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  • MAPEAMENTO DA PRECIPITAO PLUVIOMTRICA NO BIOMA CERRADO DO ESTADO DO MATO GROSSO

    RAINFALL MAPPING OF CERRADO BIOME IN THE STATE OF MATO GROSSO

    CARTOGRAFIA DE PRECIPITACIONES EN EL BIOME DEL CERRADO

    EN EL ESTADO DE MATO GROSSO

    Francisco Fernando Noronha Marcuzzo - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais / Servio Geolgico do Brasil - Goinia - Gois - Brasil

    [email protected]

    Hudson Moraes Rocha - Universidade Federal de Gois - Jata - Gois - [email protected]

    Denise Christina de Rezende Melo - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais / Servio Geolgico do Brasil - Goinia - Gois - Brasil

    [email protected]

    ResumoA anlise do comportamento das chuvas se torna importante, uma vez que possibilita detectar tendncias ou alteraes no clima, em escalas local, regional ou global. O presente trabalho mapeou a distribuio da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato Grosso. Utilizaram-se dados de 33 estaes pluviomtricas distribudas no bioma do Cerrado mato-grossense, com dados de 30 anos, de 1977 a 2006. Foram elaborados mapas de chuvas com o auxlio de isoietas e aplicado o clculo do ndice de Anomalia de Chuva (IAC) para a classificao dos perodos secos ou midos, de acordo com a mdia local, organizadas em mdias temporais mensal, anual e sazonal da precipitao. O mtodo de interpolao utilizado foi o Topo to Raster, em que se utiliza o mtodo multigrid simples para minimizar a equao em resolues cada vez melhores, respeitando restries dos elementos fsicos. Os resultados da distribuio pluviomtrica mostram uma grande variao nos ndices precipitados, sendo que o extremo noroeste e norte tm os maiores volumes de chuvas e o sul da rea de estudo apresenta os menores ndices pluviomtricos. Com a anlise do IAC para o perodo de estudo, verificou-se que existe um maior nmero de anos secos que anos midos para o perodo estudado.Palavras-chave: precipitao pluviomtrica, Cerrado, ndice de anomalia de chuva, pluviometria.

    AbstractThe behavior of rainfall becomes important, since it allows to detect trends or changes in climate, regional or local scales. The study mapped the distribution of rainfall in the Cerrado of Mato Grosso. We used data from 33 rainfall stations distributed in the Cerrado, with data for 30 years, from 1977 to 2006. Maps were drawn with the aid of rainfall isoline and applied to calculate the Rainfall Anomaly Index (RAI) for the classification of dry or wet periods, according to the average local, organized in a temporal average monthly, annual and seasonal precipitation. The interpolation method was used to Raster Top, which uses a multigrid simple equation to minimize the ever-improving resolutions respecting constraints of the physical elements that make up the landscape. The results of the rainfall distribution shows a wide variation in rates precipitated, and the extreme northwest and north have the largest volumes of rain and south of the lowest rainfall biome. With the analysis of the RAI for the period of study, it was found that a larger number of dry years than wet years for the period studied. Key words: rainfall, Cerrado, rainfall anomaly index, pluviometric.

    B.goiano.geogr. Goinia, v. 31, n. 2, p. 83-97, jul./dez. 2011

    DOI 10.5216/bgg.V31i2.16847

  • 84 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGGResumenEl comportamiento de la lluvia se vuelve importante, ya que permite detectar tendencias o cambios en el clima, regional o local escalas. El estudio describe la distribucin de las precipitaciones en el Cerrado de Mato Grosso. Se utilizaron los datos de 33 estaciones pluviomtricas distribuidas en el Cerrado, con los datos durante 30 aos, desde 1977 hasta 2006. Los mapas fueron elaborados con la ayuda de isolneas de lluvia y aplicada para calcular el ndice de Anomalia de la Lluvia (IAL) para la clasificacin de los perodos secos o hmedos, segn la media de la zona, organizados en un promedio temporal mensual, la precipitacin anual y estacional. El mtodo de interpolacin, se utiliza para Raster Top, que utiliza una red multi-ecuacin simple para reducir al mnimo la mejora constante de las resoluciones respetando los lmites de los elementos fsicos que componen el paisaje. Los resultados de la distribucin de las precipitaciones muestra una amplia variacin en las tasas de precipitado, y extremo noroeste y norte, tienen los mayores volmenes de lluvia y el sur del bioma de menor pluviosidad. Con el anlisis de la IAL para el perodo de estudio, se constat que un mayor nmero de aos de sequa de los aos lluviosos del perodo estudiado. Palabras clave: precipitacin, cerrado, ndice de anomalia de la lluvia, pluviometria.

    Introduo

    O uso de Sistemas de Informao Geogrfica (SIG) tem sido de fundamental importncia na representao espacial e temporal em estudos de distribuio espacial de chuvas, porque permite uma boa aproximao da realidade climtica da rea estudada. Braz et al. (2009, p. 55), em um estudo no qual utilizou o SIG para verificar a distribuio temporal e espacial das chuvas na Bacia Barra Seca (ES) e trs mtodos matemticos, que foram a mdia aritmtica, polgonos de Thiessen e Interpolao Inverso da Distncia (IDW), concluiu que apesar de apresentarem resultados semelhantes, sugerida a utilizao do interpolador IDW para representao da distribuio das chuvas, devido produo de mapas contnuos e heterogneos.

    Coutinho (2005, p. 49), em estudo de verificao da dinmica das queimadas do estado de Mato Grosso, refere-se a trs grandes macrouni-dades climticas da regio, que seriam: Clima Equatorial Continental mido, Clima Subequatorial Continental mido e Clima Tropical Conti-nental Alternadamente mido e Seco.

    Rosa et al. (2007, p. 148), ao analisar a distribuio e variabilidade pluviomtrica anual na poro centro-oeste do estado de Mato Grosso, entre os anos de 1985 a 1995, com a espacializao da chuvas em mapas de isoietas, identificou que a variabilidade pluviomtrica foi bem irregular nas pores oeste e sul onde as chuvas ocorreram em maior quantidade, sendo que as menores quantidades chuvosas registraram-se nas pores leste e norte.

  • 85B.goiano.geogr, Goinia, v. 31, n. 2, p. 83-97, jul./dez. 2011Artigo BGG

    Dentre vrios mtodos estatsticos utilizados em estudos de precipitao pluviomtrica, o ndice de Anomalia de Chuva (IAC) se destaca, por permitir o acompanhamento climtico com efetuao de comparaes entre as condies atuais e os valores histricos de chuvas, e tambm para o entendimento da distribuio espacial e temporal entre os perodos secos e midos. Assim, conhecendo o IAC, rgos governamentais ou entidades privadas podem utilizar de forma sustentvel os recursos naturais como, por exemplo, no zoneamento agrcola ou no planejamento regional, uma vez que h um conhecimento parcial da dinmica da chuva.

    Arajo et al. (2009, p. 97), utilizando IAC em estudo da bacia do rio Paraba/PB, verificou que a variao temporal do IAC dos anos secos de 1987 e 1990 condizente com o regime pluviomtrico da regio, sendo que nos perodos midos de 1984 a distribuio do IAC irregular, principalmente na estao chuvosa. J a variao espacial do IAC dos anos secos de 1987 e 1990 demonstrou ndices que variam de seco a extremamente seco, principalmente no ano de 1990, sobre a influncia do El nio na regio.

    Este trabalho analisar a variao espacial, temporal e sazonal da precipitao pluvial no estado do Mato Grosso, utilizando sries histricas de chuvas e o clculo estatstico do IAC, para aferir qualitativamente os dados utilizados.

    Caracterizao da vegetao, clima e dos mecanismos de formao de chuvas no bioma Cerrado do estado do Mato Grosso

    O bioma Cerrado do estado do Mato Grosso est localizado na regio Centro-Oeste do Brasil e ao centro do estado do Mato Grosso (IBGE, 2009, mapa), representa 39% da rea total de 903.357,908 km da superfcie do estado, limitando-se entre os paralelos 10 a 19 Sul e os meridianos 51 a 62 Oeste (Figura 1).

    Os principais mecanismos atmosfricos que atuam no Centro-Oeste e em especfico o bioma Cerrado do Mato Grosso so a massa polar atlntica que caracterizada pelo acmulo do ar polar e a massa de ar equatorial continental, presente entre a primavera e o vero, advinda do efeito trmico e da elevada umidade. Essa ltima se desloca para o interior do pas no sentido noroeste para sudeste, provocando chuvas. A primeira massa polar atlntica atua com maior frequncia no inverno, no sentido

  • 86 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGGsul para o norte, e favorece as quedas de temperatura e estiagem (NIMER, 1989, p. 23-24).

    Figura 1 - Localizao das estaes pluviomtricas com 30 anos de dados dirios no bioma Cerrado no estado do Mato Grosso.

    Dados utilizados e estatstica de anomalias na distribuio temporal das chuvas

    Os dados dirios de precipitao pluvial foram obtidos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) Servio Geolgico do Brasil e pelas estaes meteorolgicas da base de dados da Agncia Nacional das guas (ANA).

    Utilizaram-se dados de 33 estaes pluviomtricas distribudas no bioma do Cerrado em Mato Grosso (Figura 1). Os dados pluviomtricos foram copilados, tratados estatisticamente, consistidos e organizados em planilhas eletrnicas, com informao diria, mensal, anual e sazonal, para posterior mapeamento.

    Para a classificao dos perodos secos ou midos de acordo com a mdia local, foram calculadas as mdias temporais mensal, anual e sazo-nal da precipitao para o perodo de estudo, necessrias para o clculo do ndice de Anomalia de Chuva (IAC). Assim, utilizou-se neste trabalho o IAC desenvolvido e testado por Rooy (1965, p. 20), o qual apresentado pelas seguintes equaes (Quadro 1):

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    ( )( )

    =

    NM

    NNIAC 3 , para anomalias positivas (1)

    ( )( )

    =

    NX

    NNIAC 3 , para anomalias negativas (2)

    em que, N precipitao mensal atual (mm.ms-1); N precipitao mdia mensal da srie histrica (mm.ms-1); M mdia das dez maiores precipitaes mensais da srie histrica (mm.ms-1) e X mdia das dez menores precipitaes mensais da srie histrica (mm.ms-1).

    Quadro 1 - Classificao da pluviosidade para o estado do Mato Grosso, segundo o IAC.

    ndice de Anomalia de Chuva (IAC) Classificao da PluviosidadeX 4 Extremamente ChuvosoX 2 e X < 4 Muito ChuvosoX > 0 e X < 2 ChuvosoX = 0 Nem Chuvoso e Nem Seco (Sem Anomalia)X < 0 e X > -2 SecoX -2 e X > -4 Muito SecoX -4 Extremamente Seco

    Fonte: Rooy, 1965.

    Interpolao matemtica

    A funo Topo to Raster um mtodo de interpolao baseado no programa ANUDEM desenvolvido por Hutschinson, que foi especifica-mente feito para a criao de Modelos de Elevao Digital (DEM) hidrolo-gicamente corretos. O programa interpola os dados de elevao em uma grade regular, de modo iterativo, gerando grades sucessivamente menores, minimizando a rugosidade (roughness penalty) e a soma dos quadrados dos resduos (diferenas das elevaes medidas e calculadas pela funo).

    Cada elevao em um determinado local dada por:

    ( , )i i i i iz f x y w= + (3)

    em que, f(x,y) a funo de interpolao, definida por uma funo B-spline, cada wi uma constante positiva que representa o erro de discretizao do

  • 88 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGGponto i e cada ( , )i i i i iz f x y w= + uma amostra de uma varivel aleatria de mdia zero e desvio padro igual a um.

    Assumindo que cada ponto est localizado aleatoriamente dentro da clula do modelo, a constante wi definida por:

    / 12i iw hs= (4)

    ( )2

    1

    ( , ) / ( )n

    i i i ii

    z f x y w J f=

    + (5)

    em que, h o espaamento da grade; si a medida de inclinao da clula da grade associada com o ponto (xi,yi). A funo f(x,y) ento estimada resolvendo uma aproximao na grade regular via mtodo das diferenas finitas que minimiza a somatria. A constante wi varia com cada iterao, em uma caracterstica adaptativa local (locally adaptive feature), j que a cada iterao do programa um novo valor de inclinao (si) disponibili-zado para cada clula da grade conforme o mtodo iterativo avana.

    O programa utiliza o mtodo multigrid simples para minimizar a equao em resolues cada vez melhores, comeando de uma grade inicial larga at uma grade que tenha resoluo definida pelo usurio, respeitando restries que garantem uma estrutura conectada.

    Distribuio dos valores pluviomtricos

    A distribuio dos valores pluvial da mdia mensal e anual, com base nos dados da srie histrica de 1977 a 2006, registrados em 33 es-taes pluviomtricas distribudas na rea de estudo, apresenta uma va-riao significativa da precipitao, sendo que as maiores variaes so observadas nos ndices mensais.

    Os meses de janeiro e fevereiro (Figura 2) compem o perodo chuvoso do bioma, quando a amplitude pluviomtrica foi de 150 mm e 375 mm. Verifica-se, assim, que os meses de janeiro e fevereiro apresentaram mdias pluviomtricas acima da mdia do perodo chuvoso, superior a 150 mm, com tendncia a aumento dos ndices pluviais no sentido sul para o norte do bioma.

  • 89B.goiano.geogr, Goinia, v. 31, n. 2, p. 83-97, jul./dez. 2011Artigo BGG

    Figura 2 - Precipitao pluviomtrica mdia mensal nos meses de janeiro e fevereiro, para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

    A Figura 3, meses de maro e abril, marcada pelo enfraquecimento da atuao da massa de ar equatorial continental e maior frequncia da massa de ar polar, com consequente diminuio dos valores mdios pluviomtricos, em que as chuvas variaram de 50 a 308 mm.

    No ms de abril, acentua-se o decrscimo dos ndices pluviomtricos, variando de 50 a 175 mm, quando os valores elevados de precipitao ocorreram a noroeste e nordeste do bioma Cerrado de 150 a 175 mm e os menores de 50 a 75 mm a sudeste do bioma no estado.

    Figura 3 - Precipitao pluviomtrica mdia mensal nos meses de maro e abril, para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

  • 90 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGGA Figura 4, ms de maio, corresponde ao incio da estao seca em

    Mato Grosso, com uma diminuio nos ndices pluviais, que variaram de 18 a 81 mm. Os meses de junho, julho e agosto (Figura 4 e 5) coincidem com o inverno no estado do Mato Grosso, que favorece as quedas de temperatura e a estiagem. Rosa et al. (2007, p. 134) observa que, nessa poca, em Mato Grosso, as chuvas so raras com precipitaes de quatro a cinco dias nos meses de junho, julho e agosto, concentrando totais entre 20 e 80 mm de pluviosidade. Assim, as ocorrncias de chuvas no extremo norte do estado de Mato Grosso so consequncias do sistema de circulao perturbada de W (IT).

    Figura 4 - Precipitao pluviomtrica mdia mensal nos meses de maio e junho, para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

    Figura 5 - Precipitao pluviomtrica mdia mensal nos meses de julho e agosto, para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

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    O ms de setembro (Figura 6) representa o perodo de transio da estao seca para a estao chuvosa. Segundo Rosa et al. (2007, p. 135), o trimestre de setembro a novembro caracterizado por temperaturas altas, provindas do aquecimento do equincio da primavera (outubro novembro).

    Figura 6 - Precipitao pluviomtrica mdia mensal nos meses de setembro e outubro, para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

    Figura 7 - Precipitao pluviomtrica mdia mensal nos meses de novembro e dezembro, para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

    A principal caracterstica do perodo de outubro a novembro a pouca ocorrncia inicial de precipitaes com o aumento gradativo do

  • 92 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGGregime pluviomtrico, coincidindo com o incio do vero no ms de dezembro, o que podemos verificar nas Figuras 6 e 7.

    O ms de dezembro compe o perodo mais chuvoso (Figura 7) do estado do Mato Grosso, junto com janeiro, fevereiro e maro, e apresenta comportamento pluvial similar aos demais meses dessa estao chuvosa.

    Anlise da precipitao pluviomtrica dos perodos seco e mido para o estado do Mato Grosso no bioma Cerrado

    A Figura 8 apresenta o ndice da concentrao pluviomtrica da mdia anual dos perodos chuvoso, de setembro a abril, e seco, de maio a agosto. Nota-se que, no perodo chuvoso, o ndice pluviomtrico variou de 120 mm a 240 mm, e a concentrao pluvial da mdia anual do perodo seco de maio a agosto teve uma variao de 5 a 40 mm. Conforme Rosa et al. (2007, p. 135), a poro norte do estado do Mato Grosso apresenta os maiores valores de precipitao com valores superiores a 2750 mm, diminuindo nas direes leste, oeste e sul do estado, o que resulta em uma precipitao que se distribui de forma irregular durante todo o ano.

    Figura 8 - Precipitao pluviomtrica mdia para o perodo chuvoso (setembro a abril) e seco (maio a agosto), para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

    Observa-se na Figura 9 o total de precipitaes dos anos de 1977 a 2006. No perodo mido de setembro a abril, o total pluviomtrico superou os 2.000 mm, sendo que a poro noroeste teve os maiores totais

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    pluviomtricos. O perodo seco estendeu-se de maio a agosto e a menor pluviosidade total acumulada no ultrapassou os 150 mm para o perodo de 1977 a 2006, sendo a poro leste a menos favorecida pelo ndice pluviomtrico.

    Figura 9 - Precipitao pluviomtrica total para o perodo chuvoso (setembro a abril) e seco (maio a agosto), para o estado de Mato Grosso, referente ao perodo histrico de 1977 a 2006.

    ndice de Anomalia de Chuva IAC

    A utilizao do IAC permitiu identificar padres ou mudana no comportamento da chuva, alm de avaliar a distribuio espacial do evento. Com a aplicao dos IACs determinaram-se os anos que se caracterizam como midos e secos.

    As Figuras 10, 11 e 21 ilustram os IACs da estao do ano vero no estado, referentes, respectivamente, aos meses de janeiro, fevereiro e dezembro, poca cuja caracterstica de alto ndice de pluviosidade. Verifica-se na Figura 10 que o IAC do ms de janeiro teve 12 anos midos e 15 anos secos, com o ponto de maior inflexo dos anos midos ocorrendo no ano de 2004, caracterizado como muito chuvoso (Quadro 1), e o maior dos anos secos como o ano de 1993, caracterizado como extremamente seco (Quadro 1). O ms de fevereiro, Figura 11, teve 12 anos midos e 17 anos secos, tendo o maior IAC de anomalia de chuva ocorrido em 1980, ano caracterizado como extremamente chuvoso, e o maior IAC dos anos secos ocorreu em 2005, sendo um ano caracterizado como muito seco (Quadro 1). J no ms de dezembro ocorreram 12 anos midos e 16 anos

  • 94 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGGsecos, com o ponto de maior inflexo do perodo chuvoso no ano de 2001, e o maior ponto de inflexo dos anos secos no ano de 1985, caracterizado como extremamente seco (Quadro 1).

    Figura 10 - IAC do ms de janeiro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 11 - IAC do ms de fevereiro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Os meses maro, abril e maio, figuras 12, 13 e 14, respectivamente, representam os IACs da estao do outono. Pode-se observar-se que o ms de maro (Figura 12) teve 11 anos midos contra 18 anos secos, sendo o ano de 1981 o ano de inflexo de maior umidade, e o maior IAC das anomalias secas ocorreu no ano 2004 (Quadro 1). O ms de abril (Figura 13) obteve 11 anos midos e 18 anos secos. Para o ms de maio, Figura 14, o IAC indicou 12 anos midos e 18 anos secos.

    Figura 12 - IAC do ms de maro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 13 - IAC do ms de abril para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    O trimestre representado pelos meses de junho, julho e agosto, figuras 15, 16 e 17, respectivamente, considerado a estao inverno em Mato Grosso, quando ocorreram 27 anos chuvosos e 60 anos secos.

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    Figura 14 - IAC do ms de maio para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 15 - IAC do ms de junho para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 16 - IAC do ms de julho para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 17 - IAC do ms de agosto para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    O trimestre de setembro, outubro e novembro, mostrado nas figuras 18, 19 e 20, respectivamente, a estao da primavera em Mato Grosso. Os IACs demonstram que ocorreram 33 anos chuvosos e 53 anos secos para esta estao. Verifica-se na Figura 18, que no IAC do ms de setembro houve 12 anos midos e 17 anos secos, com o ano de maior inflexo dos anos chuvosos ocorrendo em 1992 (Quadro 1), e o maior dos anos secos, em 1988 (Quadro 1). Para o ms de outubro, o IAC indicou 11 anos midos, 18 anos secos, sendo que a maior anomalia mida ocorreu no ano de 2006, classificado como muito chuvoso (Quadro 1) e a maior anomalia seca, em 1979. J na Figura 20, relativa ao ms de novembro, observa-se que o IAC apontou 10 anos midos, com o ano de 1983 de maior inflexo e 18 anomalias de anos secos, sendo os anos de 1990 e 1991 as inflexes dos anos secos.

  • 96 Mapeamento da precipitao pluviomtrica no bioma Cerrado do estado do Mato GrossoFrancisco Fernando N. Marcuzzo; Hudson Moraes Rocha; Denise Christina de R. MeloBGG

    Figura 18 - IAC do ms de setembro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 19 - IAC do ms de outubro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 20 - IAC do ms de novembro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Figura 21 - IAC do ms de dezembro para o bioma Cerrado do estado de Mato Grosso.

    Consideraes finais

    Neste trabalho, analisou-se a distribuio dos ndices pluviomtri-cos, utilizando clculo do ndice de Anomalia de Chuva (IAC), para a verificao dos perodos secos ou midos no bioma Cerrado do estado do Mato Grosso.

    Os resultados da distribuio pluviomtrica mostram uma grande variao nos totais precipitados no bioma do Cerrado mato-grossense, sendo que os extremos noroeste e norte tm os maiores volumes de chuvas e o sul da rea de estudo, os menores ndices pluviomtricos. Na anlise das chuvas, comprovou-se que os maiores ndices pluviais concentraram-se nas estaes da primavera e vero, outubro a maro, correspondendo a cerca de 87,5% do volume precipitado para mdia histrica de 1977 a 2006. J abril e setembro so meses que antecedem a mudana do

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    comportamento hdrico em Mato Grosso. Com a aplicao do IAC para o perodo de anlise, conclui-se que ocorreram mais eventos negativos, ou seja, anos secos.

    Referncias

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    BRAZ, R. L. et al. Uso de sries histricas e tcnicas de sig no estudo da distribuio temporal e espacial da pluviosidade na bacia barra seca localizada ao norte do estado do Esprito Santo. In: Anais do XI Encontro Latino Americano de Iniciao Cientfica, So Jos dos Campos, v. 14, p. 54-57, 2007.

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    ROOY, M. P. VAN. A Rainfall Anomaly Index Independent of Time and Space. Notes, 14, 1965.

    Francisco Fernando Noronha Marcuzzo - Mestre em Irrigao e Drenagem pela Universidade Estadual Paulista. Doutorado e Ps-Doutorado em Engenharia Hidrulica pela Universidade de So Paulo. Engenheiro e Pesquisador em Geocincias- CPRM/SGB (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais / Servio Geolgico do Brasil - Empresa Pblica de Pesquisa do Ministrio de Minas e Energia).

    Hudson Moraes Rocha - Gegrafo, Mestrando de Geografia pela Universidade Federal de Gois.

    Denise Christina de Rezende Melo - Engenheira, Pesquisadora em Geocincias, CPRM/SGB (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais/Servio Geolgico do Brasil Empresa Pblica de Pesquisa do Ministrio de Minas e Energia).

    Recebido para publicao em junho de 2011

    Aceito para publicao em setembro de 2011