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129 E-Tech: Tecnologias para Compevidade Industrial, Florianópolis, n. esp. Metalmecânica, p. 129-144, 2012. LOGÍSTICA LEAN COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO PARA O SETOR METALÚRGICO Flávio Belli 1 RESUMO Este argo teve como objevo fazer uma revisão teórica sobre logísca lean e analisar os impactos que esta filosofia pode gerar na logísca quando aplicada no setor metalúrgico da cidade de Joinville. A metodologia da pesquisa se caracteriza como de natureza básica em relação ao tema abordado. Quanto aos seus procedimentos técnicos, enquadra-se como um estudo bibliográfico, pois tratou de dados e verificações provindas diretamente de trabalhos já realizados do assunto pesquisado. Do ponto de vista dos objevos, classifica-se como exploratória e descriva. Quanto aos resultados obdos neste trabalho, destaca-se, a proposta de conceito de logísca lean com foco no atendimento do cliente e a visibilidade dos desperdícios que existe na logísca do setor metalúrgico e que oportuniza um direcionamento para a busca da eficiência global. Neste sendo, este estudo permiu idenficar as oportunidades de melhoria que a logísca pode obter através da ulização da filosofia lean e mostrou que o setor metalúrgico pode se beneficiar com a ulização de ferramentas lean. Palavras-chave: Melhoria connua. Logísca. Filosofia lean. 1 Especialista, e-mail: fl[email protected]/fl[email protected]

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    2. LOGSTICA LEAN COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO PARA O SETOR METALRGICO

    Flvio Belli1

    RESUMO

    Este artigo teve como objetivo fazer uma reviso terica sobre logstica lean e analisar os impactos que esta filosofia pode gerar na logstica quando aplicada no setor metalrgico da cidade de Joinville. A metodologia da pesquisa se caracteriza como de natureza bsica em relao ao tema abordado. Quanto aos seus procedimentos tcnicos, enquadra-se como um estudo bibliogrfico, pois tratou de dados e verificaes provindas diretamente de trabalhos j realizados do assunto pesquisado. Do ponto de vista dos objetivos, classifica-se como exploratria e descritiva. Quanto aos resultados obtidos neste trabalho, destaca-se, a proposta de conceito de logstica lean com foco no atendimento do cliente e a visibilidade dos desperdcios que existe na logstica do setor metalrgico e que oportuniza um direcionamento para a busca da eficincia global. Neste sentido, este estudo permitiu identificar as oportunidades de melhoria que a logstica pode obter atravs da utilizao da filosofia lean e mostrou que o setor metalrgico pode se beneficiar com a utilizao de ferramentas lean.

    Palavras-chave: Melhoria contnua. Logstica. Filosofia lean.

    1Especialista, e-mail: [email protected]/[email protected]

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    2. 1 INTRODUO

    Os mercados consumidores esto em constante mutao e suas necessidades se alteram numa velocidade cada dia mais rpida, neste sentido as organizaes necessitam de uma sintonia cada vez maior com os seus processos internos para dar uma reposta a esta demanda no mesmo ritmo que lhe solicitado, por isto a filosofia lean est sendo aplicada na manufatura (LIMA; ZAWISLAK, 2003).

    O desafio atual atender a necessidade do mercado consumidor que exige cada vez mais das empresas agilidade, eficincia e agregao de valor, e com estes direcionadores as organizaes buscam alterar os processos, independente do seu ramo de atuao, para ser globalmente competitiva, (ELIZABETH; CASSANDRA, 2011; CUDNEY; ELROD, 2010).

    Neste contexto, um dos motivadores que impulsionam e desafiam a organizao a buscar uma mudana brusca no gerenciamento das suas operaes a necessidade de alinhamento dos objetivos estratgicos, tticos e operacionais com a execuo das atividades. Esta mudana de viso promove uma reavaliao dos processos internos e fora a busca pela melhoria contnua, que sustentada pela aplicao da filosofia lean e exige uma reviso dos fluxos de materiais e fluxos de informao, (SNCHEZ; PEREZ, 2001).

    Desta forma a filosofia Lean esta sendo adaptada na logstica permitindo uma viso mais precisa dos conceitos de valor, fluxos de valor, fluxo de produtos, sistema puxado (JONES et al., 1997 apud WU, 2003; SNCHEZ; PEREZ, 2001).

    A filosofia lean quando implantada na logstica proporciona uma evoluo na excelncia operacional e permite que as organizaes atendam as exigncias do mercado no que se refere qualidade na prestao de servio como um diferencial competitivo (FLEURY; LAVALLE, 1995). Esta diretriz promove uma reviso dos processos logsticos atravs de anlise do sistema logstico e serve de ponto de partida para a incorporao da filosofia lean no processo de melhoria contnua. Algumas indstrias, como por exemplo, na automotiva, em seu processo de reorganizao foram influenciadas pela filosofia de organizao da produo: a manufatura enxuta ME ME (LIMA; ZAWISLAK, 2003).

    A estratgia para adaptar os conceitos da manufatura enxuta na logstica lean deve considerar as diferenas que os processos possuem e eleger as ferramentas que melhor atendem as suas necessidades, pois, em sua essncia, a logstica j tem um apelo enxuto, devido o seu foco na reduo dos custos e na eficincia (FIGUEIREDO, 2006; KERR, 2006).

    Segundo Christopher (1997, p.2):

    a logstica o processo de gerenciar estrategicamente a aquisio, movimentao e armazenagem de materiais, peas, produtos acabados (e os fluxos de informaes correlatas) atravs da organizao de seus canais de marketing, de modo a poder maximizar a lucratividade presente e futura atravs do atendimento dos pedidos a baixo custo.

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    2. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo fazer uma reviso terica sobre logstica lean e analisar os impactos que esta filosofia pode gerar na logstica quando aplicada no setor metalrgico da cidade de Joinville. Para atingir o objetivo proposto, utilizou-se como procedimento tcnico a pesquisa bibliogrfica. A coleta de dados da pesquisa bibliogrfica foi realizada por meio das bases de dados ISI, Wiley, Scopus e Google acadmico. As palavras-chave utilizadas foram: lean logistics, lean chain, lean supplier, lean supply chain, lean supply chains, lean supply chain management. O resultado parcial da busca simples composto por 1615 publicaes que foram encontradas.

    Posteriormente, as publicaes foram selecionadas tendo como critrio o alinhamento do ttulo ao tema em foco no presente trabalho. Desta forma, uma segunda amostra parcial foi selecionada, com um total de 68 publicaes que foram lidas e reclassificadas. Chegou-se a uma amostra final composta por 25 artigos. J como o direcionamento de aplicabilidade desta pesquisa, foi proposta um modelo de mapeamento dos pontos crticos e das fontes de desperdcios que o setor metalrgico de Joinville possui, seguido de uma sugesto de tcnicas lean que a literatura aponta como essncias para a logstica.

    Neste contexto, torna-se imprescindvel conhecer as responsabilidades da logstica numa organizao, assuntos abordados na seo 2. Em seguida, na seo 3, realizada uma reviso dos processos logsticos na logstica lean. J, na seo 4 apresenta-se uma proposta de conceito de logstica lean. Na sequncia, na seo 5, relata a situao do setor metalrgico do ponto de vista da classificao dos desperdcios e mapeamento da logstica lean, seguido pelas concluses e oportunidades de pesquisa na seo 6.

    2 RESPONSABILIDADE DA LOGSTICA NUMA ORGANIZAO

    As organizaes esto num processo de mudana constante para se adequarem as necessidades do mercado que exige flexibilidade, agilidade e um excelente nvel de servio, e neste sentido a logstica contribui estrategicamente, pois as suas atividades interferem no fluxo da informao, fluxo material e fluxo financeiro (ELIZABETH; CASSANDRA, 2011; CUDNEY; ELROD, 2010).

    De acordo com Lima e Zawislak (2003) Lean uma filosofia denominada produo enxuta e ou modelo de produo da Toyota, com foco na reduo dos desperdcios e que promove a melhoria contnua atravs de jornadas lean. Tambm utiliza tcnicas e princpios para eliminar os problemas encontrados nos processos, produtivos e administrativos (kaizen, MFV etc.).

    Neste sentido a logstica esta adaptando a filosofia lean para facilitar a visualizao dos fluxos, pois atravs da ferramenta MFV (Mapa de fluxo de valor) possvel desenhar o fluxo de valor e as atividades que no agregam valor (KERR, 2006; WEE; WU, 2009; OLIVEIRA; ARAJO, 2009).

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    2. O trabalho de anlise dos fluxos deve comear depois que a organizao definir as atividades de responsabilidade da logstica para facilitar o direcionamento e entendimento das oportunidades de melhoria, pois isto crucial para o sucesso do processo de implantao da filosofia lean (KONECKAS, 2010). A falta de definio clara das responsabilidades faz com que as tenham dificuldades durante a implementao de processo enxutos (MASKELL, 1999, apud NOGUEIRA; CASALINHO, 2008).

    No sentido de facilitar a definio das atividades logsticas foi relacionado no quadro 1 o processo de evoluo das atividades ao longo dos perodos.

    Quadro 1: Evoluo das atividades logsticas

    Era Perodo Descrio

    1) Da fazenda

    ao mercado

    Perodo anterior s

    guerras mundiais

    Foco das atividades era simplesmente no transporte

    e armazenagem.

    2) Funes

    Segmentadas

    At o fim da

    dcada de 50.

    Aparecem as atividades logsticas, mas elas ainda

    so vistas como funes diferentes dentro da

    organizao. A influncia militar comea a ser mais

    profunda, levando a desenvolvimentos da engenharia

    com foco na logstica.

    3) Funes

    Integradas Incio dos anos 60.

    Abordagem mais sistmica da logstica e o conceito

    de custo total se popularizam. Existe um objetivo de

    integrao das atividades logstica, mesmo que ainda

    de uma forma interna.

    4) Foco no

    Consumidor Nos anos 70

    A idia de servio ao consumidor passou a ser um

    ponto de debate importante, com o aumento da

    influncia do Marketing.

    5) Logstica

    como fator de

    diferenciao No incio dos anos

    80

    A logstica passou a ser vista como um fator de

    diferenciao na empresa. Nesse sentido, a viso

    estratgica da logstica passou a ter peso dentro da

    firma. Conceitos como cadeia de suprimentos, canais

    de distribuio, eficincia e tecnologia de informao

    ganharam destaque.

    6) Expanso

    de Fronteiras

    Essa era diz

    respeito metade

    da dcada de 90

    at os dias atuais.

    A percepo do cliente e seu comportamento diante

    do sistema logstico passaram a ser levados em

    considerao. Surgem as redes logsticas, logstica

    internacional e atividades multifuncionais.

    Fonte: Adaptado de Kent e Flint ( 1997 apud VIEIRA; RODRIGUEZ, 2011)

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    2. Neste contexto as organizaes definem como atribuies de responsabilidade da logstica segundo Christopher (2007), suprimentos, armazenagem, gerenciamento dos estoques, movimentao interna, distribuio, transporte e etc. A execuo das atividades logstica deve ter como foco o atendimento do cliente no tempo certo, com qualidade e com um custo justo (SNCHEZ; PREZ, 2001; KOBAYASHI, 2000).

    3 DEFINIO DE PROCESSOS LOGSTICOS NA LOGSTICA LEAN

    A necessidade de gerenciar os processos logsticos da organizao no est focada apenas nas atividades internas, mas sim, ultrapassou a fronteira da organizao, agregando entre os direcionadores de tomadas de decises, os fornecedores e os clientes (SGARBI JUNIOR; CARDOSO, 2011; WU, 2003).

    Neste contexto os processos logsticos na logstica lean devem buscar eliminar os desperdcios em atividades que no agreguem valor ao cliente que permitem a organizao reduzir os seus custos totais (ZHOU et al., 2008).

    O foco da logstica lean deve estar concentrado nos trs grandes processos logsticos (logstica de abastecimento, logstica interna e logstica de distribuio). Nestes processos demonstrados atravs da figura 1 a logstica lean deve buscar a melhoria contnua aplicando a tcnica do kaizen e a ferramenta do MFV, para identificar os gaps (lacuna) nas interfaces e redesenhar o fluxo, reduzindo as fontes de desperdcios e de no agregao de valor (WEE; WU, 2009; IMAI, 2005).

    Figura 1: Fluxo de Materiais

    Fonte: Pires; Musetti (2000)

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    2. Os processos logsticos na logstica lean evoluem conforme a necessidade do cliente, porm sua rea de atuao deve estar concentrada nas atividades que agreguem valor e na reduo das atividades que no agreguem valor (PHELPS; SMITH; HOENES, 2003; ZYLSTRA, 2008).

    4 PROPOSTA DE CONCEITO DE LOGSTICA LEAN

    A logstica lean um sistema puxado com reposio em pequenos lotes, definido entre as empresas e plantas ao longo do fluxo de valor. Alm disso, a logstica lean necessita de um sinal para a puxada (EDI, Kanban, WEB, etc.), e tambm precisa de dispositivos de nivelamento nas etapas do fluxo de valor, um modelo de entrega freqente em pequenos lotes, que pode ser vrios cross-dock para a consolidao de cargas nos loops de reposio (LXICO LEAN, 2007).

    Neste contexto a logstica lean direciona suas aes ao fluxo de valor e foca nas etapas que agregam valor ao produto e que o cliente percebe (ZYLSTRA, 2008). O conceito de logstica lean esta em construo e o processo iniciou com a pesquisa de alguns autores como (NAYLOR; NAIM; BERRY, 1999; BOISSON, 2008; KERR, 2006; FERRO, 2006). Neste sentido foi elaborado o quadro 2 que contm uma coletnea de conceitos de logstica e suas variaes na viso dos autores.

    Quadro 2: Anlise dos conceitos de logstica, logstica lean e logstica lean agile

    Autor e Ano Conceito de LogsticaConceito de Logstica

    LeanConceito de Logstica Lean Agile

    NAYLOR;NAIM;

    BERRY, 1999.

    KONECKAS, 2010.

    - Alto foco na reduo

    do lead time, na

    reduo do custo e melhoria da qualidade;

    Baixo foco na

    prestao de servio.

    Alto foco na

    reduo do lead time, melhoria

    da qualidade e da prestao de

    servio;

    Baixo foco na

    reduo do custo.

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    2.

    KERR, 2006.

    Atendimento ao

    cliente, com controle

    sobre os processos

    de abastecimento,

    armazenagem,

    movimentao

    interna e distribuio.

    Entrega freqente,

    nivelada, fluxo

    constante de peas,

    reduo de estoque.

    Utilizar Milk Run

    no abastecimento

    e distribuio

    e envolvendo

    transportes e

    fornecedores.

    SERIO; SAMPAIO;

    PEREIRA, 2007.

    Foco na gesto

    da cadeia de

    suprimentos, viso

    de interdependncia

    entre departamento

    e responsabilidade

    compartilhados para

    atender o cliente

    final.

    VIEIRA;

    RODRIGUEZ,

    2011.

    Logstica o

    processo de planejar,

    implementar e

    controlar de maneira

    eficiente o fluxo

    e a armazenagem

    de produtos, bem

    como os servios

    e informaes

    associados, cobrindo

    desde o ponto de

    origem at o ponto

    de consumo, com o

    objetivo de atender

    aos requisitos do

    consumidor.

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    2.

    FERRO, 2006

    A premissa

    fundamental

    considerar os custos

    totais, que envolve

    o transporte e a

    movimentao,

    alm de considerar

    estocagem, perdas de

    vendas, ou multas pelo

    no cumprimento dos

    prazos de entrega e

    outros custos invisveis.

    CHRISTOPHER

    1997 apud

    BOISSON, 2008

    Logstica o processo

    de gerenciar

    estrategicamente

    a aquisio,

    movimentao e

    armazenagem de

    materiais, peas e

    produtos acabados,

    controlando o fluxo

    fsico e de informao

    de modo a maximizar

    a lucratividade

    presente e

    futuras atravs do

    atendimento dos

    pedidos com baixo

    custo.

    Logstica lean, visa criar valor ao cliente

    mediante um servio

    logstico com o menor

    custo total.

    Fonte: Do autor (2012)

    A definio dos conceitos de logstica lean que foi apresentado por Ferro (2006) e Boisson (2008) so os que mais se aproximam da realidade brasileira, pois a logstica no Brasil ainda est num processo de formalizao e de busca pela independncia.

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    2. 5 SITUAO DO SETOR METARLRGICO DE JOINVILLE

    O setor metalrgico de Joinville possui uma relao de dependncia com as montadoras de veculos. Os altos e baixos deste segmento aps a crise de 2008 vem provocando muita instabilidade. Os impactos desta instabilidade so a demisso de funcionrios, a necessidade de reestruturao, os prejuzos decorrentes de cancelamento de pedidos e o baixo giro dos estoques. Neste contexto a logstica tm um papel estratgico para o setor metalrgico de Joinville, pois os custos decorrentes da logstica inbound (logstica de abastecimento), logstica interna e logstica outbound (logstica de disribuio) so considerveis devido s caractersticas destes materiais que possuem uma alta densidade, o que acarreta um custo significativo na movimentao.

    Neste sentindo, o grande desafio para o setor metalrgico, saber como identificar os desperdcios na logstica e criar uma sinergia entre as empresas da regio de Joinville, com foco na busca da melhor eficincia dos processos logsticos.

    Quadro 3: Anlise dos sete desperdcios

    Sete Desperdcios

    Problema Valor

    SuperproduoAtividades executadas alm da

    necessidade.

    Altos custos com estoques

    desnecessrios e risco de

    perdas dos estoques, etc.

    Transporte

    M utilizao da capacidade dos

    veculos, falta de planejamento das

    rotas etc.

    Altos custos com fretes.

    Estoque

    Baixa acurrcidade da previso, gera

    desbalanceamento dos estoques, baixo

    giro dos estoques etc.

    Altos custos com estoques

    desnecessrios e risco de

    perdas dos estoques, etc.

    EsperaVeculos aguardando carga e descarga,

    parada de linhas de produo etc.

    Impacto nos custos de fretes,

    custos transformao de

    produtos, etc.

    ProcessamentoComplexidade na preparao do pedido

    e faturamento, etc.

    Impacto nos custos de fretes,

    custos transformao de

    produtos, etc.

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    2.

    Movimento

    O Fluxo de materiais e produtos

    acabado confuso na entrada,

    internamente e sada das fbricas at a

    estocagem no armazm.

    Impacto nos custos de fretes,

    custos transformao de

    produtos, etc.

    DefeitosAvarias nos produtos, devido o excesso

    de movimentaes.Impacto no custo logstico.

    Fonte: Do autor (2012)

    A visibilidade que os sete desperdcios apresentados no quadro 3 trazem para as organizaes estratgica e pode ser uma oportunidade de rever o papel da logstica dentro do setor metalrgico, pois permite que ela se reorganize e busque um diferencial competitivo. A busca pelo diferencial competitivo comea pelo alinhamento entre os objetivos estratgicos e o foco na identificao das oportunidades de melhoria.

    Neste contexto a incluso da filosofia lean na logstica crucial e determinante, pois a utilizao de tcnicas como o MFV, Heijunka, kaizen entre outras, provoca um repensar constantes dos processos logsticos e promove a melhoria contnua.

    5.1 Mapeamento da logstica com a incluso da fislosofia lean

    O processo de mudana da logstica com a incluso das tcnicas lean inicia com o mapeamento dos processos do estado atual e estado futuro. Atravs do mapeamento do estado atual as empresas do setor metalrgico iro visualizar os desperdcios e as oportunidades de melhoria, o prximo passo desenhar o mapa do estado futuro. Uma das tcnicas lean utilizadas para desenhar estes mapas o kaizen. A vantagem de se utilizar o kaizen o foco e a escolha das pessoas chaves de cada rea envolvida.

    Neste contexto a logstica lean visa as atividades que aditam valor e no agregao de valor para traar um plano de ao que favoream a organizao. A falta de conhecimento dos fluxos logsticos internos e externos outro problema que o mapa do estado atual soluciona.

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    2. Figura 2: Mapa de fluxo de valor do estado atual da rea de logstica de movimentao de produtos acabados entre os armazns de distribuio

    Fonte: Do autor (2012)

    No exemplo do mapa de fluxo de valor (MFV) do estado atual que foi ilustrado atravs da figura 2, pode-se, perceber como o processo funciona e que numa viso tradicional no seria possvel enxergar o fluxo como um todo. Tambm observa-se como o excesso de estoque entre estas atividades, as constantes esperas, as movimentaes desnecessrias e as superprodues, podem aumentar os custos logsticos.

    No processo de elaborao do MFV do estado futuro, deve ser sustentado pelo MFV do estado atual para evitar que os desperdcios identificados permanecem no MFV do estado futuro. Outro segredo para o sucesso para esta atividade utilizar as tcnicas lean na construo do MFV do estado futuro, dentre elas as mais recomendas so, heijunka, kanban, nivelamento e balanceamento da produo, sistema puxado de produtos acabados, eliminando estoque em vrios pontos do fluxo, tambm foi utilizado FIFO, padronizao, definio de rotas de movimentao, layout produtivo e supermercado. A figura 3 um exemplo ilustrativo que serve como orientao no processo de construo do MFV do estado futuro.

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    2. Figura 3: Mapa de fluxo de valor do estado futuro da rea de logstica de movimentao de produtos acabados entre os armazns de distribuio

    Fonte: Do autor (2012)

    A construo de mapas como estes, pode ajudar as organizaes do setor metalrgico de Joinville a conhecer a sua logstica e facilitar na construo dos planos de aes para as melhorias necessrias para torn-las competitivas.

    6 CONCLUSES

    No levantamento bibliogrfico realizado, observou-se que ainda difcil definir o conceito de logstica lean. Alguns autores listam alguns modelos a serem aplicados na implantao da logstica lean e que podem vir a ser o conceito, outros apenas mencionam alguns estgios de preparao para a implantao da filosofia lean na logstica, outros citam a filosofia lean , porm com enfoque na adaptao da Manufatura Enxuta.

    Por outro lado, na anlise do setor metalrgico de Joinville, foi constatadas oportunidades de melhoria e que implantao filosofia lean na logstica, promove uma reduo nos custos logsticos atravs da reduo dos desperdcios e das atividades que no agreguem valor. Neste contexto, a incluso das tcnicas lean nos processos logsticos permitir as organizaes deste setor oportunizar conhecimento, padronizao e repasse informaes aos geradores de desperdcios.

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    2. Conclui-se que, mesmo com o conceito de logstica lean ainda em construo, o setor metalrgico de Joinville pode aplicar as tcnicas j testadas e pesquisadas nas melhorias dos processos logsticos e na eliminao dos seus desperdcios com foco na reduo das atividades que no agreguem valor.

    A logstica lean envolve a reduo de desperdcios por todos os processos logsticos, seu foco est concentrado nas atividades que agregam valor aos clientes internos e externos, e a sua sustentabilidade depende da estratgia de busca pela melhoria contnua e pela competitividade. Portanto, no existem processos logsticos sem desperdcios (estoques, movimentaes, etc.), neste sentido o conceito de logstica lean deve focar nas interfaces que possuem caractersticas baseadas na necessidade de melhoria contnua.

    LEAN LOGISTICS AS COMPETITIVE DIFFERENTIAL FOR METALLURGICAL INDUSTRY

    ABSTRACT

    The objective of this article was to do a theoretical review about Lean logistics and analyze the impacts that this philosophy can produce on logistics when applied in the metallurgical sector of the city of Joinville. The research methodology is characterized as basic in nature in relation to the addressed issue. As for his technical procedures, classifies itself as a bibliographic review, because considered data and findings coming directly from works already done on the researched subject. From the viewpoint of the objectives, it is classified as exploratory and descriptive. As for the results obtained in this work, the article illustrate the proposed concept of Lean logistics focusing on customer service and visibility of wastes that exist in the logistics of the metallurgic sector and that offers a guidance to the pursuit of overall efficiency. This study allowed identifying opportunities for improvement that the logistics can obtain through the use of the Lean philosophy and showed that the metallurgical sector can benefit from the use of Lean tools.

    Keywords: Continuous improvement. Logistics. Lean philosophy.

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    SOBRE O AUTOR

    Flvio Belli

    Graduado em Administrao de Empresas pela Universidade da Regio de Joinville UNIVILLE. Especialista em Logstica Empresarial pela UNIFAE. Experincia como docente universitrio das disciplinas de Logstica de Suprimentos, Logstica de Transporte, Gesto de Projetos Industriais, Gesto da Produo, Gesto de Pessoas, entre outras. Atua na rea de planejamento da Tigre S.A Tubos e Conexes, onde desenvolve o projeto do Lean Management.