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  • INDISCIPLINA NA SALA DE AULA: ALGUMAS REFLEXES Tereza Sanchez Benette1

    Leila Pessa Da Costa2

    RESUMO O presente artigo visa apresentar algumas reflexes acerca da indisciplina em sala de aula, a partir da implementao do Projeto de Interveno na escola, que props uma observao e analise de como se processam as relaes interpessoais na sala de aula. Abordar a postura do educador no enfrentamento do problema, enfocando a organizao do trabalho coletivo como elemento norteador desse processo. Defendemos no texto que o fato de pensar coletivamente o problema possa ser um caminho no s para o enfrentamento deste desafio, mas que possa contribuir significativamente para com os professores no sentido de buscar possveis mudanas na forma de pensar e agir em sua prtica pedaggica. Acreditamos que este estudo possibilita a reflexo por parte dos professores sobre as prticas desenvolvidas na escola, proporcionando caminhos favorveis transformao dessas relaes a partir de um novo olhar para a questo da indisciplina que vem desafiando os profissionais nas escolas no atual contexto. Palavras-Chave: Indisciplina, Trabalho Coletivo, Relaes interpessoais, relao professor-aluno.

    ABSTRACT This article presents some reflections on the discipline in the classroom, from the implementation of the Intervention Project at the school, who proposed an observation and analysis of how to process the inter-personal relations in the classroom. It will address the attitude of the teacher in addressing the problem, focusing on the organization of collective work as a guiding this process. We defend the idea that the fact that collectively think the problem may be not only a way to cope with this challenge, but can contribute significantly to the teachers to look for possible changes in the way of thinking and acting in their teaching. We believe that this study allows for reflection by teachers about the practices of the school, providing favorable pathways for processing these relationships from a new perspective to the issue of indiscipline that is challenging the professional schools in the current context. Keywords: Disruptive behavior, collective work, interpersonal relations, teacher-student relationship.

    1 Professora Pedagoga PDE/2008

    2 Orientadora - UEM

  • 2

    1 INTRODUO

    Este artigo tem por objetivo refletir sobre os resultados da Implementao

    do Projeto de Interveno Pedaggica realizado na Escola Estadual Moreira Salles

    Ensino Fundamental. Tal atividade faz parte do Programa de Desenvolvimento

    Educacional PDE - ofertado pelo Governo do Paran aos Professores do Quadro

    Prprio da rede.

    O tema escolhido para estudo versa sobre a Indisciplina na sala de aula:

    possibilidades de intervenes. A escolha do assunto partiu da observao do

    cotidiano escolar e das inmeras queixas dos profissionais da escola sobre a

    necessidade de estudar o problema, a fim de buscar conhecimentos e possveis

    intervenes para a efetivao do ensino e da aprendizagem. Diante disso,

    desenvolveu-se uma pesquisa-ao3 com o intuito de compreender a indisciplina e

    suas diferentes dimenses, refletir sobre as relaes interpessoais na sala de aula e

    na escola e sobre a importncia do trabalho coletivo para a organizao da prtica

    pedaggica na sala de aula e na escola. Assim, foram acompanhadas duas turmas

    da Escola Estadual Moreira Sales - Ensino Fundamental: uma de 5 e outra de 6

    srie do perodo da manh.

    A indisciplina um das maiores dificuldades enfrentadas pelos

    educadores para desenvolverem o trabalho pedaggico. De acordo com Parrat-

    Dayan (2008, p. 21), os conflitos em sala de aula caracterizam-se pelo

    descumprimento de ordens e pela falta de limites como, por exemplo: falar durante

    as aulas o tempo todo, no levar material necessrio, ficar em p, interromper o

    professor, gritar, andar pela sala, jogar papeizinhos nos colegas e no professor,

    dentre outras atitudes que impedem os docentes de ministrar aulas mais qualidade.

    Diante desta constatao, percebe-se a necessidade de um maior

    engajamento por parte da escola em busca de alternativas de intervenes para o

    enfrentamento de conflitos na sala de aula. Enfatiza-se que o trabalho coletivo o

    principal instrumento de viabilizao dessas aes. O dilogo, o estudo e a

    3 Pesquisa e ao: Busca ; investigao; exame e movimento; modo de atuar; resultado de uma fora; energia;

    batalha.

  • 3

    cooperao so os instrumentos que mediaro o caminho na busca por uma

    disciplina que considere o respeito como condio principal nas relaes existentes

    na escola.

    Conforme Parrat-Dayan (2008, p. 64), [...] mais eficaz se aproximar

    calmamente de um aluno e pedir para retomar seu trabalho que chamar a sua

    ateno em voz alta na frente de todos. [...]. A forma como se estabelece a relao

    professor-aluno a base para o enfrentamento dessas questes.

    Assim sendo, pretende-se atuar junto aos professores da escola, no

    sentido de promover reflexes para que eles se sintam co-responsveis no processo

    de enfrentamento da indisciplina e se assumam como principais agentes de

    transformao da realidade encontrada na escola. Dessa forma, enfatizamos que

    atravs de relaes interpessoais bem estruturadas possvel formular novas

    concepes, novas regras e provocar novas formas de pensar e agir que venham

    contribuir para transformaes no interior da escola e favorecer uma efetiva gesto

    democrtica e compartilhada.

    2 OS CONCEITOS DE INDISCIPLINA.

    Estudos tm evidenciado que o tema indisciplina se apresenta como um

    dos maiores obstculos que enfrentam as escolas na sociedade contempornea,

    provocando grande angstia nos professores que no sabem mais como lidar com a

    situao. Entretanto, para enfrentar o problema necessrio entender o que est

    acontecendo com a disciplina hoje na escola.

    certo que uma srie de fatores influencia, mas necessrio analisar que

    os inmeros determinantes que a influencia e determina (VASCONCELLOS, 1989,

    p. 25).

    Nesta escola, as principais reclamaes dos professores em relao

    indisciplina so: falta de limite dos alunos, desinteresse em fazer as atividades e

    desrespeito ao professor. Alguns professores apontam a indisciplina como a causa

  • 4

    do baixo rendimento do aluno em decorrncia da falta de imposio de limites por

    seus pais, por delegarem quase que exclusivamente escola a tarefa de educar que

    , primeiramente, funo das famlias.

    Podemos afirmar que, no atual contexto, a maioria das escolas enfrenta

    estes problemas, e que eles vm se desenvolvendo h anos, sofrendo alteraes

    atravs das mudanas histrico e scio-culturais. Os problemas de aprendizagem

    seriam ento, os resultados de problemas externos escola e que se manifestam no

    seu interior atravs da indisciplina. Para iniciar essa reflexo, vale destacar a

    definio de alguns autores quanto ao termo indisciplina. Isto o que segue.

    Indisciplina procedimento, ato ou dito contrrio disciplina;

    desobedincia, desordem, rebelio. (Dicionrio Aurlio).

    Para Parrat-Dayan (2008, p. 16). A indisciplina um problema srio, ela no tem

    forma e segue diferentes caminhos: falar, jogar papeizinhos, no estudar, no

    escutar etc.

    Segundo Aquino (1999), O conceito de indisciplina, como toda criao

    cultural, no esttico, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o

    conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da histria, entre as

    diferentes culturas e numa mesma sociedade.

    comum ainda no atual contexto alguns educadores trazerem para a

    realidade regras utilizadas h muito tempo oriundas de pedagogias tradicionais lugar

    onde o professor visto como o detentor do saber e aos alunos cabe somente ouvir

    e fazer o que est sendo transmitido e muitas dessas regras foram continuamente

    trazidas para a sala de aula e permanecem at hoje em nossas escolas

    De acordo com Oliveira (2005, p. 28), disciplina entendida, pelo senso

    comum, como a manuteno da ordem e obedincia s normas; a primeira significa

    a sua negao, ou seja, a quebra da ordem.

    Segundo Saviani (2005, p. 118), at mesmo a forma com que eram

    organizadas as carteiras em sala de aula, tinha a ver com esse autoritarismo onde o

  • 5

    poder centralizado no professor. So fixas e voltadas para um determinado ponto

    onde se encontra o professor (...) por isso uma sala silenciosa, de paredes

    opacas.

    Esta disciplina, muitas vezes imposta, causa certo saudosismo por parte

    de alguns professores que foram educados nesta pedagogia e vem ainda nisto

    uma forma de enfrentar os problemas encontrados em sala de aula, sem se dar

    conta de que a disciplina obtida atravs da coao tira do aluno o direito de

    participar nas tomadas de decises, e desenvolver-se como ser social impedindo-os

    de atuarem conscientemente na sociedade.

    2.1 CONTEXTUALIZANDO A INDISCIPLINA NO CONTEXTO ESCOLAR

    As reformas educacionais realizadas nos anos 90 atuaram fortemente

    sobre o trabalho pedaggico, sugerindo novas formas de ensinar, novos mtodos e

    instrumentos de trabalho. Os reflexos dessas mudanas interferiram tambm sobre o

    comportamento dos alunos e da comunidade escolar como um todo, pois a escola

    est inserida no tempo histrico-social da sociedade capitalista que a condiciona e

    determina. NAGEL, (1985, p. 3) assevera que a educao sempre atendeu aos

    preceitos da classe dominante e est totalmente ligada viso que os homens tm

    sobre a sociedade, o trabalho e os prprios homens. A autora ainda afirma que a

    sociedade expressa o momento especfico vivido pela humanidade e nos relata de

    forma sucinta a organizao social de cada perodo da histria humana.

    NAGEL (1985) tambm explica que a educao serve para atender a

    sociedade predominante e que est totalmente ligada viso que os homens tm

    sobre sociedade, trabalho e sobre os prprios homens. A mesma autora afirma que

    em determinados momentos histricos, a sociedade expressa o momento especfico

    vivido pela humanidade. A autora faz esta anlise de acordo com os perodos

    clssicos da histria humana: idade antiga, mdia, moderna e contempornea.

    Quadro da sntese apresentada pela autora

    Perodo Caractersticas Organizao Concepo de

  • 6

    Social Homem

    Idade Antiga

    A desigualdade objetivada pela escravido, era vivida serenamente entre os homens da sociedade grega. Alguns haviam nascido para pensar, para serem racionais e outros para trabalhar e servir.

    A sociedade estava organizada, de forma que a desigualdade social era considerada normal. Alguns nasciam predestinados a serem escravos, enquanto outros nasciam apenas para pensar e usufruir do seu trabalho braal.

    Cada sujeito nascia com a predestinao de ser escravo, arteso ou cidado; este ltimo, com direito absoluto ao cio. O direito ao cio, o direito ao tempo total para dedicar a pensar, argumentar e discursar.

    Idade Mdia

    O conhecimento religioso considerado indispensvel para o homem onde o conhecimento e o reconhecimento das Leis Divinas era considerado o suficiente para o homem agir na terra em consonncia com seu criador.

    Essa valorizao atingia tal nvel que na Idade Mdia so fundadas as primeiras universidades por telogos e sacerdotes onde os assuntos estudados s podiam ser religiosos.

    O homem considerado um animal racional porque tem uma alma que a que lhe faz diferente de todos os outros seres do mundo. Assim, exige-se que todo empenho educativo seja dirigido ao aprimoramento espiritual.

    Idade Moderna

    O trabalho constante e cada vez mais aperfeioado proporcionou novas descobertas e o trabalho humano comea a ser valorizado como fonte de riqueza para melhorar as condies de vida das pessoas.

    Se algum atravs do trabalho produzisse mais do que o necessrio, poderia ento, vender o excedente. Nesse momento, as provises que servem para o sustento da vida humana s tendem a crescer.

    A idia de igualdade

    entre os homens

    toma corpo. Comea-

    se a pensar que o

    trabalho do corpo e

    das mos das

    pessoas

    propriedade de quem

    o realizou.

    Idade

    Contempornea

    Na sociedade contempornea o homem tem como caracterstica sua preocupao voltadas para seus desejos e necessidades imediatas, e isto acontece pela influencia das mdias e da globalizao.

    Na viso contempornea o homem conseguiu produzir para alm de suas necessidades imediatas. Efetivou a grande produo de massa.

    O homem apareceu como um animal racional que trabalha e tem sucesso. Mas esse homem, se conseguiu dominar a natureza, no realizou a prometida igualdade entre os homens

    Nesta perspectiva, torna-se necessrio a compreenso da dinmica social

    pelos docentes, para encaminhar a prtica pedaggica, que uma atividade poltica

  • 7

    que exige reflexo crtica e tomada de deciso, e, sobretudo, porque educar exige

    conhecer a realidade e a ideologia dominante.

    Libneo (2004, p.46-47) corrobora com Nagel e acrescenta que as

    mudanas na economia sob o novo paradigma produtivo, baseado nas novas

    tecnologias e no capitalismo financeiro que segue a lgica da subordinao da

    sociedade s leis do mercado, visando o lucro, eficincia, produtividade e

    competitividade tm trazido consequncias funestas s polticas sociais dos pases e

    gera maior empobrecimento da populao.

    Frigotto (2001, p.24) enfatiza que chegamos ao final do sculo XX com

    brutais contradies e violncias do capital em escala global, e o que se sobressai

    o domnio quase absoluto do pensamento e das teorias conservadoras que tentam

    convencer que o capitalismo eterno e que impe a ditadura da razo nica a

    razo do capital.

    Libneo (2004, p.46-47) ainda nos chama a ateno para as mudanas no

    aspecto individual. As pessoas so estimuladas a se preparar para competir, por si

    mesmas, no mercado de trabalho e gerar seus prprios meios de vida. Neste

    sentido, perde-se o sentido da coletividade, das trocas, de vnculos afetivos

    duradouros e da cooperao mtua. Passa-se a idia de que o prazer est nos bens

    materiais e no no companheirismo, na convivncia, no dilogo e na solidariedade.

    Nesse contexto globalizado, as mudanas proporcionadas pela economia,

    sob a gide do capital permeada pelas novas mdias e tecnologias, invadem o

    cotidiano das pessoas, aceleram e aprofundam a excluso social e lana novas

    questes para a pedagogia. Essas transformaes tecnolgicas e cientificas leva-

    nos a compreender que so necessrios novos sistemas de organizao do

    trabalho, principalmente no trabalho pedaggico, para atender s exigncias da

    sociedade atual.

    Sendo assim, analisa-se a indisciplina em sala de aula sob o olhar da

    sociedade do capital, visto que a escola no est alheia aos determinantes sociais

    que desencadeiam problemas na escola. Embora se saiba que no cabe escola

  • 8

    resolver tais determinantes, ela convive com as contradies que dificulta o

    desenvolvimento da prtica pedaggica.

    No entanto, h possibilidades de interveno no interior da escola que

    pode amenizar os conflitos existentes e melhorar a qualidade do ensino e da

    aprendizagem. Neste sentido, escolhemos alguns temas que consideramos

    essenciais para o desenvolvimento de uma prtica pedaggica consciente que

    busque a emancipao do aluno como sujeito histrico.

    2.2 O CONTEXTO FAMILIAR E A INDISCIPLINA.

    Acreditamos que freqentar uma Instituio Escolar deva significar a

    evoluo e o progresso do ser humano. Mas acreditamos tambm que esse

    progresso obtido no s na escola, mas na famlia e na sociedade, e que a escola

    como muitos acreditam, no a nica instituio a desempenhar tal tarefa

    (SERRO; BALEEIRO, 1999, p. 23).

    Segundo Nunes (2008, p. 1), a famlia constitui o bero do processo de

    ensino e aprendizagem de todo ser humano e nele o aprendiz est sujeito a ser

    influenciado decisivamente de forma positiva ou negativa. A escola frequentada

    por aqueles que tiveram uma boa formao na famlia, como tambm por pessoas

    que tiveram experincias negativas, gerando assim uma grande diversidade de

    alunos na sala de aula.

    Contudo, a escola no est preparada para lidar com esse universo de

    alunos advindos de famlias que tem sob sua responsabilidade, outros encargos

    tambm importantes: a grande maioria dos pais passarem o dia todo trabalhando na

    luta pela sobrevivncia e o pouco tempo que se tem em casa junto famlia

    utilizado pelos programas de televiso que impedem a comunicao entre os

    membros, prejudicando o bom relacionamento da famlia.

    Conforme nos aponta Vasconcellos (1989, p. 23):

  • 9

    No cotidiano das famlias hoje, sabemos que um dos grandes entraves para o dilogo o vcio televisivo: simplesmente por comodismo, alienao e/ou medo se deixam levar pelos programas de televiso, um aps outro de forma que podemos observar famlias inteiras que passam horas em frente a televiso quase que sem trocar palavras significativas.

    possvel que a famlia possa colaborar para a conteno da indisciplina

    na escola, mas para que isto acontea, e preciso que seja resgatada a prtica do

    dilogo no ambiente familiar, a prtica de participao efetiva dos pais na vida

    escolar dos filhos, indo s reunies escolares procurando saber da vida dos filhos,

    suas angstias, seus temores, suas conquistas, bem como suas expectativas e

    possibilidades de realizao com relao ao futuro. fundamental que os pais

    sejam capazes de impor limites, ajudando seus filhos a terem postura crtica diante

    dos meios de comunicao que despertam o consumismo, a sexualidade e etc. Aqui

    podemos retomar Vasconcellos, (1989, p. 122, 123):

    Ajudar os filhos a pensar sobre o sentido da vida: viver para que? Para ser esperto, levar vantagem em tudo? Para ser rico, para subir na vida a qualquer custo? Sem uma perspectiva, sem um conjunto de valores, sem um projeto de vida? Corre-se o risco de cair no vale tudo: oportunismo, violncia, drogas e suicdio. Para muito pais a opo que se coloca diante dos filhos a seguinte: ou o filho vais ser brilhante, o melhor, o primeiro, o mais esperto para conseguir se dar bem na vida, ou ser um perdedor, um Z ningum, um eterno subalterno, desqualificado, explorado pelos outros, etc.

    Esta uma realidade que exige reflexo sobre como alter-la, visto que

    nenhum pais capaz de desejar que seu filho seja um fracassado, mas com

    freqncia, no sabe como lidar com a situao caindo entre os dois extremos: o

    autoritarismo e a permissividade.

    Mousquer (2005) enfatiza que, nesta reflexo, importante compreender

    que a concepo de famlia atual, no pode ser vista como a mesma de antigamente

    devido s mudanas em todo o contexto histrico e social.

    Silva (2008) afirma que a famlia e a escola, so duas instituies

    diretamente ligadas ao ser humano em desenvolvimento, por isso carece interferir

    de maneira positiva, buscando pontos fundamentais que se efetive este ser de

    maneira saudvel na sociedade presente.

  • 10

    Diante desse contexto, para que se consiga entender as novas

    estruturas familiares na sociedade atual, necessrio se faz observar as

    transformaes sofridas por essa instituio social ao longo dos tempos.

    Alm das dificuldades scio-econmicas e culturais, existem os problemas

    de alcoolismo, o divrcio, as drogas, a violncia domstica, a permissividade sem

    limite e, consequentemente, a desestrutura familiar que interfere negativamente no

    desempenho do aluno em sala de aula (Parrat-Dayan, 2008).

    Neste sentido concordamos com Vasconcellos (1989), quando descreve

    que o grande foco da crtica e da atribuio de responsabilidades pelos problemas

    de indisciplina na escola o aluno e, em particular, sua famlia. De fato percebemos

    muitas famlias desestruturadas, desorientadas, com hierarquia de valores invertida

    em relao escola, transferindo responsabilidades suas para a escola, etc.

    Diante desse contexto, para que se consiga entender as novas estruturas

    familiares na sociedade atual, necessrio se faz observar as transformaes sofridas

    por essa instituio social.

    Todavia, independentemente do tipo de estrutura familiar constituda, a

    famlia est inserida em um contexto sociocultural e apresenta vnculos afetivos

    entre seus componentes, referncias prprias e crenas que resultam em uma

    espcie de cultura familiar prpria.

    Segundo Aquino (1999), do ponto de vista emprico, os alunos carregam

    saberes anteriores adquiridos no seio de sua famlia, do meio em que vivem que se

    chocam com os saberes docentes. Ainda preciso lembrar que os projetos de

    realizao pessoal dos alunos no se justapem ou no se resumem

    automaticamente aos projetos docentes. E a que a relao encontra seu principal

    obstculo: a incongruncia das demandas de cada um.

    Assim sendo, sabemos que a melhoria dessas relaes uma via de mo

    dupla e, considerando sua especificidade educativa deve partir preferencialmente da

    escola, contemplando no apenas os problemas da escola como tambm conhecer

  • 11

    a realidade dos alunos e suas famlias sem descaracterizar o papel de cada um.

    (STEMBERG, 2007, p. 10).

    2.3 COMO SE SENTEM OS PROFESSORES DIANTE DA INDISCIPLINA

    muito comum diante dos problemas de indisciplina encontrar

    professores desesperados mediante a dificuldade em ministrar suas aulas de

    maneira adequada, dizer que a escola no tem mais jeito e que j no acreditam

    mais na possibilidade de mudana na educao.

    No entanto, Programa de Desenvolvimento Educacional PDE, propiciou

    um vivel e progressivo avano nesta questo com o afastamento dos educadores

    para estudos em tempo integral viabilizando e promovendo a Formao Continuada,

    no qual atravs do Professor PDE tornou-se possvel uma reflexo coletiva sobre a

    indisciplina no contexto escolar, possibilitando um novo olhar para esta realidade.,

    diagnosticando as reais necessidades da escola,.

    Serro e Baleeiro (1999) afirmam que a educao uma chave que abre

    a possibilidade de transformar o homem annimo naquele que sabe que pode

    escolher, que sujeito participante de sua reflexo, da reflexo do mundo e da sua

    prpria histria, assumindo a responsabilidade dos seus atos e das mudanas que

    se fizerem acontecer.

    Diante deste contexto, precisamos nos organizar para que haja mudana

    neste cenrio. Essas mudanas s acontecero se houver uma reviso nas

    estruturas da escola, enfatizando o trabalho coletivo como elemento norteador deste

    processo para a transformao desta realidade. preciso viabilizar novas formas de

    convivncia no ambiente escolar, possibilitando a transformao deste quadro que

    tanto angustia os educadores no atual contexto.

    Vasconcellos (1989) salienta ainda, que, para que haja um ensino

    transformador, preciso competncia profissional e coragem para rever as

    propostas de trabalho no interior da escola, onde apesar dos problemas enfrentados

  • 12

    que no so poucos, o educador compreenda que ele ainda o principal agente de

    sua transformao, junto aos seus pares e todos os envolvidos no processo.

    E acrescenta que imprescindvel compreender a necessidade de investir

    nas relaes que se processam no interior das escolas e na sala de aula para que

    possamos superar os obstculos. preciso que haja colaborao entre professor e

    aluno para que a sala de aula seja um lugar de encontro de saberes ao mesmo

    tempo de (re) construo do conhecimento numa relao de respeito entre as

    partes.

    Conforme Parrat-Dayan (2008, p. 64), [...] mais eficaz se aproximar

    calmamente de um aluno e pedir para retomar seu trabalho que chamar a sua

    ateno em voz alta na frente de todos. [...]. A forma como se estabelece a relao

    professor-aluno a base para o enfrentamento dessas questes.

    2.4 INVESTIGANDO A INDISCIPLINA NO CONTEXTO ESCOLAR

    Aps a aplicao dos questionrios aos docentes e discentes, observao

    do cotidiano da sala de aula, das reflexes realizadas no Grupo de Implementao

    do Projeto de interveno pedaggica na escola (2008/2009), foi possvel

    diagnosticar que a indisciplina uma das maiores dificuldades pelas quais o

    professor enfrenta para efetivao do processo de ensino e aprendizagem no atual

    contexto.

    Pelo fato de a escola ter um nmero muito grande de alunos, optou-se por

    trabalhar a pesquisa por amostragem para facilitar o trabalho com os dados. A

    amostragem aconteceu com duas turmas de alunos, 5 srie D e 6 srie C, por

    serem estas turmas consideradas as mais indisciplinadas do perodo matutino. O

    questionrio foi aplicado para os alunos e professores das respectivas turmas. A

    pesquisa foi feita com a finalidade de verificar as diferentes formas de conceituar a

    indisciplina entre os alunos e professores sobre o tema abordado.

  • 13

    No incio de 2008 foi realizada a investigao entre professores e alunos

    atravs de questionrio aplicados para averiguar os problemas comportamentais

    dos alunos sob os dois ngulos: do ponto de vista dos professores e do ponto de

    vista dos alunos. Houve divergncias de opinio entre os entrevistados ao

    conceituarem indisciplina e suas causas, o que tem provocado uma reflexo mais

    ampla sobre a prtica pedaggica dos educadores e de como se processam as

    relaes interpessoais no interior da sala de aula.

    Atravs da implementao do projeto de interveno na escola foram

    promovidos momentos de discusses e reflexes coletivas sobre os inmeros

    problemas de indisciplina por parte dos alunos, como agresses fsicas e verbais,

    desrespeito aos colegas e aos professores, falta de interesse pelos estudos etc. Ao

    questionar os docentes sobre a indisciplina em sala de aula, os mesmos foram

    unnimes em responder que falta limite por parte da famlia, que as famlias esto

    desestruturadas, que os alunos esto muito desinteressados e que os pais esto

    delegando toda a responsabilidade de educar para a escola.

    Quanto as respostas dos alunos foi possvel perceber que realmente

    existe pouco incentivo por parte das famlias quanto aos estudos devido aos

    mesmos viverem muito distantes dos pais porque saem de madrugada para

    trabalhar deixando os filhos a prpria sorte. Muitas vezes os mais velhos cuidando

    dos irmos menores. Muitos pais trabalham de bias frias, cortadores de cana, e

    muitas mes trabalham como domsticas.

    Dessa forma, para realizar a interveno, primeiro foi preciso uma

    aproximao com os alunos, estabelecendo vnculos atravs do dilogo sobre os

    problemas de indisciplina na sala de aula e explicando suas consequncias para o

    processo de ensino e aprendizagem juntamente aos alunos e as professoras

    envolvidas. Nesse aspecto, optamos por trabalhar juntamente a esses atores

    mediatizando s relaes inter-pessoais em sala de aula de forma consensual.

    Foram realizadas algumas observaes em sala de aula, em horrios e dias

    diferentes e em diferentes disciplinas.

  • 14

    No primeiro dia, foi apresentado Projeto de Interveno na escola,

    conversando informalmente sobre os problemas de indisciplina na sala de aula, bem

    como suas causas e consequncias. A recepo por parte dos alunos no foi muito

    agradvel, porque pareciam querer mostrar que realmente seria impossvel qualquer

    tentativa de mudana de comportamentos e que eram assim mesmo colocando a

    prova a proposta de trabalho.

    Atravs deste trabalho foi possvel perceber que existe uma quantidade

    expressiva de professores que se mostram preocupados em buscar conhecimento

    para melhorar sua atuao, alegando muitas vezes que as universidades no

    preparam adequadamente para atender a demanda da sociedade contempornea.

    Assim, os professores sentem-se despreparados para lidar com estas situaes

    comportamentais e na maioria das vezes, esses conflitos acabam tomando parte do

    tempo que seria disponibilizado para o trabalho com os contedos para a efetivao

    do processo ensino e aprendizagem.

    Observou-se nestas respostas que os alunos necessitam de compreenso

    dos professores e que o dialogo fundamental para que haja respeito entre as

    partes para que os mesmos, professor e aluno se sintam respeitados e assim cada

    um possa desempenhar melhor sua tarefa. Por outro lado, os professores clamam

    por limites, respeito, educao para ministrar suas aulas. At mesmo os alunos ao

    serem questionados respondem que consideram justas as regras e normas da

    escola em que estudam. A maioria dos alunos acredita que a escola tem que ter

    regras, para que no haja brigas e ajude os alunos a serem mais comprometidos,

    que estas regras so importantes e que no possvel estudar numa escola sem

    regras.

    Ao perguntar aos alunos como os professores deveriam agir para que

    houvesse mais aprendizado, grande parte dos alunos respondeu que os professores

    devem ter pacincia ao serem questionados, que saibam dialogar e ouvir os alunos,

    que no gritem e que ouam quando os mesmos forem expor suas opinies e

    dvidas.

    Os problemas relacionados indisciplina trazidos pelas professoras

    regentes no questionrio inicial enfocavam alguns comportamentos de indisciplina

  • 15

    apresentados pelos alunos e demonstrava suas dificuldades em lidar com os

    mesmos, apontando as conversas paralelas entre os alunos; as agresses fsicas e

    verbais, os movimentos pela sala como principais problemas de indisciplina na sala

    de aula.

    Atravs destes questionamentos, pudemos observar que ambos,

    professor e alunos pedem compreenso e dilogo. Assim sendo, a relao entre o

    professor e o aluno precisa ser reorganizada, de forma que haja melhor

    entendimento e conseqentemente, maior desempenho por parte do aluno na

    aprendizagem. Observa-se que o professor reclama do aluno e o aluno reclama do

    professor. Logo, necessrio que cada um conhea a sua verdadeira funo para

    desempenh-la adequadamente. A partir das discusses sobre as regras e normas

    envolvendo o coletivo da escola, elaborou-se uma proposta de trabalho onde os

    professores juntamente com os alunos por turma fariam os acordos necessrios

    para a convivncia pacfica em sala de aula enfatizando a importncia do papel de

    cada segmento.

    Ao questionar os alunos quanto importncia da escola, a maioria

    respondeu que a escola representa um futuro melhor, emprego bom, ser pessoas de

    bem e de carter, para ter educao e principalmente lugar onde se obtm

    conhecimento para melhor viver em sociedade.

    Neste contexto foi questionado aos professores se a escola vem

    cumprindo a sua funo social enquanto instrumento de promoo da autonomia do

    educando, principalmente dos alunos das camadas populares. As respostas da

    maioria dos professores foram centradas nos problemas dos alunos que vm para a

    escola, desprovidos de limites, educao, respeito e interesse, ou na famlia que no

    cumpre a sua funo delegando para a escola toda a tarefa de educar.

    Acrescentam ainda que devido s suas condies scio-econmicas,

    poucos tm acesso aos recursos tecnolgicos que ajudam a promover o processo

    de ensino-aprendizagem, como livros, computadores, internet, revistas, jornais,

    filmes. Esta situao faz com os mesmos desinteressem pelos estudos tornando-os

    incapazes de participar e questionar criticamente.

  • 16

    Entendemos que para o enfrentamento de tal problema o principal

    instrumento o trabalho coletivo, enfatizando a gesto democrtica, promovendo a

    efetiva participao de todos na construo do Projeto Poltico Pedaggico. Assim

    sendo, tornou-se necessrio ampliar o debate sobre o assunto junto aos demais

    profissionais da escola buscando alternativas que possibilidades tomadas de

    decises sobre os rumos que a escola deve tomar para que haja mudana neste

    cenrio.

    3 APRESENTAO DOS RESULTADOS

    Diante da complexidade do tema abordado neste trabalho, na perspectiva

    de contribuir para que essas relaes fossem um pouco mais discutidas entre todos

    os envolvidos no processo educativo, que se props o trabalho coletivo como eixo

    norteador do processo para que desencadeassem aes prticas que trouxessem

    contribuies efetivas para os desdobramentos das aes.

    Considera-se que a escolarizao formal tem papel importante no

    processo de constituio dos sujeitos e do modo como estabelecem relaes tanto

    com os outros quanto consigo mesmo. As conversas excessivas dos alunos durante

    as aulas foram trabalhadas na interveno como forma de mobilizar os alunos para

    a aquisio de comportamentos adequados, utilizando para isso instrumentos

    diversificados: vdeos, trabalhando a auto-estima como tambm valores necessrios

    para o bom convvio social.

    Com o objetivo de promover a participao de todos os atores da escola

    envolvidos no processo e de proporcionar momentos de reflexo acerca das

    relaes interpessoais, professor/aluno e aluno/aluno e dar oportunidade aos

    professores e alunos refletirem o seu papel, no ano de 2009 aconteceram na Escola

    Estadual Moreira Salles Ensino Fundamental, do Municpio de Moreira Sales/PR,

    encontros de grupos de estudos com professores, gestores e funcionrios.

    Um dos grandes alvos nesse trabalho foi em relao a indisciplina,

    conversas paralelas em voz alta, desrespeito ao professor jogando papeizinhos uns

  • 17

    nos outros e agredindo verbalmente os colegas na sala de aula. Ao propor os

    encontros a inteno foi de aproximar professores e alunos, retomando o objetivo da

    escola: fazer com que todas as crianas e adolescentes possam desenvolver a

    capacidade critica reflexiva para assimilar os contedos definidos na proposta

    pedaggica da escola e tenham sucesso nos estudos e que principalmente tenham

    condies de exercer sua cidadania.

    Finalmente chegou o momento de compartilhar a experincia, onde todos

    os participantes foram convidados a falar sobre como percebiam a situao

    vivenciada. Uma das professoras listadas nas respostas do questionrio dos alunos

    como muito brava, reconheceu que era necessrio refletir sobre a prtica,

    buscando dialogar com os alunos, procurando conhecer a realidade dos mesmos.

    Acreditava que atravs da mudana de postura fosse possvel promover um

    ambiente mais agradvel em sala de aula mudando sua forma de se relacionar com

    eles. A professora destacou que os resultados do questionrio lhe serviram de

    parmetro para refletir como se processava as relaes interpessoais em sala de

    aula onde atravs da mudana de postura foi possvel trabalhar naquela turma sem

    maiores problemas.

    Alguns dias depois, numa conversa com os alunos de uma das turmas

    contempladas com a interveno foi possvel perceber que uma das professoras

    mais bravas do ponto de vista deles se tornou uma das preferidas pela turma. Os

    alunos ento reconheceram que realmente tinham dificuldade em conter a conversa,

    mas tambm disseram que houve mudana dos professores em relao a eles, ou

    seja, houve um movimento de re-significao da experincia em sala de aula a partir

    do respeito ao ponto de vista do outro.

    O depoimento de outra professora na reunio pedaggica do ms de julho

    teve a mesma dimenso do depoimento da professora acima citada. Esta professora

    disse que jamais vai se esquecer deste curso de implementao porque atravs dele

    foi possvel refletir sobre sua prtica e lanar um novo olhar para os alunos na sala

    de aula e disse que um aluno que j estava afastado da escola e foi resgatado

    atravs de visita a sua casa fez uma prova e quando viu o resultado deu um sorriso

    de alegria. A professora disse que jamais havia visto um sorriso naquela criana.

  • 18

    Este momento foi muito gratificante porque foi possvel visualizar os

    resultados do trabalho de implementao na escola, e que diante da complexidade

    do tema este seria um dos maiores desafios a ser superado em sala de aula. Isto

    aconteceu porque a professora acreditou na possibilidade de mudana em sua

    prtica pedaggica a partir do dilogo estabelecido pelos atores envolvidos no

    processo de ensino e aprendizagem alcanou alguns avanos em relao a

    indisciplina.

    Neste sentido, tornou-se necessrio a realizao de um trabalho de

    conscientizao que desse conta de, se no resolver, pelo menos minimizar o

    problema. Propomos ento, um processo dinmico de acompanhamento atravs de

    conversas informais individuais e coletivas, vdeos e mensagens, mobilizando os

    alunos para uma mudana de olhar, buscando reconhecer no outro, no s os

    defeitos, mas tambm o que ele tinha de positivo.

    Cada contexto ao comprometer-se com a educao poder encontrar

    alternativas diversas para o enfrentamento da indisciplina buscando conhecer

    melhor o contexto social em que os alunos esto inseridos construindo relaes

    fundamentadas no dilogo e no respeito mtuo. O trabalho voltado para o coletivo

    a base para novas intervenes que possam trazer resultados positivos.

    4 FUNA SOCIAL DA ESCOLA

    A escola alm de ser o lugar de adquirir conhecimento tambm o lugar

    que traz sempre o momento oportuno de se promover valores humanos nos alunos.

    Portanto, urge compreender a necessidade de refletir sobre a gesto que envolve o

    coletivo da escola e a sua influncia quanto s regras e normas estabelecidas na

    instituio escolar, bem como o seu papel na construo do Projeto Poltico-

    Pedaggico.

    importante compreender que cada escola uma realidade diferente, que

    envolve os seus atores, com problemas e dificuldades especficas a cada instituio

    cabendo a cada uma buscar em seu coletivo promover reflexes, analisando

  • 19

    criticamente cada situao, e assim buscar intervenes que possam amenizar os

    conflitos existenciais sem perder o foco que o ensino e aprendizagem.

    De acordo com CIAVATA (1992), a escola pblica deve oportunizar o

    acesso ao conhecimento crtico e reflexivo, ultrapassando o nvel do senso comum,

    possibilitando aos alunos a formao de uma conscincia mais democrtica, ou seja,

    menos competitiva e consumista propagada pela sociedade capitalista e que acaba

    por alienar o indivduo, ajustando-o aos interesses do mercado. Os contedos

    escolares a matria-prima da escola e devem estar bem definidos na sua proposta

    pedaggica.

    Braz (2008, p. 14) complementa que:

    [...] a escola, que a instituio encarregada de formar cidados crticos, participativos, que sejam capazes de compreender a ideologia do mercado e que busquem a transformao, necessita discutir as novas relaes sociais e de trabalho a fim de resgatar a sua importncia social e poltica enquanto apoio maioria da populao que representa a classe trabalhadora.

    Saviani (2005, p. 80) assegura que o povo precisa da escola para ter

    acesso ao saber erudito, ao saber sistematizado e, em consequncia, para

    expressar de forma elaborada os contedos da cultura popular que correspondem

    aos seus interesses.

    Conforme Oliveira (2005, p. 65), se o professor souber ouvir o aluno sobre

    suas dificuldades, pessoais ou escolares, j favorecer em muito o relacionamento e

    o clima de sala de aula. Porm, no se trata de atender as vontades dos alunos,

    mas de aproximar-se deles e conhecer suas dificuldades para melhor exercer seu

    papel de educador.

    Serro e Baleeiro (1999, p. 26) acrescenta que preciso estabelecer

    limites sem ser brusco, e de forma delicada fazer uso da palavra, dando

    oportunidade ao adolescente para se expressar, relembrando as regras de

    convivncia e mostrando as consequncias de sua ao.

  • 20

    Parrat-Dayan (2008) afirma que a misso da escola ensinar alguma

    coisa aos alunos e fazer todo o possvel para que tenham sucesso. Neste sentido,

    necessrio que haja respeito entre as partes onde o professor pea fundamental

    no momento em que consegue um bom relacionamento com seus educandos.

    A mesma autora aponta que se a indisciplina for estabelecida de forma

    autoritria, pelo medo que o aluno tem de ser castigado, ela se torna negativa

    porque em vez de fazer com que o aluno cresa e conquiste sua autonomia, apenas

    o infantiliza e o mantm dependente.

    Para tanto, Vasconcellos (1989, p. 73-74) assegura que importante que

    haja participao e comprometimento de todos os envolvidos no processo (pais,

    alunos, professores, equipe pedaggica, administrativa, etc.), na elaborao das

    normas disciplinares no mbito escolar, viabilizando um projeto de participao

    democrtica de forma consciente e interativa para que os problemas relacionados

    escola sejam discutidos em conjunto.

    Desta forma, importante considerar que a escola, assim como os grupos

    que dela participam e que constituem uma determinada sociedade, regulamentada

    por normas e regras de funcionamento e que estas regras devem ser respeitadas

    por todos os envolvidos no processo. O respeito autonomia e dignidade de cada

    um um imperativo tico e no um favor que podemos ou no conceber uns aos

    outros (FREIRE, 2008, p. 59).

    No tocante a isto, Freire, (2008, p. 39) nos aponta que pensando

    criticamente a prtica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a prxima prtica.

    Cabe ainda ressaltar a importncia de o professor realizar mediaes que

    promovam nos alunos a capacidade de assumir atitudes de forma autnoma o que

    pressupe alunos ativos, que participam de maneira intensiva e reflexiva das aulas

    (AQUINO, 2005,).

  • 21

    5 GTR- GRUPO DE TRABALHO EM REDE

    O GTR - Grupo de Trabalho em Rede que aconteceu de forma virtual com

    professores de vrios Municpios do Estado do Paran que distantes, mas que se

    aproximaram pelos mesmos objetivos de buscar alternativas para minimizar os

    problemas de indisciplina em sala de aula.

    Os participantes deste grupo trouxeram grande contribuio para a

    pesquisa e implementao dos encontros com os professores da escola atravs das

    atividades virtuais as quais ocorreram paralelamente implementao do Projeto de

    Interveno na escola. A partir das anlises realizadas pelos professores do GTR

    sobre o plano de trabalho elaborado no 1 perodo do PDE/2008, at a atividade de

    elaborao de uma proposta para minimizar os problemas relacionados

    indisciplina escolar, considerando contexto em que esto inseridos, seus anseios e

    dificuldades. Os professores virtualmente faziam as atividades, contribuindo

    grandemente para o trabalho em questo.

    Este momento foi muito importante porque tivemos professores que

    participavam dos grupos de estudos na escola e tambm participavam das

    atividades virtuais do GTR. Isto fortaleceu ainda mais o trabalho de implementao

    na escola pela riqueza na troca de experincia expressada entre os participantes.

    Entre os resultados positivos do GTR, o principal foi essa troca entre os professores

    de diversas realidades sobre o tema proposto, mas com problemas em comum,

    demonstrando os mesmos anseios e vislumbrando os mesmos encaminhamentos

    para superar o problema e as sugestes de aes. Desta forma, a proposta adquiriu

    consistncia, numa construo coletiva entre os professores da rede do Estado do

    Paran.

    Assim sendo, a contribuio do GTR foi extremamente significativa para a

    viabilidade da proposta para todos os participantes e principalmente para a escola

    contemplada com o projeto porque a partir da pudemos compartilhar os mesmos

    problemas e construir proposta significativas para a interveno e possibilidades de

    mudana deste cenrio.

  • 22

    CONSIDERAES FINAIS

    Conclumos que a maioria dos professores atribui os problemas de

    comportamento do aluno s dificuldades de relacionamento destes com colegas

    e/ou professores. No caso da interveno aqui relatada, as reclamaes

    apresentadas pelas professoras tambm aconteciam nesta mesma direo. Porm,

    alguns professores reconheciam sua prpria limitao e dificuldade em lidar com as

    situaes de indisciplina, o que possibilitou a constituio de momentos de reflexo

    sobre as relaes interpessoais em sala de aula e as possibilidades de mudanas

    no seu interior.

    Esta interveno pretendeu buscar alternativas de intervenes atravs do

    trabalho coletivo com instrumentos diversificados para minimizar os problemas de

    indisciplina na sala de aula. Embora no houvesse muita disponibilidade de tampo

    para a realizao do trabalho, foi possvel perceber resultados positivos,

    principalmente no que se refere s relaes interpessoais na sala de aula e na

    escola como um todo.

    Neste sentido, faz necessrio, o acompanhamento constante ampliando

    os canais de comunicao com visitas s salas e conversa informal, visto que toda

    mudana na educao se efetiva buscando de forma dialgica, mudana de postura

    nas prticas pedaggicas, bem como na forma como se processam as relaes no

    seu interior, possibilitando assim, sua transformao para que a sala de aula se

    torne um espao de efetiva aprendizagem.

    Concluindo, percebe-se que segundo Saviani (2005, p. 118) as questes

    conflitantes que se desenvolveu nesse Artigo , em verdade, uma questo que

    merece reflexo e deve ser socializada com todos que fazem parte da instituio de

    ensino, onde o objetivo deve ser estudado, planejado e trabalhado por todos os

    envolvidos no processo educativo para juntos tomarmos as decises que se fizerem

    necessrias para que haja mudana neste cenrio.

    Assim sendo, apesar de ser uma temtica conflitante fundamental a

    busca a busca de novas reflexes no processo educativo, onde os profissionais da

  • 23

    escola passem a vivenciar essas transformaes dando s relaes inter-pessoais

    um enfoque motivador, buscando novas formas didticas e metodolgicas para que

    o processo ensino-aprendizagem seja efetivado de fato.

    REFERNCIAS

    AQUINO, J. G. (Org). Autoridade e Autoritarismo na Escola: alternativas tericas e prticas. 3 Ed. So Paulo: Summus, 1999. BRASIL, Lei de diretrizes de bases da educao nacional n. 9394/06. Braslia, DF: MEC, 1996.

    BRAZ, Maria Regina. Reflexes e alternativas Pedaggicas para o enfrentamento da indisciplina em sala de aula. (Material Didtico produzido no segundo perodo do PDE - Turma 2009). CIAVATA FRANCO, Maria. O trabalho como princpio educativo da criana e do adolescente. Tecnologia Educacional, ABT, Rio de Janeiro, 21 (105/106): 25-29, mar/jun.1992. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 2008. FRIGOTTO, Gaudncio. 2001. Teoria e Educao no labirinto do capital. 2. ed. Petrpolis, 2001.

    NAGEL, Lzia Helena. Avaliao, sociedade e escola: fundamentos para reflexo. Curitiba: SEED, 1985. OLIVEIRA, Maria Isete de. Indisciplina escolar: Determinantes, conseqncias e aes. Braslia: Lber Livro, 2005. PARRAT-DAYAN, Silvia. Trad. Silvia Beatriz Adoue e Augusto Juncal Como enfrentar a indisciplina na escola. So Paulo: Contexto, 2008. SERRO, M. E BALEEIRO, M. C. Aprendendo a ser e a conviver. 2 ed. So Paulo: FTD, 1999. STEIGENBERG, josmary Fimino de Souza: Interao Famlia Escola: saberes necessrios para a construo de relaes transformadoras < http://. www diaadiaeducao.pr.gov.br >,2007 SAVIANI, Demerval. Pedagogia histrico-crtica: Primeiras aproximaes. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

  • 24

    SILVA, Glaudenice T. da: Famlia e Escola: juntas para o fortalecimento de seu papel < http:// www.artigos.com > 2008. VASCONCELLOS, C. (IN)DISCIPLINA: construo da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 13. ed. So Paulo: Libertad, 2000. Mousquer, Dione Baumgartner. PROJETO DE ENSINO Disciplina Indisciplina: Janelas abertas, Joinvile, maio/2005. Disponvel em: WWW.redebonja, cbj.12.br/ensino. Fundamental/projetos/projetos% 20 fam% EDlia_escola.pdf Acesso