2012 ART 26 Entrevista Guia Da Farmacia

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10 GUIA DA FARMÁCIA JANEIRO 2012 FOTOS: DIVULGAÇÃO ENTREVISTA - SÉRGIO MENA BARRETO, ABRAFARMA 10 GUIA DA FARMÁCIA JANEIRO 2012

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Interesse em farmácias.

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  • 1 0 G U I A D A F A R M C I A J A N E I R O 2 0 1 2 FOTOS: DIVULGAO

    ENTREVISTA - SRGIO MENA BARRETO, ABRAFARMA

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  • 2 0 1 2 J A N E I R O G U I A D A F A R M C I A 1 1

    A ABRAFARMA TEM COMO META PARA O PRXIMO ANO TRAZER DEZ NOVAS REDES PARA O SEU QUADRO DE ASSOCIADOS. NO MDIO E LONGO PRAZO, O OBJETIVO QUE A ENTIDADE CONGREGUE 50% DAS VENDAS DE TODO O VAREJO FARMACUTICO BRASILEIRO

    A

    modernidadeRumo

    POR TNIA LONGARESI

    Ao completar 20 anos de atuao, a Associao Bra-sileira de Redes de Farmcias e Drogarias (Abrafarma) prepara-se para conquistar novas marcas. A entidade tem como meta para o prximo ano trazer dez novas redes para o seu quadro de associados. No mdio e longo prazo, o objetivo que a Abrafarma congregue 50% das vendas de todo o varejo farmacutico brasi-leiro. Em entrevista exclusiva para o Guia da Farmcia, inaugurando a nova sede da Associao, o presidente--executivo Srgio Mena Barreto afirma que a histria da entidade acompanhou a evoluo de um Pas ar-caico para o Brasil rumo modernidade, mas ainda h muito o que fazer. Estamos atrasados em trs pila-res bsicos da sade. A seguir, saiba quais so esses trs pilares e conhea os desafios do setor.

    GUIA DA FARMCIA Nesses 20 anos de Abrafarma, qual foi o principal desafi o do setor?

    SRGIO MENA BARRETO A Abrafarma nasceu com o objetivo de defender o mercado na poca de um Brasil atrasado. H 20 anos, as leis eram mais restritivas, sintomas de um cenrio retrgrado. Um desses sintomas era a restrio de horrio do fun-cionamento das farmcias. Na poca, as farmcias no podiam permanecer abertas aps as 20 horas e nos fi ns de semana poderiam fi car abertas apenas no sistema de rodzio. Essa medida foi uma respos-ta das independentes frente ao crescimento das redes de drogarias, que inovavam e investiam em lojas 24 horas. Outra lei proibia a abertura de novas farmcias ou drogarias a menos de 500 metros de

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    As vendas nas grandes

    redes voltaram a apresentar evoluo de dois dgitos

    distncia. Nossos primeiros desafi os foram esses, der-rubar duas leis restritivas. E conseguimos. Para comple-tar um cenrio nada animador, vivamos em plena era de hiperinfl ao, o que difi cultava a expanso do setor. A terceira bandeira da entidade recm-criada era a luta pela diminuio da carga tributria dos medicamentos.

    GUIA Nessa terceira bandeira no houve avan-o. Por que essa discusso no evolui?

    MENA BARRETO Hoje o Brasil tem a mais alta car-ga tributria de medicamentos do mundo. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento Tribut-rio (IBPT), chega a 35,3%. Durante esses 20 anos, sem-pre levamos ao palco essa discusso. Acho que essa carga permanece nesse patamar absurdo devido forma como a sociedade est organizada e representada. O povo no tem fora como massa. O medicamento vete-rinrio isento de tributos porque tem uma bancada ruralista muito bem organizada e articulada, mesmo sendo em menor nmero na Cmara e no Senado. J o setor farmacutico no tem essa representatividade.

    GUIA No meio dessa discusso sobre carga tri-butria, o fato de a Farmcia Popular contemplar medicamentos gratuitos enfraquece esse debate?

    MENA BARRETO Acho que fortalece. Ao ter que dis-cutir o preo de referncia dos medicamentos, e negociar com indstria (laboratrios) e varejo, o governo passa por um processo de aprendizagem. Eles comeam a entender o quanto excessiva essa carga tributria e o quanto po-deria ser investido ainda mais na Farmcia Popular caso os medicamentos tivessem impostos menores. Acho que at hoje esse debate no evolui porque o poder pblico sempre deu as costas para a assistncia farmacutica. O governo

    tambm paga os medicamentos da Farm-cia Popular com os impostos embutidos. Se ele conseguir desonerar, ser possvel atender um nmero maior de pessoas com o mesmo oramento.

    GUIA E o que significam as vendas da Farmcia Popular nas grandes redes?

    MENA BARRETO Nas farmcias de rede, as vendas da Farmcia Popular registraram um crescimento de 115% de janeiro a setembro do ano passado, em relao ao mesmo perodo anterior. J em nmero de clientes, esse incremento foi de 95,65% e 131% em unidades vendi-das. ndices de crescimento bem signifi cativos, mas que comparados ao faturamento do setor ainda so uma participao baixa. O faturamento das drogarias associa-das entidade soma R$ 14,9 bilhes e a Farmcia Popu-lar s participa com 1,5% desse montante.

    GUIA Em relao s vendas do setor, qual a evoluo das redes de drogarias?

    MENA BARRETO As vendas nas grandes redes de farmcias e drogarias voltaram a apresentar evoluo de dois dgitos. Somado o terceiro trimestre de 2011, o fa-turamento total superou R$ 14,9 bilhes, ndice 19,4% superior aos nove meses do ano passado. Foi vendido 1,24 bilho de unidades (crescimento de 11,4%) em 3.626 lojas distribudas em todo o Brasil. Esses nmeros representam um grande salto. Em 1991, o faturamento das redes somava R$ 1 bilho e hoje chega a R$ 20 bi-lhes. Ns acompanhamos o crescimento do Brasil. O setor como um todo soma um faturamento superior a R$ 42 bilhes. As grandes redes participam com 40,9% desse setor, enquanto as independentes, com mais de 57 mil pontos de venda, participam com 47,2%.

    GUIA Qual a vantagem para as grandes redes aderirem ao programa Farmcia Popular?

    MENA BARRETO A vantagem a possibilidade de o setor privado fazer uma parceria com o setor pblico, olhando para o futuro, com foco no desen-volvimento da assistncia farmacutica. No mundo todo assim que funciona, venda de medicamentos subsidiada, com reembolso do governo.

    GUIA Assistncia farmacutica outro tema que, embora seja regulamentado, pouco evoluiu na prtica.

    MENA BARRETO Estamos em um processo de aprendizado. Aqui na Abrafarma realizamos mensal-

    O SETOR COMO UM TODO SOMA UM FATURAMENTO SUPERIOR A R$ 42 BILHES. AS GRANDES REDES PARTICIPAM COM 40,9% DESSE SETOR, ENQUANTO AS INDEPENDENTES, COM MAIS DE 57 MIL PONTOS DE VENDA, PARTICIPAM COM 47,2%

    ENTREVISTA - SRGIO MENA BARRETO, ABRAFARMA

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    mente reunies com os farmacuticos das redes. Mas h um problema para colocar em prtica a assistncia farmacutica. Com o Sistema Nacional de Gerencia-mento de Produtos Controlados (SNGPC) e sem ras-treabilidade, o farmacutico virou digitador de luxo no ponto de venda. A RDC 44/09, ao regulamentar a assistncia farmacutica, objetivava dar fora ao pro-fissional farmacutico. Mas ao mesmo tempo temos o SNGPC. E quando entrar a obrigatoriedade de registrar tambm a venda de antibitico, a situao vai ficar muito pior. um problema serissimo. Nos Estados Unidos, todo o atendimento sade tem informaes integradas, o que facilita a assistncia farmacutica. Aqui h um excesso de burocracia, no h receiturio eletrnico e as informaes do SUS no so integradas.

    GUIA Na primeira semana de dezembro, saram novas regras para a rastreabilidade de medica-mentos. O governo abandonou a ideia do selo e adotou um novo sistema. Qual a sua avaliao?

    MENA BARRETO o modelo que estvamos de-fendendo com a Anvisa. O Datamatrix sistema inte-grado, aberto. No podamos aceitar uma ferramenta fechada como era a proposta do Selo da Casa da Mo-eda. Comeamos assim a fortalecer um trip que pode ser decisivo para a ampliao do acesso sade: Car-to do SUS, o Datamatrix e o receiturio eletrnico integrados. Quando essa integrao acontecer, ser um avano muito grande para o Brasil.

    GUIA O ano de 2011 foi marcado por grandes fuses do varejo farmacutico. Esse processo deve continuar?

    MENA BARRETO O que estamos vivendo no setor farmacutico o mesmo j vivido pelos supermerca-distas no passado. Essa busca por tamanho e por vo-lume um reflexo do fim do Brasil arcaico rumo ao moderno. Acho muito positivo esse movimento, que incentivou aes mais transparentes e promove uma gesto mais eficiente dos negcios. Acredito que esse processo de fuses deva continuar.

    GUIA E quanto entrada de grandes redes mundiais, como Walgreens e Boots, no pas? Como v essa possibilidade?

    MENA BARRETO Nos ltimos cinco anos, o Brasil assumiu o status de celeiro de crescimento mundial. Ten-dncia que deve continuar nos prximos anos. Acho perfeitamente possvel essas redes entrarem no Pas. Talvez o maior ponto negativo seja o fato de a Anvisa

    proibir certas coisas que para o mundo so um absurdo. Como a restrio ao acesso dos Medicamentos Isentos de Prescrio (MIPs). No mundo h um movimento exa-tamente ao contrrio, de aumentar as sutes desses pro-dutos e legalizar novos pontos de venda. Nesse aspecto, a RDC 44/09 um retrocesso. Mas a Anvisa j convocou as entidades de classe, como a Abrafarma, para rediscu-tir esse ponto. H um movimento global para aumentar e facilitar o acesso dos MIPs, j aqui ocorre justamente ao contrrio. um passo atrs ideolgico.

    GUIA A Abrafarma acaba de ganhar mais um as-sociado, o Walmart. Como fi ca essa participao? E por que as drogarias dos hipermercados no decolam?

    MENA BARRETO No decolam porque a legislao proibitiva e h um problema de gesto. um erro estrat-gico olhar para a farmcia como uma unidade de negcio da rede de supermercado. um setor completamente di-ferente, que deve ter uma gesto diferente. O supermerca-do trabalha com grandes volumes e dezenas de frentes; farmcia um negcio de unidade, que requer uma logs-tica muito mais gil e complexa. Mas acho que a chegada do Walmart entre os nossos associados representar um grande ganho para todos. Vai ser um aprendizado para entender como funcionam negcios diferentes.

    GUIA O que esperar para os prximos 20 anos da Abrafarma?

    MENA BARRETO Tivemos um bom comeo. Estamos entrando na juventude, em pleno momento em que o Brasil se prepara para entrar de vez na modernidade. Ns estamos preparados para colaborar na conduo do Pas para o tamanho que ele realmente tem e merece.

    COM O SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE PRODUTOS CONTROLADOS (SNGPC) E SEM RASTREABILIDADE, O FARMACUTICO VIROU DIGITADOR DE LUXO NO PONTO DE VENDA

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