2014.1 - A Escola de Frankfurt e a Industria Cultural (2a. PROVA)

5
Faculdades Integradas Barros Melo Disciplina: Teoria da Comunicação Prof.: Marcos Araújo Resumo de aula A ESCOLA DE FRANKFURT A Dialética do Iluminismo Trabalhando nos Estados unidos como professor da Universidade de Columbia, Adorno – em parceria intelectual com Horkheimer – escreveu, em 1947, a principal obra dessa corrente de pensamento crítico. Trata-se de “A Dialética do Iluminismo” na qual os autores alertam para uma pretensa socialização total do homem por intermédio dos novos meios de produção cultural. É nesta obra que é veiculado pela primeira vez o conceito de Indústria Cultural (IC). Agentes da “barbárie cultural”, os meios de comunicação seriam veículos propagadores de ideologias próprias às “classes dominantes”, impondo-as às classes populares (subalternas) pela persuasão ou pela pura e simples manipulação. Para os autores, esses meios, em poder das classes dominantes, “jamais encorajam o exercício do espírito crítico”. E mais: “Dialética do iluminismo: movimento histórico pelo qual o projeto Iluminista, produz o oposto de suas propostas”. “Projeto Iluminista: emancipação humana das opressões sociais, possibilidade de todos viverem em condições dignas e livres etc.”. “Condições históricas e progresso das sociedades capitalistas avançadas produziram novas sujeições (ao sistema econômico e social dominante) que limitaram a liberdade e o caráter progressista da modernidade”. A Indústria Cultural O termo “Indústria Cultural” foi criado em oposição à “cultura de massa”, que dava a ideia de uma cultura surgida espontaneamente da

description

A Escola de Frankfurt

Transcript of 2014.1 - A Escola de Frankfurt e a Industria Cultural (2a. PROVA)

Page 1: 2014.1 - A Escola de Frankfurt e a Industria Cultural (2a. PROVA)

Faculdades Integradas Barros Melo Disciplina: Teoria da Comunicação Prof.: Marcos AraújoResumo de aula

A ESCOLA DE FRANKFURT

A Dialética do Iluminismo

Trabalhando nos Estados unidos como professor da Universidade de Columbia, Adorno – em parceria intelectual com Horkheimer – escreveu, em 1947, a principal obra dessa corrente de pensamento crítico. Trata-se de “A Dialética do Iluminismo” na qual os autores alertam para uma pretensa socialização total do homem por intermédio dos novos meios de produção cultural. É nesta obra que é veiculado pela primeira vez o conceito de Indústria Cultural (IC).

Agentes da “barbárie cultural”, os meios de comunicação seriam veículos propagadores de ideologias próprias às “classes dominantes”, impondo-as às classes populares (subalternas) pela persuasão ou pela pura e simples manipulação. Para os autores, esses meios, em poder das classes dominantes, “jamais encorajam o exercício do espírito crítico”. E mais:

“Dialética do iluminismo: movimento histórico pelo qual o projeto Iluminista, produz o oposto de suas propostas”.

“Projeto Iluminista: emancipação humana das opressões sociais, possibilidade de todos viverem em condições dignas e livres etc.”.

“Condições históricas e progresso das sociedades capitalistas avançadas produziram novas sujeições (ao sistema econômico e social dominante) que limitaram a liberdade e o caráter progressista da modernidade”.

A Indústria Cultural

O termo “Indústria Cultural” foi criado em oposição à “cultura de massa”, que dava a ideia de uma cultura surgida espontaneamente da própria massa – mas não se trata de uma cultura que surja naturalmente do povo; tampouco se pode chamar de cultura popular.

A expressão Indústria Cultural não é sinônimo de meios de comunicação de massa.

Essa expressão não se refere às empresas produtoras e nem às técnicas de difusão dos bens culturais, também não é sinônimo de cultura de massa.

Em essência, Indústria Cultural significa a transformação da mercadoria em cultura e da cultura em mercadoria. É uma produção dirigida para o consumo das massas segundo um plano preestabelecido, seja qual for a área para a qual a produção se dirija.

A Indústria Cultural, portanto, é uma forma de mercantilização da cultura de forma vertical, autoritária, que procura adaptar as mercadorias culturais às massas e as massas a essas mercadorias. Estabelece-se assim, uma estreita inter-relação entre a produção e o consumo, a primeira determinando o que deve ser consumido e vice-versa.

Page 2: 2014.1 - A Escola de Frankfurt e a Industria Cultural (2a. PROVA)

Adorno e Horkheimer partem da constatação de que a sociedade industrial não havia realizado as promessas do iluminismo humanista. O desenvolvimento da técnica e da ciência não trouxe um acréscimo de felicidade e liberdade para o homem. Ao invés de libertar a humanidade, o progresso da técnica acabou por escravizar o homem, alienando-o.

Os meios de comunicação de massa, resultado direto do desenvolvimento da técnica, tiveram papel importante nesse processo de escravização das massas.

Segundo os pensadores fankfurtianos, a reprodutibilidade técnica tira tanto da cultura popular quanto da cultura erudita o seu valor real. O resultado é que a Indústria Cultural não conduz à experiência libertadora da fruição estética. Assim, a Indústria Cultural pretende alienar, e não conscientizar; acomodar, e não incitar.

Para os frankfurtianos, os produtos da Indústria Cultural teriam três funções:

a) Ser comercializados

b) Promover a deturpação e a degradação do gosto popular

c) Obter uma atitude sempre passiva dos seus consumidores

Como são feitos para serem vendidos, os produtos da Indústria Cultural jamais devem desagradar os compradores. A produção é homogeneizada e nivelada por baixo.

Para Adorno, a visão crítica por parte do expectador não é possível dentro da Indústria Cultural, pois “a transformação do ato cultural em valor suprime sua função crítica e nele dissolve os traços de uma experiência autêntica”.

Crítica à Indústria Cultural

Embora seja fundamental para a análise dos meios de comunicação de massa, em especial na primeira metade do século passado, a noção de Indústria Cultural tem sido objeto de diversas críticas.

Uma advertência importante ressalva que a Indústria Cultural não possui somente um potencial reprodutor e mantenedor do sistema. Mesmo considerando-se que a ideologia presente na Indústria Cultural signifique sempre dominação, isso não quer dizer que não existam resistências a essa dominação. Uma coisa é dizermos que os indivíduos estão “conformados” com as imposições da indústria cultural, outra é dizermos que eles aceitam tal dominação. Desse modo, a subjetividade do indivíduo jamais será reificada totalmente.

Matellart, por exemplo, desconfia que Adorno e Horkheimer estigmatizaram a Indústria Cultural em decorrência de seu processo de fabricação atentar contra certa sacralização da arte: “Na verdade, não é difícil perceber em seu texto o eco de um vigoroso protesto erudito contra a intrusão da técnica no mundo da cultura”.

Além disso, as ideias da Escola de Frankfurt, mesmo atacando o conformismo, acabaram se tornando um discurso conformista, de pessoas que, confortavelmente em suas poltronas ou empregos, apenas criticaram a indústria cultural, sem, no entanto, apresentar qualquer opção.

Page 3: 2014.1 - A Escola de Frankfurt e a Industria Cultural (2a. PROVA)

Entre os próprios frankfurtianos é notório o otimismo de Walter Benjamin e Kracauer em relação aos efeitos da Indústria Cultural, vislumbrando na massificação da cultura um potencial emancipatório.

Para Benjamin, quando a obra de arte, com suas novas técnicas de reprodução, sai dos limites das esferas de acesso burguês, de certa forma, se democratiza, pois o acesso se expande. Mas, ao mesmo tempo, a obra de arte se banaliza, perde sua aura, pois sua função passa a ser ideológica e política para a reprodução do sistema.

No caso do cinema, ao restringir a aura, permite uma crítica revolucionária das concepções antigas de arte, possibilitando talvez uma crítica revolucionária das relações sociais e, inclusive, da propriedade privada.

Porém, Benjamin não é ingênuo como pensam alguns intelectuais a seu respeito. Sua afirmação não é dogmática; ele apenas vislumbra uma possibilidade. Para ele, a reprodutibilidade técnica abre uma brecha ao liquidar com as formas tradicionais de arte e comunicação restritas a uma elite privilegiada. No entanto, está consciente da força do capitalismo em utilizar as novas técnicas em favor de sua reprodução.

Walter Benjamin foi um crítico de arte que procurou analisar as condições técnicas por detrás da produção artística. Foi um dos primeiros intelectuais de formação acadêmica a tratar do cinema como modelo do novo paradigma de arte reprodutível que veio a dominar a cultura durante todo o século XX. Suicidou-se com 48 anos ao ver fracassada a sua tentativa de atravessar a fronteira da França com a Espanha, quando buscava asilo contra a perseguição política e étnica, promovida pelos nazistas. Por conta disso, sua obra maior ficou toda fragmentada – como “Paris, Capital do século XIX”, restando apenas alguns artigos e ensaios que pôde concluir – por exemplo, “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade” (1936).

Benjamin detectou com precisão a transformação que o conceito de arte estava passando no início do século XX, com o advento das técnicas de reprodução mais avançadas. Pouco a pouco, a obra de arte veio perdendo a aura de objeto único acessível a uma minoria que exigia um ritual de aproximação próprio para se tornar em um veículo de propaganda ideológico cuja autenticidade depende agora do meio político ao qual se vincula.

A fim de estudar a obra de arte na época das técnicas de reprodução, é preciso levar na maior conta esse conjunto de relações. Elas colocam em evidência um fato verdadeiramente decisivo e o qual vemos aqui aparecer pela primeira vez na história do mundo: a emancipação da obra de arte com relação à existência parasitária que lhe era imposta pelo seu papel ritualístico.

Reproduzem-se cada vez mais obras de arte, que foram feitas justamente para serem reproduzidas. Mas, desde que o critério de autenticidade não é mais aplicável à produção artística, toda a função da arte fica subvertida. Em lugar de se basear sobre o ritual, ela se funda, doravante, sobre uma forma de práxis: a política (BENJAMIN, W. A Obra de Arte na Época de suas Técnicas de Reprodução, IV, p. 11).

------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------BIBLIOGRAFIAMATTELART, Armand e Michele; ROUANET, Luiz Paulo. História das teorias da comunicação. 6.ed. São Paulo: Loyola, 2003. 220p.POLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluizio Ramos. Teorias da Comunicação - O Pensamento e a Prática da Comunicação Social. Ed. Campus. 2002. 184p.WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. 5ª. ed. Lisboa: Presença, 1999. 272p.Site: www.colegiolondrinense.com.br