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Psicofrmacos e Psicoterapia: a viso de
psiclogos sobre medicao no tratamento.
Adriana Marie Kimura
Trabalho de Concluso de Curso (Formao em
Psicologia) apresentado Faculdade de Cincias
Humanas e Sociais da Universidade So Judas Tadeu.
So Paulo, 2005
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RESUMO
KIMURA, A. M. Psicofrmacos e Psicoterapia: a viso de psiclogos sobre medicao no tratamento. Trabalho de Concluso de Curso (Formao em Psicologia). Faculdade de Cincias Humanas e Sociais, Universidade So Judas Tadeu, So Paulo, 2005.
Esta pesquisa busca verificar de que maneira os psiclogos de orientao psicodinmica
compreendem o uso da medicao no tratamento psicoterpico. Buscou-se investigar o
efeito que a medicao tem no trabalho analtico, os quadros que mais necessitam ser
medicados, os psicofrmacos mais prescritos, de que maneira analistas e pacientes tm
lidado com seu uso, como se relacionam os diferentes profissionais e o aumento ou no
do uso da medicao no tratamento. Foram entrevistados, atravs de um roteiro semi-
dirigido, cinco psiclogos de orientao psicodinmica com atuao clnica mnima de
cinco anos. A anlise dos dados foi feita atravs do relato da experincia dos
participantes e revela que a medicao se mostra necessria no auxlio do trabalho
analtico em pacientes cujos sintomas impedem a percepo, escuta e orientao da
anlise. O auxlio medicamentoso fortalece a aliana teraputica e a transferncia.
Quando o encaminhamento mdico colocado, a resistncia ainda se faz presente. No
entanto, o manejo analtico desta questo influencia na adeso ao uso medicamentoso. A
depresso o quadro predominante no uso medicamentoso e os antidepressivos e
ansiolticos so os psicofrmacos mais utilizados. Houve um aumento do uso
medicamentoso, resultado do desenvolvimento das drogas, propagao dos diagnsticos
e conscientizao dos profissionais. Quanto aos profissionais, a relao de respeito
mtuo e a preocupao ao bem-estar do paciente mostram-se necessrios para o sucesso
do tratamento combinando psicoterapia com o uso de psicofrmacos.
Palavras-chave: psicofrmacos, psicoterapia, formao e atuao profissional.
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ABSTRACT
KIMURA, A. M. Psychopharmacol and Psychotherapy: the view of psychologists
on the medication in treatment. Conclusion Work Graduation (Graduation in
Psychology). Human Science and Social College, So Judas Tadeu University, So
Paulo, 2005.
This research verifies how the psychologists of psychodynamic orientation understand
the use of the medication in psychotherapy. It investigates the effects of medication in
the analytical work, the syndromes that are most medicated, the psychopharmacols most
prescribed and how analysts and patients relates with this use, how the different
professionals relate to each other and the increase or not of the use of the medication in
the analytical treatment. Five psychologists of psychodynamic orientation with at least
five years of clinical experience were interviewed. The analysis of the data was realized
through the speech of the participants and reveals that medication is necessary to make
possible the analytical work in patients whose symptoms blocks perception, listening
and orientation of the analysis. The medicaments fortify the therapeutic alliance and the
transference. The resistance is still present when the use of medication is put. However,
the analytical handling of this question influences in the adherence of the medication
use. The depression is the syndrome most medicated and the antidepressants and
anxyolitics are the psychopharmacols most prescribed. An increase in the use of
psychopharmacols is noted, as a result of the development of the drugs, the spread of
the diagnostics and the increase of consciousness of the professionals involved. About
the professionals, the relation of mutual respect and the concern to well-being of the
patient is necessary for the success of the treatment combining psycotherapy with the
use of psychopharmacols.
Key-words: psychopharmacols, psychotherapy, work formation and professional
work.
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APRESENTAO
Os psicofrmacos tornaram-se uma revoluo no tratamento daqueles antes
denominados loucos. No lugar dos manicmios e tratamentos de choques, a medicao
possibilitou ao paciente uma diminuio de seus sintomas e sofrimento, a adaptao do
sujeito ao mundo e, conseqentemente, sua integrao sociedade. Alm disso,
possibilitou o reconhecimento do enfermo como sujeito que necessita de cuidados em
lugar da censura antes a eles dada (RODRIGUES, 2001).
No entanto, com o avano da indstria farmacutica no desenvolvimento de
medicamentos mais eficazes e com cada vez menos efeitos colaterais para o tratamento
do sofrimento psquico, juntamente com os atuais valores que prioriza satisfaes
imediatas e resoluo mecanicista dos problemas, a crena excessiva no medicamento
como instrumento de cura mgica para as dores psquicas tornou a medicao um novo
modo de vida.
Inicialmente utilizados como um recurso para possibilitar ao sujeito curar-se de
seu sofrimento, os psicofrmacos acabaram por alienar o homem na promessa de
libertar-se das dores da prpria essncia humana, tornando-se um meio de camuflar o
sofrimento humano.
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O interesse por esta pesquisa surgiu a partir da leitura do trabalho de Richard
Sennett (1999) sobre as atuais condies sociais (de instabilidade, falta de tempo e
perda de referncias internas) no mbito do trabalho e suas conseqncias pessoais ao
indivduo.
Juntamente ao trabalho deste autor, a leitura de textos sobre o grande avano da
indstria farmacutica no desenvolvimento de medicamentos mais eficazes para o
tratamento do sofrimento psquico - em especial, o trabalho de Elisabeth Roudinesco
(2000) - e a possibilidade de uma terapia psicanaltica frente grande promoo dos
psicofrmacos como meio de cura mgica para resoluo dos problemas tambm
despertaram o interesse para o tema da pesquisa. Adicionando-se a estas leituras, a
experincia da pesquisadora na clnica apresentou uma grande quantidade de casos de
pacientes que chegavam ao tratamento psicolgico j medicados.
Surgiu, assim, uma dvida quanto adequao do uso de medicamentos para a
possibilidade de um tratamento psquico.
Dessa maneira, esta pesquisa busca compreender o que os psiclogos de
orientao psicodinmica pensam a respeito do uso de medicao por seus pacientes, os
efeitos que isto tem sobre a orientao do tratamento e os quadros clnicos que mais se
utilizam deles.
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INTRODUO
Os psicofrmacos inicialmente foram introduzidos com a finalidade de
possibilitar ao sujeito menor sofrimento e uma maior integrao sociedade.
Permitiram a adaptao do sujeito ao mundo, diminuindo o nmero de internaes
psiquitricas. Possibilitaram reformas nos sistemas de atendimento psiquitrico
(RODRIGUES, 2003) e retiraram os pacientes das camisas-de-fora, dos tratamentos de
choque (ROUDINESCO, 2000) e comas insulnicos aos quais eram submetidos
(RODRIGUES, 2003). Tornaram-se uma revoluo no tratamento da loucura. Alm
disso, o conhecimento neuroqumico das doenas psquicas permitiu maior
compreenso do sofrimento do paciente e do reconhecimento do enfermo como tal,
compreendendo sua necessidade de cuidados em substituio censura anteriormente
atribuda aos seus sofrimentos (RODRIGUES, 2003). Retirados do campo mgico e
desconhecido, os pacientes acometidos pelas patologias psiquitricas agora so
compreendidos como indivduos que devem ser diagnosticados e tratados
(RODRIGUES, 2003).
A dor mental no necessariamente patolgica; ela baliza a nossa vida como se amadurecssemos a
golpes de dores sucessivas
J.-D.Nasio (1997, p.17-18)
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No entanto, observa-se, atravs da histria, um grande avano na indstria
farmacutica, com o desenvolvimento de medicamentos cada vez mais eficazes e com
cada vez menos efeitos colaterais para os mais variados sintomas. Com isso, observa-se
o aumento no uso da medicao (ROCHA, 2004) ao mesmo tempo em que estudos
mostram o uso irracional dos psicofrmacos (ROZEMBERG, 1994; NOTO et al, 2002;
CARVALHO e DIMENSTEIN, 2004).
Em oposio ao processo psicoterpico a longo prazo, a promessa dos
medicamentos atuais a abolio total dos sintomas em pouco tempo (RODRIGUES,
2003). Junto a este cenrio, a mdia promove a idia de que no mais necessrio
sentir-se angustiado, uma vez que existem medicamentos eficazes para a resoluo de
seus sofrimentos.
Reis Filho (2005) exemplificou como importantes fontes de comunicao tal
qual revista Veja, publicada em 05/05/04 e 12/05/04, promovem a mensagem de que
ningum est mais condenado a viver refm da prpria mente (Veja, 05/05/04, p. 139)
ou a de que um comprimido de duloxetina por dia seria suficiente para melhorar
sintomas como ansiedade, pessimismo, sentimentos de culpa, pensamentos suicidas e
choro fcil (Veja, 12/05/04, p.65).
Cada vez mais, caractersticas de personalidade se convertem facilmente em
doenas e novas patologias so criadas para as quais se busca uma soluo
medicamentosa (RODRIGUES, 2003). Os limites naturais do humano parecem
subordinados aos psicofrmacos e funes psquicas parecem ser modeladas pela
medicao conforme o desejo e necessidade do sujeito (MARIANI, 1998).
Desenvolvidos inicialmente para tratarem de sujeitos acometidos pela patologia
psquica, os psicofrmacos se popularizaram at mesmo entre pessoas ss.
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Montagne (2002) mostra como o fenmeno das plulas da felicidade se
popularizou: o primeiro medicamento a aparecer na capa da Newsweek o Prozac -
promovia-se como uma arma contra a depresso e tornou-se logo conhecido pelo
pblico, ganhando espao entre livros populares, peas de teatro (Prozac Sisters), vdeo-
games (Virtual Prozac) e talk-shows. Alm disso, aponta que a mdia ainda se
encarregou de estender as indicaes do uso do Prozac a reas alm daquelas
reconhecidas e aceitveis pela cincia, havendo, assim, uma generalizao no uso do
medicamento at mesmo entre pessoas ss. Nesse sentido, o medicamento parece ser
utilizado no mais para auxiliar no tratamento de patologias, mas como um modo de
vida capaz de modificar caractersticas psquicas e fsicas de um indivduo. Inicialmente
lanados para o uso de correes patolgicas e funcionais, os frmacos atualmente so
utilizados como um estilo de ser e viver, sendo as caractersticas psquicas, fsicas e
funcionais de um indivduo passveis de serem modificadas atravs de uma plula,
conforme necessidade ou desejo do sujeito (MARIANI, 1998).
Alm da mdia voltada populao, existe tambm a propaganda veiculada a
outro tipo de classe: a classe mdica. Conforme mostrado por Rodrigues (2003), a
mesma idia promovida em relao aos medicamentos nas propagandas de peridicos
mdicos idia esta que se afasta dos reais efeitos dos psicofrmacos: a de que os
medicamentos prometem milagrosamente devolver ao paciente capacidade produtiva,
integrao e harmonia.
Segundo Rozemberg (1994), quando os primeiros psicofrmacos foram
lanados, estes eram promovidos nas revistas mdicas como auxiliares do tratamento
psicoterpico. A medicao era indicada para o controle dos sintomas difceis de
manejo a fim de preparar o paciente para o tratamento psicoterpico. Atribua-se grande
nfase relao mdico-paciente e psicoterapia. Promovia-se, assim, o enfrentamento
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dos conflitos e a busca de suas causas, possibilitando ao indivduo uma reorganizao
interna e com seu mundo de relaes. No entanto, aponta que as medicaes foram
sendo colocadas no papel central, adquirindo o agente de status cura por si mesmo e
os servios psicolgicos considerados desnecessrios frente presena da medicao,
como destaca tambm Montero (1994).
Verifica-se, assim, um desaparecimento de referncias psicoterapia e coloca-
se o conhecimento cientfico em lugar da colaborao da relao mdico-paciente
(ROZEMBERG, 1994). Em acrscimo ao controle de sintomas patolgicos, os
medicamentos so promovidos mais abrangentemente para situaes existenciais,
sugerindo a soluo dos conflitos pela medicao. Passa-se a idia de que a medicao
possa devolver ao paciente a alegria, tranqilidade e capacidade produtiva
(RODRIGUES, 2003).
Um estudo realizado por Hemminki (1988 apud BARROS e JOANY, 2002)
constatou que o principal papel dos propagandistas de medicamentos era o de agentes
de vendas.
Tal afirmao evidenciada tambm pelos trabalhos de Saraceno (1993),
Montero (1994), Mastroianni, Galduroz e Carlini (2003) e Rodrigues (2003), que
apontam as indicaes inadequadas e os apelos utilizados pela propaganda, tais como o
rpido efeito, a grande amplitude de sintomas sobre o qual o medicamento atua, o fato
da droga ser a mais prescrita entre os mdicos, informaes distorcidas e estratgias
informativas tranqilizantes. O uso de metforas paisagens, natureza, animais e
cenas de famlia ideal so bastante presentes na promoo dos psicofrmacos. Estas
imagens sugerem a possibilidade da medicao propiciar at mesmo a reintegrao
familiar e dissoluo de conflitos.
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Muito embora tenham conhecimento do limite das substncias, pesquisas
(ROZEMBERG, 1994; PIGNARRE, 1999 apud RODRIGUES, 2003; SAPORITO 1982
apud MASTROIANNI; GALDURZ; CARLINI, 2003; CARVALHO, 2004) revelam
que os mdicos tm a prpria indstria farmacutica e suas propagandas como fontes de
conhecimento sobre as propriedades farmacolgicas da medicao. A educao dos
mdicos quanto qumica dos medicamentos concluda, assim, pela prpria indstria
farmacutica j to presente nos cursos de formao mdica (ROZEMBERG, 1994).
Alm disso, estudos (ALMEIDA; COUTINHO; PEPE, 1994; MONTERO, 1994;
NOTO et al, 2002) mostram que o clnico geral (especializado em outra rea que no a
neurologia ou psiquiatria) o profissional que mais prescreve os psicofrmacos. Se
considerar que o conhecimento de psicofarmacologia da formao mdica no
suficiente para diagnosticar e tratar os distrbios psiquitricos como o fazem Almeida,
Coutinho e Pepe (1994), pode-se pensar sobre a influncia que tais propagandas causam
na escolha do medicamento a ser prescrito. Farmacuticos constataram que um ou dois
dias aps o lanamento de novas informaes e propagandas de uma droga h um
grande aumento na prescrio desta mesma droga (MONTAGNE, 2002).
Healy (1999 apud MONCRIEFF, 2001) sugere que a idia dos antidepressivos
foi moldada mais pelos apelos das propagandas das indstrias farmacuticas do que
pelas descobertas cientficas. Ainda assim, a indstria farmacutica parece influenciar
tambm nas descobertas cientficas.
Existem evidncias de que estudos patrocinados por companhias farmacuticas
so mais propcios a promoverem a eficcia da droga produzidas por essas companhias
do que estudos que no so patrocinados pelas mesmas (GREENBERG, 2001). Alm
disso, Rennie (1999, apud GREENBERG, 2001) constatou que existem artigos
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publicados repetidamente em diferentes revistas com nomes de autores diferentes,
resultando na promoo da eficcia de uma droga por diversos estudos.
Alm dos estudos sobre a eficcia dos psicofrmacos na rea de medicina e de
psicologia, atualmente, existem tambm estudos (POSSOBON et al, 2003, POSSOBON
et al, 2004) sobre os psicofrmacos na rea de odontologia que so realizados com a
finalidade de testar a eficcia dos ansiolticos para reduo de comportamentos no
cooperativos de crianas em situao de atendimento. Com isso, estudos na rea
odontolgica mostram que, em atendimento odontolgico, o emprego de substncias
farmacolgicas, tais como calmantes e ansiolticos, pode constituir uma alternativa para
a reduo de movimentos motores e de reaes indesejveis do paciente (POSSOBON
et al, 2004, p.30). Dessa maneira, os ansiolticos possibilitariam uma reduo do tempo
operatrio de cada sesso, proporcionando um menor grau de agitao, reduo da
freqncia de choro e aumento dos nveis de sonolncia e de cooperao (POSSOBON
et al, 2004, p.30). Neste caso, o medicamento passa a ser utilizado como meio de
controle de comportamentos humanos, no caso crianas, em situao de estresse e
resoluo imediata do problema apresentado atravs do uso do ansioltico. No entanto,
ainda assim, tais pesquisas (POSSOBON et al, 2003; POSSOBON et al, 2004) revelam
que o diazepam se mostra ineficaz para o controle de comportamentos de no
colaborao com crianas em situao de atendimento odontolgico.
Diante de tais constataes, Rodrigues (2003) aponta que o medicamento vem
sendo utilizado como um instrumento, no sistema capitalista, de modelizao e
normatizao para constituir um sujeito sem conflitos, que d conta de todos os
paradoxos da existncia humana. Por outro lado, Montero (1994) constata que o
interesse da indstria farmacutica a manuteno dos sintomas do indivduo a fim de
delas aproveitar-se.
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Tal manuteno , de fato, obtida, uma vez que os sintomas permanecem
quando no so investigados subjetivamente e tratados singularmente.
Um estudo realizado por Rozemberg (1994) sobre o problema dos nervos
entre lavradores constatou que essa populao, em substituio ao relato de suas
prprias experincias, utilizava-se de referenciais medicamentosos para a explicao de
seus problemas e de sintomas fsicos para descreverem o estado de seus sofrimentos.
Tal constatao demonstra o predomnio do discurso mdico e de suas prticas
voltadas exclusivamente cura biolgica de seus males em substituio prpria
narrativa do sujeito. O discurso mdico mostra-se introjetado na populao que procura
por causas biolgicas e curas imediatas para seus sofrimentos negligencia-se aspectos
internos e fatores sociais. Com a reduo do sofrimento a um conjunto de sintomas
passveis de serem medicados, o sujeito perde sua subjetividade. Na ausncia da busca
por uma significao subjetiva ao sofrimento e a compreenso de seu contexto social,
haver a perpetuao do fenmeno como um problema individual.
Para Rozemberg (1994) a medicao no se mostrar eficaz para a soluo do
conflito apresentado, uma vez que no se investigou fatores sociais e subjetivos. O
sujeito permanecer doente crnico e seu conflito poder ser entendido como doena
incurvel. Dessa maneira, os sintomas que ainda se apresentam ao sujeito sero
controlados atravs de novas receitas mdicas algumas das quais ainda a serem
desenvolvidas.
Em seu estudo, Rozemberg (1994) conclui que existia um importante fator
mascarado pela medicao: as condies sociais do agricultor silenciadas pelo uso de
calmantes. Nesse sentido, a medicao era utilizada apenas como meio de colocar o
agricultor em um estado de normalidade a fim de suportar os fatores sociais aos quais
se submetia. Atravs de novas receitas e sem a escuta de suas prprias inquietaes, os
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lavradores deixavam de descobrir outras formas de lidar com suas angstias e
negligenciavam fatores pessoais e sociais. Em sua pesquisa sobre o uso de ansioltico
entre mulheres, Carvalho e Dimenstein (2004) tambm constataram que o psicofrmaco
estava sendo utilizado para suportar estresses cotidianos.
A partir destes trabalhos, fica evidente o quanto a medicao pode ser utilizada
como meio de camuflar, no apenas as inquietaes do mundo interno do sujeito, como
tambm fatores sociais.
No mesmo sentido, Lefvre (1987) j havia apontado que o medicamento pode
ser usado como meio de poupar o trabalho poltico e pessoal de dor e sofrimento -
para a obteno imediata da sade, fazendo desaparecer, ainda que temporariamente, os
sintomas e dificuldades sociais e pessoais.
Nota-se tambm que a necessidade de cura imediata leva o paciente
dependncia da medicao e do mdico. Dependncia esta tanto fsica quanto psquica,
segundo Carvalho e Dimenstein (2004). Os efeitos do uso da medicao no corpo
podem originar a tolerncia medicao, necessitando de doses ainda mais altas e
causar abstinncia no sujeito quando este no as utiliza (CUGURRA, 1994;
ROZEMBERG, 1994). Quanto ao psquico, diante de um diagnstico ou medicao,
muitos pacientes passam a justificar seus fracassos atravs de sua doena e no mais se
responsabilizam por seus males, necessitando de cuidados constantes. O paciente torna-
se infantilizado.
Isso pode ser evidenciado ainda na pesquisa de Rozemberg (1994), que
constatou ainda que os lavradores que utilizavam de medicao para controlar-se em
situaes perturbadoras apresentavam tendncia a desistir, a fugir para bem longe de
tudo disso, e a se rebelar, chorar, gritar e desabafar pela agresso, aes que
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simbolizavam suas necessidades de demonstrar que algo no vai bem, atravs de um
comportamento regressivo.
Em sua pesquisa, Rozemberg (1994) ainda notou que, em alguns casos, o
mdico atribuiu ao paciente a liberdade e autonomia para controlar o uso da
medicao. Em sua pesquisa sobre o uso de ansiolticos em mulheres, Carvalho e
Dimenstein (2001) tambm encontraram em sua amostra mulheres que igualmente
tinham a autonomia de controlar o uso quanto freqncia e a dosagem. Diante da
dependncia que o paciente sofre frente medicao e ao mdico, oferece-se a ele a
autonomia para controlar seu uso. Logo, o medicamento passa a ser utilizado sem
uma finalidade especfica e sem tempo determinado (CARVALHO e DIMENSTEIN,
2001). Esse dado mostra, alm da falta de conhecimento da populao quanto aos
efeitos que o medicamento pode ter sobre sua sade, a ausncia da perspectiva em
libertar-se do uso do medicamento (ROZEMBERG, 1994).
Alm disso, a ausncia de questionamento quanto ao uso indiscriminado
evidencia um outro dado a ser levado em conta: a crena absoluta e inquestionvel do
saber mdico. O discurso mdico, cujos mtodos de pesquisa baseados em evidncias
empricos so incontestveis, possui o privilgio da verdade cientfica. O modelo
mdico baseado em modelos mecanicistas privilegia uma atuao voltada ao tratamento
da doena na qual os sintomas so reduzidos a um sistema mecnico e ao tratamento
mdico.
O mdico colocado como figura possuidora do conhecimento, capaz de
fornecer a soluo mgica para os problemas, enquanto que o saber do paciente por
ele mesmo desconsiderado, segundo Carvalho e Dimenstein (2004).
Dessa maneira, constata-se a perda por parte do paciente de seus males para o
saber do mdico (ROZEMBERG, 1994). O poder que atribudo aos mdicos, com a
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crena de que este profissional seja o nico capaz de saber o que importante para sua
sade e qual tratamento adequado, coloca o sujeito sem possibilidades para uma
elaborao subjetiva de seu sofrimento, tirando-lhe as responsabilidades por seus
conflitos (CARVALHO e DIMENSTEIN, 2004) e negligenciando aspectos sociais.
A predominncia do discurso mdico e a reduo organicista permitem ao
mdico oferecer a soluo para os problemas do indivduo: o consumo da mercadoria
medicamento mercadoria esta especial, uma vez que traz consigo o suporte e
verdade do conhecimento cientfico (LEFVRE, 1983).
Conforme notado por Montero (1994), os mdicos podem estar oferecendo
populao soluo farmacolgica a problemas que no dizem respeito medicina, mas
sim a questes sociais, tal como demonstrado em pesquisa realizada por Rozemberg
(1994).
Rodrigues (2001) nota que, no levando em conta fatores sociais, o
medicamento pode ser utilizado como forma de restituir ao indivduo a possibilidade de
viver plenamente e preparar a pessoa para estresse cotidiano.
Rodrigues (2001) ainda analisa a potencialidade da medicao no panorama
atual.
Em um mundo de mudanas rpidas, prioriza-se as satisfaes e curas imediatas.
Diante da instabilidade e falta de garantias, com dvidas e incertezas, a cada dia novas
habilidades so necessrias. Juntamente a estes aspectos, existe a idia de homem com
enormes potencialidades a serem desenvolvidas e com possibilidades de obteno da
felicidade plena e satisfaes imediatas, atingveis atravs do esforo individual de cada
um, sendo que, quando no alcanados, o fracasso tido como uma experincia
individual.
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J Sennett (1999), que analisou as conseqncias pessoais das condies sociais
atuais em relao ao trabalho, nota que, devido busca incessante ao sucesso absoluto,
o fracasso tido como um grande tabu dos tempos modernos. Para Sennett (1999),
existe, atualmente, uma dificuldade de aceitar o fracasso e dar a ele um lugar e forma na
histria de vida pessoal. Dessa maneira, a ausncia de uma significao da experincia
de fracasso pode converter uma condio humana - do fracasso como experincia
humana - em uma condio do Eu a experincia do fracasso toma inteiramente o Eu.
Assim, Rodrigues (2001) e Carvalho e Dimenstein (2004) notam que os
sentimentos de inadequao e incapacidade de corresponder a todas expectativas do
atual ideal de normalidade, juntamente com a idia de que um problema pode ser
abolido da forma mais rpida possvel, colocam na medicao a possibilidade de
adquirir o bem-estar e abolio dos problemas em curto tempo tornando-a mais um
instrumento de normatizao.
Com isso, cada vez mais caractersticas de personalidade e sofrimento humano
so convertidos em doenas e cada vez mais os psicofrmacos so utilizados entre
pessoas ss para camuflar sofrimentos humanos e problemas sociais, proporcionando ao
homem a promessa de libertar-se de suas prprias dores.
Winnicott (1989) lembra que certas experincias necessitam de reavaliao
interna e que a esta reavaliao que damos nome de depresso. Afirma ainda que a
depresso, embora pertena psicopatologia, em indivduos saudveis um estado de
humor passageiro.
Para Winnicott (1989), a depresso diz respeito a um aspecto saudvel do
desenvolvimento uma vez que o ego encontra-se integrado e relaciona-se com o
sentimento de culpa e com o senso de responsabilidade. Segundo o autor, a depresso
traz consigo, em seu processo de luto, uma tendncia recuperao que conduz
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maturidade pessoal significando, assim, sade ao indivduo. Tal reavaliao interna
mostra-se necessria para o processo de amadurecimento pessoal.
J em seu trabalho, Sennett (1999) tambm enfatiza a importncia da avaliao
interna da experincia dolorosa no caso de seu estudo, o fracasso - e demonstra como
a experincia de narrar a prpria histria possibilita ao sujeito dar sentidos s suas
experincias e se perceberem responsveis pela sua prpria histria de vida.
Segundo Sennett (1999), a narrativa da experincia possibilita ao sujeito adquirir
um senso maior da realidade, das decises tomadas ao longo da vida e integrar as
experincias fragmentadas em um centro slido o Eu e em um tempo coerente.
Dessa maneira, o sujeito torna-se consciente de sua histria e de suas decises,
permitindo-o a responsabilizar-se por seus fracassos.
No entanto, diante da atual instabilidade, juntamente com a promessa de
felicidade plena e a oferta de diversas mercadorias para atingi-la, os indivduos no
encontram tempo e espao para reavaliar suas prprias experincias a fim de elaborar
seus conflitos e continuar seu processo de amadurecimento. Alm disso, sem tempo
para aprofundar-se nos contatos humanos baseados em afeto e troca, o sujeito encontra-
se com sua vida interior esvaziada, impossibilitando-o narrativa de sua prpria histria
e sofrimento (MENDES e PRCHNO, 2004). Dessa maneira, o discurso do indivduo
facilmente traduzido pela predominncia do discurso mdico para a explicao de seus
sofrimentos.
Sennett (1999) aponta ainda que, em contramo ao processo de crescimento
pessoal, na tentativa de encobrir a experincia de fracasso, o indivduo colocado no
lugar de vtima das circunstncias e, enquanto vtimas nada podem fazer em relao
sua histria. Diante desta situao, Sennett (1999) enfatiza a importncia da narrativa
subjetiva da experincia a fim de se elaborar tal vivncia. Dessa forma, o sujeito sai do
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lugar de vtima passiva para uma condio mais ativa, responsabilizando-se por sua
histria.
Alm do posto de vtimas em que os sujeitos se encontram, conforme
apontado por Sennett (1999), Rodrigues (2001) nota ainda que, com a crena de que o
homem possa tudo alcanar atravs do prprio esforo, crescem as necessidades de
especialistas e procedimentos tcnicos, desde o desenvolvimento de medicaes at
manuais de auto-ajuda, para auxiliar o homem em seu processo de superao. Ao
mesmo tempo em que se fala de superao de limites, oferece-se ao indivduo os
instrumentos para se alcanar tal objetivo enquanto que as pessoas tornam-se cada vez
mais necessitadas de tais instrumentos.
Dessa maneira, em substituio ao processo de amadurecimento pela elaborao
subjetiva da experincia, depara-se com sujeitos em constante necessidade de
acompanhamento e tutela.
PSICOFRMACOS E PSICOTERAPIA
Inicialmente, quando os primeiros psicofrmacos se tornaram disponveis, houve
grande resistncia da comunidade psicanaltica quanto ao seu uso no tratamento
(KNOWLTON, 1997; FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004). Considerava-se que as
neuroses eram exclusivamente psicolgicas e a medicao era tida como uma intruso
indesejada no tratamento: causava a supresso dos sintomas (KNOWLTON, 1997;
FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004), mas no afetava o conflito psquico; interferia no
estabelecimento da transferncia (BUSCH e MALIN, 1998), favorecia a resistncia e
Feliz do psicanalista que tem algum amigo psiquiatra que recebe e cuida de seus pacientes analticos quando eles entram em surto e
ainda convida o analista a continuar assumindo o tratamento.
Winnicott (1989, p.139)
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diminua a ansiedade e depresso - importantes aspectos a serem trabalhados no
tratamento psicanaltico (BUSCH e MALIN, 1998; FREY; MABILDE; EIZIRIK,
2004).
No entanto, Knowlton (1997) e Gabbard (1998) lembram que Anna Freud
mostrou-se surpresa quanto rejeio da medicao no tratamento analtico, pois ela
mesma havia solicitado o auxlio medicao em trs casos de depresso severa e
constatou o benefcio do uso de medicao para a continuidade do processo analtico.
Por outro lado, Frey, Mabilde e Eizirik (2004) destacam que os farmacologistas
defendiam a idia de que a psicoterapia era desnecessria e danosa, pois colocava os
pacientes em permanente preocupao quanto aos seus conflitos.
Ainda hoje em dia parece existir uma discordncia quanto ao fato da
psicoterapia e farmacoterapia serem ou no antagnicas. Alguns pesquisadores (RACY,
1995; BUSCH e MALIN, 1998) acreditam existir discordncia, tanto clnica quanto
terica, entre as duas disciplinas. No entanto, outros profissionais acreditam que tal
discordncia no existe (GABBARD, 1998; KARASU, 1984 apud GABBARD, 1998;
LUCAS, 2003; CALLIGARIS, 2004). Gabbard (1998) nota que polarizao percebida
entre as disciplinas pode estar ligada ao fato das abordagens serem tradicionalmente
vistas como competitivas ao invs de sinrgicas.
Karasu (1982 apud KATZ, 2005) acreditava que o aumento dos benefcios
descobertos com o tratamento combinado conduziria a uma integrao do trabalho da
farmacoterapia com a psicoterapia, vistas como cooperativas ao invs de competitivas.
Para Karasu (1984 apud GABBARD, 1998; 1982 apud FREY; MABILDE;
EIZIRIK, 2004) a psicoterapia e farmacoterapia no seriam excludentes: elas apenas
possuiriam diferentes efeitos e agiriam em diferentes tempos durante o tratameto.
Karasu (1984 apud GABBARD, 1998; 1982 apud KATZ, 2005) afirma em seus
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trabalhos que, enquanto que os medicamentos atuam sobre a formao de sintomas e
sofrimento afetivo, a psicoterapia trabalha as relaes interpessoais e o ajustamento
social. Enquanto que a medicao tem efeitos e acompanhamento a curto prazo, a
psicoterapia, trabalhada a longo prazo, tem resultados mais duradouros, embora no to
evidentes.
Powell (2001) ainda aponta que o uso da medicao pode ser um meio de se
obter informaes sobre as experincias do paciente, fortalecer a aliana teraputica e
melhorar os resultados do tratamento. Knowlton (1997) tambm nota que a medicao
pode auxiliar tanto como um respaldo farmacolgico quanto um tratamento que
possibilita material significativo de transferncia.
Outro aspecto a ser considerado que, conforme estudos de Eells (1999)
demonstram, a medicao no afeta negativamente a psicoterapia: o paciente no se
mostra menos motivado por causa da medicao. O contrrio tambm se mostra
verdadeiro: a psicoterapia no interfere negativamente no uso da medicao.
Muito embora o tratamento combinado tenha sido amplamente difundido,
atualmente existem ainda divergncias se a psicoterapia isolada, a psicofarmacoterapia
isolada ou o tratamento combinado seria o melhor tratamento. Contrariando
constataes clnicas de que o tratamento combinado pode ser mais efetivo do que o uso
dos psicofrmacos ou psicoterapia isolados (KATZ, 2005; LUBORSKY et cols 1976
apud GABBARD, 1998), Eells (1999) constatou em estudos sobre o tratamento em
pacientes depressivos, que o tratamento combinado no melhor do que a psicoterapia
ou medicao isoladas. Verificou-se tambm que o tratamento combinado no se mostra
menos efetivo que a psicoterapia ou medicao isoladas. Assim, segundo ele, no se
percebe grandes diferenas entre os resultados da psicoterapia ou medicao isolados e
o tratamento combinado. Com isso, o autor conclui que a razo do tratamento
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combinado no se mostrar mais eficaz do que o uso de medicao e psicoterapia
isoladas pode estar no fato de cada uma das modalidades ser altamente eficaz,
possibilitando pequenas melhoras quando uma adicionada outra (EELLS, 1999).
No entanto, a divergncia nos resultados de pesquisa pode ser explicada em um
estudo realizado por Moncrieff (2001) sobre os problemas metodolgicos com
tratamento de antidepressivos. Moncrieff constatou que a eficcia no tratamento com
antidepressivos superestimada pelas pesquisas e que, na verdade, os resultados que
evidenciam tais benefcios so inconsistentes e variveis. Greenberg (2001) sugere
ainda que os resultados da medicao no podem ser creditados apenas sua
farmacologia. Aponta ainda que, segundo pesquisas realizadas por Thase e Kupfer
(1996 apud Greenberg, 2001), de 80% a 90% da eficcia dos antidepressivos podem ser
atribudos por fatores no especficos, tais como o suporte clnico, fatores
psicossociais e a relao mdico-paciente. Tais fatores podem ser determinantes para a
resposta do paciente aos antidepressivos, e no pela farmacologia em si.
Diante da divergncia entre os resultados sobre o melhor tratamento, Knowlton
(1997) aponta que a eficcia dos diferentes tipos de tratamentos no deve ser utilizada
para favorecer uma teoria ou outra. Knowlton nota que, diante do setting teraputico, os
conflitos tericos so desnecessrios para nos orientar quanto ao uso da medicao. A
deciso pelos psicofrmacos deve ser feita levando em conta a fenomenologia da
patologia os sintomas e seus contedos e sua intensidade. Rocha (2002) complementa
que, para se justificar o uso de medicao, os sintomas devem ser graves o suficiente
para interferir no funcionamento e no desenvolvimento do paciente (p.45).
J Katz (2005) alerta aos psiquiatras sobre quando estes devem fazer o
encaminhamento anlise. Katz coloca algumas situaes em que a psicoterapia se faz
necessria: quando o paciente se mostra limitado por seus sintomas ou comportamentos
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patolgicos, quando h um bloqueio no desenvolvimento ou maturao psicolgica e
quando a psicoterapia necessria para a manuteno do paciente na sociedade
quando este poderia estar em uma instituio ou ser impedido de estudar ou trabalhar.
Eells (1999) destaca ainda que para se decidir quanto ao tipo de tratamento,
deve-se levar em conta as necessidades do paciente, suas preferncias e os efeitos
colaterais. Da mesma forma, Racy (1994) refora que alguns casos necessitam
igualmente das duas modalidades, enquanto que, em outros, deve-se dar mais nfase
medicao ou psicoterapia em tratamento combinado. Karasu (1982 apud KATZ,
2005) ainda sugere que alguns psicotrpicos auxiliam mais a psicoterapia do que outros.
As contra-indicaes para o tratamento combinado se encontram nos casos em que a
prescrio de uma medicao ou o incio de uma psicoterapia aumentam as
dificuldades, comprometendo toda a continuidade do tratamento, seja ele psicoterpico
ou farmacolgico (KOENIGSBERG, 1993 apud RACY, 1995).
Na realidade, parece que, conforme apontado por Riba (2002), o tratamento
combinado melhor para alguns tipos de quadros que em outros.
A preocupao deste autor est no fato do tratamento ser integrado ou em co-
terapia ou seja, quando o analista no tambm aquele que receita a medicao.
Balon (2001 apud RIBA, 2002) aponta os aspectos negativos quando o analista no
tambm aquele que receita a medicao: falta de colaborao entre os profissionais,
percepes errneas dos trs envolvidos paciente, analista e psiquiatra: prescrio
inadequada sem o conhecimento do contedo de anlise, informaes dadas de forma
distorcida pelo paciente a cada um dos profissionais envolvidos, entre outros. Os
aspectos positivos seriam a maior informao clnica oferecida ao paciente por
diferentes fontes de avaliao, o suporte disponvel por ambos os profissionais, entre
outros.
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Segundo Frey, Mabilde e Eizirik (2004), ainda que a co-terapia possa ser
altamente benfica, pode ela tambm favorecer o desenvolvimento de transferncias
negativas e contra-transferncias em ambos os profissionais envolvidos. Assim,
sentimentos transferenciais negativos em relao ao terapeuta podem surgir, resultando
uma dissociao: o mdico, por sua postura mais ativa, juntamente com o alvio dos
sintomas, torna-se o objeto bom e idealizado. Por outro lado, o mdico pode aliar-se a
transferncias negativas do paciente e formar um conluio com o paciente, passando,
ainda que inconscientemente, a ele a idia que pode cuidar do caso sozinho.
Para Frey, Mabilde, Eizirik (2004), quando o encaminhamento for necessrio,
o analista deve colocar suas razes e raciocnio e propiciar ao paciente tempo e espao
para colocar suas consideraes e questes. A transferncia pode se complicar por
ansiedades dos prprios terapeutas, por seus sentimentos onipotentes e de competio
com outros profissionais diante da necessidade de pedir ajuda.
Com isso, percebe-se a necessidade dos profissionais envolvidos no caso
mdico e analista de terem claramente definidos os papis de cada profissional no
tratamento para no favorecer a dissociao do paciente. Alm disso, como o analista
assiste ao paciente com mais freqncia, ele deve atentar aos sinais de recorrncia e
efeitos adversos no uso do medicamento (FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004).
Conforme Knowlton (1997), o estabelecimento de boas alianas, entre mdico-paciente,
paciente-analistas e especialmente entre analistas e mdicos, importante para a
administrao do tratamento e para a adeso ao tratamento farmacolgico.
Quanto adeso ao tratamento medicamentoso, estudos mostram que a no
adeso ao tratamento medicamentoso mostra-se ainda como um problema para
pacientes que necessitam medicar-se para a continuidade do tratamento (VELLIGAN,
2003).
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Leite e Vasconcellos (2003) buscaram evidenciar o por qu de tantas pessoas
no aderirem ao tratamento medicamentoso se existe na populao o folclore
hipocondraco. Em uma anlise de estudos, constataram que a no-adeso universal e
que se relaciona aos profissionais de sade, ao tratamento, patologia e, especialmente,
ao paciente. Muito embora uma srie de fatores seja levada em conta, tais como os
efeitos colaterais, o custo e acesso ao medicamento, o profissional de sade, o paciente,
sua doena e a relao que ele tem com seu mdico e com sua patologia parecem ser as
questes centrais para a aceitao do tratamento medicamentoso ou no.
A confiana depositada no mdico, o tempo de consulta, a linguagem, o
acolhimento so fatores que favorecem a adeso. E quanto ao paciente, Leite e
Vasconcellos (2003) afirmam que a aceitao do tratamento se relaciona intimamente
com a aceitao de sua doena, e no tanto com outros fatores, tais como os efeitos
colaterais. Os autores constataram que muito embora fatores relacionados doena e ao
tratamento sejam alterados, ainda assim o nvel de adeso se mostra grande. Em sua
pesquisa, Velligan (2003) tambm nota que o desenvolvimento de medicao com
menos efeitos colaterais no resolvem a promessa de adeso ao medicamento.
Dessa maneira, Leite e Vasconcellos (2003) sugerem que fatores relacionados
ao paciente so centrais para a questo da adeso. Com isso, atentam para o fato de
muitos estudos desconsiderarem o paciente como ser social e com conhecimentos
prprios; e sobre o fato deste ser visto pelos mdicos apenas como um lugar em que o
medicamento ir atuar. Concluem, assim, que esto no paciente os fatores centrais para
a adeso ou no ao tratamento medicamentoso. No entanto, as opinies e conhecimentos
dos profissionais se sobrepem s expectativas dos pacientes, negligenciando seus
prprios conhecimentos e expectativas.
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Alm da adeso ao tratamento medicamentoso, a aliana teraputica pode
tambm influenciar a resposta do paciente medicao (GREENBERG, 2001).
sabido que a farmacologia do medicamento tem efeitos diversos nos pacientes
(MONTERO, 1994; FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004). Pensa-se que, alm do
mecanismos farmacolgicos, outros fatores podem explicar a diferena percebida nos
resultados do uso da medicao. O aumento da resistncia ou resistncia ao efeito das
drogas podem ser explicadas atravs da transferncia. Tal efeito pode se dar pela
personalidade do paciente, do mdico e da interao entre ambos (FREY; MABILDE;
EIZIRIK, 2004).
Quanto prescrio de uma medicao ou o encaminhamento -, esta pode
desencadear associaes inconscientes relacionadas figuras parentais (GABBARD,
1998). O fenmeno transferencial e as fantasias podem se intensificar, promovendo um
maior entendimento do mundo interno do paciente (BUSCH e MALIN, 1998; FREY;
MABILDE; EIZIRIK, 2004). Os sentimentos despertos com a indicao do psiquiatra
podem representar uma parte da transferncia que no foi expressa anteriormente
(KNOWLTON, 1997).
Powell (2001) critica que, quando utilizados em um terapia psicodinmica, os
medicamentos normalmente so tratados de maneira separada da terapia propriamente
dita. Se no houver um dilogo entre terapeuta e paciente quanto ao uso da medicao,
pode-se perder importantes contedos inconscientes para serem trabalhados.
A prescrio pode ter diversos significados ao paciente. O paciente pode ver a
medicao como uma ameaa de ser envenenado e manipulado e temer o mdico
onipotente (GABBARD, 1998; FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004). Nesse caso, tomar
a medicao significaria submeter-se figura parental poderosa (GABBARD, 1998).
Por outro lado, outro possvel efeito pode ser a idealizao da figura do mdico,
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acreditando este ter a cura mgica (POWELL, 2001; FREY; MABILDE; EIZIRIK,
2004) para seus conflitos. O paciente pode tornar-se dependente, infantilizar-se e
entender a prescrio como uma compreenso, por parte do mdico, de seu sofrimento
(GABBARD, 1998; FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004). Gabbard (1998) nota que tais
aspectos podem ser percebidos em pacientes claramente submissos, ou que podem ainda
decidir no se responsabilizar por nenhum aspecto de suas patologias. Pacientes que
tendem a somatizar podem projetar na medicao a responsabilidade por suas queixas
(FREY; MABILDE; EIZIRIK, 2004). Gabbard (1998) destaca que aqueles que rejeitam
qualquer tipo de interveno teraputica, farmacolgica ou no, podem guardar grande
rancor quanto ao apoio no-suficiente recebido pelas figuras parentais. A rejeio do
auxlio oferecido pelo mdico pode ser uma tentativa de, inconscientemente, vingar-se
dos pais. Alm disso, sentimentos transferenciais negativos podem ser tambm
expressos atravs de queixas de efeitos colaterais.
Alguns pacientes pedem para ser medicados e estes podem acreditar que sua
patologia meramente biolgica e que a medicao ter um efeito mais rpido e mais
eficaz do que uma anlise. Tal atitude pode ser considerada um acting-out
(KNOWLTON, 1997). No entanto, o analista no deve descartar a possibilidade de
encaminhar.
Existem pacientes que rejeitam a medicao por causa do significado de
passividade frente ao tratamento (KATZ, 2005). Outros por conhecerem amigos ou
familiares que tiveram experincias desfavorveis quanto ao uso (GUZ, 1982;
GABBARD, 1994).
Para outros pacientes a medicao remete patologia, sendo que a idia de
doena pode contribuir para a resistncia adeso ao tratamento farmacolgico. Em
outros casos, os pacientes esto to ligados sua patologia que a adeso medicao
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ainda resiste aos seus prprios efeitos (GABBARD, 1998). Gabbard (1998) nota que,
para tais pacientes, a abordagem psicoterpica o melhor tratamento.
Existe, ainda, outro fenmeno que pode acontecer quando se utiliza dos
psicofrmacos no tratamento: a transferncia para o prprio medicamento. Tal fato pode
ser evidenciado quando os medicamentos atuam como objetos transicionais, tomando
lugar do mdico ausente (GABBARD, 1998). O medicamento tido como objeto
transicional permite ao paciente manter uma ligao com seu mdico e auxili-lo no
controle da ansiedade sentida pela ausncia da figura do mdico (FREY; MABILDE;
EIZIRIK, 2004). Frascos de medicamentos, receitas mdicas, o toque ou o olhar ao
medicamento podem ter efeitos apaziguadores sobre o paciente. Tais aspectos podem
levar ao paciente recusa da interrupo do uso do medicamento (GABBARD, 1998).
J a suspenso da medicao tambm deve ser discutida em anlise a fim de
que o paciente possa colocar seus medos e anseios com o fim do uso (FREY;
MABILDE; EIZIRIK, 2004). Frey, Mabilde, Eizirik (2004) notam que, para que no se
denote que o fim do uso medicamentoso signifique o fim da anlise, no aconselhvel
que a anlise se finalize juntamente com o fim do uso da medicao.
Diante do exposto na literatura, apresenta-se como questo de que maneira os
profissionais psiclogos em sua atuao na clnica psicodinamicamente orientada vm
lidando com o arsenal de psicofrmacos, to presente na sociedade, atravs das
informaes transmitidas pelos veculos de comunicao e, conseqentemente, tambm
ao alcance dos pacientes. Ao mesmo tempo, como estaria ocorrendo, se for este o caso,
o relacionamento entre a possibilidade de psicoterapia e de medicao em situao
conjunta na viso de tais profissionais. Tais interrogaes motivaram o presente
trabalho, cujos objetivos esto destacados a seguir.
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OBJETIVOS
Objetivo Geral
Esta pesquisa busca verificar de que maneira os profissionais que atuam em
psicoterapia de orientao psicodinmica compreendem o uso de medicao no
tratamento de seus pacientes e quais as contribuies e dificuldades que esta oferece ao
atendimento.
Objetivos Especficos
Busca-se investigar em que situaes os profissionais encaminham seus pacientes a
outros profissionais a fim de inserir a medicao no tratamento, como se d o
relacionamento entre os diferentes profissionais, quais so os medicamentos mais
prescritos, os quadros clnicos correlatos, de que modo os pacientes e analistas tm
encarado o encaminhamento, a medicao e seu efeito sobre a anlise, sua suspenso e o
aumento ou no do uso medicamentoso no tratamento.
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MTODO
O mtodo utilizado no presente trabalho foi o da pesquisa clnico qualitativa,
com enfoque fenomenolgico, que privilegia os dados da experincia, indagando os
contedos da conscincia, na medida em que buscou-se uma primeira aproximao
quanto ao tema (TURATO, 2003).
Participantes
Foram participantes da pesquisa cinco profissionais que atuam em atendimento
psicodinmico h pelo menos cinco anos.
Tais profissionais foram localizados atravs de indicao de outros profissionais
atuantes na rea. Configura-se, desta maneira, como uma amostra de convenincia pois
suas caractersticas eram critrio para incluso no estudo.
Apresenta-se na Tabela 1 as caractersticas dos participantes das entrevistas
realizadas.
Com o tempo ser mais fcil aceitar que as descobertas da psicanlise sempre estiveram alinhadas com outras tendncias orientadas para uma sociedade
que no viola a dignidade do indivduo.
Winnicott (1989, p. 142)
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Tabela 1. Caractersticas dos participantes.
Sexo Idade Ano de
formao
Instituio Abordagem
terica
Anos de
atuao clnica
P 1 Feminino 50 1977 USP Escola Inglesa 27 anos
P 2 Feminino 48 1980 FMU Jungiana -
Sistmica
23 anos
P 3 Masculino 52 1978 UMESP Freudiana -
Kleiniana
27 anos
P 4 Feminino 47 1982 UNIP Escola Inglesa 22 anos
P 5 Feminino 38 1993 UMC Lacaniana 12 anos
Assim, tem-se que apenas um participante era do sexo masculino. A idade mdia
dos participantes era de 47 anos, e o tempo mdio de atuao clnica era de 22 anos.
Quanto s instituies de formao, temos representadas cinco instituies
distintas, sendo uma pblica e quatro particulares.
As abordagens tericas citadas foram: a escola inglesa, duas vezes, a
jungiana/sistmica, a freudiana/kleiniana e a lacaniana.
Quanto aos cursos de ps-graduao dos participantes, P1 mestre e doutora.
Tem especializao em psicoterapia breve, psicodinmica e em psicologia clnica. P2
fez especializao em Psicologia Jungiana e formao em terapia de casal e famlia.
Atualmente, faz especializao em psicossomtica. J P3 tem formao em psicanlise,
tem mestrado e atualmente, doutorando. P4 tambm tem formao em psicanlise e
formao clnica. J P5 tem formao pela Escola Brasileira de Psicanlise e
mestranda.
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Material
Foram utilizados fitas cassetes, gravador, questionrio de caracterizao do
sujeitos e um roteiro semi-dirigido (Anexo A), e termo de consentimento livre e
esclarecido (Anexo B).
Procedimento
Primeiramente, o projeto foi avaliado pelo Comit de tica da instituio a que
pertence o pesquisador. Aps a aprovao deste, iniciou-se o contato com um total de
nove profissionais que seriam participantes potenciais da pesquisa. Neste contato, eram
informados quanto ao objetivo da investigao, consultados sobre o interesse em
participar e, quando houve disponibilidade, foi agendado o dia e o local para realizao
da entrevista, enfatizando-se a convenincia dos profissionais e as condies que
permitissem o sigilo da coleta de dados.
Dos profissionais contatados, quatro no se dispuseram a participar. Os cinco
que fazem parte dos respondentes da pesquisa foram entrevistados no perodo de julho a
outubro de 2005.
A orientadora desta pesquisa indicou pesquisadora os participantes 1 e 2. J o
participante 1 indicou o participante 3, e este, por sua vez, indicou o participante 4. Um
conhecido da pesquisadora indicou o participante 5.
As entrevistas foram realizadas seguindo-se o roteiro semi-dirigido, apresentado
no Anexo A.
Antes da realizao da entrevista com cada participante, foi apresentado o
Termo de Consentimento (Anexo B), o qual cada um assinou, e esclarecidas suas
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dvidas quanto pesquisa. A entrevista foi gravada em udio e, aps sua realizao, foi
feita a transcrio das fitas.
Anlise dos dados
Com a transcrio das fitas, os resultados obtidos nas entrevistas foram
submetidos a uma avaliao qualitativa, quanto ao contedo dos temas sobre a questo
do uso da medicao, de modo a destacar, no discurso dos participantes, as
similaridades e divergncias de opinies. A abordagem utilizada privilegiou os dados
experienciais e conscientes.
Deste modo, para cada questo realizada foram destacados os trechos dos
discursos dos participantes nos quais estes expuseram suas vivncias e crenas.
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RESULTADOS E DISCUSSO
O primeiro dado evidente na anlise das entrevistas a concordncia dos
participantes quanto importncia e necessidade do uso da medicao para casos mais
graves.
Todos os participantes da pesquisa concordam quanto ao uso do medicamento
na anlise, quando necessrio e orientado por um profissional.
P1: A medicao bem orientada por um psiquiatra, que normalmente tambm
conversa com a gente, nos orienta, a gente troca informaes, a medicao ajuda a
aliviar um pouco sintomas mais intensos at para que a gente consiga trabalhar melhor
De que me serve fugir De morte, dor e perigo, Se me eu levo comigo?
Tenho-me persuadido, Por razo conveniente,
Que no posso ser contente, Pois que pude ser nascido.
Anda sempre to unido O meu tormento comigo,
Que eu mesmo sou meu perigo.
E, se de mi me livrasse, Nenhum gosto me seria.
Quem, no sendo eu, no teriaMal que esse bem me tirasse? Fora logo que assim passe:
Ou com desgosto comigo, Ou sem gosto e sem perigo.
Cames (1595)
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em psicoterapia. Ento a medicao tima quando ela necessria, quando ela est
ajudando o paciente.
P2: Tenho um olhar muito favorvel, dado na dose certa, sem ter a
dependncia (...), de uma forma sria, (...) por um psiquiatra que tem a capacidade de
avaliar o momento e a hora da retirada.
P3: Acho que so necessrios, bvio que so necessrios. A questo no os
psicofrmacos em si, mas a maneira como eles so utilizados, com que
intencionalidade com que so utilizados.
P4: Acho que temos no psicofrmaco atualmente uma possibilidade do
paciente estar em anlise at, de no precisar ser internado, da famlia poder mant-lo
em casa. Ento no tenho absolutamente nada contra esse uso que o uso para
pacientes que esto com quadros mais graves.
P5: O uso da medicao na anlise tem seu lugar e tem a pertinncia sim (...).
No sou do tipo de psiclogo que sou contra o antipsictico, ansioltico. Sou contra o
mau uso dessa medicao que algo que acontece na psicologia contempornea, na
psiquiatria contempornea, na neurologia tambm.
Diante dos discursos dos pacientes, percebe-se a aceitao do uso da medicao
no tratamento, quando necessrio. P1 e P2 colocam a importncia do psiquiatra para
orientar o paciente quanto ao uso a dose e retirada. P1 e P4 ainda apontam para os
benefcios da utilizao do medicamento: a melhora no trabalho analtico e
desnecessidade de internao. P3 e P5 fazem uma pontuao: a questo no so os
psicofrmacos, mas sim o uso que se faz deles.
Todos os participantes encaminham seus pacientes ao mdico quando percebem
a necessidade de respaldo medicamentoso.
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P1: Costumo (encaminhar), dependendo da necessidade. Se eu suspeito que a
pessoa tem algum distrbio neurolgico, eu encaminho para um neurologista avaliar.
Se eu desconfio ou percebo que a pessoa tem um distrbio mais grave, psiquitrico, que
necessita da medicao, encaminho pro psiquiatra para ele avaliar e ele medicar ou
no.
P2: Encaminho (...). Quando vem um paciente e eu percebo que no uma
sndrome do pnico, que s uma fobia (...) d para trabalhar simbolicamente. Mas
quando a pessoa j vem com quadro generalizado, de muitas fobias, muitas coisas, (...)
ento acho que importante sim que v procurar um psiquiatra.
P3: Recebo, como tambm fao encaminhamento. Quando vejo que o paciente
chega, est com uma depresso grave, eu encaminho para o psiquiatra para que ele
tenha concomitante a um trabalho de anlise um respaldo medicamentoso.
P4: Sou aquela que encaminha quando percebo que o quadro psiquitrico est
impedindo essa pessoa de ter uma vida relativamente normal, que um termo
complicado, mas que no est conseguindo trabalhar, estudar, minimamente, nem
aproveitar a anlise, sou a primeira a encaminhar.
P5: Se eu considerar que o caso que eu atendo necessita de medicao, sem
dvida (encaminha).
Os casos em que o encaminhamento feito so descritos pelos participantes:
quadros generalizados e distrbios psiquitricos graves que interferem no dia-a-dia dos
pacientes. P1, P4 e P5 ainda colocam:
P1: Quando os sintomas esto muito extremos ou quando a pessoa est
sofrendo muito com aqueles sintomas. Ou que aqueles sintomas esto atrapalhando
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alguma forma o dia-a-dia da pessoa (...). Quadros que surgem de repente de uma forma
crtica que interferem no dia-a-dia daquela pessoa.
P4: Se o paciente est em surto, por exemplo, surto psictico, t delirante, t
alucinando, talvez no consiga nem vir para a anlise, no consiga nem conversar.
P5: Se o sujeito est surtando, se ele no consegue, digamos, levantar
realmente da cama, se ele estiver em depresso profunda, se ele tiver em risco eminente
de um suicdio; no d pra te falar assim, se o paciente fizer isso, vai para o
psiquiatra.
Nota-se que o encaminhamento feito quando o paciente apresenta sintomas que
colocam impedimentos na vida cotidiana ou se encontra em surto, estados que o
impedem at mesmo de aproveitar a anlise.
Quanto ao efeito do uso medicamentoso na anlise, todos os participantes
concordam que a medicao auxilia na retirada dos sintomas que impedem a escuta do
paciente. Dessa maneira, o uso medicamentoso possibilita a anlise, atravs do acesso
da escuta, percepo e orientao do paciente.
P1: "Quando a pessoa comea a tomar, faz muita diferena porque a medicao
entra e age direto nos sintomas ento alivia os sintomas, a pessoa consegue at
colaborar mais, consegue at sentar e conversar (...). Tira aquele desespero ou aquela
preocupao (...). A medicao ajuda a aliviar um pouco esses sintomas mais intensos
at para que a gente consiga trabalhar melhor em psicoterapia.
P2: "Com a medicao a pessoa consegue sair daquele quadro agudo e poder
ouvir o que est sendo falado em anlise. Porque muitas vezes ela est to dentro
daquele ritual, ou daquela depresso, ou daquela angstia que ela no consegue se
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ouvir. Mais do que ouvir o que dito pelo terapeuta, mas ela no consegue se ouvir e
nem simbolizar, muitas vezes nem sonhar. Ento, qual o papel da medicao, tirar a
pessoa daquele quadro agudo, para poder se ver, para poder se ouvir, para poder ter
olhos para outras dimenses da existncia dela (...). O efeito positivo, porque se a
pessoa consegue simbolizar, se ela consegue sonhar, se ela consegue parar de chorar,
se ela consegue parar de ritualizar, ela vai poder entrar num outro processo. (...) Ajuda
a pessoa a entrar na simbolizao, nos sonhos, nas lembranas de coisas que
aconteceram, sem ser s relatar o drama daquele momento (...). A partir do momento
em que ela sai dessa vivncia, ela comea a te contar as coisas da vida, ela consegue te
dizer as coisas que ela realiza.
P3: "Eu acredito que para que a pessoa possa ter o mnimo nvel de escuta e de
percepo, porque s vezes voc recebe um paciente que est to perturbado, que eles
no tm nem escuta. Ento a medicao de qualquer maneira vai possibilitar ele
comear a ouvir, a voc pode comear a conversar com ele, porque seno o que voc
fala no tem ressonncia alguma. Ento quando eu encaminho para uma medicao,
justamente com esse intuito para que ele v mudando gradativamente, ele ir mudando a
condio dele de escuta e de percepo para que a ele possa a ter noo do que ele
est fazendo aqui".
P4: "Acho que temos no psicofrmaco atualmente uma possibilidade do
paciente estar em anlise at, de no precisar ser internado, da famlia poder mant-lo
em casa (...). Se o paciente est em surto, por exemplo, surto psictico, t delirante, t
alucinando, talvez no consiga nem vir para a anlise, no consiga nem conversar. O
papel at o paciente vir anlise, o papel da medicao possibilitar que a anlise
continue, para esse tipo de quadro, quadros mais graves".
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P5: "O manejo como analista o manejo da palavra e s vezes o manejo da
palavra, quando o caso grave, ele insuficiente (...). A voc tem que pedir para ele
procurar um psiquiatra e entrar com manejo medicamentoso (...). A medicao ela tem
a possibilidade de orientar um pouco o sujeito, como ela interfere na serotonina, na
neuroadranalina, e todos os hormnios e todos os neurotransmissores, a medicao ela
interfere de alguma maneira na pulso do sujeito, ento ela te d uma orientada (...).
Acho que o analista (...), quando ele decide encaminhar um paciente para o psiquiatra
ou para o neurologista, o analista tem que ter em mente que a medicao vai ser um
paliativo para orientar um pouco a pulso.
Dessa maneira, nota-se no discurso dos participantes que a medicao,
utilizadas por pacientes que apresentam sintomas que o impedem de realizar o trabalho
analtico, alivia esses sintomas e possibilita o acesso escuta, orientando o sujeito na
anlise.
Quanto reao do paciente diante da possibilidade de ser encaminhado ao
psiquiatra, percebe-se nos discursos dos participantes uma variedade de reaes frente
possibilidade do uso medicamentoso.
Para P5, as reaes dependem da personalidade, diagnstico do paciente e da
relao transferencial estabelecida:
P5: "Depende muito do valor, da crena, da tica do paciente, (...) do vnculo
transferencial que voc tem com ele. O paciente, se for inteligente do ponto de vista
subjetivo, ele vai saber que a medicao no toa. Depende muito do diagnstico do
paciente, se for um paciente histrico, ele pode te destituir (...). A histrica (...) pode
subverter o discurso do analista, mas ela tambm pode subverter o discurso do
psiquiatra, ela pode comear a tomar remdio e jogar tudo fora. E se for um
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obsessivo,(...) ele vai ter uma dificuldade de tomar remdio porque o obsessivo no
aceita a prpria falta, pode ser que ele no queira tomar(...). Se ele tiver a
fenomenologia que muito comum na psicose que a hipocondria, ele vai tomar
remdio. Essa pergunta muito ampla e exigiria n respostas, no d pra te dizer como
o paciente vai reagir diante disso. Se ele for um paciente que ele no te questiona
muito, provvel que ele aceite de bom grado. O clculo, na verdade, via
transferncia, depende da transferncia que o paciente tem com voc".
O discurso de P5 confirma as constataes de Leite e Vasconcellos (2003) de
que a adeso ao tratamento medicamentoso relaciona-se com a relao estabelecida
entre mdico e paciente e a patologia trabalhada. A mesma opinio confirmada por
outros participantes.
P1, P2 e P4 percebem algum tipo de resistncia em seus pacientes quando o
encaminhamento colocado. J P3 acredita que, muito embora a resistncia possa estar
presente, o manejo que o analista faz da questo do encaminhamento favorece a adeso.
P1: "Alguns aceitam, outros no (...). Muitos dizem: Ah no, no quero tomar
remdio. Mesmo s vezes eu encaminhando a pessoa no vai, j aconteceu da pessoa
no ir.
P4: "Ainda, felizmente, tem certa resistncia, quando eu acho que precisa, s
vezes eu encontro resistncia no paciente (...). Nem sempre eles aceitam. raro, no
tem chegado no. (...) Menos, bem menos do que h um tempo atrs onde o boom do
antidepressivo tava forte. Eu no diria que est havendo um decrscimo no, mas eu
posso ensaiar que talvez esteja para isso. Certa descrena da medicao (...). O que
observo que um determinado tipo de paciente, no todos, fica meio assustado, outros
aceitam to rpidos que quem fica assustada sou eu (...). E tem um outro tipo de
paciente, um nmero respeitvel, que acaba criando uma adio.
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P4 percebe certa resistncia no uso da medicao por seus pacientes e pontua
quanto sua percepo de que possa estar havendo uma descrena no uso
medicamentoso no sentido de cura mgica. Outra reao percebida a aceitao
imediata. P4 tambm compara o uso medicamentoso nos tempos atuais com outra
poca:
P4: Teve uma poca mais ou menos recente em que a medicao estava sendo
usada assim como se fosse analgsico, para agentar a dor de viver (...), as pessoas
estavam se medicando, a j tem algumas questes que eu procuro trabalhar na anlise,
que a tem uma funo a medicao na vida do paciente que no diz respeito a um
quadro psiquitrico que justifica (...). Teve uma poca em que as pessoas falavam Vou
usar Prozac hoje, como se Prozac fosse analgsico (...) e discutindo. J ouvi (...) desde
conversas na vida at relatos do discurso do paciente que dizem respeito de trocar
assim, ah eu tomei Prozac, ah eu tomo x, eu tomo y, se bobear t trocando como se
fosse algum que est trocando receita de bolo.
A mesma idia de medicao por parte dos pacientes foi notada por P1:
P1: Tive pacientes de comear a tomar e chegar aqui e falar gente a plula
da felicidade, acordei complemente feliz no dia seguinte. No, estava manaco, com o
olho estatelado, nem percebia, estava uma coisa assim artificial.
P4 ainda compara a reao dos pacientes das clnicas voltadas populao com
os pacientes de sua prpria clnica e relaciona o nvel de resistncia com o nvel cultural
do paciente, sendo que pessoas com nveis culturais superiores so mais propensas ao
uso banal do medicamento, enquanto que em pessoas com nveis culturais menores,
pacientes de clnicas institucionais, a resistncia se d pelo susto do psiquiatra.
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P4: Na clnica aberta populao geral, voc tambm encontra muita
resistncia, porque dependendo do nvel cultural, a resistncia maior, quando o nvel
cultural mais alto so esses tipos de pessoas que discutem medicao como quem
troca receita de bolo. Na clnica populao no, mas do susto do psiquiatra".
Muito embora no mencionem o nvel cultural, P1 e P2 tambm assinalam o
susto pelo encaminhamento ao profissional de psiquiatria:
P1: Se o paciente vem primeiro aqui, (...) algumas vezes porque ele tem
preconceito com o mdico, ele acha que psiquiatra coisa pra louco e se eu
encaminhar ele pode achar que eu estou chamando ele de louco ou at se sentir
rejeitado, no acolhido, achando que no estou dando conta. Ento a gente tem que ter
muito cuidado e saber como encaminhar e esclarecer que aquilo necessrio, e saber
que aquilo mais um aspecto do tratamento para auxiliar o paciente, temporariamente
mesmo que seja. Mas tudo isso depende muito de cada caso, a gente tem que ver como
que a pessoa est, o que ela pensa daquilo. Se eu sei que ela uma pessoa que tem
preconceito, se eu falar Olha vou indicar pra voc um psiquiatra, e falar s isso e
ponto, a pessoa pode nem voltar mais nossa, ela est me achando louca, nossa nem a
psicloga me agentou. Ento a gente tem que avaliar uma srie de detalhes.
P2: "Normalmente, a pessoa reluta um pouco porque a palavra psiquiatra ainda
assusta. Ento, voc diz, olha... Ah no, mas minha ginecologista me deu um
Lexotan. A voc explica que no o Lexotan, uma outra medicao que vai ter um
efeito diferente. Ento, em primeiro momento, existe uma certa averso ao nome
psiquiatra, mas a partir do momento em que voc conscientiza, e a pessoa est to
desesperada no momento, ela se percebe muito presa quele tema, ento ela vai para
ver, pelo menos vai para ver.
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Ainda que percebam certa resistncia e o susto do encaminhamento ao psiquiatra
em seus pacientes, P1 e P2 colocam a importncia do trabalho de conscientizao,
esclarecimento e o cuidado no trabalho de encaminhamento por parte do psiclogo. Tais
evidncias confirmam as hipteses de Leite e Vasconcellos (2003) de que a adeso ao
uso do medicamento se relaciona intimamente com a relao estabelecida entre mdico-
paciente.
P2 observa ainda que a percepo por parte do paciente de seu sofrimento
favorece o encaminhamento ao mdico. Acredita que, a partir do momento que os
pacientes buscam a anlise, existe neles uma tentativa de mudana e, dessa maneira,
ouvem aquilo que est sendo dito pelo profissional a fim possibilitar tal mudana. Tal
pontuao tambm confirmada pelos dados de Leite e Vasconcellos (2003), de que a
aceitao do tratamento medicamentoso associa-se ao paciente e ao seu diagnstico.
Desta maneira, o trabalho de conscientizao, somado ao estado em que o
paciente se encontra e a percepo do prprio sofrimento parecem favorecer a adeso ao
tratamento medicamentoso.
O trabalho de conscientizao e cuidado no encaminhamento tambm
enfatizada por P3:
P3: "Se voc puder colocar de uma maneira clara, em que a pessoa realmente
entenda que voc est falando, primeiro lugar, voc precisa ter claro o que voc est
falando, se voc tiver claro e consciente daquilo que esta falando a possibilidade do
outro entender tambm de uma maneira clara. Dificilmente tem uma resistncia (...)
Eles percebem que o que estou falando srio e tem um respaldo. No estou falando
porque eu acho, t falando mediante os dados que ele me trouxe. Uma das questes
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tipo assim: Tenho medo de ficar dependente. Eu falei: Nada melhor do que voc ir l
e conversar com o prprio mdico de quais so as questes de voc ficar dependente, se
isso existe se isso no existe. Convence".
Percebe-se um certo tipo de resistncia nos pacientes de P3 quando este traz em
seu discurso o medo do paciente ficar dependente. No entanto, para P3, o manejo que o
analista faz quando coloca a questo do encaminhamento parece influenciar a adeso.
P3 ainda afirma que, quando se depara com pacientes que necessitam da
medicao para o tratamento e no a aceitam, rejeita a proposta de trabalhar sem o
auxlio medicamentoso. P4 tambm assume a mesma postura frente a esses pacientes.
P3: J (teve recusas de encaminhamento ao mdico). Mas se, por exemplo, se
estou indicando e ele no aceita e eu acho que sine qua non pra que ele possa estar
fazendo uma anlise, pelo menos numa condio mnima para isto, se ele realmente
no aceita, eu falo: Sinto muito, nesses moldes eu no posso trabalhar com voc.
Porque eu fico com condies sub-de trabalho, portanto, no vai sair trabalho nenhum,
voc vai gastar seu tempo e perder seu dinheiro aqui. Ento eu acredito que voc deva
procurar um outro profissional.
P4: Tem determinados tipos de paciente que sem medicao eu no atendo,
sem acompanhamento medicamentoso no atendo, que pacientes so esses, pacientes
mais graves, desde o border at o psictico. Assim, um compromisso que o paciente
faz comigo no contrato, que ele esteja em acompanhamento psiquitrico e s
interrompa o uso da medicao na medida da alta do mdico.
Por outro lado P5 aponta que, quando h resistncia ao uso medicamentoso, a
deciso do paciente indica a crena do paciente no trabalho analtico e que, dessa
maneira, tal deciso deve ser levada em conta pelo analista.
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P5: Quando o paciente diz: Olha, voc est equivocado, no vou tomar a
medicao no, isso um relevante que deve ser considerado. Voc pode dizer: Olha,
como sou sua analista, estou vendo; e o paciente pode por outro lado aceitar tambm.
Cada caso um caso (...). Se o paciente dizer para voc: No quero tomar medicao,
no por a; ele est te falando que ele acredita no manejo da palavra. E a voc
como analista vai se esforar mais ainda para ajudar o paciente. Ou voc pode
tambm dizer para ele: Olha, acho que nesse momento a melhor coisa voc tomar um
remdio, eu vou precisar da ajuda de um psiquiatra, me chama ateno voc no
aceitar. Cada caso um caso.
P1 tambm percebe maior empenho no trabalho analtico nos casos em que h
resistncia dos pacientes em procurar um psiquiatra:
P1: "Alguns aceitam, outros no. (...) Muitos dizem: Ah no, no quero tomar
remdio. Mesmo s vezes eu encaminhando a pessoa no vai, j aconteceu da pessoa
no ir. A pessoa que tem medo de tomar remdio, tem medo de ficar viciada, ou
conhece algum caso de pessoa que comeou tomando calmante depois passou pro
antidepressivo e depois de alguns anos toma quatro ou cinco remdios e nada faz
efeito. Pessoas que tm medo disso no vo. E meio que se controlam, ou parece que se
dedicam mais terapia, mostrando que elas do conta de resolver aquilo
psicologicamente, se empenham mais no trabalho teraputico. A eu deixo em
observao".
Alm da maior dedicao por parte do paciente quando existe a rejeio ao uso
medicamentoso, P1 ainda percebe neles o medo do vcio e o conhecimento de efeitos
adversos do medicamento em outras pessoas. O conhecimento por parte dos pacientes
de experincias desfavorveis com a medicao com outras pessoas tambm foi
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apontada por Guz (1982) e Gabbard (1994) como fatores que influenciam a deciso pela
no adeso pelo paciente.
Por outro lado, P2 acredita que pessoas que no aderem ao uso medicamentoso
so tambm aquelas que no aderem anlise, defendendo assim hipteses de Leite e
Vasconcellos (2003), de que fatores externos como efeitos colaterais no tm tanta
influncia na adeso medicamentosa, uma vez que questes relacionadas ao paciente,
como a aceitao da doena, so decisivas para a adeso medicao.
Contrariando a percepo de P1 de que pacientes que no aderem ao uso
medicamentoso se empenham mais no trabalho analtico, P2 percebe maior empenho no
trabalho analtico em pacientes que aderem medicao e acredita que a adeso ao
tratamento medicamentoso relaciona-se adeso ao tratamento analtico.
P2: Acho que as pessoas quando vm para a terapia, elas j vm para uma
tentativa de mudana, j tm um grito de vida, e quando voc diz Olha, vai para te
ajudar, no para sempre, voc no vai ficar dependente(...). A a pessoa acaba vendo
que olha, deixa eu me ajudar ento, deixa eu ouvir o que est sendo dito. (...) Pessoas
que no aceitam a medicao, no aceitam procurar essa ajuda (...) so pessoas que
tambm no aderem terapia (...). Se esta pessoa est com este comprometimento, (...)
ela cada vez vai se fechando mais, e da mesma forma que ela no vai ao mdico, ela
tambm no tem disposio, to trabalhoso sair de casa (...) ou conseguir vencer
esses obstculos que elas no aderem terapia.
P2 concorda com as idias de Leite e Vasconcellos (2003) quando estes afirmam
que a adeso ao tratamento medicamentoso liga-se a questes do paciente e aceitao
da prpria patologia, e no tanto com fatores externos. P2 complementa:
P2: Eu vejo que a averso que muitos pacientes tm medicao uma
averso criativa, uma averso positiva, porque a ela no pode beber porque no
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pode associar com o lcool. Ento no pode ir a uma festinha que tem bebida
alcolica, ela no pode sair e esquecer o remdio, porque seno ela vai ter uma
abstinncia. Ela no pode uma srie de coisas, mas ela est melhor, por outro lado.
Ento ela comea a perceber que o remdio trouxe um ganho, mas a averso faz com
que ela busque um significado para ela poder sair fora da medicao o quanto antes
(...). E caro, a medicao cara, principalmente essa farmacologia de ltima
gerao, que so essa medicao que no traz a dependncia, que no traz tanto efeito
colateral (...). Ento a pessoa comea a perceber que tem fatores positivos, mas que
tem uma srie de limitaes e um preo alto. Ento ela vai buscar o significado o
quanto antes.
Para P2, pacientes que buscam uma mudana, ainda que conheam as
adversidades da medicao, aderem medicao e, exatamente pelas adversidades do
medicamento, se empenham mais na busca pela resoluo de seu sofrimento.
Dentre os fatores que influenciam a resistncia do paciente medicao, a
dependncia citada por P1, P2 e P3. No entanto, P2 ainda observa que a percepo do
paciente quanto dependncia medicamentosa um aspecto positivo ao tratamento:
P2: Muitos pacientes tm aquela coisa que uma dependncia: Estou
dependente de uma droga. E eu acho que at isso positivo, porque quando o paciente
se percebe dependente, que tomar o remdio ajuda, alivia, ele vai cada vez mais buscar
o significado, buscar o entendimento disso, at para parar a medicao.
P2 nota a percepo da dependncia medicamentosa como um aspecto positivo
ao tratamento, uma vez que tal percepo estimula a busca do paciente pelo significado
e resoluo de seu sofrimento a fim de livrar-se do medicamento. Dessa maneira, a
afirmao de Gabbard (1998) e Frey, Mabilde e Eizirik (2004) quando estes dizem que
os pacientes podem tornar-se dependentes e infantilizar-se e no se responsabilizar por
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seus sofrimentos no foi percebida na clnica de P2. Pelo contrrio, P2 constatou que, ao
se perceberem dependentes da medicao, seus pacientes se empenham ainda mais na
busca pela resoluo de seu sofrimento, submetendo-se at mesmo aos altos custos da
medicao e aos limites que o medicamento estabelece.
Se por um lado a percepo de P2 no sintnico ao explicitado por Gabbard
(1998) e Frey, Mabilde e Eizirik (2004), por outro, conforme j notado anteriormente, a
observao de P2 est de acordo com idias de Leite e Vasconcellos (2003), quanto ao
fato de que a adeso medicao ligar-se aceitao da prpria patologia. Para P2, o
paciente que j chega na clnica em busca de mudana aderem medicao a fim de
possibilitar o enfrentamento de seu sofrimento, deixando pouco espao para fatores
como efeitos colaterais e custos. Alm da percepo da dependncia ao medicamento,
as adversidades em seu uso, tais como a abstinncia e outras interaes, estimulam essa
busca por um significado a fim de no mais se depender do medicamento.
Dessa maneira, percebe-se, nessa busca de resoluo, o desejo da suspenso do
uso do medicamento. P2 conclui:
P2: "Eles aceitam, e buscam isso (a suspenso do medicamento)".
A mesma opinio compartilhada por P1.
P1: "Para suspender a medicao tem que ser um processo gradativo e natural
(...) A maioria dos casos aceita muito bem a diminuio, aceita porque se o psiquiatra
v que j est melhor e a pessoa se sente bem mesmo tomando menos, todo mundo acha
bom. Acho que este caso de suspender a medicao, ningum acha ruim no, eles ficam
com receio, com medo de ter uma recada s vezes, mas isso no ocorre".
Da mesma forma, P4 concorda que existe ainda um receio na retirada da
medicao.
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P4: "Aqueles pacientes que j vinham medicados tm muito medo, eles no
sabem, ficam num determinado momento, como que o pacote aquilo que fez bem,
ento no quer largar nenhuma das contas. A a possibilidade da anlise virar vcio
tambm est presente, ento outro trabalho que se faz".
No entanto, P2 ainda aponta que quando o uso da medicao suspenso o
paciente se mostra mais fortalecido e mais confiante.
P2: Dos pacientes que eu j atendi, (...) eu senti que a pessoa sai muito mais
confiante. Primeiro porque ela no est presa quele complexo, no est presa quela
coisa que a limitava. Por outro lado, ela est em um nvel de entendimento de si mesmo
muito maior e o fato de parar a medicao faz com que ela sinta vitoriosa (...). E
quando precisa retornar, que algumas pessoas param um tempo e depois precisam
retomar (...) as pessoas ficam com um sentimento meio de derrota.
Dessa maneira, nota-se que, embora a suspenso da medicao seja visada
pelos pacientes, existe, ainda assim, o receio da interrupo ao uso. No entanto, o
sentimento de vitria se faz presente quando a suspenso feita.
Quanto mudana na relao teraputica pela introduo do uso
medicamentoso, existe uma certa divergncia de opinies entre os participantes. Muito
embora os participantes apresentem opinies diversas, de alguma maneira, todos
concordam que a relao transferencial se fortifica: o paciente se empenha mais a
significar seu sofrimento, ou estabelece uma transferncia negativa, ou a atuao pode
se fazer presente em anlise.
P1: "O uso da medicao no muda a relao teraputica. O que pode mudar a
relao teraputica o fato de eu dizer que precisa de medicao e se essa pessoa
aceita ou no esse encaminhamento, essa observao que estou fazendo. Isso pode
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afetar a relao teraputica, uma varivel que interfere e que a gente tem que lidar com
muito cuidado e quando necessrio fazer a indicao e fazer o encaminhamento e
depois acolher e interpretar tudo o que aparece, porque seno a pessoa atua,
transforma aquilo em ao. Se a gente no interpreta para poder pensar a respeito do
que est acontecendo, a pessoa atua, acaba prejudicando a relao teraputica. Ento
tudo vai do manejo que a gente pode fazer disso. Depende dos casos a gente tem que
estar muito atento com o manejo disso".
P2: "No, no muda no. O que eu sinto assim, pessoas que no aceitam a
medicao, no aceitam procurar essa ajuda, no aceitam, no querem saber de nada,
so pessoas que tambm no aderem terapia. Da mesma forma que elas no aderem
a um mdico s, da mesma forma que elas no aderem a procurar ajuda da
homeopatia, da acupuntura, de qualquer coisa, elas no vo aderir terapia tambm.
(...) Muitos pacientes tm aquela coisa que uma dependncia (...) e eu acho que at
isso positivo, porque quando o paciente se percebe dependente (...) ele vai cada vez
mais buscar o significado, buscar o entendimento disso, at para parar a medicao
(...). Elas se empenham mais em entender aquele sintoma para se ver livre da
medicao (...). Acho que as pessoas quando vm para a terapia, elas j vm para uma
tentativa de mudana, j tm um grito de vida, e quando voc diz, Olha vai para te
ajudar, no para sempre (...). A a pessoa acaba vendo que olha, deixa eu me ajudar
ento, deixa eu ouvir o que est sendo dito.
P3: Se ele puder perceber que aquilo que estou falando tem um respaldo, a
relao at se intensifica, a transferncia se fortifica.
P4: "Depende do paciente (...). De modo geral, a relao muda no sentido do
paciente aproveitar melhor a anlise (...). A o que pode acontecer na transferncia
uma coisa que est previsto na anlise, com ou sem medicao, que a possibilidade
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de desenvolver uma transferncia negativa. Muda no sentido de Bom, o mdico disse
(...) que isso biolgico, que eu vou ter que tomar o resto da vida (...), no sei pra que
que vou fazer anlise. Mas isso fruto da resistncia. Pode ser fruto da resistncia e
aparecer de outra forma, outra coisa para se trabalhar. A questo da relao
transferencial, eu acho que assim, quando eu falo, depende do paciente, depende de
como isso vai entrar na relao, transferncia. E a trabalho".
P5: "A gente tem que calcular a interveno no atendimento porque voc pode
indicar um psiquiatra pra um paciente e aquilo cair muito mal (...), pode favorecer uma
reao teraputica negativa (...). O teu pedido e a tua inteno de ajudar o teu paciente
pode ser recebido mal (...). O paciente pode fazer imperar uma transferncia negativa
no tratamento e se a transferncia tiver na corda bamba o paciente pode te dizer assim
olha no venho mais aqui. Estou te dando um exemplo extremo, no que isso possa
acontecer realmente, mas o analista est sujeito a isso. Quando o analista pede que
voc procure um psiquiatra ou neurologista, ele tem que calcular se isso vai interferir
no vnculo transferencial do paciente".
Conforme o discurso dos participantes, as idias de Knowlton (1997) e Powell
(2001) mostram-se vlidas ao afirmar que a possibilidade do uso medicamentoso
modifica a relao teraputica, fortificando a relao e transferncia e possibilitando
obter informaes acerca das experincias do paciente.
P4 menciona o fato de se desenvolver a transferncia negativa fato previsto na
anlise, com ou sem medicao. Dessa maneira, conforme Knowlton (1997), o
medicamento apenas possibilitar despertar sentimentos de uma parte da transferncia
que no fora expressa anteriormente.
Alm de P4, P5 tambm cita a possibilidade de se desenvolver uma transferncia
negativa ao ser colocada a questo do uso medicamentoso. Tambm P1, de alguma
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forma, concorda com esta idia quando diz que preciso interpretar tudo o que aparece
aps o encaminhamento para que no haja a atuao, o que pode vir a prejudicar a
relao teraputica.
J P2 discorda dos outros participantes acreditando no haver mudanas na
relao teraputica to pouco o desenvolvimento da transferncia negativa. Para
justificar sua percepo, P2 diz pensar que os pacientes