2014 17a-at02-literatura

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1 3 a Série Ensino Médio Atividades de Literatura 2014-17a-at02 Leia com atenção estes fragmentos e, em seguida, resolva a questão proposta. Fragmento I Era junho e o tempo estava inteiramente frio. A macumba se rezava lá no Mangue no zungu da tia Ciata, feiticeira como não tinha outra, mãe de santo famanada e cantadeira ao violão. Às vinte horas Macunaíma chegou na biboca levando debaixo do braço o garrafão de pinga obrigatório. Já tinha muita gente lá, gente direita, gente pobre, advogados garçons pedreiros meias-colheres deputados gatunos, todas essas gentes e a função ia principiando. [...] Então a macumba principiou de deveras se fazendo um sairê pra saudar os santos. E era assim: Na ponta vinha o ogã tocador de atabaque, um negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de profissão, se chamando Olelê Rui Barbosa. Tabaque mexemexia acertado num ritmo que manejou toda a procissão. E as velas jogaram nas paredes de papel com florzinhas, sombras tremendo vagarentas feito assombração. Atrás do ogã vinha tia Ciata quase sem mexer, só beiços puxando a reza monótona. E então seguiam advogados taifeiros curandeiros poetas o herói gatunos, portugas, senadores, todas essas gentes dançando e cantando a resposta da reza. ANDRADE, M. de. Macunaíma. São Paulo: ALLCA XX, 1996. p. 57-58. Fragmento II Na cidade do Rio de Janeiro (e quanto mais nas outras do império!) ainda há casas de tomar fortuna, e com certeza pretendidos feiticeiros e curadores de feitiço que espantam pela extravagância, e grosseria de seus embustes. A autoridade pública supõe perseguir, mas não persegue séria e ativamente esses embusteiros selvagens em cujas mãos de falsos curandeiros têm morrido não poucos infelizes. E que os perseguisse zelosa e veemente, a autoridade pública não poderá acabar com os feiticeiros, nem porá termo ao feitiço, enquanto houver no Brasil escravos, e ainda além da emancipação destes, os restos e os vestígios dos últimos africanos, a quem roubamos a liberdade, os restos e os vestígios da última geração escrava de quem hão de conservar muitos dos vícios aqueles que conviveram com ela em intimidade depravadora. O feitiço, como a sífilis, veio d’África. Ainda nisto o escravo africano, sem o pensar, vinga-se da violência tremenda da escravidão. MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. São Paulo: Zouk, 2005. p. 58. Os fragmentos transcritos aludem a práticas religiosas afro-brasileiras. Tendo em vista o contexto das duas obras, compare os dois fragmentos, apontando semelhanças e/ou diferenças nos pontos de vista enunciados sobre tais práticas. ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________

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3a Série Ensino Médio

Atividades de Literatura

2014-17a-at02

Leia com atenção estes fragmentos e, em seguida, resolva a questão proposta. Fragmento I Era junho e o tempo estava inteiramente frio. A macumba se rezava lá no Mangue no zungu da tia Ciata, feiticeira como não tinha outra, mãe de santo famanada e cantadeira ao violão. Às vinte horas Macunaíma chegou na biboca levando debaixo do braço o garrafão de pinga obrigatório. Já tinha muita gente lá, gente direita, gente pobre, advogados garçons pedreiros meias-colheres deputados gatunos, todas essas gentes e a função ia principiando. [...] Então a macumba principiou de deveras se fazendo um sairê pra saudar os santos. E era assim: Na ponta vinha o ogã tocador de atabaque, um negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de profissão, se chamando Olelê Rui Barbosa. Tabaque mexemexia acertado num ritmo que manejou toda a procissão. E as velas jogaram nas paredes de papel com florzinhas, sombras tremendo vagarentas feito assombração. Atrás do ogã vinha tia Ciata quase sem mexer, só beiços puxando a reza monótona. E então seguiam advogados taifeiros curandeiros poetas o herói gatunos, portugas, senadores, todas essas gentes dançando e cantando a resposta da reza.

ANDRADE, M. de. Macunaíma. São Paulo: ALLCA XX, 1996. p. 57-58.

Fragmento II Na cidade do Rio de Janeiro (e quanto mais nas outras do império!) ainda há casas de tomar fortuna, e com certeza pretendidos feiticeiros e curadores de feitiço que espantam pela extravagância, e grosseria de seus embustes. A autoridade pública supõe perseguir, mas não persegue séria e ativamente esses embusteiros selvagens em cujas mãos de falsos curandeiros têm morrido não poucos infelizes. E que os perseguisse zelosa e veemente, a autoridade pública não poderá acabar com os feiticeiros, nem porá termo ao feitiço, enquanto houver no Brasil escravos, e ainda além da emancipação destes, os restos e os vestígios dos últimos africanos, a quem roubamos a liberdade, os restos e os vestígios da última geração escrava de quem hão de conservar muitos dos vícios aqueles que conviveram com ela em intimidade depravadora. O feitiço, como a sífilis, veio d’África. Ainda nisto o escravo africano, sem o pensar, vinga-se da violência tremenda da escravidão.

MACEDO, J. M. de. As vítimas-algozes: quadros da escravidão. São Paulo: Zouk, 2005. p. 58.

Os fragmentos transcritos aludem a práticas religiosas afro-brasileiras.

Tendo em vista o contexto das duas obras, compare os dois fragmentos, apontando semelhanças e/ou diferenças nos pontos de vista enunciados sobre tais práticas. ______________________________________________________________________________________________

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