica explorao europia. Aps a tomada de Ceuta (1415),

    os portugueses foram os pioneiros de uma srie de viagens ao longo da

    costa africana ocidental inicialmente numa tentativa de flanquear os

    mouros no Marrocos. O xito comercial dessas viagens, graas

    importao de especiarias pela Europa, acelerou seu desenvolvimento;

    esperava-se alcanar as especiarias de melhor qualidade da ndia e

    incentivar o lucrativo comrcio com os rabes.

    Em 1482, toda a costa da Guin era conhecida e em 1487

    Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperana. Dez anos depois,

    Vasco da Gama empreendia sua histrica viagem de descobrimento do

    caminho martimo para a ndia, aportando em Calicute em setembro de

    1498. Foi o comeo de uma era de expanso ultramarina europia.

    [A data inicial das grandes viagens ultramarinas portuguesas na

    Idade Mdia foi 1432, quando Gil Eanes dobrou o Cabo Bojador e ps

    fim s lendas do Mar Tenebroso. Entre 1440 e 1445, Nunco Tristo

    descobria os cabos Branco e das Palmas; em 1462 atingia-se o Cabo

    Verde, descobria-se a Serra Leoa e eram exploradas as rias do Senegal.

    A chamada Costa da Mina explorada em 1471 por Joo de Santarm e

  • Pedro Escobar, construindo-se dez anos depois o castelo de So Jorge

    da Mina. Em 1484 a vez de Diogo Co explorar a costa do Congo e

    chegar foz do rio Zaire. Os navegadores que mais se distinguiram

    nessa primeira fase dos descobrimentos africanos, antes das

    navegaes decisivas de Bartolomeu Dias e Vasco da Gama, foram

    alm dos j citados Tristo da Cunha, Gonalvez Zarco, lvaro

    Fernandes, Afonso Gonalves, Dinis Fernandes, Gonalo Velho e Afonso

    de Aveiro. NT]

    The Pelican History of Africa (1968)

    Agobardo de Lyon (769-840) Arcebispo de Lyon. Natural da Espanha, ele foi primeiro para Lyon como companheiro do enviado de Carlos

    Magno, Leidradis. Ordenado sacerdote em 804, sucedeu a Leidradis

    como arcebispo de Lyon em 816. Em conseqncia de seu apoio a

    Lotrio I contra o imperador Lus, o Pio, foi deposto e banido no Conclio

    de Thonville em 834; mas reconciliou-se com Lus e foi reintegrado em

    seu cargo em 838, falecendo em Saintonge em 840. Seus principais

    escritos foram dirigidos contra o adocionista Felix de Urgell, e tambm

    condenou a superstio e a prtica do ordlio.

    A. Cabannis, Agobard of Lyon (1953)

    Agostinho, Santo (354-430) Bispo de Hipona. Um dos quatro grandes Pais da Igreja latina. Tendo nascido em Tagaste de pai pago e me

    crist, Agostinho foi criado como cristo mas no batizado. Estudando

    retrica na Universidade de Cartago e depois ensinando retrica na

    Itlia, Agostinho abandonou totalmente sua criao crist, seguindo

    primeiro as crenas neoplatnicas e, depois, maniquestas. Em 385,

    porm, foi convertido ao Cristianismo por Santo Ambrsio e batizado no

    ano seguinte. Voltando ao norte da frica, foi ordenado padre e,

    finalmente, bispo de Hipona em 395.

    Esteve ativo em seu papel pastoral e muito contribuiu para a

    refutao das doutrinas de vrios grupos de herticos, como os

    maniquestas e os donatistas. sobretudo conhecido como filsofo e

    telogo. Suas obras incluem as Confisses, onde relata a sua prpria

  • converso, vrios sermes sobre os Evangelhos e A Cidade de Deus

    (413-26). Nesta ltima obra, Agostinho tentou responder s crticas

    daqueles que rejeitaram o Cristianismo com o argumento de que Deus

    tinha consentido que Roma casse, procurando mostrar-lhes a escala

    gigantesca do universo e o plano de Deus para o homem, no mbito do

    qual a queda de Roma era apenas uma gota no oceano. Considerou que

    todos os homens pertenciam a uma das duas cidades: a cidade de

    Deus, composta por todos os fiis, e a cidade dos descrentes. Foi o

    primeiro telogo cristo a expressar a doutrina da salvao do homem

    por graa divina.

    Agostinho de Hipona recebe vises que inspiram sua

    redao de A Cidade de Deus (sculo XV).

    Tambm escreveu uma srie de diretrizes para a vida clerical,

    destinadas a um certo nmero de mosteiros locais, e que foram usadas

    no sculo XI como base da chamada Regra de Santo Agostinho. Sua

    atitude geral para com o governo poltico, que atribui natureza

    pecaminosa do homem e, no entanto, v como um meio efetivo de

    canalizao das conseqncias malficas do pecado, provou ser

    imensamente influente no pensamento eclesistico medieval. AD

    P.R.L. Brown, Augustine of Hippo (1967), Religion and Society in the

    Age of Augustine (1972) [A. Hamman, Santo Agostinho e seu tempo, S.

    Paulo, Paulinas, 1989]

  • Agostinho, Santo (m. 604) Arcebispo de Canterbury. Italiano por nascimento, Agostinho tornou-se monge e depois prior da abadia de

    Santo Andr no monte Clio, uma das sete colinas de Roma, antes de

    ser escolhido pelo papa Gregrio 1 para chefiar uma misso de

    converso Inglaterra, em 596. Desembarcando no Kent em 597,

    Agostinho e seus companheiros foram bem recebidos pelo rei Etelberto,

    cuja esposa Bertha j era crist. Etelberto deu a Agostinho uma casa

    em Canterbury e permisso para pregar ao seu povo. Sabiamente,

    Agostinho no tentou abolir o paganismo no Kent de uma s vez mas

    buscou, pelo contrrio, faz-lo gradualmente, enquanto que, ao mesmo

    tempo, incorporava liturgia da Igreja muitos costumes pagos e,

    sempre que conveniente, usava antigos templos pagos para fins

    cristos. Seus mtodos foram coroados de xito e, em 601, o rei

    Etelberto e muitos de seus sditos tinham aceito o Cristianismo. Na

    prpria Canterbury, Agostinho instalou sua s metropolitana de clrigos

    seculares. Tambm fundou um mosteiro dedicado aos santos Pedro e

    Paulo (depois chamado de Santo Agostinho) e bispados em Londres e

    Rochester.

    H. Mayr-Harting, The Corning of Christianity to Anglo-Saxon England

    (1972)

    agostinianos, cnegos Ordem religiosa de sacerdotes criada no sculo XI, que obedecia a uma Regra baseada nos escritos monsticos de

    Santo Agostinho de Hipona. Foi uma decorrncia do movimento de

    reforma da Igreja que conclamava o clero secular a adotar uma vida

    comum e regular. Foi especialmente popular em Roma, sul da

    Alemanha e Lorena, onde controlou com freqncia grupos de igrejas ou

    formou os cabidos de catedrais. Na Inglaterra, somente uma catedral, a

    de Carlisle (1133), era servida por cnegos agostinianos, e poucas casas

    agostinianas, como a de Barnwell, no Cambridgeshire, foram fundadas

    a fim de desempenhar tarefas paroquiais na localidade. A tendncia da

    maioria das casas agostinianas era, pelo contrrio, servir aos peregrinos

    (como em Walsingham) ou aos enfermos (como em St. Bartholomew,

  • Smithfield, Londres). Embora algumas casas fossem estabelecidas na

    Inglaterra durante o sculo XI, o perodo de maior crescimento foi no

    sculo seguinte, durante os reinados de Henrique I e Estvo. As casas

    de cnegos agostinianos eram pequenas pelos padres monsticos,

    consistindo usualmente em no mais de 12 cnegos e um prior.

    J.C. Dickinson, Origins of the Austin Canons (1950); L. Verheijen, La

    rgle de St. Augustin (1967)

    agostinianos, frades Ordem religiosa criada a partir de muitos grupos diferentes de eremitas italianos, incluindo os valdenses ortodoxos, os

    quais foram organizados em 1256 numa ordem mendicante pelo papa

    Alexandre IV. Renunciando sua anterior atividade apostlica, os

    frades agostinianos juntaram-se a outras ordens mendicantes vivendo

    nas cidades uma vida de aposto-lado inspirada na Regra de Santo

    Agostinho de Hipona.

    R. Brooke, The Corning of the Friars (1975)

    agricultura As generalizaes acerca da agricultura europia na Idade Mdia devem ser atenuadas pela nfase sobre as profundas diferenas

    regionais e tambm pela grande diversidade dentro das regies. Os

    conhecimentos tcnicos bsicos necessrios a um cultivo bem-sucedido

    de cereais estavam ao alcance de todas as comunidades europias

    desde os tempos neolticos, mas sua aplicao e organizao era uma

    questo muito diferente, dependente da natureza dos solos, do

    equilbrio de atividades pastoris e agrrias, do clima, da proximidade do

    mar e de uma dzia ou mais de outras importantes variveis. Os

    hbitos sociais e os costumes fundirios tambm estavam intimamente

    relacionados com a prtica agrria.

    O Imprio Bizantino preservou as estruturas clssicas bsicas em

    princpios da Idade Mdia, com um persistente e forte elemento

    comercial e monetrio na economia. Do sculo VIII em diante verificam-

    se claras semelhanas entre os desenvolvimentos bizantino e ocidental

    na administrao da propriedade fundiria e na exao e natureza da

    mo-de-obra. Influentes grupos de camponeses livres aparecem na

  • Anatlia e em partes dos Balcs. No mundo ocidental, o Imprio

    Carolngio e seus sucessores, incluindo a Bretanha e posteriormente as

    comunidades escandinavas e eslavas, consideraram a agricultura de

    suprema importncia econmica durante a maior parte da Idade Mdia.

    O perodo no foi estril em avanos tcnicos, sobretudo nas reas que,

    por razes de fertilidade do solo e de clima, constituram o centro

    nevrlgico da economia agrria medieval: a Frana ao norte do Loire, a

    Lorena e as terras da Francnia, o sul e o leste da Inglaterra.

    Agricultura: cena de lavoura em janeiro, reproduzida de um tratado astronmico do comeo do sculo XI.

    Uma economia senhorial bastante desenvolvida, que nunca foi

    completamente isolada, porm mais propensa auto-suficincia do que

    a depender dos mecanismos de mercado, surgiu na Europa Carolngia

    dos sculos VIII e IX. Uso extensivo de azenhas, mtodos melhorados de

    atrelagem de animais para servios de lavoura e maior eficincia na

    fertilizao do solo com adubos orgnicos e na rotatividade de culturas,

    causaram lentamente um impacto sobre a demografia. Sempre que a

    paz pde ser mantida (e a proteo contra as invases brbaras

    registrou uma substancial eficcia no sculo XI), a economia senhorial

    provou ser capaz de sustentar um constante aumento de populao.

    Seus mtodos clssicos de lavoura baseavam-se no sistema de trs

    campos: a cada ano, em rotao, o trigo era cultivado num campo; num

    outro, a aveia, a cevada, o feijo e as leguminosas, enquanto que um

  • terceiro campo era apenas alqueivado; em algumas regies, era mais

    comum o sistema de dois campos, um cultivado e um alqueivado. A

    cada aldeia era anexada uma rea de pastagem, a qual assegurava a

    obteno de forragem para o gado. Mas o fundamental era o arado e a

    diviso da terra em faixas, algumas pertencentes ao senhor e outras aos

    seus homens, o que conjugava proteo e um esforo coletivo de

    trabalho, e que propiciou o florescimento das comunidades.

    A superestrutura da civilizao medieval dos sculos XII e XIII

    baseou-se nessa bem-sucedida economia senhorial, mas em fins do

    sculo XIII j eram evidentes as inadequaes em sua organizao

    bsica. As fomes e as pestes do sculo XIV so, conforme foi sugerido,

    sintomas de uma economia que ultrapassou o seu ponto de saturao.

    A converso dos servios de mo-de-obra em pagamentos monetrios ao

    senhor tinha se generalizado, e as tentativas para voltar a impor o

    servio feudal contriburam para a inquietao e as revoltas

    camponesas do final da Idade Mdia. O status do campons variou

    muito, e as distines jurdicas nem sempre condiziam com a realidade

    econmica e social. A escravatura clssica tinha declinado nos tempos

    carolngios, embora elementos caractersticos dela ainda pudessem ser

    encontrados no perodo central da Idade Mdia. A tendncia, porm, foi

    para substituir a escravido por um regime uniforme de servido, mas

    na maioria dos senhorios, homens livres (que deviam pouco mais do

    que servio judicial aos seus senhores), agricultores e prsperos

    artesos viviam lado a lado com servos de gleba a fim de trabalhar

    diretamente nas terras senhoriais trs dias por semana e at mais.

    Tambm havia variaes nas tcnicas bsicas. Os campos abertos

    eram comuns quando as condies do solo eram boas, mas em outras

    reas optava-se por terrenos menores, cercados e retangulares. Em

    algumas regies, para lavrar a terra mais levemente persistia o arado,

    um utenslio herdado dos tempos romanos; em outras passou a

    dominar a charrua, capaz de abrir sulcos profundos, enquanto que em

    reas remotas, como as ilhas escocesas, continuaram sendo usados

    arados primitivos de escarificao superficial. A colonizao trouxe suas

  • prprias tcnicas, como na Floresta Negra no sculo XII ou no avano

    alemo sobre as terras blticas da Pomernia e da Prssia Oriental nos

    sculos XII e XIII; um status mais livre era a recompensa normal para o

    colono empreendedor. No sculo XII, a introduo do moinho de vento,

    originrio do Oriente, contribuiu para a eficincia geral, sobretudo nas

    grandes propriedades. O surgimento de livros sobre mtodos de lavoura

    e a maior divulgao das tcnicas de adubar com marga e cal tambm

    depem a favor da eficincia agrcola nas grandes propriedades reais,

    senhoriais e eclesisticas. O desempenho da agricultura medieval no

    sustento de populaes em tempos perigosos no deve ser subestimado,

    mas, por volta de 1300, novas tcnicas e uma nova atitude em relao

    terra eram indispensveis para se obter novos progressos.

    Ver clima; fome; moinhos; vinho [64,130, 259]

    [B.H. Slicher van Bath, Histria agrria da Europa Ocidental, Lisboa,

    Presena, 1987; G. Duby, Economia rural e vida no campo no Ocidente

    medieval, 2 vols. Lisboa, Edies 70, 1987-1988; R.-H.Bautier, A

    economia na Europa medieval, Lisboa, Verbo, 1973.]

    Aidan (c. 600-51) Bispo de Lindisfarne e santo britnico. Inicialmente monge em Iona, instalou-se depois na ilha de Lindisfarne e tornou-se

    seu primeiro bispo em 635. Foi extremamente influente na reconverso

    ao Cristianismo do povo de Nortmbria, tarefa empreendida por

    solicitao do rei Osvaldo (634-42). Aps a morte de Osvaldo na batalha

    de Hatfield, Aidan continuou e intensificou seus esforos sob a gide do

    novo rei Oswy (642-70), at sua morte em Bamburgo, a 31 de agosto de

    651.

    Bedes Ecclesiastical History of the English People, org. por B. Colgrave

    e R.A.B. Mynors (1969)

    Ailly, Pierre d (1350-1420) Bispo de Cambrai. Telogo eminente e mais tarde chanceler da Universidade de Paris, dAilly lembrado

    principalmente pelo papel que desempenhou em sanar o Grande Cisma

    no papado. No incio, aceitou a idia de um Conclio ecumnico como o

    melhor meio de resolver o cisma; posteriormente, porm, apoiou as

  • pretenses papais de Bento XIII, antes de voltar, uma vez mais,

    posio conciliarista. Foi de Bento XIII que ele recebeu primeiro o

    bispado de Le Puy (1395) e depois o de Cambrai (1397). Como bispo de

    Cambrai, desempenhou papel de destaque no Conclio de Pisa (1409) e,

    sobretudo, como o principal porta-voz francs no grande Conclio de

    Constana (1414-18). Em 1411, dAilly era feito cardeal pelo Papa Joo

    XXIII e serviu depois como legado papal sob Martinho V. Tambm

    mereceram destaque suas sugestes a respeito da reforma do

    calendrio, as quais foram finalmente postas em vigor por Gregrio XII,

    e seus escritos, os quais incluram Imagem do Mundo, uma obra onde

    sustenta a idia de que o mundo redondo e as ndias Orientais

    poderiam, portanto, ser alcanadas desde a Europa navegando tanto

    para oeste como para leste. Ver conciliar, movimento.

    E.F. Jacob, Essays in Conciliar Thought (1953), [Ymago Mundi, org. por

    E. Buron, 3 vols., Paris, Maisonneuve, 1930.]

    O trono real e imperial na catedral de Aix-la-Chapelle.

    Aix-la-Chapelle (Aachen) Originalmente um povoado romano. Em 765 foi a construdo um palcio pelo rei Pepino, o qual foi posteriormente

  • reconstrudo por Carlos Magno, tornando-se assim a cidade o centro do

    Imprio carolngio. Snodos a foram celebrados e desde a coroao de

    Lus I, o Piedoso, em 813, at a de Fernando I em 1531, os reis alemes

    continuaram sendo nela coroados. A cidade tambm ficou clebre como

    lugar de peregrinao, pois l estavam expostas as relquias coletadas

    pelos carolngios; um culto adicional desenvolveu-se no sculo XII em

    torno do tmulo de Carlos Magno. Em 1172, Aix-la-Chapelle foi

    fortificada com muralhas que seriam ampliadas por Guilherme da

    Holanda em 1250. No final da Idade Mdia, a cidade era

    estrategicamente importante na manuteno da paz na regio

    compreendida entre o Mosa e o Reno. Ver Alcuno

    Alain de Lille (1128-c.1203) Um dos mais importantes mestres das escolas de Paris. Conhecido como doctor universalis, ficou famoso por

    suas contribuies para a teologia e a filosofia, incorporando fortes

    elementos msticos e neoplatnicos numa filosofia que argumentou

    serem as verdades internas da religio suscetveis de descoberta

    mediante o exerccio da razo pura e simples. Ele simboliza parte do

    paradoxo da Renascena do sculo XII, na medida em que estava ativo

    na escolstica e, no entanto, era atrado para os cistercienses. O ncleo

    central de seus ensinamentos consistiu em sua definio da natureza

    como intermediria efetiva entre Deus e a matria, e enfatizou a

    analogia, e tambm a distino, entre nascimento natural, o qual

    depende das leis da natureza, e o nascimento do esprito resultante do

    batismo e da regenerao sacramentai.

    [E. Gilson, La filosofia en la Edad Media, Madri, Gredos, 1965]

    alamanos Confederao de tribos germnicas que comearam pressionando as fronteiras do Imprio Romano no sculo III e no sculo

    V registraram sua maior expanso territorial quando penetraram na

    Alscia e na Sua. Em 496, os alamanos foram subjugados pelo rei

    franco Clvis I, que os incorporou aos seus domnios. Confederao

    precariamente unida, os alamanos colocavam suas foras militares sob

    a chefia conjunta de dois comandantes durante as campanhas, mas, na

  • maior parte do tempo, encontravam dificuldades para permanecer

    unidos e no possuam um ncleo comum de governo centralizado.

    alanos Povo pastoril e nmade que ocupava inicialmente a regio das estepes a nordeste do Mar Negro. Esto descritos na literatura romana

    do sculo I como um povo guerreiro especializado na criao de cavalos.

    Durante os sculos seguintes, realizaram freqentes incurses nas

    provncias caucasianas do Imprio Romano. Os alanos foram

    derrotados pelos hunos e no comeo do sculo V deslocaram-se na

    direo oeste e penetraram na Glia. Alguns deles estabeleceram-se

    perto de Orleans, mas a grande maioria acompanhou os vndalos na

    invaso da Pennsula Ibrica e do norte da frica.

    B.S. Bachrach, The Alans (1969)

    Alarico I rei dos Visigodos 395-410 Lembrado pelo saque de Roma em 410, Alarico foi uma personalidade mais complexa do que o saqueador

    selvtico e implacvel da lenda histrica. Serviu como um proeminente

    comandante dos godos confederados no tempo do imperador Teodsio, e

    somente com a morte deste (395) que decidiu instaurar seu reino

    visigodo no Adritico. Na primeira dcada do sculo V, continuou

    desempenhando um papel destacado na poltica imperial, e mesmo

    depois do saque de Roma tomou a iniciativa de um acordo com as

    autoridades imperiais. Foi o choque simblico, tanto quanto a realidade

    da tomada de Roma, o que levou os historiadores da poca e os que se

    lhes seguiram a considerar o ano de 410 como o fim do Imprio

    Romano.

    T. Hodgkin, Italy and her Invaders, vol. I (1916)

    Alberti, Leon Battista (1404-72) Arquiteto e humanista da Renascena, natural de Veneza e educado em Pdua e Bolonha.

    Durante sua vida, a fama de Alberti teve origem no seu livro Della

    Famiglia. Nessa obra, guiada pelo princpio aristotlico, revivido por

    Santo Toms de Aquino, de que a arte imita a natureza, Alberti

    postulou que cada criana deve ser educada de acordo com a sua

  • prpria natureza. Como arquiteto, restaurou o palcio papal em Roma

    para Nicolau V (1447-55), construiu o palcio Rucellai (1446) e a

    fachada de Santa Maria Novella (1456) em Florena, e projetou as

    igrejas de So Sebastio (1460) e Santo Andr (1470) em Mntua, e de

    So Francisco em Rimini. Tambm escreveu De Pictura (1435), uma

    exposio terica da arte italiana, e De Re Aedificatoria (1452), obra que

    exerceu importante influncia sobre a arquitetura renascentista. [Para

    uma informao mais detalhada, ver o verbete sobre Alberti no

    Dicionrio do Renascimento Italiano. Rio, Jorge Zahar Editor, 1988, pp.

    19-20. NT]

    F. Borsi, Leon Battista Alberti: The Complete Work (1977)

    Alberto I de Habsburgo imperador germnico 1298-1308 (n. 1250) Primognito de Rodolfo 1. Em 1282 foi investido por seu pai no governo

    dos ducados da ustria e da Estria. Rodolfo, porm, foi incapaz de

    garantir a sucesso ao trono do Sacro Imprio para seu filho e, aps

    sua morte em 1291, os prncipes escolheram Adolfo de Nassau para rei.

    Em 1298, Alberto derrotou Adolfo na Batalha de Gllheim e pde ento

    obter sua prpria eleio para a Coroa germnica. Durante seu reinado,

    Alberto desempenhou um papel ativo na poltica europia. Manteve sua

    posio explorando habilmente a rivalidade entre Filipe IV da Frana e o

    papa Bonifcio VIII, renovou as pretenses alems Turngia, interferiu

    com xito numa disputa pelo trono hngaro e pde garantir a coroa da

    Bomia para seu filho Rodolfo. Sua derrota durante o ataque

    desencadeado contra a Turngia em 1307, e a morte de seu filho no

    mesmo ano, enfraqueceram seriamente a posio de Alberto na Europa

    Oriental. Seu governo tambm foi ameaado pela revolta dos arcebispos

    renanos e do conde palatino do Reno, que se indignaram muito com a

    abolio por Alberto de todos os tributos introduzidos no Reno desde

    1250. Embora essa revolta fosse sufocada com a ajuda das cidades, a

    agitao prosseguiu com maior intensidade na Subia, e quando partiu

    para resolver mais esse problema, Alberto foi assassinado por seu

    sobrinho Joo em 1 de maio de 1308.

  • F.R.H. du Boulay, Germany in the Late Middle Ages (1983)

    Alberto V (II) de Habsburgo imperador germnico 1438-39 (n. 1397) Titular do ducado da ustria em 1404, Alberto governou ativamente o

    pas apenas a partir de 1411. Auxiliou Sigismundo, rei dos romanos e

    da Bomia e Hungria, contra os hussitas e, em retribuio foi-lhe

    concedida a mo de Isabel, filha e herdeira de Sigismundo, celebrando-

    se o casamento em 1422. Aps a morte de Sigismundo em 1437, Alberto

    sucedeu-lhe no trono da Hungria, mas, embora fosse tambm coroado

    rei da Bomia em 1438, no conseguiu obter o domnio dessa regio.

    Esse mesmo ano presenciou ainda a sua eleio como rei dos romanos

    (com o ttulo de Alberto II) pelos prncipes alemes reunidos em

    Frankfurt, uma honra que ele parece no ter ativamente procurado. Seu

    reinado, porm, foi efmero; em 1439 morreu em campanha no

    Langendorf, enquanto defendia os hngaros contra as investidas

    turcas.

    Alberto de Colnia (Alberto Magno), Santo (c. 1190-1280) Filsofo medieval. Natural da Subia, estudou em Pdua antes de ingressar na

    Ordem Dominicana. Em 1245 foi para Paris, onde lecionou com grande

    xito durante muitos anos. Foi a que se encontrou pela primeira vez

    com Toms de Aquino, sobre quem exerceria considervel influncia.

    Em 1254 foi nomeado Superior da Ordem Dominicana na Alemanha,

    antes de ser eleito para o bispado de Regensburg em 1260; foi durante

    esse perodo que ele condenou as obras do filsofo rabe Averris. Em

    1262 retirou-se para Colnia, onde permaneceu at sua morte, se

    excetuarmos um breve perodo em 1270, quando foi ustria a fim de

    pregar a favor da Oitava Cruzada. Conhecido como doctor universalis,

    deu contribuies permanentes para a filosofia, a teologia e a histria

    da cincia. Sua obra foi um dos principais instrumentos para a

    transmisso na Europa ocidental do saber aristotlico sobre o mundo

    natural.

    S.M Albert, Albert the Great (1948)

  • albigenses Seita hertica baseada em crenas ctaras. Teve seu incio por volta de 1144, perto da cidade de Albi, no sul da Frana, devendo

    seu xito ao apoio da nobreza e vida asctica levada pelos perfecti, a

    qual estava em contraste flagrante com o mundanismo do clero local. A

    seita era suficientemente poderosa para realizar em 1167 o seu prprio

    snodo em Saint-Flix-de-Caraman, nos arredores de Toulouse.

    No comeo, a Igreja tentou combater a propagao da refinada

    heresia ctara pela persuaso. Foram inteis os esforos de So

    Bernardo, em 1147, para reconvert-los, e Inocncio III enviou

    pregadores ao Languedoc em 1198 e 1203 mas sem obter o menor xito.

    Em 1208, o legado papal Pierre de Castelnau foi assassinado, o

    que levou Inocncio III a desencadear a Cruzada contra os albigenses. A

    estratgia papal consistiu em transferir a propriedade da terra das

    mos de simpatizantes ctaros para senhores ortodoxos, que ajudariam

    na represso da heresia. Embora o conde Raimundo de Toulouse, o

    principal patrocinador ctaro, se retratasse rapidamente, os cruzados

    famintos de terras, comandados por Simon de Montfort, o Velho, no se

    detiveram e deram incio a massacres e incndios em massa,

    devastando Bziers e Carcassonne. Tais aes puseram fim s

    esperanas papais de que os ctaros abjurassem o credo maniquesta e

    aceitassem de novo o catolicismo.

    A vitria decisiva dos cruzados em Muret (1213) eliminou o apoio

    da nobreza aos ctaros, e em 1226 a regio j se encontrava sob o

    efetivo controle da Coroa francesa, embora s depois do horrendo

    massacre em Montsgur (1244) a seita fosse substancialmente

    eliminada e forada clandestinidade. Indcios de ressurgimento

    espordico da heresia foram assinalados durante todo o perodo final da

    Idade Mdia, apesar dos instrumentos repressivos da Inquisio. Ver

    ctaros; heresia

    P. Belperron, La Croisade contre les Albigeois (1945); B.

    Hamilton, The Albigensian Crusade (1974); J. Sumption, The

    Albigensian Crusade (1978)

  • Albono rei dos lombardos 565-c.72 Tendo sucedido ao trono lombardo durante a ocupao do territrio a oeste do Danbio conhecido como

    Pannia, Albono derrotou os gpidas em sua fronteira oriental, matou o

    rei Cunimundo e raptou e casou com Rosamunda, filha de Cunimundo.

    Em 568, invadiu a Itlia a convite do general bizantino Narss, que

    entrara em conflito com o imperador Justino II. Partindo da Lombardia,

    conquistou o Piemonte e a Toscana, assim como grande parte do

    Benevento e de Spoleto. Seu avano, porm, foi sustado em Pavia, que

    resistiu durante trs anos ao assdio das foras de Albono. Por volta de

    572, Albono foi assassinado, segundo parece por instigao da esposa,

    a quem ele tinha insultado forando-a a beber em uma taa feita com o

    crnio de seu pai.

    T. Hodgkin, Italy and her Invaders, vol. 5 (1916); L. Schmidt, Die

    Ostgermanen (1969)

    Albornoz, Gil (1310-67) Natural de Cuenca, na Espanha, educado em Saragoa e Toulouse, tornou-se arcediago de Calatrava e conselheiro de

    Afonso XI (1312-50), rei de Castela. Em 1337 foi nomeado arcebispo de

    Toledo e em 1350 ascendeu ao cardinalato. Ativo contra os

    muulmanos, participou na batalha de Tarifa (1340) e na tomada de

    Algeciras (1344). Depois da morte de Afonso XI e sua sucesso por

    Pedro, o Cruel, Albornoz deixou a Espanha. Foi nomeado cardeal-legado

    na Itlia e muito contribuiu para restaurar a a autoridade papal. Em

    1362, tinha preparado o caminho para o regresso de Urbano V a Roma

    e faleceu enquanto o escoltava desde Avignon para ali. Tambm

    conhecido por seu trabalho sobre a constituio da Igreja de Roma e

    pela fundao do Colgio de S. Clemente para estudantes espanhis em

    Bolonha.

    E. Emerton, Humanism and Tyranny (1925)

    Alcntara, Ordem de Um documento que quase certamente falso situa a fundao da ordem em 1156, anterior, portanto, de Calatrava,

    mas a mais antiga prova idnea aponta para 1176 como a verdadeira

    data de fundao. Originalmente conhecida como Ordem de San Julian

  • de Pereiro, obedecia Regra Cisterciense e era, em certa medida,

    dependente de Calatrava, embora estabelecesse gradualmente sua

    autonomia. Em 1494, os Reis Catlicos anexaram o Mestrado de

    Alcntara Coroa, no muito depois de terem feito o mesmo com o de

    Calatrava (1482) e por idnticas razes.

    J.F. OCallaghan, The Foundation of the Order of Alcantara, 1176-

    1218, The Catholic Historical Review, 47 (1962)

    Manuscrito do incio do sculo XIV do Alcoro em Muhaqqaq,

    exibindo elaborada caligrafia.

    Alcoro O livro sagrado muulmano. Compe-se de suras ou captulos, contendo cada uma das mensagens que os muulmanos crem ser

    revelaes de Al (Deus) transmitidas aos homens atravs do profeta

    Maom. Zayd ibn Thabit, por ordem do primeiro califa, Abu Bakr,

    iniciou a tarefa de estabelecer um texto definitivo do Alcoro aps a

    morte de Maom (632), e completou essa obra em 651. Ver Isl

    W. Montgomery Watt, Bells Introduction to the Quran (1970) [Alcoro

    Sagrado, trad. S.El Hayek, S. Paulo, Tangar, 1975; R. Blachre, O

    Alcoro, S. Paulo, Difel, 1969]

  • Iluminura de um exemplar de meados do sculo IX

    de um texto da Bblia revisto por Alcuno.

    Alcuno (735-804) Natural de Nortmbria, Alcuno tornou-se o bibliotecrio da catedral de York, antes de viajar para a corte de Carlos

    Magno na Francnia em 782. Desempenhou a um papel proeminente

    na Renascena Carolngia e fundou a escola do palcio em Aix-la-

    Chapelle, onde eram ensinadas as sete artes liberais de acordo com o

    sistema educacional de Cassiodoro. Seus prprios escritos incluram

    obras sobre retrica, lgica e dialtica, uma reviso do sacramentrio

    gregoriano, uma edio do lecionrio e colaboraes para os Libri

    Carolini, um tratado escrito por ordem de Carlos Magno contra os

    Icondulos, que tinham voltado a ocupar uma posio importante em

    Bizncio em 787. Suas mais importantes contribuies eruditas so a

    sua reviso da Vulgata e suas volumosas cartas, as quais foram

    coligidas no sculo IX para servir como m