2014 10 - Síndrome de Teodósio

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Síndrome de Teodósio Eliseu Pereira Síndrome de Teodósio - 1ª parte Teodósio foi imperador romano entre 378 e 395 da era cristã. Ele é um nome importante na história da igreja. Ele não foi o primeiro imperador a defender a união entre Estado e religião. Isso sempre existiu... desde que o mundo é mundo... ou melhor, nunca houve "poder" sem "religião" nem "religião" sem "poder". Teodósio foi o imperador que instituiu o cristianismo como religião oficial do império romano, banindo todas as demais crenças para a marginalidade. Durante quase 300 anos o cristianismo fora religião marginal. Em 323, Constantino concedeu às igrejas cristãs o status de religião permitida, ou seja, não mais perseguida pelo Estado. Mas foi Teodósio que virou o jogo. A partir de 390, todo cidadão romano era também cristão. Se recusasse a fé, seria banido. A instituição do 'estado laico', ou seja, do "poder civil" divorciado da "religião" é muito recente na história da humanidade... modéstia à parte, uma singela contribuição dos batistas... rsrsrsrs, a "tribo" mais radical da reforma que não aceitou mais ter sua fé controlada pelo Estado, nem usar sua fé para controlar o estado.

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Histórico da relação entre igreja e estado

Transcript of 2014 10 - Síndrome de Teodósio

  • Sndrome de Teodsio

    Eliseu Pereira

    Sndrome de Teodsio - 1 parte

    Teodsio foi imperador romano entre 378 e 395 da era

    crist. Ele um nome importante na histria da igreja. Ele

    no foi o primeiro imperador a defender a unio entre

    Estado e religio. Isso sempre existiu... desde que o

    mundo mundo... ou melhor, nunca houve "poder" sem

    "religio" nem "religio" sem "poder".

    Teodsio foi o imperador que instituiu o cristianismo como

    religio oficial do imprio romano, banindo todas as demais crenas para a

    marginalidade. Durante quase 300 anos o cristianismo fora religio marginal.

    Em 323, Constantino concedeu s igrejas crists o status de religio permitida,

    ou seja, no mais perseguida pelo Estado. Mas foi Teodsio que virou o jogo. A

    partir de 390, todo cidado romano era tambm cristo. Se recusasse a f,

    seria banido.

    A instituio do 'estado laico', ou seja, do "poder civil" divorciado da "religio"

    muito recente na histria da humanidade... modstia parte, uma singela

    contribuio dos batistas... rsrsrsrs, a "tribo" mais radical da reforma que no

    aceitou mais ter sua f controlada pelo Estado, nem usar sua f para controlar

    o estado.

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 2 parte

    Depois da reforma protestante, os pases catlicos continuaram ligados Igreja

    Romana, representada em seus prprios pases pelos nncios papais. o

    caso da Espanha e Portugal da poca do descobrimento da Amrica. O poder

    real no existia sem o poder papal e, de certa forma, vice-versa. Nos pases

    protestantes, como Alemanha, Inglaterra e outros, a igreja nacional tambm era

    ligada ao Estado e o Estado a elas.

    a Sndrome de Teodsio que afetou a igreja para sempre... a tentao do

    poder...

    O diferencial da balana foram os grupos radicais, chamados pejorativamente

    de anabatistas, que se constituram em comunidades prprias e no buscam o

    favor do Estado. Curiosamente esses grupos foram perseguidos pelas igrejas

    oficiais, catlicas e protestantes... embora por motivos diferentes. Pela igreja

    catlica, porque se considerava a nica igreja. Pelas igrejas protestantes,

    porque era muito revolucionrio permitir que as pessoas tivessem sua prpria

    f.

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 3 parte

    O Brasil (bem como toda a Amrica Latina) nasceu desse casamento entre

    igreja e estado, no caso, a Igreja Romana e a Casa Real Portuguesa. Os

    primeiros navios chegaram aqui sob a insgnia da cruz e o ato fundacional do

    Brasil foi uma missa realizada em 26 de abril de 1500 nas praias de Porto

    Seguro, na Bahia. O nome de batismo do nosso pas Terra de Vera Cruz

    (Verdadeira Cruz).

    Assim o Brasil nasceu catlico, batizado e crismado... rsrsrs. O fato que

    impossvel contar a histria do Brasil sem falar da Igreja Catlica, representada

    especialmente pelos jesutas, mas no somente. Os nomes religiosos esto

    por toda parte: So Paulo, Santa Catarina, Esprito Santo, Bahia de todos os

    santos, etc...

    A Sndrome de Teodsio verso portuguesa consumada: o estado portugus e

    a igreja casados para sempre.

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 4 parte

    Quando a coroa portuguesa fugiu para o Brasil em 1808, D. Joo VI foi, de

    certa forma, obrigado a abrir os portos brasileiros s naes amigas. Essa foi a

    deixa para que chegassem s nossas terras os primeiros missionrios

    protestantes. Afinal, havia muitos ingleses por aqui, muitos deles escalados

    para proteo da famlia real, e eles demandavam o direito de realizar seus

    cultos e receber assistncia de clrigos anglicanos. Para no contrariar os

    gostos de seus tutores ingleses e no aborrecer o papa, D. Joo permitiu

    determinou que os ingleses no sero perturbados, inquietados, perseguidos,

    ou molestados por causa da sua religio, mas antes tero perfeita liberdade de

    conscincia e licena para assistirem e celebrarem o servio divino em honra

    ao Todo-Poderoso Deus. Esse o primeiro documento que autoriza cristos

    no catlicos a praticarem sua f Brasil

    Depois da independncia em 1822, a igreja catlica foi confirmada como

    religio oficial do Brasil pela Constituio de 1824, artigo 5: A Religio

    Catholica Apostolica Romana continuar a ser a Religio do Imperio. Todas as

    outras Religies sero permitidas com seu culto domestico, ou particular em

    casas para isso destinadas, sem frma alguma exterior do Templo.

    a Sndrome de Teodsio. A coroa papal de novo casada com a coroa

    imperial brasileira.

    Igrejas catlicas sempre presentes no cenrio brasileiro. Na imagem acima,

    obra "Rugendas - Igreja do Hospcio de N.S. da Piedade da Bahia" de Johann

    Moritz Rugendas (1802-1858).

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 5 parte

    No segundo imprio (1831-1889), o casamento entre igreja oficial e imperador

    comeou a entrar em crise. como se a igreja tivesse dois maridos o papa

    e o imperador. D. Pedro II lanou mo do antigo poder do padroado para tentar

    manter a igreja sob rdeas curtas.

    Tava ficando difcil... e no final, a luta entre a igreja e o estado enfraqueceu

    ambos: a igreja catlica no conseguia reagir entrada dos protestantes e o

    Imprio no consegue evitar o avano do republicanismo.

    Entre os diversos motivos que levaram queda do imprio e proclamao da

    repblica, est um causo chamado Questo Religiosa, o auge da crise entre

    o imperador e a igreja, em 1870, envolvendo uma controvrsia sobre a

    maonaria... sempre ela... rsrsrsrs (Se tiver interesse, pesquise a Questo

    Religiosa no Google... rsrsrsrs aqui

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Quest%C3%A3o_religiosa).

    Na poca, quase que a igreja catlica brasileira se divorciou do papa para se

    casar definitivamente com o imperador... ou seja, teramos aqui uma igreja

    nacional oficial... cruz credo... rsrsrsrs

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 6 parte

    Outra questo importante do segundo imprio que comearam a chegar ao

    Brasil muitos imigrantes, incentivados pelo imperador. Muitos deles vinham de

    pases protestantes e lutaram pelo direito de praticar seu culto e trazer

    ministros de sua prpria religio para atend-los.

    A presena desses esses imigrantes, especialmente dos norte-americanos, foi

    um golpe duro tanto para o imprio como para a igreja. Afinal eles haviam

    realizado uma revoluo impar no mundo no final do sculo XVIII: proclamaram

    a independncia e fundaram uma repblica com plena separao entre igreja e

    estado.

    Quando no h igreja oficial, todos tm liberdade religiosa e as religies so

    livres para proclamar sua f e conquistar adeptos. Estava criado o Estado laico,

    fenmeno nico na histria da humanidade... De quebra, estava tambm

    aberta a brecha para a religio de mercado... mas fazer o qu... todo bem

    abre riscos para o mal...

    O fato que os norte-americanos, que professavam sua f livres do Estado,

    lanaram a semente do divrcio entre Igreja e Estado no Brasil e os primeiros

    impulsos para o surgimento de uma repblica laica e para a liberdade religiosa.

    A Sndrome de Teodsio, aquele casamento inglrio da igreja crist com o

    Estado que durou sculos, comeava a ruir no Brasil. A f crist estava grvida

    de um estado laico e da liberdade religiosa.

    Nas fotos, William Bagby e sua esposa (primeiros missionrios batistas a

    chegarem ao Brasil) e Ashbel Green Simonton e sua filhinha.

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 7 parte

    No final do sculo XVIII, a situao religiosa estava tensa: de um lado, o

    catolicismo se fortalecia muito como resultado do Conclio Vaticano I (1869-

    1870), e, de outro, havia um crescente movimento liberal em direo

    secularizao e separao entre Igreja e Estado. Os ideais protestantes,

    inspirados principalmente no modelo norte-americano, eram mais afinados com

    a repblica, e passou, por isso, a representar uma fora modernizadora em

    contraste com a igreja catlica, ligada ao imprio.

    Os protestantes no dependiam do poder do Estado. Eles representavam a

    ruptura com o modelo de religio oficial o antdoto para a Sndrome de

    Teodsio o que veio a calhar com as aspiraes republicanas progressistas.

    A proclamao da repblica representou o fim do imprio e da religio oficial. A

    primeira constituio republicana, de 1891, artigo 11, prescreve o Estado laico:

    vedado aos Estados, como Unio: [...] 2 ) estabelecer, subvencionar ou

    embaraar o exerccio de cultos religiosos.

    E a liberdade religiosa foi estabelecida, pela Emenda de 3/09/1926, no artigo

    72, 3: "Todos os individuos e confisses religiosas podem exercer publica e

    livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens,

    observadas as disposies do direito comum.

    So Teodsio rolou no tmulo.

    Na foto abaixo: "Proclamao da Repblica", 1893, leo sobre tela de Benedito

    Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca Municipal de So Paulo.

  • Srie "Sndrome de

    Teodsio" - 8 parte

    A liberdade religiosa

    foi rapidamente

    assumida pelos

    protestantes, mas para

    quebrar o monoplio da f, no bastam leis e documentos. Mesmo com o

    "divrcio" legal entre Estado e Igreja oficial no Brasil, a velha esposa ainda se

    comportaria, por muito tempo, como se fosse a "legtima esposa do Estado", a

    nica dona das almas do povo. Afinal, em estado com religio oficial, no h

    "converso" (mudana de religio), pois nascem catlicos. Havia um longo

    caminho a percorrer em um terra de 300 anos de catolicismo exclusivo.

    Em um Estado oficialmente catlico, a Igreja exerce funes exclusivas em

    relao aos eventos fundamentais da vida, como, por exemplo, nascer, casar e

    morrer. O nascimento era validado pelo sacramento do batismo. O casamento

    s era vlido se recebesse o sacramento ministrado pelo vigrio de Cristo. E

    at morrer s era possvel com a beno da igreja... mesmo porque os

    cemitrios pertenciam s igrejas. Na poca eram chamados de campo santo.

    por isso que ainda existem cemitrios luteranos por a... para que os

    protestantes tivessem o direito de morrer!

    Com a repblica, o Estado assumiu essas funes e as secularizou. A partir de

    1891, as funes sacramentais da igreja passaram a ser exercidas pelo Estado

    secular. O nascer ento era reconhecido mediante uma certido de

    nascimento, o casamento passou a ser feito mediante uma autoridade civil

    o juiz de paz e confirmado por certido de casamento. O morrer atestado

    por uma autoridade mediante certido de bito, independente da f ou da no-

    f do falecido. E os cemitrios passaram a ser administrados pela autoridade

    municipal e neles poderia ser enterrada qualquer pessoa, independente da

    causa de morte, sendo crente ou ateu.

    O Estado divorciado da Igreja, e inoculado contra a "Sndrome de Teodsio"

    comeava a descobrir a liberdade civil. E, de quebra, a igreja oficial teria de

    reaprender o caminho da f desprotegida pelo poder do Estado. J os

  • protestantes estavam bem preparados para isso, porque sua f somente

    funciona bem sem Estado.

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 9 parte

    Como os cristos protestantes viveram na primeira metade do sculo XX?

    Como se relacionaram com o Estado? E com as demais religies?

    Bem, eles imediatamente se conjugaram com esforos missionrios

    internacionais visando compartilhar a f evanglica no Brasil. So dessa poca

    diversas instituies de ensino, seminrios, sociedades bblicas, impresso e

    distribuio de literatura e de Bblia no Brasil. Os batistas e metodistas davam

    grande importncia evangelizao.

    A chegada dos pentecostais logo na primeira dcada do sculo XX ps fogo

    literalmente na evangelizao. Enquanto os protestantes histricos se

    ocupavam de ministrios de longo prazo, investindo em seminrios teolgicos,

    escolas, organizaes missionrias, questes estratgicas e elevados debates,

    os pentecostais se atiraram no trabalho da evangelizao. Eles tinham uma

    organizao eclesistica simples e podiam se adaptar a qualquer lugar, tanto

    no interior como nas cidades, em qualquer salo ou casa os pontos de

    pregao. Alm disso, eles no faziam questo de formao teolgica

    aprimorada, mas faziam de qualquer irmo um obreiro leigo, treinados apenas

    com curso bsico de evangelismo, e que mesmo assim, obtinham grande

    sucesso evangelstico imediato. Esses fatores combinados levaram a uma

    expanso imensa do protestantismo evanglico e pentecostal no Brasil.

    Bastava saber ler a Bblia eram o povo do livro de capa preta e fazer

    cultos com muita msica e barulho eram os glria e os aleluia, ou

    simplesmente os crentes!

    Para esses, "os crentes", o divrcio do Estado ia muito bem... a "Sndrome de

    Teodsio" estava debelada... ou pelo menos

    sob controle.

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 10 parte

    Na segunda metade do sculo XX, houve eventos importantes em duas esferas

    da Sndrome de Teodsio:

    (1) Na esfera da Religio, pelo lado catlico, ocorreu o Conclio Vaticano II

    (1962-65); pelo lado protestante, a segunda onda carismtica de exploso de

    evangelizao e criao de novas igrejas pentecostais.

    (2) Na esfera do Estado, ocorreu o Golpe de 1964 que instalou a ditadura

    militar no Brasil, a pretexto de combater o risco do comunismo. A revoluo

    sovitica, que j chegara Amrica Latina, em Cuba (1959), considerava a

    religio uma panaceia incapaz de libertar o ser humano da pobreza e pregava

    a soluo por meio da solidariedade dos bens de produo.

    Os eventos religiosos (1) causaram profundo impacto no funcionamento das

    igrejas e no relacionamento de umas com as outras: do lado catlico, as

    missas se tornaram mais populares e os protestantes passaram a ser

    reconhecidos como irmos separados. Esse clima permitiu algumas tentativas

    ecumnicas e houve dilogo e cooperao entre protestantes e catlicos, algo

    indito no Brasil. Do lado evanglico pentecostal, havia um movimento inverso

    de acentuar a rixa entre protestantes e catlicos, por meio de um evangelismo

    agressivo e enfrentamento permanente. Era a poca em que evangelizar era

    ganhar catlico para Jesus.

    J os eventos do campo poltico (2) apenas acentuaram o racha entre as

    igrejas crists catlicas, protestantes e pentecostais: no lado protestante,

    surge o conceito de Misso Integral e, no meio catlico, a Teologia da

    Libertao. Comum a ambas era a preocupao com o ser humano integral, o

    enfrentamento da injustia, da pobreza, e a necessidade de dar uma resposta

    provocao apresentada pelo comunismo...

    Os sintomas da Sndrome de Teodsio rondavam o campo da f crist, catlica

    e protestante... Como elas a enfrentariam? Os catlicos j tinham experincia,

    mas os protestantes libertrios, plantados no "vaso quadrado" da religio

    oficial, estariam prontos para resistir?

  • A foto acima ofende os brios

    evanglicos: Jos Genono (o

    prprio), Valdir Steuernagel (pastor

    luterano), Robinson Cavalcanti (bispo

    anglicano assassinado em 2012),

    Renato Becker (pastor luterano), e

    Suely Sperling (infelizmente no

    conheo).

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 11 parte (de 12)

    Inicialmente, o golpe militar contou com o apoio dos cristos, quase todos

    catlicos, protestantes e evanglicos. Mas, de certa forma, a ditadura militar

    realou e aprofundou a crise interna das igrejas entre grupos de tendncias

    libertrias e grupos conservadores. Essa tenso, aumentada pela situao

    poltica, levou a uma alterao e mesmo a uma inverso de papis: os

    catlicos, que eram dados ao poder, se afastaram do Governo; e os

    evanglicos, que eram independentes, comearam a ensaiar uma aproximao

    do Estado.

    Assim, do lado catlico surgiram lideranas, como D. Paulo Evaristo Arns

    (Arcebispo de So Paulo), D. Eugenio Salles (do Rio de Janeiro), D. Helder

    Cmara (de Olinda e Recife), D. Pedro Casaldliga (So Felix do Araguaia,

    MT), e muitos outros, que assumiram papel importante na defesa dos

    perseguidos polticos do poder e na denncia de crimes praticados pelo

    Governo militar. Eles fizeram mais do que isso, porque alguns padres se

    envolveram diretamente na resistncia ao regime, apoiando a guerrilha e foram

    igualmente perseguidos e torturados.

    J do lado evanglico, pela primeira vez, os grupos mais conservadores e

    pentecostais, que eram a maioria, assumiram uma postura pr-Estado,

    provavelmente pelos mesmos motivos de sempre: averso ao perigo do

    comunismo, influncia da teologia norte-americana e a tese da obedincia s

    autoridades... Afinal, cristo bom cristo capitalista, fundamentalista e

    submisso.

    claro que houve bispos catlicos pr-Governo e pastores evanglicos pr-

    democracia, mas isso no nega o fato de que houve um deslocamento dos

    evanglicos em direo ao poder do Estado. Houve at mesmo irmo traindo

    irmo e arrastando-os presena de governadores, como disse Jesus, crendo

    com isso fazer um bem.

    A posio da igreja catlica em defesa dos direitos humanos marcou a ruptura

    com o regime. J a posio dos lderes evanglicos em defesa do Estado e das

    autoridades constitudas marcou o incio de um longo namoro com o

    Governo...

  • Esse namoro ainda no deu casamento... mas a noiva t ficando cansada de

    esperar e continua sonhando com o futuro... sonhando com os dias de glria

    em que o Brasil ser evanglico, com presidente evanglico, deputados e

    senadores evanglicos e Constituio Federal Bblica.

    a Sndrome de Teodsio manifestando seus sintomas em outros arraiais...

  • Srie "Sndrome de Teodsio" - 12 parte (de 12: ltima)

    Bem para terminar essa novela da Sndrome de Teodsio na igreja protestante

    e evanglica brasileira, abordo o perodo que vem da abertura lenta, gradual e

    segura, ou seja, do governo Geisel (a propsito, um general protestante) em

    diante.

    Aquela aproximao com o Estado de que falei se deu pelas vias doutrinria e

    pragmtica: (a) Doutrinria porque crente tem de obedecer s autoridades

    constitudas. A nfase era milenarista, ou seja, Jesus vai voltar, queimar esse

    mundo e levar sua igreja para o cu. Poltica? Poltica coisa do diabo e

    crente que crente no se mete com poltica. E (b) via pragmtica, porque se

    a igreja cooperava com o Estado mantendo o rebanho docilizado e longe da

    poltica, a igreja, por sua vez, tambm poderia obter certos favores do Estado,

    como concesses de rdio (e, posteriormente, tambm de TV).

    Logo essa aproximao era poltica e enviesada, porque permitia que os

    grandes lderes se aproximassem do Estado, ao mesmo tempo em que

    mantinham o povo afastado.

    Nos anos 80, ocorreram dois grandes movimentos nas esferas da Sndrome de

    Teodsio: (a) na esfera do Estado, acabou o regime, o presidente Sarney

    assumiu a presidncia e a Constituinte formulou a nova Constituio em 1988.

    (b) na esfera da Religio, os evanglicos experimentaram um novo movimento:

    a onda neopentecostal, que, ao contrrio dos evanglicos tradicionais e

    pentecostais, no tinham nenhum pudor no trato com a coisa mundana, ou

    seja, com dinheiro, poder, mdia, enfrentamento de outros cultos, consumismo,

    Estado laico...

    Assim, os neopentecostais deflagraram uma corrida politico-eleitoral

    arrasadora, provocando todos os demais grupos evanglicos a uma carreira

    poltica desenfreada, cada um querendo seu naco de poder. A disputa pelas

    almas avanou para a busca de eleitores, para a guerra por espao na mdia,

    pelo mercado gospel, etc.

    Talvez a eleio de Collor tenha sido o ltimo projeto comum dos evanglicos,

    porque naquela poca poucos se atreviam a discordar da direita conservadora.

    Assim, Collor foi talhado para encarnar o discurso que a sociedade queria

  • ouvir... e a igreja evanglica o abenoou e profetizou sobre ele a uno

    divina.

    A igreja estava no limite da irresponsabilidade poltica: a Sndrome de Teodsio

    havia fincado tentculos nas ambies dos evanglicos.

  • Srie Sndrome de Teodsio teses finais

    Propostas para erradicar a Sndrome de Teodsio

    (1) Abrir mo do poder: como corpo de Cristo e instituio, a igreja no

    precisa do poder poltico, no precisa de representantes, nem de bancada

    evanglica. Obviamente, todo e qualquer cristo pode exercer sua cidadania e

    concorrer a qualquer cargo e votar em qualquer candidato, mas como

    indivduo, at mesmo como representante de setores da sociedade, mas no

    como representante da igreja.

    (2) Aceitar o Estado laico: significa que os cristos e os polticos que

    representam seus ideais podero manifestar suas opinies, mas

    democraticamente. Por exemplo: os cristos so contra a legalizao do

    aborto. Se o Brasil vier a colocar o tema em votao, os cristos manifestaro

    suas convices e participao do debate inclusive pela via poltica, no

    Congresso Nacional. Porm, como respeita a democracia e o estado laico,

    poder vir a ser voto vencido, porque as demais parcelas da sociedade no

    so obrigadas a viver pelas convices crists. Os cristos abriro mo de

    impor seus valores a uma sociedade que no deseja ser crist. Se isso

    acontecer, ns continuaremos amando nosso pas, dando assistncia s

    mulheres, tanto antes do aborto (preventivamente), como depois do aborto,

    porque algumas delas podero via a precisar ajuda espiritual para superar os

    traumas.

    (3) Evangelizar pelo amor: em um Estado em que a igreja no detm poder

    corporativo e no tenta controlar a sociedade, a nica forma de evangelizar

    ser aquela da igreja primitiva por meio do amor. Os cristos podero voltar

    simplicidade de viver um modo de vida alternativo. Por exemplo, se a

    sociedade legalizar o aborto, os cristos continuaro tendo seus filhos sem

    abort-los. Se a sociedade legalizar as drogas, os cristos continuaro

    abstendo-se de toda forma de droga. Se a sociedade legalizar o casamento

    gay, os cristos continuaro praticando o casamento tradicional. E assim por

    diante.

    (4) Crer que o evangelho de Jesus a fora mais poderosa em ao no mundo

    e na sociedade: O que vai acontecer se o Brasil legalizar o aborto, liberar as

  • drogas e reconhecer o casamento gay? E se isso, e se aquilo... ? Ora, o

    mesmo poder do Esprito Santo que capacitou a igreja primitiva a viver em

    meio ao imprio romano, tambm poder capacitar os cristos a serem luz do

    mundo e sal da terra. Ns teremos apenas o poder do evangelho e a Jesus

    Cristo como legtimo Senhor da igreja.

    (5) Se, por fim, a situao ficar insustentvel e os cristos comearem a ser

    perseguidos por causa do seu estilo de vida, e o Senhor da igreja permitir que

    tenhamos nossos direitos lesados, nossos templos fechados e nossa liberdade

    cassada,... bem... ento... se, mesmo vivendo o evangelho, sendo zelosos do

    bem, as pessoas nos causarem mal... ento porque o nosso Senhor Jesus

    Cristo estar nos chamando a segui-lo no caminho do martrio.

    Se o Senhor quiser livrar a igreja, Ele livrar. Se no quiser... Ainda assim, no

    lanaremos mo do poder do Estado. Mas, estaremos de volta onde o Senhor

    nos colocou: no meio de lobos, como ovelhas, cuja nica proteo Ele

    mesmo.