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RELÓGIO DE IODO: A EXPERIMENTAÇÃO COMO INCENTIVO A PROBLEMATIZAÇÃO Alana Elke Do Nascimento Corrêa¹ ; Fabiano Antunes² ; Gabriel Barbosa Costa³; Stéphani Júlia Tasso UFGD/FCBA Caixa Postal 533, 79.804-970 Dourados MS, E-mail: [email protected] ¹ Bolsista PIBID da CAPES. ²Orientador, Professor FCBA. ³ Bolsista PIBID da CAPES. 4 Bolsista PIBID da CAPES. RESUMO Este texto é um relato de experiência a respeito de uma atividade docente realizada por meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à docência por acadêmicos do curso de Ciências Biológicas em uma das escolas parceiras da universidade. Tendo como objetivo o estímulo da participação dos estudantes como sujeitos ativos nas atividades escolares, propusemos a criação de um Clube de Ciências, que envolveria os participantes em um ambiente para estimular a curiosidade, a explanação livre de ideias, o debate e a investigação escolar. Com o intuito de explicitar como o Clube de Ciências pode permitir um maior engajamento dos estudantes, escolhemos uma atividade experimental intitulada Reação de Landolt, popularmente conhecida como “Relógio de Iodo”. A partir das interações discursivas ocorridas nessa experiência d ocente, trazemos uma reflexão sobre as potencialidades de uma atividade investigativa com o engajamento dos participantes para uma apreensão significativa dos conceitos. O experimento foi realizado com estudantes de diversas séries, com vinte alunos que foram divididos em grupos de cinco. A cada grupo foi concedido um protocolo para ser seguido como plano de aula e assistência dos acadêmicos. Ao alcançarem o objetivo final do experimento, que seria o aparecimento da cor azul após um determinado espaço de tempo, alguns questionamentos relacionados ao experimento começaram a ser levantados pelos alunos, tais como: - Por que isso aconteceu?”; “ - Por que mudou de cor?”; “ - Por que ficou com a cor azul?”; “ - Se fosse feita com água na temperatura ambiente, o que aconteceria?”. Tais questionamentos foram importantes para que fossem propostos os conceitos importantes para entender o fenômeno. Ou seja, a partir da problematização ocorrida, os conceitos foram aprendidos com maior poder de retenção, a partir do momento em que houve um interesse real na compreensão do ocorrido. Além disso, as perguntas feitas proporcionaram com que o experimento fosse refeito de forma diferente da ideia inicial, estimulando, assim, a busca por diferentes resultados e conceitos relativos à influência da temperatura da água sobre o resultado final. Palavras-chave: Relógio de iodo; docência; experimento.

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RELÓGIO DE IODO: A EXPERIMENTAÇÃO COMO INCENTIVO A

PROBLEMATIZAÇÃO

Alana Elke Do Nascimento Corrêa¹ ; Fabiano Antunes² ; Gabriel Barbosa Costa³;

Stéphani Júlia Tasso

UFGD/FCBA – Caixa Postal 533, 79.804-970 – Dourados – MS, E-mail: [email protected]

¹ Bolsista PIBID da CAPES. ²Orientador, Professor FCBA. ³ Bolsista PIBID da CAPES. 4Bolsista PIBID da CAPES.

RESUMO

Este texto é um relato de experiência a respeito de uma atividade docente realizada por

meio do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à docência por acadêmicos do

curso de Ciências Biológicas em uma das escolas parceiras da universidade. Tendo

como objetivo o estímulo da participação dos estudantes como sujeitos ativos nas

atividades escolares, propusemos a criação de um Clube de Ciências, que envolveria os

participantes em um ambiente para estimular a curiosidade, a explanação livre de ideias,

o debate e a investigação escolar. Com o intuito de explicitar como o Clube de Ciências

pode permitir um maior engajamento dos estudantes, escolhemos uma atividade

experimental intitulada Reação de Landolt, popularmente conhecida como “Relógio de

Iodo”. A partir das interações discursivas ocorridas nessa experiência docente, trazemos

uma reflexão sobre as potencialidades de uma atividade investigativa com o

engajamento dos participantes para uma apreensão significativa dos conceitos. O

experimento foi realizado com estudantes de diversas séries, com vinte alunos que

foram divididos em grupos de cinco. A cada grupo foi concedido um protocolo para ser

seguido como plano de aula e assistência dos acadêmicos. Ao alcançarem o objetivo

final do experimento, que seria o aparecimento da cor azul após um determinado espaço

de tempo, alguns questionamentos relacionados ao experimento começaram a ser

levantados pelos alunos, tais como: “ - Por que isso aconteceu?”; “ - Por que mudou

de cor?”; “ - Por que ficou com a cor azul?”; “ - Se fosse feita com água na

temperatura ambiente, o que aconteceria?”. Tais questionamentos foram importantes

para que fossem propostos os conceitos importantes para entender o fenômeno. Ou seja,

a partir da problematização ocorrida, os conceitos foram aprendidos com maior poder

de retenção, a partir do momento em que houve um interesse real na compreensão do

ocorrido. Além disso, as perguntas feitas proporcionaram com que o experimento fosse

refeito de forma diferente da ideia inicial, estimulando, assim, a busca por diferentes

resultados e conceitos relativos à influência da temperatura da água sobre o resultado

final.

Palavras-chave: Relógio de iodo; docência; experimento.

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INTRODUÇÃO

Este trabalho é uma pesquisa de Iniciação à Docência e é parte de um programa

denominado “PIBID” - Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência.

Construiu-se a partir de intervenções em uma escola parceira a Universidade Federal da

Grande Dourados e seu principal objetivo foi desenvolver nos alunos a capacidade de

conhecer e entender a ciência por meio de um experimento que está relacionado a

atividades cotidianas.

A utilização da reação de Landolt, também conhecida como “Relógio de Iodo”, foi feita

com os alunos com o propósito de abordar o conceito de cinética química, que trata-se

do estudo da velocidade de uma reação quimica, controlada por alguns fatores

relevantes, como natureza física e as concentrações dos reagentes, a temperatura e a

presença de catalisadores. A reação de Landolt consiste em uma solução de iodato de

potássio que é adicionada a uma solução acidificada de bissulfito de sódio contendo

amido que, após certo tempo de reação, a mistura inicialmente incolor torna-se

subitamente azul.

No ensino de Ciências, vê-se a dificuldade que um aluno tem ao relacionar a teoria

desenvolvida em sala com a realidade à sua volta. Ao julgar que a teoria é feita de

conceitos que têm definições abstratas à realidade, deduzindo que se o aluno não

reconhece a ciência no cotidiano, consequentemente, ele não compreende a teoria. Para

compreender a teoria é preciso torná-la uma experiência.

Outro ponto importante a ser frisado quando se trata de ensino de conceitos científicos é

a questão da aprendizagem. Para a compreensão das falas dos estudantes, lançamos mão

da Teoria da Aprendizagem Significativa (TAS) que é o processo através do qual um

novo conhecimento se relaciona de maneira não arbitrária e não literal à estrutura

cognitiva do aprendiz. É no curso da aprendizagem significativa que o significado

lógico do material de aprendizagem se transforma em significado psicológico. Para

Ausubel (1963, p. 58), a aprendizagem significativa é o mecanismo humano que faz

interação cognitiva entre novos conhecimentos e conhecimentos prévios, chamando-o

de subsunções. É um processo interativo no qual os novos conhecimentos acabam

adquirindo um maior significado e os prévios mais elaborados.

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

O experimento foi realizado na biblioteca da Escola Estadual Vilmar Vieira de Matos

no dia 07 de agosto de 2014.

Para a realização do experimento foi necessário a mistura de três soluções: (1) Solução

de Vitamina C, (2) Solução de Iodo e (3) Solução de Água Oxigenada.

Os materiais utilizados foram: Água quente, Iodo, Pastilhas de Vitamina C (2g) Água

Oxigenada (10 Vol), Sagu (cozido), Conta-Gotas e Béqueres.

Os alunos presentes foram divididos em bancadas com 4 grupos de 5 alunos.

Em cima de cada bancada havia 4 béqueres, e em uma mesa avulsa os materiais

restantes, um grupo por vez se dirigia à mesa com os materiais para o preparo das

soluções. Na solução de vitamina C (S1) foi misturado em um béquer 120ml de água

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quente com uma pastilha de 2g de vitamina C, a solução foi dissolvida e com o auxílio

do conta gotas foram retiradas 20 gotas dessa mistura, que foram transferidas para outro

béquer com 60ml de água quente.

Na solução de iodo (S2) foram misturadas 20 gotas de iodo em um béquer contendo

60ml de água quente.

Na solução de água oxigenada (S3) misturou-se 50ml de água oxigenada com 2 colheres

de caldo do sagu previamente cozido.

Em outro béquer foram misturadas as soluções 1 e 2. Em seguida, misturou-se a solução

3.

Conforme os segundos se passaram, a solução final – que era a mistura de ambas as

substâncias – que, inicialmente, era incolor foi escurecendo e, finalmente, após 45

segundos, transformou-se em uma solução com um tom de azul-escuro.

Logo após a realização do experimento, os estudantes receberam uma explicação

científica para o fenômeno ocorrido da qual, em seguida, surgiram os questionamentos e

suposições.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pudemos perceber que a participação dos alunos foi potencializada na medida em que

foram instigados por uma experiência em que poderiam perceber a aplicação prática da

teoria, pois era nítida a dificuldade dos alunos em criar relações dos experimentos com a

teoria descrita em sala de aula.

Ao iniciarmos a aula teórica, questionamos quais eram suas ideias a respeito do tema

proposto - “Relógio de Iodo”. Com isso, pudemos observar quais eram seus

conhecimentos prévios a respeito do assunto e quais seus principais questionamentos a

respeito daquilo que já conheciam sobre o experimento aplicados à uma atividade

prática em que os alunos puderam visualizar e aprimorar seus conceitos por um

processo mais significativo de aprendizagem.

Com o experimento, os alunos tiveram uma participação mais ativa e vivenciaram o

método científico, compreendendo o funcionamento da ciência. Essas questões foram

evidenciadas nas perguntas que os alunos formularam durante a experimentação, que se

tornaram um indicador dos interesses e da curiosidade com que eles adquiriam o

conceito sobre o assunto.

Dentro de tais perguntas, destacaram-se, por exemplo: “ - Por que mudou de cor?”; “-

Por que não pode ser com água fria?; “- Se aumentarmos a quantidade de Vitamina C,

muda de cor?”. Partindo dos questionamentos, foi possível observar o processo de

aprendizagem dos alunos, pois eram os pontos-chave da discussão sobre o experimento

realizado. Com isso, conforme o desenrolar do experimento e surgimento das dúvidas,

os conceitos foram apresentados aos alunos de forma a saber se a explicação fora

satisfatória.

Assim, este trabalho baseou-se nas três principais formulações por parte dos alunos e

suas respectivas explicações por parte dos docentes. Destaque:- “Por que a reação

mudou de cor?”. A solução alterou sua coloração conforme a Vitamina C reagia com o

I2 o transformando em íons de Iodo (2Iˉ) e ao final desse processo, a Vitamina C ia se

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desgastando e deixando de reagir com Iodo, fazendo com que ele reagisse livremente

com o Amido proveniente do caldo de sagu presente na solução, transformando-a em

azul.

- “Por que não pode ser com água fria?”. Para explicar melhor a esta pergunta,

iniciamos o experimento com água gelada para mostrar qual era o resultado e esclarecer

a dúvidas. Assim, ao compararem com os resultados do experimento executado com

água quente, os alunos notaram que usando água gelada o experimento demorava muito

mais para fornecer o resultado esperado. Ou seja, a reação também ocorre em água fria,

porém com maior duração de tempo.

Portanto utilizou-se água quente para acelerar a reação química, pois nesta temperatura,

as moléculas da reação ficam mais agitadas e reagem melhor umas com as outras.

- “Se aumentarmos a quantidade de Vitamina C, muda de cor?”. Os alunos perceberam

que o aumento da Vitamina C resultava em um maior tempo de reação e,

consequentemente, um maior tempo para se obter a coloração azul no final do

experimento, devido ao processo químico da Vitamina reagindo com o Iodo ocorrer de

forma lenta..

Ao concluirmos a aula e o experimento, alcançamos o objetivo que era fazer com que os

alunos entendessem os processos químicos do experimento e se tornassem capazes de

relacionar o Iodo como um indicativo de amido nos alimentos, além de apreenderem

sobre o papel da Vitamina C como ionizante do Iodo o transformando em íons de Iodo

(2Iˉ).

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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de ciências e a investigação nessa área. Porto Alegre: Instituto de Física da UFRGS. 107p.

MOREIRA, M.A. (2005). Aprendizagem significativa crítica. Porto Alegre: Instituto de

Física da UFRGS. 45p.

MOREIRA, M.A. (2006). A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação na

sala de aula. Brasília: Editora da UnB. 185p.

MASINI, E.A.F. e Moreira, M.A. (2008). Aprendizagem significativa: condições para

ocorrência e lacunas que levam ao comprometimento. São Paulo: Vetor Editora. 295p.

TEÓFILO, Reinaldo F. Reação relógio de iodeto/iodo. Rev. Quimica nova na escola. Nº

16-Novembro-de-2002. Disponivel em:

http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc16/v16_A10.pdf (Acessado em: 01/09/2014)

NÉRICI, G. Imídio. Introdução à Didática Geral. 16ª. Ed. São Paulo: Atlas. 1991.

AXT, R. O papel da experimentação no ensino de Ciências. In: MOREIRA & AXT.

Tópicos em ensino de Ciências. Porto Alegre: Sagra: 1991.