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Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho: Geografia, História e Trabalho: 6o ano do Ensino Fundamental. São Paulo: Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (SDECT), 2011.il. (EJA – Mundo do Trabalho)

Conteúdo: Caderno do Estudante. ISBN: 978-85-65278-02-7 (Impresso) 978-85-65278-10-2 (Digital)

1. Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Ensino Fundamental 2. Geografia – Estudo e ensino 3. História – Estudo e ensino 4. Trabalho – Estudo e ensino I. Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia II. Título III. Série.

CDD: 372

FICHA CATALOGRÁFICASandra Aparecida Miquelin – CRB-8 / 6090

Tatiane Silva Massucato Arias – CRB-8 / 7262

A Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais secretarias do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegidos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.

*Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas neste material que não estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

Nos Cadernos do Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram verificados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados, após a data de consulta impressa neste material.

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Geraldo AlckminGovernador

Paulo Alexandre Barbosa Secretário

Luiz Carlos Quadrelli Secretário Adjunto

Antonio Carlos Santa Izabel Chefe de Gabinete

Juan Carlos Dans SanchezCoordenador de Ensino Técnico, Tecnológico e Profissionalizante

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Fundação do Desenvolvimento Administrativo – Fundap

Geraldo Biasoto Jr.Diretor Executivo

Lais Cristina da Costa Manso Nabuco de AraújoSuperintendente de Relações Institucionais e Projetos Especiais

Coordenação Executiva do Projeto José Lucas Cordeiro

Coordenação TécnicaImpressos: Selma VencoVídeos: Fernando Moraes Fonseca Jr.

Equipe Técnica e PedagógicaAna Paula Lavos, Dilma Fabri Marão Pichoneri, Jossélia Aparecida F. C. de Fontoura, Lais Schalch, Liliana Rolfsen Petrilli Segnini, Maria Helena de Castro Lima, Silvia Andrade da Silva Telles e Walkiria Rigolon

AutoresArte: Eloise Guazzelli. Ciências: Gustavo Isaac Killner. Geografia: Clodoaldo Gomes Alencar Jr., Edinilson Quintiliano dos Santos e Mait Bertollo. História: Fábio Barbosa. Inglês: Eduardo Portela. Língua Portuguesa: Walkiria Rigolon. Matemática: Antonio José Lopes. Trabalho: Maria Helena de Castro Lima e Selma Venco

Fundação Carlos Alberto Vanzolini

Antonio Rafael Namur MuscatPresidente da Diretoria Executiva

José Joaquim do Amaral FerreiraVice-presidente da Diretoria Executiva

Gestão de Tecnologias aplicadas à Educação

Direção da ÁreaGuilherme Ary Plonski

Coordenação Executiva do ProjetoAngela Sprenger e Beatriz Scavazza

Gestão EditorialDenise Blanes

Gestão de ComunicaçãoAne do Valle

Gestão do Portal

Luiz Carlos Gonçalves, Sonia Akimoto e

Wilder Rogério de Oliveira

Equipe de Produção

Assessoria pedagógica: Ghisleine Trigo Silveira

Editorial: Airton Dantas de Araújo, Célia Maria

Cassis, Daniele Brait, Fernanda Bottallo, Mainã

Greeb Vicente, Patrícia Maciel Bomfim, Paulo

Mendes e Sandra Maria da Silva

Direitos autorais e iconografia: Aparecido Francisco,

Beatriz Blay, Priscila Garofalo, Rita De Luca e

Roberto Polacov

Projeto gráfico-editorial: D’Livros Editora e

Distribuidora Ltda e Michelangelo Russo (Capa)

CTP, Impressão e Acabamento

Imprensa Oficial do Estado de São Paulo

Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia

Coordenação Geral do ProjetoJuan Carlos Dans Sanchez

Equipe TécnicaCibele Rodrigues Silva e João Mota Jr.

Concepção do programa e elaboração de conteúdos

Gestão do processo de produção editorial

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Caro(a) estudante,

É com grande satisfação que apresentamos os Cadernos do Estudante do Programa Educação de Jovens e Adultos (EJA) – Mundo do Trabalho, em aten-dimento a uma justa reivindicação dos educadores e da sociedade. A proposta é oferecer um material pedagógico de fácil compreensão, para complementar suas atuais necessidades de conhecimento.

Sabemos quanto é difícil para quem trabalha ou procura um emprego se dedi-car aos estudos, principalmente quando se retorna à escola após algum tempo.

O Programa nasceu da constatação de que os estudantes jovens e adultos têm experiências pessoais que devem ser consideradas no processo de aprendi-zagem em sala de aula. Trata-se de um conjunto de experiências, conhecimen-tos e convicções que se formou ao longo da vida. Dessa forma, procuramos respeitar a trajetória daqueles que apostaram na educação como o caminho para a conquista de um futuro melhor.

Nos Cadernos e vídeos que fazem parte do seu material de estudo, você perceberá a nossa preocupação em estabelecer um diálogo com o universo do trabalho. Além disso, foi acrescentada ao currículo a disciplina Trabalho para tratar de questões relacionadas a esse tema.

Nessa disciplina, você terá acesso a conteúdos que poderão auxiliá-lo na procura do primeiro ou de um novo emprego. Vai aprender a elaborar o seu currículo observando as diversas formas de seleção utilizadas pelas empresas. Compreenderá também os aspectos mais gerais do mundo do trabalho, como as causas do desemprego, os direitos trabalhistas e os dados relativos ao mercado de trabalho na região em que vive. Além disso, você conhecerá algumas estra-tégias que poderão ajudá-lo a abrir um negócio próprio, entre outros assuntos.

Esperamos que neste Programa você conclua o Ensino Fundamental e, pos-teriormente, continue estudando e buscando conhecimentos importantes para seu desenvolvimento e para sua participação na sociedade. Afinal, o conheci-mento é o bem mais valioso que adquirimos na vida e o único que se acumula por toda a nossa existência.

Bons estudos!

Paulo alexandre BarBosaSecretário de Estado de Desenvolvimento

Econômico, Ciência e Tecnologia

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Sumário

Geografia .........................................................................................................................7

Unidade 1 O estudo da paisagem 9

Unidade 2 A paisagem rural 19

Unidade 3 A paisagem urbana 41

Unidade 4 Planejamento urbano 59

História ........................................................................................................................... 73

Unidade 1 Por que estudar história? 75

Unidade 2 Capitalismo, trabalho e sociedade 85

Unidade 3 O feudalismo e a transição para o capitalismo 101

Unidade 4 Consumação do capitalismo 121

Trabalho .....................................................................................................................147

Unidade 1 O trabalho na sociedade contemporânea 149

Unidade 2 Para entender o mercado de trabalho 171

Unidade 3 Campo e cidade: diferentes mundos do trabalho? 185

Unidade 4 Organizando-se para a busca por emprego 205

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Caro(a) estudante,

Nesta sua volta aos estudos, no Programa EJA – Mundo do Trabalho você vai encontrar uma nova disciplina: Trabalho.

Por que Trabalho? Compreendemos que o trabalho tem uma grande impor-tância na vida de todos nós, e não apenas para nosso sustento. O trabalho ajuda a nos transformar como indivíduos – nos sentimos realizados quando preparamos um prato, fazemos um vestido, consertamos o motor do carro etc. Mas o traba-lho não é apenas um “mar de rosas”. Ele tem mudanças cada vez mais rápidas; quando a economia vai bem, muitas vagas surgem no mercado de trabalho, mas quando acontece uma crise, mesmo que em um país distante do nosso, o desem-prego também bate à porta.

A disciplina Trabalho no 6o ano do Ensino Fundamental – Ciclo II será divi-dida entre a teoria e a prática, ou seja, por um lado, você vai conhecer como é o trabalho hoje: o que é trabalho formal e trabalho informal? Quais são as diferen-ças entre os dois, se ambos são trabalho? Por que existe a chamada terceirização de que tanto ouvimos falar no rádio e na televisão?

Essas são algumas das questões que serão apresentadas e discutidas na Unidade 1.

A fim de aprofundar seus conhecimentos sobre o mercado de trabalho, a Unidade 2 traz informações que vão auxiliá-lo a “ler” as tabelas, os dados que informam sobre o mercado de trabalho. Você já ouviu falar sobre PIA ou PEA? Conhecendo o que essas siglas significam ficará mais fácil entender um anúncio de jornal como este: 10% da PEA no Estado de São Paulo fará curso de qualificação profissional.

Mas será que o mercado de trabalho é igual no campo e na cidade? Para responder a essa questão é importante conhecer as raízes da história do Brasil e reconhecer como a história foi transformando o País e a população por meio do trabalho. Esse será o tema a ser estudado na Unidade 3.

Por fim, na Unidade 4, você vai elaborar seu currículo. Mas, antes disso, você aprenderá a traçar um caminho para reconhecer o que você sabe fazer e, muitas vezes, ainda não parou para pensar nisso.

Boas aulas!

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O trabalho faz parte da vida de todos nós. A história do trabalho é a história da sobrevivência humana, pois o trabalho sempre foi rea-lizado com o objetivo de propiciar a subsistência das pessoas: seja caçando, pescando e colhendo frutas, seja produzindo e comerciali-zando mercadorias.

Você vai conhecer como o mercado de trabalho se organiza, ini-ciando o debate sobre os direitos que o emprego oferece aos traba-lhadores.

Para iniciar...

Fazem parte do mercado de trabalho homens e mulheres e, por essa razão, é importante discutir se as condições salariais, as promo-ções, as formas de ingresso são iguais entre os sexos.

• O que é o trabalho? Qual é sua importância na vida de homens e mulheres?

Natureza e trabalho

Partindo do princípio de que o trabalho transforma a natureza, você vai encontrar muitos exemplos de trabalho.

A tora se transforma em banco...

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O barro, em vaso...

A terra cultivada, em alimento...

Esses são alguns dos exemplos da ação do ser humano alterando a natureza em benefício próprio.

Karl Marx (1818-1883), filósofo e economista alemão, convi-veu com operários observando como produziam, como se relacionavam com o trabalho e com os patrões. No livro O capital (1867), esse autor afirma que o homem transforma a natureza, mas nesse processo transforma a si mesmo.

Por que o homem se transformaria por meio do trabalho?

Imagine-se fazendo uma mesa com uma tora de madeira para seu uso pessoal. O que você sentiria ao contemplar o objeto que produziu?

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História6o ano – Unidade 2

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Trabalho – Unidade 1

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Você provavelmente ficaria satisfeito com sua produção. Para fazer a mesa você precisou: pensar no que faria (planejar), cortar, lixar, pintar... Nesse momento você também se modificou, pois des-cobriu, por exemplo, uma forma mais prática para cortar a madeira, ou percebeu que pode trabalhar com pintura de madeira, pois o que fez ficou muito bom.

E se você fosse transformar a terra cultivada em alimento? Seria preciso conhecer a terra e a necessidade de adubação, as regras neces-sárias, as sementes ou mudas, a quantidade ideal de água e de luz do Sol para a planta vingar, o tempo de podar (ou não) e como podar para a muda continar viva e produtiva; e também saber qual a época do ano mais adequada para o plantio ou colheita, e como reproduzir as sementes e as mudas.

Ao refletir a respeito da produção da mesa e do cultivo da terra para transformá-la em alimento, você raciocinou e teve consciência do processo de trabalho.

Atividade 1 O trabalho transforma o ser humano?

1. Em grupo, pensem no trabalho que fazem hoje ou que já fizeram e discutam:

a) Esse trabalho transforma a natureza? De que modo?

b) Qual é o significado desse trabalho para você, além de pagar as contas do mês?

c) O trabalho transforma o ser humano? Por quê?

2. Organizem e apresentem as suas conclusões aos demais grupos.

Trabalho – Unidade 1

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As características do trabalho na atualidade

A fim de compreender as características do trabalho na atualidade é importante destacar alguns aspectos: seja para quem está à procura do primeiro emprego, para quem está à procura de outro trabalho ou até mesmo para aqueles que querem aprender uma nova ocupação e mudar de emprego.

Um dos assuntos mais importantes no mundo do trabalho diz res-peito ao tipo de contrato a que cada um é submetido. E a forma de contratação de cada trabalhador afeta diretamente a vida pessoal dele.

Quais são os tipos de contrato de trabalho?

Na condição de empregado, o trabalhador pode ser registrado ou não registrado.

Emprego formal

O empregado formal é aquele que possui registro em sua carteira profissional ou “Carteira de Trabalho”: Carteira de Trabalho e Previdência Social, expedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que é o documento obrigatório para que os cidadãos possam ser emprega-dos registrados. O emprego formal é conhecido popular-mente como “trabalho com carteira assinada”.

Na Carteira, a empresa deve sempre anotar, nas pági-nas próprias para o “Contrato de trabalho”, o nome da empresa, o número do CNPJ (que é o Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, do Ministério da Fazenda), o ende-reço da empresa, a espécie de estabelecimento (comércio, indústria etc.), o cargo para o qual o trabalhador está sendo contratado, o código da sua ocupação na Classifi-cação Brasileira de Ocupações (CBO), a data de admissão, o número do registro, assim como o número da folha ou ficha do Livro de Registro de Empregados, e a remunera-ção do trabalhador.

A remuneração especificada na Carteira de Traba-lho é o que chamamos salário bruto, ou seja, é o total do salário pago pelo empregador antes dos descon-tos referentes ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – responsável pelo pagamento da aposentado-ria, auxílio-doença etc. –, Imposto de Renda e outros,

Você sabia que a descrição de cada ocupação da CBO é feita pelos próprios trabalhadores?

Dessa forma, há a garantia de que as informações foram dadas por pessoas que trabalham no ramo e, portanto, conhecem bem a atividade profissional.Você pode conhecer esse documento na íntegra acessando o site da CBO, disponível em: <http://www.mtecbo.gov.br> (acesso em: 14 jan. 2012), e procurando como é feita a descrição da ocupação que exerce ou já exerceu.

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Trabalho – Unidade 1

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como o seguro-saúde. Algumas empresas pagam parte do custo men-sal desse seguro, ficando a outra parte por conta do funcionário.

Veja as tabelas dos principais descontos no salário:

Tabela 1 – Descontos do Imposto de Renda sobre o salário bruto

Base de cálculo mensal em R$ Alíquota % Parcela a deduzir do imposto em R$

Até 1 499,15 – –

De 1 499,16 a 2 246,75 7,5 112,43

De 2 246,76 a 2 995,70 15,0 280,94

De 2 995,71 a 3 743,19 22,5 505,62

Acima de 3 743,19 27,5 692,78

Tabela 2 – Descontos do INSS sobre o salário bruto

Tabela de contribuição dos segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso, para pagamento de remuneração.

A partir de 1o de janeiro de 2012

Salário de contribuição (R$) Alíquota para fins de recolhimento ao INSS (%)

Até R$ 1 174,86 8

De R$ 1 174,87 a R$ 1 958,10 9

De R$ 1 958,11 a R$ 3 916,20 11

Fonte: Ministério da Previdência Social. Disponível em: <http://www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.php?id=457>. Acesso em: 9 jan. 2012.

Exemplo 1:

• Salário bruto (salário que consta no contrato de trabalho) = R$ 750,00 mensais.

• Imposto de Renda = isento, pois o salário é inferior a R$ 1 499,15.

• Desconto do INSS = R$ 60,00 (equivalente a 8% de R$ 750,00, desconto padrão para os que ganham até R$ 1 174,86).

• Salário líquido = R$ 690,00 mensais.

Exemplo 2:

• Djanira é empregada doméstica e, a partir de março de 2012, rece-berá um salário bruto de R$ 690,00 (novo valor do salário-mínimo no Estado de São Paulo, anunciado em janeiro).

Fonte: Receita Federal. Alíquotas do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte – exercício de 2007 até o exercício de 2011. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/aliquotas/

ContribFont.htm>. Acesso em: 9 jan. 2012.

Matemática6o ano – Unidade 5

Trabalho – Unidade 1

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• Ela terá 8% de desconto de INSS e não será descontado o Im-posto de Renda.

• Para essa categoria profissional, não é obrigatório o recolhimen-to do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) pelo empregador, o que implica não ter direito ao seguro-desemprego e ao salário-família.

Agora, consulte as tabelas da página anterior e faça os cálculos dos descontos e do salário líquido:

Salário bruto = R$ 1 800,00 Desconto do INSS = Imposto de Renda = Salário líquido =

O conjunto das informações anteriormente citadas (nome da empresa, número do CNPJ, endereço da empresa, a espécie de esta-belecimento etc.) precisa constar obrigatoriamente na carteira de tra-balho, pois essas informações compõem o registro do emprego para o qual o trabalhador está sendo contratado. E, principalmente, porque só assim seus direitos serão assegurados.

Os direitos têm história

Os direitos vinculados ao trabalho têm uma longa história, especialmente na Europa, onde alguns países foram os primeiros a reconhecê-los.

É importante lembrar que, no Brasil, a conquista dos direitos vin-culados ao trabalho só aconteceu no século XX.

Observe a linha do tempo que indica a criação de pilares impor-tantes do direito do trabalhador brasileiro:

Fica a dica

As empregadas domésticas não têm a jornada de trabalho semanal regulamentada. Para mais informações sobre trabalhadoras domésticas, direitos trabalhistas, mobilizações das organizações feministas em prol da igualdade de direitos das domésticas diante dos demais trabalhadores, consulte os sites: <http://www.mte.gov.br/fi sca_trab/Cartilha.pdf> e <http://www.dieese.org.br/ped/sp/pedspMulher2010.pdf> (acesso em: 10 jan. 2012).

• Em 1o de maio de 1943, foi promulgada, pelo então presidente Getúlio Vargas, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que unia em uma única lei toda a legislação trabalhista do País.

1932 1936 1939 1943 1949

Instituição do salário-mínimo

Criação da Justiça do Trabalho

Consolidação das Leis do

Trabalho

Instituição do descanso

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• A Carteira de Trabalho existia informalmente desde 1891. Nela, os empregadores registravam algumas informações sobre os tra-balhadores. Foi só em 1932 que, por meio do Decreto no 21.175, esse documento foi instituído e com ele vários direitos foram ga-rantidos aos trabalhadores.

• A conquista do salário-mínimo, em 1936, significou para todos os trabalhadores do Brasil a garantia de que nenhum assalariado poderia receber valor mensal inferior ao estabelecido pela lei.

• O descanso semanal remunerado previa em lei o direito ao traba-lhador da recuperação da fadiga causada pelo trabalho.

Todos os direitos são muito importantes. Por essa razão, você vai estudá-los em etapas, aprofundando esse assunto a cada ano.

Atualmente, os principais direitos trabalhistas ou previdenciários do traba-lhador são:

• jornada semanal de trabalho: 44 horas, conforme definida pela Constituição Federal de 1988. Esse tema está sendo atualmente debatido, pois há forte pressão para que a jornada legal seja limitada a 40 horas semanais;

• Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS): criado em 1966, é formado pelo depósito mensal feito pelo empregador, junto à Caixa Econômica Federal, do valor que corresponda a 8% do salário dos trabalhadores;

• férias remuneradas de 30 dias: com o valor do salário normal acrescido de 1/3 desse valor. Por exemplo: se o salário é de R$ 600,00, o salário a receber no mês de férias será de R$ 800,00;

• 13o salário: gratificação anual, cujo valor mensal corresponde a 1/12 (um doze avos) do salário mensal do trabalhador. Aqui também o cálculo é semelhante. Se o salário é de R$ 600,00, e o empregado trabalhou de janeiro a dezembro, o 13o será o pagamento de outros R$ 600,00. Mas, no primeiro ano na empresa, o 13o salário será proporcional aos meses trabalhados: se foi contratado em julho receberá como 13o salário R$ 300,00;

• aviso-prévio em caso de demissão: comunicado de rescisão de contrato de trabalho com duração de, no mínimo, 30 dias, podendo, pelas novas regras, chegar a até 90 dias, de acordo com o tempo de serviço na empresa;

• adicionais salariais por periculosidade, por insalubridade: sempre que o assa-lariado exercer seu trabalho em condições perigosas e/ou nocivas à saúde, ele tem direito a receber mensalmente um percentual adicionado ao salário. Esse percentual varia conforme a classificação do grau de risco ao qual o tra-balhador é exposto: no caso de insalubridade, por exemplo, 10% para nível baixo, 20% para médio e até 40% para nível alto. Para saber se seu trabalho é considerado insalubre, pesquise o artigo 189 da CLT no site: <http://www.mte.gov.br> (acesso em: 9 jan. 2012);

• estabilidade de emprego por acidente de trabalho: se o trabalhador sofrer aci-dente de trabalho, ele terá garantia de emprego por 12 meses após o término do auxílio-doença;

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• estabilidade de emprego para a mulher em caso de gestação, após a confirma-ção da gestação acrescida de mais 5 meses após o parto; para licença-mater-nidade são previstos atualmente 120 dias;

• dispensa imotivada (sem justa causa): dá ao trabalhador o direito a receber adicional de 40% sobre o total das contribuições que a empresa efetuou ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço;

• direito ao pagamento de horas extras no valor estipulado pela lei;• aposentadoria por tempo de contribuição: 35 anos para homens e 30 anos

para mulheres;• aposentadoria por invalidez permanente, sempre que a perícia médica consi-

derar a pessoa incapaz para exercer o trabalho;• seguro-desemprego: quando o trabalhador for contratado por pessoa jurí-

dica e for demitido sem justa causa, ele tem direito a receber até 6 meses de assistência financeira paga pelo governo federal. O valor varia conforme a faixa salarial.

Atividade 2 Primeiro de Maio

1. Reúna-se em grupo e façam na biblioteca ou na sala de infor-mática uma pesquisa sobre o Primeiro de Maio, com base no roteiro a seguir:

• Por que esse dia é comemorado?

• O que aconteceu na história para que esse dia fosse lembrado?

• Como o Primeiro de Maio é comemorado na sua cidade?

• O que vocês acham dessa comemoração?

• Como os direitos sociais relacionados ao trabalho foram con-quistados?

2. Em uma folha avulsa, escrevam um texto sobre a pesquisa que fizeram e leiam para os colegas.

Emprego informalAs pessoas que trabalham e não possuem “carteira assinada”

fazem parte do grupo de trabalhadores com trabalhos informais. Essa denominação significa que o trabalhador, nessa condição, não tem assegurados os direitos listados anteriormente. Por esse motivo, o trabalho informal é chamado trabalho desprotegido, popularmente conhecido como “trabalho precário”.

Os empregos informais podem estar presentes em várias situações:

• nas empresas que contratam sem registro, mas os trabalhadores exercem atividade regular, diária e sem nenhum direito;

• nas casas que empregam trabalhadores domésticos por mais de três dias por semana e não registram esses trabalhadores;

Fica a dica

Você pode conhecer a CLT na internet visitando o site: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm> (acesso em: 9 jan. 2012). Nesse site, você poderá tirar suas dúvidas sobre seus direitos como trabalhador.

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• no caso de outros trabalhadores, a exemplo dos camelôs, que, em geral, trabalham nas ruas, fora do estabelecimento, para um gran-de distribuidor de mercadorias e sem nenhum tipo de vínculo ofi-cial. Nessa situação, se tiverem a mercadoria apreendida pela po-lícia, são obrigados a repô-la às suas próprias custas.

Você precisa prestar atenção nisso: não existe contrato de traba-lho sem carteira assinada! As empresas podem registrar por tempo de experiência, ou seja, o trabalhador tem um contrato de até 90 dias. Durante esse período, os direitos são os mesmos que os atribuídos a um trabalhador cujo emprego é formal. O empregador está desobri-gado apenas de pagar o aviso-prévio ao contratado.

O não registro, inclusive no período de experiência, contraria a lei. Se o trabalhador não é registrado durante esse período de expe-riência, o tempo para aposentadoria, 13o salário, férias e Fundo de Garantia não será computado.

No emprego informal, o tempo de trabalho sem registro não será considerado para efeito de aposentadoria. Portanto, o trabalhador precisará compensar esse período trabalhando em dobro para com-pletar o tempo necessário obrigatório para obter a aposentadoria. Por exemplo, se você trabalhou cinco anos sem registro, consequen-temente não recolheu INSS nesse período. Você precisará traba-lhar cinco anos a mais registrado para poder pedir a aposentadoria quando for o momento.

Além do tempo para aposentadoria, sem o recolhimento do FGTS durante 5 anos o trabalhador vai perder aproximadamente 5 salá-rios, um para cada ano de trabalho, no total depositado no fundo. E, ainda, se a demissão ocorrer sem justa causa, também não terá direito a receber a multa de 40% do valor do total dos depósitos ou recolhimentos ao FGTS sobre o período. Se forem 5 anos de trabalho, 40% seriam equivalentes a mais 2 anos, o que corresponde a cerca de mais 2 salários. Essa situação aqui exemplificada acontece quando a empresa não registra o trabalhador a partir do primeiro dia de traba-lho, conforme determina a lei.

Essa situação é ainda mais grave quando, além desses direitos, existem outros que, por meio dos sindicatos, são negociados entre as empresas e os trabalhadores, como vale-refeição, vale-alimentação, seguro-saúde, seguro de vida, auxílio-creche etc.

Daí a importância dos sindicatos dos trabalhadores: são eles que representam os trabalhadores, que negociam o reajuste salarial

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anualmente, a Participação nos Lucros e Resultados (conhecida como PLR) e que fiscalizam o pagamento dos valores devidos aos emprega-dos nas demissões (chamadas de rescisão contratual). Mas o sindicato só poderá agir se o trabalhador tiver emprego formal, ou seja, com registro em carteira.

Você sabia que o trabalhador autônomo também pode contribuir com o INSS?

Para isso, é necessário fazer um registro em uma agência da Previdência Social na cidade onde mora. O papel dos sindicatos será estudado detalhadamente no

Caderno do Estudante do 8o ano.

Atividade 3 Trabalho formal ou informal?

1. Observe bem as figuras a seguir e atente para todos os detalhes: local de trabalho, o que o trabalhador faz, vestimenta, material de trabalho etc.

2. Relacione na coluna ao lado da imagem quais são os direitos que você acha que este trabalhador ou trabalhadora tem e justifique sua resposta.

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3. Escolha uma das imagens do exercício anterior, dê um nome para o trabalhador ou a trabalhadora que está nela e escreva a história desse personagem. Solte a imaginação e escreva a idade com que ele começou a trabalhar, se tem família, se estudou ou não, o que fez para conseguir esse emprego, como é o trabalho que ele faz na foto etc.

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Dê um título para sua história.

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E o estágio? É trabalho formal ou informal?

Estágio é uma forma de contratação que foi modificada por meio da Lei federal no 11.788, de 25 de setembro de 2008. Essa lei foi muito importante para conter abusos no momento da contratação. Muitas empresas demitiam trabalhadores antigos e contratavam esta-giários, por causa da grande redução no pagamento de impostos. Dessa forma, quem perdia era o trabalhador, que ficava desempre-gado; mas também o estagiário, que, muitas vezes, deixava de apren-der algo relacionado ao que estava estudando.

Assim, a lei agora diz que estágio é:

[...] o ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produ-tivo de educandos.

Podem ser estagiários:

[...] estudantes regularmente matriculados e frequentando o ensino regular, em instituições de Educação Superior, de Educação Profis-sional (técnico), de Ensino Médio, da Educação Especial e dos anos finais do Ensino Fundamental, na modalidade profissional da Educa-ção de Jovens e Adultos, a EJA [...]. (ênfase adicionada)

Os dados da informalidade no trabalho

Lemos ou ouvimos diariamente que a economia no Brasil está aquecida. Isso significa que o poder de compra cresceu. Portanto, a produção precisa aumentar e, com isso, um maior número de vagas de trabalho é gerado.

Mesmo com a economia aquecida, há uma parte dos trabalha-dores que ainda se encontra na informalidade, ou seja, sem direitos trabalhistas no Brasil.

Veja os números:

Ano Trabalho informal Trabalho formal

2001 57,9% 37,9%

2009 51,5% 44,2%

Observação: a tabela não contempla os dados relativos à categoria Empregador.

Fonte: IPEA. Comunicado no 88. Características da formalização do mercado de trabalho brasileiro entre 2001 e 2009, 27/04/2011. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/

comunicado/110427_comunicadoipea88.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2012.

Fica a dica

Para saber mais sobre o tema Estágio, acesse o site <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm> (acesso em: 9 jan. 2012), leia o texto completo da Lei no 11.788 e conheça os direitos do estagiário.

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Como mostra a tabela, mais da metade dos trabalhadores em 2009 eram informais. Esse percentual (51,5%) correspondia, nesse ano, a quase 48 milhões de pessoas. Ou seja:

• 47,79 milhões de pessoas no Brasil atuavam no mercado informal em 2009.

Esse número equivale à população do Estado de São Paulo (cerca de 41 milhões de pessoas) somada ao total da população da cidade do Rio de Janeiro (cerca de 6 milhões de pessoas). Isso significa muita gente trabalhando sem direitos vinculados ao trabalho.

Atividade 4 Pesquisando o mercado de trabalho

Você e seus colegas vão fazer uma sondagem sobre o mercado de trabalho.

1. Em grupo, organizem uma pesquisa que poderá ser realizada com colegas da escola, com a família ou no bairro onde moram. Cada integrante do grupo fará, ao menos, três entrevistas.

2. Organizem um roteiro de questões:

• Sexo, idade, cor, escolaridade.

• A pessoa entrevistada está trabalhando atualmente?

• Se sim: É registrada?

• Se não é registrada, há quanto tempo está desempregada? Costuma fazer trabalhos avulsos (“bicos”)? Recebe o seguro- -desemprego?

Incluam outras questões que considerarem importantes.

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3. Analisem as informações que coletaram:

a) A maioria dos entrevistados está trabalhando?

b) Mais homens ou mais mulheres estão trabalhando?

c) A maioria faz parte do mercado formal ou informal de trabalho?

d) Mais homens ou mais mulheres estão no mercado formal? Por que, na opinião do grupo, isso acontece?

e) O que descobriram? Há mais desempregados entre os mais jovens ou entre os mais velhos? Por que, na opinião do grupo, isso acontece?

4. Organizem as informações e apresentem aos demais grupos.

A Lei Áurea acabou com a escravidão?

É interessante observar, na história do Brasil, o que se mantém igual ao passado e o que foi mudando com o decorrer dos anos.

A escravidão existiu no Brasil por mais de 300 anos. A Lei Áurea, sancionada em 13 de maio de 1888, pela Princesa Isabel, é um marco importante nessa história, pois concedeu liberdade aos escravos africanos.

Contudo, ainda hoje há situações de trabalho que são consideradas semelhantes às vividas na escravidão. É o trabalho escravo e semies-cravo, em que trabalhadores brasileiros tiveram e têm sua condição revelada pela ação dos fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego.

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Atividade 5 Trabalho escravo ainda existe?

1. Em grupo, discutam: o que é trabalho escravo?

2. Na opinião do grupo: existe nos dias de hoje trabalho escravo? Justifiquem.

3. Se consideraram que existe: como são esses trabalhos, em quais setores eles existem?

4. Se consideraram que não existe: por que não existe? O que foi preciso acontecer para colocar um fim nessa situação?

5. Organizem uma apresentação para os colegas com um resumo sobre a opinião do grupo.

Trabalho por conta própria

Existe ainda outra situação de trabalho bastante comum: o traba-lho realizado por “conta própria”.

Muitos trabalhadores conseguem gerar renda trabalhando por conta própria, em funções para as quais se qualificaram ou, por vezes, justamente por não terem alguma qualificação que permitisse que fos-sem empregados. Esse é um cenário muito comum na área de presta-ção de serviços e no comércio.

Entre as pessoas que trabalham por conta própria, existem pedrei-ros, eletricistas, diaristas, cuidadoras de crianças ou idosos e vendedo-res porta a porta (como as revendedoras de cosméticos).

Você sabia que o governo federal criou, em 2008, uma lei para formalizar o trabalho daqueles que trabalham por conta própria?

Foi criada a figura do Microempreendedor Individual (MEI), para permitir que esses trabalhadores sejam menos prejudicados pela informalidade. Uma vez cadastrados, os trabalhadores podem recolher o INSS e ter direito à aposentadoria e a outros benefícios da Previdência Social.

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Atividade 6 Mapeando o trabalho por conta própria

1. Faça um levantamento na turma sobre quem já trabalhou ou tra-balha por conta própria.

2. Depois de feito o levantamento, peça a quem já trabalhou ou tra-balha por conta própria que dê seu testemunho para os colegas:

a) Por que trabalha ou trabalhou nessa condição?

b) Há quanto tempo ou por quanto tempo?

3. No quadro a seguir, indique as vantagens e as desvantagens em cada caso:

Emprego com carteira assinada (trabalho formal)

Vantagens Desvantagens

Trabalho por conta própria (trabalho informal)

Vantagens Desvantagens

Emprego sem carteira assinada (trabalho informal)

Vantagens Desvantagens

Com base no levantamento que você fez, é possível ter uma ideia de quais são as atividades que permitem que uma pessoa trabalhe sem depender diretamente de um único empregador.

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O trabalho por conta própria foi bastante estimulado pelas polí-ticas públicas quando o desemprego cresceu e a situação econômica do País levou as empresas, de forma geral, a demitir e a diminuir o número de postos de trabalho como forma de redução de custos, para fazer frente à forte concorrência que se estabeleceu no mundo. Foi uma crise de emprego deflagrada nos anos 1970, em função da crise do petróleo, e agravada até os anos 1990. Nesse período, houve uma mudança profunda no que se chama “base técnica do trabalho”, que passou a ser a microeletrônica.

Para melhor compreender o significado dessa situação, pense no surgimento dos computadores. Como eram alguns trabalhos antes e depois dessa nova tecnologia?

Essas alterações podem ser mais bem entendidas se você atentar para as situações cotidianas.

Atividade 7 As mudanças no trabalho

1. Em grupo, selecionem uma situação de trabalho que vocês perce-bem que sofreu mudanças profundas em pouco tempo. Por exem-plo: ir ao banco para pagar uma conta de água. O trabalho do bancário é o mesmo de dez anos atrás? Se não é mais o mesmo, o que mudou?

2. Façam esse mesmo exercício escolhendo outra situação de traba-lho e detalhem as mudanças ocorridas.

3. Compartilhem com a turma as conclusões a que chegaram.

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A terceirização

Outra forma de trabalho na qual os trabalhadores têm perdido seus direitos surgiu há alguns anos e ganhou força especialmente nas últimas décadas. Trata-se da terceirização, na qual o trabalho é for-mal, mas há perda significativa de direitos.

Por exemplo: os bancários. Essa categoria profissional, graças à ação dos sindicatos, conquistou direitos que vão além do que consta na CLT. Entre eles, estão o valor do vale-refeição, seguro-saúde, piso salarial etc. Por isso, os bancos, principalmente a partir da década de 1990, passaram a terceirizar serviços e demitir os bancários.

Você deve estar pensando: mas alguém vai continuar fazendo o mesmo serviço? Sim, vai. No entanto, as empresas que passam a pres-tar serviços aos bancos vão contratar pessoal com salários menores e, como não são bancários, não possuem os mesmos direitos que os demais trabalhadores da categoria. Assim, o serviço prestado pode ser mais barato e, com isso, os bancos reduzem seus custos.

A “dona de casa” trabalha?

Por que é comum que o trabalho realizado em casa (arrumar, lavar, passar, cozinhar, cuidar das crianças, idosos e acamados) seja função e responsabilidade exclusiva das mulheres? Você já ouviu falar em “dono de casa”? Você já pensou sobre quantas diferenças existem entre homens e mulheres na nossa sociedade? Que diferenças são essas?

Atividade 8 Trabalho feminino I

1. Faça com sua turma um levantamento sobre o papel da mulher na família e no trabalho realizado em empresas.

2. Com base no levantamento feito no exercício 1, anote no quadro a seguir as conclusões do grupo:

Família Empresa

Cuida das crianças Ganha salário mais baixo

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É importante refletir sobre a relação entre ser mulher e a posição que cabe a ela na família e nas empresas.

Seria o sexo um “destino biológico” que impõe à mulher sua con-dição de responsabilidade na família, por exemplo?

3. Leia alguns versos da canção Cotidiano, de Chico Buar que. Neles, o cotidiano da mulher no espaço privado é retratado.

[Pela manhã...]

Todo dia ela faz tudo sempre igual:Me sacode às seis horas da manhã,Me sorri um sorriso pontualE me beija com a boca de hortelã

[No final do dia...]

Seis da tarde, como era de se esperar,Ela pega e me espera no portãoDiz que está muito louca pra beijarE me beija com a boca de paixão

HOLANDA, Chico Buarque de © Marola Edições Musicais Ltda.

O trabalho realizado no espaço privado, ou seja, nos lares, muitas vezes não é reconhecido e acaba sendo uma sobrecarga de atividade para as mulheres, especialmente para aquelas que acumulam trabalho remunerado e trabalho no espaço doméstico.

Essa situação está, pouco a pouco, sendo alterada. Mas ainda é necessária uma conscientização da sociedade sobre a equivalência de papéis entre homens e mulheres.

4. O que você pensa sobre isso: o trabalho da dona de casa é impor-tante ou não? Por quê?

E nas empresas? É mais fácil um homem ou uma mulher ser promovido?

No Brasil atual, ainda há uma enorme desigualdade de acesso a bons postos de trabalho. Há parcelas da população que têm muita dificuldade em ascender a cargos, funções e, consequentemente, a salários mais elevados. As mulheres, de modo geral, constituem um desses segmentos.

Pense em como e por que isso acontece. Você acha que essa situa-ção ainda continua acontecendo?

Ao pensar em como e por quê, pense também no que pode ser feito, e por quem, para que essa situação seja modificada.

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Atividade 9 Trabalho feminino II

1. Leia o texto a seguir.

Mulheres com mais anos de estudo e com salários menores

Responda rápido: quem ganha os melhores salários? O homem ou a mulher? Se respondeu o homem, sua resposta está correta!

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o mesmo que faz o Censo da população, faz estudos sobre o mercado de trabalho e constatou que em dez anos – entre 1998 e 2008 – as mulheres passaram a participar mais do mercado de trabalho.

As mulheres possuem maior escolaridade que os homens: em 2008, as mulhe-res ocupadas (nas cidades) tinham, em média, 9,2 anos de estudo, e os homens, 8,2 anos. No entanto, estudar durante mais tempo não garantiu às mulheres assumir cargos de destaque, tampouco ganhar salários maiores.

A história do trabalho feminino nos conta que, tradicionalmente, as mulheres recebem quase 30% menos que os homens. E, se a mulher for negra, os salários são ainda menores.

Essa é uma pequena parte da história das desigualdades no País, e precisamos refletir sobre ela.

2. Em grupo, respondam às questões a seguir:

a) Qual é a ideia principal do texto?

b) Na opinião do grupo, quais são as razões que explicam essas diferenças na sociedade?

3. Depois de responderem às questões do exercício anterior, organi-zem uma apresentação criativa para a turma sobre as conclusões a que chegaram.

CensoÉ uma pesquisa realizada com o intuito de levantar diversos dados sobre determinada população. O Censo Demográfico, realizado pelo IBGE a cada dez anos, é a única pesquisa que visita todos os domicílios brasileiros para conhecer a situação de vida da população em cada um dos municípios do País. Com base nos resultados do Censo é possível acompanhar o crescimento, a distribuição geográfica e a evolução de outras características da população ao longo do tempo.

Fonte: IBGE. Guia do Censo, 2010.

Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/

presidencia/noticias/guia_do_censo_2010_

apresentacao.php>. Acesso em: 9 jan. 2012.

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Você estudou

Nesta Unidade, foi abordado o tema mercado de trabalho e suas divisões entre trabalho formal e informal.

Você deve ter percebido que o trabalho informal é desprovi-do de direitos trabalhistas e previdenciários. É o chamado tra-balho desprotegido, popularmente conhecido como “trabalho precário”.

Foram apresentadas, ainda, as mudanças que ocorreram no trabalho com a microeletrônica, o crescimento dos empregos por conta própria e a terceirização, com impacto na perda de direitos dos trabalhadores.

Você também deve ter percebido que há ainda muitas dife-renciações entre o papel do homem e o da mulher na sociedade. Estas estão presentes tanto nas famílias quanto nas empresas. Não há, frequentemente, igualdade na atribuição de tarefas do-mésticas entre homens e mulheres, ficando a casa, os filhos, os doentes os idosos sob a responsabilidade das mulheres. Nas em-presas, as mulheres recebem salários quase 30% menores que os dos homens.

Pense sobre

Uma situação de trabalho informal e desprotegido leva a condi-ções precárias de vida? De que forma essa precariedade se expressa na vida de uma parcela da população?

O papel da mulher na sociedade é valorizado? Por quê?

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Trabalho – Unidade 1

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Você estudou, na Unidade 1, algumas características do trabalho no mundo capitalista de hoje: como o trabalho formal foi reduzido, dando lugar à informalidade e aos trabalhos com contratos precários; e a expansão dos trabalhos por conta própria.

Esta Unidade vai ajudá-lo a entender como é o mercado de traba-lho na região em que você reside. Por exemplo, identificar que tipo de emprego ou trabalho está crescendo na localidade; qual é o perfil das pessoas que as empresas estão buscando; como escolher uma carreira profissional, pensando nas ocupações que vão ganhar espaço nos pró-ximos anos, entre outros aspectos.

Para tanto, você vai estudar:

• quais são as principais informações disponíveis sobre o mercado de trabalho e como compreendê-las;

• onde e como pesquisar e entender os números que nos dão a di-mensão do emprego e do desemprego em uma região, bem como outros dados que nos ajudam a “ler” (compreender) o mercado de trabalho regional.

Para iniciar...

Em dupla, discutam o que vocês sabem sobre o mercado de traba-lho da cidade onde moram. Procurem responder:

• Quais são as empresas que mais empregam na cidade onde vocês moram?

• Quem são os empregados contratados por esses empregadores? Mais homens ou mais mulheres? Mais jovens ou mais trabalhado-res com mais de 30 anos de idade?

• Na opinião da dupla, os empregadores dão preferência à cor do candidato?

• Quais empresas/lugares estão procurando pessoas para empregar?

• Há muitos desempregados no município? Qual a ordem de gran-deza do número de desempregados?

2 para entender O merCadO de trabalhO

História6o ano – Unidade 2

Matemática6o ano – Unidade 4

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Indicadores

As informações sobre o mercado de trabalho que serão tratadas nesta Unidade também são chamadas indicadores.

Veja um exemplo:

Um dos indicadores usados pelos profissionais de saúde para saber como estão as condições de saúde da população é a mortalidade infantil. A taxa de mortalidade infantil corresponde à “relação entre os óbitos de menores de 1 ano residentes numa unidade geográfica, num determinado período de tempo (geralmente um ano), e os nasci-dos vivos da mesma unidade nesse período” (Fonte: Fundação Seade. Perfil Municipal. Disponível em: <http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/notas.php>. Acesso em: 9 jan. 2012).

Dito de outra forma, a taxa de mortalidade infantil corresponde ao número de crianças que nasceram vivas, mas morreram antes de completar 1 ano dividido pelo número total de crianças nascidas vivas no mesmo período e lugar. O número resultante é multiplicado por 1 000, porque o cálculo da mortalidade é feito considerando cada mil nascidos vivos.

Assim, por exemplo, quando falamos que a taxa de mortalidade infantil no Estado de São Paulo era de 11,86 em 2010, estamos afir-mando que a cada 1 000 nascidos vivos no ano de 2010 no Estado de São Paulo, 11,86 morreram.

Indicadores São medidas (em geral expressas em quantidades/valores) que revelam determinada situação social ou econômica. Eles podem representar uma única informação ou uma relação entre diferentes informações.

Número de nascidos vivos que morreram antes de completar 1 ano,

em 2010, no Estado de São Paulo

Total de nascidos vivos em 2010, no Estado de São Paulo

x 1 000

Os indicadores são ferramentas para que os governantes e gesto-res das políticas públicas possam:

• tomar decisões e/ou planejar mudanças nas políticas sociais e/ou econômicas;

• acompanhar ou monitorar determinada situação ou política;

• comunicar situações ou decisões para o público em geral.

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Trabalho – Unidade 2

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Já a população pode usar esses mesmos indicadores para acom-panhar a situação (ou cenário) social e econômica e entender por que uma ou outra política foi proposta e implementada (colocada em prá-tica). Assim, cada cidadão poderá tomar decisões em relação ao seu futuro e, mais do que isso, participar das decisões dos governantes e opinar sobre elas.

Atividade 1 Refletindo sobre o uso dos indicadores

1. Leia a seguir o trecho de uma matéria, publicada no site do Metrô de São Paulo, sobre uma pesquisa que a instituição realiza regu-larmente.

Companhia do Metropolitano de São Paulo. Disponível em: <http://www.metro.sp.gov.br/empresa/pesquisas/origem/teorigem.shtml>. Acesso em: 9 jan. 2012.

O Metrô está realizando a Pesquisa Origem e Destino com milhares de cidadãos dos 39 municípios da Grande São Paulo

A Pesquisa Origem e Destino, comumente chamada de “Pesquisa O/D”, tem por objetivo coletar dados e informações dos deslocamentos da Região Metropolitana de São Paulo, sendo um instrumento vital para o planejamento de transporte, pois fornece dados para o conhecimento da natureza dos deslo-camentos da população em um aglomerado urbano, incluindo aí sua situação socioeconômica. Da interação dessas informações resulta o padrão das via-gens, que é definido pela distribuição dos deslocamentos segundo as origens, os destinos, os modos de transporte utilizados, os motivos e os horários da realização.

Com a Pesquisa O/D é possível identificar as principais viagens diárias das pessoas, conforme o motivo e o modo de transporte utilizado. Essas viagens, quando mapeadas, produzem uma fotografia dos fluxos na cidade. A comparação desses fluxos com a rede de linhas de transporte e a rede de vias existentes permite identificar as carências no atendimento da demanda de transporte e, portanto, fundamentar as propostas para a ampliação dessas redes.

Essa pesquisa permite, ainda, estabelecer relações quantitativas entre as via-gens realizadas e diversas outras variáveis, como características socioeconômicas da população e aspectos físicos da ocupação urbana, de forma a estabelecer pro-jeções futuras das necessidades de viagens das pessoas.

Os resultados da Pesquisa O/D são também úteis para outros estudos urba-nos. As viagens detectadas pela pesquisa apresentam relação direta com a quantidade de atividades e de população, dando indicações sobre a intensidade do uso do espaço, que é informação de grande interesse para o planejamento urbano.

No Brasil, a primeira Pesquisa O/D foi realizada na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP em 1967, visando inicialmente a obtenção de dados para os estudos e projetos da rede básica do Metrô. A partir de então, tornou-se instru-mento essencial de planejamento urbano na coleta de dados sobre o padrão de mobilidade da população, sendo realizada na RMSP a cada dez anos.

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2. Em dupla, identifiquem no texto três razões pelas quais o Metrô realiza essa pesquisa.

3. Agora, façam uma discussão coletiva sobre a seguinte questão: Como as informações e os indicadores obtidos por meio dessa pesquisa podem auxiliar a população a participar da definição de novas linhas de transporte metropolitano?

Decifrando siglas no cotidiano

Em nosso dia a dia, utilizamos muitas siglas, não é mesmo?

Às vezes, um texto apresenta tantas siglas que é difícil descobrir o que ele quer dizer. Veja o exemplo a seguir.

Você sabia que todo indicador é uma informação, mas nem toda informação é um indicador?

Indicadores têm finalidade específica: medir e mostrar, em valores, resultados relevantes sobre determinado assunto. Já as informações podem ter várias finalidades: entreter, divertir, ensinar etc.

MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto

CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo

ZL – Zona Leste

AL – Assembleia Legislativa

MP – Ministério Público

Quando se quer compreender algumas informações sobre o traba-lho, às vezes, acontece a mesma coisa.

Uma liderança do MTST procurou a CDHU para discutir a situação do movimento na ZL. Em seguida, parte dos representantes do movimento foi para a AL acompanhar uma audiência pública sobre o assunto; outros foram à sede do MP verificar o posicionamento desse órgão.

Se você não conhecer o significado de pelo menos algumas des-sas siglas, ou não conhecer o contexto em que a frase foi produzida, fica difícil dar um sentido a essa informação, não é? O que é possí-vel fazer para entender o assunto abordado no texto?

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PIA, PEA... Que indicadores são esses?

O trabalho é condição para a sobrevivência. Temos, como se diz popularmente, que “ganhar a vida”. Para algumas pessoas, isso acon-tece mais cedo; para outras, mais tarde.

Mas, independentemente da idade em que começamos a traba-lhar, sabemos que esse momento acaba chegando. O que a maioria das pessoas não sabe é que há uma “definição oficial” da idade a partir da qual as pessoas são consideradas capazes de trabalhar ou de exercer atividade remunerada.

No Brasil, essa idade é definida em 10 anos, isto é, todo cidadão com 10 anos ou mais faz parte da População em Idade Ativa (PIA).

Atividade 2 Criança deve trabalhar?

1. Discuta com o grupo as questões a seguir:

a) A idade mínima para começar a trabalhar varia de país para país. Para o grupo, uma criança com 10 anos está apta a tra-balhar? Começar a trabalhar com 10 anos é normal? Por quê?

b) Você trabalha? Com que idade começou a trabalhar?

c) No Brasil, o trabalho é proibido para pessoas menores de 16 anos. Entre 14 e 16 anos, só podem trabalhar aqueles que estiverem exercendo atividades como aprendizes (ou seja, que estejam aprendendo uma ocupação). Mas, se o trabalho infan-til é proibido, por que crianças de 10 anos são contadas nas estatísticas?

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2. Para inspirar a reflexão, leiam a letra da canção Criança não tra-balha, do Grupo Palavra Cantada, e, se possível, ouçam-na.

Criança não trabalha

Arnaldo Antunes e Paulo Tatit

Lápis, caderno, chiclete, piãoSol, bicicleta, skate, calçãoEsconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusãoBola, pelúcia, merenda, crayon

Banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombomTanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pãoGiz, merthiolate, band-aid, sabãoTênis, cadarço, almofada, colchãoQuebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelãoCriança não trabalha, criança dá trabalhoCriança não trabalha...Lápis, caderno, chiclete, piãoSol, bicicleta, skate, calçãoEsconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusãoBola, pelúcia, merenda, crayon

Banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombomTanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pãoCriança não trabalha, criança dá trabalhoCriança não trabalha, criança dá trabalhoGiz, merthiolate, band-aid, sabãoTênis, cadarço, almofada, colchãoQuebra-cabeça, boneca, peteca, botão, pega-pega, papel, papelãoCriança não trabalha, criança dá trabalhoCriança não trabalha, criança dá trabalho1, 2 feijão com arroz3, 4 feijão no prato5, 6 tudo outra vez...Lápis, caderno, chiclete, piãoSol, bicicleta, skate, calçãoEsconderijo, avião, correria, tambor, gritaria, jardim, confusãoBola, pelúcia, merenda, crayon

Banho de rio, banho de mar, pula-sela, bombomTanque de areia, gnomo, sereia, pirata, baleia, manteiga no pão

CD Canções Curiosas – Palavra Cantada e Rosa Celeste (Universal Publishing).

3. Organizem uma apresentação criativa para os colegas.

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Emprego e desemprego

Atualmente, mesmo fazendo parte da PIA, a maioria das crianças no Brasil não trabalha. No entanto, o trabalho infantil ainda registra números elevados, ainda que venha diminuindo gradativamente no País, concentrando-se em algumas regiões.

Para indicar quem está trabalhando ou se encontra em situação de desemprego foi criada outra classificação: a População Economi-camente Ativa (PEA), que corresponde às pessoas que estão ou não ocupadas, mas que possuem idade para o trabalho. Se existe uma forma de medir a população ativa, há também a chamada Popula-ção Economicamente Inativa (PEI). São as pessoas maiores de 10 anos que não estão ocupadas, nem procuraram emprego no último ano. Trata-se, em suma, de pessoas incapacitadas para o trabalho, que desistiram de buscar trabalho (chamado desemprego oculto pelo desalento) e que não querem ou não precisam trabalhar (alguns estudantes, pessoas que ficam em casa etc.).

PIA = PEA + PEI

A PEA pode ser dividida em dois grupos: população ocupada e população não ocupada ou desocupada.

População ocupada é aquela que trabalha. Podem ser empregados (registrados ou não), autônomos ou pessoas que trabalham por conta própria (inclusive aqueles que fazem “bicos”, desde que não estejam procurando emprego). Também estão incluídos nessa categoria: esta-giários e aprendizes, que podem ser ou não remunerados pelo seu trabalho; trabalhadores voluntários e empregadores.

Em todas essas situações, as pessoas exercem atividades remunera-das (de forma regular ou irregular) ou atividades não remuneradas, e não estão procurando outro trabalho ou emprego.

Na disciplina História há a indicação de que o capitalismo divide as pessoas em duas classes, separando aqueles que possuem os meios de produção (empregadores) e os que vendem sua força de trabalho (empregados). Você deve estar se perguntando: Por que os emprega-dores entram nessa lista? Aqui não estamos falando de contrato de tra-balho, mas de um grupo de pessoas que, de alguma forma, trabalham.

E a população não ocupada ou desocupada? É aquela parcela da população que não está trabalhando no momento, mas que está pro-curando trabalho.

Você sabia que no ano de 2007 aproximadamente 2,5 milhões de pessoas com idades entre 5 e 15 anos trabalhavam no Brasil?

Esse número corresponde a 6,6% do total de pessoas nessa faixa etária.

Fonte: IBGE. PNAD, 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1230&id_pagina=1>. Acesso em: 9 jan. 2012.

História6o ano – Unidade 1

Trabalho – Unidade 2

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Quer dizer que “população não ocupada” é a mesma coisa que “desempregados”?

Uma pessoa, no Brasil, que desconhece o assunto diria “sim”. Mas não é isso que acontece.

O termo desemprego é utilizado para pessoas que não estão tra-balhando por uma situação que lhes foi imposta: falta de vagas no mercado, demissão etc.

Resumo:

População ocupada (empregados, autônomos, trabalhadores por conta própria, estagiários, aprendizes, trabalhadores voluntários e empregadores)PEA

População não ocupada ou desocupadaPIA (10 anos ou mais)

número de desempregados

PEAx 100

Valdomiro foi demitido da construtora e agora procura emprego. Ele é, portanto, considerado desempregado. É diferente de Mateus, um jovem de 18 anos que pode só estudar e não pensa em trabalhar enquanto não terminar os estudos. Ele é considerado nas estatísticas como não ocupado.

O IBGE e a Fundação Seade são órgãos que consideram a existên-cia de dois tipos de desemprego:

• Desemprego aberto: pessoas que se declaram à procura de emprego.

• Desemprego oculto: pessoas que não se declaram à procura de emprego, por estarem basicamente em duas situações:

– desistiram de procurar emprego, pois não conseguiram uma vaga nos últimos 12 meses. Essa forma de desemprego é deno-minada desemprego oculto pelo desalento;

Você sabia que existem dois órgãos governamentais que fazem pesquisa sobre desemprego?

São eles:

• IBGE: Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística, vinculado ao Governo Federal.

• Fundação Seade: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Governo do Estado de São Paulo), que, junto com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realiza mensalmente no Estado uma pesquisa chamada Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED).

PEI Pessoas incapacitadas para o trabalho, que desistiram de buscar trabalho ou que não querem trabalhar – alguns estudantes, por exemplo

Taxa de desemprego =

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– realizam trabalho precário – fazem “bicos”, ajudando alguém a fazer a mudança de casa, por exemplo. Essa forma de desem-prego é denominada desemprego oculto pelo trabalho precário.

Resumindo:

Principais conceitos Definições

PIA pessoas de 10 anos e mais = PEA + PEI

PEA ocupados + desempregados

Desemprego total desemprego aberto + oculto pelo trabalho precário + oculto pelo desalento

Desemprego aberto pessoas que procuraram trabalho nos 30 dias e

não trabalharam nos 7 dias anteriores à coleta dos dados da pesquisa

Desemprego oculto pelo trabalho

precário

pessoas que, ao mesmo tempo que estão à procura de trabalho, realizam algum tipo de atividade descontínua

e irregular

Desemprego oculto pelo desalento

pessoas que, desencorajadas pelas condições do mercado de trabalho ou por razões circunstanciais, interromperam

a procura, embora ainda queiram trabalhar

Ocupadosassalariados + autônomos + empregadores +

empregados domésticos + trabalhadores familiares + profissionais universitários autônomos

Fonte: Dieese. Disponível em: <http://www.dieese.org.br/esp/real/estjun96.xml>. Acesso em: 10 jan. 2012.

Atividade 3 As situações de desemprego

Em grupo, exercitem o que aprenderam e elaborem exemplos para cada uma das situações a seguir. Veja um modelo:

Desemprego oculto pelo desalento: Cássia é bordadeira e mora no interior de São Paulo. Aquilo que ela sempre fez bem à mão agora é feito na máquina e fora do Estado de São Paulo. Ela procura emprego desde 2009, mas percebeu que não se encaixa nas vagas que o mercado oferece.

Agora é com vocês!

Desemprego oculto pelo trabalho precário:

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Inativo:

Desemprego aberto:

Conhecer a taxa de desemprego da sua região pode ajudá-lo no momento de procurar emprego. Mas será que essa informação é sufi-ciente para auxiliá-lo caso esteja buscando uma ocupação?

Indicadores genéricos podem não expressar a realidade. Compare, por exemplo, essas duas informações, formuladas com dados fictícios:

a) A taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo era de 17,7% da PEA em agosto do ano 2000.

b) A taxa de desemprego na Região Metropolitana de São Paulo era de 17,7% da PEA em agosto do ano 2000. Desses desempregados, 70% eram pessoas com idade entre 18 e 22 anos, em busca do primeiro emprego, com Ensino Médio incompleto.

O item “b” informa melhor como está o desemprego na região. Ou seja, se você for mais velho, mais experiente e/ou mais escolari-zado, estará em uma situação mais favorável no mercado de trabalho.

Da mesma forma, se soubermos que a taxa de desemprego é muito maior na indústria do que no setor de serviços, a condição de procura de emprego muda bastante.

Enfim, com as informações sobre desemprego detalhadas, você pode começar a fazer uma “leitura” mais apropriada do mercado de trabalho em sua região.

As taxas de desemprego podem ser separadas (ou recortadas) de acordo com os seguintes aspectos:

• características ou atributos pessoais: sexo; faixa etária (idade); posição na família (principal responsável pela família/chefe da fa-mília ou não); raça ou cor;

Você sabia que, para fins de análise, a economia é dividida em três grandes setores?

Preste atenção nas informações a seguir: • Setor primário:

corresponde às atividades relacio-nadas à produção de matérias-primas, incluindo agricultura, avicultura, pesca, pecuária, silvicultura, mineração e os agro-negócios em geral.

• Setor secundário: corresponde às atividades de trans-formação das maté-rias-primas, incluindo, portanto, indústrias e construção civil.

• Setor terciário: corresponde às ativi-dades de comércio e oferta de serviços.

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• escolaridade ou anos de estudo;

• tempo de desemprego;

• setor da economia, que pode ainda ser dividido em subsetores.

Veja um exemplo que mostra as alterações nas taxas de desemprego em dois meses selecionados em 2011 na Região Metropolitana de São Paulo, segundo os atributos pessoais dos desempregados.

Taxas de desemprego, por atributos pessoais Região Metropolitana de São Paulo – 2011

Ano Sexo Raça/Cor

2011 Homens Mulheres Negros Não negros

Janeiro 8,6% 12,6% 12,7% 9,3%

Abril 9,3% 13,4% 13,1% 10,2%

Fonte: Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Regional. Convênio Seade-Dieese e MTE/FAT. Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED). Região Metropolitana de São Paulo.

Divulgação 320, jul. 2011. p. 11. tabela 3. Disponível em: <http://intranet.seade.gov.br/produtos/ped/pedv98/jul11/julho2011.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2012.

Dessa forma, uma informação que era muito geral (só informava o desemprego, por exemplo), traz mais detalhes sobre quem são os desempregados: se mais homens do que mulheres, se mais negros que não negros etc.

Atividade 4 Comparando localidades

1. Leia os dois textos a seguir e, após a leitura, anote as principais características do desemprego em cada uma dessas localidades.

Município “A”

Em maio de 2010 a taxa de desemprego no município “A” foi superior à de maio de 2009. Apesar de a escolaridade da população estar mais elevada em rela-ção aos anos anteriores – o que poderia contribuir para o aumento da taxa de ocupação –, o número de empregos caiu em função da diminuição da atividade na área de serviços. Com os desastres naturais recentes, vários hotéis que recebiam turistas durante todo o ano foram fechados.

Município “B”

Pelo segundo ano consecutivo, o desemprego aumentou no município “B”. Estranhamente, isso aconteceu apesar do crescimento do número de empregos na indústria automobilística e de fabricação de aparelhos de telefonia celular. Apesar da elevação do número de anos de estudo da população local, os novos postos de trabalho exigem escolaridade e qualificação acima da que possuem os trabalhadores desempregados no município.

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2. Em dupla, discutam e respondam:

a) O que os dois municípios têm em comum?

b) O que aconteceu com o desemprego?

c) Além dos aspectos relacionados com o desemprego, o que é possível dizer sobre o mercado de trabalho e a economia dessas localidades?

Você sabia que há uma relação direta entre a escolaridade ou o número de anos de estudo e a possibilidade de obtenção de emprego e de rendas maiores?

Quanto mais tempo a pessoa estuda, maior a chance de inserção no mercado de trabalho e de uma remuneração elevada.Além disso...... até os anos 1990, as pessoas do sexo masculino tinham mais anos de estudo do que as do sexo feminino e as pessoas de cor branca tinham mais anos de estudo do que as de cor negra.

Fonte: Relatório sobre o Desenvolvimento Humano no Brasil, Brasília: PNUD/IPEA, 1996.

No fim da década, a situação em relação às diferenças de gênero se inverteu: a média de anos de estudo era de 5,9 entre as mulheres e 5,6 entre os homens. No que se refere à raça, a média de anos de estudo da população de negros e pardos (4,6) permanecia inferior à de população branca (6,6).

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1999 [CD-ROM]. Microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

d) Os textos sugerem uma relação en-tre a escolaridade da população e as taxas de desemprego. Comentem essa relação.

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Movimentação do emprego

Além de conhecer as taxas de desemprego e as características de quem está desempregado, há outros indicadores importantes que vão ajudar você a compreender como estão a economia e o mercado de trabalho nacional, regional ou local, e orientar a busca por trabalho.

É possível, por exemplo, identificar quanto ganham as pessoas ocupadas (rendimentos do trabalho) e, também, o número de empre-gos existentes e quais tipos de emprego estão crescendo e decrescendo em determinada região ou setor da economia (indústria, construção civil, comércio, serviços, agricultura etc.).

Essas informações tão importantes, entretanto, só existem relacio-nadas ao mercado de trabalho formal.

O registro de admissões e dispensas mês a mês de trabalhadores registrados – também chamados celetistas, porque seu contrato de trabalho é regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) –pode ser encontrado no Cadastro Geral de Empregados e Desempre-gados (Caged).

De acordo com o IBGE, são “rendimentos do trabalho”:• os rendimentos mone-

tários (recebidos em dinheiro) brutos, ou seja, sem descontos de impostos, previdência social e outros realiza-dos pelo empregador;

• os rendimentos brutos recebidos em produtos ou merca-dorias;

• a retirada em dinheiro, produtos ou mercadorias, realizada pelos traba-lhadores autônomos e empregadores.

Na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada pela Fundação Seade e pelo Dieese são considerados somente os rendimentos e as retiradas em dinheiro.

De olho na legislação

Lei no 4.923/65: institui a obrigatoriedade de que as empresas registrem mensalmente as admissões e as demissões de todos os trabalhadores em regime de CLT, informando dados pessoais e número de registro na Carteira de Trabalho e Previdência Social.

Decreto no 76.900/75: cria, no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que traz dados relativos à evolução dos empregos for-mais, englobando os trabalhadores em regime de CLT (celetis-tas), estatutários, temporários e avulsos de todos os estabeleci-mentos que existem no País.

Fonte: Lei no 4.923/65. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4923.htm>. Decreto no 76.900/75. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D76900.htm>.

Acesso em: 9 jan. 2012.

Os dados computados mês a mês permitem que sejam apuradas, com rapidez, tendências da situação econômica por setores de atividade.

Outra vantagem desse tipo de informação é que permite observar as variações de emprego que ocorrem na mesma época do ano, todos os anos, por razões de ordem natural ou cultural.

Fica a dica

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Por exemplo: sabemos que os empregos no comércio tendem a crescer nos meses de novembro e dezembro. Com os dados mês a mês – ou comparando o comportamento do mercado em um mesmo mês em diferentes anos –, um trabalhador pode ter ideia da variação do emprego naquele período. E, assim, decidir se deve ou não buscar uma vaga naquele período e setor de atividade ou fazer um curso de qualificação profissional naquela área ou em outra com maiores pos-sibilidades de crescimento.

Você estudou

Nesta Unidade, você conheceu alguns indicadores que podem ajudar a entender o comportamento do mercado de trabalho e, dessa forma, auxiliar aqueles que querem buscar trabalho ou melhores oportunidades para se inserir no mercado de trabalho.

PIA, PEA, taxa de desemprego e de ocupação, remuneração do trabalho, evolução dos empregos formais foram alguns dos conceitos apresentados nesta Unidade.

Você vai conhecer mais a respeito de outros dados e indicadores nos próximos Cader-nos do Estudante, nos demais anos; ou, ainda, em pesquisas sobre emprego nos bancos de dados do Ministério do Trabalho, do IBGE, da Fundação Seade, do Dieese, entre outros.

Pense sobre

Como usar todas essas informações a seu favor e a favor de sua comunidade?

Imagine a seguinte situação: você tem 35 anos e completou 5 anos de estudo. Tem um tra-balho precário (faz “bicos”) e os seus ganhos representam o maior rendimento da sua família. Essa semana você recebeu um convite para realizar um curso de qualificação profissional e pode escolher em que área fazê-lo.

• Reflita sobre o que foi visto até agora e responda: Quais informações podem ser úteis para você escolher o curso? Justifique sua resposta.

Faça agora a mesma reflexão, levando em conta suas reais características. Não deixe de considerar, se for o caso, as experiências de trabalho que já teve.

Fica a dica

Não deixe de consultar também os sindicatos e as Comissões de Emprego da sua cidade, pois eles podem ser boas fontes de informação sobre o comportamento do mercado de trabalho local e na região.

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A eletricidade é ainda a principal fonte de energia que move o trabalho, alimentando também os trabalhos que, na atualidade, baseiam-se na informática e na automação. Essa transformação pro-vocou a eliminação de muitos postos de trabalho, mas também a cria-ção de novas ocupações no mercado.

Seria essa apenas uma marca nos empregos existentes nas cidades? As novas tecnologias afetam, também, o trabalho no campo?

Conhecer as especificidades e as diferenciações do trabalho no campo e na cidade será um dos objetivos desta Unidade.

Para iniciar...

Qual foi a principal mudança no trabalho nos últimos dez anos na cidade, região ou bairro onde você mora?

Quais foram as principais consequências dessas mudanças que você observou?

Desde as primeiras civilizações de que se tem notícia, e ao longo da maior parte da história, o ser humano habitou o campo. As pessoas sempre se ocuparam da agricultura, para produzir alimentos para seu próprio consumo. Os poucos excedentes eram utilizados para troca por outros produtos agrícolas ou outras mercadorias.

A partir da Revolução Industrial, começaram a surgir empregos em maior proporção nas cidades, provocando a migração de pessoas do campo em direção à cidade em busca de trabalho. Consequente-mente, a produção agrícola declinou, ao mesmo tempo que aumentou a necessidade de abastecer as cidades. A agricultura, que até então era de subsistência, passou a ser uma atividade comercial, uma vez que procurou justamente buscar cada vez mais excedentes para serem comercializados nas cidades.

3 CampO e Cidade: diferentes mundOs dO trabalhO?

MigraçãoÉ todo movimento de pessoas que ocorre de um lugar para outro dentro de um país ou entre países diferentes. Chamamos migrantes as pessoas que saem do seu local de origem e migram para outro local em busca de melhores condições de vida.

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O ser humano sempre procurou ampliar ou substituir sua força pelo uso de instrumentos e engenhos e pelo uso das forças que dispu-nha na natureza: dos animais, das águas e dos ventos.

A invenção da máquina a vapor permitiu às indústrias um salto significativo em sua produção. O trabalho, que antes era artesanal ou semiartesanal, e por isso mesmo heterogêneo e lento, tornou-se homo-gêneo e rápido quando passou a ser feito pelas máquinas, que então começaram a ser mais produzidas e utilizadas.

Êxodo rural

O êxodo rural é um movimento migratório que, em diferentes países, fez e continua fazendo populações acentuadamente rurais des-locarem-se cada vez mais para as zonas urbanas. Esse movimento é irregular e sujeito a fenômenos que, de tempos em tempos, o impul-sionam mais fortemente.

Essa transferência da população do campo para a cidade ocorre por diversas razões. No que se refere à região Nordeste do Brasil, por exemplo, algumas razões que levaram ao êxodo rural foram: a fuga da seca, que impede a plantação e, portanto, a sobrevivência; a falta de empregos; a busca por infraestrutura, como o acesso à saúde e à educação.

Atividade 1 O êxodo rural na expressão artística

1. Leia sobre a realidade da migração nordestina, conforme retrata-da pelo poeta Patativa do Assaré:

© B

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Lib

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/Key

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Um moinho, parte integrante da obra A instrução de um jovem príncipe, de Rene d’Anjou, 1465-1468. Iluminura, Escola Francesa. Museu Fitzwilliam, Universidade de Cambridge, Reino Unido. Produzido por Jacques de Luxembourg, Senhor de Fiennes.

© N

RM/S

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Gravura de uma cidade à época da Revolução Industrial.

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Meu Deus, meu Deus...Setembro passou Outubro e NovembroJá tamo em Dezembro Meu Deus, que é de nós, Meu Deus, meu Deus Assim fala o pobreDo seco NordesteCom medo da pestea fome ferozAi, ai, ai, ai A treze do mês Ele fez experiência Perdeu sua crença Nas pedras de sal, Meu Deus, meu Deus Mas noutra esperança Com gosto se agarra Pensando na barra Do alegre Natal Ai, ai, ai, ai Rompeu-se o Natal Porém barra não veio O sol bem vermeio Nasceu muito além Meu Deus, meu Deus Na copa da mata Buzina a cigarra Ninguém vê a barra Pois a barra não tem Ai, ai, ai, ai Sem chuva na terra Descamba Janeiro, Depois Fevereiro E o mesmo verão Meu Deus, meu Deus Entonce o nortista Pensando consigo Diz: “isso é castigo não chove mais não” Ai, ai, ai, ai Apela pra MarçoQue é o mês preferidoDo santo queridoSenhor São José Meu Deus, meu Deus Mas nada de chuva

Tá tudo sem jeito Lhe foge do peito O resto da fé Ai, ai, ai, ai Agora pensando Ele segue outra tria Chamando a famia Começa a dizer Meu Deus, meu Deus Eu vendo meu burro Meu jegue e o cavalo Nós vamos a São Paulo Viver ou morrer Ai, ai, ai, ai Nós vamos a São Paulo Que a coisa tá feia Por terras alheia Nós vamos vagar Meu Deus, meu Deus Se o nosso destino Não for tão mesquinho Cá e pro mesmo cantinho Nós torna a voltar Ai, ai, ai, ai E vende seu burroJumento e o cavalo Inté mesmo o galo Venderam também Meu Deus, meu Deus Pois logo aparece Feliz fazendeiro Por pouco dinheiro Lhe compra o que tem Ai, ai, ai, ai Em um caminhão Ele joga a famia Chegou o triste dia Já vai viajar Meu Deus, meu Deus A seca terrível Que tudo devora Lhe bota pra fora Da terra natáAi, ai, ai, ai O carro já corre No topo da serra Oiando pra terra

A triste partida

Patativa do Assaré

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Seu berço, seu lar Meu Deus, meu Deus Aquele nortista Partido de pena De longe acena Adeus meu lugar Ai, ai, ai, ai No dia seguinte Já tudo enfadado E o carro embalado Veloz a correr Meu Deus, meu Deus Tão triste, coitado Falando saudoso Seu filho choroso Exclama a dizer Ai, ai, ai, ai De pena e saudade Papai sei que morro Meu pobre cachorro Quem dá de comer? Meu Deus, meu Deus Já outro pergunta Mãezinha, e meu gato? Com fome, sem trato Mimi vai morrer Ai, ai, ai, ai E a linda pequena Tremendo de medo “Mamãe, meus brinquedo Meu pé de fulô?” Meu Deus, meu Deus Meu pé de roseira Coitado, ele seca E minha boneca Também lá ficou Ai, ai, ai, ai E assim vão deixando Com choro e gemido Do berço querido Céu lindo azul Meu Deus, meu Deus O pai, pesaroso Nos filho pensando E o carro rodando Na estrada do Sul Ai, ai, ai, ai Chegaram em São Paulo Sem cobre quebrado

E o pobre acanhado Procura um patrão Meu Deus, meu Deus Só vê cara estranha De estranha gente Tudo é diferente Do caro torrão Ai, ai, ai, ai Trabaia dois ano, Três ano e mais ano E sempre nos prano De um dia vortar Meu Deus, meu Deus Mas nunca ele pode Só vive devendo E assim vai sofrendo É sofrer sem parar Ai, ai, ai, ai Se arguma notícia Das banda do norte Tem ele por sorte O gosto de ouvir Meu Deus, meu Deus Lhe bate no peito Saudade lhe molho E as água nos óio Começa a cair Ai, ai, ai, ai Do mundo afastado Ali vive preso Sofrendo desprezo Devendo ao patrão Meu Deus, meu Deus O tempo rolando Vai dia e vem dia E aquela famia Não vorta mais não Ai, ai, ai, ai Distante da terra Tão seca mas boa Exposto à garoa À lama e o paú Meu Deus, meu Deus Faz pena o nortista Tão forte, tão bravo Viver como escravo No Norte e no Sul Ai, ai, ai, ai

Universal Music Publishing MGB Brasil Ltda.

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Você sabia que 8 entre 10 brasileiros residem nas cidades?

O Censo Demográfico realizado em 2010 indi-cou que 84% da popu-lação brasileira reside nas cidades.

No Estado de São Paulo a proporção é ainda maior: mais de 9 em cada 10 paulistas moram nas cidades.

2. Qual é a realidade retratada pelo poeta?

3. Escreva um texto sobre o tema abordado.

Trabalho – Unidade 3

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No Brasil, a diminuição da população rural em função do êxodo acarretou também uma redução no número de propriedades rurais e, ao mesmo tempo, um crescimento na extensão dessas propriedades.

Esse movimento foi intensificado principalmente a partir dos anos 1960, quando se deu a chamada Revolução Verde. Foram então ado-tados, de forma mais ativa, os avanços técnicos e tecnológicos na ati-vidade rural, que a transformaram de forma acentuada.

A partir desse período, começam a ser implementados, além da mecanização em larga escala das lavouras, a monocultura, o uso de sementes melhoradas geneticamente, de agrotóxicos e de adubos quími-cos. Na agropecuária, animais também são modificados geneticamente, alterando significativamente a produção agrícola e a pecuária do País.

Esses recursos são diretamente responsáveis pelo aumento da pro-dução, levando as colheitas a apresentarem resultados superiores aos até então obtidos.

A adoção de máquinas agrícolas, porém, pelo seu alto custo, res-tringe-se aos produtores de maior porte; e o aumento em larga medida da produção leva à queda de preços dos produtos para o produtor. Além disso, inviabiliza a atividade agrícola do pequeno produtor, que não consegue competir, pois seus custos de produção são mais altos.

O que se observa, então, é o desemprego por causa da mecani-zação da lavoura, além da diminuição do número de propriedades rurais. As pequenas propriedades acabam sendo incorporadas pelas grandes, já que em geral, são conduzidas pela própria família do agri-cultor, não têm acesso às condições necessárias para o aumento acen-tuado da produção, como máquinas e novos insumos.

Estabelece-se, assim, um círculo repetitivo em que se obtêm pro-duções cada vez maiores, que resultam em queda dos preços finais dos produtos. Esse fenômeno constitui um sério problema para pequenos agricultores e comunidades rurais.

Nas últimas duas décadas, porém, começam a ser formuladas alternativas para viabilizar a atividade do pequeno produtor, com maior diversificação de produtos, novas culturas, cultura orgânica etc. Esse movimento, entretanto, é acompanhado pela aceleração da mecanização e pela automação na agricultura, com o controle de umi-dade e temperatura em estufas ou o da irrigação e da aplicação de herbicidas passando a ser automatizado. Começa a aparecer também a agricultura de precisão, em que se adota, inclusive, o uso de satélites para monitoramento dos solos e acompanhamento dos cultivos.

Você sabia que a Revolução Verde é considerada insustentável pelos ambientalistas?

Isso porque a agricultura em escala industrial leva a um esgotamento dos recursos naturais.

Você acha que para alimentar a população mundial é necessário o aumento contínuo da produção? Ou uma distribuição mais igualitária das riquezas em nível global resolveria o problema?

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Trabalho no corte de cana tem dias contados, diz estudoEm SP, acerto entre usineiros e governo prevê fim das atividades em dez anos

Por Juliana Coissi da Folha Ribeirão

FOLHA DE S.PAULO – agrofolhaSão Paulo, 11 de setembro de 2007

A profissão do boia-fria da cana- -de-a çúcar está com os dias contados no Brasil. É o que aponta estudo da Esalq/USP, que mediu os efeitos da mecanização das lavouras. Segundo a pesquisa, houve queda de 20,9% no número total de trabalhadores rurais no setor entre 1981 e 2004, que passou de 625 mil para 494 mil. Em contraste com essa queda, houve aumento de 166,3% na produção de cana no período – de 156 milhões de toneladas para 415 milhões de toneladas.

A mecanização vem aumentando ano a ano, segundo o estudo, por ao menos três razões: econômica, legal e social. Além de o uso de máquinas otimizar a produção e substituir o pagamento de mão de obra – uma colhei-tadeira substitui o trabalho de cem cortadores de cana –, foram criadas leis para extinguir a colheita manual.

Segundo a economista Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, da Esalq/USP e autora do estudo, o setor sucro-alcooleiro tem absorvido cortadores de cana em algumas funções dentro da cadeia, como tratorista ou operador de caldeira de usina, mas a grande massa de trabalhado-res – muitos analfabetos – ficará desempregada.

Em 2005, dos 519 mil trabalhadores da cana, 150 mil eram analfabetos. O Estado de São Paulo tinha 30 mil. “Claro que a mecanização vai desempregar e atingir jus-tamente essas pessoas que não têm escolarização e não conseguirão ser absorvidas por outras formas de traba-lho. São necessárias políticas públicas para começar a absorver essas pessoas, mas até agora nada está sendo feito conjuntamente”, disse Azanha.

A pesquisa fez o levantamento da evolução do número de empregados baseado em dados da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

Caminho sem voltaAo menos no Estado de São Paulo já existe uma data

para o fim da profissão de cortador de cana: 2017. É o prazo final firmado entre usineiros e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente, em protocolo assinado em maio deste ano, antecipando o limite de 2031 que havia sido imposto

por lei estadual criada para eliminar gradativamente as queimadas de cana – as queimadas, feitas geralmente à noite, são necessárias para viabilizar o corte manual.

Outro fator é que nos últimos anos aumentou a cobrança pelo cumpri-

mento das normas trabalhistas no campo, principalmente após a morte de 21 boias-frias, desde 2004, supostamente por excesso de esforço no trabalho.

Neste ano, por exemplo, uma força-tarefa formada por Procuradoria do Trabalho e Subdelegacia do Tra-balho, com apoio da Polícia Civil, fez várias blitze em canaviais e alojamentos de boias-frias no Estado em busca de irregularidades trabalhistas, como a falta de registro, a não utilização de equipamentos de proteção, jornada irregular e alojamentos precários.

Segundo a Unica (reúne as indústrias sucroalcoolei-ras), de 42% a 45% da produção de cana no Estado de São Paulo já é colhida por máquinas, índice acima do nacio-nal – entre 35% e 37%. “A mecanização é uma trilha sem volta, e as usinas vão buscar capital para se desenvolver”, disse Sérgio Prado, diretor da Unica na região de Ribeirão Preto – uma colheitadeira custa cerca de R$ 800 mil.

As novas usinas, por exemplo, já não contam com a figura do cortador de cana, disse Prado. Segundo ele, o papel de inserir os trabalhadores em outras áreas quando a função de cortador for extinta deve ser assumido em conjunto por empresas, sociedade e governo.

A massa de trabalhadores sem formação é também migrante, principalmente da região Nordeste e do Vale do Jequitinhonha (MG). Muitas vezes eles embarcam para as zonas canavieiras atraídos apenas por comentários dos vizi-nhos sobre os ganhos no corte da cana.

“Só tem vindo gente nova. Cortador com mais de cinco anos de safra não chega mais”, diz a irmã Inês Facioli, da Pastoral do Migrante. Segundo ela, os cortadores mais experientes não suportam mais a carga de trabalho. Neste ano, o campo tem assistido a um fenômeno revelador dos novos tempos: em plena safra, migrantes estão voltando para suas cidades por terem sido dispensados ou não encontrarem trabalho nas usinas.

ESALQ/USP AFIRMA QUE HOUVE QUEDA DE 20,9% NO TOTAL DE TRABALHADORES

NO SETOR ENTRE 1981 E 2004, DE 625 MIL PARA 494 MIL

Atividade 2 Refletindo sobre o desemprego no campo

1. Leia individualmente o texto a seguir:

COISSI, Juliana. Trabalho no corte de cana tem dias contados, diz estudo. Folha de S.Paulo, 11 set. 2007. Agrofolha, B12.

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2. Em grupo, discutam sobre o texto lido e registrem:

a) Qual é a ideia principal do texto?

b) Quais são os dados e os argumentos que o autor utilizou para defender a ideia principal do texto?

c) Você conhece outro trabalho com as características apresenta-das no texto? Qual? Justifique.

3. Observe a imagem e leia o texto a seguir:

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Boias-frias em colheita manual de cana-de-açúcar, Cordeirópolis (SP), jun. 2010.

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Estrutura fundiária

O Brasil possui grandes propriedades rurais e há pouca terra acessível às pes-soas que trabalham no campo. Esses fenômenos são os principais responsáveis pelas inúmeras e frequentes ações de invasão de terras consideradas improdu-tivas, levando a constantes conflitos no campo. Os posseiros se organizam em torno de entidades, das quais a principal é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Estas invasões, porém, muitas vezes terminam em con-flitos dramáticos entre os posseiros e a polícia, ou pessoas a mando dos proprie-tários das terras invadidas.

Assim como os conflitos originados na questão das serrarias clandestinas que promovem o desmatamento para produção de carvão vegetal e nos casos de des-matamento de grandes áreas para instalação de pastagens, por parte de grandes proprietários, os conflitos por terra têm uma longa história no País, com protestos, tentativas de brecar estas ações, denúncias constantes. Lamentavelmente, têm cul-minado com a morte de líderes desses movimentos. São os casos, internacional-mente famosos, de Chico Mendes e da irmã Doroty, por exemplo, e muitos outros. No Estado do Pará é onde ocorrem conflitos com maior regularidade e violência.

Ao lado dessa questão surge outra, na qual os trabalhadores rurais também são submetidos à violência. Porém, essa assume outra forma, sutil e não tão explí-cita, que é a violência imposta pelas condições de trabalho.

É o caso dos boias-frias, que se submetem a uma série de fatores de risco para a saúde e a segurança.

Há fatores de risco ocupacional tradicionais, que são físicos, químicos, bio-lógicos, mecânicos e ergonômicos; há violências configuradas por acidentes e doenças, assim como nas relações de trabalho deterioradas; há a violência da exclusão social, como também nas relações de gênero, e entre trabalhadores e chefias, além das relativas aos conflitos pela terra; há acidentes ocasionados por transporte inadequado que vulnerabiliza os trabalhadores. Muitos acidentes e doenças são provocados pelo uso dos próprios instrumentos de trabalho, como serras, foices, tratores etc., por produtos para correção e adubação do solo, agro-tóxicos, por picadas e vírus ou bactérias transmitidos por animais, além de longas jornadas de trabalho intensivo sujeito à radiação solar e a temperaturas extremas de frio e calor, entre outros tantos fatores. São fatores que, por sua vez, associam-se às más condições de moradia, de saneamento, de atendimento à saúde.

Por outro lado, a forma como se organiza o trabalho no Complexo Agroindus-trial Canavieiro tem, por si só, contribuído para a perda de capacidade de traba-lho e, até mesmo, para a morte de trabalhadores, por exaustão.

A mudança na forma de remuneração do trabalho – que passa, posterior-mente, a ser por produção, de modo a garantir crescente produtividade no traba-lho – leva os trabalhadores a realizarem esforços cada vez maiores em busca de melhor remuneração. E esse esforço, cada vez maior, provoca a perda da capa-cidade de trabalho e mesmo a morte, como citamos há pouco. Dados da Pastoral do Migrante de Guariba, em São Paulo, mostram que, nas safras de 2004-2005 e de 2006-2007, 14 cortadores de cana (boias-frias) entre 24 e 50 anos de idade, morreram por decorrência do trabalho, vítimas de paradas cardíacas, insuficiên-cia respiratória ou acidentes vasculares cerebrais (AVCs), precedidos por dores no corpo, câimbras, falta de ar, desmaios etc.

A forma de remuneração fez a produção individual aumentar em 300% entre 1950 e o final da década de 1990, passando de 3 toneladas para 12 toneladas de cana cortada no período, por trabalhador, por dia.

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4. Agora, discuta com o grupo: Com base na imagem e nos dois textos lidos, qual é a opinião do grupo sobre a eliminação do tra-balho do cortador de cana em São Paulo?

5. Organizem uma apresentação criativa para a turma, que retrate a opinião do grupo sobre o tema abordado no Exercício 4. Podem ser cartazes ou uma dramatização da situação analisada.

Raízes do desenvolvimento do setor agrícola e de agronegócios

A atividade agrícola iniciou-se, no Brasil, no século XVI, quando cessou a exploração do pau-brasil. Essa planta nativa, sím-bolo do País, era extraída da mata e exportada para Portugal para servir de base à indústria da tinturaria de tecidos. Com o encerra-mento do chamado ciclo do pau-brasil e a falta de outras matérias- -primas de interesse, a cana-de-açúcar começou a ser cultivada na região Nordeste do Brasil.

Esse ciclo levou à formação e à concentração de riquezas e terras, e também à criação dos latifúndios. A partir de então, estabeleceu-se no campo um modelo socioeconômico com características feudais.

A necessidade de terras para a lavoura da cana levou à derru-bada da vegetação originalmente existente, mais próxima à costa, a Mata Atlântica.

No sertão, impróprio à cultura da cana, estabeleceu-se, princi-palmente a partir do século XVII, a pecuária de corte e de animais para utilização nos canaviais para o transporte da cana e a aragem da terra. A cana e a pecuária eram, então, atividades extensivas, que se contrapunham às atividades de subsistência que também se estabeleciam, voltadas à produção de alimentos para o consumo nos engenhos canavieiros e nas fazendas pecuárias.

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No século XVIII, teve início o ciclo do ouro, que substituiu o da cana- -de-açúcar como principal atividade econômica do País. Isso porque o ciclo da cana-de-açúcar já havia declinado no século anterior com as dificuldades que o País tinha para conseguir fazer o açúcar chegar aos mercados, ainda que tivesse preços inferiores aos do exterior.

As propriedades rurais passaram a se dedicar a outras culturas, principal-mente o algodão; e muitos engenhos foram abandonados, pois os trabalha-dores se voltaram para a mineração. Surgiram, então, pequenas propriedades cujo propósito era a agricultura de sub-sistência e a produção comercial, tam-bém voltada aos inúmeros garimpos.

No século XIX, as fronteiras agrí-colas ampliaram-se, com a ocupação de novas terras para o plantio, espe-cialmente na região Sudeste, onde, no fim desse século, o plantio do café tor nou-se a grande atividade agrícola, vindo a configurar o ciclo do café.

O fim da escravidão, entretanto, dificultou a atividade agrícola, estimulando a migração de trabalhadores de países europeus, espe-cialmente da Itália. Surgiu, então, nas últimas décadas do século XIX, um mercado de trabalho na agricultura composto dos traba-lhadores sem meios próprios para a produção, de ex-escravos e de imigrantes europeus.

Predominavam dois tipos de relação de trabalho no campo: o colonato e a parceria. O colonato era uma relação entre colonos imi-grantes e proprietários de terras, na qual os colonos recebiam: uma cota da produção; salário fixo; permissão de cultivo dos espaços vazios entre as fileiras de café, para subsistência da família e para comercialização de excedente. Na parceria, os trabalhadores recebiam do proprietário de terras uma parcela do resultado da produção em dinheiro ou espécie.

Ilustração de garimpo de ouro no século XVIII.

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No século XIX, aconteceu também certa expansão das culturas de fumo e cacau na Bahia, da extração da borracha nos seringais da Amazônia e da cultura do algodão. O ciclo da borracha adentrou o século XX e, em 1910, chegou a compor 40% do total das expor-tações do País.

A expansão do transporte ferroviário pelo interior veio auxiliar o escoamento de produtos e diminuir o isolamento das propriedades rurais. Assim, com a expansão do capitalismo que então se verificava, começava a se formar propriedades maiores. Foi principalmente o capital dos barões do café que, depois da crise econômica mundial de 1929, financiou a industrialização a partir da década de 1930.

Com a aceleração dos processos de urbanização e industrializa-ção, sobretudo a partir da década de 1940, surgiram propriedades voltadas à produção de matérias-primas para a indústria. A orien-tação das grandes propriedades às monoculturas como a do café levou à escassez de produtos alimentícios básicos, como trigo e feijão, fazendo surgir pequenas e médias propriedades voltadas à produção de grãos, hortifrutigranjeiros e leite.

Entre as décadas de 1960 e 1990, a área cultivada no País alcan-çou 250 milhões de hectares; o número de produtos exportados saltou de 4 para 19; e o agronegócio integrou-se ao mercado mun-dial. No século XXI, o País vem quebrando recordes de produção e exportação.

Fazenda Ibicaba

A fazenda Ibicaba fica em Cordeirópolis, Estado de São Paulo. Foi fundada em 1817, ela foi uma das primeiras a substituir escravos por europeus. O fazendeiro financiava a vinda dos imigrantes para trabalhar nas terras, assim como os alimentos para o colono e sua família. Mas os colonos não conseguiam quitar suas dívidas e ficavam sempre subordinados ao fazendeiro. Isso aumentava as dificuldades entre imigrantes e fazendeiro, pois os colonos não toleravam ficar subordinados e explo-rados pelo proprietário das terras.

Mais de 1 000 colonos trabalhavam na Ibicaba e, em 1856, houve a Revolta dos Parceiros nessa fazenda. Desse movimento surgiu o livro escrito por um ex-colono suíço, Thomas Davatz: Memórias de um colono no Brasil (1850).

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Uma notícia divulgada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 7 de junho de 2011, por exemplo, informa que

O Brasil caminha para superar pela primeira vez os Estados Unidos em alguns dos setores agrícolas que por mais de 30 anos estiveram sob o controle dos exportadores americanos [...] [e] [...] dá passos impor-tantes para se aproximar dos EUA na liderança da soja no planeta.

CHADE, Jamil. Brasil vira o maior exportador de frango do mundo. OEstadodeS.Paulo, 7 jun. 2011. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios+ agronegocio,brasil-vira-o-maior-exportador-de-frango-do-mundo,70496,0.htm>.

Acesso em: 10 jan. 2012.

Segundo o jornal, o País é o segundo maior produtor e o maior exportador de carnes. Em 2011, deveria se tornar o maior exportador de frangos, atingindo sozinho cerca de 1/3 de toda a exportação mun-dial, e obter recordes de produção e exportação de milho. O Brasil atingiu, em maio de 2011, o recorde de exportação de café, e previa safra recorde de grãos para esse ano.

Atividade 3 As mudanças no campo

Em grupo, façam uma pesquisa sobre as alterações no campo, com base no relato de algumas pessoas: seus avós ou outros familia-res, vizinhos, conhecidos.

• Qual é a lembrança que ficou dessa época?

• O que era cultivado na região onde moravam?

• Como era o contrato de trabalho? Qual era a jornada de trabalho semanal?

• Onde os trabalhadores moravam?

Os direitos do trabalhador no campo

O trabalhador rural é protegido pela CLT, pela Constituição Federal e pela Lei federal no 5.889/73 – que estatui normas regula-doras do trabalho rural –, bem como por diversas outras legislações, como as Normas Regulamentadoras emitidas pelo Ministério do Trabalho e do Emprego. Essa legislação:

• define a duração da jornada de trabalho semanal no campo de 44 horas, a mesma dos demais trabalhadores;

• regulamenta as condições dos refeitórios, dos alojamentos, dos banheiros e até a distância entre um e outro;

• assegura o direito a mulheres e menores de idade de não exerce-rem força muscular superior a 20 kg em trabalho contínuo;

Você sabia que na zona rural, além do trabalho formalizado por algum tipo de contrato, é bastante comum a presença de formas de trabalho não remunerado, principalmente na agricultura familiar?

Esse trabalho costuma ser desenvolvido pelas mulheres, em pequenas propriedades familiares, no “quintal”, cultivando hortaliças, frutas e cui-dando de pequenos animais, trabalhando na semeadura ou colheita, como “ajuda” ao marido e aos filhos; e pelas crianças – meninos e meninas –, que ajudam os adultos na propriedade familiar.

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• obriga a existência de escola quando houver mais de 50 famílias na propriedade;

• estipula as condições em caso de paralisação do trabalho por con-ta de chuva, entre outros fatores;

• relaciona os equipamentos de segurança e proteção necessários para o exercício do trabalho. A Norma Regulamentadora (NR) 31, por exemplo, define preceitos de segurança e saúde no meio rural, aplicáveis à agricultura, pecuária, silvicultura, exploração flores-tal, aquicultura e exploração industrial em estabelecimento agrá-rio (primeiro tratamento pelo qual passam os produtos agrários, ainda in natura);

• estabelece normas para a operação de máquinas e equipamentos (NR 12); assim como para o manuseio de agrotóxicos, adjuvantes e afins; equipara o peão de rodeio a atleta profissional;

• proíbe, aos menores de idade (entre 16 e 18 anos), o trabalho no-turno, o insalubre, o periculoso ou penoso e, no caso de trabalha-dores maiores de idade, determina os valores que devem ser pagos nessas situações, adicionalmente ao salário;

• define percentuais máximos para desconto no salário do trabalha-dor por concessão de alimentação e moradia; e

• proíbe o recrutamento de trabalhadores por empreiteiros ou “ga-tos”, ao mesmo tempo que o Código Penal tipifica, em seu Artigo 207, § 1o: “O Crime de Aliciamento de Trabalhadores a fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional”. (Có-digo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 9 jan. 2012.)

Os tipos de contrato de trabalho no meio rural podem ser:

• Posseiros: pessoas que se estabelecem em terras consideradas não produtivas e desenvolvem sua atividade para consumo próprio e comercialização.

• Parceiros: trabalham para o proprietário mediante o recebimento de parcela do resultado da produção em dinheiro ou em produtos produzidos.

• Pequenos proprietários: em geral, desenvolvem a atividade de for-ma familiar, eventualmente contando com algum empregado; os agricultores assentados são pequenos proprietários que foram be-neficiados pelos programas públicos de reforma agrária.

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• Arrendatários: possuindo equipamentos, mas não possuindo ter-ras, alugam-nas mediante o pagamento com parcela do resulta-do da produção em dinheiro, geralmente, ou em produtos; assim como os possíveis lucros, os possíveis prejuízos são de sua inteira responsabilidade.

• Assalariados permanentes: empregados formais.

• Assalariados temporários, safristas ou safreiros, boias-frias, vo-lantes: trabalham por empreitada, por período de plantio, colhei-ta, ou ambos, são mensalistas, diaristas ou tarefeiros.

Atividade 4 O trabalho rural na música

1. Em grupo, leiam a letra da canção composta por João Bosco e Aldir Blanc.

O Rancho da Goiabada

João Bosco, Aldir BlancOs boias-frias quando tomam umas biritaEspantando a tristezaSonham com bife a cavalo, batata fritaE a sobremesaÉ goiabada cascão com muito queijoDepois café, cigarro e um beijoDe uma mulata chamada Leonor ou DagmarAmarO rádio de pilha, o fogão jacaré, a marmita, o domingono barOnde tantos iguais se reúnem contando mentirasPra poder suportarAi, são pais de santo, paus de arara são passistasSão flagelados, são pingentes, balconistasPalhaços, marcianos, canibais, lírios, piradosDançando dormindo de olhos abertos à sombra da alegoriaDos faraós embalsamados

Universal Music Publishing MGB Brasil Ltda.

2. Identifiquem as características do trabalho do boia-fria apresentadas na canção e discutam as causas econômicas e sociais dessa situação de trabalho. Após a discussão, registre as conclusões do grupo.

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A caracterização de trabalho formal e informal, trabalho como empregado e trabalho por conta própria, como se percebe, é similar tanto na cidade quanto no campo. Mas há muitas diferenças entre essas duas realidades.

A observação de direitos trabalhistas é fiscalizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, e a ação de seus fiscais é frequente tanto no meio rural quanto no urbano. Contudo, lembrando o que você já estudou, o trabalho escravo ocorre mais frequentemente nas grandes propriedades do que nos estabelecimentos nas grandes cidades. Esse tipo de trabalho é flagrado com frequência por esses fiscais, em sua rotina de fiscalização, ou a partir de denúncias.

O chamado trabalho escravo, hoje, ocorre quando não há as míni-mas condições aceitáveis de higiene e segurança, habitação, frequen-temente com carga horária de trabalho excessiva e, por vezes, com a chamada servidão por dívida – situação em que o empregado é levado a contrair dívidas com o empregador pela compra ou pagamento de bens, objetos, serviços, e que se tornam impagáveis, pois seus custos são altos e o salário insuficiente, tornando-os eternos devedores.

Atividade 5 Trabalho escravo no campo e na cidade

1. Leia individualmente as notícias de jornal:

SPILLARI, Carolina, da Agência Estado. Boliviano é preso por escravizar 4 compatriotas em SP. OEstadodeS.Paulo, 20 jul. 2011. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,

boliviano-e-preso-por-escravizar-4-compatriotas-em-sp,747372,0.htm>. Acesso em: 10 jan. 2012.

Boliviano é preso por escravizar 4 compatriotas em SP

Um boliviano de 29 anos foi preso em flagrante ontem por manter outros quatro bolivianos trabalhando sob regime escravo em uma oficina de costura em São Paulo, informou hoje a Secretaria Estadual de Segurança Pública. A prisão foi feita por policiais da Delegacia de Crimes contra as Rela-ções do Trabalho.

Os empregados eram submetidos a mais de 12 horas de trabalho ininter-

rupto, segundo os policiais que estive-ram na oficina, localizada na rua Rubino de Oliveira, no Brás, região central de São Paulo. O estabelecimento também não tinha condições mínimas de higiene.

Os funcionários não recebiam salá-rio e foram trazidos para o Brasil somente para trabalhar na oficina, onde moravam. Em troca do trabalho, os bolivianos recebiam as despesas da viagem e da alimentação.

Carolina Spillari Agência Estado

O ESTADO DE S. PAULO – notíciasSão Paulo, 20 de julho de 2011

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Fiscais flagram 27 em trabalho degradante no Oeste da Bahia

Princípios de reciclagem faziam parte da vida dos trabalhadores da Fazenda Guarani, localizada no muni-cípio de São Desidério (BA), no oeste do Estado, de um modo sui generis. Aqueles que não tinham colchonetes – comprados no comércio mantido irre-gularmente pelo próprio “gato” (con-tratante da empreitada) – dormiam no chão ou em cima de sacos plásticos big bags jogados pelo galpão vazio construído para armazenar algodão. E galões que originalmente continham agrotóxicos eram utilizados para esto-car a água para beber levada para as frentes de trabalho.

Essas foram as condições encon-tradas pelo grupo móvel do Ministé-rio do Trabalho e Emprego (MTE) em fiscalização encerrada na quinta-feira passada (20) que resgatou 27 pessoas (26 homens e uma mulher) de traba-lho degradante na Fazenda Guarani. O grupo fazia a limpeza da mata ao redor dos pés de algodão. Alguns esta-vam há uma quinzena na propriedade, outros haviam chegado há três meses.

Quando a fiscalização chegou ao local, não encontrou todos os traba-lhadores. Coordenadora da equipe, a auditora fiscal Virna Damasceno suspeita que o fazendeiro, ao tomar conhecimento antecipado da ação do

grupo móvel, providenciou a retirada antecipada de uma parte do grupo da Fazenda Guarani. Mais tarde, os trabalhadores foram encontrados na cidade de São Desidério, e o vínculo de trabalho foi assumido pelos pró-prios advogados do empregador.

Segundo Virna, o grupo era remu-nerado de acordo com a produção e muitos tinham dívidas no comércio ilegal mantido pelo “gato”, que vendia cigarros, bolachas e diversos artigos de higiene pessoal. Tudo era anotado num caderno – que foi apreendido pela fiscalização – para ser depois descontado do salário.

“Os mais antigos tinham recebido alguma coisa. E os outros ainda não. Mas os pagamentos estavam abaixo do que eles deveriam ganhar”, informa a auditora. Ao verificar o congelador da fazenda, o grupo móvel encontrou carne estragada, que seria suposta-mente fornecida aos trabalhadores.

Nas frentes de trabalho, não havia mesas ou cadeiras na sombra: os tra-balhadores comiam no chão, ao sol, em meio às fileiras de algodão. “A fazenda tem pelo menos 2 mil hecta-res de algodão plantados e tem estru-tura para oferecer melhores condições aos trabalhadores”, lamenta Virna. [...]

Trabalhadores dormiam em cima de sacos e bebiam água armazenada em galões que originalmente continham agrotóxicos. Para advogado de emprega-dor, houve abuso e a condição do alojamento não era tão ruim.

Por Beatriz Camargo

CAMARGO, Beatriz. Fiscais flagram 27 em trabalho degradante no Oeste da Bahia. Repórter Brasil, 27 mar. 2008. Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1316>.

Acesso em: 10 jan. 2012.

REPÓRTER BRASIL – mercadoSão Paulo, 27 de março de 2008

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2. Em grupo, discutam:

a) O que há de semelhança e de diferença entre o trabalho dos colonos e o que é retratado nessas notícias?

b) Na opinião do grupo, por que situações de trabalho escravo, como as retratadas nas no-tícias, continuam acontecendo?

3. Com base na discussão, converse com seus colegas sobre as obras reproduzidas nesta página, do artista plástico Candido Portinari (1903-1962), um brasilei-ro que nasceu em Brodowski, interior de São Paulo.

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Candido Portinari. Lavrador de café, 1934. Óleo sobre tela, 100 cm x 81cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, São Paulo (SP).

Candido Portinari. Café, 1935. Óleo sobre tela, 130 cm x 195 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).

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Atividade 6 Condições de trabalho no campo

1. Observe as pinturas a seguir, que retratam a vida no campo.

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Jean-François Millet. As respigadeiras, 1857. Óleo sobre tela, 84 cm x 111 cm. Museu de Orsay, Paris, França.

Banksy. Versão do quadro As respigadeiras, de Jean-François Millet. Obra integrante da exposição Banksy. Museu de Bristol, 2009.

2. Com base no que foi estudado até aqui e inspirado pelas figuras elabore, em seu caderno, um texto sobre o trabalho no campo:

• Planeje o texto que vai escrever, pensando em uma ideia que quer exprimir.

• Escolha um tema que tenha vinculação com o campo.

• Quais são os argumentos que irá utilizar para defender sua ideia?

• Como você vai encerrar seu texto? Vai concluir a ideia ou vai deixar para o leitor pensar sobre o que você escreveu?

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Você estudou

Nesta Unidade, você pôde conhecer como se deu a evolução do agronegócio no País desde o século XVI até os dias de hoje. E, também, que os primeiros trabalhadores na lavoura intensiva, no caso da cana-de-açúcar, eram principalmente escravos africa-nos. Viu ainda que até hoje são descobertas pessoas trabalhando em regime de escravidão ou semiescravidão.

Pense sobre

Leia os seguintes textos:

No Brasil, a Lei federal no 4.504 de 1964, em seu Artigo 1o, afirma:

§ 1o Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor distribuição da terra, mediante modifi-cações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princí-pios de justiça social e ao aumento de produtividade.

Lei federal no 4.504, de 30 de novembro de 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm>. Acesso em: 9 jan. 2012.

Em 2011, a Agência Brasil noticiou que, apenas no Estado do Pará, houve 219 mortes nos últimos dez anos em decorrência da violência no campo. São agricul-tores e ambientalistas assassinados.

Há relação entre os textos apresentados? Por quê?

MAZENOTTI, Priscila. Pará registrou 219 mortes no campo nos últimos dez anos, com apenas quatro condenações. Agência Brasil, 22 jun. 2011. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/

noticia/2011-06-22/para-registrou-219-mortes-no-campo-nos-ultimos-dez-anos-com-apenas-quatro-condenacoes>. Acesso em: 10 jan. 2012.

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Na Unidade 2, você conheceu algumas características do trabalho, buscando uma aproximação com as realidades regionais. Ao estudar as raízes e o desenvolvimento da industrialização e do setor agrícola, você já começou a compreender melhor a história e a realidade do trabalho na sua região.

Nesta Unidade, a abordagem será mais prática: mostrar como você pode reconhecer e organizar seus conhecimentos, de modo a pre-parar-se para a busca de inserção (ou de requalificação profissional) no mercado de trabalho, ou, ainda, de uma inserção mais qualificada.

Você vai fazer isso gradualmente:

• reconhecendo e registrando seus conhecimentos;

• organizando e comprovando esses seus conhecimentos;

• expondo ou divulgando aquilo que sabe, tendo em vista os seus objetivos e o seu interlocutor.

Para iniciar...

Imagine que você precise, neste momento, escrever um documento para entregar a um empregador, informando quem você é e o que sabe fazer.

Depois de redigi-lo, troque com um colega e compare os docu-mentos. Eles têm o mesmo formato? Há algo no texto de seu colega que você não colocou no seu?

Se quiser, refaça sua primeira versão e guarde o resultado dessa atividade. Ao final, você poderá comparar esse documento com aquele que fará ao longo desta Unidade.

Seus conhecimentos

Na nossa vida, desde o momento em que nascemos, aprendemos muitas coisas. Apenas uma parte disso é aprendida na escola e/ou for-malmente, por meio de cursos, experiências de trabalho, entre outros.

4 OrganizandO-se para a busCa pOr empregO

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Há muitas outras que aprendemos na família, no nosso círculo de amigos, nas ruas. E muitas outras, ainda, que sabemos fazer, mas não temos ideia de como as aprendemos. Por vezes, nem sequer as perce-bemos ou valorizamos como se fossem conhecimentos acumulados.

Nossa experiência de vida nos permite perceber que nem todos os saberes são iguais. Há saberes:

• de tipos diferentes – relacionados às formas de comunica-ção (fala, escrita), aos números (cálculos), à motricidade (forma e destreza nos movimentos), aos esportes etc.

• que aprendemos em lugares diferentes. Por exemplo:

– na escola: saberes que podemos considerar de nature-za científica, filosófica ou artística;

– no trabalho: saberes mais técnicos, relacionados às ocupações;

– na família e na vizinhança: saberes de relacionamento, por exemplo, e que se baseiam no convívio, na intui-ção, na afetividade;

– em revistas, jornais, assistindo à televisão: saberes re-lacionados às atualidades, à história e à arte;

– nos sindicatos, associações de bairro, partidos: saberes relacionados à participação e à política.

• e que aprendemos de maneiras diferentes. Por exemplo:

– repetindo os mesmos procedimentos muitas vezes, como no caso de bater pênaltis;

– ouvindo instruções, olhando as pessoas fazerem e tentan-do fazer igual: como dirigir um automóvel, cozinhar;

– refletindo, comparando, analisando, entendendo pro-cedimentos: como no caso da maioria dos conheci-mentos científicos, filosóficos e técnicos;

– memorizando: como fazemos com as datas de aniver-sário.

Porém, mais importante do que identificar todos os tipos, lugares e formas de aprendizagem, você precisa entender que saberes e conhe-cimentos não são compartimentados dessa maneira tão fechada.

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O aprendizado assim organizado se parece com o trabalho espe-cializado, quando o trabalhador só participa de uma pequena parte do processo produtivo. Essa forma de trabalho é típica das unidades fabris que baseiam a forma de produção no fordismo; nelas, um tra-balhador pode ser contratado somente para colocar tampa em uma caixa, por exemplo.

Há momentos em que os aprendizados parecem ser assim, não é? Isso acontecia e ainda acontece, por exemplo, em escolas que dividem as disciplinas sem buscar relação entre elas.

Mas, na prática, o aprendizado não é assim. Ele acontece, na maioria das vezes, a partir de conhecimentos que entrelaçamos, asso-ciamos com nossas vivências, juntamos informações que coletamos em diferentes lugares e situações.

E, dessa forma, situações que vivemos ou aprendemos em um dado contexto nos permitem apreender muitas outras, porque nosso cérebro é capaz de estabelecer relações entre elas. Mesmo que nem sempre percebamos esse processo.

Por exemplo, um jogo de futebol pode ensinar você a ser mais coo-perativo, um aprendizado que, diretamente, não faz parte das regras desse jogo; ao ir ao mercado ou à feira você pode aprender a fazer cál-culos mentais, entender e fazer uso de frações; e assim por diante.

A atividade que você fará a seguir tem o objetivo de ajudá-lo a identificar seus saberes e conhecimentos, com base em um balanço daquilo que sabe fazer.

Procure, neste momento, deixar de lado os julgamentos que faze-mos quando pensamos ou falamos de nós mesmos. Tenha em mente que a finalidade desse processo não é pesar quais saberes e conheci-mentos valem mais ou menos.

Conhecimentos serão mais ou menos importantes (ou mais ou menos úteis) conforme o objetivo de cada um, em cada momento.

Por exemplo: a motricidade fina é saber útil para alguém que está trabalhando (ou quer trabalhar) manipulando pequenas peças (como consertar computadores e celulares), bordando ou costurando, esco-lhendo grãos manualmente etc.

Erguer uma parede, trocar uma torneira, recepcionar alguém que vai ao dentista talvez não exija tanto dessa destreza. Mas isso não quer dizer que essas pessoas não farão uso da motricidade em outros momentos do seu dia a dia.

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Atividade 1 Recontando sua história de vida

1. Concentre-se no seu passado e busque na memória informações de diferentes momentos da sua vida. Relembre as experiências e as aprendizagens que você vivenciou até hoje. Pense também nas suas características pessoais, as que considera mais marcantes; nas suas qualidades; e nas qualidades que os outros reconhecem em você. Não se preocupe, nesse momento, em relacionar tudo isso com o trabalho que você faz atualmente ou com aquele que pode estar procurando.

2. Feita essa reflexão, escolha uma pessoa da classe – de preferência, alguém que você não conheça bem. Fale livremente sobre os aspec-tos que você pensou e deixe que o seu colega anote o que conside-rar interessante. Depois, seu colega apresentará as impressões que teve sobre os seus conhecimentos, a partir do que você contou.

Esses procedimentos – a “fala livre” e as anotações – são es-tratégias não apenas para que vocês se lembrem do que falaram, mas também para que um auxilie o outro no reconhecimento e na valorização de seus conhecimentos e saberes. Ouvir a respeito dos outros ajuda a nos conhecermos melhor. Além disso, ao fa-larmos sobre nós mesmos, ganhamos mais segurança e confian-ça para expor nossas ideias.

3. Depois dessa conversa, usando as anotações de seu colega e suas lembranças, organize o que descobriu (ou redescobriu) sobre você.

Separe em suas anotações:

a) Conhecimentos relacionados à sua vivência escolar e outros cur-sos que tenha realizado (qualificação profissional, idiomas etc.).

b) Conhecimentos relacionados às suas experiências de trabalho.

c) Conhecimentos relacionados às suas experiências de vida.

d) Aspectos do seu jeito de ser e de agir que considere positivos e que possam ser vistos como qualidades no mercado de trabalho.

4. Em relação aos conhecimentos reconhecidos por você – incluindo suas experiências de trabalho, de vida e seu jeito de agir –, indique também (ao lado de cada item) aquilo que você considera conhe-cer suficientemente bem e o que considera necessário aprimorar, e em quais aspectos.

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Veja a seguir alguns exemplos:

• Ler e entender diferentes tipos de textos: faço bem.

• Organizar minhas ideias para escrever e falar com clareza: preci-so ter mais clareza ao falar e defender meus pontos de vista com mais calma.

• Organizar meu tempo: preciso aprimorar. Quando tenho muitas coisas para fazer, me perco.

• Calcular porcentagens e frações: sei bem.

• Respeitar as opiniões das pessoas: preciso aprimorar. Quando acho que sei alguma coisa bem, não ouço a opinião dos outros.

Atenção: essa atividade tem como foco a sua relação com o mercado de trabalho e a sua inserção nele.

Se você já trabalha em uma área na qual pretende continuar e/ou já sabe qual ocupação quer seguir, dê ênfase aos conheci-mentos que têm maior sintonia com essa área. É com base nes-sa área e nesses conhecimentos que seus próximos passos serão planejados.

Caso essa área não esteja clara, tenha em mente duas possi-bilidades:

• buscar nas características e nos indicadores de emprego do seu município as oportunidades existentes;

• identificar, com base na atividade que acabou de realizar, as suas maiores potencialidades.

A partir de então, seus próximos passos poderão ser delineados.

Concluída a primeira etapa desse processo – que é a reunião indi-vidual dos conhecimentos de cada um –, o passo seguinte é a organi-zação desses conhecimentos e a sua comprovação documental.

Pelo menos dois objetivos estão envolvidos nessa etapa. Ao man-ter os registros de suas experiências organizados:

• o trabalhador pode se lembrar melhor de tudo o que fez e/ou sabe fazer;

• um possível empregador pode conhecer mais sobre aquele que busca emprego.

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Os documentos não são a única (e, em geral, não são a principal) forma que os empregadores e empresas utilizam, atualmente, para conhecer possíveis futuros empregados. Vários outros meios são utiliza-dos: análise de currículo; entrevistas individuais; entrevistas coletivas ou dinâmicas de grupo; busca de referência com outros empregadores etc.

Mas também se dá grande importância aos conhecimentos que podem ser comprovados de alguma forma.

Um momento de reflexão

Você já ouviu a frase: “uma imagem vale mais do que mil palavras”? Ela tem o mesmo significado quando usada no campo das artes, do jornalismo ou em um contexto de busca de emprego?

Por que documentos escritos tendem a ser mais valorizados do que palavras quando expomos a nossa história para um em-pregador?

Será que isso sempre aconteceu ou é uma situação típica da sociedade em que vivemos?

Você pode comprovar as experiências e saberes que possui? De que maneira?

Uma possibilidade são os certificados expedidos por escolas, diplomas, registros em carteira profissional. Outra forma são fotos de trabalhos que você já realizou, cartas de recomendação, folhetos de eventos que você preparou ou ajudou a preparar etc.

Uma costureira, por exemplo, pode ter fotografias dos vestidos que faz sob medida; um cabeleireiro pode tirar fotos de suas clientes, antes e depois de um penteado ou um corte de cabelo.

Atividade 2 Organize os seus registros

1. Reveja a lista dos fatos importantes de sua vida, suas experiên-cias e conhecimentos, identificados na Atividade 1. Em casa, colo-que em uma pasta todos os documentos que conseguir reunir que comprovem o que você já fez e sabe fazer.

2. Caso você não tenha registro de algumas de suas experiências, faça uma lista relacionando as experiências e o nome de pessoas que podem ser contatadas para ajudar a recuperar esses registros. Se possível, adicione o email ou o telefone dessas pessoas.

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Fica a dica

Os passos que serão detalhados a seguir não precisam acontecer na ordem em que estão apresentados. Essa proposta de organização é didática.

Lembre-se: é muito importante ter toda a documentação sempre organizada.

Assim, em uma pasta, preferencialmente com folhas plásticas, separe e arquive cópias:

• dos documentos pessoais: CPF, RG, carteira de motoris-ta, título de eleitor e comprovante da última votação;

• dos certificados escolares que possui;

• dos certificados de cursos de qualificação profissional;

• da documentação dos trabalhos que já realizou, como cartas de recomendação, fotos, entre outros.

É muito importante que você mantenha sua pasta sem-pre organizada e, principalmente, atualizada.

Planejamento da busca por trabalho

Com os conhecimentos e os documentos que os comprovem orga-nizados, está dado um passo importante para planejar a busca de possibilidades de inserção no mercado de trabalho.

Esse planejamento segue diferentes caminhos, não excludentes.

O primeiro é investir no aprimoramento dos saberes e conheci-mentos que considerar necessários, de acordo com as expectativas que tenha em relação ao mercado de trabalho.

O segundo é estabelecer uma rede de contatos por meio da qual poderá buscar informações sobre possíveis empregos.

O terceiro é a busca de emprego propriamente dita.

E o quarto, preparar-se para o momento de se apresentar para um empregador. Na prática, isso significa fazer um currículo, saber como fazer uma entrevista de emprego, entender os objetivos e como funcionam as dinâmicas de grupo conduzidas pela área de Recursos Humanos das empresas.

Primeiro passo: investir no aprimoramento de saberes e conhecimentos

Como você já viu, ao buscar um trabalho, a decisão de quais saberes e conhecimentos priorizar naquele momento específico depende da escolha profissional.

O importante é alcançar uma sintonia (uma combinação) entre os conhecimentos que o trabalhador possui e os exigidos no trabalho

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que busca. E não perder a perspectiva de que saberes sempre podem ser desenvolvidos ou melhorados na vida de cada um.

Assim, por exemplo, se a área em que atua ou pretende atuar exige o domínio da escrita, e este é um conhecimento que não domina, algum investimento deverá ser feito nesse campo.

O mesmo também pode ocorrer com conhecimentos não relacio-nados diretamente aos temas de aprendizagem. Por exemplo, você pode fazer algum tipo de artesanato não para vender os produtos, mas para aumentar sua capacidade de concentração e reduzir o estresse.

Atividade 3 Planeje como vai atuar para ampliar ou aprimorar seus saberes

Elabore uma lista de conhecimentos que você precisa melhorar e o que precisa fazer para alcançar esse objetivo. Troque ideias com os colegas. Faça seu planejamento com base no exemplo a seguir.

Conhecimentos a aprimorar Possibilidades

Ler e interpretar textos

Continuar estudando

Pegar livros na biblioteca, seguindo

indicações dos professores

Buscar diferentes tipos de texto e estudar com

colegas

Segundo passo: estabelecer uma rede de contatos

Você sabia que a indicação de conhecidos é a forma mais utili-zada para conseguir um trabalho? Porém, muitas vezes, as pessoas, por timidez ou dificuldade de se comunicar, não conseguem pedir ajuda para conseguir trabalho. E, com isso, boas oportunidades podem ser perdidas.

Organizar uma lista de amigos, conhecidos, sindicatos, pessoas para as quais você já trabalhou, e manter uma agenda atualizada com esses telefones e endereços são providências bastante úteis. É com base nessa agenda que poderá ser feito o planejamento de como fazer contatos na hora de sair à procura de emprego.

Lembre-se: solicitar trabalho e contar com aliados não deve ser encarado como um problema. Mesmo porque o desempre-go, no capitalismo, não é uma escolha, mas uma consequência da forma como a produção de bens e serviços está organizada. Trata-se, portanto, de uma situação a que todos estão sujeitos, independentemente da formação.

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Não deixe de lado sua vida social enquanto estiver procurando emprego: passeie, visite amigos e parentes, participe das atividades e festas em sua comunidade... Isso vai ajudá-lo a não desanimar em sua busca e trará novas oportunidades para você.

Atividade 4 Planeje sua rede de contatos

Planeje sua rede de contatos, incluindo quando, como e qual será o foco da conversa em cada caso. Utilize o exemplo a seguir e mante-nha esse quadro sempre por perto e atualizado.

Rede de contatos

Quem procurar Quando Como Com que foco Meus pontos fortes

Meu vizinho

Próximo fim de

semana

Convidando-o para o café da

manhã

Saber se a oficina onde ele trabalha

precisa de mais

trabalhadores

Já trabalhei em uma oficina na cidade

onde morava;sei mexer em motores de automóveis;

trabalho bem em grupo

Terceiro passo: buscar emprego

O planejamento da busca de emprego parece (e, às vezes, até se confunde) com o planejamento da rede de contatos. Na prática, a busca por emprego pode envolver, em diferentes momentos, o aciona-mento dessa rede.

Mas essa busca envolve algumas questões que são anteriores a esta etapa. Você precisa definir, em primeiro lugar:

• quais condições de que não abre mão (inclusive salariais, mas também de horários, distância de casa etc.);

• se há empregos que não aceitaria em hipótese alguma, porque não estão de acordo com seus valores ou desejos;

• quais são suas melhores chances de encontrar colocação no mer-cado de trabalho.

Se essas respostas não estiverem claras para você, a chance de frustração ou não permanência em um emprego por muito tempo tende a ser maior.

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Vale, entretanto, ter claro que há empregos ideais; empregos reais ou possíveis, que combinam as nossas expectativas com as chances que o mercado de trabalho está oferecendo na ocasião da procura; e empregos que podem garantir a nossa sobrevivência por um tempo, mas não são o que gostaríamos que fossem.

Essa reflexão é importante para que você possa estabelecer seus objetivos com clareza e comparar com as condições e as exigências da empresa, quando surgir uma possibilidade de colocação.

Respondidas essas questões, é hora de pesquisar empregos, usando sua rede de contatos e também jornais, internet, informações de sindicatos e associações de bairro, entre outros.

Atividade 5 Plano de busca de trabalho ou emprego

1. Considerando os apontamentos anteriormente indicados – condi-ções e restrições –, registre e justifique três tipos de trabalho que gostaria de realizar.

2. Indique, em relação a esses trabalhos, quais os saberes e conheci-mentos que qualificam você a fazê-los.

3. Construa, agora, um roteiro para buscar essas oportunidades, in-dicando, como no exemplo a seguir: seus objetivos e pontos for-tes, quais meios vai utilizar para procurar trabalho, quando e de que modo.

Plano de busca de emprego

Objetivo Meus pontos fortes Como procurar Quando

Trabalhar em uma

oficina de mecânica de automóveis

Já trabalhei em uma oficina na cidade onde morava;

sei mexer em motores de automóveis;

trabalho bem em grupo

Em jornal;falar com meu

vizinho que trabalha em uma oficina

Amanhã;próximo

fim de semana

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Quarto passo: preparar-se para o momento de se apresentar para um empregador

Como você viu, preparar-se para se apresentar a um empregador implica diferentes atividades, como redigir um currículo, saber como participar de uma entrevista de emprego, entre outras.

Agora você será orientado sobre como fazer um currículo, um documento que sintetiza os seus conhecimentos e saberes, para que as pessoas possam ter uma ideia de tudo o que você, ao buscar um emprego, já fez e/ou sabe fazer.

Os dados que devem constar de um currículo, para tornar sua apresentação mais adequada, são:

a) Nome.

• Outros dados pessoais, como idade, estado civil, número de filhos e foto, não devem ser incluídos, exceto se essas infor-mações forem solicitadas pelo empregador ou empresa para onde você vai encaminhar seu currículo.

b) Endereço completo.

c) Objetivo, ou seja, a vaga que pretende ocupar.

• Se você encaminhar seu currículo para mais de um local e os objetivos forem diferentes, faça dois currículos diferentes.

d) Conhecimentos mais adequados ao trabalho pretendido.

• Por exemplo: se o anúncio solicitar “experiência anterior”, destaque o que já fez profissionalmente na área da vaga.

e) Histórico profissional, isto é, trabalhos já realizados/experiência profissional.

• Se você não teve emprego formal, escreva: “Principais experi-ências”. Comece pelo mais atual e siga em ordem até o mais antigo, quer dizer, em ordem cronológica inversa.

f) Escolaridade e cursos.

• Podem ser incluídos quaisquer cursos: idiomas, computação, oficinas de qualificação profissional relacionadas às suas áreas de interesse.

g) Trabalhos voluntários e áreas de interesse.

• Concentre-se nas informações positivas sobre suas caracte-rísticas que possam fazer diferença para o empregador e no emprego que deseja obter.

CurrículoA palavra currículo vem do latim, língua que deu origem ao português e a outros idiomas, como o espanhol, o francês e o italiano. A expressão curriculum vitae, traduzida do latim, quer dizer trajetória, carreira de vida.Em português, o certo é usar o termo currículo, em vez de curriculum ou curriculum vitae.

Fica a dica

• Seja claro, objetivo e nunca invente infor-mações sobre você.

• O currículo deve ser curto, com no máxi-mo duas folhas, digitadas em computador.

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h) Data (o dia, o mês e o ano de elaboração do currículo).

i) Assinatura.

Atividade 6 Faça seu currículo

1. Com base nas informações apresentadas no texto anterior, faça um rascunho de seu currículo e depois o digite.

2. Troque seu currículo com o de um colega e, com base nos comen-tários que ele fizer, reflita se concorda ou discorda. Faça ajustes nos itens que considerar necessário.

Com o envio ou a entrega do currículo, um grande passo está dado. Se tudo correr bem, a próxima etapa será passar por uma entre-vista. Esse tema será desenvolvido no 7o ano!

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Você estudou

Ao longo desta Unidade, você aprendeu a reconhecer seus co-nhecimentos, a organizá-los, a comprovar sua veracidade e, além disso, a programar alguns passos para a busca de uma inserção no mercado de trabalho, que considere aquilo que melhor conhece.

Para isso, você foi solicitado a comparar, classificar, listar, construir novos modelos e vivenciar situações relacionadas a trabalho e emprego, tendo a oportunidade de redescobrir sabe-res que estavam adormecidos.

Você pode, agora, voltar às primeiras anotações que fez so-bre seus saberes nesta Unidade e ver o que mudou. Se quiser, atualize seus saberes e conhecimentos. Esse processo é algo que devemos fazer o tempo todo.

Pense sobre

Não podemos ignorar que existem alguns preconceitos na socie-dade brasileira.

Apesar de todas as penalidades previstas para punir preconceitos de gênero, de raça, contra idosos, pessoas com deficiência, homossexuais etc., ainda existem empresas que, por nutrirem valores do passado e não aceitarem a diferença, deixam de contratar pessoas com muito conhecimento.

Com base nesse fato reflita:

• O que você faria se sofresse ou soubesse de alguém que sofreu pro-cesso discriminatório durante um processo seletivo em uma empresa?

• Você conhece organizações não governamentais ou instituições do governo que lutam pela defesa dos direitos dos trabalhadores?

Pesquise sobre essas organizações e instituições que atuam em sua cidade e ajude a divulgá-las.

Lembre-se: durante um processo de seleção, caso você se de-pare com preconceito de qualquer natureza por parte do entre-vistador, denuncie.

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