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SÃO PAULO, SÁBADO, DE MAIO DE www.readmetro.com BEBIDAS A té algumas semanas atrás, a nossa popular cachaça era conheci- da lá fora como “Brazi- lian Rum”, fato que, durante muito tempo, vinha incomo- dando especialistas, produto- res e exportadores. “É verda- de que muita gente costuma chamar qualquer destilado de cachaça, mas isso é tão absurdo quanto afirmar que uísque é a cachaça escoce- sa ou que a vodca é a cacha- ça russa”, argumenta Rena- to Figueiredo, autor do livro sobre o assunto “De Mardita a Bendita”. Mas as peculiari- dades próprias a esta brasi- leiríssima bebida acabam de ganhar o devido reconheci- mento pelos códigos comer- ciais de exportação a partir de um debate entre Dilma e Obama, iniciado no ano pas- sado. Muitas vezes confundi- da com aguardente, a produ- ção de determinados rótulos de cachaça inclui processos tão refinados quanto a de ou- tras nobres variedades al- coólicas, tais quais o vinho e o conhaque. Esse reconhe- cimento vinha sendo bata- lhado pelo governo brasilei- ro junto ao órgão reponsável, o TTB (Alcohol and Tobacco Tax and Trade), na verdade, desde 2001. Com a decisão, para se denominar cachaça no mercado internacional, a bebida deve ser fabricada no Brasil e seguir os critérios de produção e qualidades locais. Aproveitamos o momento propício para dissecar alguns pontos-chave da cultura ca- chaceira. METRO ÁGUA QUE ARDE Com o reconhecimento internacional, cachaça supera preconceito e passa a ser reconhecida em sua complexidade Líquido límpido é indicativo de pureza Rótulos produzidos em Salinas (MG), maior fabricante de cachaças artesanais do Brasil Onde beber Cachaçaria Paulista. R. Mourato Coelho, 593, Pi- nheiros, tel.: 3815-4756. Sex. e sáb., 21h às 4h. Oferece mais de 300 rótulos. Mocotó. Av. Nossa Senhora do Lore- to, 1100, Vila Medeiros, tel.: 2951-3056. Seg. a sáb., 12h às 23h. Dom., 12h às 17h. Oferece 290 rótulos. Bar Birô. R. Vergueiro, 1889, Paraí- so, tel.: 5081-4040. Seg. a sex., 11h às 2h. Dom., 11h às 4h. Oferece 130 rótulos. Jordão. R. Apucarana, 1452, Tatua- pé, tel.: 2671-0670. Seg. a sáb., a partir das 17h. Dom., 12h às 23h. Trabalha com ca- chaças premium e especiais. Diferenças básicas Segundo o especialista no assunto Renato Figueiredo, “toda cachaça é uma aguardente, mas nem toda aguardente é uma cachaça”. Isso porque o processo originário da aguardente pressupõe a destilação pura e simples da cana, a uma graduação alcoólica de 50%. Para ser considerada cachaça, a mesma aguardente precisa ter seu mosto fermentado do caldo destilado, gerando uma graduação alcoólica variante entre 38% e 48%. Cachacista vs. cachaçólogo Ainda é comum que se faça confusão entre os termos ca- chacista e cachaçólogo. Ex- plica-se: o cachaçólogo é so- bretudo um apaixonado que acaba por ajudar a promo- ver a cultura da bebida. O equivalente do enófilo para os vinhos. Já o cachacista é o sommelier da cachaça. Atua como um entendido nos quesitos químicos de produ- ção, variedades de cana, ma- deiras de envelhecimento, distinção de rótulos e nos preceitos de harmonização. Devotos da cachaça (Dirley Fernandes, 2009). O documentário faz uma in- cursão no tempo ao descre- ver a história e a devoção a esta célebre bebida – rela- tando o seu reconhecimento ao longo dos anos, sua pro- funda relação com a alma e a arte popular brasileira. Ho- je, às 18h, no Auditório. Estrada real da cachaça (Pedro Urano, 2009). Espécie de road movie es- paçotemporal, traça uma in- vestigação histórica, antro- pológica, socioeconômica e poética que procura, ao lon- go da chamada Estrada Real, mapear a presença da cacha- ça na cultura brasileira. Hoje, às 19h, no Auditório. A arte de degustar cachaças Workshop com o somme- lier de cachaça Leandro Batista, do restaurante Mocotó. Hoje, às 18h, na Comedoria. Sesc Pinheiros. R. Paes Le- me, 195, tel.: 3095-9400. Grátis. Programação com- pleta: sescsp.org.br Como degustar A coloração deve ser uni- forme no caso das cacha- ças envelhecidas, e cristalina no caso da prata. A boa cachaça prata deve apresentar aroma de produ- tos da cana. No caso das envelhe- cidas, o perfume fornece também algo do adocicado da madeira. Na hora de beber, prove lentamente doses peque- nas. O líquido precisa ficar por alguns segundos na boca. Qua- tro paladares proeminentes de- finem a boa cachaça: adocicado, ácido, amargo e salgado. Ao se desprender do lí- quido, o aroma, ou “bou- quet”, não pode arder os olhos. Ao engolir, a cachaça não po- de queimar profundamente. Quando o tom da cacha- ça dourada é de um ama- relo mais escuro, provavelmente ocorreu o uso de melado ou ca- ramelo para alteração do sabor. 6 1 2 3 4 5 Cachaça na Virada O Sesc Pinheiros preparou uma programação especial com o tema ‘Cachaça: um bem brasileiro’, para a edição deste ano da Virada Cultural. Veja os destaques: CINEMA GASTRONOMIA ANDRÉ PORTO/ METRO

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Até algumas semanas atrás, a nossa popular cachaça era conheci-da lá fora como “Brazi-

lian Rum”, fato que, durante muito tempo, vinha incomo-dando especialistas, produto-res e exportadores. “É verda-de que muita gente costuma chamar qualquer destilado de cachaça, mas isso é tão absurdo quanto afirmar que uísque é a cachaça escoce-sa ou que a vodca é a cacha-ça russa”, argumenta Rena-to Figueiredo, autor do livro sobre o assunto “De Mardita a Bendita”. Mas as peculiari-dades próprias a esta brasi-leiríssima bebida acabam de ganhar o devido reconheci-mento pelos códigos comer-ciais de exportação a partir de um debate entre Dilma e

Obama, iniciado no ano pas-sado. Muitas vezes confundi-da com aguardente, a produ-ção de determinados rótulos de cachaça inclui processos tão refinados quanto a de ou-tras nobres variedades al-coólicas, tais quais o vinho e o conhaque. Esse reconhe-cimento vinha sendo bata-lhado pelo governo brasilei-ro junto ao órgão reponsável, o TTB (Alcohol and Tobacco Tax and Trade), na verdade, desde 2001. Com a decisão, para se denominar cachaça no mercado internacional, a bebida deve ser fabricada no Brasil e seguir os critérios de produção e qualidades locais. Aproveitamos o momento propício para dissecar alguns pontos-chave da cultura ca-chaceira. METRO

ÁGUA QUEARDE

Com o reconhecimento internacional, cachaça supera preconceito e

passa a ser reconhecida em sua complexidade

Líquido límpido éindicativo de pureza

Rótulos produzidos em Salinas (MG), maior fabricante de cachaças artesanais do Brasil

Ondebeber

Cachaçaria Paulista.R. Mourato Coelho, 593, Pi-nheiros, tel.: 3815-4756. Sex. e sáb., 21h às 4h. Oferece mais de 300 rótulos.

Mocotó.Av. Nossa Senhora do Lore-to, 1100, Vila Medeiros, tel.: 2951-3056. Seg. a sáb., 12h às 23h. Dom., 12h às 17h. Oferece 290 rótulos.

Bar Birô.R. Vergueiro, 1889, Paraí-so, tel.: 5081-4040. Seg. a sex., 11h às 2h. Dom., 11h às 4h. Oferece 130 rótulos.

Jordão.R. Apucarana, 1452, Tatua-pé, tel.: 2671-0670. Seg. a sáb., a partir das 17h. Dom., 12h às 23h. Trabalha com ca-chaças premium e especiais.Diferenças

básicasSegundo o especialista no assunto

Renato Figueiredo, “toda cachaça é uma aguardente, mas nem toda aguardente é

uma cachaça”. Isso porque o processo originário da aguardente pressupõe a destilação pura e simples da cana, a uma graduação alcoólica

de 50%. Para ser considerada cachaça, a mesma aguardente precisa ter seu mosto fermentado do caldo destilado, gerando

uma graduação alcoólica variante entre

38% e 48%.

Cachacista vs. cachaçólogoAinda é comum que se faça confusão entre os termos ca-chacista e cachaçólogo. Ex-plica-se: o cachaçólogo é so-bretudo um apaixonado que acaba por ajudar a promo-ver a cultura da bebida. O equivalente do enófilo para os vinhos. Já o cachacista é o sommelier da cachaça. Atua como um entendido nos quesitos químicos de produ-ção, variedades de cana, ma-deiras de envelhecimento, distinção de rótulos e nos preceitos de harmonização.

Devotos da cachaça(Dirley Fernandes, 2009). O documentário faz uma in-cursão no tempo ao descre-ver a história e a devoção a esta célebre bebida – rela-tando o seu reconhecimento ao longo dos anos, sua pro-funda relação com a alma e a arte popular brasileira. Ho-je, às 18h, no Auditório.

Estrada real da cachaça(Pedro Urano, 2009). Espécie de road movie es-paçotemporal, traça uma in-vestigação histórica, antro-pológica, socioeconômica e poética que procura, ao lon-go da chamada Estrada Real, mapear a presença da cacha-ça na cultura brasileira. Hoje, às 19h, no Auditório.

A arte de degustar cachaças Workshop com o somme-lier de cachaça Leandro Batista, do restaurante Mocotó. Hoje, às 18h, na Comedoria.Sesc Pinheiros. R. Paes Le-me, 195, tel.: 3095-9400. Grátis. Programação com-pleta: sescsp.org.br

Comodegustar

A coloração deve ser uni-forme no caso das cacha-

ças envelhecidas, e cristalina no caso da prata.

A boa cachaça prata deve apresentar aroma de produ-

tos da cana. No caso das envelhe-cidas, o perfume fornece também algo do adocicado da madeira.

Na hora de beber, prove lentamente doses peque-

nas. O líquido precisa ficar por alguns segundos na boca. Qua-tro paladares proeminentes de-finem a boa cachaça: adocicado, ácido, amargo e salgado.

Ao se desprender do lí-quido, o aroma, ou “bou-

quet”, não pode arder os olhos.

Ao engolir, a cachaça não po-de queimar profundamente.

Quando o tom da cacha-ça dourada é de um ama-

relo mais escuro, provavelmente ocorreu o uso de melado ou ca-ramelo para alteração do sabor.

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4

5Cachaça na Virada

O Sesc Pinheiros preparou uma programação especial com o tema ‘Cachaça: um bem brasileiro’, para a edição deste ano da Virada Cultural. Veja os destaques:

CINEMA GASTRONOMIA

ANDRÉ PORTO/ METRO